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PARTE X

TUTELA EXECUTIVA
I
A TUTELA SATISFATIVA (CUMPRIMENTO DA SENTENÇA E EXECUÇÃO
DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL)

1.A TUTELA DE EXECUÇÃO E AS DEMAIS FORMAS DE TUTELA JURISDICIONAL

O processo, como instrumento de realização de justiça, é servil diante de uma pretensão justa e resistida, passível de
ser resolvida em nível de definição de direitos, bem como na hipótese de resistência à satisfação de um direito já
definido a merecer pronta realização prática. No primeiro caso, a definição judicial é exteriorizada através da tutela
jurisdicional de cognição, que consiste, basicamente, no conhecimento dos fatos e na aplicação soberana da norma
jurídica adequada ao caso concreto.
Na segunda hipótese, o direito já se encontra definido e à espera de sua realização  pelo obrigado. Nesse caso, a forma
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de tutela não é mais de simples cognição senão de “realização prática do direito” através dos órgãos judiciais. Assim,
da mesma forma como o Estado-juiz define a situação litigiosa com ou sem a colaboração das partes, também realiza o
direito, independentemente da cooperação do obrigado.  Esta é a essência satisfativa do processo de execução e da fase
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do cumprimento da sentença, porquanto executar e cumprir é satisfazer. O Estado-juiz, na execução ou no


cumprimento, não se limita a pronunciar que A deve a B, senão a fazer com que o devedor pague ao credor,
voluntariamente ou através dos meios executivos utilizados nesta espécie de tutela jurisdicional e que visam a conferir
à parte o mesmo resultado que ela obteria se houvesse o cumprimento espontâneo da obrigação. As diferentes formas
de prestação de justiça confirmam a regra de há muito enunciada de que “pretensão discutida e pretensão insatisfeita”
são “fenômenos do gênero conflito jurídico”, havendo para cada um deles uma forma distinta de solução.
Sob a ótica jus-filosófica, a “execução” – seja o “processo” de execução (título extrajudicial), seja a nova fase de
“cumprimento da sentença” (título judicial) – restaura efetivamente a ordem jurídica afrontada pela lesão, realizando a
sanção correspondente à violação. A atividade judicial que atua essa sanção é denominada “execução”.  Através dela,
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o Estado cumpre a promessa do legislador de que, diante da lesão o Judiciário deve atuar prontamente de sorte a
repará-la a tal ponto que a parte lesada não sofra as consequências do inadimplemento.
A distinção entre as atividades de “definir” e “realizar direitos” fez com que parte ponderável da doutrina não
considerasse jurisdicional a tutela de execução, porquanto nesta sobejam atos materiais ao contrário dos atos
intelectivos que singularizam o processo de conhecimento. Essa característica também se observa quanto aos atos
destinados aos demais protagonistas do processo, destacando-se que aos auxiliares do juízo no processo de cognição
são delegados atos “não coativos”, v.g., citação, elaboração de cálculo etc., ao passo que, na execução, aos referidos
auxiliares é determinada a prática de “ordens coativas”, v.g., a penhora, a expropriação etc.
Como afirmava o jurista clássico do início do século, na cognição o Estado declara a vontade concreta da lei, ao passo
que na execução torna essa mesma vontade efetiva através de atos. 4

Impregnados desta ideia de que a jurisdição se manifestava apenas na declaração do direito incidente no caso concreto,
a doutrina superada, antes citada, não enquadrava os atos de satisfação do processo executivo como “jurisdicionais”
e, a fortiori, desconsiderava a tutela executiva. Entretanto, a substitutividade que se enxerga no processo de cognição,
no qual o Estado-juiz, para evitar a supremacia de uma parte sobre a outra, define o direito com autoridade, também se
verifica na execução, na qual o magistrado realiza o direito do credor com ou sem a colaboração do devedor.
A coatividade jurisdicional reinante nesta forma de processo justifica a sua denominação de “execução forçada”, uma
vez que ela se realiza independentemente da vontade do devedor.
Destarte, não se pode afirmar que cognição e execução vivam isoladas, tanto mais que servem uma à outra. Aliás, não
foi por outra razão que o Novo CPC, seguindo a classificação introduzida pela Lei nº 11.232/2005, encartou a
atividade de execução como fase do mesmo processo em que realizada a atividade de conhecimento, denominando-a
de cumprimento de sentença. Assim, a cognição judicial, por vezes,  prepara a execução culminando no “cumprimento
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da sentença” – que tem como base uma sentença que reconheça a existência de uma obrigação. Aliás, não houvesse o
cumprimento das sentenças, o Judiciário correria o risco de proferir decisões meramente divagatórias, sem eficácia
prática alguma. Por outro lado, há processos de conhecimento que resultam em decisões com “executividade
intrínseca”; por isso, num só momento, o juiz condena e realiza a obrigação, na própria fase processual de cognição.
Parcela da doutrina tradicionalmente denominava essa espécie de decisum sob a expressão “ações executivas lato
sensu”,  nas quais a efetivação da decisão revela-se sincrética, operando-se no mesmo processo. Todavia, a
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terminologia perdeu a relevância prática, em razão da sistemática introduzida pelo Novo CPC, consoante será melhor
explicitado nos capítulos seguintes.
Nesse segmento, expressivo é o elemento cognitivo introduzido na execução de título extrajudicial quando o devedor
se opõe à pretensão executiva através de embargos, fazendo exsurgir um contraditório eventual, o que o distingue do
processo de conhecimento genuíno. Neste, o contraditório é inaugurado a pedido do próprio autor, ao requerer a
citação do réu para responder. A razão está em que a execução de título extrajudicial não se instaura para obtenção de
pronunciamento judicial, senão para realização do direito do credor; daí o porquê de o contraditório ser eventual e
surgir por obra do próprio devedor, o qual se opõe à legitimidade daquele processo judicial.
Os embargos do executado, na execução de título extrajudicial, representam, assim, um verdadeiro processo de
cognição introduzido no organismo do processo de execução.
A execução visa, desta forma, à satisfação plena do credor e, para esse fim, utiliza-se de técnicas que se resumem a
duas categorias, a saber: “técnicas de sub-rogação” e “técnicas de coerção”. O Estado, no afã de satisfazer o credor, ou
substitui o devedor e realiza a prestação devida com o patrimônio do devedor (como, v.g., quando expropria os seus
bens para satisfazer o credor); ou escolhe um terceiro, pago pelo devedor, para prestar o serviço sonegado; ou, ainda,
pressiona o devedor, ameaçando impor-lhe um sacrifício pessoal (prisão) ou patrimonial (multa diária). No primeiro
caso, quando há atividade substitutiva, denomina-se essa técnica “meio de sub-rogação”; na segunda hipótese, em que
há “pressão” sobre a pessoa ou o patrimônio do devedor, cognomina--se a técnica de “meio de coerção”. São exemplos
de técnicas de coerção a determinação judicial de pagamento de pensão alimentícia, sob pena de prisão, e a incidência
de multa diária até que se desfaça uma obra em contravenção às posturas municipais edilícias.
Forçoso concluir que, quanto maior é a flexibilidade conferida ao juízo em relação aos meios executivos utilizáveis à
satisfação dos interesses do credor, maior é a probabilidade de se alcançar um ótimo resultado no processo de
execução, conferindo a quem faz jus aquilo, e exatamente aquilo, que deveria obter caso não tivesse havido o
inadimplemento. É o que se denomina “execução específica” consagradora da prestação em espécie a que anseia
justamente o credor, em contraposição à “execução genérica”, que é aquela que se transmuda em equivalente
pecuniário (perdas e danos), quando se frustra o alcance da prestação perseguida em juízo,  v.g., as perdas e danos que
se conferem em lugar da realização da obra a que se comprometera o solvens.
No ordenamento norte-americano, a execução específica (injunctions) é figura excepcionalíssima, porquanto na
generalidade das hipóteses a jurisdição civil consiste na entrega de quantia em dinheiro ao autor (damages). A análise
econômica do Direito demonstra que, no campo dos contratos, costuma ser mais eficiente para ambas as partes que a
tutela da obrigação ocorra por perdas e danos em caso de inadimplemento. Isso porque o cumprimento específico pode
ser demasiadamente custoso para o devedor, de modo que o credor, em uma análise ex ante, preferiria um abatimento
no preço em troca de desobrigar o devedor da prestação avençada, mediante pagamento em dinheiro, na hipótese de os
custos de performance se tornarem excessivos quando do vencimento.
Tanto os meios de coerção quanto os de sub-rogação são formas de execução, com a diferença de que, na primeira
hipótese, a satisfação é indireta, como resultado da ameaça engendrada contra o devedor. Essa característica dos meios
de coerção que, atuando sobre a vontade do devedor, fazem com que ele “cumpra” a obrigação, levou parte ponderável
da doutrina a considerar apenas os meios de sub-rogação como executivos, posto que nestes o Estado realmente
satisfaz o credor, ao passo que naquele outro é o próprio devedor quem implementa a prestação devida.
Impende, ainda, registrar, sob esse ângulo, que os “meios de coerção”, porque imaginados como instrumentos de
condução ao cumprimento da obrigação, cessam tão logo se verifique o adimplemento da prestação. Assim,  v.g., a
multa diária que transcorre até o cumprimento da obrigação cessa no seu evolver e montante tão logo o credor seja
satisfeito.
Como se pode observar, a execução forçada alcança o seu resultado por via direta ou indireta, conferindo ao credor o
resultado que obteria se o devedor cumprisse a obrigação ou o seu equivalente, se for impossível, materialmente,
alcançar-se o desígnio específico. Assim, por exemplo, quando o objeto perece na obrigação de entrega de coisa certa,
o credor recebe o correspondente em dinheiro (perdas e danos).
Essa discrepância entre o fim pretendido e o resultado do processo de execução levou notável jurista a concluir que a
lide de pretensão insatisfeita é doença mais grave do que a lide de pretensão resistida. 7

Em resumo, a tutela de conhecimento opera-se no plano da normação jurídica, ao passo que a tutela de execução se
realiza no plano prático.
II
A SISTEMÁTICA DO CUMPRIMENTO DA SENTENÇA E DA EXECUÇÃO
DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL NO CPC DE 2015

Tradicionalmente, duas causas são apontadas para a denominada “crise do processo de execução”, isto é, para a
demora demasiada e o excessivo formalismo na atividade de obtenção do resultado prático equivalente ao atendimento
da norma jurídica violada.
Em primeiro lugar, cuida-se de empreitada pouco intelectual e excessivamente burocrática, que se concentra em
profissional altamente qualificado, o Magistrado, por apego à concepção romano-germânica da execução per officium
judicis. Como consequência, o lento imbróglio processual favorece a dissipação de bens e a constante rediscussão de
matérias como juros, correção monetária etc. No Direito Comparado, a solução adotada por muitos ordenamentos foi a
desjudicialização da execução. A fase executiva é primordialmente conduzida por figura distinta do Juiz na Itália, nos
Estados Unidos, na França e em Portugal, para citar alguns exemplos. Conquanto o Novo CPC ainda centralize a
atividade de execução no Juiz, foram introduzidos passos importantes em direção a soluções extraprocessuais para a
satisfação do direito do credor, como o protesto de decisão judicial (art. 517 do CPC/2015) e a inscrição do nome do
executado em cadastro de inadimplentes (art. 782, §§ 3º e 4º, do CPC/2015).
A segunda causa da crise do processo de execução seria a excessiva condescendência com o devedor que resiste à
execução. Uma solução frequentemente utilizada no Direito Comparado é a prisão do devedor que injustificadamente
resiste ao cumprimento da decisão judicial. É assim na Alemanha, com o procedimento de “declaração juramentada
judicial”, que pune com a prisão o devedor que esconde seu patrimônio, bem como nos Estados Unidos e no Reino
Unido, onde existe a prisão por contempt of Court. Um argumento recorrente contra a utilização de técnicas
semelhantes no Brasil se baseia na regra constitucional que proíbe a prisão civil por dívida (art. 5º, LXVII, CRFB).
Todavia, não se trata propriamente de uma prisão em razão da dívida, mas sim de uma constrição corporal decorrente
do ato atentatório à dignidade da justiça cometido por aquele que, podendo, voluntariamente se recusa a cumprir a
determinação do Judiciário. De qualquer forma, o Novo CPC passa a prever expressamente que o descumprimento de
ordem judicial, no campo das obrigações de fazer e não fazer, configura crime de desobediência (art. 536, § 3º, do
CPC/2015). Fica, portanto, superada a orientação do Superior Tribunal de Justiça de que “[p]ara a configuração do
delito de desobediência, não basta apenas o não cumprimento de uma ordem judicial, sendo indispensável que inexista
a previsão de sanção específica em caso de seu descumprimento”. 1

Outra solução do Direito Comparado para o combate à recalcitrância do acusado consiste na indisponibilidade de
todos os bens do devedor até garantia do juízo. Por exemplo, no Uruguai, não havendo notícia de bens
individualizados do devedor suficientes para garantir a execução, procede-se à penhora genérica de quaisquer bens
presentes e futuros em seu nome.  No Brasil, somente nas execuções fiscais o credor goza de proteções semelhantes,
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como a presunção de fraude à execução desde o lançamento (art. 185-A CTN) e a medida cautelar fiscal (Lei nº
8.397/1992).
De forma mais geral, o Novo CPC procura corrigir lacunas e solucionar querelas jurisprudenciais decorrentes das
reformas do processo de execução promovidas em anos anteriores. No modelo original do CPC de 1973, era
necessária a instauração de um novo processo para dar concretude ao comando jurisdicional plasmado na sentença. A
reforma promovida pela Lei nº 11.232/2005 realizou a junção das atividades jurisdicionais cognitiva e executiva em
um só processo. Esse modelo de processo sincrético foi, de maneira geral, mantido pelo Novo CPC. Faz-se
conveniente, todavia, um relato histórico da evolução desses diferentes modelos de execução civil.
A tradição brasileira sempre foi a de consagrar a sentença condenatória cível como título executivo judicial por
excelência. O legislador, considerando a sua formação em juízo, em prévio processo de cognição, a diferenciava do
título extrajudicial, muito embora o equiparasse para fins de aparelhar execução forçada definitiva. O título formado
fora do juízo era equiparado à sentença com força de coisa julgada para os fins de se considerar a execução como
definitiva. A única diferença consistia no âmbito de cognição dos embargos do executado, mais amplo nas execuções
extrajudiciais porquanto nelas era a primeira vez que o documento (título extrajudicial), exsurgia em juízo.
Essa diferença não restava suficiente a demonstrar ao jurisdicionado favorecido pela condenação que, após um longo
processo de maturação do direito e com a definição do direito imune de impugnações, ainda assim, ao iniciar a
implementação do julgado, impunha-se submetê-lo a um novo processo, com ampla fase de conhecimento introduzida
no organismo da execução, viabilizando maiores delongas do que no processo de conhecimento.
A consequência, inspirada no princípio da efetividade, não poderia ser outra senão o surgimento da denominada “crise
da condenação”, passando a sentença condenatória a ostentar a pecha de ser a forma mais imperfeita de prestação
jurisdicional, tanto mais que as decisões declaratórias e constitutivas concedem à parte, tudo quanto poderiam esperar
do Judiciário, ao passo que a sentença condenatória, apesar do nomen juris, representava um “nada jurídico”, posto
seguida por um processo frustrante, como se revelava a execução do julgado.
Sob a égide do Novo CPC, o cumprimento das condenações por quantia certa contra devedor solvente se opera, a
requerimento do exequente (art. 523), em continuação à relação de cognição, permitindo-se, interinamente, as
discussões sobre fatos supervenientes influentes nessa verdadeira execução do julgado (art. 525) – quer quanto aos
aspectos formais, quer quanto aos aspectos materiais inerentes à obrigação em si, v.g., uma transação posterior à uma
compensação, um pagamento noticiado a posteriori etc.
É inegável a influência do sistema do common law, que abandonou a figura do juiz burocrata, limitado
à iurisdictio, para encerrar no magistrado a velha postura do pretor romano que nos interditos expedia ordens a serem
cumpridas incontinentemente.
Essa novel técnica se coaduna com a mandamentalidade das decisões judiciais, consagrada no art. 77, IV, do
CPC/2015, o qual positiva como dever das partes cumprir com exatidão as decisões jurisdicionais, de natureza
provisória ou final, e não criar embaraços à sua efetivação.
De certa forma, o modelo sincrético do processo de cumprimento da sentença reaviva a velha distinção entre ação
executiva (títulos extrajudiciais) e ação executória (títulos judiciais), influindo no modo de oposição do devedor
(impugnação ao cumprimento de sentença ou oferecimento dos embargos). No entanto, as diferenças procedimentais
restam mitigadas pelo fato de o iter traçado na execução por quantia certa ter aplicação subsidiária ao cumprimento de
sentença. Com efeito, há uma intercomunicabilidade entre as normas do “cumprimento de sentença” e as do “processo
de execução”. O art. 771 do CPC/2015 dispõe que o livro II regula a execução fundada em título extrajudicial e se
aplica no que couber a: (i) procedimentos especiais de execução; (ii) cumprimento de sentença; e (iii) “efeitos de atos
ou fatos processuais a que a lei atribuir força executiva”. Em seguida, o art. 771, parágrafo único do mesmo diploma
prevê que o Livro I (do cumprimento de sentença) se aplica subsidiariamente ao Livro II (do processo de execução).
De outro lado, o art. 513 do CPC/2015 assenta que o Livro II (do processo de execução) se aplica no que couber ao
título II do Livro I (do cumprimento de sentença).
A realização imediata do comando da sentença supera o paradoxo de a tutela antecipada gerar “satisfação antecipada”,
posto iniciar-se por onde termina o processo de execução, e o processo de realização da sentença, adotado após
cognição plenária, aguardar tantas delongas. A estratégia do modelo sincrético, no plano teórico, não desnatura a
sentença condenatória como título judicial, apenas torna a execução desse título interinal, no mesmo processo,
desdobrando-se a possibilidade de cumprimento, na sequência da relação de cognição. A implementação das demais
sentenças não condenatórias não exige uma fase de cumprimento ou execução, mas, tão somente, atos secundários,
para a produção de efeitos acessórios, como as sentenças constitutivas que reclamam providência administrativa junto
ao registro público. A sentença declaratória pura conjura que a incerteza jurídica e os efeitos que dela defluem
independem de execução. Nesse sentido, o art. 515, I, do CPC/2015, ao estabelecer como requisito do título executivo
judicial que a decisão judicial reconheça a exigibilidade da obrigação, pacifica que decisões meramente declaratórias
não constituem títulos executivos judiciais.
O Novo CPC, assim, equiparou o grau de satisfatividade de todas as sentenças e é sob esse novel enfoque que deve ser
observado o novo modelo de Execução Civil.
A realização interinal torna a condenação incompatível com o “processo” intermediário e complementador do título
como o era a liquidação de sentença. Consequentemente, nesses casos, exclui-se a liquidação como processo à parte,
compondo fase ou etapa anterior ao “cumprimento da sentença”, viabilizando um provimento líquido, para, após, ser
efetivado. Por outro lado, nesse itinerário até a satisfação do vencedor, considera-se lícito ao réu aduzir defesas que
possam afetar a validade do procedimento de cumprimento de sentença e dos atos executivos, tal como as exceções de
pré-executividade, expressamente tipificadas pelo Novo CPC, em seu art. 518.
A defesa do executado é manifestada primordialmente por meio da impugnação ao cumprimento de sentença (art. 525
do CPC/2015), veiculada nos próprios autos e independentemente de nova intimação. Removem-se, assim,
formalismos desnecessários, sem inviabilizar a devida oportunização do contraditório àquele afetado pelo
procedimento executivo.
O legislador, superando a prática judiciária usual, porquanto o exequente limitava-se a tentar sustar a execução
mediante a alegação de “excesso da execução”, erigiu o ônus da impugnação especificada, impondo ao credor indicar
onde se encontra o excesso para que se possa prosseguir na execução sem exterminá-la.  A regra do Novo CPC, nesse
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ponto, reproduz a norma introduzida pela reforma de 2005.


A competência do juízo da condenação para a execução cede lugar à sua aptidão funcional, por isso que a
implementação do julgado pode ser requerida no juízo dos bens ou do domicílio do vencido, uma vez que, no campo
da responsabilidade patrimonial, esses locais revelam-se mais apropriados para fazê-la incidir (art. 516, parágrafo
único, do CPC/2015). A regra inspirou-se no velho exemplo de Lopes da Costa quanto à incompetência do juízo para
o arresto, cuja obediência poderia torná-lo inócuo, preconizando a máxima aplicável às tutelas urgentes no sentido de
que incompetentia periculum mora non attenditur.
O réu instado a cumprir a obrigação, após o decurso do prazo legal que se inicia após sua intimação, sujeita-se com a
sua protelação à sanção pecuniária de 10% (dez por cento) sobre o valor do débito, além de honorários advocatícios no
mesmo patamar, sem prejuízo de impor-se, sob as penas do art. 77 do CPC/2015, o cumprimento do julgado,
expedindo-se, a seguir, a requerimento do credor, o mandado de penhora e avaliação. 4

REsp 686.471/PR, Rel. Min. Gilson Dipp, 5ª Turma, j. 17.05.2005. Em igual sentido: RHC 15.596/SP, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, 6ª
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Turma, j. 16.12.2004.
Art. 380.2, inciso 4, do Codigo General del Proceso.
2
“Art. 525. Transcorrido o prazo previsto no art. 523 sem o pagamento voluntário, inicia-se o prazo de 15 (quinze) dias para que o
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executado, independentemente de penhora ou nova intimação, apresente, nos próprios autos, sua impugnação.:
§ 1º Na impugnação, o executado poderá alegar:
(...)
V – excesso de execução ou cumulação indevida de execuções;
(...)
§ 4º Quando o executado alegar que o exequente, em excesso de execução, pleiteia quantia superior à resultante da sentença, cumprir-
lhe-á declarar de imediato o valor que entende correto, apresentando demonstrativo discriminado e atualizado de seu cálculo.”
“Art. 523. No caso de condenação em quantia certa, ou já fixada em liquidação, e no caso de decisão sobre parcela incontroversa, o
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cumprimento definitivo da sentença far-se-á a requerimento do exequente, sendo o executado intimado para pagar o débito, no prazo de
15 (quinze) dias, acrescido de custas, se houver.
§ 1º Não ocorrendo pagamento voluntário no prazo do caput, o débito será acrescido de multa de dez por cento e, também, de honorários
de advogado de dez por cento.
§ 2º Efetuado o pagamento parcial no prazo previsto no caput, a multa e os honorários previstos no § 1º incidirão sobre o restante.
§ 3º Não efetuado tempestivamente o pagamento voluntário, será expedido, desde logo, mandado de penhora e avaliação, seguindo-se os
atos de expropriação.”

III
TEORIA GERAL DO CUMPRIMENTO DA SENTENÇA E DA EXECUÇÃO DE
TÍTULO EXTRAJUDICIAL
1.FUNDAMENTOS DA EXECUÇÃO E DO CUMPRIMENTO DA SENTENÇA

A tutela de execução, posto encerrar atos materiais de satisfação, tem a sua legitimidade aferida pelo juízo. À
semelhança da ação de conhecimento, a execução também é abstrata no sentido de que pode ser promovida pelos que
têm o título executivo, muito embora, a posteriori, verifique--se a insubsistência do crédito através da cognição
realizada nos embargos à execução ou na atual impugnação ao cumprimento da sentença.
A diferença maior está em que, na ação de conhecimento, o direito de uma das partes resulta inequívoco da sentença,
ao passo que, na execução extrajudicial, a parte inaugura a relação processual de cunho autoritário,
demonstrando, prima facie, o seu direito constante do título executivo formado fora do juízo. Contudo, o título
executivo não confere prova plena de que o direito nele contido é absoluto, tanto assim que os embargos do executado,
quando julgados procedentes pela inexistência do crédito, nulificam o processo e a própria cártula.
A peculiaridade consiste em que, no processo de conhecimento, enquanto pende a relação processual, não se sabe
quem tem razão e, por isso, não é lícito praticar atos de satisfação em proveito de qualquer das partes. Na execução, a
exibição preambular do título executivo faz pressupor que o exequente tenha razão, fato que pode ser infirmado
posteriormente. Assim, o devedor é citado para pagar na execução extrajudicial por quantia certa. Em suma, na
execução, os atos são praticados e a legitimidade deles apurada ex post facto, diferentemente da cognição, na qual,
salvo hipóteses previstas em lei, enquanto não se afere a legitimidade da pretensão, nenhum ato conducente à
satisfação é realizado.
Como afirmado em clássica sede doutrinária, o “título executivo autoriza pronta execução e, para não obstar a marcha
desta, apaga-se, em princípio, a causa geradora daquele. Entretanto, ao interesse do credor de que a execução seja
pronta corresponde o interesse do devedor a que a execução seja justa”. Destarte, o credor munido do título executivo
pode investir contra o devedor, mas a presunção de que o direito do título corresponde à realidade  pode não ser
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coincidente, tanto que os embargos, uma vez julgados procedentes, levam à desconstituição daquele, fazendo com que
a causa debendi, a questão de fundo, suplante a forma do título.
Em face desta ótica, quando se impõe como “condições para agir sob a forma executiva” o “inadimplemento do
devedor”, o que se afirma é que, “abstratamente”, há uma obrigação consubstanciada em documento hábil e um estado
de insatisfação do direito. Não obstante, tudo isso pode ser impugnado por iniciativa do devedor. O credor, diante do
preenchimento desses “pressupostos executivos”, como os denomina a lei, pode iniciar a execução, sem excluir a
possibilidade de o devedor a ela se opor via de impugnação (em se tratando de título judicial) ou de embargos (em se
tratando de título extrajudicial) – ou, ainda, de exceções de pré-executividade  nos próprios autos da execução (v. art.
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518 do CPC/2015). Inicia-se, assim, a execução sem antes saber das razões do devedor,  revelando o caráter abstrato
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da ação executiva, tanto mais que não é correto afirmar-se que quem tem título executivo tem, previamente
assegurada, a satisfação integral do crédito que afirma.
Por outro lado, não havendo título executivo ou inocorrente, ainda, o inadimplemento do devedor, extingue-se o
processo de execução sem resolução do mérito.
A natureza abstrata do “direito à execução” timbra a sua “diferença” em relação ao “direito de crédito” nele inserido.
O crédito extingue-se pelo cumprimento espontâneo por parte do devedor, ao passo que a execução pela satisfação
coativa por obra do Estado-juiz.
Por outro lado, como a obrigação foi assumida, a pretensão do credor não é mais de ver reconhecido o seu direito
senão de vê-lo satisfeito, razão por que, ante a resistência do devedor e, à míngua da possibilidade de fazer justiça com
as próprias mãos, busca o credor a realização da prestação por obra dos órgãos judiciais. É que o devedor inadimplente
responde com os seus bens para com o cumprimento de suas obrigações. O seu patrimônio é o sucedâneo para as
hipóteses de inadimplemento.
Uma vez descumprida a obrigação surge, para o credor, o direito de invadir o patrimônio do devedor para, à custa
deste, obter o resultado prático que obteria se a obrigação tivesse sido cumprida. Resta evidente que essa invasão
patrimonial não pode ser engendrada senão com a chancela estatal e através do Estado-Juiz.
O direito à execução, quer por cumprimento da sentença, quer calcado em título extrajudicial, não é senão esse poder
de provocar o Estado para que, às expensas do patrimônio do devedor, se satisfaça o credor. Esta é a razão pela qual,
na execução por quantia certa, o “suposto devedor” é convocado ou instado para efetuar o pagamento e não para se
defender. 4

2.PRINCÍPIOS DO PROCESSO DE EXECUÇÃO E DO CUMPRIMENTO DA SENTENÇA

O processo de execução para cumprimento de sentença ou de título extrajudicial em razão de seu escopo satisfativo e
de seus pressupostos é informado por princípios próprios, além daqueles que se estendem por todas as formas de
prestação jurisdicional, como soem ser os princípios do contraditório, do devido processo legal, da instrumentalidade
das formas, da duração razoável do processo  etc.
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2.1Princípio da realidade

Consectário da “responsabilidade”, cujo alcance vimos acima, é o princípio da realidade, segundo o qual o devedor
responde com os seus bens presentes e futuros por suas obrigações (art. 789 do CPC/2015). 6

Considerando que o patrimônio do devedor é o sucedâneo para as hipóteses de inadimplemento, forçoso concluir que,
enquanto a obrigação não está satisfeita, os bens do devedor ficam comprometidos até o limite necessário à satisfação
do crédito. Como ainda não há individualização dos bens que responderão pela obrigação, todo o patrimônio do
devedor se torna afetado, por isso que qualquer alienação de bens é potencialmente lesiva aos interesses do credor.
A regra da realidade, que encerra o epílogo de uma luta secular através da qual o devedor logrou por princípios de
equidade repassar o sacrifício de sua própria pessoa para o seu patrimônio nas hipóteses de inadimplemento, impõe
certa exegese, posto que a literalidade da interpretação não explica os casos em que pessoa diversa da do devedor tem
seus bens comprometidos com a dívida alheia e nem aqueles nos quais os bens próprios do devedor não respondem
por suas obrigações.
Assim, v.g., o fiador, muito embora não tenha contraído a dívida, responde com o seu patrimônio em caso de
inadimplemento do obrigado primário que é o devedor. Consequentemente, não só o devedor responde com os seus
bens para com o cumprimento de “suas” obrigações, mas terceiros também.
Por outro lado, a lei considera “alguns bens do patrimônio do devedor inatingíveis” pelos meios executivos, como
ocorre com os denominados “bens impenhoráveis”. Sob esse ângulo, v.g., a lei especial (nº 8.009/1990) considera
impenhorável o imóvel único que serve de residência da família do devedor. Não obstante do devedor, o bem é
inalcançável pela execução, numa demonstração de que nem todos os seus bens respondem por suas obrigações.
Contudo, a regra é a da responsabilidade patrimonial prevista no caput do art. 789 do CPC/2015, restando excepcional
a inatingibilidade do patrimônio do devedor.
A importância do princípio da realidade é tanto maior na medida em que, quando malogram as outras modalidades de
execução (fazer, não fazer, entrega de coisa certa ou incerta), a satisfação do credor só se faz possível com o sacrifício
de bens suficientes do patrimônio do devedor em execução por quantia certa correspondente às perdas e danos em que
se convertem as obrigações frustradas na sua execução específica.

2.2Princípio da execução específica

O escopo do processo, como instrumento de realização de justiça, é dar a cada um aquilo que é seu, na clássica
concepção romana.
Para alcançar esse desígnio, cumpre ao Estado, através de todas as formas de provimento jurisdicional, fazer com que
aquele que recorreu ao Judiciário não sinta os efeitos do descumprimento da obrigação que ocorreu no plano
extrajudicial, razão pela qual são utilizados os “meios executivos para satisfação da parte”. O fim e o resultado da
execução devem coincidir no sentido de dar ao credor aquilo a que ele faz jus segundo o título executivo.
O resultado prático equivalente somente deve ser perseguido quando impossível alcançar-se a prestação contida no
título.
Esta ideologia de se buscar a satisfação plena e efetiva do credor à luz da prestação contida no título é resultado do
influxo do denominado “princípio da execução específica”.
A influência do princípio in foco é notável no processo de execução, por isso que o credor não deve ser instado a
receber coisa diversa daquela que consta do título executivo como compensação pela transgressão. Assim, se o credor
faz jus à entrega de um automóvel ele não pode ser obrigado a receber o valor equivalente ao bem; se o devedor
comprometeu-se a não construir e o fez, o credor deve colher a destruição da coisa erigida em contravenção à
interdição de não fazer em vez das perdas e danos, e assim por diante.
Relembre-se que o processo de execução, posto satisfativo, deve recolocar o credor na mesma situação acaso a
obrigação tivesse sido cumprida voluntariamente.
É evidente que, por vezes, esse escopo é impossível de ser alcançado, “transmudando-se, então, a execução específica
em execução genérica” que, repita-se, se faz presente nos casos de malogro das demais formas executivas. E a razão é
simples: todas as prestações podem ser convertidas em dinheiro, cabendo ao juiz, nas hipóteses de frustração da
prestação em espécie, quantificá-las, abrindo caminho para a execução substitutiva por quantia certa equivalente ao
prejuízo sofrido pelo credor. Nesta, a única frustração possível é a inexistência de bens no patrimônio do obrigado.
É justamente essa a lógica exposta no art. 499 do CPC . Prevalece, no processo de execução, o desejo do credor,
7

respeitando-se, por óbvio, a dignidade do devedor que é executado. Se a tutela específica se tornar impossível, parece
lógico substituir a prestação pelo montante pecuniário correspondente, a ser dimensionado pelo magistrado. Da mesma
forma, se for mais interessante ao credor, pelas razões que lhe convierem, converter a prestação específica em perdas e
danos, lhe é possível.
Ressalte-se que nos países de common law a regra é invertida: a execução específica da obrigação avençada, por meio
da injunction, é excepcionalíssima, constituindo-se regra o pagamento de perdas e danos (damages). A racionalidade
que informa o sistema anglo-saxão é percuciente: em muitas hipóteses, o custo para o devedor no cumprimento
específico da obrigação é imensamente maior ao benefício proporcionado ao credor, em comparação ao pagamento de
indenização em dinheiro. Consequentemente, tornar regra a satisfação específica da prestação avençada significa inibir
a formação de contratos, bem como aumentar os preços dos negócios estabelecidos.
O princípio da satisfação específica é resultado do movimento pela “efetividade do processo”, que tem em mira a
preocupação de conferir-se a quem tem razão, num prazo razoável, exatamente aquilo a que faz jus. O escopo maior é
que ninguém sofra o mais tênue prejuízo pelo fato de ter recorrido ao Judiciário. Nada obstante, essa preocupação
pode fazer com que todos sofram prejuízo, na forma de atividade econômica mais tímida e preços mais elevados.
Nesse seguimento, relembre-se a redação do art. 499 do CPC/2015, que consagra, textualmente, o princípio sob exame
ao dispor: “A obrigação somente será convertida em perdas e danos se o autor o requerer ou se impossível a tutela
específica ou a obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente.”

2.3Princípio da livre disponibilidade

O processo de conhecimento tem como razão de ser a definição de direitos, posto que encarta uma lide de pretensão
resistida. Enquanto pende o processo, não se sabe quem tem razão, se o autor ou o réu, uma vez abstrato o direito de
agir, conferido mesmo àqueles que supõem ter melhor direito. Por isso, no processo de cognição, uma vez proposta a
ação e concedido o prazo para que o réu ofereça a sua resposta, impede-se que, decorrido o prazo da defesa, o autor
desista da ação. Isto porque, após apresentada a defesa, o demandante pode convencer-se da legitimidade da
resistência do réu e desistir da ação para livrar-se do ônus da sucumbência (art. 485, § 4º, do CPC/2015). 8

O processo de execução – ou a fase de cumprimento da sentença – impõe diversidade de tratamento, uma vez que a
exibição do título executivo onde se encontra consubstanciado o crédito faz pressupor que o exequente tenha,
efetivamente, o direito consagrado no documento, tanto que, por sua iniciativa, o processo começa pela prática de atos
coativos conducentes à satisfação.
O direito afirmado pelo autor, no processo de execução, apresenta um grau de verossimilhança maior do que no
processo de conhecimento; daí a índole satisfativa da tutela executiva. Em face desta característica, diferentemente da
regra de desistência condicionada à anuência do réu imperante na tutela de cognição, vigora, no processo de execução,
o “princípio da livre disponibilidade”, segundo o qual o “exequente tem o direito de desistir de toda a execução ou de
apenas alguma medida executiva.” (art. 775 do CPC/2015).
É evidente que o credor pode assim atuar durante toda a execução, ainda que depois do oferecimento dos embargos.
Operada a desistência antes de embargada a execução, há despesas para o credor, máxime quando oferecida exceção
de pré-executividade nos autos, hipótese em que o exequente deve pagar as custas e os honorários do executado. A
propósito, o art. 85, § 1º, do CPC/2015 deixa claro que os honorários advocatícios são devidos na execução ainda que
não resistida. 9

Opostos embargos à execução, inegável é o dever de o credor exequente adimplir as custas e os honorários do
embargante, posto que a desistência da execução faz caírem por terra os embargos “quando versam apenas sobre
questões formais”, v.g., nulidade da execução, ausência de pressupostos processuais, ilegitimidade da parte exequente
etc.
Voltando-se os embargos contra o próprio mérito do crédito exequendo, a desistência da execução impede que o juízo
aprecie o cerne da questão, deixando em aberto eventual defesa em que o devedor pudesse fazer desaparecer aquela
obrigação. Sobressai verossímil que o exequente pode, perfeitamente, desistir da execução diante das robustas razões
deduzidas nos embargos de executado. Nessa hipótese eventual, a malícia do credor esbarra na regra do art. 775,
parágrafo único, do CPC/2015, assim:
“Art. 775. O exequente tem o direito de desistir de toda a execução ou de apenas alguma medida executiva.
Parágrafo único. Na desistência da execução, observar-se-á o seguinte:
I – serão extintos a impugnação e os embargos que versarem apenas sobre questões processuais, pagando o
exequente as custas processuais e os honorários advocatícios;
II – nos demais casos, a extinção dependerá da concordância do impugnante ou do embargante.”
Isto significa dizer que, em todos os casos de desistência da execução, pendentes os embargos, o exequente desistente
deve pagar custas e honorários.
Destarte, versando os embargos sobre o próprio crédito exequendo, a desistência da execução depende da anuência do
executado que pode a ela opor-se para ver julgados os embargos e destruído o crédito exequendo pelo acolhimento de
suas razões de fundo, o que sepultará a dívida, cobrindo-a com o manto da coisa julgada material.
Por fim, impende considerar que a execução, embargada ou não, implica fixação de honorários (art. 85, § 1º, do
CPC/2015). Assim, havendo desistência da execução não embargada, o desistente deve pagar as despesas e os
honorários arbitrados se convocado o executado. A diferença está em que, na execução pura e simples, é livre a
desistência do exequente e as custas cingem-se ao processo principal. Diversamente, havendo embargos, o exequente
desistente deve pagar as despesas da execução e as dos embargos, sem prejuízo de submeter-se à concordância do
executado se houver embargos de mérito, isto é, voltados contra o próprio crédito exequendo ou o título executivo.

2.4Princípio da economicidade

O princípio da economicidade é fruto da humanização histórica que se operou em relação às consequências do


inadimplemento das obrigações. Outrora, como sabido, o devedor respondia com o seu corpo ou com a sua liberdade e
a de sua família, pelo descumprimento de suas obrigações. A evolução dos meios conducentes à satisfação das
obrigações com a eliminação dessas formas barbáricas e radicais, levadas a efeito, notadamente, pela escolástica
francesa, mercê de ter eliminado distorções, alcançou também patamares inaceitáveis, v.g., a inadmissão da execução
específica de obrigação de fazer, acenando-se ao credor apenas com as perdas e danos, como que privilegiando o
inadimplemento.
Entretanto, essa tendência de humanização dos consectários do descumprimento teve a virtude de enxergar que os
vínculos obrigacionais, diferentemente dos vínculos reais, tendem a desaparecer pelo cumprimento das prestações,
razão pela qual se impunha criar condições para a exaustão das relações jurídicas pelo adimplemento. Por outro lado,
para o credor, mais importante é a sua satisfação do que a destruição patrimonial e moral do devedor.
Essa ótica levou o legislador a inserir regras no processo executivo das quais dessume-se o princípio da
“economicidade”, que se traduz pela efetivação da execução da forma menos onerosa para o devedor. Trata-se de
princípio in procedendo que deve ser observado pelo juízo na adoção da prática de atos executivos, v.g., a penhora de
bens etc. Assim, se o devedor tem em seu patrimônio um bem móvel suficiente e que satisfaz o crédito exequendo,
nada justifica que se lhe aliene um computador, que eventualmente pode ser tão importante para as suas necessidades
diárias pessoais e profissionais.
O novo Código admite, como forma de pagamento pro solvendo, a “penhora de frutos e rendimentos de coisa móvel
ou imóvel” (art. 867 e seguintes do CPC/2015),  “quando a considerar mais eficiente para o recebimento do crédito e
10

menos gravosa ao executado”. Por outro lado, a alienação de bens do devedor deve realizar-se nos limites da
suficiência, obedecido o “justo preço”, repudiada a vileza deste, como preceitua o art. 891 do CPC/2015.  O parágrafo
11

único do referido artigo incumbe ao juiz o estabelecimento de um preço mínimo, abaixo do qual a proposta será
considerada vil. Não há maiores balizas legais para guiar o magistrado nesta tarefa. Entretanto, não se pode assentar
definição segura para todos os casos, sendo certo que a vileza do preço há de ser analisada à luz do caso concreto e das
circunstâncias negociais à época da alienação, até porque pode ocorrer que o preço de mercado do imóvel sofra
valorização ou desvalorização. De qualquer forma, não sendo fixado um preço mínimo, a lei determina que será vil o
preço inferior a cinquenta por cento do valor da avaliação, patamar este que pode servir de parâmetro geral para os
juízes.
Considere-se, ainda, que a vileza do preço pode ocorrer em qualquer leilão porquanto é ilusório imaginar que a
ausência de lanços na 1ª praça autoriza a alienação por qualquer valor nas subsequentes.
Deveras, para impugnar o preço vil é admissível simples petição em face da nulidade de que está eivada a
expropriação (art. 903, § 1º, I, do CPC/2015).  Caso a carta de arrematação ou a ordem de entrega já tenham sido
12

expedidas, o devedor prejudicado poderá se valer de ação autônoma, em cujo polo passivo constarão, em
litisconsórcio, o exequente e o arrematante (art. 903, § 4º, do CPC/2015). 13

Advirta-se, por fim, que a “economicidade nada tem a ver com a economia processual”, que não cogita da maior ou
menor onerosidade da execução em face do devedor, senão da obtenção de um máximo resultado processual, com um
mínimo de esforço que é o princípio que inspira a possibilidade de cumulação de execuções.

Consoante afirma Salvatore Pugliati, “a existência ou inexistência do crédito, em princípio, é irrelevante para o prosseguimento do
1

processo de execução, muito embora haja uma dependência entre o título e o próprio crédito, em vista o escopo e o resultado do processo
de execução”, in Esecuzione Forzata e Diritto Sostanziale, 1953, p. 136.
Na mesma linha a lição de Vittorio Denti, L’Esecuzione Forzata Forma Specifica, 1953, Cap. I.
Carlo Furno, com a percuciência de sua fala sobre o tema adverte: “a abstração do título executivo é apenas formal, processual, sem que
haja uma plena autonomia da execução e confronto com o direito substancial de crédito; o que se permite, apenas, é o desenvolvimento
da atividade processual executiva”, in Digesto Sistematico delle Oposizione nel processo Esecutivo, 1942, p. 29.
A tese pioneira da possibildade de aduzir-se nos próprios autos, sem segurança do juízo, as exceções de pré-executividade parece
2

pertencer a Galeno Lacerda, in “Execução Extrajudicial e Segurança do Juízo”, Ajuris, 23, p. 7 e segs.


A afirmação é de Cândido Dinamarco, in Processo de Execução, p. 103-104.
3

Essa conclusão é decorrência da teoria de Brinz, lavrada na Alemanha e que se irradiou para a Itália, na qual a obrigação é desdobrada
4

em dois elementos distintos: o elemento pessoal consistente no “débito” (Schuld) e o elemento patrimonial (Haftung). O elemento
patrimonial é a responsabilidade que representa a sujeição do patrimônio do devedor para com o cumprimento de suas obrigações. Uma
vez descumprido o débito, efetiva-se a responsabilidade através da via judicial. O elemento pessoal, então, consistiria no direito à
prestação em si e à responsabilidade no direito à agressão ao patrimônio do devedor em caso de descumprimento, o que somente se
permite engendrar por obra do Estado-Juiz soberano, imperativo e imparcial.
Mutatis mutandis essa concepção da execução é uma extensão da que retirou do particular o poder de dizer o direito e monopolizou-o nas
mãos do Estado como forma de solução equânime dos conflitos intersubjetivos.
José Augusto Garcia de Sousa. O tempo como fator precioso e fundamental do processo civil brasileiro: aplicação no campo das
5

impenhorabilidades. Revista de Processo, 2019.


“Art. 789. O devedor responde com todos os seus bens presentes e futuros para o cumprimento de suas obrigações, salvo as restrições
6

estabelecidas em lei.”
“Art. 499. A obrigação somente será convertida em perdas e danos se o autor o requerer ou se impossível a tutela específica ou a
7

obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente.”


“Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando:
8

(...)
§ 4º Oferecida a contestação, o autor não poderá, sem o consentimento do réu, desistir da ação.”
“Art. 85. A sentença condenará o vencido a pagar honorários ao advogado do vencedor.
9

§ 1º São devidos honorários advocatícios na reconvenção, no cumprimento de sentença, provisório ou definitivo, na execução, resistida ou
não, e nos recursos interpostos, cumulativamente.”
10
“CPC/1973: Art. 716. O juiz pode conceder ao exequente o usufruto de móvel ou imóvel, quando o reputar menos gravoso ao executado
e eficiente para o recebimento do crédito (Redação dada pela Lei nº 11.382, de 2006).”
11
“Art. 891. Não será aceito lance que ofereça preço vil.
Parágrafo único. Considera-se vil o preço inferior ao mínimo estipulado pelo juiz e constante do edital, e, não tendo sido fixado preço
mínimo, considera-se vil o preço inferior a cinquenta por cento do valor da avaliação.”
12
“Art. 903. Qualquer que seja a modalidade de leilão, assinado o auto pelo juiz, pelo arrematante e pelo leiloeiro, a arrematação será
considerada perfeita, acabada e irretratável, ainda que venham a ser julgados procedentes os embargos do executado ou a ação
autônoma de que trata o § 4º deste artigo, assegurada a possibilidade de reparação pelos prejuízos sofridos.
§ 1º Ressalvadas outras situações previstas neste Código, a arrematação poderá, no entanto, ser:
I – invalidada, quando realizada por preço vil ou com outro vício;
II – considerada ineficaz, se não observado o disposto no art. 804;
III – resolvida, se não for pago o preço ou se não for prestada a caução.”
13
“Art. 903, § 4º Após a expedição da carta de arrematação ou da ordem de entrega, a invalidação da arrematação poderá ser pleiteada
por ação autônoma, em cujo processo o arrematante figurará como litisconsorte necessário.”

IV
REQUISITOS DA EXECUÇÃO E DO CUMPRIMENTO DA SENTENÇA
O Estado, ao iniciar a prática dos atos de coação estatal característicos do processo de execução, certifica-se não só da
existência do direito através do título executivo, mas também do “descumprimento da obrigação”.
Assim, “o inadimplemento do devedor” e o “título executivo” representam pressupostos para realizar a execução.
Esses denominados “requisitos” figuram para o processo de execução como as “condições da ação” para o processo de
conhecimento.
O título comprova a obrigação e o inadimplemento, a violação; por isso, há quem sustente que o título é um requisito
formal de realização da execução, ao passo que, o inadimplemento, um pressuposto substancial.
Entretanto, ambos são apreciados in abstrato para permitir o início da execução, sendo certo que tanto o título quanto
o alegado inadimplemento podem ser infirmados no curso do processo.
Desta sorte, se o juiz, preambularmente, verifica inexistir título, ou inocorrente o inadimplemento, deve extinguir o
processo satisfativo.

1.INADIMPLEMENTO DO DEVEDOR

Dispõe o art. 786 do CPC/2015: “A execução pode ser instaurada caso o devedor não satisfaça a obrigação certa,
líquida e exigível consubstanciada em título executivo”. A contrario senso, e esta é a verdadeira ratio essendi do
artigo em exame, inocorrente o inadimplemento, por exemplo, se a obrigação foi contraída a termo (art. 798, I,  c, do
CPC/2015)  ou sob condição ainda não implementada (art. 803, III, do CPC/2015),  não cabe ao credor promover a
1 2

execução, por ausência de interesse processual, matéria alegável a qualquer tempo uma vez que revela carência da
ação de execução. O vício, se não for pronunciado de ofício, pode ser aduzido em petição simples, independentemente
de embargos à execução (art. 803, parágrafo único, do CPC/2015). 3

A lei considera inadimplente o devedor que não satisfaz a obrigação na forma e prazos legais.  Por outro lado, o
4

próprio Código explicita a impossibilidade de prosseguir-se na execução, se houver cumprimento da obrigação


superveniente, posto que, nesse caso, desaparece a necessidade do processo e, a fortiori, falta interesse de agir.
O inadimplemento exigível como requisito para “realizar a execução” é abstratamente considerado. Em consequência,
pode o devedor discuti-lo em embargos sustentando, v.g., a extinção da obrigação, por ausência de condição de
procedibilidade. 5

O inadimplemento é requisito substancial, que pertine ao crédito, por isso as formas de extinção das obrigações e que
demandam dilação probatória, não são passíveis de veiculação por exceção de pré-executividade, servil, apenas, às
questões formais. Raciocínio inverso conduziria a promiscuir a noção de pressuposto processual e mérito.  Em 6

consequência, repita-se, não é no bojo da execução que o devedor deve comprovar não ser inadimplente e, sim, nos
embargos ou na impugnação ao cumprimento da sentença, para não promiscuir o processo de execução cujo objetivo é
satisfazer os interesses do credor munido de título executivo, reservando-se ao executado o contraditório eventual.
Sob esse enfoque é que se deve interpretar o parágrafo único do art. 787 do CPC/2015  ao dispor que, na alegação de
7

exceção de contrato não cumprido por parte do credor, este não poderá prosseguir na execução sem antes adimplir a
sua parte. Assim, se o juiz verifica que o credor promoveu a execução de contrato sem comprovar o cumprimento de
sua parte, pode obstar o prosseguimento da execução.
Entretanto, se a discussão trava-se quanto ao mérito do cumprimento da contraprestação por parte do credor ou da
suficiência ou não de adimplemento da obrigação pelo devedor, a matéria muda de sede para encontrar o
seu habitat nos embargos ou na impugnação ao cumprimento da sentença. 8
Advirta-se, por fim, que a redação do art. 475-J do CPC/1973 enfatizava que o cumprimento da sentença para
satisfação de obrigação em dinheiro seria per officium iudicius, por isso que superado o tempus iudicadi o credor podia
desde logo requerer a penhora e avaliação (art. 475-J).  Em contraste, o art. 513, §§ 2º a 4º, do CPC/2015 esclarece que
9

é necessária a intimação do devedor para cumprir a sentença, seja qual for o tipo de obrigação. 10

Tratando-se de título extrajudicial, como é a vez primeira que o título exsurge em juízo, segue-se a regra da iniciativa e
do contraditório (art. 798 do CPC/2015). 11

2.TÍTULO EXECUTIVO

2.1Requisitos do crédito exequendo

O título executivo contém a obrigação a ser satisfeita através dos meios executivos. Essa obrigação há de se apresentar
configurada na sua extensão, em função da qual se fixam os limites da execução. Assim, à luz da extensão do crédito
constante do título é que se observa se apenas um bem do devedor é suficiente ao sacrifício da alienação forçada para
pagamento ao credor, revelando-se desnecessário expropriar outros bens. Os atos enérgicos característicos do processo
de execução devem ser praticados nos limites das necessidades reveladas pelo próprio título executivo. Além de o
título estabelecer o quantum devido, também deve ser claro quanto ao vencimento e à existência da obrigação. Ressoa
inequívoco que não se pode agredir de pronto o patrimônio do devedor se a obrigação é discutível ou aleatória,  v.g.,
uma obrigação de pagar perdas e danos não acertada judicialmente, ou uma dívida estimada pelo credor em carta
remetida ao devedor. Como regra, o Estado não inicia a prática de atos de soberania baseado apenas na produção
unilateral, pelo credor, de um documento executivo. Afinal, a obrigação resulta de um vínculo “bilateral” decorrente
da vontade das partes, da lei ou do ato ilícito.
Essas razões conduziram o legislador a autorizar a execução, ou seja, a instauração do processo satisfativo somente se
o credor exibir, em juízo, título executivo que consubstancie obrigações certas, líquidas e exigíveis (art. 783 do
CPC),  as quais serão enumeradas segundo as suas espécies e respectivas peculiaridades.
12

2.1.1Certeza

Certa é a obrigação induvidosa, resultante do título executivo. Incerta é a obrigação estimada pelo credor,  v.g., a
fixação unilateral pelo exequente de uma dívida não fundada em título algum, ou  a pretensão de cobrança por via
executiva de “perdas e danos” quantificadas pelo mesmo. A certeza que se exige deve estar revelada pelo título
executivo, muito embora a natureza abstrata da execução permita a discussão da causa debendi. Em suma, a obrigação
deve ser certa quanto à sua existência, e assim o é aquela assumida pelo devedor e consubstanciada em título
executivo, muito embora ao crédito possa opor-se o executado, sustentando fatos supervenientes à criação da
obrigação.

2.1.2Exigibilidade

Exigível é a obrigação vencida. Em regra, o título consagra o vencimento da obrigação. Entretanto, as regras materiais
devem ser obedecidas, v.g., a que estabelece o vencimento da obrigação quesível após a exigência de adimplemento
feita pelo credor; ou a obrigação “a termo” que deve aguardar o decurso do prazo; ou, ainda, a obrigação “sob
condição” que somente se torna exigível com o implemento desta etc. A exigibilidade confunde-se com o requisito do
“inadimplemento do devedor”; por isso, inexigível a obrigação, é impossível a execução, que se impõe extinguir.
2.1.3Liquidez

Líquida é a obrigação individuada no que concerne ao seu objeto. O devedor deve saber “o que deve”. Assim, o objeto
da execução que a torna líquida determina a espécie de procedimento a seguir. Desta sorte, se o devedor obrigou-se
por quantia certa, seguir-se-á esta modalidade de execução; se se comprometeu a fazer, este será o procedimento
satisfativo; ou, se o vínculo consagra obrigação de entrega de coisa, diversos serão os meios executivos tendentes à
satisfação do credor.
“A liquidez indica quantitativa e qualitativamente o conteúdo da obrigação”, fixando os limites de atuação do Estado
para atingir o escopo satisfativo a que se propõe o processo executivo.
O requisito em exame, por via de consequência, impede que se inicie a execução por obrigação de “conteúdo
genérico”. Aliás, nesse particular, é claríssimo o texto legal do art. 783 do CPC/2015.
É imperioso observar que, no processo de conhecimento, a lei permite o pedido genérico (art. 324 do CPC/2015) para
não postergar o acesso à justiça, autorizando que a parte o formule, liquidando a condenação, posteriormente, mas
sempre antes de executar a decisão. Assim, v.g., a vítima de um acidente pode pleitear a condenação do autor do ilícito
nas perdas e danos especificados, tais como despesas de conserto de veículo, verbas com gastos médicos e
hospitalares, dano moral etc. Entretanto, ao iniciar a fase de cumprimento por execução, esses valores devem estar
determinados para que se afira a extensão da execução e dos atos executivos necessários, por exemplo, a penhora e os
bens que devem ser alcançados até a satisfação integral do crédito.
Isto significa que na condenação ou no reconhecimento da obrigação impõe-se explicitar o an debeatur (o que é
devido), postergando-se para a liquidação o quantum debeatur, preparando--se, assim, a execução. Por essa razão é
que se afirma que a liquidação é preparatória da “execução” (fase de cumprimento da sentença) e complementar à
condenação.
Cumpre esclarecer que, de regra, os “títulos executivos lavrados fora do juízo são líquidos”, neles constando o objeto
da prestação. Admite-se, entretanto, que esses documentos vinculados a contratos possam reclamar uma
diminuta operação aritmética que ajuste o valor histórico neles consagrado, por exemplo, o cômputo de juros, a
correção monetária e a incidência de percentual sobre o valor final etc.
Essas operações não retiram a liquidez do título, como preceitua o art. 786, parágrafo único, do CPC/2015: “A
necessidade de simples operações aritméticas para apurar o crédito exequendo não retira a liquidez da obrigação
constante do título”. A lei, calcada nessa experiência jurídica, admite apenas a “iliquidez da sentença” como “fonte da
liquidação”. Por isso, “os títulos extrajudiciais devem ser líquidos para autorizar a imediata execução, uma vez que, se
ilíquidos, devem seguir a via da cognição conducente ao reconhecimento da obrigação executável ou sujeita ao
“cumprimento por execução”.
Diversamente, os títulos judiciais, quando ilíquidos, admitem a individuação do quantum através do “incidente de
liquidação de sentença”, fase anterior ao cumprimento e posterior ao processo de reconhecimento da obrigação
exigível. Consequentemente, forçoso assentar que só há a instauração do incidente de liquidação de títulos “judiciais”,
uma vez que os títulos extrajudiciais, se não forem líquidos, certos e exigíveis, não ensejam a via da execução, senão a
da cognição.
A execução funda-se em título executivo, que legitima os atos autoritário-judiciais dessa forma de prestação
jurisdicional. O título contém em si uma obrigação, a qual, segundo a lei material, deve reunir requisitos próprios
diversos da cártula que a eclipsa.
A doutrina sempre criticou a categorização do título como líquido e certo, porquanto esses atributos referem-se à
prestação, ou melhor, ao crédito. Por isso, o art. 783 do CPC/2015 dispõe que a execução para cobrança de crédito
fundar-se-á sempre em título “de obrigação certa, líquida e exigível”.

2.2Títulos executivos judiciais

Os títulos executivos judiciais são elencados pelo art. 515 do CPC/2015, em razão de a Execução de Título Judicial
atual compor “fase de cumprimento” do processo.
O primeiro título executivo judicial previsto diz respeito às decisões proferidas no processo civil que reconheçam a
exigibilidade de obrigação de pagar quantia, de fazer, de não fazer ou de entregar coisa (art. 515, I, CPC/2015). A
redação do CPC/1973, com suas diversas reformas, fazia referência a “sentença”, enquanto o novel diploma utiliza o
termo “decisão”. Portanto, também é título executivo judicial, por exemplo, a decisão que julga pedidos
incontroversos (art. 356 do CPC/2015). Além disso, a nova redação utiliza o termo “exigibilidade”, ao passo que o
texto revogado falava em “existência”. Nesse sentido, o novo CPC pacifica que as decisões meramente declaratórias
não constituem títulos executivos judiciais.
A decisão condenatória pura era aquela que impunha uma prestação ao vencido, reconhecendo o inadimplemento de
uma obrigação assumida. A sentença, não obstante a denominação de “condenatória”, limitava-se a definir o direito e
exortar o vencido a que cumprisse a prestação. Em face da impossibilidade de o vencedor tornar realidade aquela
decisão por meios próprios, descumprida a condenação, exsurgia como ainda exsurge a necessidade de, mais uma vez,
movimentar-se o Judiciário para tornar real a condenação, praticando atos necessários a satisfazer o direito do
vencedor reconhecido no título judicial. De toda sorte, é a natureza da condenação que indica a espécie de execução a
seguir. Assim, se a condenação impõe a entrega de determinado bem, sua efetivação obedecerá ao procedimento do
cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação de entregar coisa; caso a condenação
imponha a obrigação de pagamento de soma, a atividade executiva obedecerá ao rito do cumprimento definitivo da
sentença que reconhece a exigibilidade de obrigação de pagar quantia certa e assim por diante.
O Código confere executividade à decisão que reconhece a exigibilidade de uma obrigação porquanto as demais
formas de provimento jurisdicional (isto é, constitutivo e declaratório puro) não comportam execução, haja vista que a
definição jurídica com a eficácia constitutiva ou declaratória satisfaz o interesse da parte, tornando desnecessário
qualquer processo complementar. Assim, v.g., a decisão que concede o divórcio, ou a que declara nulo determinado
negócio jurídico cumpre os seus objetivos com a simples prolação da sentença, tornando prescindível qualquer ato
posterior.
No que pertine à sentença declaratória, impõe-se considerar, também, o seu objeto mediato. Assim é que, se a sentença
declaratória limita-se a afirmar a nulidade do ato jurídico, nenhuma outra utilidade, em princípio, extrai-se daquela
decisão, tornando-a infensa à execução.
Entretanto, algumas declarações podem ensejar execução, se complementadas. Assim, v.g., a sentença declaratória do
dever de indenizar prescinde de processo condenatório posterior, bastando à parte liquidar o an debeatur, tal como
ocorre com a sentença penal condenatória que, de rigor, não impede condenação cível, senão declara o dever de
reparar o dano ex delicto (art. 63 do CPP).
A sentença de condenação, diversamente, não produz resultados imediatos no mundo tangível, a menos que o vencido
cumpra, voluntariamente, a decisão. Por isso afirma-se que a “condenação é a forma mais imperfeita de prestação
jurisdicional em confronto com as demais”.
Por oportuno, as providências complementares que algumas decisões declaratórias e constitutivas reclamam não
passam de atividade de publicidade do seu conteúdo em razão da natureza jurídica das relações às quais se referem.
Assim, v.g., a sentença de divórcio é registrada no registro civil das pessoas naturais, uma vez que o novo  status
familiae dos cônjuges é oponível a toda a coletividade (erga omnes). No mesmo sentido, a sentença que renova o
contrato de locação comercial é levada ao registro imobiliário para que o novo adquirente do imóvel não alegue
desconhecimento quanto ao vínculo que incide sobre o bem.
Essas medidas, como se pode observar, são de cunho administrativo que em nada se assemelham aos atos coativos do
processo de execução.
Destarte, a “executividade é inerente não só à sentença condenatória pura, senão a todo e qualquer capítulo
condenatório” encartado em sentença de outra natureza. Assim, por exemplo, a sentença que “declara” nulo o ato
jurídico condena o vencido ao pagamento de custas e honorários e, eventualmente, em perdas e danos, é executável
nesta parte. A sentença de improcedência é, portanto, declaratória negativa e, condenando o vencido nas despesas e
honorários, também é executável nessa parte.
Conclui-se, assim, que a ideologia do cumprimento da sentença permite à parte extrair toda e qualquer eficácia prática
do provimento obtido, quer seja ele declaratório ou constitutivo, por isso que a lei, em vez de aduzir à “sentença
condenatória”, refere-se como título judicial à decisão que reconhece a exigibilidade de uma obrigação, numa
expressão inequívoca de que o provimento judicial há de conferir a maior utilidade possível que dele se possa auferir.
O segundo título judicial previsto no art. 515 do CPC/2015 é a decisão homologatória de autocomposição judicial.
Não se deve olvidar que o art. 3º, § 3º, do CPC/2015 determina que a conciliação, a mediação e outros métodos de
solução consensual de conflitos deverão ser estimulados por juízes, advogados, defensores públicos e membros do
Ministério Público, inclusive no curso do processo judicial. Em determinadas situações, o resultado da
autocomposição será homologado pelo juízo em sentença com resolução de mérito, como nos casos de
reconhecimento da procedência do pedido, transação e renúncia (art. 487, III, a, b, e c, do CPC/2015). Noutras
hipóteses, a exemplo da desistência, o provimento judicial homologatório não resolverá o mérito (art. 485, VIII, do
CPC/2015), de modo que será despido de força executiva. Observe-se, ainda, que, segundo o art. 515, § 2º, do
CPC/2015, a autocomposição judicial pode envolver sujeito estranho ao processo e versar sobre relação jurídica que
não tenha sido deduzida em juízo. Assim, v.g., em ação de despejo, as partes podem pactuar a recondução do contrato,
a fixação de valores de novo aluguel e até pagamento de quantia referente a perdas e eventuais danos causados ao
imóvel, sendo certo que todas essas parcelas, caso descumpridas, ensejam a execução.
O art. 515, III, do CPC/2015 consagra como título executivo judicial a decisão homologatória de autocomposição
extrajudicial de qualquer natureza. Nessa hipótese, devem restar atendidas a capacidade das partes e a disponibilidade
do objeto do negócio jurídico processual. O rito a ser observado para a homologação do acordo extrajudicial é o dos
procedimentos de jurisdição voluntária (art. 725, VIII, do CPC/2015). O provimento judicial, nesta hipótese, tem o
condão de conferir ao negócio jurídico voluntariamente estabelecido entre as partes a natureza de título executivo
judicial. Na ausência da homologação, ou no caso de invalidação desta, o referido negócio ainda possuirá força
executiva, consubstanciando título executivo extrajudicial (v. art. 784, III e IV, do CPC/2015).
A homologação judicial da manifestação de vontade das partes, na qual pactuam obrigações, adquire força executória
após o juiz verificar o cumprimento dos requisitos formais necessários a conferir executividade ao crédito surgido do
negócio jurídico. Aliás, não teria sentido que o título formado pelas partes extrajudicialmente contivesse força
executiva e a sentença homologatória não adquirisse a mesma eficácia.
A transação encetada pelas partes em juízo admite convencionar-se acerca de qualquer obrigação lícita de dar, fazer,
não fazer etc. A executividade concedida à homologação permite ao lesado pelo inadimplemento da  obrigação
assumida judicialmente proceder, de imediato, à execução. Por outro lado, a sentença homologatória habilita a
imediata “execução”, porquanto, “de regra, extingue a fase de conhecimento com resolução do mérito”, salvo se o seu
objeto for a desistência da ação que implica extinção meramente terminativa.
Revela-se, também, possível transacionar-se em processo de execução; hipótese em que surge um novo título
executivo que é a sentença homologatória superveniente ao título originário. A execução, então, passa a pautar-se
pelos efeitos introduzidos pelo novel título segundo as cláusulas acordadas, dispensando nova convocação, posto
integradas as partes na relação processual, exigindo-se tão somente a intimação para o adimplemento do acordado.
Em regra, o descumprimento da transação não repristina o título originário porquanto inegável o  animus novandi.
Nada obsta, entretanto, que as partes convencionem a restauração da dívida original mediante previsão textual na
transação.
A transação é sujeita ao cumprimento nos próprios autos, qualquer que seja a sua natureza, desde que o juízo revele
competência ratione materiae. Assim, v.g., se em ação de divórcio, as partes ajustassem obrigações cíveis, como o
pagamento de determinada quantia a título de reembolso de despesas anteriores à dissolução matrimonial, escapava,
como ainda falece ao juízo de família, competência para executá-las; não assim se a prestação ajustada for de cunho
alimentício.
Um dos escopos do princípio da efetividade é conferir à parte o máximo de benefício em confronto com o seu esforço
processual. Trata-se de consectário, também, do princípio da economia processual. Em consequência, se a tutela
jurisdicional puder abarcar o maior número de relações litigiosas possíveis, tanto mais eficiente será a prestação da
jurisdição no seu desígnio de pacificação social. Aliás, essa é a ratio que informa o litisconsórcio, as ações de regresso
no mesmo processo, a reconvenção etc. Ora, se a sentença que julga a causa pode dispor sobre várias relações
jurídicas, com muito mais razão a decisão que homologa manifestações compositivas do litígio oriundas das próprias
partes.
Destarte, quando se trata de chancelar negócios jurídicos que encerrem transação, não se aplica a regra da adstrição do
juízo ao pedido inicial. É que, exatamente guardando fidelidade com o primeiro escopo processual noticiado da
economia processual e da efetividade, é lícito aos interessados submeter ao juízo a homologação de negócios que
transbordem os limites do pedido. Trata-se de técnica adrede utilizada pela lei locatícia ao permitir,  v.g., que no bojo
de uma ação revisional, o juiz possa homologar transação para a desocupação do imóvel.
Nos termos do art. 515, IV, do CPC/2015 constitui título executivo judicial o formal e a certidão de partilha,
exclusivamente em relação ao inventariante, aos herdeiros e aos sucessores a título singular ou universal. Transitada
em julgado a sentença de inventário e partilha, receberá o herdeiro os bens que lhe tocarem e um formal de partilha, do
qual constarão as seguintes peças, destacadas pelo art. 655 do CPC/2015: I – termo de inventariante e título de
herdeiros; II – avaliação dos bens que constituíram o quinhão do herdeiro; III – pagamento do quinhão hereditário; IV
– quitação dos impostos; V – sentença. O parágrafo único do art. 655 do CPC/2015 destaca que o formal de partilha
poderá ser substituído por certidão de pagamento do quinhão hereditário quando esse não exceder a 5 (cinco) vezes o
salário mínimo, caso em que se transcreverá nela a sentença de partilha transitada em julgado. Também merecem a
natureza de títulos executivos judiciais os formais de partilha resultantes de processos de divórcio,  ex vi do art. 731,
parágrafo único, do CPC/2015.
O formal, na sua gênese atributiva de bens e direitos, serve ao favorecido para exercer tudo quanto se contém no
título. Assim, v.g., se o formal atribui um imóvel ao herdeiro X e o bem encontra-se ocupado pelo sucessor Y, o
favorecido pode iniciar a execução para a entrega de coisa em face daquele outro herdeiro, sem necessidade de
recorrer previamente ao processo de conhecimento. Isto porque o formal faz as vezes de uma “carta de sentença”,
conferindo ao exequente o poder de exigir judicialmente a satisfação de seu direito sem prévia cognição já encetada no
juízo do inventário.
Consoante se observa, essa função de atribuição de bens e direitos oriundos da partilha engendra-se entre os herdeiros
e legatários e apenas entre os mesmos; por isso, vigora, quanto aos limites subjetivos da decisão de partilha, a regra do
art. 506 do CPC,  segundo a qual res judicata aliis non nocet.
13

Uma novidade do novo CPC é o art. 515, V, segundo o qual o crédito de auxiliar da justiça, quando as custas,
emolumentos ou honorários tiverem sido aprovados por decisão judicial, é título executivo judicial. No regime
anterior, créditos dessa natureza eram submetidos à execução por título extrajudicial.
Também constitui título executivo judicial a sentença penal condenatória transitada em julgado (art. 515, VI, do
CPC/2015). A responsabilidade criminal sempre arrasta a responsabilidade civil, muito embora a recíproca não seja
verdadeira.  Outrossim, a irresponsabilidade penal pelo reconhecimento da inexistência do fato ou da autoria impede a
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discussão cível, em face da eficácia vinculativa prejudicial da coisa julgada criminal. 15

O Código Penal enuncia, como consequência do reconhecimento judicial do crime “em relação ao seu autor”, o
“dever de reparar o dano ex delicto” (art. 91, I, do Código Penal). Desta sorte, a sentença penal condenatória não só
inflige a sanção penal ao autor do delito como também reconhece, com força de coisa julgada (art. 63 do Código de
Processo Penal), o dever civil de reparar o dano. A sentença penal deve ser “liquidada” no cível segundo os critérios
estabelecidos para a liquidação das obrigações por atos ilícitos e, posteriormente, executada, sem necessidade de se
promover ação condenatória de responsabilidade civil. Nessa hipótese, há petição inicial de liquidação distribuída em
face de quem foi parte condenada no juízo criminal e pedido de citação.
O título executivo em exame pressupõe que se trate de “sentença penal de condenação” com reconhecimento de
prática de ilícito e com “trânsito em julgado”. Escapa, assim, a essa categoria, a sentença de pronúncia proferida nos
delitos da competência do tribunal do júri.
Destarte, a execução civil deve ser engendrada, consoante afirmado, contra o condenado no juízo penal, haja vista que
não se pode executar uma sentença contra quem não foi parte no seu processo de fabricação. Assim, v.g., o patrão é
responsável civil pelos atos do preposto. Entretanto, se a condenação criminal operou-se contra o empregado, a
liquidação e a execução da sentença devem ser movidas contra aquele e não em face do patrão que não foi parte no
processo definidor da responsabilidade. Este, para incidir no patrimônio do patrão, pressupõe acioná-lo civilmente em
regular e devido processo de conhecimento, em obediência ao princípio de que a coisa julgada não pode atingir quem
não foi parte no processo (res judicta aliis non nocet). 16

A sentença penal condenatória, portanto, possui efeito extrapenal autorizativo de impor a reparação do dano ex
delicto, ex vi do art. 91 do CPP.  Nos termos do art. 387, IV, do CPP, a sentença penal fixará valor mínimo para
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reparação dos danos causados pela infração, considerando os prejuízos sofridos pelo ofendido. Caso a sentença penal
seja omissa nesse ponto, deve ser distribuída no juízo cível para apurar o quantum debeatur, segundo as regras do CC
inerentes à liquidação da obrigação por atos ilícitos, iniciando-se, a posteriori, a fase de cumprimento de sentença.
O art. 515, VII, trata da sentença arbitral como título executivo judicial. Nessa hipótese, preceitua o § 1º do mesmo
artigo que o devedor será citado no juízo cível para o cumprimento da sentença ou para a liquidação no prazo de 15
(quinze) dias. Caso o devedor não efetue o adimplemento da obrigação no prazo assinalado, ficará sujeito ao
pagamento da multa e dos honorários advocatícios, ambos no patamar de dez por cento sobre o valor do débito,  ex
vi do art. 523, § 1º, do CPC/2015. Esse entendimento, sobre a incidência de multa sobre o devedor recalcitrante no
cumprimento de sentença arbitral, já havia sido fixado pelo Superior Tribunal de Justiça sob a égide do regime
anterior. 18

O juízo arbitral, como um equivalente jurisdicional, produzia, no regime anterior à lei da arbitragem (Lei nº 9.307, de
23 de setembro de 1996), um laudo passível de homologação pelo Poder Judiciário. O derrogado art. 1.097 do
CPC/1973 dispunha que o laudo, depois de homologado, produzia entre as partes e seus sucessores os mesmos efeitos
da sentença judiciária; e quando contivesse capítulo condenatório, a homologação lhe conferiria a eficácia de título
executivo. Seguindo essa sistemática, o Código previa a sentença homologatória do laudo como título executivo,
exigível no mesmo juízo que homologara aquele.
Entretanto, a lei de arbitragem jurisdicionalizou o laudo, de sorte que não mais se necessita a sua homologação,
porquanto adquire, por si só, caráter de título executivo por equiparação de eficácia ex vi legis. Assim como a lei
conferiu eficácia executiva aos títulos de crédito o fez, também, quanto ao laudo arbitral. Destarte, não havendo mais
homologação, a execução da sentença arbitral perfaz-se no juízo competente, “por distribuição”, ex vi do art. 516, III,
do CPC/2015. 19

O próximo título executivo judicial, previsto no art. 515, VIII, do CPC/2015, é a sentença estrangeira homologada pelo
Superior Tribunal de Justiça no exercício da competência prevista no art. 105, I, i, da Constituição, com a redação
incluída pela Emenda Constitucional nº 45/2004. A sentença estrangeira homologada é executada perante o juízo
federal para o qual deverá ser distribuída; seguindo-se, daí em diante, o rito do cumprimento da sentença.
A sentença estrangeira, arrolada como título executivo judicial, é a de natureza condenatória ou que tenha que
produzir qualquer eficácia no Brasil, onde o Judiciário alienígena ou juízo arbitral contempla obrigação passível de
exigibilidade através do processo de execução. Antes, porém, de executá-la, o exequente deve submetê-la a um
processo de nacionalização via procedimento da “homologação de decisão estrangeira”, previsto nos arts. 960 e
seguintes do CPC/2015, porquanto, antes desta providência, o julgado não produz efeitos no Brasil.  A homologação
20

ulterior, pelo Superior Tribunal de Justiça, autoriza seja a sentença executada segundo a lei brasileira, perante a justiça
federal (art. 109, X, da Constituição Federal). 21

A homologação visa a resguardar a competência internacional exclusiva da justiça brasileira, bem como averiguar se
a decisão alienígena, trânsita em julgado, não atenta a ordem pública nacional (art. 963, VI, do CPC/2015).
Relembre-se que a homologabilidade é pré-requisito para realizar a execução de sentença estrangeira, não de “título
extrajudicial” oriundo de outro país. Este, para ter eficácia executiva, há de satisfazer os requisitos formais do país de
origem e indicar o Brasil como lugar do cumprimento da obrigação (art. 784, §§ 2º e 3º, do CPC/2015). 22

2.2.1Liquidação dos títulos judiciais

A liquidação é o procedimento de conhecimento para complementar a norma jurídica estabelecida no título judicial,
que pode ser iniciado a requerimento do credor ou do devedor. A possibilidade de início da liquidação por iniciativa
do devedor é novidade do CPC/2015. A tarefa de individuação do objeto da condenação ou do  quantum devido
obedece a diversas formas processuais. Evidentemente, não se pode, por exemplo, estimar perdas e danos decorrentes
de acidente de veículo e o valor de uma dívida à qual se acresça multa e outros consectários pela mesma forma
procedimental.
Diante desta constatação, a lei regula as “espécies de liquidação de sentença”, a saber: liquidação por
arbitramento e liquidação pelo procedimento comum. O art. 509 do CPC/2015, assim, extinguiu a expressão
“liquidação por artigos”. Sob o novo regime, a liquidação por arbitramento tem lugar quando determinado pela
sentença, convencionado pelas partes ou exigido pela natureza do objeto da liquidação. Por sua vez, a liquidação segue
o procedimento comum quando houver necessidade de alegar e provar fato novo. Apesar do silêncio da lei, também
cabe a liquidação pelo procedimento comum quando for imperioso alegar e provar fato preexistente não alegado na
fase de conhecimento.
Desde a reforma decorrente da Lei nº 11.232/2005 já não mais existia a “liquidação por cálculos do contador”, a qual
precedia, em regra, as execuções por quantia certa nas hipóteses em que se impunha atualizar o valor da condenação
com a inclusão dos consectários da sucumbência, juros, correção monetária, custas etc. Atualmente, quando a
apuração do valor depender apenas de cálculo aritmético, o credor poderá promover, desde logo, o cumprimento da
sentença, ex vi do art. 509, § 2º, do CPC/2015. Nada obstante, poderá o juiz, antes de determinar o prosseguimento do
cumprimento da sentença, valer-se do contador do juízo quando a memória apresentada pelo credor aparentemente
exceder os limites da decisão exequenda, bem como nos casos em que o exequente é beneficiário da assistência
judiciária (art. 98, § 1º, VII, do CPC/2015).  Elaborados os cálculos, caso o juiz entenda que o valor apontado no
23

demonstrativo aparentemente excede os limites da condenação, far-se-á a execução pelo valor originariamente
pretendido, mas a penhora terá por base o valor encontrado pelo contador  (art. 524, § 1º, do CPC/2015).  Trata-se,
24

nessa última parte, de consectário do princípio da economicidade, segundo o qual a execução deve ser realizada da
forma menos onerosa para o devedor. Consequentemente, se a extensão do crédito apontada pelo credor diferir da
conta do auxiliar do juízo, o sacrifício dos bens do devedor será no limite previsto pelo contador.
Esse incidente é sindicável por agravo de instrumento, uma vez que o prosseguimento sem a análise imediata da
irresignação pode conduzir à inutilidade da fase de expropriação. 25

A alteração implementada ao longo das reformas é louvável porquanto, no regime antigo, a “liquidação por cálculo”
postergava a execução, na medida em que a sentença que a homologava era reiteradamente impugnada a cada
atualização, quando da baixa dos autos, após o recurso contra a primeira decisão de chancela do valor aferido pelo
contador. Atualmente, pela sistemática em vigor, o valor continua a poder ser impugnado; só que, agora, sem obstar a
execução, porque o credor exibe o quantum devido com a planilha que acompanha a inicial e o devedor pode impugná-
lo através impugnação (os antigos embargos). Advirta-se, contudo, que mesmo nesses casos, poderá haver atividade
meramente auxiliar do contador a propiciar a integração da planilha exigida pela lei. Consigne-se, ainda, que, na forma
do art. 509, § 3º, do CPC/2015, o CNJ deve desenvolver programa único de atualização financeira.
Em regra, o procedimento da fase de liquidação processa-se nos mesmos autos. Entretanto, quando na sentença houver
uma parte líquida e outra ilíquida, o credor pode, ao mesmo tempo, promover a execução da primeira e requerer a
liquidação da segunda, caso em que a liquidação será processada em autos apartados (art. 509, § 1º, do
CPC/2015).  Igualmente, se a liquidação for realizada na pendência de recurso, deverá ser processada em autos
26

apartados no juízo de origem, sendo ônus do liquidante apresentar as cópias das peças processuais pertinentes (art. 512
do CPC/2015). 27

Liquidação por iniciativa do devedor

O art. 509 do CPC/2015 admite expressamente a legitimidade do devedor para dar início à liquidação. Ordinariamente,
o devedor, em vez de iniciar a execução, cumpre-a. Entretanto, é possível que a sentença não tenha determinado o
valor devido e o credor mantenha-se inerte quanto à sua liquidação, hipótese em que ao devedor será lícito valer-se da
conduta prevista naquele dispositivo indicando em planilha o valor devido ou utilizando-se dos mesmos instrumentos
postos à disposição do credor (exibição ou liquidação).
Liquidação por arbitramento

A liquidação por arbitramento realiza-se sob a forma de análise de pareceres, documentos elucidativos ou perícia e
faz-se mister quando determinado pela sentença, convencionado pelas partes ou exigido pela natureza do objeto da
liquidação (art. 509, I, do CPC/2015).  Assim, v.g., condenado o réu a realizar as obras necessárias a evitar infiltração
28

em imóvel em condomínio, a liquidação por arbitramento se impõe antes de iniciar-se a execução da “condenação de
fazer” para especificar quais os serviços necessários. A mesma forma de liquidação é observada se o vencido for
condenado a indenizar o valor de bem imóvel emprestado e destruído, sobre cujo quantum incide a execução.
A liquidação por arbitramento inicia-se por requerimento. Presentes os requisitos, deverá o juiz intimar as partes para a
apresentação de pareceres ou documentos elucidativos, no prazo que fixar. Caso não seja possível proferir decisão com
base nos documentos apresentados, deve o juiz nomear perito, fixando prazo para a entrega do laudo. As partes serão
intimadas para, querendo, manifestar-se sobre o laudo do perito do juízo no prazo comum de 15 (quinze) dias, na
forma do art. 477, § 1º, do CPC/2015. É aplicável, no bojo da liquidação por arbitramento, o rito de produção de prova
pericial previsto nos arts. 464 e seguintes do CPC/2015.

Liquidação pelo procedimento comum

A liquidação pelo procedimento comum, não obstante possa também resultar numa perícia, distingue-se do
arbitramento, pois destinada a apurar o objeto da condenação com base em fatos novos, ocorrentes após a propositura
da ação condenatória.  A técnica da liquidação pelo procedimento comum se baseia na experiência de que há
29

determinados fatos cujas consequências protraem-se no tempo. Assim, v.g., um acidente automobilístico pode resultar
em danos físicos que vão ocorrendo ao longo do tempo, como a sequela das lesões. Nessa hipótese, não se revelaria
razoável determinar à vítima que aguardasse que todas as consequências do fato se produzissem para que somente
após pudesse intentar a ação reparatória. O meio de franquear imediatamente a justiça ao lesado, malgrado a
permanência da produção dos efeitos nocivos é, exatamente, a liquidação pelo procedimento comum, uma vez que,
acertada judicialmente a responsabilidade, todos os fatos decorrentes encartam-se na órbita da sentença, limitando-se a
liquidação a fixar o quantum debeatur referente àquela responsabilidade já definida. Responsabilizado o autor do fato,
todas as despesas que se comprovarem na liquidação por artigos serão objeto da decisão a ser proferida neste processo
e, consequentemente, da decisão posterior. O “fato novo” a que se refere a lei não é senão a “extensão da
responsabilidade”.
Na liquidação pelo procedimento comum, substitui-se a citação por intimação na pessoa do advogado (ou sociedade de
advogados) e não há audiência de autocomposição.  Porém, se a liquidação for de sentença penal, sentença arbitral ou
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sentença estrangeira homologada pelo STJ, deverá haver citação.


Destarte, a própria lei, “afastando qualquer exegese que vise a imiscuir pedido novo na liquidação”, estabelece como
regra in procedendo genérica e, portanto, aplicável às duas modalidades anteriores, que: “Na liquidação é vedado
discutir de novo a lide ou modificar a sentença que a julgou” (art. 509, § 4º, do CPC/2015).
Isto significa que a sentença da liquidação não pode infirmar o julgado, por força de eficácia preclusiva da coisa
julgada (arts. 494, 502 e 505 do CPC/2015), o que não impede a “liquidação zero”, por insubsistência de valores novos
quanto aos fatos novos, como v.g.; quando tratamentos ulteriores foram realizados em hospital público.
Esse princípio vetusto da fidelidade da liquidação em relação ao julgado deve ser interpretado  cum granu
salis. Assim, v.g., a correção monetária, os juros, os honorários, ainda que não arbitrados – muito embora reconhecida
a sucumbência –, podem ser incluídos na liquidação, sem ofensa ao preceito do art. 509, § 4º, do CPC/2015. No
mesmo diapasão, a inclusão de perdas decorrentes da condenação genérica em perdas e danos pode constar da
liquidação sem que se entreveja error procedendo. 31

Outro aspecto a se destacar é que também não viola a regra da adstrição a liquidação levada a efeito por forma diversa
da determinada na sentença, se imprópria à apuração do quantum debeatur, sendo certo que nessa hipótese é possível
substituir as formas de liquidação na modalidade indicada.
A exegese do dispositivo impõe que a liquidação deva adstringir-se ao decidido, não podendo contemplar verbas não
deferidas. Assim, v.g., se a sentença somente concedeu despesas médico--hospitalares e danos materiais, não é lícito
inaugurar na liquidação pedido de dano moral ou indenização por fato não cogitado no processo anterior de
condenação, v.g., a frustração de um negócio jurídico por força do acidente (lucros cessantes).
Essa regra não é infirmada, como assentado anteriormente, quando se conclui, na liquidação, que a indenização
acertada na sentença não alcançou qualquer valor. É o que se denomina “liquidação zero”, autorizada por abalizada
doutrina. 32

A necessidade de demonstrar a extensão do dano com base em fato novo na liquidação pelo procedimento comum se
deve ao amplo contraditório próprio desse rito.

Liquidação de sentença. Recurso

Em qualquer caso, quando a liquidação for incidente processual, sua resolução se dará por decisão interlocutória e será
cabível agravo de instrumento (art. 1.015, parágrafo único, CPC/2015). Isso porque o incidente de liquidação de
sentença, apesar de constituir fase do mesmo processo, tem natureza cognitiva e, como consequência, extingue-se por
decisão interlocutória agravável.
Desta sorte, iniciada a fase de cumprimento da sentença, é vedado reavivar matérias que poderiam ter sido suscitadas
nesse incidente cognitivo anterior, v.g., os critérios utilizados na liquidação do julgado exequendo. Nos termos do art.
507 do CPC/2015, é vedado à parte discutir no curso do processo as questões já decididas a cujo respeito se operou a
preclusão. Aplica-se também, mutatis mutandi, o art. 508 do CPC/2015, segundo o qual, transitada em julgado a
decisão, considerar-se-ão deduzidas e repelidas todas as alegações e as defesas que a parte poderia opor tanto ao
acolhimento quanto à rejeição do pedido.

Liquidação provisória

O art. 512 do CPC/2015 trata da liquidação provisória, aquela processada em autos separados na pendência de recurso,
independentemente de o recurso possuir efeito suspensivo. A competência para a liquidação provisória é do juízo de
origem. O objetivo é conferir celeridade, pois o título estará pronto para ser executado quando a decisão de mérito
sobre a existência da obrigação transitar em julgado. 33

2.3Títulos executivos extrajudiciais

O CPC, após enunciar a regra de que toda execução tem por base título executivo judicial ou extrajudicial, enumera-os
nos artigos seguintes (arts. 515 e 784 do CPC/2015).
O título executivo, como assentado, confere a certeza necessária que autoriza o início do processo satisfativo de
execução.
Essa energia do título executivo fez exsurgir severas dúvidas quando da instituição, no nosso sistema processual, das
tutelas provisórias, que, em face de elementos probatórios robustos, autorizam o juiz a conceder desde logo a
satisfação antecipada do pedido. 34

A perplexidade está em que, sendo o título executivo ato jurídico que confere certeza quanto à existência do crédito,
qual seria a vantagem para a parte em perseguir o seu direito no processo executivo, no qual a fase de satisfação é a
última etapa, em confronto com a tutela provisória cujo deferimento coloca a parte em situação mais vantajosa do que
aquela última fase da execução?
A parte que dispõe de título extrajudicial pode optar entre as formas de tutela; vale dizer: a tutela de conhecimento
com pedido de antecipação ou a tutela executiva. Já decidiu o Superior Tribunal de Justiça que a “obrigação lastreada
em título extrajudicial pode ser exigida pela via ordinária, o que enseja até situação menos gravosa para o devedor,
pois sua defesa pode ser exercida com maior amplitude”.  O detentor de título executivo extrajudicial também pode
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optar pelo rito da ação monitória.  O novo CPC positivou esse entendimento em seu art. 785, segundo o qual, verbis:
36

“A existência de título executivo extrajudicial não impede a parte de optar pelo processo de conhecimento, a fim de
obter título executivo judicial”.
A emancipação dos títulos executivos extrajudiciais pela equiparação de eficácia aos títulos judiciais exterminou a
vetusta diferença que havia entre as ações executórias (títulos judiciais) e as ações executivas (títulos extrajudiciais),
estas com cognição interna mais ampla do que aquelas, visto que admitiam contestação após a primeira constrição pela
penhora. Hodiernamente, ambos os títulos autorizam a imediata satisfação da obrigação, diferenciando-se apenas pela
natureza da prestação.
Os títulos extrajudiciais precisam estar previstos taxativamente, ou seja, numerus clausus, em lei, dentro do rol contido
no art. 784 do CPC/2015 ou em outras normas legais.  A enumeração exaustiva decorre do fato de que os
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mencionados títulos autorizam a prática de atos de soberania e de enérgica invasão na esfera jurídico-patrimonial do
devedor, razão pela qual não podem os particulares produzir, de acordo com a vontade individual, uma fonte de atos
autoritário-judiciais. Ressalte-se que o próprio inciso XII do art. 784 exige expressa disposição legal para atribuir força
executiva a um título.A primeira categoria de documentos executivos é representada pelos títulos cambiais, tais como:
letra de câmbio, nota promissória, duplicata e cheque (784, I, do CPC/2015).
Impende esclarecer que os referidos títulos têm sua caracterização e formalização subordinadas às normas de direito
material que os regem, cabendo ao CPC regular o processo e o procedimento correspondentes à exigibilidade em juízo
do crédito inserido na cártula.
É forçoso relembrar que, com o advento da ação monitória, os títulos carentes de seus requisitos formais executivos
passaram a ser passíveis de embasar esse novel procedimento (art. 700 do CPC/2015),  como, v.g., a duplicata sem
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aceite, a nota promissória em branco sem data da emissão etc.


Ressalte-se que o documento monitório há de ter sido firmado pelo devedor, não autorizando o manejo desse rito
paraexecutivo documentos unilaterais de dívida ou simples cartas remetidas pelo credor ao suposto obrigado
porquanto a assunção da obrigação deve ser inequívoca.
Destarte, há casos em que o título cambial está vinculado a determinado contrato. Nesses casos, o negócio jurídico é
apenas integrativo, haja vista que o documento é suficiente por si só à execução.
Os títulos executivos previstos nos incisos II, III e IV, do art. 784 do CPC/2015 apresentam a mesma essência dos
documentos anteriores e têm como fundamento o prestígio conferido às manifestações de vontade na criação do
vínculo obrigacional. Nesse particular, insta afirmar que cresce aqui e alhures a tendência de multiplicação de
documentos a que se confere eficácia executiva, não só como técnica de prestação jurisdicional, mas também como
forma de se valorizarem as manifestações volitivas. Constando desses documentos obrigações assumidas e
posteriormente impagas, cabe à parte iniciar o processo de execução.
A obrigação constante do documento deve revelar, prima facie, certeza, liquidez e exigibilidade, já que a necessidade
de aferir esses requisitos no negócio subjacente desnatura-o, retirando-lhe a executividade.
Os instrumentos de transação a que se refere o art. 784, IV, do CPC/2015 são aqueles lavrados extrajudicialmente –
uma vez que, do contrário, seriam títulos judiciais. Deveras, acompanhando o movimento da criação de títulos que
permitem tutela rápida, a legislação especial vem consagrando novos documentos desta categoria, por exemplo, o
compromisso de ajustamento regulado pela lei da ação civil pública, o qual pode ensejar execução específica de
obrigação de fazer, bem como qualquer outro negócio jurídico encetado entre interessados.
A exigência da lei é que o documento particular previsto no art. 784, III, do CPC/2015 contenha assinaturas de duas
testemunhas que, se faltantes, emprestam ao título natureza meramente monitória. No entanto, já pacificou o STJ que é
possível o suprimento da assinatura das testemunhas por outros meios, de acordo com o contexto dos autos, caso em
que a via executiva é válida.  Também é “firme o entendimento do STJ no sentido de que o contrato de confissão de
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dívida sem assinatura de duas testemunhas, em geral, não retira a força executiva da nota promissória a ele
vinculada”.  Da mesma forma, “como os advogados não possuem o desinteresse próprio da autêntica testemunha, sua
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assinatura não pode ser tida como apta a conferir a executividade do título extrajudicial. No entanto, a referida
assinatura só irá macular a executividade do título, caso o executado aponte a falsidade do documento ou da
declaração nele contida”.  Por fim, a ausência das testemunhas no momento da formação do documento particular
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“não retira a sua executoriedade, uma vez que as assinaturas podem ser feitas em momento posterior ao ato de criação
do título executivo extrajudicial, sendo as testemunhas meramente instrumentárias”.  Registre-se que, em exceção à
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regra de que o rol de títulos executivos extrajudiciais é numerus clausus, o Superior Tribunal de Justiça reconheceu a
força executiva de contrato eletrônico de mútuo certificado digitalmente, mesmo sem o requisito legal de assinatura
por duas testemunhas. Em uma interpretação finalística, entendeu-se que a exigência de testemunhas se destina a
atestar a autenticidade do documento, o que é suprido pela certificação digital. 43

A lei confere natureza executiva ao documento particular de transação, o qual exige a presença de advogado para
ambos os transatores. A falta das firmas dos advogados também retira do título a natureza executiva. No entanto, a lei
autoriza que o título goze de força executiva quando subscrito por conciliador ou mediador credenciado por tribunal
(art. 784, IV). A razão está em que a transação exige conhecimentos técnicos e sua força executiva depende de ter sido
conscientemente engendrada, certeza que se obtém quando fruto da pena do advogado ou do profissional credenciado
para promover conciliação ou mediação. Destaque-se que o documento particular pode conter qualquer obrigação de
fazer, não fazer, entrega de soma etc.
A lei enumera, ainda, os documentos comprobatórios de dívidas garantidas, bem como créditos que merecem proteção
especial.
Nesse sentido, são considerados títulos extrajudiciais pelo inciso V do art. 784 do CPC/2015 o contrato garantido por
hipoteca, penhor, anticrese ou outro direito real de garantia e aquele garantido por caução. O dispositivo traz como
base comum entre os títulos o fato de que todos os bens vinculados respondem prioritariamente pelo inadimplemento
da obrigação que neles se contém. Aliás, nem poderia ser diferente, na medida em que, nessas obrigações, o bem a
suportar a denominada responsabilidade patrimonial já se encontra individualizado e a sua excussão preferencial é
imperativo legal, consoante se colhe do disposto no § 3º do art. 835 do novo CPC. 44

Os direitos reais de garantia ora em exame obedecem, na sua conceituação, estrutura e natureza jurídica, ao disposto
na lei material, cabendo à lei processual regular o modo pelo qual são exigidos em juízo. O crédito exequendo
consubstanciado no título e garantido pode representar o valor líquido total da dívida originária ou o saldo devedor no
momento da propositura da execução. Nesse caso, expropriando-se o bem dado em garantia restitui-se ao devedor
eventual resíduo. Destarte, nesses casos de execução residual, em face do princípio da economicidade e à luz do valor
diminuto do saldo devedor, é lícita a autorização de substituição do bem dado em garantia por outro também
penhorável.
O título representativo do seguro de vida, em caso de morte, se subsume à execução com o escopo de agilizar a
satisfação do beneficiário através da execução por quantia certa. O presente seguro é denominado facultativo,
porquanto os valores decorrentes do seguro obrigatório para os veículos automotores em geral são exigíveis, em juízo,
através do procedimento comum de cognição, por força de lei especial (art. 10 da Lei nº 6.194/74), em conjunto com o
art. 1.049, parágrafo único, do CPC/2015. 45

Submetem-se, ainda, à execução, visto que consubstanciados em título executivo extrajudicial, o crédito decorrente de
foro e laudêmio (art. 784, VII).
Igualmente, são títulos executivos extrajudiciais o crédito, documentalmente comprovado, decorrente aluguel de
imóvel, bem como de encargos acessórios, tais como taxas e despesas de condomínio (art. 784, VIII). Uma novidade
do novo CPC é a previsão, como título executivo extrajudicial, do crédito referente às contribuições ordinárias ou
extraordinárias de condomínio edilício, previstas na respectiva convenção ou aprovadas em assembleia geral, desde
que documentalmente comprovadas (art. 784, X). Sendo assim, em caso de imóvel alugado, tanto o condomínio
edilício quanto o locador podem executar a obrigação referente às contribuições condominiais.
A comprovação por escrito dos créditos ora mencionados confere a certeza necessária para instaurar-se a execução,
por isso que as obrigações creditícias decorrentes de “vínculos verbais”, não habilitam à execução, relegando os
interessados para o processo de conhecimento.
Os encargos de condomínio, representados por cotas condominiais, encerram despesas que ora competem ao
proprietário, ora ao locatário. O crédito condominial exequível é aquele derivado do repasse lavrado no contrato de
locação pelo qual o inquilino obriga-se ao pagamento das despesas condominiais. Assente-se, inclusive, que a referida
despesa, de regra, vem embutida no próprio recibo de aluguel, devidamente discriminada.
A moderna tendência de agilização da tutela jurisdicional através da criação de títulos executivos, que encerra técnica
de cognição limitada, que vinha influenciando a jurisprudência a admitir a execução de cotas condominiais contra o
condômino, sob o argumento de que, constando do orçamento e da convenção a previsão das despesas, a dívida é
líquida, certa e exigível. O atual CPC exige que as contribuições condominiais executadas tenham sido previstas na
respectiva convenção ou aprovadas em assembleia geral.
O novo CPC previu como título executivo judicial o crédito de auxiliar da justiça, quando as custas, emolumentos ou
honorários tiverem sido aprovados por decisão judicial (art. 515, V). Cuida-se de crédito consagrado como título
executivo extrajudicial sob a égide do 1973. Houve, portanto, modificação da natureza jurídica deste título executivo,
que passa a autorizar a utilização, pelo credor, do rito de cumprimento de sentença. Os auxiliares do juízo são
remunerados pela prática dos atos que executam por determinação ou nomeação judicial. Há despesas que são custas
do processo, como a taxa judiciária, recolhidas ao Estado federado. Diversamente, a remuneração pessoal dos serviços
prestados pelos denominados “auxiliares do juízo” a eles pertencem. Assim, v.g., os honorários periciais pertencem ao
técnico nomeado pelo juiz a que faz jus pela elaboração do laudo; o avaliador estipula o seu preço para estimar o valor
de bens de interesse da causa; o administrador também recebe custas pessoais pela atividade de administrar bens
sujeitos à constrição judicial. Essas remunerações pessoais compõem crédito dos serventuários que são consideradas
veiculáveis através do cumprimento de sentença, uma vez que “aprovadas por decisão judicial”.
Integra o rol de títulos executivos extrajudiciais “a certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da União, dos Estados,
do Distrito Federal e dos Municípios, correspondente aos créditos inscritos na forma da lei” (art. 784, IX, CPC/2015).
Consectário do poder de império do Estado e da presunção de legitimidade de seus atos é a constituição unilateral do
crédito da Fazenda Pública tal como ocorre com os tributos em geral. A lei, no afã de viabilizar a rápida satisfação
judicial desses créditos, considera-os obrigações líquidas e certas e, uma vez consubstanciadas em certidões lavradas
pela própria entidade pública, objeto da execução a favor da Fazenda, que a promove sob o procedimento da
“execução fiscal”, na forma da Lei nº 6.830/1980. Insta esclarecer que, quando a execução é movida “contra o
Estado”, segue as regras da execução “contra a Fazenda Pública”, obedecendo ao rito privilegiado do art. 910 do
CPC/2015 , ou de cumprimento de sentença que impuser à Fazenda Pública o dever de pagar quantia certa (art. 534 do
46

CPC/2015). 47

Consideram-se “fazenda pública”, para os presentes fins, as entidades componentes da administração direta, inclusive
as autarquias, e as fundações de direito público na forma do novel art. 496, I, do CPC/2015, que trata da remessa
necessária. Em contrapartida, o Supremo Tribunal Federal já decidiu que a execução contra pessoas jurídicas de direito
privado da Administração Pública indireta não segue o rito dos precatórios (art. 100, caput e § 1º, da Constituição),
sendo penhoráveis os bens desses entes.  Entretanto, aplica-se o regime de precatórios à “entidade que presta serviços
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públicos essenciais (...), sem que tenha ficado demonstrado nos autos se tratar de  sociedade de economia mista ou
empresa pública que competiria com pessoas jurídicas privadas ou que teria por objetivo primordial acumular
patrimônio e distribuir lucros”. 49

O novo CPC também introduziu, como título executivo extrajudicial, a certidão expedida por serventia notarial ou de
registro relativa a valores de emolumentos e demais despesas devidas pelos atos por ela praticados, fixados nas tabelas
estabelecidas em lei (art. 784, XI). Importante ressaltar a necessidade de previsão legal da exação, a fim de que a
certidão goze de força executiva.
Atento à moderna tendência da criação de novos títulos, o novo CPC inseriu norma de encerramento no último inciso
do art. 784, dispondo serem dotados de eficácia executiva: “todos os demais títulos aos quais, por disposição expressa,
a lei atribuir força executiva”. A regra reafirma o princípio de que “somente a lei é fonte do título executivo”, pois o
processo que o tem como causa hábil se caracteriza pela prática de atos de soberania.
De outro lado, o dispositivo em foco remete o intérprete para a legislação especial, onde se encontram outros inúmeros
documentos considerados títulos executivos extrajudiciais, como soem ser: a cédula de crédito rural; a cédula rural
hipotecária; a cédula rural pignoratícia; a nota de crédito rural (todos previstos no DL nº 167/67); as cédulas de crédito
industrial e a nota de crédito industrial (previstos no DL nº 413/69) e inúmeros outros previstos na legislação
financeira.
Acrescente-se, por fim, que a eficácia do título executivo extrajudicial na sua primeira aparição em juízo não fica
infirmada nem mesmo se o devedor propuser anteriormente ação declaratória negativa do débito consubstanciado na
cártula. É o que determina o art. 784, § 1º, do CPC/2015: “A propositura de qualquer ação relativa a débito constante
de título executivo não inibe o credor de promover-lhe a execução”. Nessa hipótese, é lícito ao credor exequente
promover a execução no juízo prevento pela ação de cognição conexa. Neste, o magistrado apreciará a execução e a
ação de conhecimento, bem como o grau de prejudicialidade desta, podendo determinar a suspensão da via executiva
caso entreveja verossimilhança do alegado no processo de conhecimento. Raciocínio inverso incentivaria a propositura
de demandas frívolas e enfraqueceria o título executivo que contempla crédito líquido, certo e exigível.
Reforçando a tendência de prestígio aos títulos extrajudiciais como técnica de agilização, a lei autoriza a execução no
Brasil de títulos oriundos de país estrangeiro, independentemente de homologação, desde que preencha os requisitos
de eficácia da lex fori, indique o Brasil como lugar do pagamento, seja traduzido, para permitir ao juízo avaliar a
extensão de crédito, bem como convertido para o padrão monetário brasileiro correspondente, em função do curso
forçado de nossa moeda (art. 784, §§ 2º e 3º, do CPC/2015).

“Art. 798. Ao propor a execução, incumbe ao exequente:


1

I – instruir a petição inicial com:


(...)
c) a prova de que se verificou a condição ou ocorreu o termo, se for o caso;”
“Art. 803. É nula a execução se:
2

(...)
III – for instaurada antes de se verificar a condição ou de ocorrer o termo.”
No sentido da falta de interesse de agir, a conclusão de Nery, Cód. cit., p. 1.007.
3

“Art. 803. Parágrafo único. A nulidade de que cuida este artigo será pronunciada pelo juiz, de ofício ou a requerimento da parte,
independentemente de embargos à execução.”
“Art. 389. Não cumprida a obrigação, responde o devedor por perdas e danos, mais juros e atualização monetária segundo índices
4

oficiais regularmente estabelecidos, e honorários de advogado.” – CC de 2002.


Nesse mesmo sentido, Dinamarco, Execução Civil, nº 18. O inadimplemento seria uma “condição de procedibilidade” na arguta
5

expressão de Araken de Assis, in Manual do Processo de Execução, p. 29, 43-44.


A advertência já fora formulada por Carnelutti ao demonstrar a natureza abstrata do título executivo, in Processo di Esecuzione, vol. I,
6

193. No mesmo sentido Liebman, ao inadmitir que fatos inerentes ao crédito pudessem impedir diretamente a execução, in Embargos do
Executado, nº 91.
“Art. 787. Se o devedor não for obrigado a satisfazer sua prestação senão mediante a contraprestação do credor, este deverá provar que
7

a adimpliu ao requerer a execução, sob pena de extinção do processo.


Parágrafo único. O executado poderá eximir-se da obrigação, depositando em juízo a prestação ou a coisa, caso em que o juiz não
permitirá que o credor a receba sem cumprir a contraprestação que lhe tocar.”
Nesse mesmo sentido, Araken de Assis, ob. cit., p. 74, com o apoio de Ovídio Baptista, in Curso, vol. II, p. 23.
8

“Art. 475-J do CPC/1973. Caso o devedor, condenado ao pagamento de quantia certa ou já fixada em liquidação, não o efetue no prazo
9

de quinze dias, o montante da condenação será acrescido de multa no percentual de dez por cento e a requerimento do credor e
observado o disposto no art. 614, inciso II, desta Lei, expedir-se-á mandado de penhora e avaliação.”
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“Art. 513. O cumprimento da sentença será feito segundo as regras deste Título, observando-se, no que couber e conforme a natureza
da obrigação, o disposto no Livro II da Parte Especial deste Código.
§ 1º O cumprimento da sentença que reconhece o dever de pagar quantia, provisório ou definitivo, far-se-á a requerimento do exequente.
§ 2º O devedor será intimado para cumprir a sentença:
I – pelo Diário da Justiça, na pessoa de seu advogado constituído nos autos;
II – por carta com aviso de recebimento, quando representado pela Defensoria Pública ou quando não tiver procurador constituído nos
autos, ressalvada a hipótese do inciso IV;
III – por meio eletrônico, quando, no caso do § 1º do art. 246, não tiver procurador constituído nos autos;
IV – por edital, quando, citado na forma do art. 256, tiver sido revel na fase de conhecimento.
§ 3º Na hipótese do § 2º, incisos II e III, considera-se realizada a intimação quando o devedor houver mudado de endereço sem prévia
comunicação ao juízo, observado o disposto no parágrafo único do art. 274.
§ 4º Se o requerimento a que alude o § 1º for formulado após 1 (um) ano do trânsito em julgado da sentença, a intimação será feita na
pessoa do devedor, por meio de carta com aviso de recebimento encaminhada ao endereço constante dos autos, observado o disposto no
parágrafo único do art. 274 e no § 3º deste artigo.”
11
“Art. 798. Ao propor a execução, incumbe ao exequente:
I – instruir a petição inicial com: a) o título executivo extrajudicial;
b) o demonstrativo do débito atualizado até a data de propositura da ação, quando se tratar de execução por quantia certa;
c) a prova de que se verificou a condição ou ocorreu o termo, se for o caso;
d) a prova, se for o caso, de que adimpliu a contraprestação que lhe corresponde ou que lhe assegura o cumprimento, se o executado não
for obrigado a satisfazer a sua prestação senão mediante a contraprestação do exequente;
II – indicar:
a) a espécie de execução de sua preferência, quando por mais de um modo puder ser realizada;
b) os nomes completos do exequente e do executado e seus números de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro
Nacional da Pessoa Jurídica;
c) os bens suscetíveis de penhora, sempre que possível.
Parágrafo único. O demonstrativo do débito deverá conter:
I – o índice de correção monetária adotado; II – a taxa de juros aplicada;
III – os termos inicial e final de incidência do índice de correção monetária e da taxa de juros utilizados;
IV – a periodicidade da capitalização dos juros, se for o caso;
V – a especificação de desconto obrigatório realizado.”
12
“Art. 783. A execução para cobrança de crédito fundar-se-á sempre em título de obrigação certa, líquida e exigível.”
13
“Art. 506. A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não prejudicando terceiros.” A sentença, como ato de autoridade,
tem eficácia natural em relação a todos que não podem desconhecê-la, desconsiderá-la. Esta é a eficácia natural do julgado.
Diversamente é a eficácia de coisa julgada que impede a modificação daquilo que foi decidido e nesse aspecto essa imutabilidade só se
refere às partes. Esta é a essência da teoria de Liebman, ainda adotada pelo nosso Código. Consoante afirma Rosenberg, essa
eficácia erga omnes deriva “de la particular naturaleza del objeto litigioso y del interés de la comunidad en la resolución que se le de”, in
Tratado de Derecho Procesal Civil, 1995, vol. II, p. 482.
A explicação de Liebman à razão de ser do dispositivo dissipa as potenciais controvérsias. Conforme afirma o insigne jurista, citados os
reais contendores, ninguém mais terá legitimidade ou interesse em infirmar o julgado, ob. cit., p. 180. “É que eles passam a ser sujeitos do
processo e como tal não podem ser considerados terceiros em face do julgado”. Liebman, ob. cit., p. 85.
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“Art. 935. A responsabilidade civil é independente da criminal, não se podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem
seja o seu autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal.” – CC de 2002.
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“Art. 66. Não obstante a sentença absolutória no juízo criminal, a ação civil poderá ser proposta quando não tiver sido, categoricamente,
reconhecida a inexistência material do fato.” – Código de Processo Penal.
16
Nesse mesmo sentido o insuperável trabalho de Ada Pellegrini Grinover, Eficácia e Autoridade da Sentença Penal, 1978, p. 46 e ss.
17
“Art. 91. Quando incerta e não se determinar de acordo com as normas estabelecidas nos arts. 89 e 90, a competência se firmará pela
prevenção.” – CPP.
18
STJ, REsp 1102460/RJ, Rel. Min. Marco Buzzi, Corte Especial, j. 17.06.2015, DJe 23.09.2015.
19
“Art. 516. O cumprimento da sentença efetuar-se-á perante:
(...)
III – o juízo cível competente, quando se tratar de sentença penal condenatória, de sentença arbitral, de sentença estrangeira ou de
acórdão proferido pelo Tribunal Marítimo.”
20
“Art. 960. A homologação de decisão estrangeira será requerida por ação de homologação de decisão estrangeira, salvo disposição
especial em sentido contrário prevista em tratado.
§ 1º A decisão interlocutória estrangeira poderá ser executada no Brasil por meio de carta rogatória.
§ 2º A homologação obedecerá ao que dispuserem os tratados em vigor no Brasil e o Regimento Interno do
Superior Tribunal de Justiça.
§ 3º A homologação de decisão arbitral estrangeira obedecerá ao disposto em tratado e em lei, aplicando-se, subsidiariamente, as
disposições deste Capítulo.”
21
“Art. 105. Compete ao Superior Tribunal de Justiça:
I – processar e julgar, originariamente:
(...)
i) a homologação de sentenças estrangeiras e a concessão de exequatur às cartas rogatórias.” “Art. 109. Aos juízes federais compete
processar e julgar:
(...)
X – os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a execução de carta rogatória, após o  exequatur, e de sentença
estrangeira, após a homologação, as causas referentes à nacionalidade, inclusive a respectiva opção, e à naturalização.”
22
“Art. 784. São títulos executivos extrajudiciais:
(...)
§ 2º Os títulos executivos extrajudiciais oriundos de país estrangeiro não dependem de homologação para serem executados.
§ 3º O título estrangeiro só terá eficácia executiva quando satisfeitos os requisitos de formação exigidos pela lei do lugar de sua
celebração e quando o Brasil for indicado como o lugar de cumprimento da obrigação.”
23
“Art. 98. A pessoa natural ou jurídica, brasileira ou estrangeira, com insuficiência de recursos para pagar as custas, as despesas
processuais e os honorários advocatícios tem direito à gratuidade da justiça, na forma da lei.
§ 1º A gratuidade da justiça compreende: (...)
VII – o custo com a elaboração de memória de cálculo, quando exigida para instauração da execução;”
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“Art. 524. O requerimento previsto no art. 523 será instruído com demonstrativo discriminado e atualizado do crédito, devendo a petição
conter:
I – o nome completo, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa
Jurídica do exequente e do executado, observado o disposto no art. 319, §§ 1o a 3o;
II – o índice de correção monetária adotado; III – os juros aplicados e as respectivas taxas;
IV – o termo inicial e o termo final dos juros e da correção monetária utilizados;
V – a periodicidade da capitalização dos juros, se for o caso;
VI – especificação dos eventuais descontos obrigatórios realizados;
VII – indicação dos bens passíveis de penhora, sempre que possível.
§ 1º Quando o valor apontado no demonstrativo aparentemente exceder os limites da condenação, a execução será iniciada pelo valor
pretendido, mas a penhora terá por base a importância que o juiz entender adequada. § 2º Para a verificação dos cálculos, o juiz poderá
valer-se de contabilista do juízo, que terá o prazo máximo de 30 (trinta) dias para efetuá-la, exceto se outro lhe for determinado. (...)”
25
“Art. 1.015, Parágrafo Único. Também caberá agravo de instrumento contra decisões interlocutórias proferidas na fase de liquidação de
sentença ou de cumprimento de sentença, no processo de execução e no processo de inventário.”
26
“Art. 509, § 1º Quando na sentença houver uma parte líquida e outra ilíquida, ao credor é lícito promover simultaneamente a execução
daquela e, em autos apartados, a liquidação desta.”
27
“Art. 512. A liquidação poderá ser realizada na pendência de recurso, processando-se em autos apartados no juízo de origem, cumprindo
ao liquidante instruir o pedido com cópias das peças processuais pertinentes.”
28
“Art. 509. Quando a sentença condenar ao pagamento de quantia ilíquida, proceder-se-á à sua liquidação, a requerimento do credor ou
do devedor:
I – por arbitramento, quando determinado pela sentença, convencionado pelas partes ou exigido pela natureza do objeto da liquidação;
(...).”
29
“Art. 509. Quando a sentença condenar ao pagamento de quantia ilíquida, proceder-se-á à sua liquidação, a requerimento do credor ou
do devedor:
(...)
II – pelo procedimento comum, quando houver necessidade de alegar e provar fato novo.”
30
“Art. 511. Na liquidação pelo procedimento comum, o juiz determinará a intimação do requerido, na pessoa de seu advogado ou da
sociedade de advogados a que estiver vinculado, para, querendo, apresentar contestação no prazo de 15 (quinze) dias, observando-se, a
seguir, no que couber, o disposto no Livro I da Parte Especial deste Código.”
31
“Art. 491. Na ação relativa à obrigação de pagar quantia, ainda que formulado pedido genérico, a decisão definirá desde logo a extensão
da obrigação, o índice de correção monetária, a taxa de juros, o termo inicial de ambos e a periodicidade da capitalização dos juros, se for
o caso, salvo quando:
I – não for possível determinar, de modo definitivo, o montante devido;
II – a apuração do valor devido depender da produção de prova de realização demorada ou excessivamente dispendiosa, assim
reconhecida na sentença.
§ 1º Nos casos previstos neste artigo, seguir-se-á a apuração do valor devido por liquidação.
§ 2º O disposto no caput também se aplica quando o acórdão alterar a sentença.”
32
Moniz de Aragão, RP, 44/21, Araken de Assis, ob. cit., p. 259.
33
“Art. 512. A liquidação poderá ser realizada na pendência de recurso, processando-se em autos apartados no juízo de origem, cumprindo
ao liquidante instruir o pedido com cópias das peças processuais pertinentes.”
34
Nesse particular, consulte-se a nossa obra Tutela Antecipada e Locações (Destaque, p. 118-119), a respeito desse confronto entre
institutos da “antecipação” e da “execução”.
35
STJ, REsp 650.441/RJ, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, 2ª Turma, j. 19.08.2008.
36
STJ, AgRg no AREsp 606.420/SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, 3ª Turma, j. 03.02.2015. No mesmo sentido: STJ, REsp 1281036/RJ,
Rel. Min. Herman Benjamin, 2ª Turma, j. 10.05.2016, DJe 24.05.2016.
37
“Art. 784. São títulos executivos extrajudiciais:
I – a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o cheque;
II – a escritura pública ou outro documento público assinado pelo devedor;
III – o documento particular assinado pelo devedor e por 2 (duas) testemunhas;
IV – o instrumento de transação referendado pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública, pela Advocacia
Pública, pelos advogados dos transatores ou por conciliador ou mediador credenciado por tribunal;
V – o contrato garantido por hipoteca, penhor, anticrese ou outro direito real de garantia e aquele garantido por caução;
VI – o contrato de seguro de vida em caso de morte;
VII – o crédito decorrente de foro e laudêmio;
VIII – o crédito, documentalmente comprovado, decorrente de aluguel de imóvel, bem como de encargos acessórios, tais como taxas e
despesas de condomínio;
IX – a certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, correspondente aos
créditos inscritos na forma da lei;
X – o crédito referente às contribuições ordinárias ou extraordinárias de condomínio edilício, previstas na respectiva convenção ou
aprovadas em assembleia geral, desde que documentalmente comprovadas;
XI – a certidão expedida por serventia notarial ou de registro relativa a valores de emolumentos e demais despesas devidas pelos atos por
ela praticados, fixados nas tabelas estabelecidas em lei;
XII – todos os demais títulos aos quais, por disposição expressa, a lei atribuir força executiva.”
38
“Art. 700. A ação monitória pode ser proposta por aquele que afirmar, com base em prova escrita sem eficácia de título executivo, ter
direito de exigir do devedor capaz:
I – o pagamento de quantia em dinheiro;
II – a entrega de coisa fungível ou infungível ou de bem móvel ou imóvel;
III – o adimplemento de obrigação de fazer ou de não fazer.”
39
AgRg no AREsp 800.028/RS, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, 4ª Turma, j. 02.02.2016, DJe 05.02.2016. REsp 1453949/ SP, Rel. Min. Luis
Felipe Salomão, 4ª Turma, j. 13.06.2017, DJe 15.08.2017.
40
AgInt no REsp 1341604/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, 4ª Turma, j. 12.06.2018, DJe 15.06.2018.
41
REsp 1453949/SP, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, 4ª Turma, j. 13.06.2017, DJe 15.08.2017.
42
REsp 541.267/RJ, Rel. Min. Jorge Scartezzini, 4ª Turma, j. 20.09.2005, DJ 17.10.2005, p. 298.
43
REsp 1495920/DF, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, 3ª Turma, j. 15.05.2018, DJe 07.06.2018.
44
“Art. 835. A penhora observará, preferencialmente, a seguinte ordem:
I – dinheiro, em espécie ou em depósito ou aplicação em instituição financeira;
II – títulos da dívida pública da União, dos Estados e do Distrito Federal com cotação em mercado;
III – títulos e valores mobiliários com cotação em mercado;
IV – veículos de via terrestre; V – bens imóveis;
VI – bens móveis em geral; VII – semoventes;
VIII – navios e aeronaves;
IX – ações e quotas de sociedades simples e empresárias;
X – percentual do faturamento de empresa devedora;
XI – pedras e metais preciosos;
XII – direitos aquisitivos derivados de promessa de compra e venda e de alienação fiduciária em garantia; XIII – outros direitos.
§ 1º É prioritária a penhora em dinheiro, podendo o juiz, nas demais hipóteses, alterar a ordem prevista no caput de acordo com as
circunstâncias do caso concreto.
§ 2º Para fins de substituição da penhora, equiparam-se a dinheiro a fiança bancária e o seguro garantia judicial, desde que em valor não
inferior ao do débito constante da inicial, acrescido de trinta por cento.
§ 3º Na execução de crédito com garantia real, a penhora recairá sobre a coisa dada em garantia, e, se a coisa pertencer a terceiro
garantidor, este também será intimado da penhora.”
45
“Art. 1.049. Sempre que a lei remeter a procedimento previsto na lei processual sem especificá-lo, será observado o procedimento
comum previsto neste Código.
Parágrafo único. Na hipótese de a lei remeter ao procedimento sumário, será observado o procedimento comum previsto neste Código,
com as modificações previstas na própria lei especial, se houver.”
46
“Art. 910. Na execução fundada em título extrajudicial, a Fazenda Pública será citada para opor embargos em 30 (trinta) dias.
§ 1º Não opostos embargos ou transitada em julgado a decisão que os rejeitar, expedir-se-á precatório ou requisição de pequeno valor em
favor do exequente, observando-se o disposto no art. 100 da Constituição Federal.
§ 2º Nos embargos, a Fazenda Pública poderá alegar qualquer matéria que lhe seria lícito deduzir como defesa no processo de
conhecimento.
§ 3º Aplica-se a este Capítulo, no que couber, o disposto nos artigos 534 e 535.”
47
“Art. 534. No cumprimento de sentença que impuser à Fazenda Pública o dever de pagar quantia certa, o exequente apresentará
demonstrativo discriminado e atualizado do crédito contendo:
I – o nome completo e o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da
Pessoa Jurídica do exequente;
II – o índice de correção monetária adotado; III – os juros aplicados e as respectivas taxas;
IV – o termo inicial e o termo final dos juros e da correção monetária utilizados;
V – a periodicidade da capitalização dos juros, se for o caso;
VI – a especificação dos eventuais descontos obrigatórios realizados.
§ 1º Havendo pluralidade de exequentes, cada um deverá apresentar o seu próprio demonstrativo, aplicando-se à hipótese, se for o caso,
o disposto nos §§ 1º e 2º do art. 113.
§ 2º A multa prevista no § 1º do art. 523 não se aplica à Fazenda Pública.”
48
STF, RE 693112, Rel. Min. Gilmar Mendes, Tribunal Pleno, j. 09.02.2017.
49
STF, RE 592004 AgR, Rel. Min. Joaquim Barbosa, 2ª Turma, j. 05.06.2012. V. tb. RE 599628, Rel. Min. Ayres Britto, Relator(a) p/
Acórdão: Min. Joaquim Barbosa, Tribunal Pleno, j. 25.05.2011.
V
ESPÉCIES DE EXECUÇÃO

1.CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL

A par das regras gerais, o Código enuncia normas especiais que regulam e distinguem os procedimentos executórios.
Essas regras permitem-nos, sistematicamente, dicotomizar as espécies de execução, consoante alguns critérios.
Assim é que, “quanto à natureza do título”, a execução pode ser por título “judicial ou extrajudicial”, conforme o título
seja formado em juízo ou fora dele (arts. 515 e 784  do CPC/2015).
1

A diferença mais expressiva entre as espécies de execução ora confrontadas opera-se no âmbito dos embargos à
execução.
É que, na execução por título extrajudicial, o título surge pela primeira vez em juízo (art. 917 do CPC/2015),  ao passo
2

que, na execução judicial, o título foi formado em juízo em processo de cognição antecedente (processo de
conhecimento, de liquidação, arbitragem etc.). A preclusão impede que o executado obste a marcha executiva
invocando questões que não sejam supervenientes ao trânsito em julgado da sentença exequenda (art. 525, § 1º, do
CPC/2015),  salvo a falta ou a nulidade da citação no processo de conhecimento, desde que este tenha tramitado à
3

revelia do réu ora executado.


Conforme mais adiante se verá na abordagem específica dos embargos à execução, estes, quando fundados na falta ou
nulidade da citação conducentes à revelia, tem efeito rescindente, destruindo todo o processo de conhecimento até a
etapa citatória. Por isso, oferecida impugnação com fundamento no inciso I do art. 525, § 1º, a eventual propositura de
ação rescisória da sentença, pelo mesmo fundamento, encerra o vício da litispendência, porque, nesse caso, não há
pedido de rejulgamento, mas tão somente de desconstituição do julgado. Recorde-se que o art. 969 do CPC/2015
determina que “A propositura da ação rescisória não impede o cumprimento da decisão rescindenda, ressalvada a
concessão de tutela provisória.”
Anote-se, por fim, que a restrição cognitiva na impugnação ao cumprimento de sentença, ressalvada a exceção da falta
ou nulidade da citação no processo de conhecimento contra réu revel, impede o executado de alegar as denominadas
exceções substanciais, v.g., a prescrição, a não ser que supervenientes à sentença.
No que concerne à “natureza da prestação”, a execução admite subespécies que se distinguem pela diversidade
procedimental reclamada pelos meios executivos utilizados para alcançar os múltiplos resultados almejados, a saber:
“execução por quantia certa”; “execução para entrega de coisa” e “execução de obrigação de fazer e não fazer”.
Por seu turno, cada uma das execuções apresenta as suas próprias variações decorrentes de critérios internos. Assim,  v.
g., “a execução por quantia certa”, que “objetiva a entrega de uma soma ao credor” através da prática dos meios de
satisfação consistentes na prévia apreensão de bens do devedor e posterior alienação para a entrega do produto, “varia
no seu iter procedimental conforme o devedor seja pessoa jurídica de direito público ou de direito privado”, bem como
se “a soma refere-se a alimentos ou quantia sem essa destinação específica”. Desta sorte, a execução por quantia certa
admite as submodalidades da “execução por quantia certa”; “execução por quantia certa contra a Fazenda Pública” e
“execução de alimentos”. A antiga “execução por quantia certa contra devedor insolvente” não foi incluída no novo
CPC, mas as execuções contra devedor insolvente, em curso ou que venham a ser propostas, continuam a ser regidas
pelo Código anterior (art. 1.052 do CPC/2015).
A “execução para a entrega de coisa”, por seu turno, admite as subespécies consistentes na “execução para entrega de
coisa certa e execução para a entrega de coisa incerta”, diferença ocorrente em face de esta última comportar um
prévio procedimento de escolha da coisa a ser entregue.
A “execução de fazer e de não fazer” também comporta subespécies, porquanto os meios executivos diferem conforme
a execução recaia em “obrigação de fazer fungível”; “obrigação de fazer infungível”; “obrigação de fazer consistente
em emitir declaração de vontade”; “obrigação de não fazer permanente” (admite desfazimento) e “obrigação de não
fazer instantânea” (inadmite desfazimento).
Finalmente, a “execução judicial ou o cumprimento da sentença” nem sempre pressupõem que a decisão que lhes
serve de título tenha “transitado em julgado”. A lei, no afã de agilizar a prestação jurisdicional, enquanto se aguarda o
trânsito em julgado da decisão, permite certo adiantamento de atos executivos. Têm-se, assim, espécies de execução
que variam consoante a “estabilidade jurídica” do título judicial. Há sentenças que, não obstante recorríveis, admitem
um início de execução que não alcance estágio de irreversibilidade satisfativa, e há outros casos em que a execução
somente pode ser promovida após o trânsito em julgado da decisão.
No primeiro caso, estamos diante da denominada “execução provisória”, que se caracteriza pela possibilidade de
modificação da decisão exequenda por força do recurso interposto, o que implica o dever de restabelecimento das
coisas ao estado anterior, por conta do exequente que iniciou execução ainda instável. Diversamente, denomina-se
“definitiva” a execução fundada em decisão transitada em julgado ou em título extrajudicial.
Como se observa, a previsão de “execução segundo a condição jurídica do título” é questão de política legislativa, pois
cabe ao legislador avaliar a conveniência de permitir o adiantamento ou retardamento dos atos executivos. Destarte,
também se insere nessa esfera a equiparação dos títulos extrajudiciais às sentenças transitadas em julgado, porquanto
ambas autorizam a execução definitiva. O legislador, não obstante os graus de certeza quanto ao direito que nesses
títulos se contém, igualou-os ao permitir o início do processo com fulcro em ambos, perspectiva que tende a se
modificar.
A “execução definitiva” é aquela cujo resultado do processo alcança o seu escopo satisfativo máximo. Assim,  v.g., na
execução definitiva por quantia certa, o processo termina com a entrega da soma ou de bens correspondentes do
devedor ao credor. Os atos processuais são praticados com o objetivo de alcançar a realização “completa” do direito. O
cumprimento definitivo de título judicial processa-se nos próprios autos em que se produziu a decisão exequenda, fato
que levou praxistas de outrora a considerarem-na, apenas, uma fase posterior da cognição, ideia que foi restaurada pela
Lei nº 11.382/2005 e acolhida no novo CPC.
Importante frisar que o título base é que confere definitividade à execução. Assim, se a execução inicia-se com fulcro
em título executivo extrajudicial e os embargos oferecidos sem efeito suspensivo (art. 919 do CPC/2015)  são julgados
4

improcedentes, havendo interposição pelo executado de apelação “sem efeito suspensivo, prossegue-se, na execução”,
tal como ela era; vale dizer: “definitiva”. Por isso que nessa forma de execução definitiva não há que se falar em
prestação de garantia, inerente à provisoriedade da execução. Deveras, in casu, não se está executando a sentença dos
embargos senão o título mesmo que foi impugnado por aquela oposição do devedor. Esta razão leva-nos a repudiar a
tese dos que sustentam a não definitividade da execução com embargos rejeitados e recorrida a decisão, em razão do
grau de prejudicialidade que o provimento do recurso interposto da decisão denegatória pode encerrar.
No que concerne à possível lesão causada ao executado, caso a sentença de improcedência dos embargos venha a ser
reformada, o próprio Código de Processo cuida de antever a reparação, ao dispor, no art. 776 do CPC/2015, que “O
exequente ressarcirá ao executado os danos que este sofreu, quando a sentença, transitada em julgado, declarar
inexistente, no todo ou em parte, a obrigação que ensejou a execução”, regra reforçada pelo art. 777 do CPC/2015 . 5
Forçoso convir que ambos os dispositivos são aplicáveis ao cumprimento da sentença e à execução extrajudicial, dada
a intercomunicabilidade entre os livros do cumprimento de sentença e do processo de execução (art. 771 do
CPC/2015). 6

Trata-se de responsabilidade objetiva decorrente de risco judiciário a qual se justifica pelo fato de se admitir o
prosseguimento da execução até seu final, mesmo diante da possibilidade de reversão da decisão dos embargos.
Tendo em vista a moderna execução provisória (art. 520 do CPC/2015), a referida indenização aplica-se a ambas as
espécies (definitiva e provisória). Desta sorte, pendendo o recurso de decisão que julgou os embargos improcedentes,
em execução calçada em sentença trânsita ou título extrajudicial, o exequente poderá optar entre seguir com a
execução definitiva, tal como procedia antes da oposição dos embargos, sujeitando-se ao disposto no art. 776 do
CPC/2015 ou aguardar a solução definitiva do juízo ad quem.
A “execução provisória” admite adiantamento de atos executivos, e o alcance dos atos de satisfação irreversível que
caracteriza a execução definitiva, com as garantias previstas no art. 520, IV, do CPC/2015.    Nesse sentido é que o
7

exequente compromete-se, caso modificada a decisão, a repor as coisas no estado anterior, vedando-lhe o
levantamento de dinheiro sem garantia real ou fidejussória e qualquer alienação dominial, como forma de proteção dos
potenciais terceiros adquirentes, salvante as hipóteses de dispensa da caução elencadas no art. 521 do CPC/2015. 8

A reposição das coisas ao estado anterior como, v.g., restituição de coisa e dinheiro, pressupõe possibilidade fática,
nem sempre ocorrente. Como consectário, é por conta e risco do exequente que se processa. Advirta-se, entretanto, que
a prestação da garantia não deve inviabilizar o acesso à justiça, permitindo-se, casuisticamente, ao juiz que a dispense
nos casos em que a sua exigibilidade obsta a promoção da execução, na esteira do já mencionado art. 521 do
CPC/2015. Ademais, a caução reclama avaliação pelo juízo de eventuais e possíveis prejuízos com a reversão do
julgado, por isso que incabível quando não houver esse risco, podendo iniciar-se o processo sem caução ou garantia.
A interposição do recurso sem suspensividade importa a possibilidade de promover-se a execução provisória fora dos
autos do processo de condenação, uma vez que o instrumento principal vai acudir à instância superior. Nesse
particular, a lei esclarece que a execução provisória promove-se em autos suplementares, por meio de petição dirigida
ao juízo competente, devendo conter as peças enumeradas no art. 522, parágrafo único, do CPC/2015,  quando não
9

forem eletrônicos os autos.


Dispondo a lei submeterem-se à execução provisória as decisões sujeitas a recurso sem efeito suspensivo, é mister
observar os arts. 995  e 1.012, § 1º,  do novo CPC, que versam sobre o efeito suspensivo dos recursos em geral e da
10 11

apelação. No regime do novo diploma, o efeito suspensivo dos recursos é excepcional, conquanto em determinadas
hipóteses seja possível ao relator conferir efeito suspensivo ope judicis ao recurso. Desta sorte, não constando do
elenco, não é lícito ao intérprete entrever efeito suspensivo onde a lei não o concede.
O art. 995, parágrafo único, do CPC/2015 exige três requisitos para o efeito suspensivo concedido por ordem judicial,
quais sejam, que haja risco de dano grave, que esse dano seja de difícil ou impossível reparação e que se constate a
probabilidade de provimento futuro do recurso. Assim, v.g., a apelação de sentença que julga improcedentes ou rejeita
embargos de terceiro não tem, em princípio, efeito suspensivo, mas nada obsta que o juízo o confira se verificar
elevado grau de prejudicialidade entre o provimento do recurso e o prosseguimento do feito principal.
Sob essa perspectiva, não encontra sustentáculo no direito brasileiro a regra do “maior benefício”, aplicável, segundo
alguns, quando há julgamento simultâneo entre ações conexas cujas apelações são dotadas de efeitos diversos.
Assim, v.g., se a decisão quanto a um dos pedidos cumulados acolhidos deve produzir imediatamente os seus efeitos,
não é razoável que fique no aguardo da solução de outra pretensão conexa, como no clássico exemplo dos alimentos
cumulados com o pedido de investigação de paternidade. A matéria, contudo, não é pacífica. A suspensividade do
recurso não exclui que alguma providência no caso concreto, decorrente do julgado, possa ser adotada, como no caso
de urgência. Destaque-se, por fim, que o efeito suspensivo susta a executoriedade da decisão adstrita à parte do pedido
a que ele se refere. Assim, v.g., se a decisão é apelada apenas quanto a um dos capítulos, a eventual suspensividade do
recurso não contamina os demais capítulos do decisum.
De toda sorte, a moderna tendência é a retirada do efeito suspensivo dos recursos, tanto mais que, se o título
extrajudicial autoriza a execução definitiva, com maior razão a decisão, mesmo sujeita a recurso, deve possibilitar
alguma iniciativa executiva. Por seu turno, a “interposição de recurso no duplo efeito impede toda e qualquer
executividade da decisão”.

2.CUMPRIMENTO PROVISÓRIO DE SENTENÇA

O novel cumprimento provisório alcançou notável grau de satisfatividade, escapando assim das severas críticas de
outrora que a entreviam como um “nada jurídico” antes das reformas de 2005. Realmente, o exequente quase nenhuma
utilidade retirava de sua pressa em tornar realidade provisória a sentença favorável. Destarte, o legislador brasileiro
acompanhou o movimento atual dos vários sistemas processuais de matiz romano-germânico que passaram a
consagrar a execução apenas provisória pela decisão que a fundamenta e não mais pelos atos executivos praticados.
Assim é que, consoante a moderna concepção legislativa, a execução provisória da sentença se faz do mesmo modo
que a definitiva, observadas as seguintes peculiaridades, constantes do art. 520 do CPC/2015.
Primeiro, o cumprimento provisório de sentença corre por conta e responsabilidade do exequente, que se obriga, se a
sentença for reformada, a reparar os prejuízos que o executado venha a sofrer e que são liquidados no mesmo
processo. Trata-se, como se sabe, de responsabilidade civil objetiva decorrente do “risco judiciário”. Cabe ao
exequente avaliar se convém ou não iniciar a execução com base em decisão provisória e instável. Nessa avaliação,
notável é a importância à consulta da jurisprudência dos tribunais competentes para a apreciação do  thema
iudicandum.
Em segundo lugar, o levantamento de depósito em dinheiro e a prática de atos que importem transferência de posse ou
alienação de propriedade ou de outro direito real, ou dos quais possa resultar grave dano ao executado, dependem de
caução suficiente e idônea, arbitrada de plano pelo juiz e prestada nos próprios autos do cumprimento provisório de
sentença. Trata-se, portanto, de caução incidental, sem figura de processo cautelar, cuja suficiência submete-se a
diminuto contraditório solucionado por decisão interlocutória agravável de instrumento.
Forçoso repisar que a exigência da caução não deve impedir o início da execução nas hipóteses em que a sua
imposição não se revelar razoável, v.g., a determinação da caução de levantamento de verba decorrente de condenação
por ato ilícito e pleiteada por quem não possa prestá-la. Nessa linha, o art. 521 consagra as hipóteses de dispensa de
caução, quando o crédito for de natureza alimentar, independentemente de sua origem; o credor demonstrar situação
de necessidade; pender agravo em Recurso Especial ou Extraordinário (art. 1.042 do CPC/2015); ou a sentença a ser
provisoriamente cumprida estiver em consonância com súmula da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal ou do
Superior Tribunal de Justiça ou em conformidade com acórdão proferido no julgamento de casos repetitivos. Um
ponto que pode causar controvérsia é a redação do art. 521, IV, do CPC/2015, pois se refere a “sentença a ser
provisoriamente cumprida”. Como o dispositivo menciona “sentença” e não “decisão”, como regra, não pode haver
levantamento em caso de tutela de evidência decorrente de controvérsia estritamente jurídica (art. 311, II, do
CPC/2015), que pode ser concedida inaudita altera parte (arts. 9º, parágrafo único, II, e 311, parágrafo único, do
CPC/2015).
Nada obstante a configuração de uma das hipóteses legais, a caução deve ser exigida sempre que a sua dispensa possa
causar manifesto risco de grave dano de difícil ou incerta reparação (art. 521, parágrafo único, do CPC/2015).
O cumprimento provisório fica sem efeito, sobrevindo acórdão que modifique ou anule a sentença objeto da execução,
restituindo-se as partes ao estado anterior, daí a caução e a possibilidade de os eventuais prejuízos serem liquidados no
mesmo processo (art. 520, II, do CPC/2015). Esclarece a lei que, se a sentença provisoriamente executada for
modificada ou anulada apenas em parte, somente quanto a esse capítulo ficará sem efeito a execução (art. 520, III, do
CPC/2015). Além disso, a restituição ao estado anterior anteriormente referida não implica o desfazimento da
transferência de posse ou da alienação de propriedade ou de outro direito real eventualmente já realizada, ressalvado,
sempre, o direito à reparação dos prejuízos causados ao executado.
Outro ponto a salientar é que o rito ora detalhado também é aplicável, no que couber, ao cumprimento provisório de
sentença que reconheça obrigação de fazer, de não fazer ou de dar coisa (art. 520, § 5º, do CPC/2015).
Finalmente, consigne-se que agora há regra expressa reconhecendo ao executado a prerrogativa de apresentar
impugnação ao cumprimento provisório de sentença (art. 520, § 1º, do CPC/2015). O Superior Tribunal de Justiça já
reconhecia possibilidade de impugnação e, inclusive, de efeito suspensivo para obstar o levantamento: “Na execução
provisória, consoante os termos do art. 475-M e 739-A, § 1º, do CPC [de 1973], pode o juízo atribuir à impugnação ao
cumprimento de sentença efeito suspensivo, obstando o levantamento do crédito até o trânsito em julgado da
sentença”.  Na execução provisória, também são devidos honorários e multa, ambos no patamar de 10% da dívida
12

exequenda, em caso de não pagamento tempestivo (art. 520, § 2º, do CPC/2015). O prazo para pagamento é o de 15
(quinze) dias, a contar da intimação, ex vi do art. 523 do CPC/2015.  Resta, assim, superada a orientação da Corte
13

Especial do Superior Tribunal de Justiça, segundo a qual, sob a égide do CPC de 1973, não incidia a referida multa. 14

 “Art. 515. São títulos executivos judiciais, cujo cumprimento dar-se-á de acordo com os artigos previstos neste Título:
1

I – as decisões proferidas no processo civil que reconheçam a exigibilidade de obrigação de pagar quantia, de fazer, de não fazer ou de
entregar coisa;
II – a decisão homologatória de autocomposição judicial;
III – a decisão homologatória de autocomposição extrajudicial de qualquer natureza;
IV – o formal e a certidão de partilha, exclusivamente em relação ao inventariante, aos herdeiros e aos sucessores a título singular ou
universal;
V – o crédito de auxiliar da justiça, quando as custas, emolumentos ou honorários tiverem sido aprovados por decisão judicial;
VI – a sentença penal condenatória transitada em julgado;
VII – a sentença arbitral;
VIII – a sentença estrangeira homologada pelo Superior Tribunal de Justiça;
IX – a decisão interlocutória estrangeira, após a concessão do exequatur à carta rogatória pelo Superior Tribunal de Justiça;
X – (VETADO).
§ 1º Nos casos dos incisos VI a IX, o devedor será citado no juízo cível para o cumprimento da sentença ou para a liquidação no prazo de
15 (quinze) dias.
§ 2º A autocomposição judicial pode envolver sujeito estranho ao processo e versar sobre relação jurídica que não tenha sido deduzida
em juízo.”
“Art. 784. São títulos executivos extrajudiciais:
I – a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a debênture e o cheque;
II – a escritura pública ou outro documento público assinado pelo devedor;
III – o documento particular assinado pelo devedor e por 2 (duas) testemunhas;
IV – o instrumento de transação referendado pelo Ministério Público, pela Defensoria Pública, pela Advocacia
Pública, pelos advogados dos transatores ou por conciliador ou mediador credenciado por tribunal;
V – o contrato garantido por hipoteca, penhor, anticrese ou outro direito real de garantia e aquele garantido por caução;
VI – o contrato de seguro de vida em caso de morte;
VII – o crédito decorrente de foro e laudêmio;
VIII – o crédito, documentalmente comprovado, decorrente de aluguel de imóvel, bem como de encargos acessórios, tais como taxas e
despesas de condomínio;
IX – a certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, correspondente aos
créditos inscritos na forma da lei;
X – o crédito referente às contribuições ordinárias ou extraordinárias de condomínio edilício, previstas na respectiva convenção ou
aprovadas em assembleia geral, desde que documentalmente comprovadas;
XI – a certidão expedida por serventia notarial ou de registro relativa a valores de emolumentos e demais despesas devidas pelos atos por
ela praticados, fixados nas tabelas estabelecidas em lei;
XII – todos os demais títulos aos quais, por disposição expressa, a lei atribuir força executiva.
§ 1º A propositura de qualquer ação relativa a débito constante de título executivo não inibe o credor de promover-lhe a execução.
§ 2º Os títulos executivos extrajudiciais oriundos de país estrangeiro não dependem de homologação para serem executados.
§ 3º O título estrangeiro só terá eficácia executiva quando satisfeitos os requisitos de formação exigidos pela lei do lugar de sua
celebração e quando o Brasil for indicado como o lugar de cumprimento da obrigação.”
 “Art. 917. Nos embargos à execução, o executado poderá alegar:
2

I – inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação;


II – penhora incorreta ou avaliação errônea;
III – excesso de execução ou cumulação indevida de execuções;
IV – retenção por benfeitorias necessárias ou úteis, nos casos de execução para entrega de coisa certa;
V – incompetência absoluta ou relativa do juízo da execução;
VI – qualquer matéria que lhe seria lícito deduzir como defesa em processo de conhecimento.
§ 1º A incorreção da penhora ou da avaliação poderá ser impugnada por simples petição, no prazo de 15 (quinze) dias, contado da ciência
do ato.
§ 2º Há excesso de execução quando:
I – o exequente pleiteia quantia superior à do título;
II – ela recai sobre coisa diversa daquela declarada no título;
III – ela se processa de modo diferente do que foi determinado no título;
IV – o exequente, sem cumprir a prestação que lhe corresponde, exige o adimplemento da prestação do executado;
V – o exequente não prova que a condição se realizou.
§ 3º Quando alegar que o exequente, em excesso de execução, pleiteia quantia superior à do título, o embargante declarará na petição
inicial o valor que entende correto, apresentando demonstrativo discriminado e atualizado de seu cálculo.
§ 4º Não apontado o valor correto ou não apresentado o demonstrativo, os embargos à execução:
I – serão liminarmente rejeitados, sem resolução de mérito, se o excesso de execução for o seu único fundamento;
II – serão processados, se houver outro fundamento, mas o juiz não examinará a alegação de excesso de execução.
§ 5º Nos embargos de retenção por benfeitorias, o exequente poderá requerer a compensação de seu valor com o dos frutos ou dos
danos considerados devidos pelo executado, cumprindo ao juiz, para a apuração dos respectivos valores, nomear perito, observando-se,
então, o art. 464.
§ 6º O exequente poderá a qualquer tempo ser imitido na posse da coisa, prestando caução ou depositando o valor devido pelas
benfeitorias ou resultante da compensação.
§ 7º A arguição de impedimento e suspeição observará o disposto nos arts. 146 e 148.”
 “Art. 525, § 1º. Na impugnação, o executado poderá alegar:
3

I – falta ou nulidade da citação se, na fase de conhecimento, o processo correu à revelia;


II – ilegitimidade de parte;
III – inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação;
IV – penhora incorreta ou avaliação errônea;
V – excesso de execução ou cumulação indevida de execuções;
VI – incompetência absoluta ou relativa do juízo da execução;
VII – qualquer causa modificativa ou extintiva da obrigação, como pagamento, novação, compensação, transação ou prescrição, desde
que supervenientes à sentença.”
Súmula nº 150 do STF: “Prescreve a execução no mesmo prazo de prescrição da ação.”
 “Art. 919. Os embargos à execução não terão efeito suspensivo.
4

§ 1º O juiz poderá, a requerimento do embargante, atribuir efeito suspensivo aos embargos quando verificados os requisitos para a
concessão da tutela provisória e desde que a execução já esteja garantida por penhora, depósito ou caução suficientes.
§ 2º Cessando as circunstâncias que a motivaram, a decisão relativa aos efeitos dos embargos poderá, a requerimento da parte, ser
modificada ou revogada a qualquer tempo, em decisão fundamentada.
§ 3º Quando o efeito suspensivo atribuído aos embargos disser respeito apenas a parte do objeto da execução, esta prosseguirá quanto à
parte restante.
§ 4º A concessão de efeito suspensivo aos embargos oferecidos por um dos executados não suspenderá a execução contra os que não
embargaram quando o respectivo fundamento disser respeito exclusivamente ao embargante.
§ 5º A concessão de efeito suspensivo não impedirá a efetivação dos atos de substituição, de reforço ou de redução da penhora e de
avaliação dos bens.”
 “Art. 777. A cobrança de multas ou de indenizações decorrentes de litigância de má-fé ou de prática de ato atentatório à dignidade da
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justiça será promovida nos próprios autos do processo.”


 “Art. 771. Este Livro regula o procedimento da execução fundada em título extrajudicial, e suas disposições aplicam-se, também, no que
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couber, aos procedimentos especiais de execução, aos atos executivos realizados


no procedimento de cumprimento de sentença, bem como aos efeitos de atos ou fatos processuais a que a lei atribuir força executiva.
Parágrafo único. Aplicam-se subsidiariamente à execução as disposições do Livro I da Parte Especial.”
 “Art. 520. O cumprimento provisório da sentença impugnada por recurso desprovido de efeito suspensivo será realizado da mesma forma
7

que o cumprimento definitivo, sujeitando-se ao seguinte regime:


I – corre por iniciativa e responsabilidade do exequente, que se obriga, se a sentença for reformada, a reparar os danos que o executado
haja sofrido;
II – fica sem efeito, sobrevindo decisão que modifique ou anule a sentença objeto da execução, restituindo-se as partes ao estado anterior
e liquidando-se eventuais prejuízos nos mesmos autos;
III – se a sentença objeto de cumprimento provisório for modificada ou anulada apenas em parte, somente nesta ficará sem efeito a
execução;
IV – o levantamento de depósito em dinheiro e a prática de atos que importem transferência de posse ou alienação de propriedade ou de
outro direito real, ou dos quais possa resultar grave dano ao executado, dependem de caução suficiente e idônea, arbitrada de plano pelo
juiz e prestada nos próprios autos.
§ 1º No cumprimento provisório da sentença, o executado poderá apresentar impugnação, se quiser, nos termos do art. 525.
§ 2º A multa e os honorários a que se refere o § 1º do art. 523 são devidos no cumprimento provisório de sentença condenatória ao
pagamento de quantia certa.
§ 3º Se o executado comparecer tempestivamente e depositar o valor, com a finalidade de isentar-se da multa, o ato não será havido
como incompatível com o recurso por ele interposto.
§ 4º A restituição ao estado anterior a que se refere o inciso II não implica o desfazimento da transferência de posse ou da alienação de
propriedade ou de outro direito real eventualmente já realizada, ressalvado, sempre, o direito à reparação dos prejuízos causados ao
executado.
§ 5º Ao cumprimento provisório de sentença que reconheça obrigação de fazer, de não fazer ou de dar coisa aplica-se, no que couber, o
disposto neste Capítulo.”
 “Art. 521. A caução prevista no inciso IV do art. 520 poderá ser dispensada nos casos em que:
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I – o crédito for de natureza alimentar, independentemente de sua origem;


II – o credor demonstrar situação de necessidade;
III – pender o agravo do art. 1.042; (Redação dada pela Lei nº 13.256, de 2016) (Vigência)
IV – a sentença a ser provisoriamente cumprida estiver em consonância com súmula da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal ou do
Superior Tribunal de Justiça ou em conformidade com acórdão proferido no julgamento de casos repetitivos.
Parágrafo único. A exigência de caução será mantida quando da dispensa possa resultar manifesto risco de grave dano de difícil ou
incerta reparação.”
 “Art. 522. O cumprimento provisório da sentença será requerido por petição dirigida ao juízo competente. Parágrafo único. Não sendo
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eletrônicos os autos, a petição será acompanhada de cópias das seguintes peças do processo, cuja autenticidade poderá ser certificada
pelo próprio advogado, sob sua responsabilidade pessoal: I – decisão exequenda;
II – certidão de interposição do recurso não dotado de efeito suspensivo;
III – procurações outorgadas pelas partes; IV – decisão de habilitação, se for o caso;
V – facultativamente, outras peças processuais consideradas necessárias para demonstrar a existência do crédito.”
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 “Art. 995. Os recursos não impedem a eficácia da decisão, salvo disposição legal ou decisão judicial em sentido diverso.
Parágrafo único. A eficácia da decisão recorrida poderá ser suspensa por decisão do relator, se da imediata produção de seus efeitos
houver risco de dano grave, de difícil ou impossível reparação, e ficar demonstrada a probabilidade de provimento do recurso.”
11
 “Art. 1.012. A apelação terá efeito suspensivo.
§ 1º Além de outras hipóteses previstas em lei, começa a produzir efeitos imediatamente após a sua publicação a sentença que:
I – homologa divisão ou demarcação de terras; II – condena a pagar alimentos;
III – extingue sem resolução do mérito ou julga improcedentes os embargos do executado;
IV – julga procedente o pedido de instituição de arbitragem;
V – confirma, concede ou revoga tutela provisória; VI – decreta a interdição.
§ 2º Nos casos do § 1º, o apelado poderá promover o pedido de cumprimento provisório depois de publicada a sentença.
§ 3º O pedido de concessão de efeito suspensivo nas hipóteses do § 1o poderá ser formulado por requerimento dirigido ao:
I – tribunal, no período compreendido entre a interposição da apelação e sua distribuição, ficando o relator designado para seu exame
prevento para julgá-la;
II – relator, se já distribuída a apelação.
§ 4º Nas hipóteses do § 1º, a eficácia da sentença poderá ser suspensa pelo relator se o apelante demonstrar a probabilidade de
provimento do recurso ou se, sendo relevante a fundamentação, houver risco de dano grave ou de difícil reparação.”
12
 REsp 1245994/RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, 3ª Turma, j. 04.08.2011.
13
 “Art. 523. No caso de condenação em quantia certa, ou já fixada em liquidação, e no caso de decisão sobre parcela incontroversa, o
cumprimento definitivo da sentença far-se-á a requerimento do exequente, sendo o executado intimado para pagar o débito, no prazo de
15 (quinze) dias, acrescido de custas, se houver.
§ 1º Não ocorrendo pagamento voluntário no prazo do caput, o débito será acrescido de multa de dez por cento e, também, de honorários
de advogado de dez por cento.”
14
 STJ, REsp 1.059.478⁄RS, Rel. Min. Aldir Passarinho Junior, DJe 15.12.2010.
VI
PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS E CONDIÇÕES DA EXECUÇÃO DE
TÍTULO EXTRAJUDICIAL E DO CUMPRIMENTO DA SENTENÇA

1.CONDIÇÕES DA AÇÃO

A execução por título extrajudicial ou o cumprimento da sentença, como categorias satisfativas, reclamam, também, a
presença das “condições da ação” consistentes na legitimidade das partes e no interesse de agir – valendo lembrar que
a possibilidade jurídica do pedido, de acordo com o novo CPC, não figura mais como condição da ação. Do mesmo
modo, o processo que encarta a ação, para ter existência e validade, necessita preencher os denominados “pressupostos
processuais”, consubstanciados na competência jurisdicional, na capacidade das partes e na demanda na forma da lei.
A ausência de quaisquer destes, é dizer, dos pressupostos processuais e das condições da ação, implica a extinção do
processo executivo. Assim, v.g., se o exequente não for parte legítima ou a dívida ainda não estiver vencida, caso em
que não há interesse processual, o juiz deve proferir sentença terminativa.
Observa-se, assim, que, sob esse ângulo de análise, o processo de execução e o processo de conhecimento
interpenetram-se, tanto assim que o art. 771, parágrafo único, do CPC/2015  determina a aplicação subsidiária das
1

regras sobre o processo de conhecimento.


Nos capítulos referentes ao cumprimento de sentença e à execução, o CPC trata textualmente da “legitimidade das
partes”, muito embora contemple também dispositivos sem qualquer vinculação com a questão central objeto dos
artigos, por exemplo, interesse processual na execução de obrigação condicional, faculdade de desistência da
execução, direito de escolha na execução de prestação alternativa, cumulação de execuções e responsabilidade do
exequente por execução inexistente.
Convém frisar, neste passo, que a aplicação subsidiária da execução por título extrajudicial ao processo de
cumprimento da sentença implica a adoção, por este, das regras compatíveis. Assim, v.g., a regra do art. 827, § 2º, do
CPC/2015, que trata da majoração dos honorários quando rejeitados os embargos à execução ou levando-se em
consideração o trabalho realizado pelo advogado do exequente, está prevista no capítulo referente à execução, mas é
aplicável ao cumprimento de sentença. Supera-se, assim, o enunciado da Súmula nº 519 do STJ: “Na hipótese de
rejeição da impugnação ao cumprimento de sentença, não são cabíveis honorários advocatícios”.
De qualquer forma, os temas inerentes aos pressupostos comuns do inadimplemento do devedor, a desistência da
execução e do cumprimento etc. devem ser tratados em conjunto. Sob essa ótica, encontram-se as denominadas
condições da ação de execução por título extrajudicial e de cumprimento de sentença.
A legitimação ativa e passiva para a execução inclui não só o estudo da legitimação ordinária, mas também da
legitimação extraordinária, do litisconsórcio e da intervenção de terceiros, fartamente tratados no processo de
conhecimento.
Não obstante, a legitimação ativa e passiva originária e superveniente vem regulada de forma clara nos arts. 778 e 779
do CPC/2015. 2

A legitimação ativa primária para a execução ou para o cumprimento de sentença pertence ao credor, assim
considerado na cártula ou na sentença, denominado processualmente como “exequente”. O Ministério Público, quer
atuando como parte legitimada ordinariamente ou extraordinariamente, tem legitimidade para executar as sentenças e
os títulos extrajudiciais dos quais participa, v.g., a sentença da ação civil pública (arts. 15 da LACP e 100 e 82 do
CDC) e o instrumento de transação (TAC) previsto no art. 784, IV, do CPC/2015.
Consoante a lei, ainda podem promover a execução ou nela prosseguir o espólio e os herdeiros que lhe sucedem no
crédito, fenômeno que pode ocorrer quer quanto ao crédito litigioso constante da sentença a ser cumprida, quer em
relação ao objeto do título judicial. Essa legitimação é ope legis, de sorte que, falecendo o credor e inexistindo óbice
de natureza material (arts. 1.784, 1.791, parágrafo único, 1.814, todos do CC),  o espólio inicia ou prossegue com a
3

execução, conforme a morte tenha ocorrido no curso do processo (art. 110 do CPC/2015) ou o vencimento da
obrigação haja sido após o falecimento, mas antes de ultimado o inventário.
A obrigação vencida depois de concluído o inventário habilita o herdeiro contemplado a iniciar a execução ou o
cumprimento, ou a nela prosseguir, bastando, em ambos os casos, a prova do óbito ou a juntada do formal de partilha
(art. 515, IV, do CPC/2015). 4

A legitimidade é questão que revela dupla face, a saber: ativa e passiva. Assim é que na forma do disposto no art. 779
do CPC/2015 são sujeitos passivos na execução:
“Art. 779. A execução pode ser promovida contra:
I – o devedor, reconhecido como tal no título executivo; II – o espólio, os herdeiros ou os sucessores do
devedor;
III – o novo devedor que assumiu, com o consentimento do credor, a obrigação resultante do título
executivo;
IV – o fiador do débito constante em título extrajudicial;
V – o responsável titular do bem vinculado por garantia real ao pagamento do débito;
VI – o responsável tributário, assim definido em lei.”
O devedor é aquele que consta nos títulos judiciais mencionados no art. 515 do CPC/2015 como a parte que assumiu a
obrigação reconhecida na sentença ou fruto de autocomposição. Assim, v.g., somente o condenado criminalmente
pode ser sujeito passivo da execução, não assim a empresa à qual pertença.
Os títulos extrajudiciais revelam prima facie os “supostos” devedores, denominados pelo Código como “executados”
(art. 784 do CPC/2015). Nesse segmento, pode ser sujeito ao cumprimento ou à execução extrajudicial o emitente do
cheque ou da nota promissória. O espólio e os herdeiros do de cujus, respeitado o limite ultra vires hereditaris,
respondem pelas dívidas do falecido (arts. 1.792, 1.821 e 1.997 do CC).  Deveras, as hipóteses de responsabilidade
5

patrimonial secundária caracterizam o fenômeno da legitimação extraordinária no processo de execução ou


substituição processual.
Por outro lado, a índole satisfativa não normativa do processo de execução afasta as figuras interventivas que
pressupõem “definição judicial”, v.g., a denunciação da lide e o “chamamento ao processo”. Ademais, essas medidas
são manejadas no interesse do demandado e a execução promove-se em favor do credor-exequente, que não pode ser
prejudicado pela demora acarretada para satisfazer interesses do executado.
Cumpre concluir que a assistência e o recurso de terceiro têm total pertinência na execução, bem como o novel
incidente de desconsideração da personalidade jurídica, de que tratam os arts. 133 e seguintes do CPC/2015.

2.COMPETÊNCIA JURISDICIONAL

O instituto da competência, conceituado como a repartição da função jurisdicional entre os diversos órgãos do
Judiciário segundo os critérios legais, tem a sua peculiaridade no processo de execução. O legislador cuida de
explicitar algumas regras de competência funcional e territorial que variam conforme a execução, seja de título judicial
ou extrajudicial. Tratando-se de título extrajudicial, nenhum juízo ainda se tornou prevento para a execução, já que é a
primeira vez que o documento exsurge em juízo.

2.1Competência e execução de título extrajudicial

A execução por título extrajudicial, sob esse ângulo, segue os mesmos critérios que norteiam o processo de
conhecimento. Nesse sentido, uma primeira observação deve ser feita: as obrigações nasceram para serem extintas
pelo cumprimento, de sorte que as regras competenciais devem ser concebidas de modo a facilitar o adimplemento das
obrigações pelo executado.
Outrossim, esses títulos costumam consignar a “praça de pagamento” como local para o adimplemento e para a
demanda, devendo esta prevalecer, tal como ocorre com o “foro de eleição”. Em matéria de competência territorial, a
vontade das partes tem significativa influência sobre o critério “relativo legal”, uma vez que esta delimitação territorial
da jurisdição leva em consideração a maior conveniência dos litigantes.
Nesse sentido, o art. 781 do CPC determina que a execução fundada em título extrajudicial será processada perante o
juízo competente, observadas determinadas regras. Em primeiro lugar, a execução poderá ser proposta no foro de
domicílio do executado, de eleição constante do título ou, ainda, de situação dos bens a ela sujeitos. Caso o executado
possua mais de um domicílio, poderá ser demandado no foro de qualquer deles. Sendo incerto ou desconhecido o
domicílio do executado, a execução poderá ser proposta no lugar onde for encontrado ou no foro de domicílio do
exequente. Havendo mais de um devedor, com diferentes domicílios, a execução será proposta no foro de qualquer
deles, à escolha do exequente. Por fim, a execução poderá ser proposta no foro do lugar em que se praticou o ato ou
em que ocorreu o fato que deu origem ao título, mesmo que nele não mais resida o executado.
Se o executado não tiver bens no foro em que processada a execução, impedindo a realização da penhora, deverá
ocorrer a chamada execução por carta (art. 845, § 2º, do CPC/2015), hipótese na qual deve ser expedida carta para que
a penhora, a avaliação e a alienação dos bens seja realizada pelo juízo do foro da situação dos bens. Nessa situação,
por aplicação do art. 914, § 2º, os embargos à execução podem ser oferecidos no juízo deprecante ou no juízo
deprecado, mas a competência para julgá-los é do juízo deprecante, salvo se versarem unicamente sobre vícios ou
defeitos da penhora, da avaliação ou da alienação dos bens efetuadas no juízo deprecado. Neste último caso, o prazo
para embargos será contado da juntada, na carta, da certificação da citação, quando versarem unicamente sobre vícios
ou defeitos da penhora, da avaliação ou da alienação dos bens (art. 915, § 2º, I, do CPC/2015).
Quando não obedecidos os critérios de delimitação da competência, sejam de caráter relativo ou absoluto, cabe ao
executado denunciar o vício da incompetência como preliminar nos embargos à execução (art. 917, V, do
CPC/2015).  O art. 919 do CPC/2015 dispõe que os embargos não terão efeito suspensivo, mas o § 1º do mesmo
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dispositivo admite a concessão de efeito suspensivo ope judicis aos embargos, quando verificados os requisitos para a
concessão da tutela provisória e desde que a execução já esteja garantida por penhora, depósito ou caução suficientes.
Vale dizer que é aplicável à execução por título extrajudicial o art. 340 do CPC/2015, de modo que o executado pode
apresentar os embargos à execução com preliminar de incompetência relativa ou absoluta no foro do seu domicílio,
fato que será imediatamente comunicado ao juiz da causa, preferencialmente por meio eletrônico.
Também é importante salientar que o vício de incompetência de caráter absoluto, como o descumprimento de um
critério funcional de definição da competência, não se convalida pela sua não arguição como preliminar nos embargos,
porquanto a incompetência absoluta pode ser alegada em qualquer tempo e grau de jurisdição e deve ser declarada de
ofício (art. 64, § 1º, do CPC/2015).

2.2Competência e cumprimento da sentença

O cumprimento de sentença , na sistemática do novo Código, é fase do mesmo processo que o procedimento de
7

conhecimento. Por isso, as regras de definição da competência são mais simples.


Primeiramente, impõe-se assentar ter sido mantida a regra de que o juízo da cognição deve ser também o juízo da
execução, nas hipóteses nas quais, na fase anterior, a resolução de mérito foi obra daquele juízo. Noutras palavras,
havendo o cumprimento da sentença é processado perante os Tribunais, nas causas de sua competência originária, ou
perante o juízo que decidiu a causa no primeiro grau de jurisdição. Por outro lado, faz-se mister a distribuição livre,
entre os juízos cíveis, da sentença penal, da sentença arbitral, da sentença estrangeira homologada e do acórdão
proferido pelo Tribunal Marítimo.
A novidade expressiva, à luz do princípio da realidade – segundo o qual os bens do devedor representam o sucedâneo
para o cumprimento de suas obrigações –, é a novel regra do art. 516, parágrafo único, do CPC/2015 ao instituir, como
foros concorrentes à escolha do exequente, o foro do atual domicílio do executado, o foro do local onde se encontrem
os bens sujeitos à execução (forum rei sitae) ou o foro do local onde deva ser executada a obrigação de fazer ou de não
fazer, casos em que a remessa dos autos do processo será solicitada ao juízo de origem. A intenção da lei é facilitar a
execução, permitindo ao credor obter a satisfação da obrigação da forma menos onerosa possível para si. Deveras,
iniciado o cumprimento da sentença perante um desses juízos concorrentes, a este serão também endereçadas as ações
acessórias, como os embargos de terceiro e as cautelares. Todavia, a faculdade de escolha dos foros concorrentes
prevista no art. 516, parágrafo único, não se aplica às causas de competência originária dos Tribunais.
Os títulos formados em processos que ultimam a providência requerida e não pressupõem prosseguimento, como a
sentença penal, são cumpridos mediante livre distribuição, e, se contemplarem entrega de somas, obedecer-se-ão os
foros concorrentes à escolha do vencedor. A sentença homologatória de sentença estrangeira, como anteriormente
visto, escapa à regra da competência dos Tribunais para ser executada pelo Juízo Federal de primeira instância.

 “Art. 771. Este Livro regula o procedimento da execução fundada em título extrajudicial, e suas disposições aplicam-se, também, no que
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couber, aos procedimentos especiais de execução, aos atos executivos realizados no procedimento de cumprimento de sentença, bem
como aos efeitos de atos ou fatos processuais a que a lei atribuir força executiva.
Parágrafo único. Aplicam-se subsidiariamente à execução as disposições do Livro I da Parte Especial.”
 “Art. 778. Pode promover a execução forçada o credor a quem a lei confere título executivo.
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§ 1º Podem promover a execução forçada ou nela prosseguir, em sucessão ao exequente originário:


I – o Ministério Público, nos casos previstos em lei;
II – o espólio, os herdeiros ou os sucessores do credor, sempre que, por morte deste, lhes for transmitido o direito resultante do título
executivo;
III – o cessionário, quando o direito resultante do título executivo lhe for transferido por ato entre vivos;
IV – o sub-rogado, nos casos de sub-rogação legal ou convencional.
§ 2º A sucessão prevista no § 1º independe de consentimento do executado.
Art. 779. A execução pode ser promovida contra:
I – o devedor, reconhecido como tal no título executivo; II – o espólio, os herdeiros ou os sucessores do devedor;
III – o novo devedor que assumiu, com o consentimento do credor, a obrigação resultante do título executivo; IV – o fiador do débito
constante em título extrajudicial;
V – o responsável titular do bem vinculado por garantia real ao pagamento do débito;
VI – o responsável tributário, assim definido em lei.”
 “Art. 1.784. Aberta a sucessão, a herança transmite-se, desde logo, aos herdeiros legítimos e testamentários.” “ Art. 1.791. A herança
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defere-se como um todo unitário, ainda que vários sejam os herdeiros. Parágrafo único. Até a partilha, o direito dos co-herdeiros, quanto à
propriedade e posse da herança, será indivisível, e regular-se-á pelas normas relativas ao condomínio.”
“Art. 1.814. São excluídos da sucessão os herdeiros ou legatários:
I – que houverem sido autores, coautores ou partícipes de homicídio doloso, ou tentativa deste, contra a pessoa de cuja sucessão se
tratar, seu cônjuge, companheiro, ascendente ou descendente;
II – que houverem acusado caluniosamente em juízo o autor da herança ou incorrerem em crime contra a sua honra, ou de seu cônjuge ou
companheiro;
III – que, por violência ou meios fraudulentos, inibirem ou obstarem o autor da herança de dispor livremente de seus bens por ato de última
vontade. (...)”
 “Art. 515. São títulos executivos judiciais, cujo cumprimento dar-se-á de acordo com os artigos previstos neste Título:
4

(...)
IV – o formal e a certidão de partilha, exclusivamente em relação ao inventariante, aos herdeiros e aos sucessores a título singular ou
universal;”
 “Art. 1.792. O herdeiro não responde por encargos superiores às forças da herança; incumbe-lhe, porém, a prova do excesso, salvo se
5

houver inventário que a escuse, demonstrando o valor dos bens herdados.”


“Art. 1.821. É assegurado aos credores o direito de pedir o pagamento das dívidas reconhecidas, nos limites das forças da herança.”
“Art. 1.997. A herança responde pelo pagamento das dívidas do falecido; mas, feita a partilha, só respondem os herdeiros, cada qual em
proporção da parte que na herança lhe coube.
§ 1º Quando, antes da partilha, for requerido no inventário o pagamento de dívidas constantes de documentos, revestidos de formalidades
legais, constituindo prova bastante da obrigação, e houver impugnação, que não se funde na alegação de pagamento, acompanhada de
prova valiosa, o juiz mandará reservar, em poder do inventariante, bens suficientes para solução do débito, sobre os quais venha a recair
oportunamente a execução.
§ 2º No caso previsto no parágrafo antecedente, o credor será obrigado a iniciar a ação de cobrança no prazo de trinta dias, sob pena de
se tornar de nenhum efeito a providência indicada.”
 “Art. 917. Nos embargos à execução, o executado poderá alegar:
6

V – incompetência absoluta ou relativa do juízo da execução;”


 “Art. 516. O cumprimento da sentença efetuar-se-á perante:
7

I – os tribunais, nas causas de sua competência originária;


II – o juízo que decidiu a causa no primeiro grau de jurisdição;
III – o juízo cível competente, quando se tratar de sentença penal condenatória, de sentença arbitral, de sentença estrangeira ou de
acórdão proferido pelo Tribunal Marítimo.
Parágrafo único. Nas hipóteses dos incisos II e III, o exequente poderá optar pelo juízo do atual domicílio do executado, pelo juízo do local
onde se encontrem os bens sujeitos à execução ou pelo juízo do local onde deva ser executada a obrigação de fazer ou de não fazer,
casos em que a remessa dos autos do processo será solicitada ao juízo de origem.”

VII
FORMAÇÃO, SUSPENSÃO E EXTINÇÃO DA EXECUÇÃO

1.FORMAÇÃO DO PROCESSO

Como referido em capítulos anteriores deste curso, o processo de execução de título extrajudicial é autônomo e
originário submetendo-se, por isso, à iniciativa da parte. Diferentemente, o cumprimento da sentença é fase do
processo de conhecimento e se inicia de ofício ou por iniciativa da parte.
Consequentemente, a fase de cumprimento guarda certa correspondência com a fase postulatória do processo, na qual
se formou o título exequendo, sendo certo que as normas relativas ao processo de conhecimento são subsidiariamente
aplicáveis à fase executiva, no que couber.
Rememore-se que a sentença pode reclamar liquidação, o que não ocorre com os títulos extrajudiciais, cuja iliquidez
deve ser resolvida em processo de conhecimento e não em mera fase de liquidação. Ademais, repita-se, o cumprimento
de sentença é uma fase do processo unitário de cognição, ao passo que a execução extrajudicial, posto inaugurar a
relação processual, dá ensejo a processo novo.
Entretanto, na execução para a entrega de soma ou quantia certa, há providências comuns à execução extrajudicial e ao
cumprimento de sentença, tanto mais que esses ritos (cumprimento e execução), apesar de suas peculiaridades,
submetem-se a um regime comum quanto a diversos aspectos, como a apreensão de bens (penhora e avaliação), a
expropriação (alienação particular ou judicial, ainda que em dação via adjudicação) e o pagamento ao credor.

1.1Requerimento

Consoante dispõe o art. 523 do CPC/2015, no cumprimento de sentença, o requerimento do exequente é para que o
executado seja intimado para pagar o débito, sob pena de expedição de mandado de penhora e avaliação, seguindo-se
os atos de expropriação. Já na execução por título extrajudicial, o exequente deve requerer a citação do executado para
pagar a dívida, sendo que desse mesmo mandado de citação constará também a ordem de penhora e a avaliação a
serem cumpridas pelo oficial de justiça tão logo verificado o não pagamento no prazo assinalado (art. 829,  caput e §
1º, do CPC/2015). Caso o oficial de justiça não encontre o executado, deverá proceder ao arresto de tantos bens
quantos bastem para garantir a execução (art. 830 do CPC/2015).
Vale dizer que o rito é variável de acordo com a natureza da obrigação. Assim,  v.g., na execução extrajudicial de
obrigação de entrega de coisa, o devedor é citado para entregá-la e, em se tratando de obrigação de fazer, para realizar
a conduta devida etc.
Os procedimentos serão analisados especificamente em capítulos próprios, com as suas peculiaridades que escapam às
disposições comuns.

1.2Averbação premonitória

Tratando-se de cumprimento ou de execução tout court por quantia certa, o exequente poderá, no ato da distribuição,
obter certidão de que a execução foi admitida pelo juiz, com identificação das partes e do valor da causa, para fins de
averbação no registro de imóveis, de veículos ou de outros bens sujeitos a penhora, arresto ou indisponibilidade (art.
828 do CPC/2015). Note-se que, quanto ao ponto, houve relevante mudança legislativa, já que a legislação revogada
dispunha que a referida certidão seria “comprobatória do ajuizamento da execução” e não da admissão desta pelo juiz
(art. 615-A do CPC/1973). Todavia, o art. 799, IX, do CPC/2015 ainda prevê a possibilidade de que o exequente
proceda “à averbação em registro público do ato de propositura da execução (...) para conhecimento de
terceiros”.  Parece-nos que a averbação referida no art. 799, IX, do CPC/2015 também tem o condão de gerar fraude de
1

execução, na linha do enunciado nº 539 do FPPC: “art. 828; art. 799, IX; art. 312) A certidão a que se refere o art. 828
não impede a obtenção e a averbação de certidão da propositura da execução (art. 799).”
A certidão indicada no art. 828 do CPC/2015 é denominada pela doutrina de averbação premonitória. O exequente
deverá comunicar ao juízo as averbações efetivadas, no prazo de dez dias contados de sua concretização (art. 828, § 1º,
do CPC/2015). Esgotado o prazo, deverá o juiz determinar o cancelamento das averbações, de ofício ou a
requerimento (art. 828, § 3º, do CPC/2015).
O principal efeito jurídico da averbação premonitória é gerar a presunção absoluta de fraude à execução em relação à
alienação ou à oneração de bens efetuada após a averbação, que será considerada ineficaz em relação ao exequente que
promoveu a averbação (art. 828, § 4º, c/c art. 792, II, do CPC/2015).
Ressalte-se, contudo, que a averbação premonitória não prevalece em relação à penhora realizada por outro credor.
Assim, caso tenha sido realizada a averbação premonitória do art. 828 do CPC/2015 no registro de um bem e,
posteriormente, outro credor tenha logrado obter a penhora daquele mesmo bem, a preferência para a expropriação
deste bem será do credor que primeiro obteve a penhora e não daquele que tenha primeiro realizado a averbação. 2

O exequente que promover averbação manifestamente indevida deverá indenizar a parte contrária, processando-se o
incidente em autos apartados, nos termos do art. 828, § 5º, do CPC/2015. O exequente também possui o dever de
providenciar, no prazo de dez dias, o cancelamento das averbações relativas a bens não penhorados quando já
formalizada a penhora sobre bens suficientes para cobrir o valor da dívida (art. 828, § 2º, do CPC/2015). Considerando
o princípio da economicidade, no sentido de que a execução deve ser levada a efeito nos limites da necessidade da
expropriação, circunscrita à responsabilidade patrimonial pela penhora, levantam-se as averbações desnecessárias,
como também a averbação indevida que imponha restrição desnecessária à circulabilidade dos bens, implicando, nesse
caso, dever de indenizar por parte do exequente. Assim, v.g., se o crédito é absorvido pelo veículo do devedor e o
credor, como forma injusta de execução indireta averba no registro de imóveis a execução, essa averbação pode gerar
o dever de indenizar, demonstrados os danos em incidente em autos apartados. A decisão proferida nesses autos
apartados que reconhecer o direito à indenização pode ser objeto de cumprimento de sentença, tendo força de título
executivo judicial. 3

Os tribunais, a seu tempo, podem expedir instruções sobre o cumprimento dessas novas providências acautelatórias,
inclusive quanto às custas.

1.3Efeitos da propositura da execução de título extrajudicial

A propositura da execução extrajudicial pelo protocolo da petição inicial (art. 312 do CPC/2015) marca o primeiro
momento da formação da relação trilateral, ainda angular nesse instante, e que se completa com a citação do
executado. O cumprimento de sentença, por sua vez, é fase do mesmo processo, consistindo em mero prolongamento
da relação jurídica processual já existente.
O CPC de 2015 dispõe que a interrupção da prescrição é efeito do despacho que ordena a citação no processo de
conhecimento, desde que o autor a promova tempestivamente, e retroage à data da propositura da demanda. Confira-se
o teor do novel dispositivo:
“Art. 240, § 1º A interrupção da prescrição, operada pelo despacho que ordena a citação, ainda que proferido por juízo
incompetente, retroagirá à data de propositura da ação. § 2º Incumbe ao autor adotar, no prazo de 10 (dez) dias, as
providências necessárias para viabilizar a citação, sob pena de não se aplicar o disposto no § 1º.”
O atual diploma processual se ajustou ao que já dispunha o art. 202, I, do CC/2002, segundo o qual a interrupção da
prescrição ocorre “por despacho do juiz, mesmo incompetente, que ordenar a citação, se o interessado a promover no
prazo e na forma da lei processual”. Note-se, contudo, ainda constar do art. 202, V, do CC/2002 que a interrupção da
prescrição se dá “por qualquer ato judicial que constitua em mora o devedor”. Então, quando a citação constitui em
mora, é este ato processual de comunicação que interrompe a prescrição . 4

O texto não esclarece, contudo, o que acontece caso o autor não promova a citação no prazo de dez dias previsto no
art. 240, § 2º, do CPC/2015. Para uma primeira corrente, a interrupção da prescrição ocorrerá na data da efetiva
citação, sem retroagir, por força do art. 202, V, do CC/2002. Outros autores, contudo, entendem que se o autor perder
o prazo do art. 240, § 2º, a interrupção da prescrição ocorre com o despacho que ordena a citação, mas não retroage à
propositura da demanda.
No âmbito da execução por título extrajudicial, e do cumprimento da sentença, nos termos do § 7º do art. 921, também
estabelece o CPC de 2015, por força da modificação introduzida pela Lei nº 14.195/2021, que o termo inicial da
prescrição no curso do processo será a ciência da primeira tentativa infrutífera de localização do devedor ou de bens
penhoráveis, e será suspensa, por uma única vez, pelo prazo máximo de um ano, conforme o § 4º do art. 921.
A prescrição, como de sabença, pode ser conhecida de ofício e esse preceito se aplica também à execução. Quanto ao
processo de execução de título extrajudicial, o art. 803, caput, I, e parágrafo único, do CPC/2015 permite ao juiz
reconhecer de ofício a nulidade da execução quando o título não corresponder a obrigação exigível.
Já quanto ao cumprimento de sentença, vale lembrar que a prescrição interrompida na fase de conhecimento somente
volta a correr após o trânsito em julgado (art. 202, parágrafo único, do CC/2002). Nesse sentido, é relevante citar a
súmula nº 150 do STF, segundo a qual “Prescreve a execução no mesmo prazo de prescrição da ação”.
Há que se considerar, ainda, que deve ser suspensa a execução quando não for localizado o executado ou bens
penhoráveis, caso em que o juiz suspenderá a execução pelo prazo de 1 (um) ano, durante o qual também será
suspensa a prescrição (art. 921, III, com a redação dada pela Lei nº 14.195/2021, e § 1º, do CPC/2015). Como
mencionado anteriormente, o termo inicial da prescrição no curso do processo será a ciência da primeira tentativa
infrutífera de localização do devedor ou de bens penhoráveis, será suspensa, por uma única vez, pelo prazo de um ano
(art. 921, § 4º, do CPC/2015). O juiz, depois de ouvidas as partes, no prazo de 15 (quinze) dias, poderá, de ofício,
reconhecer a prescrição intercorrente e extinguir o processo, sem ônus para as partes (art. 921, § 5º, com a nova
redação dada pela Lei nº 14.195/2021, e art. 924, V, do CPC/2015). Frise-se que essas disposições sobre a prescrição
intercorrente, apesar de constantes do capítulo referente à execução por título extrajudicial, são também aplicáveis ao
cumprimento de sentença, como expressamente previsto no § 7º do art. 921, incluído pela Lei nº 14.195/2021.

2.SUSPENSÃO DA EXECUÇÃO

À semelhança do processo de conhecimento, a execução pode ter a sua marcha sustada pelos fatos arrolados quanto ao
processo de conhecimento (art. 313 do CPC), bem como por motivos inerentes ao próprio processo de execução, v.g.,
ocorre quando os embargos e, a fortiori, a impugnação ao cumprimento são recebidos com efeito suspensivo. Assim é
que dispõem os arts. 921 e 922 do CPC:
“Art. 921. Suspende-se a execução:
I – nas hipóteses dos arts. 313 e 315, no que couber;
II – no todo ou em parte, quando recebidos com efeito suspensivo os embargos à execução;
III – quando não for localizado o executado ou bens penhoráveis; (Redação dada pela Lei nº 14.195, de
2021)
IV – se a alienação dos bens penhorados não se realizar por falta de licitantes e o exequente, em 15 (quinze)
dias, não requerer a adjudicação nem indicar outros bens penhoráveis;
V – quando concedido o parcelamento de que trata o art. 916.
§ 1º Na hipótese do inciso III, o juiz suspenderá a execução pelo prazo de 1 (um) ano, durante o qual se
suspenderá a prescrição.
§ 2º Decorrido o prazo máximo de 1 (um) ano sem que seja localizado o executado ou que sejam
encontrados bens penhoráveis, o juiz ordenará o arquivamento dos autos.
§ 3º Os autos serão desarquivados para prosseguimento da execução se a qualquer tempo forem encontrados
bens penhoráveis.
§ 4º O termo inicial da prescrição no curso do processo será a ciência da primeira tentativa infrutífera de
localização do devedor ou de bens penhoráveis, e será suspensa, por uma única vez, pelo prazo máximo
previsto no § 1º deste artigo. (Redação dada pela Lei nº 14.195, de 2021) § 4º-A. A efetiva citação,
intimação do devedor ou constrição de bens penhoráveis interrompe o prazo de prescrição, que não corre
pelo tempo necessário à citação e à intimação do devedor, bem como para as formalidades da constrição
patrimonial, se necessária, desde que o credor cumpra os prazos previstos na lei processual ou fixados pelo
juiz. (Incluído pela Lei nº 14.195, de 2021)
§ 5º O juiz, depois de ouvidas as partes, no prazo de 15 (quinze) dias, poderá, de ofício, reconhecer a
prescrição no curso do processo e extingui-lo, sem ônus para as partes. (Redação dada pela Lei nº 14.195, de
2021)
§ 6º A alegação de nulidade quanto ao procedimento previsto neste artigo somente será conhecida caso
demonstrada a ocorrência de efetivo prejuízo, que será presumido apenas em caso de inexistência da
intimação de que trata o § 4º deste artigo. (Incluído pela Lei nº 14.195, de 2021)
§ 7º Aplica-se o disposto neste artigo ao cumprimento de sentença de que trata o art. 523 deste Código.
(Incluído pela Lei nº 14.195, de 2021)
Art. 922. Convindo as partes, o juiz declarará suspensa a execução durante o prazo concedido pelo
exequente para que o executado cumpra voluntariamente a obrigação.
Parágrafo único. Findo o prazo sem cumprimento da obrigação, o processo retomará o seu curso”.
A primeira hipótese prevista no art. 921 retrata os casos excepcionais em que os embargos são recebidos com efeito
suspensivo, porquanto a regra hodierna é a não suspensividade; senão vejamos:
“Art. 919. Os embargos à execução não terão efeito suspensivo.
§ 1º O juiz poderá, a requerimento do embargante, atribuir efeito suspensivo aos embargos quando
verificados os requisitos para a concessão da tutela provisória e desde que a execução já esteja garantida por
penhora, depósito ou caução suficientes.
§ 2º Cessando as circunstâncias que a motivaram, a decisão relativa aos efeitos dos embargos poderá, a
requerimento da parte, ser modificada ou revogada a qualquer tempo, em decisão fundamentada. § 3º
Quando o efeito suspensivo atribuído aos embargos disser respeito apenas a parte do objeto da execução,
esta prosseguirá quanto à parte restante.
§ 4º A concessão de efeito suspensivo aos embargos oferecidos por um dos executados não suspenderá a
execução contra os que não embargaram quando o respectivo fundamento disser respeito exclusivamente ao
embargante.
§ 5º A concessão de efeito suspensivo não impedirá a efetivação dos atos de substituição, de reforço ou de
redução da penhora e de avaliação dos bens”.
A segunda hipótese prevista no art. 921 opera-se nos casos dos arts. 313 e 315 do CPC:
“Art. 313. Suspende-se o processo:
I – pela morte ou pela perda da capacidade processual de qualquer das partes, de seu representante legal ou
de seu procurador;
II – pela convenção das partes;
III – pela arguição de impedimento ou de suspeição;
IV – pela admissão de incidente de resolução de demandas repetitivas;
V – quando a sentença de mérito:
a) depender do julgamento de outra causa ou da declaração de existência ou de inexistência de relação
jurídica que constitua o objeto principal de outro processo pendente;
b) tiver de ser proferida somente após a verificação de determinado fato ou a produção de certa prova,
requisitada a outro juízo; VI – por motivo de força maior;
VII – quando se discutir em juízo questão decorrente de acidentes e fatos da navegação de competência do
Tribunal Marítimo;
VIII – nos demais casos que este Código regula.
IX – pelo parto ou pela concessão de adoção, quando a advogada responsável pelo processo constituir a
única patrona da causa; (Incluído pela Lei nº 13.363, de 2016)
X – quando o advogado responsável pelo processo constituir o único patrono da causa e tornar-se pai.
(...) Art. 315. Se o conhecimento do mérito depender de verificação da existência de fato delituoso, o juiz
pode determinar a suspensão do processo até que se pronuncie a justiça criminal.
§ 1º Se a ação penal não for proposta no prazo de 3 (três) meses, contado da intimação do ato de suspensão,
cessará o efeito desse, incumbindo ao juiz cível examinar incidentemente a questão prévia.
§ 2º Proposta a ação penal, o processo ficará suspenso pelo prazo máximo de 1 (um) ano, ao final do qual
aplicar-se-á o disposto na parte final do § 1º”.
A terceira hipótese prevista no art. 921, já mencionada em tópico anterior, conspira em favor do princípio da utilidade
da execução, segundo o qual esta se suspende quando “não for localizado o executado ou bens penhoráveis”. É que
sem bens a serem expropriados torna-se inviável fazer valer a responsabilidade patrimonial com a expropriação dos
bens do devedor para satisfazer o credor, que é a causa finalis da execução por quantia certa.
Destarte, representam regras basilares: a) que a penhora deve incidir em tantos bens quantos bastem para o pagamento
do principal atualizado, juros, custas e honorários advocatícios (art. 831 do CPC/2015); b) que não se deve levar a
efeito a penhora, quando evidente que o produto da execução dos bens encontrados será totalmente absorvido pelo
pagamento das custas da execução (art. 836 do CPC/2015).
Impõe-se destacar que, em alguns casos da prática judiciária, suspende-se a execução em razão da prejudicialidade da
ação onde se discute a causa debendi, aplicando-se por analogia o art. 313, V, a, do CPC/2015, quando não for
possível a reunião das ações por conexão.
O art. 921, V, do CPC/2015 trata da suspensão da execução quando concedido pelo magistrado o parcelamento da
dívida em favor do executado. Cuida-se de inovação introduzida pela Lei nº 8.953/1994 e que veio a ser acolhida pelo
CPC de 2015. O novel art. 916 do CPC/2015 prevê um direito potestativo do devedor aplicável apenas à execução por
título extrajudicial e não ao cumprimento de sentença, a saber:
“Art. 916. No prazo para embargos, reconhecendo o crédito do exequente e comprovando o deposito de
trinta por cento do valor em execução, acrescido de custas e de honorários de advogado, o executado poderá
requerer que lhe seja permitido pagar o restante em até 6 (seis) parcelas mensais, acrescidas de correção
monetária e de juros de um por cento ao mês.
§ 1° O exequente será intimado para manifestar-se sobre o preenchimento dos pressupostos do caput, e o
juiz decidirá o requerimento em 5 (dias) dias.
§ 2° Enquanto não apreciado o requerimento, o executado terá de depositar as parcelas vincendas, facultado
ao exequente seu levantamento.
§ 3° Deferida a proposta, o exequente levantará a quantia depositada, e serão suspensos aos atos executivos.
§ 4° Indeferida a proposta, seguir-se-ão os atos executivos, mantido o depósito, que será convertido em
penhora § 5° O não pagamento de qualquer das prestações acarretará cumulativamente I – o vencimento das
prestações subsequentes e o prosseguimento do processo, com o imediato reinicio dos atos executivos;
II – a imposição ao executado de multa de dez por cento sobre o valor das prestações não pagas. § 6° A
opção pelo parcelamento de que trata este artigo importa renúncia ao direito ao direito de opor embargos.
§ 7° O dispositivo neste artigo não se aplica ao cumprimento da sentença.”
Uma vez suspensa a execução nesses moldes, o legislador, seguindo a regra análoga do art. 314 do novo CPC, dispôs
quanto à execução que:
“Art. 923. Suspensa a execução, não serão praticados atos processuais, podendo o juiz, entretanto, salvo no
caso de arguição de impedimento ou de suspeição, ordenar providências urgentes.”

3.EXTINÇÃO DA EXECUÇÃO

A execução visa à satisfação do credor qualquer que seja a modalidade da obrigação. Consequentemente, nos termos
do art. 924 do CPC/2015, extingue-se a execução quando:
I – a petição inicial for indeferida;
II – a obrigação for satisfeita;
III – o executado obtiver, por qualquer outro meio, a extinção total da dívida;
IV – o exequente renunciar ao crédito; V – ocorrer a prescrição intercorrente.
Ressoa evidente, também, que o acolhimento dos embargos pode gerar a extinção da própria execução, quando, por
exemplo, for reconhecida a sua nulidade (art. 803 do CPC/2015).
Essa extinção pode operar-se por defeito formal, o que não impede a repropositura da execução, ou motivo de ordem
material, v.g., a extinção da obrigação na forma do direito material, v.g., o pagamento, a novação, a prescrição.
A prescrição nem sempre inutiliza a exigibilidade do crédito, que pode interditar a via executiva, mas manter hígida a
ação de locupletamento, na forma da lei reguladora da cártula, v.g., o cheque. Nesse caso, a coisa julgada que se opera
é meramente formal.

3.1Recurso

A extinção da execução, quer pelo julgamento dos embargos acolhidos, quer por força desses motivos enunciados,
reclama sentença sujeita à apelação (art. 1.009 c/c art. 925 do CPC/2015). Todavia, se a decisão não extinguir a
execução ou o cumprimento de sentença, caberá agravo de instrumento (art. 1.015, parágrafo único, do CPC/2015).
Ressalte-se que à liquidação, ao cumprimento de sentença e à execução não se aplica o regime de impugnação de
decisões interlocutórias como preliminar de apelação (art. 1.009, § 1º, do CPC/2015). 5
4.DESISTÊNCIA DO CUMPRIMENTO DA SENTENÇA OU DA EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL

O advento da sentença e a exibição em juízo do título executivo extrajudicial conferem certeza ao direito do
exequente. Essa é a razão pela qual, enquanto pendente o processo do conhecimento, não se sabe quem ostenta o
melhor direito, por isso que a desistência da ação depende da anuência da outra parte (art. 485, § 4º, do CPC/2015),
enquanto no cumprimento de sentença e na execução por título extrajudicial, a posição jurídica do exequente encontra-
se aparentemente consolidada no título executivo.
Entretanto, a impugnação ao cumprimento de sentença e os embargos à execução por título extrajudicial podem
infirmar o próprio crédito exequendo; ou seja, a obrigação em si. Nessa hipótese, prevalece a ratio essendi da regra do
processo de conhecimento, na medida em que esses incidentes introduzem cognição no processo satisfativo.
É sob essa ótica que deve ser interpretado o art. 775 do CPC, verbis:
“Art. 775. O exequente tem o direito de desistir de toda a execução ou de apenas alguma medida executiva.
Parágrafo único. Na desistência da execução, observar-se-á o seguinte:
I – serão extintos a impugnação e os embargos que versarem apenas sobre questões processuais, pagando o
exequente as custas processuais e os honorários advocatícios;
II – nos demais casos, a extinção dependerá da concordância do impugnante ou do embargante.”
Na hipótese aventada no inciso II do art. 775 do CPC/2015, havendo anuência do executado, a desistência não
impedirá a repropositura da execução ou do cumprimento no prazo prescricional, sendo certo que o desistente arca
com as despesas decorrentes da inutilização do processo. Ocorrendo oposição justificada do impugnante ou
embargante, que tem o direito de livrar-se de uma vez por todas da execução ou do cumprimento, interdita-se a
extinção do processo. Note-se que, nas situações em que a impugnação ou os embargos versarem sobre outras
questões que não apenas processuais, o Código reproduz a sistemática prevista para a fase de conhecimento, pois o
executado também tem direito a uma decisão sobre o mérito (art. 485, § 4º, do CPC/2015).
A oposição à desistência prevista no art. 775, II, do CPC/2015 pressupõe embargos regulares e verossímeis, de sorte
que é lícito ao juiz admitir a desistência se os embargos, no mérito, forem manifestamente improcedentes.

5.CUMULAÇÃO DE EXECUÇÕES

O Código admite que diversos títulos executivos sejam processados conjuntamente, em hipótese de cumulação de
execuções .
6

São requisitos legais para a cumulação de execuções a identidade do executado, a competência objetiva do juízo para
ambas as obrigações e identidade de rito. Vale dizer que, no caso de títulos executivos judiciais, a cumulação pode
ocorrer entre títulos que se formaram, na fase de conhecimento, perante juízos distintos, desde que o executado seja o
mesmo. Isso porque o art. 516, parágrafo único, do CPC/2015 considera competente para o cumprimento de sentença,
à escolha do exequente, o juízo do atual domicílio do executado, o juízo do local onde se encontrem os bens sujeitos à
execução ou o juízo do local onde deva ser executada a obrigação de fazer ou de não fazer. Então, se o credor obtém
sentenças condenatórias em face de um mesmo devedor perante dois juízos diversos, v. g., do Rio de Janeiro e de
Brasília, o cumprimento de ambas poderá ocorrer conjuntamente no foro do domicílio do executado.
A ausência desses requisitos implica desmembramento das execuções em autos complementares diversos, aplicando-
se analogicamente o § 1º do art. 509 do CPC/2015, segundo o qual, se a sentença apresentar parte líquida e outra
ilíquida, procede-se à execução daquela e à liquidação desta em autos apartados.
Tratando-se de execução extrajudicial, dispõe a Súmula nº 27 do E. STJ que enuncia:  “Pode a execução fundar-se em
mais de um título extrajudicial relativos ao mesmo negócio.” Entendemos, entretanto, ser admitida a cumulação de
execuções entre os títulos executivos extrajudiciais indicados no art. 784 do CPC/2015, referentes ou não ao mesmo
negócio jurídico. 7

6.INTERCOMUNICABILIDADE ENTRE AS REGRAS DA EXECUÇÃO E DO CUMPRIMENTO DA SENTENÇA

O Código de 2015 consagra uma intercomunicabilidade entre as normas do cumprimento de sentença e as do processo
de execução. O art. 771 do diploma preceitua que o livro que regula a execução fundada em título extrajudicial se
aplica, no que couber, a: (i) procedimentos especiais de execução; (ii) cumprimento de sentença; e (iii) “efeitos de atos
ou fatos processuais a que a lei atribuir força executiva”. Por sua vez, o art. 771, parágrafo único, do CPC/2015 afirma
que o livro I da parte especial, que trata do cumprimento de sentença, é subsidiariamente aplicável ao livro II, sobre o
processo de execução. Regra idêntica pode ser encontrada no art. 513 do CPC/2015.
Essa regra de integração é de suma importância, por exemplo, para o cumprimento de sentença que reconhece a
exigibilidade de obrigação de pagar quantia certa, porquanto, inocorrendo o adimplemento voluntário previsto no art.
523, caput, do CPC/2015, aplicam-se ao cumprimento de sentença as regras da penhora, do depósito, da avaliação, da
expropriação e do pagamento, nas partes em que não se revelar qualquer incompatibilidade.

Enunciado 539 do FPPC: “(art. 828; art. 799, IX; art. 312) A certidão a que se refere o art. 828 não impede a obtenção e a averbação de
1

certidão da propositura da execução (art. 799).”


“O termo ‘alienação’ previsto no art. 615-A, § 3º, do CPC/1973 refere-se ao ato voluntário de disposição patrimonial do proprietário do bem
2

(devedor). A hipótese de fraude à execução não se compatibiliza com a adjudicação forçada, levada a efeito em outro processo executivo,
no qual se logrou efetivar primeiro a penhora do mesmo bem, embora depois da averbação. (...) O alcance do art. 615-A e seus
parágrafos dá-se em relação às alienações voluntárias, mas não obsta a expropriação judicial, cuja preferência deve observar a ordem de
penhoras, conforme orientam os arts. 612, 613 e 711 do CPC/1973. (...) A averbação premonitória não equivale à penhora, e não induz
preferência do credor em prejuízo daquele em favor do qual foi realizada a constrição judicial.” (REsp 1334635/RS, Rel. Min. Antonio
Carlos Ferreira, 4ª Turma, j. 19.09.2019).
Nesse sentido, v. Enunciado nº 642 do FPPC: “(arts. 828, §§ 2º e 5º, 515, I, 523 e 771) A decisão do juiz que reconhecer o direito a
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indenização, decorrente de indevida averbação prevista no art. 828 ou do não cancelamento das averbações excessivas, é apta a ensejar
a liquidação e o posterior cumprimento da sentença, sem necessidade de propositura de ação de conhecimento”.
Sobre o tema, aliás, confira-se elucidativo julgado em que o STJ reafirmou o entendimento de que o art. 202 do CC/2002 deve ser
4

interpretado no sentido de que a interrupção da prescrição somente pode ocorrer uma vez para a mesma relação jurídica: REsp
1924436/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, 3ª Turma, j. 10.08.2021.
Sobre o tema, confiram-se os seguintes julgados do Superior Tribunal de Justiça:
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“A jurisprudência consolidada nesta Corte Superior de Justiça assentou compreensão segundo a qual o recurso cabível contra decisão em
impugnação ao cumprimento de sentença é o de agravo de instrumento, sendo cabível o recurso de apelação apenas no caso em que
haja extinção da execução, o que não é a hipótese dos autos, pois houve apenas o acolhimento parcial do incidente para reconhecer o
excesso na execução.” (AgInt no AREsp 711.036/RJ, Rel. Min. Benedito Gonçalves, 1ª Turma, j. 21.08.2018).
“A execução será extinta sempre que o executado obtiver, por qualquer meio, a supressão total da dívida (art. 924, CPC/2015), que
ocorrerá com o reconhecimento de que não há obrigação a ser exigida, seja porque adimplido o débito, seja pelo reconhecimento de que
ele não existe ou se extinguiu. (...) No sistema regido pelo CPC/2015, o recurso cabível da decisão que acolhe impugnação ao
cumprimento de sentença e extingue a execução é a apelação. As decisões que acolherem parcialmente a impugnação ou a ela negarem
provimento, por não acarretarem a extinção da fase executiva em andamento, têm natureza jurídica de decisão interlocutória, sendo o
agravo de instrumento o recurso adequado ao seu enfrentamento.” (REsp 1698344/MG, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, 4ª Turma, j.
22.05.2018).
“Art. 780. O exequente pode cumular várias execuções, ainda que fundadas em títulos diferentes, quando o executado for o mesmo e
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desde que para todas elas seja competente o mesmo juízo e idêntico o procedimento.”
A posição é compartilhada com Leonardo Greco, O Processo de Execução, 1999, I/351.
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VIII
PODERES DO JUIZ NA EXECUÇÃO
1.MEIOS EXECUTIVOS TÍPICOS E ATÍPICOS

O processo de execução é satisfativo por natureza, porquanto tem por objetivo a satisfação material da pretensão do
exequente, dependendo da utilização de meios de sub-rogação e de coerção. Esses poderes instrumentais do juiz, que
visam à prestação de justiça efetiva e em prazo razoável, estão exemplificativamente descritos no art. 772 do
CPC/2015 . 1

O dispositivo transcrito não exaure os poderes do magistrado na gestão da execução. Por exemplo, o art. 139, IV, do
CPC/2015 cuida justamente do poder de determinar todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-
rogatórias necessárias para assegurar o cumprimento de ordem judicial, inclusive nas ações que tenham por objeto
prestação pecuniária.
Sabe-se que o alcance do resultado prático pretendido pelo exeque nte pode se dar por meios de coerção, quando o
Estado-Juiz constrange o devedor a proceder, por ato próprio, à satisfação da obrigação ( v. g., impondo multa,
determinando o protesto do título executivo ou a inclusão do nome do devedor em cadastro de inadimplentes), ou por
meios de sub-rogação, quando o Estado-Juiz substitui o devedor e realiza a atividade a que ele se recusou ( v. g.,
penhora e expropriação, busca e apreensão etc.).
O CPC/2015 inova ao permitir a utilização de meios executivos atípicos, não previstos em lei, no cumprimento ou
execução de obrigação de pagar, ainda que tenham natureza coercitiva. O Código anterior, após a reforma de 2005, já
admitia meios executivos atípicos no que diz respeito ao cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer (art. 461 do
CPC/1973). Assim, por exemplo, a doutrina e a jurisprudência admitem, na execução civil, a quebra do sigilo bancário
e fiscal do executado, devendo o juiz assegurar o necessário sigilo dos autos. Nessa linha, confira-se o enunciado nº
536 do Fórum Permanente de Processualistas Civis: “(art. 772, III; art. 773, parágrafo único) O juiz poderá, na
execução civil, determinar a quebra de sigilo bancário e fiscal”.
Questão que ainda será pacificada pela jurisprudência diz respeito à possibilidade de imposição de multa cominatória
(astreintes) para o cumprimento de obrigação de pagar. No regime anterior ao CPC de 2015, não há dúvidas de que era
vedado ao Magistrado fixar astreintes para o caso de não pagamento voluntário da obrigação pecuniária . 2

Ocorre que, consoante referido, o art. 139, IV, do CPC/2015 é expresso ao permitir que o Juiz determine todas as
medidas indutivas, coercitivas ou mandamentais, inclusive nas ações que tenham por objeto prestação pecuniária . 3

Argumenta-se contrariamente à possibilidade de fixação de astreintes com base no fato de que o art. 523, § 1º, do
CPC/2015 já prevê uma multa de 10% para o caso de não pagamento voluntário no prazo de 15 dias após a intimação
do executado. Havendo regra específica no âmbito do cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de
obrigação de pagar, afastar-se-ia a regra geral do art. 139, IV, do CPC/2015.
Doutrina  e jurisprudência  têm admitido a utilização de meios executivos atípicos na execução de título extrajudicial .
4 5 6

Parte da doutrina admite, ainda, o contraditório diferido para a decretação de medida executiva atípica – ou seja,
dispensa a prévia oitiva do devedor. Trata-se, contudo, de questão ainda tormentosa na jurisprudência. O Superior
Tribunal de Justiça tem admitido a decretação de medidas coercitivas atípicas e não relacionadas ao patrimônio, como
a apreensão da carteira de habilitação e do passaporte do devedor, mas, via de regra, exige os seguintes
requisitos: (i) que a medida seja proporcional; (ii) que a decisão seja fundamentada; (iii) que sejam esgotados os meios
típicos de execução; (iv) que haja contraditório prévio; e (v) que haja indícios de patrimônio expropriável. 7

Vale dizer que algumas decisões do STJ relativizam os requisitos acima elencados. Por exemplo, a 3ª Turma da Corte
dispensou o contraditório prévio para admitir tanto a apreensão da CNH quanto do passaporte, pois o executado,
violando seu dever de cooperação, não indicou “meio executivo menos gravoso e mais eficaz à satisfação do direito do
exequente” , nos termos do art. 805, parágrafo único, do CPC/2015 . Frisou-se que “embora ausente o contraditório
8 9

prévio e a fundamentação para a adoção da medida impugnada, nem o impetrante nem o paciente cumpriram com o
dever que lhes cabia de indicar meios executivos menos onerosos e mais eficazes para a satisfação do direito
executado”. Em outro precedente, a 2ª Turma do STJ dispensou o requisito do esgotamento das medidas executivas
típicas, desde que o comportamento processual do executado seja desleal ou protelatório . 10

Também se discute o cabimento da apreensão da CNH e do passaporte na execução fiscal. A 1ª Turma do STJ
entendeu desproporcional a medida em determinado caso concreto, ressaltando que já havia penhora de 30% dos
vencimentos do executado e, por este morar em uma região de fronteira, a restrição ao direito de locomoção seria
excessiva .
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2.PROTESTO DE DECISÃO JUDICIAL

O CPC/2015 trouxe novos meios típicos de coerção do devedor, sendo o primeiro deles o protesto de decisão judicial,
em seu art. 517. A lei conceitua o protesto como o ato formal e solene pelo qual se prova a inadimplência e o
descumprimento de obrigação originada em títulos e outros documentos de dívida (art. 1º da Lei nº 9.492/1997).
Cuida-se de conceito omisso, pois não abrange, v. g., a falta de aceite, que não é o descumprimento de nenhuma
obrigação, mas direito do sacado. O protesto, na realidade, tem por objetivo constituir prova de um fato jurídico que
tenha repercussão na obrigação subjacente ao título.
A finalidade original do protesto era a de conferir publicidade em relação a todos os envolvidos na relação cambial
(endossantes, avalistas, sacador etc.) quanto a fatos que interfiram na eficácia do título. A doutrina divide o protesto
em: (i) necessário, que deve ser feito no prazo, como condição para a exigibilidade do título em face de determinados
sujeitos da obrigação cambial (v. g., na letra de câmbio, o sacador, os endossantes e seus avalistas); e (ii) facultativo,
hipótese na qual a cobrança judicial independe do protesto e, por isso, não se sujeita a prazo (v. g., na letra de câmbio,
o aceitante e seus avalistas). Na prática, contudo, o protesto se tornou um instrumento extrajudicial de cobrança,
funcionando como índice de pontualidade do devedor. Dessa forma, o protesto assumiu a função de meio de coerção
para que o devedor cumpra a obrigação.
O CPC/2015 prevê possibilidade, e não obrigatoriedade, de protesto de qualquer decisão judicial, desde
que transitada em julgado (art. 517). A efetivação do protesto incumbe ao exequente, que requererá ao juízo certidão
de teor da decisão que será protestada (art. 517, § 1º). Por esse motivo, em regra, não pode ser determinado o
protesto de ofício pelo juiz. A exceção fica por conta do cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de
obrigação de prestar alimentos (art. 528, §§ 1º e 3º, do CPC/2015) – apesar da pouca clareza do texto legal, nesse caso
o protesto fica a cargo do juiz (“o juiz mandará protestar o pronunciamento judicial”), que deverá encaminhar ofício
diretamente ao cartório competente.
A referida certidão pode ser requerida após o decurso do prazo para pagamento voluntário (art. 517, § 2º, do
CPC/2015) e deve ser fornecida pelo juízo no prazo de 3 dias. O executado pode requerer a anotação de eventual ação
rescisória proposta à margem do “título protestado”, a suas expensas e sob sua responsabilidade (art. 517, § 3º). Não se
esclarece se o requerimento deve ser dirigido ao juízo ou ao cartório extrajudicial. Parece-nos que o executado pode
fazê-lo diretamente ao cartório, devendo o exequente propor a demanda judicial cabível, se for o caso.
Quanto ao cancelamento do protesto, dispõe o Código de 2015 (art. 517, § 4º): (i) ser necessária determinação judicial,
por ofício, ao cartório; (ii) o juiz deve constatar a satisfação integral da obrigação; e (iii) o ofício deve ser expedido no
prazo de 3 dias a contar do protocolo do requerimento pelo executado. Tendo em vista que esse prazo é muito exíguo,
deve ser interpretado como impróprio.

3.INCLUSÃO DO NOME DO EXECUTADO EM CADASTRO DE INADIMPLENTES

Dentre os novos meios típicos de coerção do devedor, figura a possibilidade de inclusão do nome do executado em
cadastro de inadimplentes (art. 782, §§ 3º e 4º, do CPC/2015). Apesar de inserida no título “da execução em geral”,
aplica-se a regra ao cumprimento de sentença (art. 782, § 5º, do CPC/2015). A intenção da medida é constranger o
executado a satisfazer o débito, sob pena de ver restringido o seu crédito no mercado.
Essa medida carece do requerimento da parte, bem como, tratando-se de título executivo judicial, a inscrição só é
possível se a execução for “definitiva” (art. 782, § 5º, do CPC/2015), ou seja, exige-se trânsito em julgado. O
CPC/2015 prevê o cancelamento “imediato” da inscrição se houver: (i) pagamento; (ii) garantia da execução; ou (iii)
extinção da execução por qualquer motivo (art. 782, § 4 º, do CPC/2015). O texto é pouco claro, mas nos parece que o
cancelamento deve ser determinado pelo juiz. Afinal, o juiz determina a inclusão e é o único que pode definir se a
execução está garantida ou satisfeita.

IX
A TUTELA JURISDICIONAL DAS OBRIGAÇÕES DE FAZER E NÃO FAZER

1.O CUMPRIMENTO DAS SENTENÇAS DE OBRIGAÇÕES DE FAZER E NÃO FAZER

1.1Generalidades

As obrigações de fazer e de não fazer, quando descumpridas, desafiam uma modalidade especial de “cumprimento”.
Nas execuções antecedentes, o signo da responsabilidade patrimonial é constante, porque numa e noutra cuida-se de
apreender bens determinados ou indeterminados do patrimônio do devedor para a satisfação do credor-exequente. Os
meios executivos incidem sobre o patrimônio do devedor. No cumprimento das obrigações de fazer e não fazer, o que
se pretende não é uma coisa ou quantia, senão uma atividade do devedor que pode consistir numa atividade ou numa
abstenção. Assim é que pode o devedor, por força de título executivo, obrigar-se a realizar uma obra, prestar um
serviço, em sendo artista, comprometer-se a não se apresentar noutra emissora em razão de exclusividade, não
construir em determinada área, ou não divulgar um segredo industrial. O descumprimento dessas obrigações implica
utilizar-se um sucedâneo processual que possa conferir à parte a mesma atividade devida ou o mesmo resultado da
abstenção imposta.
Nessa modalidade de cumprimento por execução da sentença, como intuitivo, assume maior relevo a colaboração do
devedor, diferentemente do que ocorre nas demais formas de obrigação. Nesta, como a atividade que se pretende deve
ser prestada pelo devedor, os meios de sub-rogação têm um alcance menor, assumindo relevo os meios de coerção. A
razão é simples: há obrigações cujas prestações podem ser satisfeitas por outrem que não o devedor, porque o que
objetiva o credor é o “resultado” advindo do adimplemento. Essas são as denominadas “obrigações com prestação
fungível” ou “subjetivamente fungíveis”, porque podem ser cumpridas por outrem que não o devedor, alcançando-se o
mesmo resultado pretendido. Nestas, o processo pode valer-se de meios de sub-rogação, consistentes na realização da
prestação por terceiro “às expensas do devedor”, vale dizer: o obrigado paga ao credor as despesas que este
desembolsar em face do terceiro para este cumprir a prestação fungível inadimplida. Em consequência, a “obrigação
primária de fazer transmuda-se em obrigação secundária de pagar o equivalente ao descumprimento”.
Quando a obrigação é de fazer, daquelas que ao credor somente interessa o cumprimento pelo próprio devedor,
porque contraída intuitu personae, isto é, em razão das qualidades pessoais do obrigado e não em função pura e
simplesmente do resultado, diz-se “subjetivamente infungível”. Nesta hipótese, advindo o inadimplemento,  é
impossível a utilização de meios de sub-rogação para alcançar o mesmo resultado, porque “o atuar do solvens é
insubstituível”. Nesse caso, se o credor não se contentar em receber de imediato o “equivalente” em perdas e danos,
terá de aguardar a atuação do devedor. Visando a compeli-lo à prestação, entram em cena os meios de coerção,  in
casu, a multa diária ou astreintes, de origem francesa, e que surgiram exatamente para vencer essa recalcitrância do
devedor, substituindo as perdas e danos,  nas denominadas obrigações com prestação infungível. Nada obstante, o art.
1

536, § 1º, do CPC/2015 admite sejam determinadas quaisquer medidas necessárias à satisfação do exequente,
incluindo não apenas as astreintes, mas também, por exemplo, a busca e apreensão, a remoção de pessoas e coisas, o
desfazimento de obras e o impedimento de atividade nociva, podendo, caso necessário, requisitar o auxílio de força
policial.
O domínio do processo pelo princípio da efetividade reafirmou o dogma de que, através da jurisdição, o Estado deve
dar à parte a utilidade que ela obteria se não tivesse ocorrido o inadimplemento da obrigação. A satisfação deve ser a
mesma que o devedor obteria com a atividade devida. A essa correspondência entre o descumprimento e a
satisfação pelo processo denomina-se tutela jurisdicional específica. 2

A necessidade de colaboração do devedor para atingir-se a prestação específica impôs a criação desse meio de
coerção consistente na multa diária, cuja desvinculação com o valor da obrigação principal revela sua capacidade de
persuasão. No transcurso de sua história, desde a sua instituição como meio de minimizar os efeitos do
inadimplemento até os dias de hoje, quando a multa é entrevista como modo profícuo de alcançar-se a efetividade do
processo, a sanção diária passou por várias orientações, desde a impossibilidade de exigi-la na execução sem prévia
condenação, até a fisionomia moderna em que, em prol da especificidade da tutela jurisdicional, admite-se não só a
fixação na execução, como, também, uma severa intromissão do juiz no domínio da vontade das partes, majorando-a
ou reduzindo-a, na sua cominação, toda vez que se revelar excessiva ou inoperante (art. 537, § 1º, do CPC/2015).
Ademais, o juiz pode fixar data a partir da qual incidirá a multa.
As obrigações de não fazer apresentam algumas peculiaridades. Em regra, a obrigação negativa, quando descumprida,
acarreta um prejuízo reparável pelas perdas e danos. Por outro lado, há obrigações de não fazer que, uma vez
descumpridas, admitem o desfazimento, como a obrigação consequente ao descumprimento do veto que pode ser
engendrado pelo próprio obrigado ou por terceiro. Nesse sentido, diz-se que o descumprimento de uma obrigação de
não fazer gera uma obrigação secundária consistente em “desfazer” o que foi feito em contravenção ao veto, o que, em
última análise, se resume numa obrigação de “fazer”. A esse desfazer, aplicam-se o regime jurídico e o procedimento
das obrigações de fazer em geral.
Destarte, há obrigações negativas que, uma vez descumpridas, inadmitem o desfazimento. São as “obrigações
instantâneas” em que o descumprimento da abstenção gera uma situação irreversível de “inadimplemento absoluto”. É
o exemplo da divulgação de segredo industrial ou da exibição proibida do artista em emissora concorrente. Este
inadimplemento acarreta, inexoravelmente, a obrigação de pagamento das perdas e danos.
Aplicam-se ao cumprimento de sentença para a entrega de coisa as disposições relativas ao cumprimento de obrigação
de fazer ou não fazer, com a única peculiaridade de ocorrer a expedição de mandado de busca e apreensão ou de
imissão na posse em favor do credor (art. 538, § 3º, do CPC/2015).

1.2Procedimento

Com o advento do art. 461 do CPC de 1973, introduzido pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994, extinguiu-se o processo
autônomo para a execução das obrigações de fazer e não fazer, uma vez que a condenação nessas prestações passou a
ser considerada autoexecutável, quando oriundas de sentença, isto é, realizável na própria relação processual donde
proveio o comando condenatório. Em consequência, deixou de existir um processo executivo desconcentrado para o
cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação de fazer ou não fazer, podendo a parte
promover simpliciter et de plano a satisfação do julgado como fase subsequente à cognição.
O CPC de 2015 manteve essa sistemática, esclarecendo, no seu art. 536, que o rito sincrético de cumprimento de
sentença que reconheça a exigibilidade dessas obrigações pode ser instaurado de ofício ou a requerimento do
interessado. Nos termos do art. 497 do CPC/2015, na ação que tenha por objeto a prestação de fazer ou de não fazer, o
juiz, se procedente o pedido, concederá a tutela específica ou determinará providências que assegurem a obtenção de
tutela pelo resultado prático equivalente.
Aqui, é oportuno diferenciar as chamadas prestações fungíveis das infungíveis. A prestação fungível é aquela
realizável por terceiro que não o devedor. Já a infungível é a prestação que somente o executado pode cumprir,
inadmitindo meios de sub-rogação. Assim, v.g., se o devedor se comprometeu a transportar pessoas ou bens ou a
realizar determinado serviço de limpeza, a execução desta obrigação, em tese, admitiria, como meio de sub-rogação,
que o serviço seja prestado por terceiro às custas do devedor. Diversamente, a prestação infungível é impossível de ser
implementada por outrem que não o próprio devedor, porquanto, ao engendrar-se o vínculo consideram-se as
condições do próprio obrigado (intuitu personae) – como, v.g., a realização de conserto em concessionária exclusiva
de automóveis, o recital de um artista ou a pintura de um quadro. Dessa maneira, ainda que o credor assim o deseje,
não seria possível escolher um terceiro para realizar a prestação.
Nada obstante o princípio da menor onerosidade da execução para o devedor (art. 805 do CPC/2015), é certo que o
credor tem direito à performance da prestação tal como avençada. Por isso, a redação do art. 497 do CPC/2015 deixa
claro que o magistrado deve determinar a tutela específica da obrigação, constrangendo o devedor ao cumprimento da
exata obrigação devida, seja prestação fungível ou infungível. Por isso, deve ser interpretado cum grano salis o art.
821, parágrafo único, do CPC/2015, segundo o qual, havendo recusa ou mora do executado, sua obrigação pessoal será
convertida em perdas e danos, caso em que se observará o procedimento de execução por quantia certa. Na realidade, a
recusa ou mora do executado não é suficiente para a conversão em perdas e danos, sendo também necessário que os
meios de coerção, como as astreintes, sejam absolutamente ineficazes – ou que o credor assim o requeira.
Obviamente, o credor pode dispor do seu direito à tutela específica e solicitar a conversão da obrigação em perdas e
danos. Nessa linha, o art. 499 do CPC/2015 esclarece que a “obrigação somente será convertida em perdas e danos se
o autor o requerer ou se impossível a tutela específica ou a obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente”.
Mesmo em casos que tais, a “indenização por perdas e danos dar-se-á sem prejuízo da multa fixada periodicamente
para compelir o réu ao cumprimento específico da obrigação” (art. 500 do CPC/2015).
Assim, transitada em julgado a sentença e transcorrido o prazo fixado na sentença para satisfazer a obrigação de fazer
ou não fazer, deverá o juiz determinar, a menos que o credor se oponha, quaisquer medidas necessárias à satisfação do
exequente. O legislador elencou, exemplificativamente, algumas dessas medidas, a saber: a imposição de multa, a
busca e apreensão, a remoção de pessoas e coisas, o desfazimento de obras e o impedimento de atividade nociva –
podendo, caso necessário, requisitar o auxílio de força policial para a efetivação da ordem.
Se a tutela específica for impossível ou se dela abrir mão o credor, tem lugar a tutela ressarcitória, ainda que não tenha
ocorrido pedido expresso nesse sentido na fase de cognição. Seguir-se-á, nessas hipóteses, a liquidação do valor
devido a título de perdas e danos (art. 509 do CPC/2015) e, posteriormente, o cumprimento de sentença para a
satisfação de obrigação de pagar (art. 523 e seguintes do CPC/2015). Aplica-se, aqui, a norma do art. 816, parágrafo
único, do CPC/2015: “O valor das perdas e danos será apurado em liquidação, seguindo-se a execução para cobrança
de quantia certa”.
O credor, preferindo o cumprimento por terceiro às custas do devedor, impõe-se aplicar subsidiariamente as regras da
execução extrajudicial das obrigações de fazer e não fazer quanto ao modus operandi, nos termos do art. 817 do
CPC/2015. Essa alternativa depende de requerimento do exequente, que deverá adiantar o valor necessário ao custeio
da prestação por terceiro – o qual será recobrado por cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de
obrigação de pagar. O Código não estabelece um número mínimo de propostas (v. g., orçamentos de um serviço),
podendo o juiz aprovar a que lhe parecer adequada, ouvidas as partes (art. 817, parágrafo único, do CPC/2015). Então,
o terceiro que proceder à substituição do devedor na obrigação de fazer deve formalizar o modus faciendi em proposta
submetida ao contraditório, a qual pode ser aprovada ou rejeitada por decisão do juiz sujeita a agravo de instrumento
(art. 1.015, parágrafo único, do CPC/2015). É possível que, desaprovada a proposta, outra seja ofertada, submetendo-
se ao mesmo rito acima descrito.
Deveras, a impugnação da proposta mediante recurso deve ser analisada sob o ângulo da economicidade para o
devedor e da eficiência e satisfação para o credor. Outrossim, à luz do caso concreto pode fazer-se mister a concessão
de efeito suspensivo ao agravo para sustar a eficácia de proposta sobremodo onerosa.
É certo, repise-se, que o accipiens não deve ser instado a receber coisa diversa da pactuada, em nome da
especificidade da execução. Nessa linha, uma vez ultrapassado o prazo estabelecido no título executivo judicial para o
cumprimento voluntário da obrigação de fazer, via de regra deverá o juiz, de ofício ou a requerimento, fixar multa
como fórmula para compelir o obrigado. Essa multa, cujo valor é devido ao exequente (art. 537, § 2º, do CPC/2015),
não necessariamente será diária, podendo incidir de uma só vez ou assumir outra periodicidade qualquer. A regra,
contudo, é a de que a multa será devida desde o dia em que se configurar o descumprimento da decisão e incidirá
enquanto não for cumprida a decisão que a tiver cominado (art. 537, § 4º, do CPC/2015). 3

Resumidamente, pode-se concluir que, se o devedor, após o trânsito da decisão não realizar a prestação no prazo que o
juiz lhe assinar, quatro alternativas se abrem em leque para o vencedor: a) buscar a tutela específica ou o resultado
equivalente, mediante a fixação judicial de medidas coercitivas; b) escolhe um terceiro para fazer, às expensas do
devedor; c) o próprio credor a realiza, exercendo a sua opção no prazo dos arts. 819 e 820 do CPC/2015;  ou d) 4

converte a obrigação em perdas e danos e inicia, pelo seu valor correspondente, cumprimento por quantia certa.
A opção de realização por terceiro somente existe quando há fungibilidade da prestação e somente deve ser eleita pelo
credor ao observar a suficiência patrimonial do devedor, haja vista que adiantará as importâncias para recobrá-las
depois. Caso o devedor seja insolvável, nenhuma vantagem terá com essa forma de sub-rogação. Admite-se que o
credor possa penhorar bens do devedor para garantir o custo da obra, como ocorre, v.g., no direito português.
As obrigações com prestação infungível seguem rito variável, conforme a alternativa escolhida pelo credor. Assim é
que, se o devedor cumpre a obrigação, extingue-se o processo. Caso o executado ofereça impugnação e seja conferido
efeito suspensivo pelo juiz, o cumprimento de sentença somente retoma a sua marcha com a improcedência da
impugnação (arts. 525, § 6º, e 536, § 4º, do CPC/2015). Acaso seguida a regra da não suspensividade, prossegue-se o
cumprimento da obrigação de fazer ou não fazer, com ou sem a colaboração do devedor.
Outrossim, se o devedor não cumprir a obrigação no prazo, o credor pode aguardar o cumprimento enquanto incide a
multa coercitiva, hipótese em que, periodicamente, pode calculá-la e iniciar cumprimento provisório de sentença por
quantia certa de seu montante, caso em que o levantamento do valor só será admitido após o trânsito em julgado da
sentença favorável à parte (art. 537, § 3º, do CPC/2015). Alternativamente, o credor pode pleitear a conversão em
perdas e danos, e, por esse valor, também promover a liquidação e cumprimento de sentença para haver tanto as
perdas e danos quanto o valor da multa já vencida (arts. 499 e 500 do CPC/2015).
As obrigações de não fazer, consistentes em deveres de abstenção, também revelam diversidade procedimental,
consoante a transgressão possa ser desfeita ou não; isto é, consoante sejam permanentes ou instantâneas.  As 5

primeiras, também denominadas contínuas, admitem que o autor peça que cesse a violação sem prejuízo do
desfazimento do que já foi feito. As segundas só admitem reparação pecuniária em perdas e danos.
Nas obrigações de não fazer permanentes, v.g., de não construir, se o devedor pratica o ato a cuja abstenção impôs-lhe
a sentença, o exequente-vencedor pode requerer ao juiz que lhe assine prazo para desfazê-la. Havendo recusa ou mora
do devedor, o credor pode requerer ao juiz que mande desfazer o ato à sua custa, respondendo o devedor pelo valor do
desfazimento e por perdas e danos, quantias essas que devem ser liquidadas e satisfeitas mediante cumprimento de
condenação por quantia certa. Entretanto, não sendo possível desfazer-se o ato, a obrigação “resolve-se” em perdas e
danos (art. 823 do CPC/2015). 6

Não se pode olvidar que o meio de coerção consistente na multa coercitiva revela notável capacidade para vencer a
resistência do devedor em desfazer o que foi feito, em transgressão ao dever negativo assumido em título executivo
judicial ou extrajudicial. Portanto, nada impede que também quanto à obrigação de não fazer seja fixada multa para o
caso de descumprimento.
Caso o devedor não cumpra a obrigação, o juiz pode utilizar-se das providências do § 1º do art. 536 do CPC/2015 e ao
credor é lícito: a) optar por desfazer por terceiro às custas do devedor, hipótese em que se segue a regra do
cumprimento da obrigação por quantia certa (art. 823, caput, do CPC/2015); b) aguardar o desfazimento sob a pressão
exercida pela incidência da multa diária até o efetivo desfazimento; ou, finalmente, c) requerer a conversão da
obrigação em perdas e danos, executando-se por quantia certa (art. 823, parágrafo único, do CPC/2015). Advirta-se
que a multa não se limita pelo valor da obrigação principal, obtemperando-se os rigores com a percepção lógica de que
o meio executivo deve conduzir ao cumprimento da obrigação e não o inviabilizar, pela bancarrota patrimonial do
devedor.  Assim é que o art. 537, caput, do CPC/2015 exige que a multa seja compatível com a obrigação.
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Por fim, muito embora as obrigações instantâneas só admitam a reparação em perdas e danos quando transgredidas, é
possível ao autor obter a tutela específica, promovendo ação preventiva na qual o juízo imponha uma “inibição”, sob
forte ameaça. Nesse caso, a tutela inibitória deve vir acompanhada de uma expressiva multa para o caso de
transgressão, tema que trataremos no item seguinte.
A regra atual do art. 536, § 1º, do CPC/2015 revela que o juiz pode fazer acompanhar a sua tutela preventiva de
medidas de apoio aptas a tornar efetiva a interdição da atividade objeto da decisão inibitória.  Desta sorte, condenado o
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devedor a não fazer, caso transgrida o preceito e não logre o juiz, através das medidas de apoio, conferir a tutela
específica, somente restará ao credor cobrar as multas vencidas e as perdas e danos.  Outrossim, a transgressão da
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ordem de cumprimento de obrigação de fazer encerra litigância de má-fé e responsabilização por crime de
desobediência, podendo o juiz, para evitá-la, valer-se de auxílio de força policial, consoante os §§ 1º e 3º do art. 536
do CPC/2015.

1.3As astreintes e a impugnação

O mencionado art. 536 indica que o cumprimento da sentença que reconheça a obrigação de fazer é autoexecutável,
pois o magistrado deve adotar de ofício as providências constantes do parágrafo primeiro do dispositivo. Destarte, no
afã de conceder a tutela específica, amplos são os poderes do juiz, que só deve recorrer às  astreintes  em sendo
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impossível, desde logo, conceder a utilidade esperada pelo vencedor, denominada de “resultado prático equivalente”.
Para esse fim, além de autoexecutável, o § 1º do art. 536 torna a decisão também mandamental, pois o seu
cumprimento ocorrerá no âmbito do mesmo processo em que houve a atividade cognitiva.
O valor das astreintes será devido ao exequente, nos termos do art. 537, § 2º, do CPC/2015. O anteprojeto do novo
Código previa que o valor da multa iria para o autor somente até o valor da sua obrigação e o excedente iria para o
Estado, mas essa regra não foi acolhida na tramitação legislativa.
A multa coercitiva pode ser fixada na sentença e incide após o prazo razoável fixado para o cumprimento do preceito –
cuida-se, aliás, de providência que o juiz pode adotar também quanto à tutela provisória. Mesmo que a sentença seja
omissa, esclarece o art. 537, caput, do CPC/2015 que a multa poderá ser fixada na fase de cumprimento de sentença.
Indaga-se quanto ao termo a quo da incidência da multa no cumprimento da sentença que reconheça a exigibilidade da
obrigação de fazer ou não fazer. Sob esse ângulo, a Lei não é clara, subordinando a sua incidência tão somente ao
esgotamento de “prazo razoável para cumprimento do preceito” determinado na fase de conhecimento (art. 537,  caput,
in fine, do CPC/2015). Porém, é preciso estabelecer qual o termo inicial desse prazo “razoável”.
Sobre o ponto, o Código de 2015 prevê expressamente a necessidade de intimação do devedor para cumprir a
sentença, seja qual for o tipo de obrigação (art. 513, §§ 2º a 4º). Em contrapartida, o legislador não positivou o teor da
súmula nº 410 do STJ, que assim dispõe: “A prévia intimação pessoal do devedor constitui condição necessária para a
cobrança de multa pelo descumprimento de obrigação de fazer ou não fazer”. Houve debate sobre a subsistência da
referida súmula com a vigência do novo Código: afinal, o prazo para o cumprimento da prestação de fazer ou não
fazer, ao cabo do qual incidirá a multa coercitiva, somente se inicia com a intimação pessoal do devedor? A Corte
Especial do Superior Tribunal de Justiça respondeu positivamente a essa indagação. De acordo com a Corte,
permanece necessária a intimação pessoal do devedor para cumprimento das obrigações de fazer e não fazer,
mantendo-se íntegra a súmula 410 do STJ . 11

Insta esclarecer que, se a sentença tiver a sua eficácia suspensa pela admissão de recurso dotado de efeito suspensivo,
apenas com o julgamento do recurso é que ocorrerá a intimação para iniciar a fluência da multa, sendo certo que os
recursos para os Tribunais Superiores normalmente não detêm essa eficácia, salvante a concessão de efeito
suspensivo ope judicis (concedido pelo relator ou Tribunal). O mesmo raciocínio se aplica à tutela provisória objeto de
agravo, que via de regra não possui efeito suspensivo .Consequentemente, é possível o cumprimento provisório
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da sentença ou da tutela provisória objeto de recurso não dotado de efeito suspensivo, mesmo nos casos em que
reconheça obrigação de fazer, de não fazer ou de dar coisa. Não se deve esquecer que o cumprimento provisório da
prestação de fazer, não fazer ou entregar coisa que envolver transferência de posse ou alienação de propriedade ou de
outro direito real, ou atos dos quais possa resultar grave dano ao executado, depende, como regra, de caução suficiente
e idônea (art. 520, IV, do CPC/2015). O exequente responde pelos prejuízos que o cumprimento provisório causar ao
executado nas hipóteses do art. 302 do CPC/2015, dentre as quais figura a cessação da eficácia da medida em qualquer
hipótese legal.
Sobressai evidente, assim, que, cassada a liminar ou reformada a sentença em decisão de improcedência e sempre de
caráter declaratório negativo, o seu efeito é ex tunc, isto é, revoga-se o que foi concedido. Aliás, não é por outra razão
que a execução provisória corre por conta e risco do exequente, e essa forma de execução é a que se procede quando a
sentença está sob a instabilidade gerada pelo recurso ou a tutela no aguardo de ser confirmada pela sentença final.
Desta sorte, reformada que seja a tutela ou a sentença, as coisas devem retornar ao estado anterior, liquidando-se nos
próprios autos tudo quanto o beneficiário do provimento provisório recebeu, sob pena de enriquecimento injusto
chancelado pelo Judiciário.
Outra novidade do CPC de 2015 é a previsão, em seu art. 537, § 3º, no sentido de ser passível de cumprimento
provisório a decisão que fixa a multa coercitiva (astreintes). Fica superada, assim, a orientação da Corte Especial do
STJ no sentido de que a “multa diária prevista no § 4º do art. 461 do CPC [de 1973], devida desde o dia em que
configurado o descumprimento, quando fixada em antecipação de tutela, somente poderá ser objeto de execução
provisória após a sua confirmação pela sentença de mérito e desde que o recurso eventualmente interposto não seja
recebido com efeito suspensivo” (REsp 1200856/RS, Rel. Min. SIDNEI BENETI, CORTE ESPECIAL, j.
01.07.2014, DJe 17.09.2014). De acordo com o novo regime, no cumprimento provisório, o valor da multa deve ser
depositado em juízo, sendo o levantamento possível apenas após o trânsito em julgado. O texto original do CPC/2015
permitia levantamento na pendência de ARE ou AREsp, mas a Lei nº 13.256/2016 suprimiu essa possibilidade.
Justamente por serem passíveis de cumprimento provisório, o art. 537, § 1º, do CPC/2015 dispõe que
as astreintes podem ter o seu valor ou periodicidade modificados, ou até mesmo ser excluídas pelo Juiz, mas tão
somente com relação às multas vincendas. Fica, assim, superada a orientação do STJ no sentido de que o “valor da
multa cominatória não faz coisa julgada material, podendo ser revisto, a qualquer momento, caso se revele insuficiente
ou excessivo (CPC, art. 461, § 6º)”.  Quanto às multas já vencidas, não é possível modificação ou exclusão, porquanto
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se tornam direito adquirido do exequente. No que tange às multas vincendas, a modificação ou exclusão será possível
quando: (i) a multa se tornou insuficiente ou excessiva; ou (ii) o obrigado demonstrou cumprimento parcial
superveniente da obrigação ou justa causa para o descumprimento. Esta segunda hipótese é novidade do CPC/2015.
O art. 537, § 4º, do CPC/2015 dispõe que a “multa será devida desde o dia em que se configurar o descumprimento da
decisão e incidirá enquanto não for cumprida a decisão que a tiver cominado”. Alguns autores têm interpretado esse
dispositivo no sentido de que o Juiz não pode limitar o valor da multa ex ante (v. g., estabelecendo uma multa de mil
reais por dia, limitada a um teto de cinquenta mil). Discorda-se desse entendimento, pois o art. 536, § 1º, do CPC/2015
não exige que a multa seja diária, nem periódica, podendo consistir em multa única. Sendo assim, não há sentido em
proibir sua limitação. A finalidade do art. 537, § 4º, do CPC/2015 é apenas dar certeza quanto aos termos inicial e final
de incidência das astreintes quando a decisão que fixar multa periódica for omissa quanto ao período de incidência.
Quanto aos meios de defesa do executado no cumprimento de sentença que envolve prestação de fazer, o art. 536, § 4º,
do CPC/2015 determina a aplicação, no que couber, do regime de impugnação ao cumprimento de sentença que
reconheça a exigibilidade de obrigação de pagar. Assim, o executado poderá alegar em sua impugnação, nos termos do
art. 525, § 1º, do CPC/2015, a falta ou nulidade da citação se, na fase de conhecimento, o processo correu à revelia; a
ilegitimidade de parte; a inexequibilidade do título ou inexigibilidade da obrigação; o excesso de execução ou
cumulação indevida de execuções; a incompetência absoluta ou relativa do juízo da execução; ou qualquer causa
modificativa ou extintiva da obrigação, como pagamento, novação, compensação, transação ou prescrição, desde que
supervenientes à sentença.
Todavia, o legislador não esclareceu qual o termo a quo do prazo de 15 (quinze) dias para que o executado apresente,
nos próprios autos, sua impugnação ao cumprimento de sentença que envolve prestação de fazer. A melhor
interpretação é a de que o prazo para impugnação somente passe a contar quando transcorrido  in albis o prazo
determinado judicialmente para o cumprimento voluntário da obrigação.

2.TUTELA INIBITÓRIA (OBRIGAÇÕES NEGATIVAS)

2.1Tutela jurisdicional de direitos

A alusão a uma tutela inibitória não induz à ideia de uma forma de prestação por si só, senão a uma espécie de tutela
necessária a determinadas pretensões para as quais não são adequadas as formas tradicionais de resposta judicial. É
que há direitos que necessitam de uma forma especial de intervenção do Estado-juiz. Assim, v.g., se a parte presume
com dados objetivos a possibilidade da prática de concorrência desleal, faz-se mister uma espécie de defesa judicial
desta expectativa que não se enquadra na moldura das tutelas de declaração, constituição ou condenação, porquanto o
que se pretende é evitar que a lesão ao direito se opere.
O tema suscita, como se pode depreender desde logo, uma adequação da tutela jurisdicional às necessidades práticas
do autor que maneja a ação. Aduz-se, neste passo, à expressão “tutela jurisdicional de direitos” para revelar a premente
intimidade entre o processo e o direito que lhe serve de objeto, concretizando o preceito de que “a todo direito
corresponde uma ação específica que o assegura” numa explicitação infraconstitucional da regra maior de que
“nenhuma lesão ou ameaça a direito escapará à apreciação do Poder Judiciário”. A garantia constitucional do art. 5º,
inciso XXXV, da Constituição Federal encontra o seu correspondente na legislação ordinária, desde o art. 75 do CC
anterior, que realizava a promessa legal da “tutela adequada”.
É que de há muito assentou Chiovenda que “o processo deve dar a quem tem direito tudo aquilo e precisamente aquilo
a que tem o direito de obter”; máxima reiterada modernamente por Vittorio Denti sob outro enfoque, no sentido de que
“la durata del processo non deve andare a danno dell attore che ha ragione”.
A relação imanente entre o direito e o processo, antes de resolver e nulificar a superada doutrina concreta do direito de
agir, revela, apenas, quão prejudicial restou para o processo esse apartheid entre a relação substancial e a forma
processual porquanto a ideologia da ordinariedade, dentre outras causas, acarretou a insuficiência das espécies
tradicionais de prestação jurisdicional, fazendo exsurgir o movimento de busca das tutelas diferenciadas, tão bem
evidenciado por Proto Pisani, através de seus apontamentos sobre a justiça civil, onde peremptoriamente deixou claro
não existir uma única forma de tutela para todas as situações subsumíveis ao crivo jurisdicional.
Este movimento marcou o fim da neutralidade da ciência processual em relação ao direito material carente de
prestação jurisdicional, sob forte inspiração do “princípio da efetividade”, cujo escopo maior é observar a experiência
jurídico-processual sob a ótica da utilidade social do processo, assim compreendido como instrumento que possibilita
conferir-se ao jurisdicionado uma tutela tempestiva e justa.
2.2A crise da tutela condenatória – Ilícito de lesão e ilícito de perigo

A análise da tutela jurisdicional à luz do objeto imediato do pedido ou em confronto com os resultados alcançados não
deixa a menor dúvida de que a tutela repressiva é a resposta judicial voltada para fatos pretéritos e por
isso comprometida, apenas, com o escopo ressarcitório. Por outro lado, a tutela preventiva diz respeito ao futuro e é
mais adequada à defesa de interesses não imediatamente patrimoniais, v.g., a necessidade de se impedir uma lesão aos
direitos imateriais da personalidade.
O legislador constitucional não se preocupou somente com as efetivas lesões aos interesses juridicamente protegidos,
mas também com as “ameaças de lesão a direitos” por isso que, juntamente com a promessa da “inafastabilidade” da
jurisdição, fez acoplar a de que a vedação à autodefesa encontraria no ordenamento remédios capazes de oferecer a
solução “adequada” ao caso concreto.
O legislador maior, ao adicionar ao novel dispositivo a tutela jurisdicional para as hipóteses de “ameaça a direito”,
considerou essa possibilidade por si só “uma lesão” fazendo coro com a moderna doutrina que subdivide o ilícito em
“ilícito de lesão” e “ilícito de perigo”. O primeiro comprometido com a ideia de dano e o segundo com a de
transgressão pura e simples, cobrindo a importante área dos direitos não patrimoniais que, embora compensados
pecuniariamente pós-lesão, contentam-se mais com a prevenção do que com a reparação. Resta evidente, por exemplo,
que a parte prefere que o ordenamento seja munido de instrumentos capazes de impedir a violação de sua privacidade
do que se reembolsar após os danos acarretados com simples tutela ressarcitória, tanto mais que provocam deveres
contínuos que se descumpridos devem cessar, como as violações ao meio ambiente, a difusão de notícias etc. Nessas
hipóteses,não faz sentido relegar o ressarcimento à ultimação das violações, sem prejuízo de considerarmos que a
reparação nesse campo nem sempre é integral, variando o quantum da indenização segundo o princípio da
razoabilidade.
A iniciativa inibitória imediata cumpre o escopo da efetividade da jurisdição com muito mais eficiência que uma
condenação ex post facto.
A esta altura ressalta cristalina a ineficiência da tutela ressarcitória para atingir esse escopo preventivo diante do
mecanismo da execução posterior que se baseia, exatamente, pela inaptidão de a condenação evitar a lesão. A tutela
inibitória, ao revés, reclama pronta atuação apoiada por enérgicas medidas de coerção pessoal ou patrimonial capazes
de convencer o obrigado a adimplir a sua obrigação de não violar, não repetir ou não continuar. Neste particular, é
inocultável a inadaptação das medidas de apoio às sentenças condenatórias de caráter repressivo, iluminadas pela ideia
de que o próprio descumprimento, quando muito, implica a conversibilidade em perdas e danos quando versam sobre
prestações de fazer infungíveis e de não fazer. Não é essa, positivamente, a aspiração da tutela inibitória.

2.3Tutela inibitória – Finalidade – Pressupostos – Fundamentos

A tutela inibitória tem por finalidade impedir a prática de um ilícito futuro, não importando, num primeiro plano, a
eventualidade de ocorrência de dano, mas antes o ato contra o direito. A sua proposta revela, assim, a inibição para que
o ato não ocorra, não prossiga ou não se repita. Enfim, a probabilidade de que um ato venha a ser praticado contra
uma conduta legal sancionada é o bastante para surgir o interesse processual no manejo da tutela de inibição. No
direito italiano, a lei de direito autoral torna clara a possibilidade jurídica da pretensão inibitória a todo aquele “ che ha
ragione di temere una violazione di un diritto” (art. 156 da citada Lei). Assim também se contemplam, em sede
laboral, proibições sob pena de prisão contra atividades antissindicais.
A tutela inibitória cumpre, assim, os postulados da efetividade, posto preventiva, e da especificidade, haja vista
conferir a utilidade esperada acaso não houvesse a ameaça de violação. Evita o ilícito, em vez de propor-lhe a
reparação, garantindo o exercício integral da aspiração do jurisdicionado, rompendo o dogma de que o ressarcimento é
a única forma de tutela contra o ilícito.
Objetivando inibir a prática, a repetição ou a continuação do ilícito, exsurge como pressuposto material da tutela
inibitória o “perigo de que as atividades acima ocorram”. Basta, assim, ao autor  demonstrar a verossimilhança do
perigo de que o ilícito possa ocorrer, se repetir ou continuar para que faça jus à tutela em exame. Nessa linha, dispõe o
art. 497, parágrafo único, do CPC/2015, verbis: “Para a concessão da tutela específica destinada a inibir a prática, a
reiteração ou a continuação de um ilícito, ou a sua remoção, é irrelevante a demonstração da ocorrência de dano ou da
existência de culpa ou dolo.”  14

É evidente, neste passo, que se a inibição é admissível para impedir a repetição e a continuação, imperioso chancelá-la,
primeiramente, para a hipótese em que o ilícito sequer ocorreu. A produção da prova se apresenta mais complexa
quando o ilícito ainda não ocorreu – e se quer evitá-lo – do que nas hipóteses de perigo de repetição ou continuação,
porquanto os antecedentes militam como indícios. A criatividade da doutrina indica que se um comerciante, impedido
de usar determinada marca, encomenda embalagens a outrem, determinando estampar aquela interditada, estará
criando a situação de perigo suficiente ao deferimento da tutela inibitória. Desta sorte, a comprovação da simples
“probabilidade do ilícito de perigo”, isto é, de que o ato contra legem poderá ser praticado, resulta suficiente para o
êxito do demandante à inibição.
Destarte, repita-se, o dano não ingressa na esfera de cogitação da tutela inibitória, razão pela qual, ao autor se requer
a prova do perigo e da antijuridicidade do ato que se quer evitar, pouco importando se da transgressão resultará
prejuízo material ou não. Assim, v.g., se determinado fabricante de produto farmacêutico teme que outro laboratório
coloque no mercado produto com denominação que gerará perplexidade junto aos consumidores, fomentando ilícita
concorrência, tem o direito à tutela inibitória sem necessitar quantificar qualquer prejuízo, senão investir em defesa de
sua propriedade imaterial, comprovando tão somente a titularidade da referida marca.
A inibição contenta-se com a possibilidade de violação in re ipsa, dispensando o autor da comprovação de dolo ou
culpa do demandado, uma vez que é contra a potencialidade de violação que a tutela se dirige e a transgressão, por seu
turno, pode se operar até por má interpretação do direito. Entretanto, não se pode olvidar que o elemento subjetivo é de
relevo para a tutela de “ressarcimento”.
Ao ângulo dos fundamentos constitucionais e infraconstitucionais, em nosso sistema, a tutela inibitória, mercê de se
fundar na garantia constitucional da efetiva e adequada jurisdição, coadjuvada pelo due process of law, encontrou
ressonância infraconstitucional pioneira no Código de Defesa do Consumidor (CDC) que, nos seus arts. 83 e 84,
viabiliza a inibição antecipatória ou final acompanhada de medida de apoio consistente na “multa diária”.
No direito alienígena, a tutela inibitória é encontrada como espécie incidente a determinados direitos, v.g., na
interdição à concorrência desleal no direito italiano e admitida como tutela atípica decorrente do princípio da tutela
adequada e do poder geral de prevenção do juiz.
Destarte, o art. 497 do CPC brasileiro de 2015 se mostra servil à inibição, não exigindo, para a sua aplicação, o prévio
descumprimento da sentença e, portanto, a consumação da lesão após a transgressão da exortação de inibição
constante da decisão. A tutela inibitória também será efetivada pela concessão da tutela específica ou mediante
providências que assegurem a obtenção de tutela pelo resultado prático equivalente.
2.4Classificação da tutela inibitória

A tutela inibitória também pode ocorrer em sede de tutela provisória, ou seja, baseada em cognição não exauriente.
Nessa linha, a tutela inibitória pode possuir cunho satisfativo, dirigindo-se diretamente à prevenção de um ilícito e
adiantando o resultado prático do provimento final, ou pode ter caráter cautelar, visando a impor a interdição de uma
atividade com o fim de preservar a utilidade prática do próprio processo. Assim, é possível distinguir-se a  tutela
inibitória antecipada da tutela inibitória cautelar. V. g., a interdição cautelar da venda de bens pode visar à
preservação da utilidade de um futuro processo de dissolução de sociedade, ao passo que a inibição de uso de imagem
objetiva proteger o direito correspondente, revelando-se satisfativa.
Por seu turno, a inibição pode ser provisória (antecipada ou cautelar) ou conferida ao final do processo de cognição.
A possibilidade de antecipação dos efeitos práticos do provimento de inibição, tal como concebido pelos arts. 301 e
497, parágrafo único, do CPC/2015, permite a dicotomia em “tutela inibitória provisória” e “tutela inibitória
principal”, encontradiça em nosso matiz italiano.

2.5Pressupostos e características da tutela inibitória antecipada

A inibição é da essência da tutela de urgência porquanto à violação deve corresponder a prevenção.


Aplicam-se, em princípio, à antecipação de tutela inibitória, os mesmos pressupostos materiais e processuais
reclamados para a tutela de urgência em geral, vale dizer, existência de “elementos que evidenciem a probabilidade do
direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil do processo” (art. 300 do CPC/2015).
No que diz respeito à prova, mister repisar-se que os elementos de convicção devem gravitar em torno da
probabilidade da prática do ilícito e da consequente ineficácia do provimento final. Assim, v.g., na tutela inibitória de
divulgação de imagem, o requerente há de demonstrar que, se ocorrente a violação temida, não receberá da justiça a
resposta adequada em face dos desastrosos efeitos da aparição pública, passível de impedimento apenas pela inibição
judicial. É mister comprovar a ilicitude da divulgação da imagem e a inoperância do provimento final porquanto
exsurgente após a transgressão.
Forçoso reconhecer deveras árdua a missão do juiz na concessão da tutela inibitória que, de ordinário, estabelece um
confronto entre dois interesses relevantes, como, v. g., o direito à informação e o direito à privacidade ou à imagem. O
juiz, nesses casos, guiado pela regra da proporcionalidade tão bem versada por Karl Larenz, deve optar pela solução
mais justa, atento à advertência poética de Fernando Pessoa de que: “Não se pode servir à sua época e a todas as
épocas ao mesmo tempo”.
Como bem ressaltou em magnífica sede doutrinária, não se pode categorizar como tutela de inibição aquela que se
limita a ordenar uma abstenção sem atuação imediata através de medidas de apoio. Desta sorte, a decisão inibitória,
quer antecipada quer final, deve ser de execução completa e imediata, dotada de inseparável mandamentalidade. Essa
atuação varia conforme a tutela inibitória seja “preventiva ou continuativa”.
A tutela inibitória pode servir à não realização de uma atividade ilícita ainda não ocorrente ou impedir a sua repetição
ou continuação. Nas duas primeiras hipóteses, a interdição deve ser suficientemente persuasória para impedir a prática
ou a reincidência. Em consequência, deve estar acompanhada de medidas de apoio que objetivam fazer entrar em cena
os meios coercitivos. Assim, v.g., se o Estado puder antecipar-se e retirar de circulação os produtos infratores do
direito de exclusividade de fabrico de outrem, deverá fazê-lo, em vez da intimidação de incidência de multa diária,
enquanto não posto aquele fora do comércio.
Ocorrente a violação, mister a execução da inibição mediante a atuação de um desfazer mandamental. Na tutela
inibitória continuativa, vale dizer, aquela voltada a impedir a continuação, sem prejuízo do restabelecimento do
estado anterior, a mesma técnica deve ser utilizada tanto para recompor como para fazer cessar, incidindo a coerção no
malogro dos meios de sub-rogação.
Isso significa que o Estado deve utilizar-se de todos os meios necessários à consecução do resultado específico,
valendo-se apenas dos meios de coerção caso se frustrem os meios de sub-rogação. Nos casos-limite, em que a
infungibilidade da conduta permita ao devedor a invocação do nemo potest cogit ad factum, frustrando sobremodo as
expectativas da parte e da justiça, é forçoso sopesar acerca da penalização no processo civil, entrevendo no
descumprimento um atentado à justiça passível de coerção pessoal, como único meio capaz de resgatar o prestígio do
Poder Judiciário, diferente daquele idealizado por Montesquieu, que preferia ao juiz dotado de imperium judiciis um
magistrado a quem limitadamente se conferisse a função de ser apenas “la bouche de la loi”.

3.O CUMPRIMENTO JUDICIAL DAS OBRIGAÇÕES DE PRESTAR DECLARAÇÃO DE VONTADE

A emissão da vontade pode figurar como objeto de uma obrigação, máxime quando dela depende a concretização de
negócios jurídicos. Assim, v.g., se alguém promete concluir um contrato e não o faz, resta àquele que depende da
vontade omitida ingressar em juízo e pleitear uma providência capaz de produzir os mesmos efeitos da vontade
sonegada.
Atendendo a esta exigência, dispõe a lei que, verbis: “Na ação que tenha por objeto a emissão de declaração de
vontade, a sentença que julgar procedente o pedido, uma vez transitada em julgado, produzirá todos os efeitos da
declaração não emitida” (art. 501 do CPC/2015).  A razão do dispositivo está intimamente vinculada ao escopo da
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execução, que consiste em dar à parte a plena satisfação do seu direito, tal como obteria se o devedor tivesse cumprido
a obrigação. Nessa modalidade de cumprimento, tudo se passa como sub-rogação, em que o juiz aliena o bem do
devedor sem consultá-lo e penhora seus bens sem o seu consenso. Aqui, por sua vez, o Juiz supre a vontade do
obrigado diante de sua ilegítima resistência, através da sentença à qual se confere o mesmo efeito que aquela
declaração volitiva produziria. A sentença conclui o negócio jurídico, sem acrescer-lhe obrigações, produzindo-se os
efeitos jurídicos que se produziriam, caso concretizado voluntariamente o negócio. As novas obrigações decorrentes
da conclusão do contrato, e que a parte pretende exigir, posteriormente, deve pleiteá-las em pedido sucessivo
cumulado. Consequentemente, acolhido o primeiro pleito de conclusão do negócio, passa-se ao segundo sobre a
condenação nas obrigações emergentes. Assim, v.g., se a parte comprometeu-se a concluir o de transferência do
domínio e não o fez, o autor pode pedir a conclusão do contrato e a condenação ao pagamento de todos os aluguéis
recebidos pelo devedor no período em que deveria ter formalizado o negócio prometido.
O suprimento da vontade, pela via judicial, considera que, assumido no contrato preliminar o dever de conclusão
definitiva, essa manifestação do pré-contrato resta vinculativa, desde logo. Desta sorte, se a parte, por exemplo,
comprometeu-se a concluir um contrato de locação caso a parte adquirisse uma biblioteca, uma vez cumprida a
condição, a sentença conclui o contrato e autoriza que o autor obtenha a entrega da coisa com o cumprimento de todos
os deveres da locação. Essa sentença condenatória é autoexecutável, dispensando novo processo para realizar o que foi
decidido, pois inexiste alternativa entre prestar ou não prestar a vontade. A decisão contém declaração, constituição,
condenação e eficácia satisfativa.  Assim, é descabida a versão dos que entendem que a sentença condena a emitir a
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vontade e o vencedor executa esta decisão citando o réu a emiti-la em dia e hora designados.  A sentença conclui o
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contrato e, portanto, é autoexecutável. O registro da sentença posterior tem o escopo de tornar o contrato concluído
oponível erga omnes, bem como transferir o domínio posto que a simples tradição ou o vínculo, no direito brasileiro,
não são, por si sós, translativos de domínio.
Nada obstante, deve-se ressaltar que o negócio jurídico deve ser válido e existente em seus aspectos diversos da
vontade do devedor. Desse modo, não pode a sentença suprir elementos essenciais dos negócios jurídicos. Assim, por
exemplo, se a vontade pactuada de firmar o contrato definitivo foi assumida em documento onde faltam especificações
necessárias do contrato definitivo, como o preço, a coisa, e assim por diante, não se revela possível concluir o contrato,
tornando-o definitivo. Como se afirma costumeiramente, as promessas de contratar devem conter todos os elementos
do contrato prometido. A jurisprudência, por exemplo, repudia a possibilidade de concluir-se um contrato baseado em
pré-contrato sem especificações, como a opção de compra, e sem os requisitos identificadores da coisa a ser alienada.
Nessas situações, a impossibilidade de conclusão do contrato pela ausência de seus requisitos essenciais deve conduzir
à sentença definitiva de improcedência da demanda.
Questão de constante interesse se verifica nos pré-contratos de alienação de domínio de bem imóvel em que se exige o
registro para obtenção da adjudicação compulsória prevista nas leis de parcelamento e loteamento do solo urbano (art.
27 da Lei nº 6.766/1979).
A existência do registro cria para o promitente comprador uma pretensão exigível erga omnes; por isso, quem quer
que adquira o bem pode vir a sofrer a demanda como legitimado passivo. Entretanto, se a parte é titular de  pré-
contrato e, portanto, tem direito à conclusão do contrato definitivo, ainda não registrado, pode deduzir a sua
pretensão contra o contratante originário que firmou o negócio e resiste em emitir a vontade conclusiva, mas
interdita-se-lhe promover a mesma ação contra outrem a quem tiver sido alienado o bem, porquanto não manteve com
o mesmo qualquer vínculo, carecendo-lhe título oponível erga omnes. Nesse caso, o seu originário direito à conclusão
resolve-se em perdas e danos contra o primitivo alienante. Reza o art. 29 da Lei nº 6.766/1979: “Aquele que adquirir a
propriedade loteada mediante ato inter vivos, ou por sucessão causa mortis, sucederá o transmitente em todos os seus
direitos e obrigações, ficando obrigado a respeitar os compromissos de compra e venda ou as promessas de cessão, em
todas as suas cláusulas, sendo nula qualquer disposição em contrário, ressalvado o direito do herdeiro ou legatário de
renunciar à herança ou ao legado”.
Impende, entretanto, observar, à luz da interpretação sistemática, que a ratio essendi da exigência de registro visa a
evitar que terceiros sejam prejudicados por negócio entre outros. Por isso, se a despeito de não ter título registrado, o
autor comprovar que cumpriu a sua obrigação com o pagamento de todo o preço e o bem encontra-se ainda registrado
em nome do originário promitente vendedor, com quem engendrou o vínculo, é lícito deferir-lhe a sentença
conclusiva, inclusive servil ao registro imobiliário, porquanto nenhum terceiro sofrerá qualquer prejuízo.
Também é necessária, para a conclusão do contrato, a inexistência de cláusula contratual de exclusão da obrigação de
concluir, denominada “cláusula de arrependimento” (arts. 420 e 1.417 do CC ).  É que a sentença que conclui o
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contrato supre a vontade, mas não a altera. Assim, se as partes estabeleceram a faculdade de arrependimento, o
máximo que se pode obter é a indenização em perdas e danos penitenciais. Entretanto, para que isso ocorra, o
arrependimento não pode ser utilizado intempestivamente. Desta sorte, se o contrato preliminar é implementado em
todas as prestações, havendo quitação de preço e imissão do comprador na posse, mesmo que haja cláusula de
arrependimento, este não pode mais ser engendrado por intempestividade. Cumpre ao juiz suprir a vontade sonegada e
concluir o contrato.
A execução da obrigação de prestar manifestação de vontade tem singularidades notáveis, haja vista que se aproxima
das execuções de fazer fungíveis e infungíveis, na medida em que, malgrado a vontade humana seja personalíssima –
e, em princípio, incoercível –, a prestação torna-se suprível por outrem, in casu, o Judiciário.  Ademais, a sentença
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satisfaz tudo quanto a parte espera do juízo, revelando-se o provimento judicial “autossuficiente”, porquanto a
satisfação é sincrética, isto é, opera-se na própria relação de cognição.  Consoante já se afirmou, se é verdade que às
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vezes o juiz condena para executar, também é verdade que, por vezes, como no caso em questão, o juiz executa para
condenar.
Tratando-se de contrato que tenha por objeto a transferência da propriedade de coisa determinada, ou de outro direito,
o pedido não deve ser acolhido se a parte demandante não cumprir a sua prestação, nem a oferecer, nos casos e formas
legais, salvo se ainda não exigível (art. 498 do CPC/2015).  Nesse sentido, se a parte pretende essa outorga e ainda
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necessita depositar alguma prestação, deve fazê-lo como condição de procedibilidade para exigir a conclusão do
contrato, admitindo-se, por força do art. 493 do CPC/2015,  que o depósito judicial efetive-se no curso do processo.
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Anote-se, por fim, que, por vezes, não basta a vontade a ser suprida para concluir-se o vínculo, exigindo-se, também, o
cumprimento de pré-requisitos que variam de contrato para contrato. Assim, se o objetivo é a conclusão do contrato de
compra e venda de imóvel, a promessa de contratar deve conter a outorga uxória ou a autorização marital e o registro
prévio, realizável a qualquer tempo antes da sentença, com as observações que lançamos alhures. É que o pactum de
contrahendo vincula, desde que, na forma, tenham sido observadas as exigências legais quanto ao contrato prometido.

4.EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL DE OBRIGAÇÕES DE FAZER E NÃO FAZER

4.1Execução das obrigações de fazer e não fazer

4.1.1Generalidades 24

Consoante já se expôs no capítulo anterior, a execução das obrigações de fazer e não fazer encerra pretensão diversa
da obtenção de uma coisa ou quantia, senão uma atividade do devedor que pode consistir num fazer ou numa
abstenção. Nesse seguimento, pode o executado, por força do título executivo, obrigar-se a fazer uma obra, prestar um
serviço, em sendo artista comprometer-se a não se apresentar noutra emissora em razão de contrato de
exclusividade, não construir em determinada área, ou não divulgar um segredo industrial. O descumprimento dessas
obrigações torna aplicável um sucedâneo processual que possa conferir à parte a mesma atividade devida ou o mesmo
resultado da abstenção imposta.
O intuito maior nessa modalidade de execução, como intuitivo, faz com que assuma relevo a colaboração do devedor,
diferentemente do que ocorre nas execuções precedentes. Na execução de “conduta” (facere ou non facere), como a
atividade que se pretende deve ser prestada pelo devedor, os meios de sub-rogação têm um alcance menor,
sobressaindo-se os meios de coerção. A razão dessa proeminência é simples: há obrigações cujas prestações podem ser
satisfeitas por outrem que não o devedor, porque o que objetiva o credor é o “resultado” advindo do adimplemento,
como sói ocorrer com as denominadas “obrigações com prestação fungível” ou “subjetivamente fungíveis”. Essas
obrigações caracterizam-se pelo fato de as prestações poderem ser cumpridas por outrem que não o devedor,
alcançando-se o mesmo resultado pretendido. Já nas obrigações subjetivamente infungíveis, os meios de sub-rogação
são ineficazes, ganhando relevo os meios de coerção do devedor, como a multa.
Constando a multa de título extrajudicial firmado voluntariamente pelo devedor, o juiz somente pode “reduzir” a multa
se excessiva, como consectário do princípio da menor onerosidade da execução ou da economicidade (art. 814,
parágrafo único, do CPC/2015). 25
Remete-se o leitor ao capítulo anterior no que diz respeito à conceituação das obrigações de fazer, fungíveis e
infungíveis, e de não fazer, instantâneas e não instantâneas. Todas as lições lançadas naquele tópico têm plena
aplicabilidade no processo de execução de título extrajudicial.

4.1.2Execução de título extrajudicial envolvendo obrigações de fazer e não fazer. Procedimento

Preliminarmente, advirta-se que as regras procedimentais constantes dos arts. 814 e seguintes do CPC/2015
representam técnicas operativas da efetivação das obrigações de fazer e de não fazer constantes dos títulos executivos
extrajudiciais, mas são também aplicáveis subsidiariamente ao cumprimento da sentença da mesma natureza, por força
do art. 513, caput, do CPC/2015: “O cumprimento da sentença será feito segundo as regras deste Título, observando-
se, no que couber e conforme a natureza da obrigação, o disposto no Livro II da Parte Especial deste Código”. Nesse
mesmo seguimento, mesmo na execução por título extrajudicial, aplicam-se, no que couber, os art. 536 e seguintes do
CPC/2015, que tratam da multa coercitiva. 26

No que tange à defesa do devedor na execução de título extrajudicial contendo obrigação de fazer, não fazer ou
entregar coisa, são cabíveis os embargos do executado, no prazo de 15 (quinze) dias, cujo termo inicial varia de acordo
com a modalidade de citação (arts. 231 e 915 do CPC/2015). 27

De acordo com o art. 785 do CPC/2015, a “existência de título executivo extrajudicial não impede a parte de optar
pelo processo de conhecimento, a fim de obter título executivo judicial”. Destarte, o sistema processual hodierno
indica que, mesmo o credor que não confie no seu título pode, em vez de promover a execução por título extrajudicial,
ajuizar uma ação de cognição com pedido de tutela provisória aguardando a solução final da sentença.
Uma vez eleito o procedimento extrajudicial, este, como evidente, vai diferir-se conforme o fazer comporte prestação
fungível, isto é, seja realizável por terceiro que não o devedor, ou prestação infungível, em que somente o executado
pode cumpri-las, inadmitindo meios de sub-rogação.
Assim, v.g., se o devedor comprometeu-se a transportar pessoas ou bens ou a realizar determinado serviço de limpeza,
a execução desta obrigação admite, como meio de sub-rogação, que o serviço seja prestado por terceiro às custas do
devedor.
Diversamente, se a obrigação revela prestação infungível, impossível de ser implementada por outrem que não o
próprio devedor, porquanto ao engendrar-se o vínculo originário, consi-deraram-se as condições do próprio obrigado
(intuitu personae), v.g., a realização de conserto em concessionária exclusiva de automóveis, o recital de um artista ou
a pintura de um quadro de determinado artista, revela-se impossível o procedimento de escolha de terceiro a realizá-la,
alterando-se sobremodo o rito.
Tratando-se de obrigação de fazer com prestação fungível, o executado será citado para satisfazê-la no prazo que o
juiz lhe designar, se outro não estiver determinado no título executivo (art. 815 do CPC/2015). O devedor, no prazo
fixado, pode cumprir a obrigação, caso em que o processo se extingue.
Outrossim, pode ocorrer que o devedor não satisfaça a obrigação, oportunidade em que é lícito ao credor, nos próprios
autos do processo, requerer que ela seja executada às custas do executado ou haver perdas e danos, caso em que ela
converte-se em indenização (art. 816 do CPC/2015). O valor das perdas e danos é apurado em liquidação interna,
seguindo-se a execução para cobrança de quantia certa (art. 816, parágrafo único, do CPC/2015).
Tratando-se de fato que pode ser prestado por terceiro é lícito, ainda, ao juiz, a requerimento do credor, decidir que
aquele o realize à custa do executado (art. 817 do CPC/2015). No regime anterior à Lei nº 11.382/2006, para esse fim,
e visando a não onerar o executado, o juiz deveria nomear um perito para avaliar o custo da prestação do fato
procedendo, em seguida, a uma complexa licitação, que veio a ser eliminada pela reforma de 2006 e não retornou com
o CPC de 2015.
Consoante o novel sistema, a requerimento do exequente, é apresentada em juízo uma proposta do terceiro que vai
substituir o devedor no cumprimento da obrigação e o exequente adianta as quantias aprovadas pelo juiz sob
contraditório e as recobra do executado (art. 817, caput e parágrafo único, do CPC/2015). 28

O terceiro pode cumprir a prestação a contento ou incidir em mora ou inadimplemento, realizando a prestação de
forma incompleta ou defeituosa. Na primeira hipótese, de adimplemento pelo terceiro, pressupõe-se que uma vez
prestado o fato, o juiz após oitiva das partes, no prazo de 10 (dez) dias e não havendo impugnação, considere cumprida
a obrigação e se totalmente reembolsado o exequente pelo executado julgue extinta a execução (art. 818 do
CPC/2015). Acaso haja saldo em favor do exequente, prossegue-se com a execução por quantia.
O contraditório que se inaugura para assentar o cumprimento da prestação pelo terceiro pode redundar em controvérsia
a ser dirimida pelo juiz em decisão interlocutória. O juiz, por seu turno, pode refutar a impugnação considerando
concluída a obra, caso em que vigora a solução acima, ou entender que a prestação restou incompleta ou defeituosa.
Nessa hipótese, de o terceiro contratado não prestar o fato no prazo, ou se o praticar de modo incompleto ou
defeituoso, o exequente pode requerer ao juiz, no prazo de 15 (quinze) dias, que o autorize a concluí-lo, ou a repará-lo,
por conta do contratante, a quem se supõe já tenham sido adiantadas as importâncias para prestar o fato. Essa
imposição eventual de obrigação de pagar quantia ao exequente impõe seja ouvido o contratante, também no prazo de
15 (quinze) dias. O juiz, após esse diminuto contraditório, pode concluir que a proposta do terceiro foi cumprida tal
como apresentada, hipótese em que nada há a cobrá-lo. Entretanto, decidindo o juiz que o terceiro incidiu em
inadimplemento, deve mandar avaliar o custo das despesas necessárias e condenará o contratante a pagar ao exequente
essa diferença. 29

À luz dos princípios que norteiam o CPC de 2015, essa exigibilidade da decisão equiparada ao título executivo
mencionado no art. 515, V, do CPC/2015,  aparelhará cumprimento de sentença para entrega de soma, caso o terceiro
30

não deposite no próprio juízo da execução originária o valor da condenação.


Visando a evitar a intromissão de terceiro no processo entre exequente e executado, admite o CPC/2015 no art. 820
que:
“Art. 820. Se o exequente quiser executar ou mandar executar, sob sua direção e vigilância, as obras e os
trabalhos necessários à realização da prestação, terá preferência, em igualdade de condições de oferta, em
relação ao terceiro.
Parágrafo único. O direito de preferência deverá ser exercido no prazo de 5 (cinco) dias, após aprovada a
proposta do terceiro.”
Essa escolha não exclui o direito de o exequente reembolsar-se, à semelhança do que até então se expôs, nem de
voltar-se contra o contratado que prestar o fato de forma incompleta ou defeituosa.
Forçoso, ainda, considerar, também no que concerne às obrigações com prestação fungível, que o credor pode
pretender aguardar o cumprimento da obrigação no prazo do título executivo extrajudicial, incidindo multa por dia de
atraso, como fórmula de compelir o obrigado ao adimplemento, além de manter íntegro o princípio de que
o accipiens não deve ser instado a receber coisa diversa da pactuada , em nome da especificidade da execução.
31

Como visto anteriormente, o Código dispõe que na execução em que o credor pedir o cumprimento de obrigação de
fazer ou não fazer determinada em título judicial (cumprimento da sentença), o juiz, se omissa a sentença, pode fixar
multa por atraso e a data a partir da qual será devida. O valor dessa multa poderá ser modificado pelo juiz do
cumprimento ao verificar que se tornou insuficiente ou excessivo (arts. 497 e 537, § 1º, do CPC/2015).
O mesmo preceito é repetido tratando-se de obrigações fungíveis com lastro em título extrajudicial (art. 814 do
CPC/2015), salvo se a própria cártula contempla a multa, hipótese em que, por força do parágrafo único, consoante já
ressaltado, restará ao magistrado, apenas, a possibilidade de reduzi-la.
É mister ressaltar que esse regime dos meios de coerção permite ao juiz adaptá-los à sua finalidade persuasiva; por
isso, pode reduzi-lo ou exacerbá-lo no seu valor unitário, quando se torna ineficiente ou exasperado demais.
A regra prevalece para ambas as modalidades de título – judicial ou extrajudicial, porque, se o juiz pode fixar a multa,
cabe-lhe, também, alterá-la, quantitativamente, para o mais ou para o menos, com a ressalva feita quanto ao título
extrajudicial com multa predeterminada.
Assim como no cumprimento de sentença, pode-se concluir que se o devedor, citado, não realizar a  prestação
fungível no prazo determinado, quatro alternativas abrem-se em leque para o exequente: a) buscar a tutela específica
ou o resultado equivalente, mediante a fixação judicial de medidas coercitivas; b) escolhe um terceiro para fazer, às
expensas do devedor; c) o próprio credor a realiza, exercendo a sua opção no prazo dos arts. 819 e 820 do
CPC/2015;  ou d) converte a obrigação em perdas e danos e inicia, pelo seu valor correspondente, cumprimento por
32

quantia certa.
Aqui também se adverte que a opção de realização por terceiro somente existe quando há fungibilidade da prestação e
somente deve ser eleita pelo credor ao observar a suficiência patrimonial do devedor, haja vista que adiantará as
importâncias para recobrá-las depois. Caso o devedor seja insolvável, nenhuma vantagem terá com essa forma de sub-
rogação.
As obrigações com prestação infungível reclamam procedimento que varia conforme a alternativa escolhida pelo
credor. Assim é que: a) se o devedor citado cumpre a obrigação, extingue-se o processo; b) caso pretenda embargá-la,
o processo poderá ser suspenso se atribuídos efeitos suspensivos ope judicis aos embargos; c) em prosseguindo após o
julgamento dos embargos improcedentes ou não admitidos com suspensão da execução, se o executado, citado, não
cumprir a obrigação no prazo, o credor pode aguardar o cumprimento fazendo incidir a multa coercitiva, hipótese em
que, periodicamente, pode calculá-la e iniciar cumprimento provisório de sentença por quantia certa de seu montante,
caso em que o levantamento do valor só será admitido após o trânsito em julgado da sentença favorável à parte (art.
537, § 3º, do CPC/2015). Alternativamente, o credor pode pleitear a conversão em perdas e danos (art. 821, parágrafo
único, do CPC/2015), e, por esse valor, também promover a liquidação e cumprimento de sentença para haver tanto as
perdas e danos quanto o valor da multa já vencida (arts. 499 e 500 do CPC/2015).
As denominadas obrigações com prestações infungíveis, conforme visto, não podem ser efetivadas especificamente
pelos meios de sub-rogação, porquanto são vínculos cujo adimplemento necessita da colaboração do devedor.
Consequentemente, funcionam com plenitude e eficiência única os meios de coerção para vencer o impasse causado
pela obstinação do executado em inadimplir. Apenas subsidiariamente os meios de sub-rogação têm lugar, mas no que
diz respeito às perdas e danos – nunca quanto à obrigação em espécie.
No capítulo anterior, as obrigações de não fazer, consistentes em deveres de abstenção, foram divididas em duas
espécies, consoante a transgressão possa ser desfeita ou não: permanentes ou instantâneas. As primeiras, também
denominadas contínuas, admitem que o autor peça que cesse a violação sem prejuízo do desfazimento do que já foi
feito. As segundas só admitem reparação pecuniária em perdas e danos.
Aqui, valem as mesmas lições lançadas anteriormente. Nas obrigações de não fazer permanentes, v.g., de não
construir, se o devedor pratica o ato a cuja abstenção impôs-lhe a sentença, o exequente-vencedor pode requerer ao
juiz que lhe assine prazo para desfazê-la. Havendo recusa ou mora do devedor, o credor pode requerer ao juiz que
mande desfazer o ato à sua custa, respondendo o devedor pelo valor do desfazimento e por perdas e danos, quantias
essas que devem ser liquidadas e satisfeitas mediante cumprimento de condenação por quantia certa. Entretanto, não
sendo possível desfazer-se o ato, a obrigação “resolve-se” em perdas e danos (art. 823 do CPC/2015). 33

Não se pode olvidar que o meio de coerção consistente na multa coercitiva revela notável capacidade para vencer a
resistência do devedor em desfazer o que foi feito, em transgressão ao dever negativo assumido em título executivo
judicial ou extrajudicial. Portanto, nada impede que também quanto à obrigação de não fazer seja fixada multa para o
caso de descumprimento.
Assim é que se o devedor é citado para desfazer o que transgrediu e desfaz, extingue-se a execução. Alternativamente,
oferecidos embargos e concedido efeito suspensivo (art. 919, § 1º, do CPC/2015), suspende-se o processo, retomando
a sua marcha após a improcedência daqueles.
Entretanto, se o devedor não adota nenhuma das atitudes acima ou se for negado o efeito suspensivo aos seus
embargos, o credor pode: a) optar por desfazer por terceiro às custas do devedor, hipótese em que se segue a regra do
cumprimento da obrigação por quantia certa (art. 823, caput, do CPC/2015); b) aguardar o desfazimento sob a pressão
exercida pela incidência da multa diária até o efetivo desfazimento; ou, finalmente, c) requerer a conversão da
obrigação em perdas e danos, executando-se por quantia certa (art. 823, parágrafo único, do CPC/2015). Advirta-se
que a multa não se limita pelo valor da obrigação principal, obtemperando-se os rigores com a percepção lógica de que
o meio executivo deve conduzir ao cumprimento da obrigação e não o inviabilizar, pela bancarrota patrimonial do
devedor.  Assim é que o art. 537, caput, do CPC/2015 exige que a multa seja compatível com a obrigação. Note-se
34

que o regime é idêntico ao do cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação de não fazer.
A regra atual do art. 536, § 1º, do CPC/2015 revela que o juiz pode fazer acompanhar a sua tutela preventiva de
medidas de apoio aptas a tornar efetiva a interdição da atividade objeto da decisão inibitória, estratégia possível de ser
utilizada nos títulos extrajudiciais.
Desta sorte, condenado o devedor a não fazer, caso transgrida o preceito e não logre o juiz, através das medidas de
apoio, conferir a tutela específica, somente restará ao credor cobrar as multas vencidas e as perdas e danos. 35

Outrossim, a transgressão da ordem de cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer encerra ato atentatório à
dignidade da justiça, litigância de má-fé e responsabilização por crime de desobediência, podendo o juiz, para evitá-la,
valer-se de auxílio de força policial, consoante os §§ 1º e 3º do art. 536, em conjunto com os arts. 774, IV, e 777 do
CPC/2015.
X
A TUTELA JURISDICIONAL DAS OBRIGAÇÕES DE ENTREGA DE COISA

1.O CUMPRIMENTO DA SENTENÇA PARA A ENTREGA DE COISA

1.1Generalidades

A sentença que reconhece a exigibilidade de obrigação de entrega de coisa segue o rito de cumprimento muito
semelhante ao relativo às obrigações de fazer ou não fazer. Com efeito, as regras insculpidas nos arts. 536 e 537 do
CPC/2015 são subsidiariamente aplicáveis no que diz respeito ao cumprimento de prestação de entrega de coisa,  ex
vi do art. 538, § 3º, do CPC/2015. São igualmente aplicáveis ao cumprimento de sentença as regras da execução para a
entrega de coisa determinada em título extrajudicial (arts. 806 a 813 do CPC/2015). O cumprimento da sentença que
reconhece a exigibilidade de obrigação de entrega de coisa pode ser definitivo ou provisório, bem como admite
impugnação.
Lançadas essas observações preliminares, cumpre observar, de início, a redação do art. 498 do CPC/2015, verbis:
“Art. 498. Na ação que tenha por objeto a entrega de coisa, o juiz, ao conceder a tutela específica, fixará o
prazo para o cumprimento da obrigação.
Parágrafo único. Tratando-se de entrega de coisa determinada pelo gênero e pela quantidade, o autor
individualizá-la-á na petição inicial, se lhe couber a escolha, ou, se a escolha couber ao réu, este a entregará
individualizada, no prazo fixado pelo juiz.”
À luz da lei é forçoso convir que o cumprimento relativo à prestação para entrega de coisa, diversamente do
cumprimento por quantia certa – que faz incidir os meios executivos em qualquer bem penhorável –, recai sobre
coisa determinada móvel ou imóvel, objeto da prestação assumida em título judicial ou extrajudicial. O
procedimento in foco dirige-se, exatamente, ao alcance desse desígnio. Em consequência, sua estrutura é ditada à
consecução da apreensão judicial do bem e subsequente entrega, o que justifica a utilização dos meios satisfativos de
sub-rogação consistentes na imissão na posse de imóvel e na busca e apreensão de bens imóveis, sem prejuízo da
multa coercitiva em caso de atraso.
Deveras, incidentes verificáveis na fase de entrega, v.g., o perecimento ou a destruição da coisa também podem
transmudar a execução específica em cumprimento por quantia correspondente às perdas e danos equivalentes à coisa
extraviada (art. 809 do CPC/2015).
Destarte, como é sabido, os meios de coerção visam a compelir o devedor ao cumprimento da obrigação e funcionam
com eficiência toda vez que o Estado não dispõe de “meios de sub-rogação” capazes de dar ao credor o que ele obteria
se o devedor cumprisse a obrigação. Na execução para a entrega de coisa, a busca e apreensão de móveis ou
semoventes ou a imissão na posse de imóvel suprem a resistência do vencido em cumprir a obrigação constante do
título. Assim, o juiz pode alcançar o fim desta execução com a satisfação do credor, através desses meios de sub-
rogação e alcançar o cumprimento da sentença de forma imediata e integral. Nada obstante, o art. 806, § 1º, do
CPC/2015 expressamente faculta ao juiz, ao despachar a inicial, a fixação de multa por dia de atraso no cumprimento
da obrigação. O legislador, portanto, vislumbrou a incidência conjunta dos meios de coerção e de sub-rogação.
O CPC estabelece nítida distinção conforme a obrigação de entrega refira-se à coisa certa ou incerta. Diz-se certa a
coisa quando determinada pelo gênero e quantidade, v.g., quando o devedor se compromete a entregar 400 carros de 4
portas, tipo passeio. Consectário da natureza enérgica da execução é a necessidade de especificidade, porquanto a
satisfação deve ser plena e os atos de soberania estatal praticados no limite da necessidade. Forçoso, assim, é convir
que antes de iniciados os atos materiais executivos, deve ser individualizada a coisa a ser entregue.
Por essa razão é que o procedimento do cumprimento de sentença para entrega de coisa incerta apresenta uma fase
inicial de escolha do bem a ser entregue (art. 811 do CPC/2015). Isso porque, cabendo a escolha ao devedor,
consoante o título executivo, ele deve exercer o ius eligendi, submetendo-o a um diminuto contraditório, para somente
após decidido o incidente iniciar-se o prazo para a entrega (art. 812 do CPC/2015), seguindo-se, daí por diante, o
procedimento do cumprimento da sentença para entrega de coisa certa.
O procedimento simplifica-se se a escolha é do credor, visto que, nesse caso, ele mesmo indica o bem que pretende e
requer a citação para a entrega de coisa certa (art. 811, parágrafo único, do CPC/2015). Realiza-se o cumprimento de
sentença com a mesma simplicidade quando o devedor, citado primeiramente para escolher, não o faz, transferindo a
indicação para o credor que a empreende e inicia a “execução” de obrigação de entregar coisa certa.
Em resumo, o novo cumprimento da sentença implica que, transitada em julgado a sentença e não cumprida a
obrigação no prazo nela estabelecido, expede-se em favor do credor, independentemente de requerimento, mandado de
busca e apreensão, se a coisa for móvel ou semovente, e imissão na posse, se imóvel (art. 538 do CPC/2015).
A eventual defesa, como afirmado, perfaz-se por impugnação nos mesmos moldes do art. 525 do CPC/2015, com as
vicissitudes da suspensividade ou não, sendo certo que a impugnação não pode veicular a pretensão de “retenção por
benfeitorias”, salvo se alegada na fase de conhecimento e reconhecida na sentença objeto do cumprimento, por força
do art. 538, § 2º, do CPC/2015.

1.2Procedimento

Preliminarmente, cumpre destacar que, sem prejuízo do cumprimento da sentença, aplica-se, subsidiariamente, o
parâmetro operativo previsto nos arts. 806 e seguintes do CPC/2015, mercê de sincrética e executiva  lato sensu a
decisão efetivável na própria relação processual em que ocorreu a cognição.
Assim é que, esgotado o prazo da sentença trânsita ou sob execução provisória, o devedor pode adotar as seguintes
atitudes: a) entregar a coisa, hipótese em que se extingue o processo, salvo se ainda houver resíduo referente a frutos
ou danos a favor do credor (arts. 807 e 810, parágrafo único, II do CPC/2015), transmudando-se em cumprimento de
sentença por quantia certa destas parcelas; b) não entregar a coisa, hipótese em que o juízo deve usar dos meios de
sub-rogação indicados (imissão na posse ou busca e apreensão), além de poder fixar multa.

2.EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL PARA A ENTREGA DE COISA

2.1Generalidades

A execução de título extrajudicial para entrega de coisa, consoante ao cumprimento da sentença e diversamente


da execução por quantia certa – que faz incidir os meios executivos em qualquer bem penhorável –, recai sobre coisa
determinada móvel ou imóvel, objeto da prestação assumida em título judicial ou extrajudicial. O art. 498 do
CPC/2015 versa sobre o cumprimento da sentença autoexecutável que reconhece a obrigação de entrega de coisa, ao
passo que a execução do título extrajudicial que reconheça a exigibilidade de obrigação dessa natureza observa o rito
dos arts. 806 e seguintes do CPC/2015. O rito é bastante semelhante, tanto no cumprimento de sentença quanto na
execução de título extrajudicial envolvendo obrigação de entrega de coisa.
O procedimento in foco, aplicável à execução extrajudicial e subsidiariamente ao cumprimento da sentença, dirige-se,
exatamente, ao alcance desse desígnio. Em consequência, sua estrutura é ditada à consecução da apreensão judicial do
bem e subsequente entrega, o que explica a utilização dos meios satisfativos de sub-rogação consistentes na imissão
na posse de imóvel e na busca e apreensão de bens móveis.
Também aqui, incidentes verificáveis na fase de entrega, v.g., o perecimento ou a destruição da coisa também podem
transmudar a execução específica em cumprimento por quantia correspondente às perdas e danos equivalentes à coisa
extraviada (art. 809 do CPC/2015).
Repita-se que os meios de coerção visam a compelir o devedor ao cumprimento da obrigação e funcionam com
eficiência toda vez que o Estado não dispõe de “meios de sub-rogação” capazes de dar ao credor o que ele obteria se o
devedor cumprisse a obrigação. Na execução para a entrega de coisa, a busca e apreensão de móveis ou semoventes ou
a imissão na posse de imóvel suprem a resistência do vencido em cumprir a obrigação constante do título. Assim, o
juiz pode alcançar o fim desta execução com a satisfação do credor, através desses meios de sub-rogação e alcançar o
cumprimento da sentença de forma imediata e integral. Nada obstante, o art. 806, § 1º, do CPC/2015 expressamente
faculta ao juiz, ao despachar a inicial, a fixação de multa por dia de atraso no cumprimento da obrigação. O legislador,
portanto, vislumbrou a incidência conjunta dos meios de coerção e de sub-rogação
Na execução de título executivo extrajudicial, o CPC igualmente estabelece nítida distinção conforme a obrigação de
entrega refira-se à coisa certa ou incerta, cuja definição foi lançada no capítulo anterior: é certa a coisa quando
determinada pelo gênero e quantidade, v.g., quando o devedor se compromete a entregar 400 carros de 4 portas, tipo
passeio. Consectário da natureza enérgica da execução é a necessidade de especificidade da mesma porquanto a
satisfação deve ser plena e os atos de soberania estatal praticados no limite da necessidade. Forçoso, assim, é convir
que antes de iniciados os atos materiais executivos deve ser individualizada a coisa a ser entregue.
Por essa razão é que o procedimento da execução para entrega de coisa incerta apresenta uma fase inicial de
escolha do bem a ser entregue (art. 811 do CPC/2015). Isso porque, cabendo a escolha ao devedor consoante o título
executivo, ele deve exercer o ius eligendi, submetendo-o a um diminuto contraditório, para somente após decidido o
incidente iniciar-se o prazo para a entrega (art. 812 do CPC/2015), seguindo-se, daí por diante, o procedimento do
cumprimento da sentença para entrega de coisa certa.
O procedimento simplifica-se se a escolha é do credor, visto que, nesse caso, ele mesmo indica o bem que pretende e
requer a citação para a entrega de coisa certa (art. 811, parágrafo único, do CPC/2015). Realiza-se a execução com a
mesma simplicidade quando o devedor, citado primeiramente para escolher, não o faz, transferindo a indicação para o
credor que a empreende e inicia a “execução” de obrigação de entregar coisa certa.

2.2Procedimento

O procedimento da execução de título extrajudicial que consubstancie obrigação de entregar coisa é praticamente
idêntico ao do cumprimento de sentença versado no capítulo anterior, com poucas nuances. Enquanto no cumprimento
de sentença a expedição do mandado de busca e apreensão ou de imissão na posse ocorre tão logo transcorrido in
albis o prazo estabelecido na sentença exequenda (art. 538 do CPC/2015), na execução de título extrajudicial deve
ocorrer a citação do devedor para, em 15 (quinze) dias, satisfazer a obrigação (art. 806 do CPC/2015). Do mandado de
citação constará ordem para imissão na posse ou busca e apreensão, conforme se tratar de bem imóvel ou móvel, cujo
cumprimento se dará de imediato, se o executado não satisfizer a obrigação no prazo que lhe foi designado, sem
prejuízo da possibilidade de fixação judicial de multa por dia de atraso no cumprimento da obrigação (art. 806, §§ 1º e
2º, do CPC/2015). Também no prazo de 15 (quinze) dias, o executado poderá oferecer embargos à execução,  ex vi do
art. 915 do CPC/2015.
Citado, o devedor pode assumir as seguintes atitudes: a) entregar a coisa, hipótese em que se extingue o processo,
salvo se ainda houver resíduo referente a frutos ou danos a favor do credor (arts. 807 e 810, parágrafo único, II do
CPC/2015), transmudando-se em cumprimento de sentença por quantia certa destas parcelas; b) depositar a coisa para
requerer efeito suspensivo aos embargos à execução (art. 919, § 1º, do CPC/2015)  ou c) manter-se inerte ou oferecer
1

embargos sem efeito suspensivo, hipótese em que o juízo deve usar dos meios de sub-rogação indicados (imissão na
posse ou busca e apreensão), além de poder fixar multa. 2

Assim como no procedimento do cumprimento de sentença para entrega de coisa, essa apreensão é provisória,
podendo levantar-se ou converter-se em definitiva, conforme o julgamento de eventual impugnação resulte em
procedência ou improcedência. Assim, v.g., julgada procedente a impugnação, devolvem-se ao devedor os bens
móveis ou imóveis. Além dos meios de sub-rogação, de há muito previstos na execução satisfativa de entrega da coisa,
o legislador trouxe uma novidade consistente na previsão de meio de coerção para essa modalidade de “execução”.
Nesse sentido, o art. 806, § 1°, do CPC/2015 admite que, verbis: “Ao despachar a inicial, o juiz poderá fixar multa por
dia de atraso no cumprimento da obrigação, ficando o respectivo valor sujeito a alteração, caso se revele insuficiente
ou excessivo”.
Parcela da doutrina defende que esses meios de coerção só se revelam necessários acaso ineficientes os meios de sub-
rogação. Assim é que, podendo apreender a coisa ou imitir o devedor na posse, não deveria o juiz optar pela coerção,
sob pena de incidir em error procedendo. Segundo essa orientação, nada obstante o interesse público decorrente da
jurisdição no sentido de satisfazer o credor em toda e qualquer execução, o processo deve dar à parte aquilo a que ela
faz jus, pro et contra. Em consequência, o processo não deve ser fonte de enriquecimento sem causa do credor,
concedendo a ele aliud se pode conferir-lhe in especie, máxime sob a inspiração do princípio da efetividade, que influi
sobremodo no CPC/2015. O meio de coerção, assim, somente incidiria subsidiariamente, na hipótese de
impossibilidade de consecução dos fins auferíveis com os meios de sub-rogação, mantendo-se, de certa forma, hígida a
Súmula nº 500 do STF (“Não cabe a ação cominatória para compelir-se o réu a cumprir obrigação de dar”) . 3
2.3Execução de título extrajudicial de coisa incerta

O CPC/2015 regula essa execução, cuja diferença situa-se somente no ius eligendi . 4

Cumpre destacar que na sentença do processo de conhecimento (sentença ou decisão de liquidação) a coisa se encontra
determinada, ao passo que pode ocorrer a escolha na execução extrajudicial, aliás, como prevê o disposto no art. 811
do CPC/2015, acima mencionado.

3.DISPOSIÇÕES COMUNS AO CUMPRIMENTO DA ENTREGA DE COISA E À EXECUÇÃO DE TÍTULO


EXTRAJUDICIAL PARA A ENTREGA DE COISA

3.1Incidentes da entrega

A lei prevê incidentes que podem embaraçar a entrega da coisa, a saber: a alienação da coisa a terceiro (art. 808 do
CPC/2015), o perecimento, a deterioração ou o desaparecimento do bem (art. 809 do CPC/2015).
Considere-se, ainda, que pode haver controvérsia sobre se é aquela a coisa certa que fora objeto de convenção,
aplicando-se subsidiariamente as regras da entrega de coisa incerta, com seu diminuto contraditório, findo por decisão
agravável (art. 1.015, parágrafo único, do CPC/2015).
Destarte, no primeiro caso, da “alienação a terceiro”, em razão da afetação da coisa à obrigação, e, por força dos
princípios que informam a fraude de execução (art. 790, V, e 792 do CPC/2015), expede-se o mandado de  busca e
apreensão do bem móvel ou de imissão, se imóvel. Não obstante o art. 808 do Código de 2015 se refira à coisa
litigiosa, a alienação também será ineficaz em todas as hipóteses configuradoras de fraude à execução, sendo certo
que, em determinadas situações, a fraude à execução independe da pendência de ação contra o devedor. Remete-se o
leitor, quanto ao ponto, aos capítulos sobre a averbação premonitória e à fraude à execução. A propósito, aplica-se o
disposto no art. 828 do CPC/2015, sobre a averbação premonitória, também à execução por título extrajudicial.
Outrossim, nesse caso de alienação, o credor pode preferir, à investida contra o terceiro, converter a obrigação em
perdas e danos, coincidindo esta solução com a que se oferece nas hipóteses de deterioração ou perecimento do bem.
Assim é que, de acordo com o art. 809 do CPC/2015, o credor tem direito a receber, além de perdas e danos, o valor da
coisa, quando esta não lhe for entregue, se deteriorou, não for encontrada ou não for reclamada do poder do terceiro
adquirente. Essa hipótese segue a regra dos arts. 234 e 239 do CC , de sorte que se não tiver havido culpa do devedor
5

ou se a coisa perdeu-se antes da tradição ou da realização da condição suspensiva, res perit domino.


Outrossim, não constando do título executivo extrajudicial o valor da coisa, ou sendo impossível a sua avaliação, o
exequente far-lhe-á a estimativa, sujeitando-se ao arbitramento judicial. Esse arbitramento importa a liquidação do
valor da coisa e os prejuízos nos próprios autos, concluído por decisão interlocutória.
Esses incidentes até então observados operam-se em “favor do credor”.

3.2Incidentes favoráveis ao executado

O executado, conforme de sabença, esteve na posse da coisa, por isso que é possível que tenha engendrado melhorias
na mesma das quais não pode locupletar-se o exequente. O legislador, então, dispôs no novel art. 917, inciso IV, e §§
5º e 6º, do CPC/2015 que, verbis:
“Art. 917. Nos embargos à execução, o executado poderá alegar:
IV – retenção por benfeitorias necessárias ou úteis, nos casos de execução para entrega de coisa certa; § 5º
Nos embargos de retenção por benfeitorias, o exequente poderá requerer a compensação de seu valor com o
dos frutos ou dos danos considerados devidos pelo executado, cumprindo ao juiz, para a apuração dos
respectivos valores, nomear perito, observando-se, então, o art. 464.
§ 6º O exequente poderá a qualquer tempo ser imitido na posse da coisa, prestando caução ou depositando o
valor devido pelas benfeitorias ou resultante da compensação.”
Caso a entrega seja determinada pelo juízo sem o pagamento antecedente das benfeitorias, poderá o executado
reclamar o efeito suspensivo dos embargos demonstrando os requisitos do art. 919, § 1º, do CPC/2015.
Outrossim, as benfeitorias acaso consagradas em documento escrito dão ensejo à prova inequívoca, mas não
constituem título executivo em favor do executado. Ele deve liquidá-las para eventual exigibilidade do valor
correspondente.
Destarte, ao possuidor de boa-fé restará sempre a sua pretensão veiculável através de ação autônoma de perdas e
danos. 6

Por fim, quando essa executividade imediata invade patrimônio de quem não foi parte no processo, este pode opor
“embargos de terceiro” (art. 674 do CPC/2015).

3.3Impugnação por retenção

Considerando que o executado esteve de posse da coisa, é possível que nela tenha engendrado melhorias, das quais
não pode locupletar-se o “exequente”. O legislador, então, dispõe sobre haver benfeitorias indenizáveis ao devedor ou
a terceiro, e que influi no dever de imediata entrega da coisa ao credor, posto que essa obrigação contrapõe-se à de
primeiro indenizar, observado o direito material acerca do regime a elas aplicável quando “úteis, necessárias ou
voluptuárias”. Nesse sentido, vencendo benfeitorias indenizáveis feitas na coisa pelo devedor ou por terceiros, de cujo
poder elas devem ser tiradas, a liquidação prévia é obrigatória. Se houver saldo em favor do devedor, o credor deve
depositar ao requerer a entrega da coisa; se houver saldo em favor do credor, este pode cobrá-lo nos autos do mesmo
processo. É mister observar que a liquidação terá a finalidade de apuração do valor das benfeitorias.
Uma vez alcançado o saldo, cabe ao credor depositá-lo antes de obter a entrega da coisa. Caso a entrega seja
determinada pelo juízo sem o pagamento antecedente das benfeitorias, poderá o executado apresentar, com efeito
suspensivo, até o seu pagamento ou depósito, “impugnação por retenção”.
Essa liquidação prévia somente pode ser exigida caso o direito às benfeitorias não tenha sido excluído pela sentença
(ou pelo título extrajudicial), porquanto, do contrário, estar-se-ia inovando no “cumprimento da sentença”,
consagrando contracrédito do executado não previsto na decisão exequenda. Outrossim, as benfeitorias contempladas
na sentença dão ensejo à impugnação, devendo-se liquidá-las para eventual exigibilidade do valor correspondente.
Acaso não se discutam benfeitorias na ação resultante da entrega de coisa, nem por isso o possuidor de boa-fé restará
prejudicado, porquanto remanescerá a sua pretensão, veiculável através de ação de perdas e danos.
Outrossim, na execução extrajudicial, a exigência de depósito prévio de benfeitorias pactuadas no título implica a
condição de procedibilidade para iniciar o procedimento.
Ressalte-se que, uma vez depositado o valor das benfeitorias, o credor-vencedor pode ser imitido na posse do bem,
imediatamente (art. 917, § 6º, do CPC/2015).
Deveras, alcançando o cumprimento da sentença proferida em ação cujo objeto mediato é res integrante do patrimônio
alheio, abre-se ao menos a possibilidade de oposição de embargos de terceiro.
A impugnação por força das benfeitorias obedecerá ao que a sentença houver disposto quanto à sua natureza; se
necessárias, úteis ou voluptuárias; o estado anterior e atual da coisa; o custo das benfeitorias e seu valor atual; a
valorização da coisa decorrente das benfeitorias etc.
Outrossim, por força da aplicação subsidiária das regras da execução de título extrajudicial, no cumprimento de
sentença para a entrega de coisa poderá o exequente: a) na impugnação de retenção por benfeitorias, requerer a
compensação de seu valor com o dos frutos ou danos considerados devidos pelo executado, cumprindo ao juiz, para a
apuração dos respectivos valores, nomear perito, fixando-lhe breve prazo para entrega do laudo; b) ser imitido na
posse da coisa, prestando caução ou depositando o valor devido pelas benfeitorias ou resultante da compensação.

XI
TUTELA DAS OBRIGAÇÕES DE ENTREGA DE SOMA

1.O CUMPRIMENTO DE SENTENÇA NAS OBRIGAÇÕES DE ENTREGA DE SOMA – FASE POSTULATÓRIA

1.1Generalidades

O procedimento da resolução de mérito que reconhece o dever de pagar quantia certa engloba as fases da cognição, da
liquidação quantum debeatur e a etapa de satisfação, cuja ultimação é a entrega da soma ao credor.
Os incidentes que podem ocorrer até o pagamento estão regulados no título II do livro I da Parte Especial do
CPC/2015, sobre o “cumprimento de sentença”, bem como no livro II da Parte Especial, sobre o “processo de
execução”. Rememore-se que as normas sobre o cumprimento de sentença e aquelas sobre o processo de execução se
intercomunicam, por força do art. 771, caput e parágrafo único, e do art. 513, caput, do CPC/2015. Assim, v.g., na
parte em que não houver incompatibilidade, aplicam-se ao cumprimento de sentença as regras da penhora, da
expropriação e do pagamento previstas em relação ao processo de execução por título extrajudicial.
No cumprimento de sentença que reconhece a exigibilidade da obrigação de pagar, a fase postulatória difere daquela
prevista para a execução de título extrajudicial.
Dispõe o art. 523 do CPC/2015, verbis:
“Art. 523. No caso de condenação em quantia certa, ou já fixada em liquidação, e no caso de decisão sobre
parcela incontroversa, o cumprimento definitivo da sentença far-se-á a requerimento do exequente, sendo o
executado intimado para pagar o débito, no prazo de 15 (quinze) dias, acrescido de custas, se houver.
§ 1º Não ocorrendo pagamento voluntário no prazo do caput, o débito será acrescido de multa de dez por
cento e, também, de honorários de advogado de dez por cento.
§ 2º Efetuado o pagamento parcial no prazo previsto no caput, a multa e os honorários previstos no § 1º
incidirão sobre o restante.
§ 3º Não efetuado tempestivamente o pagamento voluntário, será expedido, desde logo, mandado de penhora
e avaliação, seguindo-se os atos de expropriação.”
A leitura do caput do art. 523 do CPC/2015 transmite algumas informações importantes. Primeiro, o cumprimento de
sentença que reconhece a exigibilidade da obrigação de pagar nunca ocorrerá de ofício, pois depende de requerimento
do exequente. Segundo, o executado deverá ser intimado para efetuar o pagamento voluntário da dívida indicada na
inicial, além das custas processuais eventualmente existentes, no prazo de 15 (quinze) dias. Essa intimação deve ser
feita na forma do art. 513, §§ 2º a 4º, do CPC/2015:
“Art. 513. O cumprimento da sentença será feito segundo as regras deste Título, observando-se, no que
couber e conforme a natureza da obrigação, o disposto no Livro II da Parte Especial deste Código.
§ 1º O cumprimento da sentença que reconhece o dever de pagar quantia, provisório ou definitivo, far-se-á a
requerimento do exequente.
§ 2º O devedor será intimado para cumprir a sentença:
I – pelo Diário da Justiça, na pessoa de seu advogado constituído nos autos;
II – por carta com aviso de recebimento, quando representado pela Defensoria Pública ou quando não tiver
procurador constituído nos autos, ressalvada a hipótese do inciso IV;
III – por meio eletrônico, quando, no caso do § 1º do art. 246 , não tiver procurador constituído nos autos IV
– por edital, quando, citado na forma do art. 256 , tiver sido revel na fase de conhecimento. § 3º Na hipótese
do § 2º, incisos II e III, considera-se realizada a intimação quando o devedor houver mudado de endereço
sem prévia comunicação ao juízo, observado o disposto no parágrafo único do art. 274.
§ 4º Se o requerimento a que alude o § 1º for formulado após 1 (um) ano do trânsito em julgado da sentença,
a intimação será feita na pessoa do devedor, por meio de carta com aviso de recebimento encaminhada ao
endereço constante dos autos, observado o disposto no parágrafo único do art. 274 e no § 3º deste artigo.
§ 5º O cumprimento da sentença não poderá ser promovido em face do fiador, do coobrigado ou do
corresponsável que não tiver participado da fase de conhecimento.”
Desse modo, a regra é a intimação do executado para pagamento voluntário na pessoa de seu advogado constituído nos
autos, pelo Diário da Justiça. Excepcionalmente, a intimação será: (a) pela via postal, com aviso de recebimento, em
se tratando de assistido pela Defensoria Pública, de executado sem advogado constituído nos autos ou se o
requerimento para cumprimento da sentença for formulado após 1 (um) ano do trânsito em julgado;  (b) por meio
eletrônico, no caso de pessoa jurídica sem procurador constituído nos autos; (c) por edital, se o executado foi revel na
fase de conhecimento; ou (d) pessoal, caso se trate de execução de alimentos (art. 528 do CPC/2015), hipótese a ser
estudada em capítulo próprio.

1.2Prazo para pagamento voluntário

Sobre o prazo de quinze dias para pagamento voluntário (art. 523 do CPC/2015), existe dúvida quanto à forma de
contagem. Uma primeira orientação é a de que esse prazo deve ser contado em dias corridos, na forma do art. 132 do
CC, pois tem natureza material. Outra corrente, todavia, defende a sua contagem em dias úteis, art. 219, parágrafo
único, do CPC/2015, por ser prazo processual. Essa última corrente foi adotada pela Terceira e pela 4ª Turmas do
Superior Tribunal de Justiça, que entenderam, ademais, deva esse prazo ser contado em dobro quando houver
litisconsortes com procuradores de escritórios distintos em autos físicos (art. 229 do CPC/2015), dada a sua natureza
processual.  Idêntica é a orientação do Enunciado 89 da I Jornada de Direito Processual Civil do CJF: “Conta-se em
1

dias úteis o prazo do caput do art. 523 do CPC”.


1.3Multa e honorários

De acordo com o parágrafo primeiro do art. 523 do CPC/2015, escoado in albis o prazo para pagamento voluntário,
automaticamente o débito será acrescido de: (i) multa, no patamar de 10% (dez por cento) do valor
executado; (ii) honorários, igualmente no patamar de 10% (dez por cento) do valor executado.
Sendo assim, no cumprimento da sentença referente à obrigação de pagar, o exequente deve aguardar o prazo
quinzenal de que dispõe o devedor para efetuar o pagamento voluntário, após o que incidirão, além dos juros e
correção, a multa, prevista como meio de vencer a obstinação do devedor em não cumprir o julgado, bem como
honorários sucumbenciais. A letra da lei deixa entrever de forma inequívoca que a multa tem natureza de meio de
coerção e reverte em favor do credor.
Caso o executado efetue pagamento apenas parcial no prazo de 15 (quinze) dias para pagamento voluntário, a multa e
os honorários devem incidir sobre o restante (art. 523, § 2º, do CPC/2015). Relativamente aos honorários
sucumbenciais, o CPC de 2015 inova em dois aspectos. A uma, expressamente prevê que são devidos honorários
independente de impugnação por parte do executado. Cuida-se de positivação da Súmula 517 do STJ: “São devidos
honorários advocatícios no cumprimento de sentença, haja ou não impugnação, depois de escoado o prazo para
pagamento voluntário, que se inicia após a intimação do advogado da parte executada.” 2

A duas, estabelece que o percentual dos honorários sucumbenciais no cumprimento de sentença serão
obrigatoriamente de 10% (dez por cento). Revogado, assim, o regime do art. 20, § 4º, do CPC/73, cuja redação
asseverava: “nas execuções, embargadas ou não, os honorários serão fixados consoante apreciação equitativa do juiz”.
Indagação pertinente diz respeito à possibilidade de o juiz reduzir o percentual de honorários para menos de 10% com
base na proporcionalidade e na razoabilidade. A 4ª Turma do STJ já se manifestou contrariamente, em razão da
literalidade do art. 827, caput, do CPC/2015, que diz respeito à execução de título extrajudicial, mas contempla regra
idêntica à do art. 523, § 1º, do CPC/2015 quanto aos honorários sucumbenciais.  Ressalte-se, contudo, que na execução
3

de título extrajudicial há uma hipótese expressamente prevista de redução dos honorários. Naquele rito, o devedor é
citado para pagar em três dias e, ocorrendo o pagamento integral nesse prazo, os honorários advocatícios são reduzidos
pela metade (art. 827, § 1º, do CPC/2015). Nessa situação, os honorários são minorados em razão da observância do
prazo para pagamento voluntário.
Outra dúvida, relativamente aos honorários, surge na hipótese de rejeição da impugnação ao cumprimento de sentença.
Mais precisamente, se os honorários já incidem após o escoamento do prazo para pagamento voluntário, devem ser
majorados caso o executado venha a oferecer impugnação e esta seja rejeitada? No panorama do CPC/1973, o STJ
editou a súmula 519: “Na hipótese de rejeição da impugnação ao cumprimento de sentença, não são cabíveis
honorários advocatícios”. Quanto ao CPC/2015, há duas correntes. A primeira delas defende a aplicação subsidiária do
art. 827, § 2ª, do CPC/2015, que admite a majoração dos honorários a até vinte por cento quando os embargos à
execução: (i) forem rejeitados; ou (ii) embora não opostos, verificar-se ao final do processo executivo a necessidade de
remunerar o trabalho do advogado do exequente. A segunda corrente, em contrapartida, entende inaplicável o art. 827,
§ 2º, do CPC/2015 ao cumprimento de sentença. Confira-se, seguindo essa última orientação, o Enunciado n. 51 da
Enfam: “A majoração de honorários advocatícios prevista no art. 827, § 2º, do CPC/2015 não é aplicável à
impugnação ao cumprimento de sentença”.
1.4Demonstrativo do crédito

O demonstrativo do débito que instrui a inicial revela o quantum debeatur, segundo os critérios originariamente
utilizados pelo credor. Seus requisitos estão discriminados no art. 524 do CPC/2015:
“Art. 524. O requerimento previsto no art. 523 será instruído com demonstrativo discriminado e atualizado
do crédito, devendo a petição conter:
I – o nome completo, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da
Pessoa Jurídica do exequente e do executado, observado o disposto no art. 319, §§ 1º a 3º ;
II – o índice de correção monetária adotado; III – os juros aplicados e as respectivas taxas;
IV – o termo inicial e o termo final dos juros e da correção monetária utilizados;
V – a periodicidade da capitalização dos juros, se for o caso;
VI – especificação dos eventuais descontos obrigatórios realizados;
VII – indicação dos bens passíveis de penhora, sempre que possível.
§ 1º Quando o valor apontado no demonstrativo aparentemente exceder os limites da condenação, a
execução será iniciada pelo valor pretendido, mas a penhora terá por base a importância que o juiz entender
adequada.
§ 2º Para a verificação dos cálculos, o juiz poderá valer-se de contabilista do juízo, que terá o prazo máximo
de 30 (trinta) dias para efetuá-la, exceto se outro lhe for determinado.
§ 3º Quando a elaboração do demonstrativo depender de dados em poder de terceiros ou do executado, o juiz
poderá requisitá-los, sob cominação do crime de desobediência.
§ 4º Quando a complementação do demonstrativo depender de dados adicionais em poder do executado, o
juiz poderá, a requerimento do exequente, requisitá-los, fixando prazo de até 30 (trinta) dias para o
cumprimento da diligência.
§ 5º Se os dados adicionais a que se refere o § 4º não forem apresentados pelo executado, sem justificativa,
no prazo designado, reputar-se-ão corretos os cálculos apresentados pelo exequente apenas com base nos
dados de que dispõe.”
Como esclarece o art. 524, VII, o exequente pode indicar, desde logo, caso tenha conhecimento do patrimônio do
devedor, os bens a serem penhorados, sempre com vistas à rápida satisfação do credor, que não está adstrito ao elenco
legal de preferências do art. 835 do CPC/2015.

1.5Mandado de penhora e avaliação

Consoante o art. 523, § 3º, do CPC/2015, outra consequência da ausência de pagamento voluntário no prazo, além da
multa e dos honorários, é a expedição imediata do mandado de penhora e avaliação, seguindo-se os atos de
expropriação. A penhora é o ato formal de individualização dos bens do executado que responderão pela dívida, que se
considera perfeito após a lavratura do auto de apreensão e depósito dos bens (art. 839 do CPC/2015). O executado
deve ser intimado da realização da penhora (art. 841 do CPC/2015), mas a ausência de intimação não torna nula a
penhora caso não exista prejuízo. O intuito da intimação é dar ciência para que o executado, no prazo de 10 (dez) dias,
possa requerer a substituição do bem penhorado (art. 847 do CPC/2015). O oficial de justiça deverá cumprir o
mandado efetuando a penhora onde quer que se encontrem os bens, ainda que sob a posse, a detenção ou a guarda de
terceiros (art. 845 do CPC/2015).
A regra é a de que avaliação seja feita pelo próprio oficial de justiça após a penhora (art. 870 do CPC/2015). Nada
impede, no entanto, que, à míngua de conhecimento, o oficial noticie ao juízo a necessidade de indicação de
especialista para proceder à avaliação (art. 870, parágrafo único, do CPC/2015), que, à semelhança do processo
executivo por título extrajudicial, submete-se a diminuto contraditório, cuja irresignação quanto ao resultado reserva-
se à impugnação do art. 525, § 1º, IV, do CPC/2015. A avaliação realizada pelo oficial de justiça constará de vistoria e
de laudo anexados ao auto de penhora, ao passo que a perícia realizada por avaliador constará de laudo apresentado no
prazo fixado pelo juiz (art. 872 do CPC/2015).

1.6Prazo para a impugnação ao cumprimento de sentença

Sob a égide do CPC/2015, o cumprimento ou frustração do mandado de penhora e avaliação não influencia de modo
algum o prazo para que o executado apresente impugnação ao cumprimento de sentença. É que, uma vez escoado o
prazo de 15 (quinze) dias para pagamento voluntário, inicia-se o prazo de 15 (quinze) dias para impugnação ao
cumprimento de sentença “independentemente de penhora ou nova intimação” (art. 525, caput, do CPC/2015). O
prazo para impugnação, inegavelmente, deve ser contado em dias úteis, pois tem caráter processual (art. 219,
parágrafo único, do CPC/2015).
Alerte-se ser aplicável à impugnação ao cumprimento de sentença o prazo em dobro para litisconsortes que tiverem
diferentes procuradores, de escritórios de advocacia distintos, sendo físicos os autos (art. 229 c/c 525, § 3º, CPC/2015).
O alerta é válido na medida em que a dobra do prazo, nos termos do art. 229 do CPC/2015, não é aplicável aos
embargos à execução de título extrajudicial (art. 915, § 3º, do CPC/2015).
Note-se que a expedição do mandado de penhora e avaliação e o início do prazo para impugnação ocorrerão em
paralelo, tão logo esgotado o prazo para pagamento voluntário. Sendo assim, a irresignação do executado quanto à
penhora ou à avaliação pode dizer respeito a acontecimento posterior ao final do prazo para impugnação. Nessa
situação, esclarece o art. 525, § 11, do CPC/2015 que as questões relativas a fato superveniente ao término do prazo
para apresentação da impugnação, assim como aquelas relativas à validade e à adequação da penhora, da avaliação e
dos atos executivos subsequentes, podem ser arguidas por simples petição, tendo o executado, em qualquer dos casos,
o prazo de 15 (quinze) dias para formular esta arguição, contado da comprovada ciência do fato ou da intimação do
ato. Para alguns autores, essa simples petição tem natureza de exceção de pré-executividade.

1.7Alimentos decorrentes de responsabilidade civil

A lei material erige, como consectário de determinados atos praticados, o dever de indenizar o dano causado através de
alimentos periódicos. Trata-se de dever pro solvendo e que apresenta a peculiaridade de o comando da sentença ter
caráter prospectivo. No afã de proteger os beneficiários desse comando, é de rigor no Direito brasileiro não só imputar
o dever, mas garantir a sua satisfação.
É imperioso esclarecer que a prestação de alimentos decorrente da responsabilidade civil (arts. 948, II, e 950 do CC)
não se confunde com a obrigação alimentar oriunda das relações de Direito das Famílias (art. 1.694 do CC). Nada
obstante, o legislador resolveu tratar de ambos os casos no mesmo capítulo, denominado “do cumprimento de sentença
que reconheça a exigibilidade de obrigação de prestar alimentos”.
O cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade da prestação de alimentos decorrente da responsabilidade
civil é regulado pelo art. 533 do CPC/2015, verbis:
“Art. 533. Quando a indenização por ato ilícito incluir prestação de alimentos, caberá ao executado, a
requerimento do exequente, constituir capital cuja renda assegure o pagamento do valor mensal da pensão.
§ 1º O capital a que se refere o caput , representado por imóveis ou por direitos reais sobre imóveis
suscetíveis de alienação, títulos da dívida pública ou aplicações financeiras em banco oficial, será inalienável
e impenhorável enquanto durar a obrigação do executado, além de constituir-se em patrimônio de afetação.
§ 2º O juiz poderá substituir a constituição do capital pela inclusão do exequente em folha de pagamento de
pessoa jurídica de notória capacidade econômica ou, a requerimento do executado, por fiança bancária ou
garantia real, em valor a ser arbitrado de imediato pelo juiz.
§ 3º Se sobrevier modificação nas condições econômicas, poderá a parte requerer, conforme as
circunstâncias, redução ou aumento da prestação.
§ 4º A prestação alimentícia poderá ser fixada tomando por base o salário-mínimo.
§ 5º Finda a obrigação de prestar alimentos, o juiz mandará liberar o capital, cessar o desconto em folha ou
cancelar as garantias prestadas.”
O § 2º do art. 533 do CPC/2015 esclarece que o juiz pode deixar de determinar essa constituição de capital, mas
somente nas hipóteses em que outra forma de garantia assegure as expectativas da vítima, como no caso de inclusão na
folha de pagamento da empresa causadora do dano, tratando-se de pessoa jurídica de notória capacidade econômica.
Além disso, admite-se a fixação da pensão tendo por base o salário mínimo, atendendo ao reclamo da jurisprudência
que exigia, sob a inspiração do princípio da restitutio integrum, que o valor fixado na sentença acompanhasse a
variação salarial da categoria funcional a que pertencia a vítima. Deveras, o dispositivo consagra o entendimento
sumulado do STJ que enunciou na Súmula nº 313: “Em ação de indenização, procedente o pedido, é necessária a
constituição de capital ou caução fidejussória para a garantia de pagamento da pensão, independentemente da situação
financeira do demandado.” A possibilidade de atrelar-se a pensão ao salário mínimo funda-se no fato de que ambas as
verbas são necessarium vitae, por isso que não há inconstitucionalidade por afronta ao art. 7º, inciso IV, da
Constituição.

2.A EXECUÇÃO EXTRAJUDICIAL POR QUANTIA CERTA CONTRA DEVEDOR SOLVENTE – FASE
POSTULATÓRIA

2.1Generalidades

A execução de título extrajudicial que consubstancia obrigação de pagar quantia certa visa a satisfazer o credor
mediante a entrega de uma soma, como resultado do processo.
É evidente que, se no exercício da atividade jurisdicional executiva, o Estado encontrar a soma no patrimônio do
devedor, o caminho encurta-se com a satisfação célere do credor. Entretanto, quando isso não ocorre, é preciso apurar
fundos para pagar o credor. Observada a regra da responsabilidade patrimonial, cumpre ao Estado converter os bens do
devedor em dinheiro para pagar o crédito exequendo. Isto implica separar, do patrimônio do executado, bens
suficientes à satisfação do crédito exequendo para futura alienação e entrega do produto ao credor e eventual saldo ao
devedor. A prática desses atos necessários à condução do processo por quantia certa a um resultado útil marca a
estrutura desta espécie de execução de título extrajudicial, também conhecida como “execução por expropriação”.
Na modalidade ora estudada, ultrapassada a postulação do exequente de instaurar a relação de execução, exsurge a
“fase de apreensão de bens”, onde se “individualiza a responsabilidade” patrimonial aos bens suficientes à satisfação
do crédito. Após, advém a “fase de expropriação”, consistente na “alienação judicial dos bens” do devedor antecedida
de ampla publicidade. Finalmente, realiza-se o “momento culminante”: o da “fase do pagamento”, com a “entrega do
produto ao credor”, e que admite as variantes da entrega: do próprio bem penhorado (adjudicação); do resultado da
alienação do bem a terceiro (alienação); ou do resultado da exploração de bens suficientes a produzir ao longo do
tempo o mesmo resultado da expropriação (apropriação de frutos e rendimentos de empresa ou de estabelecimentos e
de outros bens). Certo é que, antes de adjudicados ou alienados os bens, o executado pode, a todo tempo, remir a
execução, pagando ou consignando a importância atualizada da dívida, acrescida de juros, custas e honorários
advocatícios (art. 826 do CPC/2015).
Insta destacar que a execução por quantia certa está para o processo de execução como o procedimento ordinário
para o processo de conhecimento. É que a execução para entrega de soma é subsidiária às demais formas de execução.
Assim, v.g., se a execução para entrega de coisa esvazia--se pela deterioração do bem a ser entregue, apura-se o seu
valor e transmuda-se o processo para execução da quantia correspondente ao bem perecido (art. 809 do CPC/2015). O
mesmo fenômeno ocorre no malogro da execução de fazer, por opção do credor que, desanimado pela espera, pode
requerer a sua transmudação pela execução do valor das perdas e danos correspondentes ao inadimplemento (art. 821,
parágrafo único, do CPC/2015).
Afirma-se, assim, que a execução por quantia certa é genérica, por substituir as execuções específicas frustradas,
porquanto todas as prestações são avaliáveis economicamente e, portanto, conversíveis em dinheiro.

2.2Execução contra devedor solvente e contra devedor insolvente

A execução diz-se contra “devedor solvente” para distinguir da outra modalidade contra “devedor insolvente”. A
antiga “execução por quantia certa contra devedor insolvente” não foi incluída no CPC/2015, mas as execuções contra
devedor insolvente, em curso ou que venham a ser propostas, continuam a ser regidas pelo Código anterior (art. 1.052
do CPC/2015).
Na espécie em exame, parte-se da premissa de que o devedor tem bens suficientes à satisfação do seu crédito. Em
consequência, a pluralidade dos credores do mesmo devedor, obedecido o princípio da prioridade, será paga pela
ordem da antiguidade das respectivas penhoras sobre o mesmo bem (prior tempore potior jure). O credor não
satisfeito, em razão de o devedor ser solvente, poderá perseguir a expropriação de outros bens necessários ao
adimplemento de sua pretensão. Segundo esta regra secular de origem romana, que nos foi transmitida pelas
Ordenações Filipinas e praticada pelos nossos matizes europeus, como Portugal, Alemanha e Itália, na execução contra
o devedor solvente, privilegia-se o credor diligente (vigilantibus jura) em detrimento daqueles que se descuidaram.
Destarte, mesmo que não se tenham descuidado, incide a regra, uma vez que a solvabilidade do devedor garante-lhes o
pagamento potencial de seus créditos.
Na execução contra o devedor insolvente, em razão da insuficiência patrimonial, o princípio da prioridade é superado
pelo da “igualdade”, de prestígio na ordenação napoleônica, segundo o qual todos os credores deveriam ser tratados
igualmente perante o produto dos bens penhorados (pars conditio creditorum), “disputando proporcionalmente os seus
créditos frente à mesma massa de bens, recebendo por rateio” (arts. 612 e 613 do CPC/1973). A insolvência deve ser
requerida e declarada em processo próprio (arts. 748 e ss. do CPC/1973), inadmitindo-se que o juízo da execução
constatando a insuficiência de bens converta, ex officio e nos próprios autos, o rito da execução contra devedor
solvente em execução contra devedor insolvente.
Ademais, a insolvabilidade reclama a arrecadação de todos os bens sujeitos à alienação judicial, empreendendo-se a
liquidação do acervo em benefício de todos os credores, ao passo que na execução contra devedor solvente a penhora
circunscreve a responsabilidade a alguns bens suficientes, liberando os demais. Em resumo, na insolvência, a meta é a
satisfação de todas as dívidas, daí o sacrifício de todos os bens. Na execução contra o devedor solvente, apenas certos
créditos são satisfeitos e, em consequência, somente determinados bens são expropriados.
Cumpre acrescentar que a execução contra devedor solvente lastreia-se em título extrajudicial. A obrigação encartada
no título extrajudicial deve ser líquida, certa e exigível, porquanto destes requisitos depende a proporcionalidade dos
atos a serem praticados, no patrimônio do devedor, de expropriação e pagamento.

2.3Petição inicial

O processo de execução de título extrajudicial segue o “princípio da iniciativa”, devendo ser iniciado por “proposta”
do exequente, sendo certo que o “cumprimento” da condenação judicial para entrega de soma se processa nos próprios
autos do processo de conhecimento per officium judiciis, ou seja, independente da iniciativa do credor. A execução de
título extrajudicial deve ser distribuída onde houver mais de um juízo com competência concorrente (art. 284 do
CPC/2015), ou simplesmente registrada onde houver juízo com competência única, como ocorre em algumas
comarcas do interior. Em qualquer caso, considera-se proposta a ação executiva com o protocolo da petição inicial
(art. 312 do CPC/2015). O art. 802 do CPC/2015 , reproduzindo a regra do art. 240, § 1º, do mesmo diploma, preceitua
4

que a interrupção da prescrição é efeito do despacho que ordena a citação no processo de execução, ainda que
proferido por juízo incompetente, desde que o autor adote, no prazo de 10 (dez) dias, as providências necessárias para
viabilizar a citação (art. 240, § 2º, do CPC).
O art. 202, I, do CC de 2002 já determinava que a interrupção da prescrição ocorre “por despacho do juiz, mesmo
incompetente, que ordenar a citação, se o interessado a promover no prazo e na forma da lei processual”.
O texto não esclarece, contudo, o que acontece caso o autor não promova a citação no prazo de dez dias previsto no
art. 240, § 2º, do CPC/2015. Para uma primeira corrente, a interrupção da prescrição ocorrerá na data da efetiva
citação, sem retroagir, por força do art. 202, V, do CC/02. Outros autores, em contrapartida, entendem que se o autor
perder o prazo do art. 240, § 2º, a interrupção da prescrição ocorre com o despacho que ordena a citação, mas não
retroage à propositura da demanda.
A prescrição, como de sabença, pode ser conhecida de ofício e esse preceito se aplica também à execução. Quanto ao
processo de execução de título extrajudicial, o art. 803, caput, I, e parágrafo único, do CPC/2015 permite ao juiz
reconhecer de ofício a nulidade da execução quando o título não corresponder a obrigação exigível.
O exequente, ao promover a execução, deve elaborar uma petição inicial, cujos requisitos são mais atenuados do que
os exigíveis no art. 319 do CPC/2015  para o processo de conhecimento, porquanto o título executivo revela
5

inequivocamente a pretensão do credor. Os requisitos da inicial do processo de execução de título extrajudicial estão
previstos nos arts. 798 e 799 do CPC/2015 . 6

A petição inicial da execução extrajudicial, conforme já visto, deve ser instruída com o título executivo no original
(art. 798, I, a, do CPC/2015). Além do título, o exequente deve juntar, com a inicial, “o demonstrativo do débito
atualizado até a data de propositura da ação, quando se tratar de execução por quantia certa” (art. 798, I,  b, do
CPC/2015), na medida em que esta diligência permite que se inicie o processo sem a necessidade de remessa dos autos
ao contador, uma vez que esclarecida a extensão do débito e os limites dos atos executivos – não mais existe a  antiga
liquidação por cálculo do contador, quando a atuação deste auxiliar do juízo visava exatamente a elaborar uma
planilha do débito. Os requisitos do demonstrativo do débito estão discriminados no parágrafo único do art. 798 do
CPC/2015, acima transcrito.
Deverá a inicial, ainda, indicar os bens suscetíveis de penhora, sempre que possível (art. 798, II,  c, do CPC/2015).
Sempre que a futura penhora sobre o bem indicado puder interferir em um direito de terceiro, será necessário requerer
na inicial a intimação deste.
Assim, se a penhora recair sobre bens gravados por penhor, hipoteca, anticrese ou alienação fiduciária, o exequente
deverá requerer a intimação do credor pignoratício, hipotecário, anticrético ou fiduciário (art. 799, I, do CPC/2015).
Nos casos de penhor, hipoteca e anticrese, cuida-se de execução por quantia certa referente a obrigação garantida a
outrem por determinado bem móvel ou imóvel, devendo o processo resguardar as preferências assentadas no direito
material em favor dos beneficiários do bem constrito.
Já no caso de alienação fiduciária, existe um constituto possessório decorrente da tradição ficta do bem do devedor
fiduciante em favor do credor fiduciário. A propriedade resolúvel instituída em favor do credor fiduciário tem a única
finalidade de servir como garantia do pagamento da dívida, não lhe assistindo as faculdades comuns inerentes à
propriedade. Portanto, se o exequente indicar à penhora um bem objeto de negócio fiduciário, deverá requerer a
intimação do credor fiduciário para a proteção de seus interesses, até porque o bem alienado fiduciariamente não pode
ser penhorado por dívidas do devedor fiduciante. Nesse sentido, o art. 7º-A do Decreto-Lei nº 911/1969, incluído pela
Lei nº 13.465, de 2017, dispõe: “Não será aceito bloqueio judicial de bens constituídos por alienação fiduciária nos
termos deste Decreto-Lei, sendo que, qualquer discussão sobre concursos de preferências deverá ser resolvida pelo
valor da venda do bem, nos termos do art. 2º”.
O art. 799, II, do CPC/2015 exige que o exequente requeira a intimação do titular de usufruto, uso ou habitação,
quando a penhora recair sobre bem gravado por tais institutos. O direito real de usufruto é inalienável (art. 1.393,
primeira parte, do CC) e, portanto, impenhorável (art. 833, I, do CPC/2015), mas o exercício do usufruto é penhorável,
pois pode ser cedido de maneira onerosa (art. 1.393, in fine, do CC). 7

Também deve ser requerida a intimação do promitente comprador, quando a penhora recair sobre bem em relação ao
qual haja promessa de compra e venda registrada (art. 799, III, do CPC/2015). Da mesma forma, o exequente deve
requerer a intimação do promitente vendedor, quando a penhora recair sobre direito aquisitivo derivado de promessa
de compra e venda registrada (art. 799, IV, do CPC/2015). O contrato preliminar de promessa de compra e venda de
imóvel confere ao promitente comprador o direito real à aquisição do bem, desde que registrado no Cartório de
Registro de Imóveis (art. 1.417 do CC e art. 25 da Lei nº 6.766/1979). Registrada a promessa, então, poderá o
promitente comprador promover a adjudicação compulsória inclusive em face de eventual terceiro adquirente do
imóvel.  Se não houver registro, entende o STJ que o promitente comprador não pode opor seu direito a terceiros.
8 9

Dito isso, duas situações de interesse para o estudo da execução podem ocorrer. Primeiro, a propriedade do imóvel
objeto de promessa de compra e venda pode ser penhorada pelo credor do promitente vendedor. Nessa situação, o
exequente possui interesse na penhora porque a promessa de compra e venda, só por si, não transfere a propriedade.
Caso o promitente comprador (terceiro na execução) efetuar o pagamento do preço avençado, poderá obter a escritura
definitiva, consolidando em suas mãos a propriedade do imóvel. Se o pagamento não ocorrer, a promessa de compra e
venda se desconstitui, restando hígida a penhora em favor do exequente. Segundo, o direito real de aquisição do
imóvel objeto de promessa de compra e venda pode ser penhorado pelo credor do promitente vendedor. Cuida-se de
direito real com conteúdo econômico, capaz de contribuir para a satisfação do exequente. Logicamente, a execução
contra o promitente comprador não pode atingir a propriedade do imóvel, que ainda não lhe foi transferida.  O 10
promitente vendedor deve ser intimado, ainda que seu patrimônio não possa ser atingido na execução, a fim de que
respeite os direitos do exequente sobre o bem.
Caso indique à penhora bem objeto de direito de superfície, enfiteuse, concessão de uso especial para fins de moradia
ou concessão de direito real de uso, o exequente deverá observar as regras dos incisos V e VI do art. 799 do
CPC/2015. Quando a penhora recair: (i) sobre imóvel submetido ao regime do direito de superfície, enfiteuse ou
concessão, o exequente deve requerer a intimação do superficiário, enfiteuta ou concessionário; e (ii) sobre direitos do
superficiário, do enfiteuta ou do concessionário, o exequente deve requerer a intimação do proprietário de terreno com
regime d e direito de superfície, enfiteuse, concessão de uso especial para fins de moradia ou concessão de direito real
de uso.
No direito de superfície, o proprietário do solo transfere ao superficiário o direito de construir ou plantar em seu
terreno, bem como a propriedade resolúvel sobre essas construções ou plantações. Então, há duas propriedades
envolvidas: a propriedade sobre o solo e a propriedade superficiária, ou seja, sobre as construções e plantações, que é
resolúvel. A primeira pode ser penhorada por dívida do proprietário do terreno com regime de direito de superfície,
caso em que o exequente deve requerer a intimação do superficiário. A segunda, conquanto resolúvel, pode ser
penhorada por dívida do superficiário, caso em que o exequente deve requerer a intimação do proprietário do terreno.
A necessidade de intimação deriva do direito de preferência recíproco entre o proprietário do solo e o superficiário. De
acordo com o art. 1.373 do CC, em caso de alienação do imóvel ou do direito de superfície, o superficiário ou o
proprietário tem direito de preferência, em igualdade de condições. Sendo direito real, esse direito de preferência é
oponível a terceiros, até porque a constituição do direito real de superfície depende de registro público,  ex vi do art.
1.369 do CC e do art. 21 do Estatuto da Cidade (Lei nº 10.257/2001).
O direito real de enfiteuse envolve a titularidade do domínio útil do bem, concedida ao enfiteuta, e a nua-propriedade.
O art. 2.038 do CC de 2002 proibiu a constituição de novas enfiteuses, sendo que a enfiteuse dos terrenos de marinha e
acrescidos regula-se por lei especial (Decreto-Lei nº 3.438/1941). Por sua vez, a concessão de uso especial para fins de
moradia aplica-se às áreas de propriedade da União, inclusive aos terrenos de marinha e acrescidos, na forma do art.
22-A da Lei nº 9.636/1998. Finalmente, consoante se colhe da jurisprudência do STJ, a “concessão de direito real de
uso corresponde a contrato pelo qual a Administração transfere a particular o uso remunerado ou gratuito de terreno
público, sob a forma de direito real resolúvel, a fim de que dele se utilize para fins específicos de regularização
fundiária de interesse social, urbanização, industrialização, edificação, cultivo da terra, aproveitamento sustentável das
várzeas, preservação das comunidades tradicionais e seus meios de subsistência ou outras modalidades de interesse
social em áreas urbanas” . Consulte-se também, a respeito desse instituto, o art. 4º, V, g, do Estatuto da Cidade (Lei nº
11

10.257/2001).
O legislador se preocupou, ainda, com a penhora que envolva o direito real de laje (art. 1.225, XIII, do CC). Por meio
desse instituto, o proprietário de uma construção-base cede a superfície superior ou inferior de sua construção a fim de
que o titular da laje mantenha unidade distinta daquela originalmente construída sobre o solo (art. 1.510-A, caput, do
CC). Portanto, o titular da laje possui direito distinto do proprietário da construção base, não lhe sendo atribuída
nenhuma fração ideal do terreno subjacente. Ademais, o titular da laje poderá ceder a superfície de sua construção para
a instituição de um sucessivo direito real de laje, desde que haja autorização expressa dos titulares da construção-base
e das demais lajes, respeitadas as posturas edilícias e urbanísticas vigentes (art. 1.510-A, § 6º, do CC).
O art. 1.510-D do CC dispõe que, em caso de alienação de qualquer das unidades sobrepostas, terão direito de
preferência, em igualdade de condições com terceiros, os titulares da construção-base e da laje, nessa ordem, que serão
cientificados por escrito para que se manifestem no prazo de trinta dias, salvo se o contrato dispuser de modo diverso.
Por isso, quando a penhora recair sobre o direito real de laje, deverá ser intimado o titular da construção-base, bem
como, se for o caso, do titular de lajes anteriores (art. 799, X, do CPC/2015); e quando a penhora recair sobre a
construção-base, deve ser intimado o titular das lajes (art. 799, XI, do CPC/2015).
O art. 799, VII, do CPC/2015 exige do exequente o requerimento de intimação da sociedade, no caso de penhora de
quota social ou de ação de sociedade anônima fechada em favor de exequente alheio à pessoa jurídica, para que a
sociedade informe aos sócios a ocorrência da penhora, assegurando-se a estes a preferência prevista no art. 40,
parágrafo único, da Lei nº 6.404/76.
Cumpre ao exequente, ainda, indicar a espécie de execução de sua preferência, quando por mais de um modo puder ser
realizada, e os nomes completos do exequente e do executado e seus números de inscrição no Cadastro de Pessoas
Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, ex vi do art. 798, II, a e b, do CPC/2015.
O objetivo da execução revela que a preservação do patrimônio do devedor é de imperiosa necessidade, devendo ser
conjurado qualquer risco de dilapidação. Entretanto, pode mediar algum lapso de tempo entre o ajuizamento da
execução e a expropriação de bens. A lei processual admite, então, que na própria inicial o exequente pleiteie  medidas
urgentes, sem necessidade de propositura da ação cautelar autônoma (art. 799, VIII, do CPC/2015) justificando o
pedido. É que, no direito brasileiro, como nos sistemas continentais europeus, o patrimônio do devedor é o sucedâneo
do cumprimento de suas obrigações, por isso que qualquer alienação de bens é potencialmente lesiva aos interesses do
credor.

2.4Averbação premonitória e certidão de propositura da execução

Ainda no que diz respeito ao ajuizamento da execução, não se deve esquecer do que estatui o CPC/2015 sobre a
averbação premonitória, já estudada em capítulo próprio .12

Nos termos do art. 799, IX, do CPC/2015, incumbe ao exequente proceder à averbação em registro público do  ato de
propositura da execução e dos atos de constrição realizados, para conhecimento de terceiros. A redação do dispositivo
causa perplexidade, em vista da averbação premonitória do art. 828 do CPC/2015, segundo o qual o exequente poderá
obter certidão de que a execução foi admitida pelo juiz, com identificação das partes e do valor da causa, para fins de
averbação no registro de imóveis, de veículos ou de outros bens sujeitos à penhora, arresto ou indisponibilidade. Sabe-
se que a averbação da pendência do processo no registro público do bem gera presunção absoluta de fraude à execução
em caso de eventual alienação, ex vi do art. 792, I e II, do CPC/2015. Resta a dúvida, entretanto, sobre qual certidão
deve ser considerada: a certidão do ato de propositura da execução (art. 799, IX, do CPC/2015) ou a certidão de que a
execução foi admitida pelo juiz (art. 828 do CPC/2015)? Parece-nos que a averbação de qualquer das duas tem o
condão de gerar a presunção de fraude à execução, na linha do enunciado nº 539 do FPPC: “art. 828; art. 799, IX; art.
312) A certidão a que se refere o art. 828 não impede a obtenção e a averbação de certidão da propositura da execução
(art. 799).”
Relembre-se que a averbação premonitória não tem natureza jurídica de penhora e nem prevalece sobre penhoras
posteriormente realizadas, consoante já decidido pelo STJ . Então, mesmo que realizada a averbação premonitória do
13

art. 828 do CPC/2015 no registro de um bem, se outro credor posteriormente lograr obter a penhora daquele mesmo
bem, este último é que terá preferência para receber o produto da sua alienação. A averbação premonitória apenas
confere a presunção absoluta de fraude à execução, de modo que eventual alienação é ineficaz relativamente àquela
específica execução a que se refere a averbação. Noutras palavras, registrada a admissão da execução nos termos do
art. 828 do CPC/2015, e cientes, ex vi legis, todos os interessados de que a responsabilidade é patrimonial, a aquisição
de bens do executado fica sujeita ao resultado do processo, de sorte que qualquer alienação após essas diligências
revela-se ineficaz em relação ao credor exequente.
Considerando o princípio da economicidade, no sentido de que a execução deve ser levada a efeito nos limites da
necessidade da expropriação, circunscrita à responsabilidade patrimonial pela penhora, levantam-se as averbações
desnecessárias, como também a averbação indevida que imponha restrição desnecessária à circulabilidade dos bens,
implicando, nesse caso, dever de indenizar por parte do exequente (art. 828, §§ 2º, 3º e 5º, do CPC/2015). Assim, v.g.,
se o crédito é absorvido pelo veículo do devedor e o credor, como forma injusta de execução indireta averba no
registro de imóveis a execução, essa averbação pode gerar o dever de indenizar, demonstrados os danos em incidente
em autos apartados.
O modus operandi da averbação premonitória é ato intra muros, não revelando norma processual, por isso que
passível de regulamentação no âmbito do próprio tribunal, sem necessidade de uniformidade nacional.

2.5Citação

O Código de 1973 vedava a citação do devedor pela via postal nos processos de execução (art. 222, d, do CPC/1973).
O art. 247 do CPC/2015 não mais reproduz essa vedação. Apesar disso, alguns juristas vêm interpretando o Código de
2015 com a mentalidade do anterior e exigindo a citação por mandado a ser cumprido por oficial de justiça nas
execuções, invocando para tanto o art. 829, § 1º, do CPC/2015. Cuida-se de leitura equivocada, pois este dispositivo
em momento algum exige mandado para a citação, determinado a expedição de mandado tão somente para a penhora e
avaliação. Afigura-se mais consentânea com a mentalidade instrumentalista do Código de 2015 a posição assentada no
Enunciado 85 da I Jornada de Direito Processual Civil do Conselho da Justiça Federal, verbis: “Na execução de título
extrajudicial ou judicial (art. 515, § 1º, do CPC) é cabível a citação postal”.
O executado será citado para pagar a dívida no prazo de 3 (três) dias, contado da citação (art. 829 do CPC/2015).
Desde a Lei nº 11.382/2006, já havia sido abandonado o regime original do CPC/1973, segundo o qual o executado era
citado para nomear bens à penhora.
Consoante afirmado em passagem anterior desta obra, nos embargos à execução, não se aplica a regra do art. 229 do
CPC/2015, referente à contagem de prazo em dobro para manifestação de litisconsortes com procuradores distintos, de
escritórios diversos, sendo físicos os autos (art. 915, § 3º, do CPC/2015). Indaga-se sobre a aplicabilidade da regra do
art. 229 do CPC/2015 ao prazo para pagamento voluntário na execução de título extrajudicial. Em capítulo próprio, já
se indicou que a 3ª e a 4ª Turmas do Superior Tribunal de Justiça consideram essa regra aplicável ao prazo para
pagamento voluntário no cumprimento de sentença.  Parece-nos que a mesma racionalidade não serve para a execução
14

de título extrajudicial, até porque, quando houver mais de um executado, o prazo para cada um deles embargar conta-
se a partir da juntada do respectivo comprovante da citação, independentemente do decurso do prazo para pagamento
voluntário (art. 915, § 1º, do CPC/2015). No cumprimento de sentença, diversamente, o prazo para impugnação se
inicia tão logo esgotado o prazo para pagamento voluntário e deve ser dobrado se presentes os requisitos do art. 229 do
CPC/2015 (art. 525, caput e § 4º, do CPC/2015). Desse modo, ainda que sejam vários os executados no processo de
execução por título extrajudicial, o prazo para pagamento voluntário será sempre de 3 (três) dias a contar da citação.
O oficial de justiça, uma vez não efetuado o pagamento, munido da segunda via do mandado, procederá de imediato à
penhora de bens e sua avaliação, lavrando-se o respectivo auto e de tais atos intimando-se, incontinenti, o executado
(art. 829, § 1º, do CPC/2015). Nos termos do art. 829, § 2º, do CPC/2015, a penhora recairá sobre os bens indicados
pelo exequente, salvo se outros forem indicados pelo executado e aceitos pelo juiz, mediante demonstração de que a
constrição proposta lhe será menos onerosa e não trará prejuízo ao exequente. Note-se que o legislador privilegiou a
satisfação do credor sobre a menor onerosidade ao devedor, sendo do executado o ônus de demonstrar a existência de
alternativa que seja menos lesiva aos seus interesses e não gere prejuízos ao credor.
De toda sorte, ciente da existência de bens e não os indicando, atua o executado com deslealdade processual,
sujeitando-se às penas por ato atentatório à dignidade da justiça. É que se considera atentatória à dignidade da justiça a
conduta comissiva ou omissiva do executado que intimado, não indica ao juiz quais são e onde estão os bens sujeitos à
penhora e os respectivos valores, nem exibe prova de sua propriedade e, se for o caso, certidão negativa de ônus (art.
774, V, do CPC/2015).
Destaque-se que o prazo para pagamento voluntário, em se tratando de litisconsórcio passivo, corre
independentemente para cada executado. É o que se infere do art. 915, § 1º, do CPC/2015  que trata os codevedores
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como partes distintas, posto não haver conflito a definir, senão pretensão a realizar. A índole não contraditória do
processo de execução torna mais importante encontrarem--se os bens do que a própria pessoa do devedor, muito
embora não se os exproprie sem conceder possibilidade de o executado manifestar-se nos autos. Por essa razão, se o
oficial de justiça não localizar o devedor após diligências devidamente certificadas, mas encontrar bens penhoráveis,
deve arrestá-los, garantindo a utilidade da execução.

2.6Arresto executivo

Quando a citação também for realizada por mandado, caso o oficial de justiça não encontre o executado, deverá
efetuar o arresto de tantos bens quantos bastem para garantir a execução (art. 830, caput, do CPC/2015). Pouco
importando o motivo pelo qual o executado não foi encontrado no local em que o mandado deveria ser cumprido, o
oficial de justiça identificará os bens ali presentes e efetuará o arresto, que funciona como uma “pré-penhora”. Isso
porque, nos termos do art. 830, § 3º, do CPC/2015, aperfeiçoada a citação e transcorrido o prazo de pagamento, o
arresto converter-se-á em penhora, independentemente de termo. O arresto, então, é uma providência destinada a
preservar o patrimônio do devedor enquanto a citação não é realizada, que antecipa os efeitos da penhora para
momento anterior à sua formalização. Aliás, uma vez efetuado o arresto, a formalização da penhora é dispensada,
porquanto ocorre a conversão em penhora tão logo seja citado o executado.
Para a perfectibilização da citação, nos 10 (dez) dias seguintes à efetivação do arresto, o oficial de justiça procurará o
executado 2 (duas) vezes em dias distintos e, havendo suspeita de ocultação, realizará a citação com hora certa,
certificando pormenorizadamente o ocorrido (art. 830, § 1º, do CPC/2015). Se a citação por hora certa também restar
frustrada, deverá o exequente promover a citação por edital (art. 830, § 2º, do CPC/2015). Encontrado o devedor, este
deve ser citado e pode substituir o bem arrestado por outro indicado à penhora, na forma do art. 847 do CPC/2015.
A esse respeito, confira-se julgado do Superior Tribunal de Justiça:
“Tal qual a penhora, o arresto tem por efeito tornar inalienável o bem constrito (...). Inexistindo título legal à
preferência, a anterioridade do arresto há de conferir ao credor previdente, que primeiramente levou a efeito
o ato de constrição do bem, primazia sobre a penhora posteriormente efetuada. (AgRg no AgRg no AgRg no
REsp 1190055/MG, Rel. Min. MARIA ISABEL GALLOTTI, 4ª TURMA, j. 11.10.2016).
Esse arresto inserido na cadeia de atos da execução (denominado arresto executivo) tem inequívoca função cautelar,
porquanto visa a resguardar, em caráter eventual, uma determinada massa de bens necessária à atividade executiva,
muito embora o devedor possa substituí-los por outros indicados à penhora. Entretanto, difere esse arresto daquele
outro referido no art. 301 do CPC/2015, denominado arresto cautelar, na medida em que este pressupõe periculum
mora, ao passo que o arresto executivo do art. 830 do CPC/2015 é adiantamento de penhora, pelo fato objetivo de o
oficial ter encontrado bens penhoráveis à míngua da localização do devedor.

2.7Indisponibilidade eletrônica

Ressalte-se a atual possibilidade de o juiz dispor do poder de realizar diligências localizadoras de bens, citando-se,
como exemplo, o sistema “Sisba-jud”, através do qual permite-se ao magistrado o acesso à existência de contas-
correntes em nome do executado e, on-line, determinar o bloqueio de saldos. É o que o Código de 2015 denomina
como “Penhora de Dinheiro em Depósito ou em Aplicação Financeira” . 16

Note-se que, nos termos do art. 854, caput e § 5º, do CPC/2015, o bloqueio de ativo financeiro pela via eletrônica é
providência a ser realizada sem prévia ciência ao executado, podendo ser determinada inclusive antes da citação,
convertendo-se posteriormente em penhora sem necessidade de lavratura de termo. Portanto, a melhor terminologia
para o instituto é indisponibilidade eletrônica ou bloqueio on-line, pois de penhora não se trata, malgrado ocorra a
superveniente conversão em penhora.
Caso a indisponibilidade eletrônica seja realizada antes da citação, entende o STJ ser imperiosa a demonstração dos
requisitos para a concessão de tutela de urgência.  Não estando presentes os requisitos para a concessão de tutela de
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urgência, será necessário aguardar a tentativa de citação para que somente depois ocorra a indisponibilidade eletrônica,
conforme a jurisprudência do STJ.  Contudo, ressalte-se que, consoante também já decidiu o Tribunal, o arresto
18

executivo online não exige o esgotamento das tentativas de citação do devedor. 19

O art. 854 do CPC/2015 exige requerimento do exequente para que seja determinada a indisponibilidade eletrônica.
Após o envio da ordem, o juiz recebe a resposta das instituições financeiras. Caso a indisponibilidade tenha sido bem
sucedida, o juiz: (i) em 24 horas, determina o cancelamento de eventual indisponibilidade excessiva, o que deverá ser
cumprido pela instituição financeira em outras 24 horas; e (ii) intima o executado na pessoa de seu advogado para, em
5 dias, comprovar que as quantias são impenhoráveis ou houve excesso. Quanto à última providência, a intimação será
pessoal se não houver advogado constituído nos autos. Se a manifestação do executado for rejeitada ou não
apresentada, a indisponibilidade se converte em penhora independentemente da lavratura de termo (art. 854, § 5º, do
CPC/2015). O STJ já entendia sob a égide do Código anterior que não é necessário termo de penhora após o
bloqueio on-line, “reconhecendo ao documento gerado pelo próprio sistema Bacen-jud como apto a atender a
formalidade mínima necessária” A. penas então o Juiz determinará a transferência do dinheiro para uma conta judicial.
20

O Superior Tribunal de Justiça também já decidiu que não é necessário esgotar outros meios de execução antes de
utilizar a indisponibilidade on-line . 21

2.8Despacho liminar e honorários

O juiz, ao despachar a inicial, deve fixar, de plano, os honorários de advogado a serem pagos pelo executado, no
patamar legalmente previsto de 10% (art. 827, caput, do CPC/2015).
Esses honorários são fixados em razão de o exequente necessitar recorrer ao Judiciário para receber o que lhe é devido,
através da prática de atos processuais e incidentes inerentes ao processo de execução, por isso que, no momento
culminante do pagamento, o saldo credor inclui custas e verba honorária. O legislador reputou adequado estabelecer
um percentual fixo de honorários sucumbenciais em favor do advogado do exequente, independentemente do valor
exequendo. A fim de estimular o rápido desfecho da causa com o adimplemento voluntário pelo executado, prevê o
Código de 2015 que, em caso de integral pagamento no prazo de 3 (três) dias, o valor dos honorários advocatícios será
reduzido pela metade (art. 827, § 1º, do CPC/2015).
Consoante a jurisprudência do STJ, não se admite que o magistrado, no caso concreto, estabeleça percentual de
honorários diverso daquele legalmente fixado . 22

Esse quantum não guarda relação com a sucumbência na ação de embargos à execução, que é derivada da introdução
no organismo do processo de execução de uma outra ação de conhecimento em contraste com os desígnios do
exequente. Por isso, o legislador admite que o valor dos honorários seja elevado até vinte por cento, quando rejeitados
os embargos à execução (art. 827, § 2º, primeira parte, do CPC/2015).  Além disso, caso não opostos os embargos,
23

também poderá haver a majoração até o mesmo percentual, quando ao final do procedimento executivo constatar-se
que o trabalho realizado pelo advogado do exequente excepcionalmente reclama essa contraprestação (art. 827, §
2º, in fine, do CPC/2015). Em contraste, julgados procedentes os embargos para nulificar-se a execução, não há verba
honorária a receber na execução, devendo o exequente nos embargos ser condenado ao pagamento das despesas
processuais e honorários.
Ultrapassada a fase postulatória sem pagamento, exsurgem as fases de apreensão de bens (penhora), expropriação
(adjudicação, alienação particular e arrematação) e pagamento, comuns ao cumprimento e à execução, por isso que
remetemos o leitor ao capítulo próprio.

3.REGRAS COMUNS AO CUMPRIMENTO DE SENTENÇA E EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL POR


QUANTIA CERTA CONTRA DEVEDOR SOLVENTE

3.1Responsabilidade patrimonial. Generalidades

A obrigação assumida pelo devedor gera-lhe um vínculo com o credor que tem, por força daquela, o direito de exigir o
implemento da prestação convencionada. É o que se denomina, ao ângulo material, de “débito” e “crédito”,
respectivamente. À míngua do cumprimento espontâneo da prestação, surge para o credor um direito secundário, qual
seja, o de exigir que a obrigação seja satisfeita às custas do patrimônio do devedor. Essa submissão dos bens do
devedor à satisfação da obrigação, sujeitando-os até à expropriação, para que, com o produto da alienação judicial, se
implemente a prestação é que se denomina “responsabilidade”.
Como ressalta evidente, o credor não pode, por suas próprias mãos, tornar efetiva a “responsabilidade patrimonial”,
tornando-se imprescindível a intervenção do Judiciário.
Desta sorte, a responsabilidade patrimonial revela-se um instituto eminentemente processual, porquanto consiste na
invasão judicial do patrimônio do devedor para satisfação dos interesses do credor, atividade que se veda ao particular.
Assim como não pode uma parte impor à outra a definição de um litígio, autoritariamente, a não ser pela palavra
oficial da sentença, também não se permite ao credor, por mais razão que ostente no título executivo, invadir
privatisticamente o patrimônio do devedor para se autopagar. Faz-se mister a intervenção judicial, provocada pelo
exercício do direito de ação, in casu, o direito à execução.
Por essa razão, o direito à execução é o próprio direito de tornar efetiva a responsabilidade patrimonial do devedor.
Por seu turno, a responsabilidade patrimonial representa o epílogo da história da humanização das consequências do
descumprimento das obrigações. 24

A vetusta história do processo conheceu figuras hoje inaceitáveis de submissão da pessoa do devedor ao cumprimento
das obrigações, restrições à sua liberdade individual e até mesmo ao seu estado civil, nas hipóteses de inadimplemento.
A regra taleônica do “olho por olho, dente por dente” alcançou rigores inimagináveis no âmbito das obrigações civis.
A adstrição às consequências meramente patrimoniais para os casos de descumprimento das obrigações revelou um
magnífico passo na construção dos direitos fundamentais do homem, porquanto nem mesmo a pena criminal pode
passar da pessoa do condenado.
O patrimônio do devedor foi erigido, assim, como sucedâneo para o caso de inadimplemento de suas obrigações. Esta
é a razão pela qual qualquer alienação de bens pelo devedor, em princípio, é lesiva aos interesses dos credores que, por
isso, devem ser vigilantes na manutenção da inteireza patrimonial do solvens, a partir do momento em que se constitui
a obrigação. Trava-se uma verdadeira luta entre o direito de propriedade do devedor e o direito de garantia dos
credores. Nesse particular, as figuras da fraude contra credores e da fraude de execução representam meios de
preservação desta responsabilidade, evitando que artifícios possam frustrar aquela garantia, sem prejuízo de
considerar-se a citação no processo de conhecimento, que tem como um dos seus efeitos processuais o de “tornar
litigiosa a coisa” (art. 240 do CPC/2015).  Isto significa que o bem litigioso fica afetado aos fins do processo,
25

alcançando-o no patrimônio de quem quer que seja, inclusive no de um eventual adquirente da coisa, após a
instauração da relação processual.
Destarte, a responsabilidade patrimonial, em princípio, recai sobre o patrimônio de quem assume a obrigação, posto
que “o débito e a responsabilidade” são “faces diversas da mesma moeda”. Por isso a regra estabelecida no art. 789 do
CPC/2015 no sentido de que o “devedor responde com todos os seus bens presentes e futuros para o cumprimento de
suas obrigações, salvo as restrições estabelecidas em lei.”
Entretanto, há casos legais e convencionais em que outrem submete o seu patrimônio para servir de sucedâneo nos
casos de descumprimento da obrigação pelo devedor. Assim, v.g., o fiador que, não obstante não assuma o débito, tem
os seus bens sujeitos à intervenção judicial, caso o devedor não cumpra a prestação (art. 779, IV, do CPC/2015). Neste
caso, não há coincidência entre a pessoa que assumiu a obrigação e a que vai experimentar o sacrifício de seus bens
para satisfazer o direito do credor. Diz-se que, nesta hipótese, a “responsabilidade patrimonial é secundária”, em
comparação com a “responsabilidade patrimonial primária”, que é a do devedor.
Esta é a ratio essendi do disposto nos arts. 798 e 799  do CPC/2015, que serão analisados amiúde a seguir.
26

3.1.1Responsabilidade patrimonial primária

Dispõe o art. 789 do CPC  que o “devedor responde com todos os seus bens presentes e futuros para o cumprimento
27

de suas obrigações, salvo as restrições estabelecidas em lei”. 28

A regra enunciada explicita que, enquanto o devedor encontra-se inadimplente, o seu patrimônio mantém-se
comprometido para com a satisfação das suas obrigações, tanto que os “bens presentes e futuros” sujeitam-se à
responsabilidade.
Isto significa que não há relação necessária de contemporaneidade entre o estado de sujeição patrimonial do devedor e
o momento em que contraiu as suas obrigações. Enquanto estas encontram-se inadimplidas, todo e qualquer acréscimo
patrimonial do devedor exsurge comprometido com a satisfação da prestação em aberto.
Desta sorte, se o devedor assume uma obrigação num determinado período quando não possuía bens e, anos depois,
quando ainda não prescrita aquela, vem a adquiri-los, estes responderão pela dívida pretérita, visto que a
responsabilidade patrimonial é a única garantia para as hipóteses de inadimplemento.
Em suma, enquanto há débito, há responsabilidade.
Não obstante a regra enunciada, há bens do devedor que não respondem pelo inadimplemento de suas obrigações,
visto que protegidos pelo benefício processual de não se sujeitarem nem à constrição judicial nem à subsequente
alienação, e que se denomina impenhorabilidade.
A impenhorabilidade inviabiliza a execução que se realiza mediante a expropriação, na medida em que só pode ser
alienado pelo processo aquilo que previamente for escolhido e constrito do patrimônio do devedor através da penhora.
Assim, v.g., a cláusula testamentária de inalienabilidade implica a antecedente impenhorabilidade, porquanto a
penhora prepara a futura expropriação.
À luz do Código de 1973, dizia-se que a proteção da impenhorabilidade poderia ser “absoluta ou relativa”. Isto
significava dizer que a impenhorabilidade relativa cede ante a inexistência de outros bens a penhorar, ao passo que, na
absoluta, qualquer transgressão à proteção implica a nulidade do ato, arguível hodiernamente através da impugnação
ao cumprimento da sentença ou em embargos, na forma dos arts. 525, § 1º, inciso IV, e 917, inciso II, do CPC/2015,
ou a qualquer tempo antes do trânsito da sentença extintiva da execução. O CPC de 2015, contudo não mais utiliza o
advérbio “absolutamente” impenhoráveis, pois em determinados casos será possível penhorar inclusive os bens
constantes do rol do art. 833, como, v. g., na hipótese em que a dívida é for relativa ao próprio bem (art. 833, § 1º, do
CPC/2015) ou, em determinadas situações, se a penhora for para pagamento de prestação alimentícia (art. 833, § 2º, do
CPC/2015). Entretanto, a regra geral é a de que não estão sujeitos à execução os bens que a lei considera
impenhoráveis ou inalienáveis.
Não obstante seja essa a ratio essendi do instituto da “impenhorabilidade”, o casuísmo jurisprudencial tem
excepcionado de tal maneira a regra que se enfraqueceu sobremodo essa garantia processual.
O tema referente à impenhorabilidade voltará a ser versado quando do estudo desse ato de constrição na cadeia do
processo de satisfação que tenha como objeto o pagamento de quantia certa.

3.1.2Responsabilidade patrimonial secundária

A responsabilidade patrimonial secundária é excepcional e não se presume, posto implicar o sacrifício do patrimônio
de outrem para satisfação de dívida alheia. É uma espécie de legitimação extraordinária para a excussão de bens.
Os atos executivos alcançam esses bens como se estivessem incidindo sobre o patrimônio do próprio devedor. Como
os terceiros com responsabilidade secundária não têm débito, podem excluir o seu patrimônio da execução por meio
dos embargos de terceiro (art. 674 do CPC/2015). Os embargos de terceiro devem ser opostos, no cumprimento de
sentença ou no processo de execução, até 5 (cinco) dias depois da adjudicação, da alienação por iniciativa particular ou
da arrematação, mas sempre antes da assinatura da respectiva carta (art. 675 do CPC/2015). Todavia, o STJ entende
que, que, nos casos em que o terceiro não tenha ciência da execução, a contagem do prazo tem início a partir da
turbação ou do esbulho. 29

Deveras, a responsabilidade patrimonial secundária visa, em sua essência, a preservar os bens afetados aos fins do
processo, ainda que transferidos a outrem.
Por essa razão, muito embora a regra seja a responsabilidade patrimonial primária, segundo a qual os bens presentes e
futuros do devedor respondem por suas obrigações enquanto em estado de inadimplência, há casos nos quais bens de
terceiros também se sujeitam à execução, sobressaindo dentre essas hipóteses o que dispõe o art. 790 do CPC/2015. 30

O dispositivo consagra a regra de que, tratando-se de sucessor singular de bem afetado ao cumprimento da sentença, o
vínculo à obrigação constante de título extrajudicial faz da alienação no curso do processo ou após firmado o negócio
jurídico ato insensível para o vencedor da ação ou para o credor exequente.
Rememore-se que a coisa se torna litigiosa a partir da litispendência, ou seja, da existência do processo, ainda que em
fase de conhecimento. Em relação ao réu, a litispendência ocorre com a citação – e o mesmo pode ser dito quanto ao
efeito de tornar litigiosa a coisa (art. 240 do CPC/2015). 31

Debate-se, em doutrina, sobre o momento em que se vincula o terceiro adquirente aos resultados da ação a ponto de
submeter o bem adquirido à sorte da futura execução. Sustentam alguns que, proposta a ação real, qualquer alienação
vincula o sucessor, ainda que o réu-alienante não tenha sido citado para a demanda. Todavia, conforme anteriormente
afirmado, é a citação que torna litigiosa a coisa para o réu. Por isso, a corrente majoritária exige que a alienação tenha
se efetivado após a citação do réu-alienante e que seja comprovada a má-fé do adquirente, protegendo-se, assim, o
terceiro de boa-fé. 32

O Código refere-se ao sucessor como responsável secundário, uma vez que os atos de execução atingem o bem no seu
patrimônio, visto tê-lo adquirido quando sobre ele tramitava ação fundada em direito sobre a coisa. Ora, a simples
pendência da ação real indica que, caso procedente o pedido, o bem que figura como objeto litigioso sofrerá as
consequências práticas do resultado da demanda. Configurada uma das hipóteses de fraude à execução previstas no art.
792 do CPC/2015, a alienação do bem litigioso é ineficaz em relação à parte contrária. Assim, a alienação do bem é
indiferente para o processo, que reconhece o sucessor singular como responsável secundário.
Nada obstante, o alienante continua sendo parte legítima no processo de conhecimento. O terceiro adquirente somente
poderá suceder o alienante no processo se a parte contrária consentir (art. 109, § 1º, do CPC/2015). Do contrário, o
processo segue contra o alienante, que será um legitimado extraordinário na defesa do interesse do adquirente (art.
109, § 3º, do CPC/2015), sendo que este pode intervir durante a fase de conhecimento como assistente litisconsorcial
(art. 109, § 2º, do CPC/2015).  Caso o adquirente intervenha como assistente litisconsorcial, constará como obrigado
33

no próprio título executivo judicial se sobrevier condenação. De qualquer forma, o legislador explicita que a coisa
julgada atinge o terceiro adquirente quer ele intervenha ou não no processo. Assim, a aquisição é um indiferente
processual, por isso que, iniciada a execução e inserindo-se o bem sobre o qual versou a ação real no patrimônio de um
terceiro de má-fé, in casu, o sucessor, a responsabilidade patrimonial o atinge, tal como se o apreendesse no
patrimônio do executado.
De toda sorte, se o terceiro pagar a dívida para permanecer com o bem sem moléstias judiciais, sub-rogar-se-á no
crédito e poderá até mesmo prosseguir na execução, conforme previsão do art. 778, § 1º, IV, do CPC/2015. 34

Referindo-se a lei a sucessor singular, pode ostentar essa qualidade a título gratuito ou oneroso, como o comprador do
bem ou o donatário, uma vez que a lei visa a preservar a responsabilidade patrimonial e não dispor acerca das
consequências jurídicas na relação entre o alienante e o executado. No caso de bens sujeitos a registro, como imóveis e
automóveis,  o atingimento dos bens do sucessor singular pressupõe que em seu nome estejam registrados, pois, do
35

contrário, a responsabilidade será considerada primária, na medida em que, sem o registro, o bem permanece na
propriedade do executado. Como se afirma, “o bem atingido é o que não deveria ter saído do patrimônio do devedor”. 36

Destarte, o “sucessor universal” não é responsável secundário, porquanto tem legitimação ordinária, sucedendo o de
cujus em todas as suas relações jurídicas, e por isso é considerado sujeito passivo da execução (art. 779, II, do
CPC/2015).  A responsabilidade dos herdeiros ou do espólio é primária e não secundária, visto que os bens são
37

transmitidos com os ônus que mantinham quando da sucessão causa mortis.


É de sabença que por vezes se gravam testamentariamente os bens objeto de sucessão em poder dos herdeiros. A
impenhorabilidade testamentária somente os preserva em relação às dívidas dos herdeiros e não do de cujus, pois, se
assim o fosse, bastaria ao falecido clausular os seus bens para passá-los aos herdeiros, deixando todas as suas
obrigações impagas, o que representaria manifesta heresia jurídica.
3.1.3Responsabilidade patrimonial dos sócios e desconsideração da personalidade jurídica

É antiquíssima a regra jurídica segundo a qual a sociedade não se confunde com a pessoa dos sócios. A expressão
“confusão” aí é utilizada na sua acepção técnica de fusão na própria pessoa da mesma qualidade jurídica,  v.g., quando
um sujeito torna-se ao mesmo tempo credor e devedor. Isso significa dizer que a garantia das dívidas da sociedade
deve repousar sobre o patrimônio social e não sobre os bens dos sócios (societas distat singulis).
Entretanto, há casos legais em que, não obstante a dívida seja da sociedade, o patrimônio do sócio responde por ela.
Trata-se de hipótese típica de “responsabilidade patrimonial secundária”. Nesse caso, somente a lei pode comprometer
o patrimônio do sócio pela obrigação constituída pela sociedade e a razão é simples: quem contrata com a pessoa
jurídica deve informar-se acerca do seu potencial econômico-financeiro, para cientificar-se de sua capacidade de
comprometimento patrimonial.
A sociedade limitada indica necessariamente o limite de sua responsabilidade; as demais sociedades de pessoas têm,
no contrato social, a expressão da potencialidade do seu comprometimento.
A regra em exame (art. 790, II, do CPC/2015)  deve ser analisada em consonância com os parágrafos do art. 795 do
38

CPC/2015,  os quais esclarecem que o “sócio réu, quando responsável pelo pagamento da dívida da sociedade, tem o
39

direito de exigir que primeiro sejam excutidos os bens da sociedade”, incumbindo-lhe “nomear quantos bens da
sociedade situados na mesma comarca, livres e desembargados, bastem para pagar o débito”.
Tratando-se de título extrajudicial em que o sócio o firma como avalista, a execução direta contra ele não aproveita o
disposto no art. 795 do CPC/2015, porquanto, neste caso, ele é executado primário, devedor principal (art. 794 do
CPC/2015). 40

A responsabilidade regulada no inciso II do art. 790 do CPC/2015 versa sobre a responsabilidade do sócio pela dívida
da sociedade. Por exemplo, os arts. 134, VII, e 135 do Código Tributário Nacional preveem hipóteses de
responsabilidade direta dos sócios pelas dívidas tributárias da sociedade.  Deve-se analisar em conjunto o inciso VII
41

do art. 790 do CPC/2015, que sujeita à execução os bens do responsável, nos casos de desconsideração da
personalidade jurídica.
Como esclarece o art. 795, § 4º, do CPC/2015, a desconsideração da personalidade jurídica depende sempre da
instauração de um incidente próprio, destinado a possibilitar o contraditório em relação ao sujeito potencialmente
alcançado pelos atos processuais de constrição.
O incidente de desconsideração da personalidade jurídica é uma novidade do Código de 2015, regulado nos seus arts.
133 a 137. Como já afirmado, a regra é que os “bens particulares dos sócios não respondem pelas dívidas da
sociedade” (art. 795, caput, do CPC/2015) e vice versa, pois a sociedade tem personalidade jurídica e patrimônio
próprios. Excepcionalmente, pode-se requerer a desconsideração da personalidade jurídica, cuja natureza jurídica é de
ineficácia episódica da autonomia patrimonial da pessoa jurídica. 42

Por meio da desconsideração da personalidade jurídica, tanto pode o sócio responder por dívidas da sociedade quanto
a sociedade responder por dívidas do sócio (a chamada desconsideração inversa). Para ilustrar esta última situação
com um julgado do STJ, quando o sócio transfere bens para a sociedade a fim de evitar a partilha com seu ex-cônjuge,
pode ser requerida a desconsideração inversa da personalidade jurídica para atingir o patrimônio da pessoa jurídica. 43

Para que seja decretada a desconsideração da personalidade jurídica, devem ser demonstrados os requisitos exigidos
pelo direito material. Esses requisitos dependem do regime jurídico aplicável à hipótese, sendo certo que a doutrina
categoriza os regimes em duas grandes teorias: a teoria maior e a teoria menor.
A teoria maior é aplicável às relações civis-comerciais e tem previsão não apenas no art. 50 do CC de 2002, mas
também em outros diplomas. 44

O art. 50 do CC exige, para a desconsideração da personalidade jurídica, um “abuso da personalidade jurídica,


caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial”. Deve haver, segundo o STJ,  fraude
intencional ou confusão patrimonial . A jurisprudência também se pacificou no sentido de que a dissolução irregular
45

da pessoa jurídica não gera presunção de fraude. 46

Deve-se atentar para o fato de que a Declaração de Direitos da Liberdade Econômica (Lei nº 13.874/2019) alterou o
art. 50 do CC e trouxe várias novidades, dentre elas a conceituação de “desvio de finalidade” e de “confusão
patrimonial”.  Segundo o novel § 1º do art. 50 do CC, “desvio de finalidade é a utilização da pessoa jurídica com o
47

propósito de lesar credores e para a prática de atos ilícitos de qualquer natureza”. Apesar do conectivo “e”, os
requisitos para a configuração do desvio de finalidade são alternativos, a saber: (i) propósito de lesar credores;
ou (ii) prática de atos ilícitos. A redação original da Medida Provisória nº 881 exigia expressamente o dolo, afastando
situações de mera culpa. Com a conversão em lei, a expressão “dolosa” foi retirada.
O conceito de confusão patrimonial é trazido pelo novo § 2º do art. 50 do CC: “Entende-se por confusão patrimonial
a ausência de separação de fato entre os patrimônios, caracterizada por: I – cumprimento repetitivo pela sociedade de
obrigações do sócio ou do administrador ou vice-versa; II – transferência de ativos ou de passivos sem efetivas
contraprestações, exceto o de valor proporcionalmente insignificante; e III – outros atos de descumprimento da
autonomia patrimonial.” O inciso III do art. 50, § 2º, do CC traz uma cláusula geral para abranger outras situações de
confusão patrimonial, como a prestação de garantia, pela sociedade, em contrato de interesse exclusivo de sócio.
Somente os bens particulares dos administradores ou sócios “beneficiados direta ou indiretamente pelo abuso” podem
ser afetados pela desconsideração (art. 50, caput, do CC). O STJ também admitia que a desconsideração atingisse bens
de sócios e administradores que “praticaram” a conduta ilícita, independente de terem se beneficiado.  A princípio,
48

parece que a inovação legislativa superou a orientação jurisprudencial, mas será necessário aguardar a manifestação
dos Tribunais sobre o assunto. Assim, v.g., se o sócio, desrespeitando o contrato social, engendra determinado negócio
jurídico que lhe traz proveito, ou comete um ilícito utilizando-se da entidade, a condenação dos danos decorrentes da
execução pode recair sobre o seu patrimônio.
Todas as novidades trazidas pela Declaração de Direitos de Liberdade Econômica são aplicáveis à desconsideração
inversa da personalidade jurídica (art. 50, § 3º, do CC). Além disso, o legislador deixou claro que não constitui desvio
de finalidade a mera expansão ou a alteração da finalidade original da atividade econômica específica da pessoa
jurídica (art. 50, § 5º, do CC).
O art. 50 do CC não exige, como requisito para a desconsideração, a inexistência de bens para satisfazer a dívida, de
modo que seria possível a desconsideração da personalidade jurídica preventiva. Todavia, há precedente do STJ em
sentido contrário, exigindo também a inexistência de bens para satisfazer a dívida. 49

A teoria menor da desconsideração da personalidade jurídica é aplicável às relações ambientais e consumeristas.  Sob
50

a perspectiva dessa teoria, a desconsideração da personalidade jurídica ocorre “pelo simples inadimplemento ou pela
ausência de bens suficientes para a satisfação do débito” . Nesse sentido, recomenda-se a leitura do seguinte julgado
51

do STJ:
“De acordo com a Teoria Menor, a incidência da desconsideração se justifica: a) pela comprovação da
insolvência da pessoa jurídica para o pagamento de suas obrigações, somada à má administração da empresa
(art. 28, caput, do CDC); ou b) pelo mero fato de a personalidade jurídica representar um obstáculo ao
ressarcimento de prejuízos causados aos consumidores, nos termos do § 5º do art. 28 do CDC.” (REsp
1735004/SP, Rel. Min. NANCY ANDRIGHI, 3ª TURMA, j. 26.06.2018).
Quanto às pessoas jurídicas que podem ter a sua personalidade desconsiderada, deve-se considerar que o art. 50 do CC
está no capítulo denominado “disposições gerais” do título “das pessoas jurídicas”. Os capítulos seguintes tratam das
associações e fundações. Questão jurídica polêmica diz respeito ao cabimento da desconsideração da personalidade
jurídica de associações. O STJ apenas enfrentou esse tema como obiter dictum, sem fixar uma tese. 52

Outra questão controvertida na doutrina reside em saber se cabe a desconsideração da personalidade jurídica quando
os sócios têm responsabilidade ilimitada. Quanto às sociedades simples, o CC dispõe em seu art. 1.023, verbis: “Se os
bens da sociedade não lhe cobrirem as dívidas, respondem os sócios pelo saldo, na proporção em que participem das
perdas sociais, salvo cláusula de responsabilidade solidária.” O STJ entende que não cabe desconsideração nesses
casos, pois o art. 1.023 do CC já permitiria a invasão do patrimônio do sócio. 53

Relativamente às sociedades coligadas, o STJ entende que seria cabível a desconsideração da personalidade jurídica
para que uma empresa do grupo econômico responda por dívidas de outra, bem como para que se atinja o patrimônio
de determinado sócio. 54

Alguns denominam desconsideração da personalidade jurídica indireta quando uma sociedade controladora pratica


desvio de finalidade ou confusão patrimonial por meio de uma sociedade controlada (arts. 1.098 e 1.099 do CC). Para
que seja decretada a desconsideração indireta é necessária a instauração do incidente, nos termos da jurisprudência
recente.  A Declaração de Direitos de Liberdade Econômica inseriu o § 4º no art. 50 do CC para dispor que a mera
55

existência de grupo econômico, sem a presença dos requisitos da confusão patrimonial ou do desvio de finalidade, não
autoriza a desconsideração da personalidade da pessoa jurídica.
Quanto aos aspectos processuais, o art. 133 do CPC/2015 esclarece que a legitimidade para a instauração do incidente
de desconsideração da personalidade jurídica é da parte ou do Ministério Público, como órgão agente ou interveniente.
Sendo assim, o juiz não pode determinar a instauração do referido incidente de ofício.
No que tange ao momento processual, o incidente é cabível em qualquer fase do processo de conhecimento, no
cumprimento de sentença e na execução fundada em título executivo extrajudicial (art. 134 do CPC/2015). Ademais, o
incidente de desconsideração da personalidade jurídica aplica-se ao processo de competência dos juizados
especiais, ex vi do art. 1.062 do CPC/2015.
Vale notar que, nos termos do art. 134, § 2º, do CPC/2015, se a desconsideração da personalidade jurídica for
requerida na inicial, não há a instauração de um incidente, devendo o sócio ou a pessoa jurídica ser citado para
responder, no polo passivo. Em contraste, caso a desconsideração seja requerida em qualquer outro momento
processual, a instauração do incidente é obrigatória e o processo deve ser suspenso (art. 134, § 3º, do CPC/2015).
Instaurado o incidente, deve ser citado o sócio (ou a pessoa jurídica, se a desconsideração for inversa) para responder,
no prazo de 15 dias (art. 135 do CPC/2015).
Em regra, o incidente se resolve por decisão interlocutória (art. 136 do CPC/2015), cabendo, portanto, agravo de
instrumento – ou agravo interno, se a decisão foi proferida pelo relator. Segundo o STJ, a pessoa jurídica não tem
legitimidade para recorrer da decisão que determina a responsabilização dos sócios pela desconsideração. 56

Caso provido o requerimento de desconsideração, forma-se um litisconsórcio passivo facultativo e a alienação ou a


oneração de bens, havida em fraude de execução, será ineficaz em relação ao requerente (art. 137 do CPC/2015).
O art. 792, § 3º, do CPC/2015 elucida qual o marco temporal a partir do qual os atos jurídicos podem ser alcançados
pela fraude à execução, em casos de desconsideração da personalidade jurídica: a partir da citação da parte cuja
personalidade se pretende desconsiderar. O dispositivo não esclarece se essa citação é a ocorrida no processo contra o
executado originário ou a do incidente de desconsideração. De acordo com o Enunciado n. 52 da Enfam,  verbis: “A
citação a que se refere o art. 792, § 3º, do CPC/2015 (fraude à execução) é a do executado originário, e não aquela
prevista para o incidente de desconsideração da personalidade jurídica (art. 135 do CPC/2015)”.
Outra orientação jurisprudencial importante é a de que, decretada a desconsideração da personalidade jurídica, o sócio
responde com todos os seus bens e não somente até o limite do capital integralizado. 57

3.1.4Responsabilidade do terceiro em cujo poder encontram-se bens do devedor

O inciso III do art. 790 do CPC/2015 considera sujeitos à execução os bens do devedor em poder de terceiro. A
hipótese é de responsabilidade primária, uma vez que os bens são do devedor e somente se encontram em poder do
terceiro por força de uma relação jurídica a priori inoponível ao exequente.
Ora, se a execução atinge bens do sucessor a título singular, com muito mais razão há de atingir os bens do próprio
devedor que apenas se encontram provisoriamente subordinados a outrem por força de vínculo jurídico alheio ao
credor. Assim, por exemplo, se o bem do devedor está alugado ou em comodato, nem por isso escapa à
responsabilidade patrimonial. A única peculiaridade é que, alienado o bem, o arrematante ou o adjudicatário deverão
respeitar o vínculo existente, desfazendo-o pelos meios legais, v.g., promovendo uma ação de despejo para rescindir a
locação (arts. 8º e 59 da Lei nº 8.245/1991) ou de reintegração de posse antecedida de notificação para desconstituir o
comodato.
Por fim, se o bem do devedor está em poder de terceiro, sem vínculo com qualquer causa hábil, a responsabilidade se
impõe, porquanto, a hipótese, mutatis mutandis equipara-se a uma transferência em “fraude de execução” ou, então,
“ao caso” de responsabilidade primária.

3.1.5Responsabilidade patrimonial do cônjuge

Os cônjuges, conquanto capazes de contrair obrigações, assumem-nas e por elas respondem com o seu próprio
patrimônio. Assim, v.g., se um dos cônjuges adquire um bem para si e não cumpre a prestação, os seus bens
responderão para com o cumprimento de suas obrigações. Trata-se, portanto, de uma conclusão que não se afasta da
regra da responsabilidade patrimonial primária e encontra-se textualmente consagrada no art. 1.643 do CC. Entretanto,
há casos em que a dívida é contraída por um dos cônjuges e os bens do outro respondem pela satisfação do credor.
Nessa hipótese, verifica-se a responsabilidade patrimonial secundária, visto que a obrigação foi assumida por um
devedor e o patrimônio comprometido é de outra pessoa que não contraiu o débito.
A lei dispõe acerca desses casos, enunciando, no art. 790, IV, do CPC/2015, estarem sujeitos à execução os bens “do
cônjuge ou companheiro, nos casos em que seus bens próprios ou de sua meação respondem pela dívida”. Impõe-se
saber, portanto, em que casos os bens de um dos cônjuges respondem pelas dívidas do outro? Afinal, nos termos do
art. 1.666 do CC, em se tratando de regime de comunhão parcial (o que é a regra), as “dívidas, contraídas por qualquer
dos cônjuges na administração de seus bens particulares e em benefício destes, não obrigam os bens comuns”.
Todavia, a lei civil preceitua que a responsabilidade patrimonial secundária se opera quando a obrigação contraída por
um dos cônjuges reverte em benefício da família. 58

O atingimento dos bens do cônjuge que não contraiu a dívida vai depender da insuficiência dos bens do cônjuge
obrigado e da comprovação de que o débito reverteu em proveito da família.
O preceito em foco cria uma regra acerca do ônus da prova, repassando-o para o exequente que pretenda atingir bens
diversos do devedor primário. Nalgumas hipóteses, “presume-se” que a obrigação foi contraída em benefício da
família, como ocorre, por exemplo, quando a dívida é oriunda do negócio comercial através do qual o devedor sustenta
seus familiares. Nessas hipóteses, cabe ao cônjuge que pretenda fazer valer a regra da responsabilidade primária
inserida no art. 3º da Lei nº 4.121/62, comprovar que a obrigação não reverteu em benefício da família. A
jurisprudência presume, v.g., o aval como dívida não beneficiante à família, salvo se firmado no exercício da atividade
laborativa da sociedade da qual o cônjuge faça parte.
De toda sorte, o princípio é o de que, não havendo benefício, não há o ônus do sacrifício dos bens do cônjuge,
cabendo-lhe excluí-los através dos embargos de terceiro. Não obstante o cônjuge possa tentar desvencilhar a sua
meação através dos embargos de terceiro, não se lhe pode negar, assim como não se interdita a qualquer que tenha
responsabilidade patrimonial secundária, o uso dos embargos à execução e ao próprio crédito exequendo, porquanto,
através deste expediente, o cônjuge logra inutilizar o processo, o crédito, e, a fortiori, o próprio ato de constrição. O
que se veda é a discussão da execução e do crédito nos autos dos embargos de terceiro cujo escopo é completamente
diferente. 59

Nos casos em que os bens do cônjuge não respondem e, havendo um só bem a ser expropriado, reserva-se para o
cônjuge não devedor a parte equivalente à meação em espécie (art. 843 do CPC/2015). 60

Na mesma hipótese, mas havendo mais de um bem, calcula-se a meação ideal, alienando-se o bem todo, colacionando-
se o produto da venda judicial, quando de ulterior partilha por morte ou separação. Assim, por exemplo, se o cônjuge
varão foi executado por dívida de R$ 100.000,00 e um imóvel do casal foi alienado para fazer face a esse crédito, em
partilha ulterior de inventário por morte ou separação, o outro cônjuge fará jus a mais R$ 50.000,00 do que o outro,
como quota correspondente à sua meação no bem expropriado.
É preciso recordar, ainda, das hipóteses de litisconsórcio passivo necessário entre os cônjuges ou companheiros,
consoante o art. 73, § 1º, do CPC/2015:
“Art. 73. O cônjuge necessitará do consentimento do outro para propor ação que verse sobre direito real
imobiliário, salvo quando casados sob o regime de separação absoluta de bens.
§ 1º Ambos os cônjuges serão necessariamente citados para a ação:
I – que verse sobre direito real imobiliário, salvo quando casados sob o regime de separação absoluta de
bens;
II – resultante de fato que diga respeito a ambos os cônjuges ou de ato praticado por eles;
III – fundada em dívida contraída por um dos cônjuges a bem da família;
IV – que tenha por objeto o reconhecimento, a constituição ou a extinção de ônus sobre imóvel de um ou de
ambos os cônjuges.
§ 2º Nas ações possessórias, a participação do cônjuge do autor ou do réu somente é indispensável nas
hipóteses de composse ou de ato por ambos praticado.
§ 3º Aplica-se o disposto neste artigo à união estável comprovada nos autos”.
O litisconsórcio entre os cônjuges ou companheiros no processo de conhecimento significa que, caso restem
sucumbentes, ambos constarão como devedores no título executivo judicial. Segundo o STJ, o cônjuge ou
companheiro que não foi citado, apesar da exigência do art. 73, § 1º, do CPC/2015, deve ajuizar a ação de  querela
nullitatis insanabilis para que seja declarada a nulidade da sentença. 61
3.1.6Responsabilidade patrimonial do fiador

A responsabilidade patrimonial do fiador revela clássico exemplo de que nem sempre o débito e a responsabilidade
repousam sobre a mesma pessoa. No contrato de fiança, o fiador assume a responsabilidade pelo pagamento, caso o
devedor garantido não o faça. Assim, muito embora a obrigação tenha sido contraída pelo devedor, o patrimônio
comprometido é o do fiador, revelando caso típico de responsabilidade secundária. A responsabilidade patrimonial
secundária é sempre excepcional, exigindo interpretação restritiva, máxime quando se trata de fiança em que a exegese
limitada é fruto de regra do próprio direito material, posto contrato benéfico.
Assim, além das escusas processuais é lícito ao fiador arguir exceções substanciais, v.g., se a pessoa física não mais
integra a pessoa jurídica afiançada etc.
O legislador não olvida que historicamente a fiança é contrato gratuito; por isso, razões de equidade indicam que
primeiramente devem ser sacrificados os bens do devedor garantido. É que não ressoaria justo que o débito do devedor
com bens suficientes fosse solvido por outrem.
Nesse sentido, dispõe o art. 794 do CPC/2015 que o “fiador, quando executado, tem o direito de exigir que primeiro
sejam executados os bens do devedor situados na mesma comarca, livres e desembargados, indicando-os
pormenorizadamente à penhora”.
Trata-se de benefício processual (beneficium excussionis) que, contudo, não é aplicável quando o fiador tenha
renunciado ao benefício de ordem (art. 794, § 3º, do CPC/2015). Nessa situação, ainda que o devedor tenha bens
suficientes à execução, poderá ser atingido primeiro o patrimônio do fiador. Assumindo a condição de principal
pagador, o fiador acionado primária e isoladamente responde com os seus bens pelo cumprimento da obrigação e
sujeita-se a todos os ônus que incidem sobre a figura do devedor principal. Assim, por exemplo, se o fiador aliena bens
com o fito de esvaziar a execução, pratica também fraude de execução.
Demandado o fiador e satisfeita a obrigação alheia, o garante adquire o direito de executar o afiançado, pelo mesmo
valor, nos autos do mesmo processo (art. 794, § 2º, do CPC/2015).
A obrigação garantida pode ter sido contraída em título extrajudicial ou ser decorrente de sentença condenatória. No
primeiro caso, de execução extrajudicial, o fiador deve ser citado para o processo desde o seu início. Tratando-se de
cumprimento de sentença, somente se admite que o patrimônio do fiador seja executado se ele tiver participado do
processo de condenação anterior, visto que não se pode executar uma sentença contra quem não foi parte no seu
processo de produção. O fiador, por seu turno, convocado para o processo de condenação, para poder exercer o
regresso que lhe faculta o art. 794, § 2º, do CPC/2015, deve “chamar ao processo” o devedor (art. 130 , I, do
CPC/2015).
Ressalte-se, ainda, que o fiador, para requerer o atingimento preferencial do patrimônio do devedor, deve fazê-lo logo
após citado para a execução, durante o prazo para pagamento voluntário, quando então deve indicar bens livres e
desembargados de ônus judiciais ou extrajudiciais situados na mesma comarca, exigência idêntica à que se encontra
expressa para os sócios no § 2º do art. 795 do CPC/2015.
3.2Fraude de execução

3.2.1Introdução

O terceiro que não contraiu débito, mas adquiriu bens do devedor em fraude à execução, tem responsabilidade
patrimonial secundária (art. 790, inciso V, do CPC/2015).  A responsabilidade in casu impõe-se porque o terceiro
62

adquiriu bens que não poderiam ter sido alienados, pois comprometidos com os fins da execução.
A razão deste dispositivo está na própria evolução histórica da responsabilidade, uma vez que erigido o patrimônio do
devedor como sucedâneo para com o cumprimento de suas obrigações, as alienações representam, potencialmente,
frustração para as justas expectativas dos credores. Ora, se é verdade que a alienação de bens pode frustrar credores
que sequer ajuizaram as suas ações em face dos devedores (art. 158 do CC), com muito mais razão ressalta lesiva a
venda de bens quando pendente processo cuja satisfatividade do resultado depende da potência patrimonial do
devedor. Desta sorte, comprometido que está com os fins do processo o patrimônio genérico do devedor, qualquer que
seja a sua forma de alienação implica frustrar-se o processo satisfativo, considerando-se a venda, em  fraude de
execução desde que configurada alguma das hipóteses do art. 792 do CPC/2015.
Como se pode observar, a fraude de execução não atinge somente as justas expectativas do credor como atenta,
também, contra a atividade executiva, esvaziando-a, porquanto a inexistência de bens torna inócuo o processo
satisfativo. Por essa razão a lei coíbe civil e criminalmente a “fraude de execução”. Sob o ângulo penal, considera-se
figura típica de delito prevista no art. 179 do Código Penal.  Sob a ótica civil, desconsidera a alienação, fazendo
63

incidir os meios executivos sobre o bem transmitido sem se importar com o patrimônio em que ele se encontre. Por
isso se diz responsabilidade patrimonial secundária do terceiro adquirente – a lei simplesmente ignora a venda,
reputando-a “ineficaz” em relação ao exequente e ao processo de execução (art. 792, § 1º, do CPC/2015).
Isto permite ao Estado-Juiz atingir o bem no patrimônio de quem não é o devedor, mas responsável secundário. Este,
evidentemente, pode tentar desvencilhar-se da constrição sob a invocação de que não adquiriu o bem em “fraude de
execução”, através de embargos de terceiro. Por isso mesmo, a declaração da fraude à execução depende do prévio
contraditório em relação ao terceiro adquirente, que deve ser intimado para, se quiser, opor embargos de terceiro em
15 dias (art. 792, § 4º, do CPC/2015). A expressa previsão de que deve ser respeitado o contraditório prévio em
relação ao terceiro adquirente é novidade do Código de 2015.
Quanto ao prazo para a oposição de embargos de terceiro, grassa dúvida na doutrina em razão de duas regras
aparentemente antagônicas no Código de 2015. Enquanto o art. 792, § 4º, do CPC/2015 prevê o prazo de 15 dias para
os embargos de terceiro, o art. 675 do mesmo Código apenas permite a oposição de embargos de terceiro em até 5 dias
após adjudicação, alienação por iniciativa particular ou arrematação. A melhor interpretação é a de, após o
esgotamento in albis do prazo de 15 dias previsto no 792, § 4º, do CPC/2015, o sujeito atingido pela execução em
razão da declaração da fraude apenas poderá opor embargos de terceiro para alegar vício relativo à adjudicação,
alienação por iniciativa particular ou arrematação. Não poderá, no entanto, questionar a penhora sobre o bem que
havia adquirido do executado. Sobre essas regras, editou-se o Enunciado nº 54 da Enfam: “A ausência de oposição de
embargos de terceiro no prazo de 15 (quinze) dias prevista no art. 792, § 4º, do CPC/2015 implica preclusão para fins
do art. 675, caput, do mesmo código”.
3.2.2A ineficácia decorrente da fraude de execução é tão intensa que mesmo se o terceiro adquirente do
imóvel o utilizar para moradia de sua família, a impenhorabilidade da Lei nº 8.009/1990 não será oponível
ao exequente.  Regime do CPC de 1973
64

Considerando o enérgico efeito da fraude de execução, que torna irrelevante juridicamente para o processo a alienação
que se lhe vise a frustrar os objetivos, impende caracterizá-la para que se possa atribuir à alienação encetada esta
consequência da insensibilidade processual. A respeito dos requisitos para a configuração da fraude à execução, houve
sensível mudança com a entrada em vigor do CPC/2015.
O CPC de 1973 considerava “em fraude de execução a alienação ou a oneração de bens quando: sobre eles pender
ação fundada em direito real; ao tempo da alienação ou oneração corria contra o devedor demanda capaz de reduzi-lo à
insolvência; ou nos demais casos previstos em lei” (art. 593 do CPC/1973).  A Lei nº 11.382/2006 incluiu no Código
65

de 1973 o art. 615-A, segundo o qual o exequente poderia registrar certidão de ajuizamento da execução, a partir de
quando seria presumidamente fraudulenta a alienação ou oneração de bens – a averbação premonitória é hoje regulada
no art. 828 do CPC/2015, com algumas modificações, já analisadas em tópico próprio.
O regime do Código de 1973 sobre a fraude de execução permitia concluir que, para sua ocorrência, não era preciso
que estivesse pendente processo de execução. Qualquer alienação que comprometa os fins de um processo em curso,
seja ele de qualquer natureza e que vá desaguar em processo satisfativo, importa fraude de execução. Assim, haveria
fraude de execução se a parte alienasse bens durante o processo de conhecimento para que, no momento da execução
de sentença, o seu patrimônio se encontre esvaziado. Ocorreria, ainda, a fraude quando, no curso de execução de
obrigação de entrega, o executado vendesse o bem objeto do processo, ou ainda se o bem fosse objeto de uma
constrição cautelar e o requerido o alienasse.
Todavia, o Código de 1973 não esclarecia se a litispendência – ou seja, a existência de um processo em curso –
bastava para a caracterização de uma alienação (ou oneração) como em fraude à execução ou se seria imperiosa a
averbação da execução no registro do bem. Nada obstante o propósito primordial da execução seja a satisfação do
credor, não se pode descurar de que o terceiro adquirente pode estar de boa-fé, de modo que o atingimento daquele
bem pelos atos executivos geraria grave insegurança jurídica. A proteção a terceiros de boa-fé pode ser facilmente
obtida pela atribuição, ao exequente, da diligência básica de averbar a existência da execução ou da penhora junto ao
registro do bem. É por isso que, ainda sob a égide do Código anterior, o STJ editou a súmula nº 375, que assim reza:
“O reconhecimento da fraude à execução depende do registro da penhora do bem alienado ou da prova de má-fé do
terceiro adquirente”.
Uma exceção à regra prevista na súmula nº 375 do STJ é a execução fiscal de dívida tributária, pois, nos termos do art.
185 do Código Tributário Nacional, a partir da inscrição do crédito tributário em dívida ativa, presume-se fraudulenta
a alienação ou oneração de bens, salvo “na hipótese de terem sido reservados, pelo devedor, bens ou rendas suficientes
ao total pagamento da dívida inscrita”. O Superior Tribunal de Justiça, também julgando recursos repetitivos,
decidiu que a presunção do art. 185 do CTN é absoluta e independe de qualquer registro público, sendo inaplicável a
súmula nº 375 do STJ. 66

3.2.3Fraude de execução e fraude contra credores

A exigência de má-fé do adquirente para a configuração da fraude à execução aproxima sobremaneira esse instituto e
o da fraude contra credores. Afinal, esta era tradicionalmente a expressiva diferença entre a fraude de execução,
instituto de índole marcadamente processual e que era indiferente ao elemento volitivo dos partícipes do negócio
jurídico, e a fraude contra credores, de natureza material, prevista no CC como vício que acarreta a anulação do ato
jurídico. Este vício civil exige vontade de fraudar (consilium fraudis) e a insolvência do devedor (eventus damni) para
caracterizá-lo,  ao passo que a fraude de execução, anteriormente à edição da súmula nº 375 do STJ, configurava-se
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pela simples alienação nas condições previstas em lei (in re ipsa).


Nada obstante, ainda existe distinção entre a fraude à execução e à fraude contra credores, notadamente no que diz
respeito à forma para o reconhecimento de cada qual e a respectiva eficácia. Repita-se que, por tratar-se de conduta
contra os fins de justiça, a fraude de execução é coibida com a ineficácia processual da alienação, de sorte que os
meios executivos incidem sobre o bem encontrado no patrimônio de outrem sem a necessidade de qualquer ação
judicial para desconstituir a alienação fraudulenta. Diversamente, a “fraude contra credores”, por versar vício
perpetrado antes da pendência de qualquer processo, reclama ação desconstitutiva do negócio jurídico para que o bem
retorne ao patrimônio do alienante para, e após esta providência, iniciar-se um processo incidente sobre a coisa
fraudulentamente vendida. É a “ação pauliana”, de cunho cognitivo, que restaura o patrimônio do devedor alienante.

3.2.4Alienação na pendência de ação real ou reipersecutória

Feitas essas considerações sobre o Código anterior, passa-se a analisar o disposto na lei processual de 2015:
“Art. 792. A alienação ou a oneração de bem é considerada fraude à execução:
I – quando sobre o bem pender ação fundada em direito real ou com pretensão reipersecutória, desde que a
pendência do processo tenha sido averbada no respectivo registro público, se houver; II – quando tiver sido
averbada, no registro do bem, a pendência do processo de execução, na forma do art. 828 ;
III – quando tiver sido averbado, no registro do bem, hipoteca judiciária ou outro ato de constrição judicial
originário do processo onde foi arguida a fraude;
IV – quando, ao tempo da alienação ou da oneração, tramitava contra o devedor ação capaz de reduzi-lo à
insolvência;
V – nos demais casos expressos em lei.
§ 1º A alienação em fraude à execução é ineficaz em relação ao exequente.
§ 2º No caso de aquisição de bem não sujeito a registro, o terceiro adquirente tem o ônus de provar que
adotou as cautelas necessárias para a aquisição, mediante a exibição das certidões pertinentes, obtidas no
domicílio do vendedor e no local onde se encontra o bem.
§ 3º Nos casos de desconsideração da personalidade jurídica, a fraude à execução verifica-se a partir da
citação da parte cuja personalidade se pretende desconsiderar.
§ 4º Antes de declarar a fraude à execução, o juiz deverá intimar o terceiro adquirente, que, se quiser, poderá
opor embargos de terceiro, no prazo de 15 (quinze) dias”.
Como se pode observar, a lei pune, no primeiro momento, o atentado contra a dignidade da jurisdição, fato que se
verifica quando a alienação tem o escopo de frustrar a satisfação da parte através do juízo, inviabilizando o resultado
ideal do processo. A fraude à execução é ato atentatório à dignidade da justiça, sujeito, portanto, a multa, nos termos
do art. 774, I e parágrafo único, do CPC/2015. Em razão disso, sendo questão de ordem pública, a fraude à execução
pode ser reconhecida de ofício pelo juiz, resguardado o contraditório prévio.
Para a declaração da fraude à execução, é preciso comprovar que aquela alienação pretérita frustrou a atividade
jurisdicional executiva. Assim, a fraude comprova-se no processo de execução, mas considera-se perpetrada antes
deste. A sua verificação realiza-se na execução, mas tem caráter declaratório, visto que reconhece a ineficácia da
alienação ou oneração com efeitos ex tunc.
A primeira hipótese textual de fraude de execução arrolada pelo art. 790, I, do CPC/2015 verifica-se quando a
alienação ou oneração de bem ocorre quando sobre ele pende ação que tenha por objeto ius re, desde que a pendência
do processo tenha sido averbada no registro público do bem alienado ou onerado.
A fraude nesse caso é evidente, porquanto a alienação tem como escopo subtrair da execução da decisão o bem
transferido para o patrimônio de outrem. Acaso não houvesse esse dispositivo tornado ineficaz a alienação, o vencedor
da causa teria que promover sucessivas demandas contra todos e eventuais adquirentes. Por sua vez, o legislador
protegeu o interesse dos adquirentes de boa--fé ao exigir o registro da pendência do processo no respectivo registro
público, sempre que o bem estiver sujeito a registro, como no caso de imóveis e automóveis. Por exemplo, a Lei nº
6.015/1973, em seu art. 167, I, item 21, que no registro de imóveis será feito o registro “das citações de ações reais ou
pessoais reipersecutórias, relativas a imóveis”.
Nesse particular, o CPC é pródigo em medidas obstativas da fraude. Dispõe a lei processual que a citação faz litigiosa
a coisa em relação ao réu (art. 240 do CPC/2015) e se houver alienação do bem disputado judicialmente, o novo
adquirente fica sujeito aos efeitos do julgado art. 109, § 3º, do CPC/2015.  De todo o exposto, forçoso concluir que,
68

proposta a ação real, a alienação do bem será considerada fraudulenta ainda que a execução só ocorra posteriormente.
No momento do cumprimento da sentença, o bem é recuperado no patrimônio deste terceiro com responsabilidade
secundária, como se não tivesse havido alienação, desde que tenha ocorrido o registro da pendência do processo – de
modo a proteger o interesse de eventual terceiro adquirente de boa-fé.
Sendo assim, são dois os requisitos para a configuração da fraude à execução prevista no inciso I do art. 792 do
CPC/2015: (i) litispendência de ação real ou reipersecutória; e (ii) averbação da pendência do processo junto ao
registro público pertinente. Note-se que, se é a citação válida que, em relação ao réu, induz litispendência e torna
litigiosa a coisa, eventual alienação ou oneração anterior à citação não pode ser considerada em fraude à execução,
muito embora possa caracterizar fraude contra credores, a ser apurada em ação pauliana. O credor pode precaver-se e
notificar o devedor e o potencial adquirente do bem sobre a existência do processo antes mesmo da citação,
requerendo a averbação da notificação em registro público, na forma do art. 726 e seguintes do CPC/2015. Nesse caso,
poderá alegar a má-fé do adquirente e requerer a declaração da fraude à execução, ainda que a alienação ocorra antes
da citação.
A alienação fraudulenta também pode realizar-se através de um processo simulado que acarrete a perda proposital do
bem, por exemplo, quando o executado, simula dívida e por ela deixa-se executar noutro juízo até a etapa final da
expropriação, visando a transferir fraudulentamente o bem para um suposto credor. Nesse caso, há simulação, devendo
o juiz proferir decisão que impeça os objetivos das partes (art. 142 do CPC/2015). Caso venha a ser proferida sentença
na fase de conhecimento, caberá ação rescisória, por simulação entre as partes (art. 966, III, do CPC/2015).

3.2.5Fraude de execução e averbação premonitória

O segundo caso textual de fraude de execução se manifesta “quando tiver sido averbada, no registro do bem, a
pendência do processo de execução, na forma do art. 828” (art. 792, II, do CPC/2015).  Cuida-se da 69

denominada averbação premonitória, instituto já analisado no capítulo sobre a formação, suspensão e extinção do


processo de execução.
“Art. 828. O exequente poderá obter certidão de que a execução foi admitida pelo juiz, com identificação das
partes e do valor da causa, para fins de averbação no registro de imóveis, de veículos ou de outros bens
sujeitos a penhora, arresto ou indisponibilidade.
§ 1º No prazo de 10 (dez) dias de sua concretização, o exequente deverá comunicar ao juízo as averbações
efetivadas.
§ 2º Formalizada penhora sobre bens suficientes para cobrir o valor da dívida, o exequente providenciará, no
prazo de 10 (dez) dias, o cancelamento das averbações relativas àqueles não penhorados. § 3º O juiz
determinará o cancelamento das averbações, de ofício ou a requerimento, caso o exequente não o faça no
prazo.
§ 4º Presume-se em fraude à execução a alienação ou a oneração de bens efetuada após a averbação. § 5º O
exequente que promover averbação manifestamente indevida ou não cancelar as averbações nos termos do §
2º indenizará a parte contrária, processando-se o incidente em autos apartados”.
Como indica a leitura do dispositivo, o exequente poderá obter certidão de que a execução foi admitida pelo juiz, com
identificação das partes e do valor da causa, para fins de averbação no registro de imóveis, de veículos ou de outros
bens sujeitos à penhora, arresto ou indisponibilidade (art. 828 do CPC/2015). O antigo art. 615-A do CPC/1973
revogado dispunha que a referida certidão seria “comprobatória do ajuizamento da execução” e não da admissão desta
pelo juiz, como atualmente previsto.
Muito embora o art. 792, II, do CPC/2015 exija, para a configuração da fraude à execução, a averbação “na forma do
art. 828”, parece-nos adequado sustentar que também a “averbação em registro público do ato de propositura da
execução (...) para conhecimento de terceiros”, na forma do art. 799, IX, do mesmo diploma, tem o condão de gerar a
ineficácia da alienação ou oneração posterior em relação ao exequente. 70

O exequente deverá comunicar ao juízo as averbações efetivadas, no prazo de dez dias contados de sua concretização
(art. 828, § 1º, do CPC/2015). Esgotado o prazo, deverá o juiz determinar o cancelamento das averbações, de ofício ou
a requerimento (art. 828, § 3º, do CPC/2015).
Uma vez realizada a averbação premonitória, há presunção absoluta de fraude à execução em relação à alienação ou à
oneração de bens efetuada posteriormente (art. 828, § 4º, c/c art. 792, II, do CPC/2015). O exequente, portanto, poderá
requerer a declaração da ineficácia do negócio jurídico para que a execução alcance o bem, ainda que em poder de
terceiro.
Rememore-se que a averbação premonitória não prevalece em relação à penhora realizada por outro credor. Assim,
caso tenha sido realizada a averbação premonitória do art. 828 do CPC/2015 no registro de um bem e, posteriormente,
outro credor tenha logrado obter a penhora daquele mesmo bem, a preferência para a expropriação deste bem será do
credor que primeiro obteve a penhora e não daquele que tenha primeiro realizado a averbação. 71

Também é necessário repisar que o exequente que promover averbação manifestamente indevida deverá indenizar a
parte contrária, processando-se o incidente em autos apartados, nos termos do art. 828, § 5º, do CPC/2015. O
exequente também possui o dever de providenciar, no prazo de dez dias, o cancelamento das averbações relativas a
bens não penhorados quando já formalizada a penhora sobre bens suficientes para cobrir o valor da dívida (art. 828, §
2º, do CPC/2015). Considerando o princípio da economicidade, no sentido de que a execução deve ser levada a efeito
nos limites da necessidade da expropriação, circunscrita à responsabilidade patrimonial pela penhora, levantam-se as
averbações desnecessárias, como também a averbação indevida que imponha restrição desnecessária à circulabilidade
dos bens, implicando, nesse caso, dever de indenizar por parte do exequente. Assim, v.g., se o crédito é absorvido pelo
veículo do devedor e o credor, como forma injusta de execução indireta averba no registro de imóveis a execução, essa
averbação pode gerar o dever de indenizar, demonstrados os danos em incidente em autos apartados.

3.2.6Alienação de bem objeto de hipoteca judiciária ou outro ato de constrição judicial

O art. 792, III, do CPC/2015 considera em fraude à execução a alienação ou oneração “quando tiver sido averbado, no
registro do bem, hipoteca judiciária ou outro ato de constrição judicial originário do processo onde foi arguida a
fraude”. Nessa linha, dispõe o art. 844 do CPC/2015 que, para “presunção absoluta de conhecimento por terceiros,
cabe ao exequente providenciar a averbação do arresto ou da penhora no registro competente, mediante apresentação
de cópia do auto ou do termo, independentemente de mandado judicial.”
Por sua vez, o art. 167, I, item 5, da Lei nº 6.015/1973 exige o registro da penhora, quando imóvel o bem constrito,
dispondo que as “penhoras, arrestos e sequestros de imóveis” serão registradas perante o Registro de Imóveis, sendo
que, segundo o art. 240 da mesma lei, o “registro da penhora faz prova quanto à fraude de qualquer transação
posterior”. A exigência de registro da penhora visa à proteção do terceiro de boa-fé e não é ato essencial à
formalização da constrição judicial; por isso, o registro não cria prioridade na fase de pagamento.
O raciocínio ora emprestado à penhora aplica-se também às medidas de constrição de cunho cautelar. É por isso que,
nos termos do mencionado art. 844 do CPC/2015, o arresto não registrado impõe ao arrestante, assim como exigível
do exequente, a prova da ausência de boa-fé objetiva do adquirente para efeito de caracterização da fraude, nos termos
do art. 792, IV, do CPC/2015, a ser analisado na sequência.
Interpretando em conjunto os incisos II e III do art. 792 do CPC/2015, conclui-se que, havendo registro da certidão de
que a execução foi admitida pelo juiz, do arresto ou da penhora junto ao registro público relativo ao bem, a alienação
ou oneração posterior é ineficaz, independente de boa-fé ou solvabilidade do devedor.

3.2.7Litispendência de ação capaz de reduzir o devedor à insolvência

A última hipótese de fraude à execução tipificada no art. 792 do CPC/2015 considera ineficaz a alienação ou oneração
de bem “quando, ao tempo da alienação ou da oneração, tramitava contra o devedor ação capaz de reduzi-lo à
insolvência” (inciso IV). Nessa situação, o único requisito exigido pela lei é a litispendência de ação conducente à
insolvência do devedor, seja um processo de conhecimento ou de execução, de modo que não se faz necessária a
prévia averbação da ação junto ao registro do bem.
Toda e qualquer ação cujo resultado necessite valer-se do patrimônio do devedor para satisfazer o vencedor deve ser
considerado como apto a caracterizar como fraudulenta uma alienação ocorrida durante a sua tramitação. Assim, por
exemplo, a condenação criminal torna certa a obrigação de reparar o dano assim como a condenação civil; por isso, a
alienação, no curso dessas demandas, é potencialmente fraudulenta, o que se vai confirmar quando da execução, se
insolvente o devedor, por força do negócio jurídico translatício.
Neste passo, a lei sanciona de ineficácia a alienação ocorrida outrora, mas cujos efeitos nocivos manifestam-se quando
da execução, mercê de frustrá-la por força daquela transferência pretérita. Assim, não fosse a alienação realizada
anteriormente, o processo de execução encontraria, no patrimônio do devedor, bens suficientes à satisfação do crédito
exequendo. Por exemplo, se A move ação de indenização em face de B e este, no curso do processo de condenação,
aliena o seu único bem apto a responder pelos resultados econômicos da demanda que vem a ser acolhida, no processo
de execução, os meios executivos incidirão sobre este bem como se não tivesse havido a venda, porquanto aquela
alienação reduziu o devedor à insolvência. A lei considera a alienação ineficaz em relação à execução, uma vez que
frustra a utilidade da prestação jurisdicional executiva, muito embora tenha sido engendrada antes de iniciá-la.
A interpretação literal do dispositivo conduz à conclusão de que seria indiferente apurar se o executado alienante ou o
terceiro adquirente agiram com dolo. Nada obstante, discute-se doutrinária e jurisprudencialmente a exigência de
comprovação da ciência de ambos. Essa discussão se desdobra em dois aspectos: primeiro, definir se o
reconhecimento da fraude de execução depende de que a alienação tenha sido realizada após a citação; segundo,
estabelecer se é indispensável a demonstração da má-fé do adquirente.
Quanto à primeira quaestio juris, o Superior Tribunal de Justiça, ainda sob a égide do Código anterior, já havia
pacificado ser “indispensável citação válida para configuração da fraude de execução”  – ressalvada, obviamente, a
72

situação em que o credor tenha realizado a averbação premonitória antes da citação, pois restaria configurada a
hipótese autônoma prevista no art. 792, II, do CPC/2015. Essa interpretação é coerente com a noção de que, para o réu,
a litispendência apenas ocorre com a citação (arts. 240 e 312 do CPC/2015). A Corte, no entanto, mitiga esse
entendimento, admitindo a caracterização da fraude à execução de alienação anterior à citação quando comprovado
que o devedor alienante já tinha ciência da existência da demanda. 73

No que tange à segunda questão debatida pelos operadores do Direito, rememore-se a segunda parte da já mencionada
súmula nº 375 do STJ, de modo que o “reconhecimento da fraude à execução depende (...) da prova de má-fé do
terceiro adquirente”. Evidentemente, apenas se deve perquirir sobre o elemento subjetivo do adquirente quando
inexistente a averbação, no registro do bem, da “ação fundada em direito real ou com pretensão reipersecutória” (art.
792, I, do CPC/2015), da admissão do processo de execução (art. 792, II, do CPC/2015) ou da “hipoteca judiciária ou
outro ato de constrição judicial” (art. 792, III, do CPC/2015). Afinal, com o registro, há presunção absoluta de
ausência de boa-fé objetiva, pois ainda que o adquirente não soubesse da existência da ação, poderia e deveria ter
efetuado diligências básicas para obter essa informação.
Sobre o ponto, é importante diferenciar a má-fé da ausência de boa-fé objetiva. Enquanto a primeira demanda um agir
premeditado, em que o agente procede inequivocamente ciente da ilicitude de sua conduta, a ausência de boa-fé
objetiva decorre da violação de deveres básicos de cautela, lealdade e ética exigíveis de qualquer indivíduo em
situação idêntica para a proteção das legítimas expectativas de outrem e da segurança jurídica.
A Súmula nº 375 do STJ, como visto, expressamente exige a má-fé do adquirente. Interpretando o Código de 1973 à
luz desse preceito, o STJ, em sede de julgamento de recursos repetitivos, assentou que, verbis:
“Inexistindo registro da penhora na matrícula do imóvel, é do credor o ônus da prova de que o terceiro
adquirente tinha conhecimento de demanda capaz de levar o alienante à insolvência” (REsp 956.943/PR,
Rel. Min. Nancy Andrighi, Rel. p/ Acórdão Min. João Otávio de Noronha, Corte Especial, j.
20.08.2014, DJe 01.12.2014).
Em suma, a Corte Superior havia assentado, no regime revogado, que a fraude de execução depende da má-fé do
adquirente sempre que ausente a averbação registral, bem como que o ônus da prova seria do credor. Entretanto, o
Código de 2015 trouxe nova disposição abordando o tema. O § 2º do art. 792 do CPC/2015 prevê a seguinte regra:
“No caso de aquisição de bem não sujeito a registro, o terceiro adquirente tem o ônus de provar que adotou as
cautelas necessárias para a aquisição, mediante a exibição das certidões pertinentes, obtidas no domicílio do vendedor
e no local onde se encontra o bem.”
A leitura do dispositivo suscita dúvida sobre o que seria um “bem não sujeito a registro”. Parte da doutrina sustenta ser
a situação dos bens em relação aos quais não há qualquer registro público, como as obras de arte. Para outros autores,
seria a situação em que “o registro da constrição não ocorra a tempo de o adquirente dele ter ciência por meio de
certidões”, ou “que o credor, por lapso, não tenha procedido ao registro das constrições”.  De acordo com esta última
74

corrente, a regra incidiria sempre que não configuradas as hipóteses dos incisos I, II e III do art. 792 do CPC/2015, que
fazem referência à averbação junto ao registro do bem, respectivamente, da pendência da ação real ou
reipersecutória, da pendência do processo de execução e da hipoteca judiciária ou outro ato de constrição
judicial originário do processo onde foi arguida a fraude. A contrario sensu, quando a alegação de fraude à execução
tiver supedâneo no inciso IV do art. 792 do CPC/2015, competirá ao terceiro adquirente provar a sua boa-fé objetiva,
demonstrando que adotou as cautelas necessárias para a aquisição, mediante a exibição das certidões pertinentes,
obtidas no domicílio do vendedor e no local onde se encontra o bem, na forma do § 2º do mesmo dispositivo.
Dessa maneira, o Código de 2015 superou a segunda parte da Súmula nº 375 do STJ no que requer a má-fé do
adquirente para a configuração da fraude à execução, assim como o entendimento da Corte Especial do STJ no sentido
de ser do credor o ônus da prova dessa má-fé. Na mesma linha, Teresa Wambier e coautores sustentam que “diante do
CPC/2015 o entendimento jurisprudencial que impõe ao exequente provar a má-fé do adquirente deve necessariamente
ser alterado. Há, por força de lei, inversão no ônus desta prova, cabendo ao terceiro-adquirente fazer prova de sua boa-
fé e não o contrário. A Súmula 375 do STJ deve ser, na sua segunda parte, revogada, só se justificando sua
manutenção quanto à exigência da citação”. 75

Noutras palavras, para que incida a hipótese de fraude à execução do art. 792, IV, do CPC/2015, exige-se
cumulativamente: (i) a litispendência de ação contra o devedor, com a citação válida, ao tempo da alienação;  (ii) que a
referida ação seja capaz de reduzir o devedor à insolvência; e (iii) a ausência de boa-fé objetiva do terceiro adquirente,
cabendo a este o ônus de provar que adotou as cautelas necessárias para a aquisição, mediante a exibição das certidões
pertinentes, obtidas no domicílio do vendedor e no local onde se encontra o bem.

3.2.8Outros casos de fraude à execução

O art. 792 do CPC/2015 encarta, em seu inciso V, norma de abertura do rol das hipóteses de fraude à execução
preceituando que esta ocorre “nos demais casos expressos em lei.”
Assim, por exemplo, há lei especial tratando da fraude na execução fiscal, presumindo-a absoluta ainda que não citado
o executado, quando este aliena ou onera bens estando em débito com a Fazenda Pública por crédito inscrito como
dívida ativa em fase de execução (art. 185 do CTN). Trata-se de regra protetiva do Fisco que encerra presunção iuris
et de iure de fraude. Sobre o tema, confira-se elucidativo julgado do STJ:
“A Primeira Seção do STJ, no julgamento do REsp 1.141.990/PR, submetido ao rito dos feitos repetitivos,
firmou: a) a natureza jurídica tributária do crédito conduz a que a simples alienação ou oneração de bens ou
rendas, ou seu começo, pelo sujeito passivo por quantia inscrita em dívida ativa, sem a reserva de meios para
quitação do débito, gera presunção absoluta (jure et de jure) de fraude à execução (lei especial que se
sobrepõe ao regime do direito processual civil); b) a alienação engendrada até 08.06.2005 exige que tenha
havido prévia citação no processo judicial para caracterizar a fraude de execução; se o ato translativo foi
praticado a partir de 09.06.2005, data de início da vigência da Lei Complementar 118/2005, basta a
efetivação da inscrição em dívida ativa para a configuração da figura da fraude; c) a não aplicação do art.
185 do CTN, dispositivo que não condiciona a ocorrência de fraude a qualquer registro público, importa
violação da Cláusula Reserva de Plenário e afronta à Súmula Vinculante 10/STF. (...) Considera-se
fraudulenta a alienação, mesmo quando há transferências sucessivas do bem, feita após a inscrição do débito
em dívida ativa, sendo desnecessário comprovar a má-fé do terceiro adquirente. (...) A lei especial, o Código
Tributário Nacional, se sobrepõe ao regime do Direito Processual Civil, não se aplicando às Execuções
Fiscais o tratamento dispensado à fraude civil, diante da supremacia do interesse público, já que o
recolhimento dos tributos serve à satisfação das necessidades coletivas. Inaplicável às Execuções Fiscais a
interpretação consolidada na Súmula 375/STJ” (REsp 1833644/PB, Rel. Min. Herman benjamin, 2ª
TURMA, j. 08.10.2019, DJe 18.10.2019).
De toda sorte, uma vez caracterizada a fraude de execução, todas as alienações subsequentes caem por terra e os
adquirentes prejudicados poderão regredir contra seus alienantes pleiteando perdas e danos em razão da evicção.
Por fim, ressalte-se que a incidência da responsabilidade em caso de fraude torna indiferente também o registro
imobiliário consubstanciado da alienação fraudulenta.

3.3Fase de apreensão

3.3.1Penhora

A execução por quantia certa, quer seja por cumprimento de sentença que reconheça a exigibilidade de obrigação desta
natureza, quer se fundamente em título extrajudicial, tem como finalidade expropriar bens do devedor para satisfazer o
direito do credor; por isso que também é denominada “execução por expropriação”. Os bens submetidos ao sacrifício
da alienação não são todos os que compõem o patrimônio do executado, senão aqueles suficientes para esse fim,
determinados por meio da penhora.
Desta sorte, há uma fase no processo de execução para obtenção de quantia certa em que se “individualizam os bens”
sujeitos à expropriação satisfativa. Essa fase é denominada “fase de apreensão” de bens e o “meio de afetá-los ao
processo denomina-se penhora”.  O termo aproxima-se do direito real de penhor que representa garantia de crédito e
76

tem por objeto os bens móveis. A diferença é que o penhor garante um crédito, e a penhora, que “pode incidir sobre
bem móvel ou imóvel”, é “ato processual necessário” ao processo de execução por quantia certa. Em razão da afetação
dos bens penhorados, qualquer ato que desvie o destino dos bens é ineficaz em relação ao processo. Assim é que, uma
vez averbada a penhora junto ao registro do bem, ainda que alienado o bem penhorado, nem por isso a execução se
altera. Os atos executivos posteriores e, em consequência, a expropriação incidirão sobre o patrimônio do adquirente,
uma vez que a alienação foi engendrada em “fraude de execução” (art. 792, III, e 844 do CPC/2015). A ineficácia que
se traduz na insensibilidade processual daquela alienação significa que a venda não restou nula nem anulável, mas
apenas indiferente para o processo. Em consequência, se o bem alienado for substituído por outro a consenso das
partes ou se houver pagamento do débito, a alienação reputar-se-á perfeita, acabada e sem vícios.
A alusão à penhora de “bens necessários” visa a explicitar o princípio de que esta não deve ser nem inútil nem
excessiva. A inutilidade da penhora deve ser aferida pelo próprio oficial de justiça que não deve realizá-la quando
“ficar evidente que o produto da execução dos bens encontrados será totalmente absorvido pelo pagamento das custas
da execução” (art. 836 do CPC/2015), tanto mais que, como regra, cabe ao oficial de justiça a avaliação dos bens (art.
870 do CPC/2015).
É excessiva a penhora quando o valor dos bens for “consideravelmente superior ao crédito do exequente e dos
acessórios” (art. 874, I, do CPC/2015). 77

Os bens apreendidos no processo de execução por quantia certa destinam-se à expropriação e, por isso, devem ser
alienáveis. Em consequência, os bens inalienáveis são, também, impenhoráveis (art. 832 do CPC/2015), como os bens
públicos de uso comum do povo e de uso especial (art. 100 do CC).
A impenhorabilidade dos bens do devedor é excepcional, porquanto, consoante observado, o seu patrimônio é a
garantia de seus credores; razão pela qual a impossibilidade de apreensão deve resultar de texto legal expresso.
O Código de 1973 previa duas espécies de impenhorabilidade, a saber, a impenhorabilidade absoluta e a
impenhorabilidade relativa: no primeiro caso, os bens não poderiam ser apreendidos, e o vício seria denunciável a
qualquer tempo; no segundo, determinados bens, originariamente impenhoráveis, poderiam ser apreendidos à falta de
outros bens e a sua alegação deveria operar-se quando da impugnação ou embargos à execução, sob pena de preclusão.
Consoante já se afirmou em capítulo anterior, o CPC de 2015, contudo, não mais utiliza o advérbio “absolutamente”
impenhoráveis, pois em determinados casos será possível penhorar inclusive os bens constantes do rol do art. 833,
como, v. g., na hipótese em que a dívida é for relativa ao próprio bem (art. 833, § 1º, do CPC/2015) ou, em
determinadas situações, se a penhora for para pagamento de prestação alimentícia (art. 833, § 2º, do CPC/2015).
A penhora tem inegável natureza jurídica de “ato executivo” necessário e preparatório da futura expropriação do bem
constrito. Destarte, não há, com a realização da penhora, a “perda de domínio”, o que somente se opera com a
expropriação final. Tampouco a constrição é cautelar, porquanto não é ato provisório, nem acessório, porém definitivo
em si mesmo e essencial ao desenvolvimento do processo de execução por quantia certa.
A sua finalidade é circunscrever a responsabilidade patrimonial e nesse afã produz efeitos materiais e processuais,
vale dizer: dessa afetação de bens aos fins do processo resultam consequências jurídicas:
Materialmente, em primeiro lugar, quando o próprio devedor não é o depositário do bem, perde-lhe a posse direta que
passa ao guardião judicial que assume a legitimidade da defesa da coisa, sem excluir a posse indireta e, a fortiori, a
legitimação do executado, também para as demandas cabíveis.  Sob o enfoque estritamente material, revela-se ineficaz
78

a alienação do bem penhorado.  Processualmente, a penhora circunscreve a responsabilidade do devedor a


79

determinados bens comprometidos com as suas obrigações, sem prejuízo de gerar para o credor penhorante
preferência no recebimento do produto da alienação judicial do bem penhorado, aferida pela anterioridade da
realização da penhora (art. 908, § 2º, do CPC/2015),  independentemente do registro.
80

Objeto da penhora é todo bem ou direito avaliável economicamente e passível de alienação. Consequentemente, a


penhora incide sobre o bem no seu todo, bem como em seus acessórios, frutos, produtos e benfeitorias ou acessões.
Desta sorte, a penhora do carro implica, também, a constrição do motor e acessórios do veículo, não podendo alterar-
se a sua substância.

3.3.2Momento para arguição de vício da penhora

Via de regra, a impenhorabilidade deve ser arguida por meio da impugnação ao cumprimento de sentença (art. 525, §
1º, IV, do CPC/2015) ou dos embargos à execução (art. 917, II, do CPC/2015). Todavia, o Código de 2015 também
prevê oportunidades adicionais para a arguição de vícios da penhora por simples petição. Para melhor entender o
motivo dessa renovação da oportunidade, cabe relembrar os ritos do cumprimento de sentença e da execução por título
extrajudicial envolvendo obrigação de pagar.
No cumprimento de sentença, ultrapassado o prazo para pagamento voluntário, ocorrem dois efeitos
processuais: (i) “será expedido, desde logo, mandado de penhora e avaliação, seguindo-se os atos de expropriação”
(art. 523, § 3º, do CPC/2015); e (ii) inicia-se o prazo de 15 (quinze) dias para impugnação ao cumprimento de sentença
“independentemente de penhora ou nova intimação” (art. 525, caput, do CPC/2015). Então, como visto em capítulo
anterior, a expedição do mandado de penhora e avaliação e o início do prazo para impugnação ocorrerão em paralelo,
tão logo esgotado o prazo para pagamento voluntário.
Quid iuris, então, quando a irresignação do executado quanto à penhora ou à avaliação disser respeito a acontecimento
posterior ao final do prazo para impugnação? Nessa situação, esclarece o art. 525, § 11, do CPC/2015 que as questões
relativas a fato superveniente ao término do prazo para apresentação da impugnação, assim como aquelas relativas à
validade e à adequação da penhora, da avaliação e dos atos executivos subsequentes, podem ser arguidas por  simples
petição, tendo o executado, em qualquer dos casos, o prazo de 15 (quinze) dias para formular esta arguição,  contado
da comprovada ciência do fato ou da intimação do ato.
Por sua vez, na execução de título extrajudicial, uma vez admitida a inicial pelo juiz, deverá expedir mandado
para: (i) citação do executado para pagar a dívida no prazo de 3 (três) dias (art. 829, caput, do CPC/2015);
e (ii) “penhora e a avaliação a serem cumpridas pelo oficial de justiça tão logo verificado o não pagamento no prazo
assinalado, de tudo lavrando-se auto, com intimação do executado” (art. 829, § 1º, do CPC/2015). Não sendo
encontrado o executado para ser citado, deverá ser promovido o arresto de seus bens, que converter-se-á em penhora
após o aperfeiçoamento da citação e o decurso do prazo para pagamento (art. 830 do CPC/2015). Já o prazo de 15
(quinze) dias para embargos à execução corre da citação (art. 915 do CPC/2015), de maneira que o início do prazo
para embargos não se condiciona à realização da penhora.
Pode ser, então, que a penhora ocorra após o oferecimento ou decurso do prazo para embargos à execução. Atento a
isso, estabeleceu o legislador que a incorreção da penhora ou da avaliação poderá ser impugnada por  simples petição,
no prazo de 15 (quinze) dias, contado da ciência do ato (art. 917, § 1º, do CPC/2015).
Para alguns autores, essa simples petição tem natureza de exceção de pré-executividade, figura prevista de maneira
geral no art. 518 do CPC/2015: “Todas as questões relativas à validade do procedimento de cumprimento da sentença
e dos atos executivos subsequentes poderão ser arguidas pelo executado nos próprios autos e nestes serão decididas
pelo juiz”. De acordo com a jurisprudência, a “exceção de pré-executividade é cabível quando atendidos
simultaneamente dois requisitos, um de ordem material e outro de ordem formal, ou seja: (a) é indispensável que a
matéria invocada seja suscetível de conhecimento de ofício pelo juiz; e (b) é indispensável que a decisão possa ser
tomada sem necessidade de dilação probatória” (STJ, REsp 1110925/SP, Rel. Min. Teori Albino Zavascki, Primeira
Seção, j. 22.04.2009).

3.3.3Preclusão do vício da penhora

O Código não esclarece, contudo, se o vício da penhora ou da avaliação preclui caso não seja arguido tempestivamente
em sede de impugnação, embargos ou simples petição. A posição que prevalece perante o Superior Tribunal de Justiça
é a de que a impenhorabilidade deve ser alegada tempestivamente, sob pena de preclusão, salvante as hipóteses de bem
de família legal previstas na Lei nº 8.009/1990. 81

Alerte-se que, com a vigência do CPC/2015, restaram ultrapassados os precedentes do STJ segundo os quais a
anulação da penhora geraria novo prazo para embargar, enquanto que nos casos de reforço, redução ou substituição da
penhora, só caberiam novos embargos se tratassem de matérias suscitáveis a qualquer tempo.  O fundamento dessa
82

orientação era o de que não havia, sob a égide do CPC/1973, oportunidade para questionar a nova penhora quando a
primeira fosse anulada, pois o art. 745, II, do CPC/1973 dizia que a incorreção da penhora deveria ser alegada nos
embargos. Essa orientação restou superada porquanto, como visto, na sistemática do Código de 2015, o prazo para
embargos independe da penhora, sendo que a alegação de vício da penhora pode ser formulada por simples petição.
3.4Impenhorabilidade

3.4.1Introdução

O Código de 2015 traz as seguintes as novas regras-matrizes:


“Art. 832. Não estão sujeitos à execução os bens que a lei considera impenhoráveis ou inalienáveis.
Art. 833. São impenhoráveis:
I – os bens inalienáveis e os declarados, por ato voluntário, não sujeitos à execução;
II – os móveis, os pertences e as utilidades domésticas que guarnecem a residência do executado, salvo os de
elevado valor ou os que ultrapassem as necessidades comuns correspondentes a um médio padrão de vida;
III – os vestuários, bem como os pertences de uso pessoal do executado, salvo se de elevado valor;
IV – os vencimentos, os subsídios, os soldos, os salários, as remunerações, os proventos de aposentadoria, as
pensões, os pecúlios e os montepios, bem como as quantias recebidas por liberalidade de terceiro e
destinadas ao sustento do devedor e de sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e os honorários de
profissional liberal, ressalvado o § 2º ;
V – os livros, as máquinas, as ferramentas, os utensílios, os instrumentos ou outros bens móveis necessários
ou úteis ao exercício da profissão do executado;
VI – o seguro de vida;
VII – os materiais necessários para obras em andamento, salvo se essas forem penhoradas; VIII – a pequena
propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família; IX – os recursos públicos
recebidos por instituições privadas para aplicação compulsória em educação, saúde ou assistência social;
X – a quantia depositada em caderneta de poupança, até o limite de 40 (quarenta) salários-mínimos; XI – os
recursos públicos do fundo partidário recebidos por partido político, nos termos da lei; XII – os créditos
oriundos de alienação de unidades imobiliárias, sob regime de incorporação imobiliária, vinculados à
execução da obra.
§ 1º A impenhorabilidade não é oponível à execução de dívida relativa ao próprio bem, inclusive àquela
contraída para sua aquisição.
§ 2º O disposto nos incisos IV e X do caput não se aplica à hipótese de penhora para pagamento de prestação
alimentícia, independentemente de sua origem, bem como às importâncias excedentes a 50 (cinquenta)
salários-mínimos mensais, devendo a constrição observar o disposto no art. 528, § 8º , e no art. 529, § 3º.
§ 3º Incluem-se na impenhorabilidade prevista no inciso V do caput os equipamentos, os implementos e as
máquinas agrícolas pertencentes a pessoa física ou a empresa individual produtora rural, exceto quando tais
bens tenham sido objeto de financiamento e estejam vinculados em garantia a negócio jurídico ou quando
respondam por dívida de natureza alimentar, trabalhista ou previdenciária.
Art. 834. Podem ser penhorados, à falta de outros bens, os frutos e os rendimentos dos bens inalienáveis.”
Conforme afirmado anteriormente, o novo Código não estabelece mais uma expressa distinção entre
impenhorabilidade absoluta e relativa. O art. 834 do CPC/2015 consagra a situação que a doutrina categorizava, à luz
do diploma anterior, como impenhorabilidade relativa, a saber: os frutos e rendimentos dos bens inalienáveis, a
princípio, são impenhoráveis; todavia, podem ser objeto de penhora se não houver outros bens para satisfazer a dívida.
Nada obstante, a lei consagra diversas hipóteses em que a impenhorabilidade cede diante de circunstâncias concretas.
Assim, por exemplo, a parte final do art. 833, II, do CPC/2015 determina a não incidência da impenhorabilidade em
bens que revelam o caráter de ostentação, permitindo a penhora de móveis, pertences e utilidades domésticas que
guarnecem a residência do executado de elevado valor ou que ultrapassem as necessidades comuns correspondentes a
um médio padrão de vida. Esse fato deve ser avaliado pelo juízo à luz do princípio da razoabilidade e da dignidade da
pessoa humana, mercê de seu conhecimento ex officio como bonus pater familiae. Por esse mesmo propósito, consta
do art. 833, III, do CPC/2015 a permissão de constrição do vestuário, bem como dos pertences de uso pessoal do
executado, de elevado valor.
Consoante a jurisprudência, aplicam-se à execução fiscal as hipóteses de impenhorabilidade previstas no art. 833 do
CPC/2015 e na Lei n. 8.009/1990. De acordo com o art. 184 do CTN e com o art. 30 da Lei nº 6.830/80, que têm
redação idêntica, respondem pelo pagamento do crédito tributário os bens gravados por ônus real ou cláusula de
inalienabilidade ou impenhorabilidade, “excetuados unicamente os bens e rendas que a lei declare absolutamente
impenhoráveis”. Como não existe mais a divisão entre impenhorabilidade absoluta e relativa, é aplicável o art. 833 do
CPC/2015.
Alerte-se que, em qualquer caso, a impenhorabilidade não é oponível à execução de dívida relativa ao próprio bem,
inclusive àquela contraída para sua aquisição (art. 833, § 1º, do CPC/2015). Razões de equidade levaram o legislador a
esclarecer que a impenhorabilidade não é oponível à cobrança do crédito concedido para a aquisição do próprio bem, o
que conduz à manutenção da jurisprudência sobre escapar da proibição da constrição a execução de despesas de
condomínio.

3.4.2Bens inalienáveis

A lei determina a impenhorabilidade dos bens inalienáveis e os declarados, por ato voluntário, não sujeitos à execução
(art. 833, I, do CPC/2015). A não sujeição à execução pode ocorrer pela manifestação de vontade, como no caso do
bem de família voluntário (art. 1.711 do CC) e do bem doado com cláusula de inalienabilidade (art. 1.911 do CC). Por
outro lado, são exemplos de bens inalienáveis por força de lei os bens públicos de uso comum do povo e de uso
especial (art. 100 do CC). Uma vez desafetado o bem público, a sua alienação se submete a restrições (art. 101 do CC),
pois depende de licitação (art. 37, XXI, CRFB) e, inclusive, autorização legislativa, quando imóveis (art. 17, I, da Lei
nº 8.666/1993 e art. 76, I, da Lei nº 14.133/2021).
Há discussão doutrinária sobre a impenhorabilidade dos bens dominicais. Parece-nos que também os bens públicos
dominicais são impenhoráveis, devido à sistemática especial de execução das decisões judiciais contra a Fazenda
Pública imposta pelo art. 100 da Constituição.
De acordo com o Supremo Tribunal Federal, a impenhorabilidade de bens públicos se estende a empresas públicas e
sociedades de economia mista prestadoras de serviço público , salvo se: (i) a atividade for exercida em regime de
83

concorrência; ou (ii) houver objetivo de distribuir lucro a acionistas. 84

Em interessante caso julgado pelo STF, uma decisão da Justiça do Trabalho determinara o bloqueio de recursos
oriundos de um convênio no âmbito do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para a aquisição de
equipamentos destinados a combater a seca no Estado, determinando a sua utilização para o cumprimento de sentença
trabalhista favorável a empregado da sociedade de economia mista estadual executora do convênio. A Corte decidiu
que a determinação judicial de bloqueio de verbas de estatal prestadora de serviço público para adimplemento de
débitos trabalhistas, ainda que alimentares, viola o regime de precatórios (art. 100 da CRFB), o princípio da legalidade
orçamentária (art. 167, VI, da CRFB) e a separação dos Poderes (art. 2º da CRFB). 85
Quanto aos bens das concessionárias privadas de serviço público, não integrantes da Administração Pública indireta,
estes, em regra, são penhoráveis, consoante a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça. Excepcionalmente, estes
bens são impenhoráveis, quando a constrição puder gerar prejuízo à continuidade do serviço público. 86

O STF, em repercussão geral, decidiu que os Conselhos Profissionais, embora sejam autarquias, não gozam da
impenhorabilidade de bens. Todavia, os Conselhos Profissionais gozam de outros privilégios processuais reconhecidos
87

pela jurisprudência do STJ, como o prazo em dobro para manifestações. 88

Há, ainda, outros bens que são inalienáveis por força do ordenamento jurídico, como as terras indígenas (art. 231, § 4º,
CRFB), o capital formado para pagamento de prestação de alimentos (art. 533, § 1º, CPC/2015) e os bens com
cláusula voluntária de inalienabilidade por disposição testamentária (art. 1.911 do CC).
Repise-se que os frutos e rendimentos dos bens inalienáveis podem ser penhorados à falta de outros bens (art. 834 do
CPC/2015).

3.4.3Móveis, pertences e utilidades domésticas

O art. 833, II, do CPC/2015 declara impenhoráveis os móveis, os pertences e as utilidades domésticas que guarnecem
a residência do executado, salvo os de elevado valor ou os que ultrapassem as necessidades comuns correspondentes a
um médio padrão de vida. A Lei nº 8.009/1990, que será melhor estudada adiante, estabelece a impenhorabilidade do
imóvel residencial próprio do casal ou da entidade familiar, bem como dos “móveis que guarnecem a casa” (art. 1º,
parágrafo único). Em contrapartida, a mesma lei exclui da impenhorabilidade as obras de arte e adornos suntuosos (art.
2º).
O STJ já decidiu que “eletrodomésticos que, a despeito de não serem indispensáveis, são usualmente mantidos em um
imóvel residencial, não podem ser considerados de luxo ou suntuosos para fins de penhora” . Em contrapartida, há
89

precedentes da Corte entendendo que a impenhorabilidade se refere a um único bem móvel da mesma espécie, não
alcançando bens em duplicidade. 90

Vestuários

O art. 833, III, do CPC/2015 consagra a impenhorabilidade dos vestuários, bem como os pertences de uso pessoal do
executado, salvo se de elevado valor. Cuida-se de hipótese de impenhorabilidade que, portanto, pode ser afastada de
acordo com as circunstâncias concretas.

3.4.4Verbas remuneratórias e poupança

De acordo com o art. 833, IV, do CPC/2015, são impenhoráveis os vencimentos, os subsídios, os soldos, os salários, as
remunerações, os proventos de aposentadoria, as pensões, os pecúlios e os montepios, bem como as quantias recebidas
por liberalidade de terceiro e destinadas ao sustento do devedor e de sua família, os ganhos de trabalhador autônomo e
os honorários de profissional liberal. O § 2 º do mesmo dispositivo, no entanto, excepcionalmente permite a penhora
dessas verbas: (i) para pagamento de prestação alimentícia, independentemente de sua origem; ou (ii) no caso de
importâncias excedentes a 50 (cinquenta) salários mínimos mensais.
Por sua vez, o art. 833, X, do CPC/2015 consagra a impenhorabilidade da quantia depositada em caderneta de
poupança, até o limite de 40 (quarenta) salários mínimos, que também é excepcionada no caso de penhora para
pagamento de prestação alimentícia, independentemente de sua origem (art. 833, § 2º, do CPC/2015) . 91
Observe-se a existência de dois limites distintos para a incidência da impenhorabilidade. Quanto às verbas
remuneratórias previstas no art. 833, IV, do CPC/2015, as importâncias excedentes a 50 (cinquenta) salários mínimos
mensais podem ser penhoradas. No que diz respeito à quantia em caderneta de poupança, a penhora incide no que diz
respeito aos valores que excedam 40 (quarenta) salários mínimos.
O art. 833, § 2º, do CPC/2015 determina a aplicação do art. 529, § 3º, do mesmo Código, de modo que é possível, nos
casos de prestação alimentícia ou importâncias acima de 50 salários mínimos, o desconto dos rendimentos ou rendas
do executado para pagamento do débito. De acordo com esse dispositivo, ainda que a penhora seja destinada ao
pagamento de alimentos, não poderá ultrapassar 50% dos ganhos líquidos dos rendimentos ou rendas do executado. 92

O Código de 2015 avançou consideravelmente nessa matéria, pois o diploma anterior afastava a impenhorabilidade
sobre verbas remuneratórias apenas para o pagamento de prestações alimentícias (art. 649, § 2º, do CPC/1973,
incluído pela Lei nº 11.382/2006). A Segunda Seção do STJ, analisando o CPC anterior, entendeu que a
impenhorabilidade de verba remuneratória abrangeria apenas a última remuneração percebida pelo executado. 93

No mesmo julgado, a Corte definiu que seriam penhoráveis verbas da última remuneração que ultrapassassem o teto
constitucional do salário de Ministro do STF. O CPC/2015, então, regulou a matéria, superando a jurisprudência do
STJ: o limite não é mais o teto remuneratório constitucional dos Ministros do STF, passando a ser o patamar de 50
salários mínimos.
Nada obstante a impenhorabilidade do inciso IV do art. 833 do CPC/2015 só alcance a última remuneração percebida,
a jurisprudência reconhece que os valores recebidos de remunerações anteriores podem ser poupados, caso em que
incide a impenhorabilidade do art. 833, X, do CPC/2015 (obedecido o limite de até 40 salários mínimos),  salvo má-fé
ou fraude. Nesse sentido:
“A remuneração a que se refere o inciso IV do art. 649 do CPC é a última percebida, no limite do teto
constitucional de remuneração (CF, art. 37, XI e XII), perdendo esta natureza a sobra respectiva, após o
recebimento do salário ou vencimento seguinte. Precedente. (...) O valor obtido a título de indenização
trabalhista, após longo período depositado em fundo de investimento, perde a característica de verba salarial
impenhorável (inciso IV do art. 649). Reveste-se, todavia, de impenhorabilidade a quantia de até quarenta
salários mínimos poupada, seja ela mantida em papel-moeda; em conta-corrente; aplicada em caderneta de
poupança propriamente dita ou em fundo de investimentos, e ressalvado eventual abuso, má-fé, ou fraude, a
ser verificado caso a caso, de acordo com as circunstâncias da situação concreta em julgamento (inciso X do
art. 649).” (REsp 1230060/PR, Rel. Min. MARIA ISABEL GALLOTTI, SEGUNDA SEÇÃO, j.
13.08.2014).
Como se percebe do aresto acima transcrito, apesar de o 833, X, do CPC/2015 se referir apenas à “caderneta de
poupança”, o STJ estende a impenhorabilidade a quaisquer “pequenas reservas de capital poupadas”. Ademais,
havendo diversas aplicações financeiras, estas devem ser somadas para fins de aplicação do limite de 40 SM (REsp
1231123/SP, Rel. Min. NANCY ANDRIGHI, 3ª TURMA, j. 02.08.2012).
Nesse contexto, segundo o STJ, a partir do momento em que o dinheiro for aplicado em algum investimento, perde a
natureza remuneratória: não cabe mais a hipótese de impenhorabilidade do inciso IV do art. 833 do CPC/2015, mas
pode incidir a impenhorabilidade do art. 833, X, do mesmo Código. 94

Havia divergência no STJ sobre a possibilidade de penhorar parcela da verba remuneratória quando a dívida não for
alimentar. Uma primeira corrente entende ser possível penhorar parcela da verba remuneratória do devedor, desde que
não ofenda o seu mínimo existencial. Já uma segunda corrente, que hoje restou superada, entendia que a verba
remuneratória não pode sofrer penhora, ainda que parcial, salvo a hipótese de crédito alimentar. 95
A Corte Especial do STJ adotou a primeira posição:
“Só se revela necessária, adequada, proporcional e justificada a impenhorabilidade daquela parte do
patrimônio do devedor que seja efetivamente necessária à manutenção de sua dignidade e da de seus
dependentes. (...) A regra geral da impenhorabilidade de salários, vencimentos, proventos etc. (art. 649, IV,
do CPC/73; art. 833, IV, do CPC/2015), pode ser excepcionada quando for preservado percentual de tais
verbas capaz de dar guarida à dignidade do devedor e de sua família.” (EREsp 1582475/MG, Rel. Min.
BENEDITO GONÇALVES, CORTE ESPECIAL, j. 03.10.2018).
Nessa mesma linha, entendeu o STJ pela possibilidade de penhora de 30% de benefício previdenciário para pagar
dívida prevista em título executivo extrajudicial: “é possível, em situações excepcionais, a mitigação da
impenhorabilidade dos salários para a satisfação de crédito não alimentar, desde que observada a Teoria do Mínimo
Existencial, sem prejuízo direto à subsistência do devedor ou de sua família, devendo o Magistrado levar em
consideração as peculiaridades do caso e se pautar nos princípios da proporcionalidade e razoabilidade.”  Em outro
96

caso, a Corte admitiu penhora parcial de salário para pagamento de dívida decorrente de contrato de fomento
mercantil.  Também há precedente admitindo a penhora de parte da verba remuneratória quando a dívida era oriunda
97

de cheque. 98

Grassa dúvida na doutrina sobre a possibilidade de interpretar extensivamente o art. 833, IV, do CPC/2015. O STJ
entende que o dispositivo protege todas as verbas oriundas da atividade profissional, já tendo interpretado
extensivamente o art. 833, IV, do CPC/2015 para reconhecer a impenhorabilidade de auxílio-doença, por ter natureza
salarial.  Quando a verba é oriunda de previdência privada, o STJ entende que a impenhorabilidade deve ser apreciada
99

caso a caso, a depender se a verba é necessária para a subsistência do devedor. 100

Segundo o STJ, os honorários advocatícios são verbas alimentares e se enquadram na exceção do art. 833, § 2º, do
CPC/2015, de modo que, para o seu pagamento, podem ser penhoradas verbas remuneratórias e quantias depositadas
em caderneta de poupança. 101

3.4.5Bens móveis necessários ao exercício profissional

De acordo com o art. 833, V, do CPC/2015, são impenhoráveis os livros, as máquinas, as ferramentas, os utensílios, os
instrumentos ou outros bens móveis necessários ou úteis ao exercício da profissão do executado. Segundo o STJ, as
hipóteses de impenhorabilidade são excepcionais, devendo ser interpretadas restritivamente. Assim, ao estabelecer
quais coisas são “necessárias ou úteis ao exercício da profissão”, é preciso diferenciar duas situações. Quando a coisa é
a própria ferramenta de trabalho, como o carro do taxista ou do instrutor de autoescola, há presunção de que é útil ou
necessária ao exercício da profissão. Em contrapartida, se a coisa não é a própria ferramenta de trabalho, o executado
deve fazer prova da utilidade ou necessidade para a sua profissão. 102

Também há precedentes julgando impenhorável o automóvel adaptado utilizado por deficiente físico, pois “medida
destinada a manter a sua dignidade, enquanto pessoa integrada ao meio social e profissional, porquanto lhe permite
plena liberdade de locomoção”  (nesse caso, o STJ não examinou o mérito, pois entendeu ser matéria fática).
103

Outra discussão importante é sobre a incidência da impenhorabilidade do art. 833, V, do CPC/2015 em favor de
pessoas jurídicas.
Sobre o ponto, é importante saber que o § 3º do mesmo art. 833 também protege com a impenhorabilidade prevista no
inciso V os equipamentos, os implementos e as máquinas agrícolas, desde que preenchidos os seguintes
requisitos: (i) sejam pertencentes a pessoa física ou a empresa individual produtora rural; (ii) que tais bens não tenham
sido objeto de financiamento e estejam vinculados em garantia a negócio jurídico; e (iii) que tais bens não respondam
por dívida de natureza alimentar, trabalhista ou previdenciária. Note-se, então, que o próprio legislador ampliou a
impenhorabilidade do art. 833, V, do CPC/2015 em favor de “empresa individual produtora rural”. 104

De acordo com a jurisprudência do STJ, o art. 833, V, do CPC/2015, via de regra, não beneficia pessoas jurídicas. No
entanto, os bens móveis necessários ao exercício da empresa podem excepcionalmente ser impenhoráveis, quando os
requisitos a seguir estiverem presentes: (i) tratar-se de pequena empresa, empresa de pequeno porte ou firma
individual; (ii) na qual os sócios exerçam a profissão diretamente; e (iii) que o bem seja necessário ao
desenvolvimento da atividade objeto do contrato social.
O STJ já considerou, inclusive, um bem imóvel como impenhorável, por ser instrumento necessário ou útil ao
desenvolvimento da atividade objeto do contrato social:
“A interpretação teleológica do art. 649, V, do CPC, em observância aos princípios fundamentais
constitucionais da dignidade da pessoa humana e dos valores sociais do trabalho e da livre iniciativa (art. 1º,
incisos III e IV, da CRFB/88) e do direito fundamental de propriedade limitado à sua função social (art. 5º,
incisos XXII e XXIII, da CRFB/88), legitima a inferência de que o imóvel profissional constitui instrumento
necessário ou útil ao desenvolvimento da atividade objeto do contrato social, máxime quando se tratar de
pequenas empresas, empresas de pequeno porte ou firma individual.” (REsp 1114767/RS, Rel. Min. LUIZ
FUX, CORTE ESPECIAL, j. 02.12.2009).

3.4.6Seguro de vida

A impenhorabilidade sobre o seguro de vida abrange tanto o prêmio pago em vida quanto a importância a ser
percebida post mortem pelo beneficiário. É que, contratualmente, o seguro de vida se destina ao beneficiário, não ao
instituidor do seguro, de modo que é alheio ao patrimônio deste. Então, se o instituidor é o executado, descabe a
penhora de qualquer quantia atrelada ao seguro de vida.
Por outro lado, em relação ao beneficiário, antes da morte do instituidor há mera expectativa de direito quanto ao
recebimento do benefício. Dessa maneira, sem que ocorra o óbito do instituidor, mesmo sendo executado o
beneficiário, nenhum bem atrelado ao seguro de vida pode ser penhorado, incidindo o art. 833, VI, do CPC/2015.
Finalmente, na hipótese de ser executado o beneficiário e o óbito do instituidor já ter ocorrido, o contrato de seguro de
vida já se completou, com o ingresso do benefício no patrimônio do executado. Nada obstante o art. 833, VI, do
CPC/2015 determine a impenhorabilidade dessa indenização securitária, em razão do seu caráter alimentar, a
jurisprudência do STJ aplica por analogia o limite do art. 833, X, do CPC/2015, de modo que é possível a penhora dos
valores que excedam 40 (quarenta) salários mínimos. 105

3.4.7Materiais necessários para obras em andamento

O art. 833, VII, do CPC/2015 consagra a impenhorabilidade dos materiais necessários para obras em andamento, salvo
se essas forem penhoradas. Essa hipótese de impenhorabilidade, obviamente, incide ainda que não presentes os
requisitos para a configuração do bem de família legal nos termos da Lei nº 8.009/1990.
3.4.8Pequena propriedade rural trabalhada pela família

Já se mencionou em passagem anterior que o § 3º do art. 833 do CPC/2015 declara impenhoráveis os equipamentos, os
implementos e as máquinas agrícolas, desde que preenchidos os seguintes requisitos: (i) sejam pertencentes a pessoa
física ou a empresa individual produtora rural; (ii) que tais bens não tenham sido objeto de financiamento e estejam
vinculados em garantia a negócio jurídico; e (iii) que tais bens não respondam por dívida de natureza alimentar,
trabalhista ou previdenciária.
Não se deve confundir essa hipótese, no entanto, com a impenhorabilidade prevista no art. 833, VIII, do CPC/2015,
que protege “a pequena propriedade rural, assim definida em lei, desde que trabalhada pela família”. A definição de
pequena propriedade rural está no art. 4º, II, da Lei n. 4.504/64 (Estatuto da Terra). Por sua vez, a própria Constituição
da República, em seu art. 5º, XXVI, prevê a hipótese de impenhorabilidade aplicável à (i) pequena propriedade
rural; (ii) trabalhada pela família; e (iii) para débitos decorrentes da sua atividade produtiva. Note-se que a
impenhorabilidade do art. 833, VIII, do CPC/2015 é mais ampla, pois incide ainda que não se trate de débitos
decorrentes da atividade produtiva da pequena propriedade rural.
A esse respeito, o Supremo Tribunal Federal reconheceu a Repercussão Geral da questão “acerca da garantia, ou não,
de impenhorabilidade da pequena propriedade rural e familiar, oponível contra empresa fornecedora de insumos
necessários à sua atividade produtiva, nos casos em que a família também é proprietária de outros imóveis rurais”. 106

3.4.9Recursos públicos recebidos por instituições privadas para aplicação compulsória em educação,
saúde ou assistência social

De acordo com o art. 833, IX, do CPC/2015, são impenhoráveis os recursos públicos recebidos por instituições
privadas para aplicação compulsória em educação, saúde ou assistência social. Assim, por exemplo, às organizações
sociais poderão ser destinados recursos orçamentários e bens públicos necessários ao cumprimento do contrato de
gestão (art. 12 da Lei nº 9.637/1998). Note-se que, ao ingressar no patrimônio de instituição privada, os recursos
deixam de ter natureza de bem público. Porém, os recursos passam a ser afetados a um serviço de relevância pública,
sendo razoável que o legislador estabeleça a sua impenhorabilidade.
Situação não esclarecida pelo legislador é a dos recursos públicos recebidos por instituições privadas para aplicação
compulsória em atividades de relevância social diversas da educação, da saúde ou da assistência social. Entendemos
que a impenhorabilidade é aplicável ainda que a instituição exerça outros serviços de relevância pública, como o
transporte. 107

É do executado o ônus de provar que os recursos têm origem pública e se destinam a serviço de relevância social, por
aplicação analógica do art. 854, § 3º, I, do CPC/2015.

3.4.10Recursos públicos do fundo partidário

São impenhoráveis, nos termos do art. 833, XI, do CPC/2015, os recursos públicos do fundo partidário recebidos por
partido político, regidos pela Lei nº 9.096/1995. Enquanto integrantes do fundo, os recursos obtidos na forma do art.
38 da Lei nº 9.096/1995 são bens públicos, incidindo a impenhorabilidade do art. 833, I, do CPC/2015.  Após a 108

transferência dos recursos do fundo partidário ao partido político, essa verba passa a ter aplicação específica, nos
termos do art. 44 da Lei nº 9.096/1995, motivo pelo qual é protegida pela impenhorabilidade do art. 833, XI, do
CPC/2015.
Nada obstante, o partido político também possui outras fontes de financiamento, como as contribuições de filiados e as
doações. O art. 33 da Lei nº 9.096/1995 exige que o partido político envie balanço contábil à Justiça Eleitoral
discriminando, de um lado, os valores e destinação dos recursos oriundos do fundo partidário e, de outro, a origem e
valor das contribuições e doações. As contribuições e doações têm natureza privada e, por isso, não estão abrangidas
pela impenhorabilidade do art. 833, XI, do CPC/2015, como reconhece a jurisprudência do Superior Tribunal de
Justiça. 109

Rememore-se, ainda, o disposto no art. 854, § 9º, do CPC/2015, sobre a indisponibilidade eletrônica de ativos
financeiros de partido político: “Quando se tratar de execução contra partido político, o juiz, a requerimento do
exequente, determinará às instituições financeiras, por meio de sistema eletrônico gerido por autoridade supervisora do
sistema bancário, que tornem indisponíveis ativos financeiros somente em nome do órgão partidário que tenha
contraído a dívida executada ou que tenha dado causa à violação de direito ou ao dano, ao qual cabe exclusivamente a
responsabilidade pelos atos praticados, na forma da lei.”

3.4.11Créditos oriundos de alienação de unidades sob regime de incorporação imobiliária

Na dicção do art. 833, XII, do CPC/2015, são impenhoráveis os créditos oriundos de alienação de unidades
imobiliárias, sob regime de incorporação imobiliária, vinculados à execução da obra. De acordo com o art. 28,
parágrafo único, da Lei nº 4.591/1964, considera-se incorporação imobiliária a atividade exercida com o intuito de
promover e realizar a construção, para alienação total ou parcial, de edificações ou conjunto de edificações compostas
de unidades autônomas. O incorporador, pessoa física ou jurídica, realiza compromisso de compra e venda ou mesmo
a venda de frações ideais de terreno, vinculando-as a unidades autônomas de um projeto de construção que será
realizada, “responsabilizando-se, conforme o caso, pela entrega, a certo prazo, preço e determinadas condições, das
obras concluídas” (art. 29, caput, da Lei nº 4.591/1964).
O incorporador, então, levanta recursos para a construção da edificação por meio da venda antecipada das unidades
autônomas imobiliárias. Considerando que esses recursos se destinam à efetivação de direitos de terceiros
consumidores, que não podem ser prejudicados por dívidas do incorporador, a lei determina a sua impenhorabilidade.
Nada obstante, a impenhorabilidade atinge tão somente os recursos abrangidos pelo orçamento da construção, não
alcançando verbas excedentes.
O art. 862, § 3º, do CPC/2015 dispõe, ainda, que, em relação aos edifícios em construção sob regime de incorporação
imobiliária, a penhora somente poderá recair sobre as unidades imobiliárias ainda não comercializadas pelo
incorporador.

3.4.12Bem de família legal

A Lei nº 8.009/1990 define que, como regra, é impenhorável o imóvel quando: (i) for residencial; (ii) for próprio do
casal ou da entidade familiar; e (iii) a dívida exequenda tiver sido contraída pelos cônjuges ou pelos pais ou filhos que
sejam seus proprietários e nele residam.
À luz de uma interpretação teleológica, a tutela do bem de família, na sua essência, não se aplica apenas ao abrigo da
entidade familiar, mas à habitação do ser humano, como forma de defesa da dignidade humana. Assim é que,
perfazendo um balanceamento dos interesses em jogo, há de se preservar tanto o imóvel residencial de pessoa solteira
quanto o que se destina aos conviventes de uma união estável, ou de parentes próximos que residem juntos etc.
Quanto ao caráter residencial do imóvel, deve-se frisar que a impenhorabilidade abrange apenas um único imóvel
utilizado para moradia permanente (art. 5º da Lei nº 8.009/1990). Segundo o STJ, não se exige, contudo, que o
devedor faça prova de que é o único imóvel de sua residência.  Sendo vários os imóveis residenciais, só é
110

impenhorável o de menor valor, salvo se outro tiver sido registrado para esse fim (art. 5º, parágrafo único, da Lei nº
8.009/1990).
A impenhorabilidade só compreende o imóvel sobre o qual se assentam a construção, as plantações e as benfeitorias
(art. 1º, parágrafo único, da Lei nº 8.009/1990). De acordo com o STJ, se o imóvel for composto por diversas
matrículas e a construção estiver situada em apenas algumas delas, é possível a penhora da fração ideal do imóvel
referente à parcela não edificada, desde que possa haver desmembramento sem descaracterização. 111

Questiona-se a solução jurídica para o caso em que a penhora for anterior à constituição de residência pela família. O
STJ decidiu que, em hipóteses que tais, a penhora deve ser desconstituída. Confira-se:
“deve-se admitir que a proteção legal alcance a entidade familiar única, ainda que constituída posteriormente
à realização da penhora, porquanto tal fato não se mostra relevante aos olhos da lei, que se destina à proteção
da família em seu sentido mais amplo”. 112

Outra situação concreta relevante é aquela em que o devedor só não reside no imóvel por ser impossível a moradia em
razão de falta de serviço estatal. Nesse caso, muito embora o devedor não resida no imóvel, incide a
impenhorabilidade. 113

Tendo em vista que a lei exige a residência do devedor no imóvel, a impenhorabilidade não abrange “bem imóvel de
uso eventual ou recreativo” . Por outro lado, a impenhorabilidade “abrange o imóvel em fase de aquisição, como
114

aqueles decorrentes da celebração do compromisso de compra e venda ou do financiamento de imóvel para fins de
moradia” .
115

A impenhorabilidade abrange também os bens móveis que guarnecem o imóvel, salvo veículos de transporte, obras de
arte e adornos suntuosos (arts. 1º, parágrafo único, e 2º da Lei nº 8.009/1990).  A lei, contudo, não estabelece o valor
116

do imóvel como critério para a incidência da impenhorabilidade, de modo que os “imóveis de alto padrão não são
excluídos da proteção do bem de família” .
117

Em qualquer caso, é do credor o ônus da prova de descaracterizar o bem de família, conforme reconhece a
jurisprudência do STJ. 118

Questão interessante diz respeito à validade da renúncia à proteção do bem de família, o que ocorre, por exemplo,
quando o devedor oferta em garantia o seu único imóvel residencial. O Superior Tribunal de Justiça reconhece que a
renúncia é válida, pois do contrário haveria venire contra factum proprium. 119

O art. 3º da Lei nº 8.009/1990 consagra diversas exceções à impenhorabilidade do imóvel residencial familiar:
“Art. 3º A impenhorabilidade é oponível em qualquer processo de execução civil, fiscal, previdenciária,
trabalhista ou de outra natureza, salvo se movido:
I – em razão dos créditos de trabalhadores da própria residência e das respectivas contribuições
previdenciárias; (Revogado pela Lei Complementar nº 150, de 2015)
II – pelo titular do crédito decorrente do financiamento destinado à construção ou à aquisição do imóvel, no
limite dos créditos e acréscimos constituídos em função do respectivo contrato;
III – pelo credor da pensão alimentícia, resguardados os direitos, sobre o bem, do seu coproprietário que,
com o devedor, integre união estável ou conjugal, observadas as hipóteses em que ambos responderão pela
dívida; (Redação dada pela Lei nº 13.144 de 2015)
IV – para cobrança de impostos, predial ou territorial, taxas e contribuições devidas em função do imóvel
familiar;
V – para execução de hipoteca sobre o imóvel oferecido como garantia real pelo casal ou pela entidade
familiar;
VI – por ter sido adquirido com produto de crime ou para execução de sentença penal condenatória a
ressarcimento, indenização ou perdimento de bens.
VII – por obrigação decorrente de fiança concedida em contrato de locação”.
Sendo hipóteses excepcionais, devem ser interpretadas restritivamente. Assim, por exemplo, o art. 3º, II, da Lei nº
8.009/1990 consagra a possibilidade de penhora do único imóvel residencial familiar do devedor pelo titular do crédito
decorrente do financiamento destinado à sua construção ou aquisição, no limite dos créditos e acréscimos constituídos
em função do respectivo contrato. Segundo o STJ, se o crédito for para a realização de benfeitorias no imóvel, incide a
impenhorabilidade.  Da mesma forma, a possibilidade de penhora pelo credor da pensão alimentícia (art. 3º, III, da
120

Lei nº 8.009/1990) não se estende a dívidas de honorários advocatícios, ainda que sejam alimentares. 121

O art. 3º, IV, da Lei nº 8.009/1990 estabelece a possibilidade de penhora do imóvel residencial familiar em razão de
obrigações propter rem, como impostos, predial ou territorial, taxas e contribuições devidas em função do imóvel
familiar. Mesmo nos casos em que a dívida condominial for anterior à aquisição da propriedade pela entidade familiar,
o imóvel estará sujeito à penhora, de acordo com a jurisprudência do STJ. 122

O art. 3º, V, da Lei nº 8.009/1990 aduz ser penhorável imóvel oferecido como garantia real pela entidade familiar.
Hipótese complexa é aquela em que a pessoa jurídica contrai uma dívida e oferece em garantia real um imóvel de
propriedade e residência de sócio. Nessa linha, o STJ diferenciou duas situações, aplicando a elas regras distintas, a
saber: (i) quando a pessoa jurídica tiver outros sócios que não o proprietário do imóvel: o bem é impenhorável, salvo
se o credor provar que a dívida beneficiou a entidade familiar; e (ii) quando os únicos sócios da pessoa jurídica são os
proprietários do imóvel: o bem é penhorável, salvo se os proprietários comprovarem que a família não se beneficiou
com a dívida. 123

Uma vez que o art. 3º, V, da Lei nº 8.009/1990 se refere à “garantia real”, cumpre indagar o que ocorre quando o
imóvel residencial familiar foi alienado fiduciariamente pelo proprietário. O STJ entende ser válida a alienação
fiduciária do imóvel residencial familiar, pois (i) seria um comportamento contraditório do alienante (venire contra
factum proprium); (ii) o bem de família não é inalienável; e (iii) o art. 22 da Lei nº 9.514/1997 prevê a possibilidade de
alienação fiduciária do bem de família. Confira-se:
“Não pode o devedor ofertar bem em garantia que é sabidamente residência familiar para, posteriormente,
vir a informar que tal garantia não encontra respaldo legal, pugnando pela sua exclusão (vedação ao
comportamento contraditório). (...) Lei 8.009/1990 (...) em nenhuma passagem dispõe que tal bem não possa
ser alienado pelo seu proprietário. (...) Não se pode concluir que o bem de família legal seja inalienável e,
por conseguinte, que não possa ser alienado fiduciariamente por seu proprietário, se assim for de sua
vontade, nos termos do art. 22 da Lei 9.514/1997” . 124

De acordo com o julgado acima, o credor fiduciário, justamente por ser proprietário do bem, pode utilizá-lo para
satisfazer a dívida inadimplida pelo devedor fiduciante, não havendo que se falar em impenhorabilidade. Situação
distinta é aquela em que o imóvel é alienado fiduciariamente e um sujeito diverso do credor fiduciário pretende
penhorar os direitos de posse do devedor fiduciante sobre o bem. Decidiu o Superior Tribunal de Justiça que o direito
de posse sobre o imóvel residencial alienado fiduciariamente é impenhorável para satisfazer o crédito desse terceiro. 125
O art. 3º, VI, da Lei nº 8.009/1990 autoriza a penhora do imóvel “adquirido com produto de crime ou para execução de
sentença penal condenatória a ressarcimento, indenização ou perdimento de bens”. Esse dispositivo é interpretado
restritivamente pelo STJ, de modo que a exceção não abrange indenização civil decorrente de conduta caracterizada
como crime. 126

O Supremo Tribunal Federal já declarou a constitucionalidade do art. 3º, VII, que prevê a penhorabilidade do bem de
família do fiador do contrato de locação.  O STJ seguiu a mesma orientação.
127 128

3.5Multiplicidade de penhoras

Consectário do princípio de que todo o patrimônio do devedor é penhorável à míngua de veto legal é a possibilidade
de multiplicidade de penhoras sobre o mesmo bem, assim como a penhora sobre bem gravado com ônus real e a
penhora de cota social (esta consagrada nos arts. 799, VII, e 876, § 7º, do CPC/2015).
A multiplicidade de penhoras sobre o mesmo bem, desde que este comporte, implica o recebimento por cada credor
penhorante, do seu crédito, como verba fruto da venda judicial do bem de acordo com dois critérios, previstos no art.
908 do CPC/2015. O primeiro, é a existência de título de preferência; o segundo é a “prioridade da penhora” (prior
tempore, potior iure).
129

Assente-se, desde já, que a prioridade da penhora se observa pela realização do ato com todos os seus  requisitos
processuais internos, independentemente do registro da penhora realizado nos termos do art. 844 do CPC/2015 para
efeito de oponibilidade erga omnes da constrição, por isso que a providência do registro não constitui critério para
aferir-se a antecedência da penhora. O registro é mais uma medida que converge para a moderna tendência de proteção
da aparência jurídica e do terceiro de boa-fé, remetendo-se o leitor às considerações feitas sobre o art. 792, III, do
CPC/2015.
O Superior Tribunal de Justiça já decidiu que, em caso de multiplicidade de penhoras, será do juízo em que ocorreu a
primeira penhora a competência para julgar o concurso entre os credores interessados, salvo se isso importar violação
de critério absoluto de determinação da competência. 130

Deveras, se as penhoras são contemporâneas porque realizadas no mesmo dia e hora, a prioridade instaura-se pela
antecedência da propositura da execução como critério de desempate.
No caso de penhora sobre bem gravado com ônus real, a preferência no recebimento do preço pressupõe que o
gravame seja anterior à penhora, aproveitando-se o saldo, se houver, para pagamento dos credores quirografários
remanescentes (art. 908 do CPC/2015). 131

3.6Penhora de quota social e ações

A penhora de quota social, prevista no art. 835, IX, do CPC/2015, sempre foi recebida com reservas sob o argumento
de que a ulterior expropriação resultaria na inserção de um estranho numa sociedade de pessoas que pressupõe  affectio
societatis e negócio intuitu personae. O CC preceitua, em seu art. 1.026, que o “credor particular de sócio pode, na
insuficiência de outros bens do devedor, fazer recair a execução sobre o que a este couber nos lucros da sociedade, ou
na parte que lhe tocar em liquidação”. O parágrafo único do mesmo dispositivo admite que o credor requeira a
liquidação da quota do devedor, cujo valor “será depositado em dinheiro, no juízo da execução, até noventa dias após
aquela liquidação”. A lei processual atual autoriza a penhora não apenas de ações e quotas de sociedades empresárias,
mas também de quotas de sociedades simples, bem como regula o seu procedimento. Aliás, de acordo com a
jurisprudência do STJ, é “possível a penhora de quota social, inclusive quando há previsão contratual de proibição à
livre alienação”. 132

O art. 861 do CPC/2015 reza que, quando penhoradas as quotas ou as ações de sócio em sociedade simples ou
empresária, o juiz assinará prazo razoável, não superior a 3 (três) meses, para que a sociedade: I – apresente balanço
especial, na forma da lei; II – ofereça as quotas ou as ações aos demais sócios, observado o direito de preferência legal
ou contratual; e III – não havendo interesse dos sócios na aquisição das ações, proceda à liquidação das quotas ou das
ações, depositando em juízo o valor apurado, em dinheiro. Para evitar a liquidação das quotas ou das ações, a
sociedade poderá adquiri-las sem redução do capital social e com utilização de reservas, para manutenção em
tesouraria, salvo no caso de sociedade anônima de capital aberto, cujas ações serão adjudicadas ao exequente ou
alienadas em bolsa de valores, conforme o caso (art. 861, §§ 1º e 2º, do CPC/2015). A requerimento do exequente ou
da sociedade, o juiz poderá nomear administrador para proceder à liquidação das quotas ou ações que deverá submeter
à aprovação judicial a forma de liquidação (art. 861, § 3º, do CPC/2015). Apenas quando não houver interesse dos
demais sócios no exercício de direito de preferência, não ocorrer a aquisição das quotas ou das ações pela sociedade e
a liquidação destas for excessivamente onerosa para a sociedade, o juiz poderá determinar o leilão judicial das quotas
ou das ações (art. 861, § 5º, do CPC/2015). Dessa forma, a lei evita ao máximo o ingresso de sujeito sem  affectio
societatis no seio empresarial. 133

O art. 876, § 7º, do CPC/2015 dispõe que, no caso de penhora de quota social ou de ação de sociedade anônima
fechada realizada em favor de exequente alheio à sociedade, esta será intimada, ficando responsável por informar aos
sócios a ocorrência da penhora, assegurando-se a estes a preferência, nos termos do art. 861, II, do CPC/2015. Caso a
preferência não seja exercida, aliena-se a quota, promovendo-se uma retirada daquele sócio cuja participação foi
expropriada, entregando-se ao exequente o produto da venda e ao adquirente os eventuais haveres remanescentes do
sócio retirante. Nesse caso, permite-se que o terceiro adquirente da quota passe a ser sócio, mesmo inexistindo affectio
societatis.

3.7Ordem da penhora

O art. 835 do CPC/2015 traz uma ordem preferencial para a penhora, nos seguintes termos:
“Art. 835. A penhora observará, preferencialmente, a seguinte ordem:
I – dinheiro, em espécie ou em depósito ou aplicação em instituição financeira;
II – títulos da dívida pública da União, dos Estados e do Distrito Federal com cotação em mercado; III –
títulos e valores mobiliários com cotação em mercado;
IV – veículos de via terrestre; V – bens imóveis;
VI – bens móveis em geral; VII – semoventes;
VIII – navios e aeronaves;
IX – ações e quotas de sociedades simples e empresárias;
X – percentual do faturamento de empresa devedora;
XI – pedras e metais preciosos;
XII – direitos aquisitivos derivados de promessa de compra e venda e de alienação fiduciária em garantia;
XIII – outros direitos.
§ 1º É prioritária a penhora em dinheiro, podendo o juiz, nas demais hipóteses, alterar a ordem prevista no
caput de acordo com as circunstâncias do caso concreto.
§ 2º Para fins de substituição da penhora, equiparam-se a dinheiro a fiança bancária e o seguro garantia
judicial, desde que em valor não inferior ao do débito constante da inicial, acrescido de trinta por cento.
§ 3º Na execução de crédito com garantia real, a penhora recairá sobre a coisa dada em garantia, e, se a coisa
pertencer a terceiro garantidor, este também será intimado da penhora”.
Preliminarmente, destaque-se que o credor tem o direito de a penhora recair preferencialmente na ordem estabelecida
na lei, por isso que pode requerer a substituição dos bens penhorados, restabelecendo a constrição consoante a ordem
legalmente prevista (art. 848, I, do CPC/2015).
Essa ordem considera a liquidez, a livre disponibilidade e a expressão econômica do bem, lembrando que, salvante as
hipóteses de impenhorabilidade, todos os demais bens do devedor são penhoráveis.
O inciso de encerramento ao aludir a “outros direitos” refere-se àqueles avaliáveis economicamente, ainda que
disputados em juízo, v.g.: a penhora de direito e ação (art. 857 do CPC/2015) e a penhora no rosto dos autos (art. 860
do CPC/2015).
O primeiro inciso confirma a prioridade da penhora de soma, o que abrevia o processo satisfativo, posto dispensar a
fase de expropriação.
Ademais, a lei admite a penhora de dinheiro depositado ou aplicado em instituição financeira, uma vez que, em
princípio, nada justifica o inadimplemento do devedor que dispõe dessa reserva. A realização dessa modalidade de
penhora revela aspectos procedimentais peculiares, já apontados quando da análise do art. 854 do CPC/2015. Por isso
que, para possibilitar a penhora de dinheiro em depósito ou aplicação financeira, o juiz, a requerimento do exequente,
sem dar ciência prévia do ato ao executado, determinará às instituições financeiras, por meio de sistema eletrônico
gerido pela autoridade supervisora do sistema financeiro nacional, que torne indisponíveis ativos financeiros existentes
em nome do executado, limitando-se a indisponibilidade ao valor indicado na execução. É a
chamada indisponibilidade eletrônica ou bloqueio on-line, sobejamente analisada em capítulo próprio.
Na execução de crédito com garantia hipotecária, pignoratícia ou anticrética, hipótese em que a penhora deve recair,
preferencialmente, sobre a coisa dada em garantia e se a coisa pertencer a terceiro garantidor, será também este
intimado da penhora (art. 835, § 3º, do CPC/2015).
Se a penhora recair sobre bem imóvel ou direito real sobre imóvel, será intimado também o cônjuge do executado,
salvo se forem casados em regime de separação absoluta de bens (art. 842 do CPC/2015). A penhora de meação
conduzia a uma perplexidade, qual a de tornar condômino de um dos cônjuges arrematante estranho, implicando a
criação doutrinária de fórmulas capazes de permitir a expropriação de todo o bem, acaso o patrimônio conjugal
admitisse meação do acervo maior. Por essa razão, tratando-se de penhora de bem indivisível, o equivalente à quota-
parte do coproprietário ou do cônjuge alheio à execução recairá sobre o produto da alienação do bem (art. 843, caput,
do CPC/2015). Essa forma de separação da importância evita, por certo, a oposição de embargos tanto de executado
quanto de terceiros, nos quais o cônjuge defenda bens reservados ou parte de sua meação.
Tanto o coproprietário quanto o cônjuge não executado têm preferência na arrematação do bem em igualdade de
condições (art. 843, § 1º, do CPC/2015). Além disso, a expropriação não pode ter preço inferior ao da avaliação na
qual o valor auferido seja incapaz de garantir, ao coproprietário ou ao cônjuge alheio à execução, o correspondente à
sua quota-parte calculado sobre o valor da avaliação (art. 843, § 2º, do CPC/2015).
Esclareça-se que o cônjuge é alheio quando a dívida não foi contraída em benefício da família. Diversamente, tem
responsabilidade patrimonial quando a obrigação é contraída intuitu familiae. Sobre o tema, remete-se o leitor a tudo o
quanto foi escrito em capítulo anterior sobre a responsabilidade patrimonial do cônjuge.

3.8Penhora de percentual de faturamento de empresa

A jurisprudência pátria, até então, era refratária à admissão da denominada penhora de faturamento, posto esvaziar o
capital de giro da empresa. Entretanto, o Código de 1973 já havia sido reformado para consagrar, como bem
penhorável, à míngua de outros, percentual do faturamento de empresa devedora.
O CPC/2015 confere tratamento exaustivo à penhora de percentual do faturamento da empresa:
“Art. 835. A penhora observará, preferencialmente, a seguinte ordem: (...) X – percentual do faturamento de
empresa devedora;
Art. 866. Se o executado não tiver outros bens penhoráveis ou se, tendo-os, esses forem de difícil alienação
ou insuficientes para saldar o crédito executado, o juiz poderá ordenar a penhora de percentual de
faturamento de empresa.
§ 1º O juiz fixará percentual que propicie a satisfação do crédito exequendo em tempo razoável, mas que não
torne inviável o exercício da atividade empresarial.
§ 2º O juiz nomeará administrador-depositário, o qual submeterá à aprovação judicial a forma de sua atuação
e prestará contas mensalmente, entregando em juízo as quantias recebidas, com os respectivos balancetes
mensais, a fim de serem imputadas no pagamento da dívida.
§ 3º Na penhora de percentual de faturamento de empresa, observar-se-á, no que couber, o disposto quanto
ao regime de penhora de frutos e rendimentos de coisa móvel e imóvel”.
Observe-se que, nos termos da lei, a penhora do faturamento da empresa é excepcional e se submete aos seguintes
requisitos, reconhecidos pela jurisprudência do STJ: (i) inexistência de bens passíveis de garantir a execução ou que
sejam de difícil alienação (art. 866, caput, do CPC/2015); (ii) nomeação de administrador-depositário (art. 866, § 2º,
do CPC/2015); (iii) fixação de percentual que não inviabilize a atividade empresarial (art. 866, § 1º, do CPC/2015);
e (iv) que esse percentual seja capaz de satisfazer a dívida em tempo razoável (art. 866, § 1º, do CPC/2015). 134

É inequívoco que essa penhora deve ser antecedida de avaliação contábil para que o faturamento não prejudique a vida
societária, viabilizando-a, até para permitir o adimplemento do crédito exequendo. Dentre os critérios observáveis, há
de ponderar o juízo a eventual multiplicidade de penhoras sobre o mesmo faturamento.
Outrossim, nessa modalidade de penhora, deve ser nomeado administrador-depositário, com a atribuição de submeter
à aprovação judicial a forma de efetivação da constrição, bem como de prestar contas mensalmente, entregando ao
juízo as quantias recebidas, a fim de serem imputadas no pagamento da dívida.

3.9Substituição dos bens penhorados

A certeza de que os bens penhorados serão os sacrificados pela expropriação está na inalterabilidade da penhora. Uma
vez penhorados os bens, automaticamente circunscreve-se a eles a base dos atos de execução. É o que se denomina
“unicidade da penhora”. Entretanto, como toda regra comporta exceções, há fatos ensejadores de uma nova penhora,
com a nulificação da anterior ou o reforço daquela realizada precedentemente.
Assim é que somente se procede à segunda penhora, se a primeira for anulada; se executados os bens, o produto da
alienação não bastar para o pagamento do credor; ou se o exequente desistir da primeira penhora, por serem
litigiosos os bens, ou por estarem submetidos a constrição judicial (art. 851 do CPC/2015).
Nos casos de nulidade ou desistência, elimina-se a penhora, de sorte que outra se engendra, apagando por completo os
efeitos da anterior. A insuficiência da penhora pelo valor diminuto dos bens autoriza o seu reforço, do mesmo modo
que também é viável a redução da penhora a bens suficientes, em obediência ao princípio da economicidade. Por isso,
o art. 850 do CPC/2015 dispõe ser admitida a redução ou a ampliação da penhora, bem como sua transferência para
outros bens, se, no curso do processo, o valor de mercado dos bens penhorados sofrer alteração significativa.
A redução e a ampliação da penhora são espécies do gênero “modificações quantitativas da penhora”.  Outrossim,
135

a penhora também admite modificações qualitativas, que consistem em substituição dos bens penhorados por outros
ou por dinheiro. A transferência da afetação gerada pela penhora para outros bens exige vantagens para o credor e
redução de ônus para o devedor, o que ocorre quando os bens substitutos são menos onerados do que os anteriores, ou
revelam maior liquidez na alienação judicial. No que concerne à substituição por dinheiro, em razão de esta
modalidade suprimir a necessidade da etapa da expropriação agilizando a tutela executiva,  revela-se possível a todo
tempo, antes da adjudicação e da alienação (art. 835, §§ 1º e 2º, do CPC/2015).
À luz desses lineamentos, o CPC/2015 dispôs:
“Art. 848. As partes poderão requerer a substituição da penhora se:
I – ela não obedecer à ordem legal;
II – ela não incidir sobre os bens designados em lei, contrato ou ato judicial para o pagamento; III – havendo
bens no foro da execução, outros tiverem sido penhorados;
IV – havendo bens livres, ela tiver recaído sobre bens já penhorados ou objeto de gravame;
V – ela incidir sobre bens de baixa liquidez;
VI – fracassar a tentativa de alienação judicial do bem; ou VII – o executado não indicar o valor dos bens ou
omitir qualquer das indicações previstas em lei. Parágrafo único. A penhora pode ser substituída por fiança
bancária ou por seguro garantia judicial, em valor não inferior ao do débito constante da inicial, acrescido de
trinta por cento.”
A nova redação utiliza-se da expressão “partes” na medida em que tanto o exequente quanto o executado podem
requerer a substituição dos bens penhorados. Desobedecida a ordem legal e requerida a substituição da penhora pelo
exequente, devolve-se a este a eleição dos bens que serão sacrificados, sem que tenha de obedecer à gradação legal,
porquanto não é obrigado a saber da composição do patrimônio do devedor.
No que concerne ao executado, o seu requerimento de substituição do bem penhorado deve ser apresentado no prazo
de 10 (dez) dias contado da intimação da penhora, comprovando que lhe será menos onerosa e não trará prejuízo ao
exequente. O juiz somente autorizará a substituição se preenchidos os requisitos previstos no art. 847, § 1º, do
CPC/2015, devendo o executado:
“I – comprovar as respectivas matrículas e os registros por certidão do correspondente ofício, quanto aos
bens imóveis;
II – descrever os bens móveis, com todas as suas propriedades e características, bem como o estado deles e o
lugar onde se encontram;
III – descrever os semoventes, com indicação de espécie, de número, de marca ou sinal e do local onde se
encontram;
IV – identificar os créditos, indicando quem seja o devedor, qual a origem da dívida, o título que a representa
e a data do vencimento; e V – atribuir, em qualquer caso, valor aos bens indicados à penhora, além de
especificar os ônus e os encargos a que estejam sujeitos”.
O art. 847, § 2º, do CPC/2015 traz ainda outros ônus ao executado requerente da substituição, que deve indicar onde se
encontram os bens sujeitos à execução, exibir a prova de sua propriedade e a certidão negativa ou positiva de ônus,
bem como abster-se de qualquer atitude que dificulte ou embarace a realização da penhora.
Forçoso convir que, preenchidos esses requisitos, a regra é a possibilidade da substituição, porquanto o processo deve
servir a um escopo que tutele a dignidade da pessoa humana, inservível, portanto, a obstinações ilegítimas, quer por
parte do exequente, quer por parte do executado.
O inciso III do art. 848 do CPC/2015, ao permitir a substituição da penhora quando, havendo bens no foro da
execução, outros tiverem sido penhorados, evita a execução por carta, à medida que, situados os bens no foro da
execução, não se justifica onerar o credor com a penhora alhures, além dos incidentes referentes aos embargos nessa
modalidade de execução (art. 914, § 2º, do CPC/2015). 136

O inciso IV, atento às preferências de direito material dos bens gravados e das dificuldades da penhora sobre penhora,
com a disputa calcada no princípio prior tempore potior iure, autoriza a substituição por bens sem gravame e sem
penhora antecedente, caso o devedor os tenha, muito embora o valor do bem possa suportar esses ônus anteriores. O
inciso V inaugura a hipótese de o bem apresentar baixa liquidez, cuja prova compete ao exequente à luz do panorama
econômico do mercado a que pertence. O inciso VI estabelece que, frustrada a alienação judicial do bem, é lícito ao
credor substituir o bem constrito no afã de tentar outro de maior liquidez. Entretanto, atendendo ao princípio de que a
execução é levada a efeito para satisfazer o credor, nada obsta que este, após o fracasso da alienação, prefira adjudicar
a coisa. O inciso VII pune o executado que, ao exercer a faculdade da substituição não especifica os dados necessários
à percepção do juízo de que a sua pretensão é de boa-fé, nos termos do art. 847 do CPC/2015.
Outrossim, a lei ainda especifica que a penhora pode ser substituída por fiança bancária ou seguro garantia judicial, em
valor não inferior ao do débito constante da inicial, mais trinta por cento (art. 848, parágrafo único, do CPC/2015).
Ademais, a substituição por bem imóvel, caso o requeira o executado, deverá ser feita com a expressa anuência do
cônjuge, salvo se o regime for o de separação absoluta de bens (art. 847, § 3º, do CPC/2015).
A substituição, qualquer que seja a sua forma, passa por diminuto contraditório, solucionado por decisão interlocutória
agravável. 137

Por fim, merece destacar a regra do art. 774, V, do CPC/2015, qual seja, a consideração de atentado à dignidade da
justiça, o que acarreta os consectários e as interdições processuais previstas, se o executado, intimado no prazo fixado
pelo juiz não indicar onde se encontram os bens sujeitos à execução, exibir a prova de sua propriedade e, se for o caso,
certidão negativa de ônus, bem como abster-se de qualquer atitude que dificulte ou embarace a realização da penhora
(art. 774, III, do CPC/2015).
Superadas as divergências após ouvida em três dias a parte contrária, se os bens inicialmente penhorados forem
substituídos por outros, lavrar-se-á o respectivo termo (art. 849 do CPC/2015).

3.10Procedimento da penhora

A natureza do bem influi no procedimento na realização da penhora. Assim, a penhora se torna perfeita e acabada
pela apreensão e depósito do bem (art. 839 do CPC/2015),  sendo formalizada pela lavratura de um termo nos autos
138
(art. 838 do CPC/2015).  A lei, contudo, traz algumas nuances a essa regra. Por exemplo, a penhora de
139

crédito aperfeiçoa-se, enquanto o título não for apreendido, com a intimação: (i) do executado, credor do terceiro, para
que não pratique ato de disposição do crédito e coloque a importância à disposição do juízo da execução; ou  (ii) do
terceiro devedor para que não pague ao executado, seu credor (art. 855 do CPC/2015).
No rito da execução de título extrajudicial, o aperfeiçoamento da penhora ocorrerá com a citação do executado e
transcurso do prazo para pagamento voluntário, retroagindo à data do arresto executivo (art. 830, § 2º, do CPC/2015).
De forma semelhante, ocorrendo indisponibilidade eletrônica do dinheiro em depósito ou aplicação financeira, a
penhora ocorre com a manifestação do executado sobre o ato ou a sua rejeição, mas os seus efeitos retroagem à data da
indisponibilidade (art. 854, § 5º, do CPC/2015). Num e noutro caso, a lavratura de termo é dispensada.
Observemos, pois, o “procedimento da penhora”.
Em primeiro lugar, cumpre estabelecer, ao ângulo da iniciativa, que a penhora pode efetivar-se por indicação do
exequente ou do executado, bem como por ato do oficial de justiça. É que compete ao exequente indicar os bens
suscetíveis de penhora, sempre que possível (arts. 524, VII, e 798, II, c, do CPC/2015). Consoante preceitua o art. 829,
§ 2º, do CPC/2015, a penhora recairá sobre os bens indicados pelo exequente, salvo se outros forem indicados pelo
executado e aceitos pelo juiz, mediante demonstração de que a constrição proposta lhe será menos onerosa e não trará
prejuízo ao exequente. Aplicam-se, aqui, as regras referentes à substituição do bem penhorado, de modo que o juiz
somente deve aceitar os bens indicados pelo executado se este indicar onde se encontram os bens sujeitos à execução,
exibir a prova de sua propriedade e a certidão negativa ou positiva de ônus, bem como abster-se de qualquer atitude
que dificulte ou embarace a realização da penhora (art. 847, § 2º, do CPC/2015). Nesse caso, o juiz intimará o
exequente para manifestar-se sobre o requerimento de substituição do bem penhorado (art. 847, § 4º, do CPC/2015). O
executado que indicar bens à penhora deverá, ainda, atribuir-lhes valor (art. 847, § 1º, V, do CPC/2015), haja vista  que
o credor pode concordar com o valor atribuído, evitando a etapa de avaliação (art. 871, I, do CPC/2015). A penhora
realizada por indicação de bens pelo executado e aceita pelo exequente e pelo juízo se formaliza mediante termo nos
autos (art. 849 do CPC/2015).
A “nomeação por coerção”, isto é, por “indicação do exequente”, opera-se também quando o exequente requer a
substituição da penhora (art. 848 do CPC/2015), nas hipóteses já analisadas em capítulo próprio.
Finalmente, no rito da execução de título extrajudicial, não sendo encontrado o executado, o oficial de justiça é que
procederá ao arresto de seus bens para posterior conversão em penhora (art. 830 do CPC/2015). Na eventualidade de
não serem encontrados os bens capazes de satisfazer a execução, o juiz deverá intimar o executado para indicar quais
são e onde estão os bens sujeitos à penhora e os respectivos valores, exibir prova de sua propriedade e, se for o caso,
certidão negativa de ônus. Caso o executado não cumpra com essa determinação, incorrerá nas penalidades pela
prática de ato atentatório à dignidade da justiça (art. 774, V, do CPC/2015).
Após o aperfeiçoamento da penhora, esta deve ser formalizada mediante a lavratura de auto ou termo, quando a lei não
dispensar esse ato. Ato contínuo, deverá ser intimado o executado, por meio de seu advogado ou da sociedade de
advogados a que pertença. Obviamente, se a penhora foi realizada na presença do executado, este se considera
intimado desde logo. Não havendo advogado constituído nos autos, o executado será intimado pessoalmente, de
preferência por via postal. Se o executado houver mudado de endereço sem prévia comunicação ao juízo, a intimação
considerar-se-á realizada pelo envio da correspondência ao endereço constante dos autos, ainda que não recebidas
pessoalmente pelo interessado (art. 841, caput e §§, do CPC/2015). Relembre-se que o cônjuge do executado também
deve ser intimado se a penhora recair sobre bem imóvel ou direito real sobre imóvel, salvo se forem casados em
regime de separação absoluta de bens (art. 842 do CPC/2015). Afinal, o cônjuge pode evitar a expropriação pelo
pagamento da dívida, pode manifestar preferência na arrematação (art. 843, § 1º, do CPC/2015), pode requerer a
adjudicação do bem penhorado (art. 876, § 5º, do CPC/2015) etc. A penhora de imóvel em face da potencial alienação
ulterior apresenta essa vicissitude de impor a intimação do cônjuge, sob pena de ineficácia dos atos executivos em
relação ao consorte. Contudo, o comparecimento espontâneo ou a ciência inequívoca do cônjuge antes do ato
expropriatório legitima a alienação, por força da regra de que não há nulidade sem prejuízo.
O oficial, ao proceder à penhora, deve fazê-lo em horário e local autorizados por lei. No que pertine à hora, a penhora
segue regra especial prevista no art. 212, § 2º, do CPC/2015, podendo ser realizada no período de férias forenses, onde
as houver, nos feriados e nos dias úteis fora do horário geralmente estabelecido para a prática de atos processuais, qual
seja, das 6 (seis) às 20 (vinte) horas – desde que ocorra durante o dia.  Quanto ao local, na forma do art. 845 do
140

CPC/2015, deve a penhora ser realizada onde quer que se encontrem os bens de propriedade do executado, ainda que
sob a posse, detenção ou guarda de terceiros.
Ainda no que diz respeito ao lugar de realização da penhora, o art. 845, § 1º, do CPC/2015 traz regra de extrema
praticidade e que elimina a expedição da precatória ao dispor que, apresentada certidão da respectiva matrícula,
a penhora de imóveis, independentemente de onde se localizem, é realizada por termos nos autos. Nessas situações,
cabe ao exequente providenciar a averbação da penhora no registro competente, mediante apresentação de cópia do
auto ou do termo, independentemente de mandado judicial, para presunção absoluta de conhecimento por terceiros
(art. 844 do CPC/2015). Igualmente, realiza-se por termo nos autos a penhora de veículos automotores, quando
apresentada certidão que ateste a sua existência. O art. 837 do CPC/2015 permite que as averbações de penhoras de
bens imóveis e móveis sejam realizadas por meio eletrônico, obedecidas as normas de segurança instituídas sob
critérios uniformes pelo Conselho Nacional de Justiça. Por exemplo, o sistema de Restrições Judiciais de Veículos
Automotores (Renajud) permite a realização de constrições judiciais de veículos cadastrados no Registro Nacional de
Veículos Automotores (Renavam) eletronicamente.
Nos demais casos, se o executado não tiver bens no foro do processo, a execução será feita  por carta, penhorando-se,
avaliando-se e alienando-se os bens no foro da situação (art. 845, § 2º, do CPC/2015). Mesmo que realizada a penhora
de imóvel ou veículo automotor por termo nos autos, a avaliação e a expropriação devem ocorrer por carta precatória.
Ao proceder à realização da penhora, o oficial de justiça pode encontrar resistência do devedor na apreensão dos bens,
caso em que se aplica a sistemática do art. 846 do CPC/2015. Nessa hipótese, se o devedor fechar as portas da casa, a
fim de obstar a penhora dos bens, o oficial de justiça deve comunicar o fato ao juiz, solicitando-lhe ordem de
arrombamento. Deferido o pedido, dois oficiais de justiça devem cumprir o mandado, arrombando cômodos e móveis
em que se presuma estarem os bens, e lavrarão de tudo auto circunstanciado, que será assinado por 2 (duas)
testemunhas presentes à diligência. O juiz, sempre que necessário, pode requisitar força policial a fim de auxiliar os
oficiais de justiça na penhora dos bens e na prisão de quem resistir à ordem. Os oficiais de justiça lavrarão, em
duplicata, o auto da ocorrência, entregando uma via ao escrivão do processo para ser juntada aos autos e, a outra, à
autoridade policial a quem couber a apuração criminal dos eventuais delitos de desobediência ou de resistência. O auto
da ocorrência deve conter o rol de testemunhas, com a sua qualificação.
O Código de 2015 estabelece procedimentos especiais, a depender da natureza do bem penhorado. Quanto à penhora
de dinheiro em depósito ou em aplicação financeira, remete-se o leitor aos comentários realizados em capítulo próprio
sobre o art. 854 do CPC/2015.
No que diz respeito à penhora de créditos, que são bens incorpóreos, a lei determina a apreensão do título que os
representa. Enquanto isso não ocorre, já se disse que a penhora considerar-se-á feita a penhora pela mera intimação ao
terceiro devedor para que não pague ao executado, seu credor, ou ao executado, credor do terceiro, para que não
pratique ato de disposição do crédito (art. 855 do CPC/2015).
A penhora de crédito, representado por letra de câmbio, nota promissória, duplicata, cheque ou outros títulos se faz
pela apreensão do documento, esteja ou não em poder do devedor. Se o título não for apreendido, mas o terceiro
confessar a dívida, assume a condição de depositário da importância e se exonera da obrigação, depositando em juízo a
importância da dívida. Se o terceiro negar o débito em conluio com o devedor, a quitação que este lhe der considera-se
em fraude de execução. Neste caso, a requerimento do exequente, o juiz pode determinar o comparecimento, em
audiência especialmente designada, do devedor e do terceiro, a fim de tomar-lhes os depoimentos (art. 856,  caput e §§,
do CPC/2015).
Tratando-se de penhora de direito e ação do executado, e não tendo ele oferecido embargos ou sendo estes rejeitados,
o exequente ficará sub-rogado nos direitos do executado até a concorrência de seu crédito (art. 857 do CPC/2015). O
exequente pode preferir, em vez da sub-rogação, a alienação judicial do direito penhorado, caso em que deve declarar
a sua vontade no prazo de 10 (dez) dias, contados da realização da penhora. A sub-rogação não impede ao sub-rogado,
se não receber o crédito do devedor, de prosseguir na execução, nos mesmos autos, penhorando outros bens. Na
penhora de direito e ação, isto é, de obrigações vencidas a favor do executado, o exequente é o sub-rogado. Ele exerce
a ação correspondente ao direito penhorado de natureza real ou pessoal, como substituto processual do devedor.
Quando a penhora recair sobre dívidas de dinheiro a juros, de direito a rendas ou de prestações periódicas, o exequente
poderá levantar os juros, os rendimentos ou as prestações à medida que forem sendo depositados, abatendo-se do
crédito as importâncias recebidas, conforme as regras de imputação do pagamento (art. 858 do CPC/2015).
A penhora aqui se efetiva mediante a ordem de depósito judicial das importâncias devidas ao executado a título de
juros, rendas ou prestações periódicas. Enfim, é penhora de crédito futuro não documentado em título de crédito.
Recaindo a penhora sobre direito a prestação ou a restituição de coisa determinada, o executado será intimado para, no
vencimento, depositá-la, correndo sobre ela a execução (art. 859 do CPC/2015). A penhora, neste caso, é
instrumentalizada em ordem judicial para pagar em juízo. Ressalte-se que, se o exequente, para exigir o crédito, tiver
que adimplir algo em favor de terceiro, esta parcela acrescerá ao seu “crédito originário”.
O CPC/2015 não mais utiliza a expressão “penhora no rosto dos autos”, mas não há problemas em empregá-la para
referir-se à penhora de direito que estiver sendo pleiteado em juízo. Nesse caso, a penhora que recair sobre o direito
será averbada, com destaque, nos autos pertinentes ao direito e na ação correspondente à penhora, a fim de que esta
seja efetivada nos bens que forem adjudicados ou que vierem a caber ao executado (art. 860 do CPC/2015). A
diferença entre esta penhora e a de direito e ação é que, no presente caso, o direito já se encontra sob o crivo judicial,
porquanto proposta a ação correspondente. A penhora no rosto dos autos se consubstancia num ofício ao juízo onde
tramita a ação e um termo nos autos da execução. A práxis revela quanto a essa modalidade da constância da penhora
sobre bens sujeitos a inventário e partilha, podendo haver tanto adjudicação do que couber ao herdeiro quanto
alienação do quinhão para pagamento ao credor.  A jurisprudência do STJ considera possível, inclusive, que um juízo
141

determine a penhora no rosto dos autos de processo em curso perante Justiça distinta.  Também é possível ao juízo da
142

execução fiscal determinar a penhora no rosto dos autos da falência para a satisfação do fisco, pois o crédito inscrito
em dívida ativa não se submete à habilitação em falência (art. 29 da Lei de Execução Fiscal). 143

Sobre a penhora de quotas e ações, remete-se o leitor a tudo o quanto exposto em capítulo anterior sobre o art. 861 do
CPC/2015.
A penhora em estabelecimento comercial, industrial ou agrícola, bem como em semoventes, plantações ou edifícios
em construção reclama que o juiz nomeie administrador-depositário, determinando-lhe que apresente em dez (10) dias
a forma de administração, ouvindo as partes antes de decidir (art. 862 do CPC/2015). Nesse caso, é lícito, porém, às
partes, ajustar a forma de administração, escolhendo o depositário, sujeitando a deliberação à homologação judicial,
em decisão que se sujeita a agravo de instrumento (art. 1.015, parágrafo único, do CPC/2015). Essa modalidade de
penhora tem o condão de arregimentar fundos sem que haja expropriação do bem, viabilizando um pagamento pro
solvendo. O administrador por seu turno deve elaborar um plano no qual, sem sacrificar o giro da empresa, separe
capital necessário ao pagamento do crédito exequendo, possibilitando aquele e a continuação dos negócios. Por isso
mesmo, esse tipo de penhora é excepcional e somente será determinada se não houver outro meio eficaz para a
efetivação do crédito (art. 865 do CPC/2015).
O legislador disciplinou, ainda, os casos em que a penhora recai sobre edifícios em construção sob regime de
incorporação imobiliária, caso em que somente poderá recair sobre as unidades imobiliárias ainda não comercializadas
pelo incorporador, como forma de proteção dos adquirentes das unidades previamente negociadas. Sendo necessário
afastar o incorporador da administração da incorporação, será ela exercida pela comissão de representantes dos
adquirentes ou, se se tratar de construção financiada, por empresa ou profissional indicado pela instituição fornecedora
dos recursos para a obra, devendo ser ouvida, neste último caso, a comissão de representantes dos adquirentes (art.
862, §§ 3º e 4º, do CPC/2015). Nota-se intensa preocupação do Código com os consumidores que podem ser
prejudicados caso a construção não seja ultimada em razão de dívidas do incorporador, cumprindo relembrar que são
impenhoráveis os créditos oriundos de alienação de unidades imobiliárias, sob regime de incorporação imobiliária,
vinculados à execução da obra (art. 833, XII, do CPC/2015).
A penhora de empresa que funcione mediante concessão ou autorização far-se-á, conforme o valor do crédito, sobre a
renda, sobre determinados bens ou sobre todo o patrimônio, e o juiz nomeará como depositário, de preferência, um de
seus diretores (art. 863 do CPC/2015). Recaindo a penhora sobre a renda ou sobre determinados bens, o depositário
deve apresentar a forma de administração e o esquema de pagamento, seguindo-se o regime de penhora de frutos e
rendimentos de coisa móvel e imóvel. Incidindo, porém, sobre todo o patrimônio, prossegue a execução com seus
ulteriores termos, ouvindo-se, antes da arrematação ou da adjudicação, o poder público que houver outorgado a
concessão. Relembre-se que os bens das concessionárias privadas de serviço público, não integrantes da
Administração Pública indireta, são, em regra, penhoráveis, consoante a jurisprudência do Superior Tribunal de
Justiça. Nada obstante, a penhora desses bens deve seguir as cautelas previstas no art. 863 do CPC/2015, a fim de
proteger ao máximo a continuidade do serviço público. Excepcionalmente, os bens das concessionárias ou
autorizatárias são impenhoráveis, quando a constrição puder gerar prejuízo à continuidade do serviço público. 144

A penhora de navio ou de aeronave não obsta que continuem navegando ou operando até a alienação, mas o juiz, ao
conceder a autorização para tanto, não permitirá que saiam do porto ou do aeroporto antes que o executado faça o
seguro usual contra riscos (art. 864 do CPC/2015).
O rito da penhora sobre o faturamento de empresa já foi analisado em minúcias no capítulo próprio.
A lei não cuida, muito embora na prática o fato possa ocorrer, da penhora de bens de uso pessoal do devedor, v.g., um
computador valiosíssimo. A doutrina nacional e a alienígena admitem, com restrições, essa espécie de penhora,
procedida mediante autorização judicial, desde que realizada à luz do princípio da economicidade. Vale recordar que a
impenhorabilidade do bem de família abrange todos os equipamentos, inclusive os de uso profissional, ou móveis que
guarnecem a casa, desde que quitados (art. 1º, parágrafo único, da Lei nº 8.009/1990), mas excluem-se da
impenhorabilidade os veículos de transporte, obras de arte e adornos suntuosos (art. 2º, caput, da Lei nº 8.009/1990).
Assim, a jurisprudência do STJ já reconheceu que “são impenhoráveis aparelho de som, televisão, forno micro-ondas,
computador, impressora e “bar em mogno com revestimento em vidro”, bens que usualmente são encontrados em uma
residência e que não possuem natureza suntuosa”. 145

O juiz pode ordenar a penhora de frutos e rendimentos de coisa móvel ou imóvel quando a considerar mais eficiente
para o recebimento do crédito e menos gravosa ao executado (art. 867 do CPC/2015). Ordenada a penhora de frutos e
rendimentos, o juiz nomeará administrador-depositário, que será investido de todos os poderes que concernem à
administração do bem e à fruição de seus frutos e utilidades, perdendo o executado o direito de gozo do bem, até que o
exequente seja pago do principal, dos juros, das custas e dos honorários advocatícios (art. 868 do CPC/2015). A
medida terá eficácia em relação a terceiros a partir da publicação da decisão que a conceda, tratando-se de bem móvel,
ou de sua averbação no ofício imobiliário, em caso de imóveis. É do exequente o ônus de providenciar a averbação no
ofício imobiliário mediante a apresentação de certidão de inteiro teor do ato, independentemente de mandado judicial.
Nessa modalidade de penhora, o juiz poderá nomear administrador-depositário o exequente ou o executado, ouvida a
parte contrária, e, não havendo acordo, nomeará profissional qualificado para o desempenho da função (art. 869 do
CPC/2015). O administrador submeterá à aprovação judicial a forma de administração e a de prestar contas
periodicamente. Havendo discordância entre as partes ou entre essas e o administrador, o juiz decidirá a melhor forma
de administração do bem. Se o imóvel estiver arrendado, o inquilino pagará o aluguel diretamente ao exequente, salvo
se houver administrador. O exequente ou o administrador poderá celebrar locação do móvel ou do imóvel, ouvido o
executado. As quantias recebidas pelo administrador serão entregues ao exequente, a fim de serem imputadas ao
pagamento da dívida. Satisfeita a dívida, o exequente dará ao executado, por termo nos autos, quitação das quantias
recebidas.

3.10.1Execução por carta

Os bens que se situam fora da sede da execução são “penhorados por carta”, por força do art. 845, § 2º, do CPC/2015.
É a denominada execução por carta, que se opera quando os atos mais importantes do processo devem ser praticados
alhures. Assim é que a carta que se expede tem três finalidades, a saber: penhora, avaliação e alienação. Havendo
execução por carta, a competência para conhecer dos embargos à execução é dividida funcionalmente entre o juízo
deprecante e o juízo deprecado. Tratando-se de embargos que versem unicamente sobre vícios ou defeitos da penhora,
da avaliação ou da alienação dos bens efetuadas no juízo deprecado, este terá competência para julgá-los. Em todos os
demais casos, é o juízo deprecante que julgará os embargos (art. 914, § 2º, do CPC/2015). A contagem do prazo para
os embargos na execução por carta também segue sistemática especial, iniciando-se: (i) da juntada, na carta, da
certificação da citação, quando versarem unicamente sobre vícios ou defeitos da penhora, da avaliação ou da
alienação dos bens, pois nesse caso a competência para julgar os embargos é do juízo deprecado; (ii) da juntada, nos
autos de origem, do comunicado de realização da citação pelo juiz deprecado ao juiz deprecante  ou, não havendo
este, da juntada da carta devidamente cumprida, quando for da competência do juízo deprecante o julgamento dos
embargos (art. 915, § 2º, do CPC/2015).

3.10.2Depósito dos bens penhorados

Tema de relevo é o que pertine ao “destino dos bens penhorados”.


Em princípio, os bens penhorados destinam-se à futura expropriação; por isso, devem ficar custodiados até o advento
desta etapa. Isto implica que algum protagonista do processo assuma o depósito do bem penhorado e sua
correspondente função conservativa.  O art. 840 do CPC/2015 determina a forma preferencial de depósito para cada
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tipo de bem, verbis:
“Art. 840. Serão preferencialmente depositados:
I – as quantias em dinheiro, os papéis de crédito e as pedras e os metais preciosos, no Banco do Brasil, na
Caixa Econômica Federal ou em banco do qual o Estado ou o Distrito Federal possua mais da metade do
capital social integralizado, ou, na falta desses estabelecimentos, em qualquer instituição de crédito
designada pelo juiz;
II – os móveis, os semoventes, os imóveis urbanos e os direitos aquisitivos sobre imóveis urbanos, em poder
do depositário judicial;
III – os imóveis rurais, os direitos aquisitivos sobre imóveis rurais, as máquinas, os utensílios e os
instrumentos necessários ou úteis à atividade agrícola, mediante caução idônea, em poder do executado.
§ 1º No caso do inciso II do caput, se não houver depositário judicial, os bens ficarão em poder do
exequente.
§ 2º Os bens poderão ser depositados em poder do executado nos casos de difícil remoção ou quando anuir o
exequente.
§ 3º As joias, as pedras e os objetos preciosos deverão ser depositados com registro do valor estimado de
resgate”.
Alguns incidentes podem ocorrer que recomendem a imediata alienação dos bens, v.g., o risco de perecimento, como
os gêneros alimentícios em geral, os materiais de construção sujeitos à ação dos fenômenos meteorológicos etc. A
“alienação antecipada” pressupõe ser mais vantajosa, para evitar a depreciação ou a deterioração dos bens, devendo
ouvir-se, sempre, a parte contrária (arts. 852 e 853 do CPC/2015). Inocorrendo a hipótese de alienação antecipada, o
bem deve ser custodiado pelo depositário indicado no “auto de penhora” (art. 838 e seu inciso IV do CPC/2015).
Em regra, a nomeação de depositário recai no próprio executado, salvo se o credor não concordar e o juiz assim o
decidir. Isso porque é pacífico em doutrina que o juiz, no exercício de seu poder de polícia judicial e informado pelos
princípios do processo executivo, pode decidir de forma diversa da pretendida pelo credor, legando ao executado o
depósito dos bens, ainda que com isso não concorde a outra parte. Havendo divergência não resolvida pelo juiz, a lei o
faz. Nessa hipótese, a lei elege o depositário conforme a natureza do bem, consoante o art. 840 do CPC/2015, acima
transcrito. Assim é que são depositados: no Banco do Brasil, na Caixa Econômica Federal ou em banco do qual o
Estado ou o Distrito Federal possua mais da metade do capital social integralizado, ou, na falta desses
estabelecimentos, em qualquer instituição de crédito designada pelo juiz, as quantias em dinheiro, as pedras e
os metais preciosos, bem como os papéis de crédito. Ficam em poder do “depositário judicial” os móveis, os
semoventes, os imóveis urbanos e os direitos aquisitivos sobre imóveis urbanos.
Resolvendo problemas indicados pela práxis, admitiu-se, com expressa anuência do exequente ou nos casos de difícil
remoção, que os bens poderão ser depositados em poder do executado.
Acrescentou-se, quanto às joias, pedras e objetos preciosos depositados, o registro do valor estimado de resgate para
fins de avaliação dos bens penhorados.
O Supremo Tribunal Federal decidiu que a prisão do depositário infiel, prevista no CPC de 1973, era incompatível
com o Pacto de São José da Costa Rica, que tem caráter supralegal. A Corte, então, editou a Súmula Vinculante nº
25, verbis: “É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a modalidade de depósito”. Entretanto, ainda
é possível a condenação do depositário infiel pelo crime de apropriação indébita (art. 168, § 1º, II, do Código Penal),
além da sua responsabilização civil e processual (art. 161, parágrafo único, do CPC/2015).
Ressalte-se que a necessidade de exploração econômica do bem penhorado transmuda o depositário
em administrador com os deveres de ambos os encargos exercidos. Assim é que a instituição financeira que recebe
valores em depósito judicial responde pela atualização monetária do capital e demais consectários.
A função do depositário cessa com a entrega do bem ao adquirente judicial – adjudicatário ou arrematante – ou
extrajudicial – adquirido por alienação particular. Enquanto não advém esta oportunidade, o administrador exerce atos
de defesa da jurisdição, podendo reclamar a coisa de quem quer que a moleste, por simples petição nos autos, posto
que exercente de parcela da soberania estatal, delegada pelo Estado.
Uma vez realizada a penhora pela apreensão e depósito, abre-se ensejo à segunda etapa do processo satisfativo, que
é a expropriação dos bens penhorados.

3.10.3A unicidade da penhora

A certeza de que estes serão os bens sacrificados está na inalterabilidade da penhora. Uma vez penhorados os bens,
automaticamente circunscreve-se a eles a base dos atos de execução. É o que se denomina “unicidade da penhora”,
revelada pela regra do art. 851 do CPC/2015, que dispõe:
“Art. 851. Não se procede à segunda penhora, salvo se:
I – a primeira for anulada;
II – executados os bens, o produto da alienação não bastar para o pagamento do exequente;
III – o exequente desistir da primeira penhora, por serem litigiosos os bens ou por estarem submetidos a
constrição judicial”.
Entretanto, como se nota, a regra da unicidade comporta exceções, pois há fatos ensejadores de uma nova penhora,
com a nulificação da anterior ou o reforço daquela realizada precedentemente, bem como os casos de substituição
vistos anteriormente, ressaltando-se também a possibilidade de remição da execução, conforme o atual art. 826 do
CPC/2015. 147

No primeiro caso, de nulidade, bem como na desistência, elimina-se a penhora, de sorte que outra se
engendra, apagando por completo os efeitos da anterior, inclusive para fins de precedência na ordem de pagamento do
concurso especial de credores. A insuficiência da penhora pelo valor diminuto dos bens implica o seu reforço,
mantendo-se os efeitos daquela antes realizada (art. 874, II, do CPC/2015) . Advirta-se que do mesmo modo que é
148

possível o reforço, também é viável a redução da penhora a bens suficientes (arts. 850 e 874, I, do CPC/2015), em
obediência ao princípio da economicidade antes referido (art. 805, parágrafo único, do CPC/2015). A ampliação e a
redução da penhora dependem de avaliação do bem, de requerimento do interessado e do contraditório, com a prévia
oitiva da parte ex adverso.
A redução e a ampliação da penhora são espécies do gênero modificações quantitativas da penhora. Outrossim, a
penhora também admite modificações qualitativas, que, como já estudado, consistem em substituição dos bens
penhorados por outros ou por dinheiro. A transferência da afetação gerada pela penhora para outros bens exige
vantagens para o credor e redução de ônus para o devedor, o que ocorre quando os bens substitutos são menos
onerados do que os anteriores, ou revelam maior liquidez na alienação judicial. No que concerne à substituição por
dinheiro, em razão de esta modalidade suprimir a necessidade da etapa da expropriação agilizando a tutela executiva,
revela-se possível a todo tempo. Por isso, o art. 835, § 1º, do CPC/2015 dispõe ser prioritária a penhora em dinheiro,
não podendo nesse caso o juiz substituí-la por outro bem. Para fins de substituição da penhora, equiparam-se a
dinheiro a fiança bancária e o seguro garantia judicial, desde que em valor não inferior ao do débito constante da
inicial, acrescido de trinta por cento (art. 835, § 2º, do CPC/2015).  Parece-nos que a substituição da penhora em
149

dinheiro por fiança ou seguro garantia somente é possível se o executado comprovar todos os requisitos do art. 847 do
CPC/2015, inclusive a ausência de prejuízo para o exequente.
Ressalte-se que a substituição do bem penhorado por dinheiro não se assemelha à remição da execução, que é o
pagamento do crédito exequendo (art. 826 do CPC/2015). Quem “deposita ainda não paga”. A remição de execução
como pagamento voluntário e extintivo do processo pela satisfação total da dívida também se distingue da remição
dos bens penhorados, que consiste na prerrogativa do executado de manter a propriedade do bem penhorado
caso: (i) tratando-se de adjudicação, ofereça preço igual ao da avaliação, se não tiver havido licitantes, ou ao do maior
lance oferecido, até a assinatura do auto de adjudicação (art. 877, § 3º, do CPC/2015); ou (ii) tratando-se de leilão,
ofereça preço igual ao do maior lance oferecido, até a assinatura do auto de arrematação (art. 902 do CPC/2015).
Figura distinta das anteriores é a remissão da dívida, ou seja, o perdão conferido pelo credor e aceito pelo devedor,
extinguindo a obrigação, desde que não haja prejuízo a terceiro (arts. 385 e seguintes do CC).
Relativamente à remição dos bens penhorados, restaram revogados pelo CPC/2015 os arts. 1.482 e 1.484 do CC, que
estabeleciam, verbis:
“Art. 1.482. Realizada a praça, o executado poderá, até a assinatura do auto de arrematação ou até que seja
publicada a sentença de adjudicação, remir o imóvel hipotecado, oferecendo preço igual ao da avaliação, se
não tiver havido licitantes, ou ao do maior lance oferecido. Igual direito caberá ao cônjuge, aos descendentes
ou ascendentes do executado.”
“Art. 1.483. No caso de falência, ou insolvência, do devedor hipotecário, o direito de remição defere-se à
massa, ou aos credores em concurso, não podendo o credor recusar o preço da avaliação do imóvel.
Parágrafo único. Pode o credor hipotecário, para pagamento de seu crédito, requerer a adjudicação do imóvel
avaliado em quantia inferior àquele, desde que dê quitação pela sua totalidade.”
A modificação da penhora também reclama a intimação do executado, na forma do art. 841 do CPC/2015, a fim de
que, querendo, possa impugnar o ato por simples petição, no prazo de 15 (quinze) dias, contado da ciência do ato (arts.
525, § 11, e 917, § 1º, do CPC/2015).
Não se deve perder de vista que a penhora deverá recair sobre tantos bens quantos bastem para o pagamento do
principal atualizado, dos juros, das custas e dos honorários advocatícios (art. 831 do CPC/2015). Desse modo, a
penhora deve ser suficiente, nem aquém, nem além do necessário para satisfazer a dívida e seus consectários legais,
sob pena de se fazer mister a sua modificação.

3.11Avaliação dos bens penhorados

A alienação dos bens tem a finalidade de satisfazer o crédito exequendo. Em consequência, sobressai imperioso aferir-
se o valor dos bens que serão sacrificados para que não se onere o devedor. Destarte, o Código é repleto de princípios
que recomendam que a atividade executiva deva fazer-se nos limites da necessidade, em bens suficientes, por preço
adequado, viabilizando a participação de múltiplos concorrentes e preservando o patrimônio do devedor de alienações
desastrosas. Tudo isso justifica, como ato preparatório da expropriação, a “avaliação dos bens penhorados”. Avaliar é
estabelecer o valor pelo qual os bens serão alienados forçadamente. Por isso, a atividade engendra-se entre a penhora e
a arrematação propriamente dita.
A avaliação apresenta como principal consequência jurídica, além de sua função de tornar a execução proporcional às
suas necessidades, a de fixar os limites para a alienação judicial do bem. Noutras palavras, a avaliação permite aferir a
necessidade da extensão da alienação dos bens para auferir fundos necessários ao pagamento do credor, à luz do
princípio da economicidade.
Nesse primeiro efeito, a avaliação tem o condão de impedir que o bem seja alienado por preço vil. É, sem dúvida, uma
garantia para o devedor, porquanto, do contrário, manobras ardilosas poderiam despojar o executado de seus bens por
qualquer preço, suficiente apenas para pagar parcela do débito. Nesse sentido, o art. 891 do CPC/2015 estabelece que
não será aceito lance que ofereça preço vil, considerando-se este como o preço inferior ao mínimo estipulado pelo juiz
e constante do edital, e, não tendo sido fixado preço mínimo, considera-se vil o preço inferior a cinquenta por cento
do valor da avaliação. A arrematação realizada por preço vil é nula (art. 903, § 1º, do CPC/2015).
Na adjudicação, vigora a regra de que o exequente não deve ter solvida a obrigação pela aquisição do bem do
executado por preço inferior ao da avaliação (art. 876 do CPC/2015). Assim, v.g., se o imóvel foi avaliado em R$
150.000,00, por este valor o exequente poderá adjudicá-lo, abatendo-o na dívida por dação em pagamento.
A avaliação, em regra, é feita pelo oficial de justiça, logo após esgotado o prazo para pagamento voluntário (arts. 523,
§ 3º, e 829, § 1º, do CPC/2015). Excepcionalmente, o juiz nomeará avaliador, caso sejam necessários conhecimentos
especializados (v.g., tendo sido penhorado um forno de alta combustão, elevadores etc.) e o valor da execução o
comportar. O avaliador deverá entregar o laudo em prazo não superior a dez dias, tudo nos termos do art. 870,  caput e
parágrafo único, do CPC/2015. Sendo a avaliação realizada pelo oficial de justiça, constará de vistoria e de laudo
anexados ao auto de penhora. O laudo deve sempre especificar os bens, com as suas características, e o estado em que
se encontram, bem como o valor dos bens. É mister ter em conta que, muito embora a avaliação seja, via de regra,
realizada concomitantemente ao ato da penhora, mesmo que não integre o auto de penhora somente deverá ser
reconhecida nulidade caso comprovado algum prejuízo.
Quando o bem avaliado for imóvel, caso seja suscetível de cômoda divisão, proceder-se-á à avaliação em partes tendo
em conta o crédito reclamado, sugerindo-se, com a apresentação de memorial descritivo, os possíveis
desmembramentos para alienação, ouvindo-se as partes a respeito em 5 dias (art. 872, §§ 1º e 2º, do CPC/2015).
Cuida-se de mais uma regra inspirada pela menor onerosidade da execução para o devedor.
O art. 871 do CPC/2015 enumera hipóteses nas quais a avaliação não é realizada:
“Art. 871. Não se procederá à avaliação quando:
I – uma das partes aceitar a estimativa feita pela outra;
II – se tratar de títulos ou de mercadorias que tenham cotação em bolsa, comprovada por certidão ou
publicação no órgão oficial;
III – se tratar de títulos da dívida pública, de ações de sociedades e de títulos de crédito negociáveis em
bolsa, cujo valor será o da cotação oficial do dia, comprovada por certidão ou publicação no órgão oficial;
IV – se tratar de veículos automotores ou de outros bens cujo preço médio de mercado possa ser conhecido
por meio de pesquisas realizadas por órgãos oficiais ou de anúncios de venda divulgados em meios de
comunicação, caso em que caberá a quem fizer a nomeação o encargo de comprovar a cotação de mercado.
Parágrafo único. Ocorrendo a hipótese do inciso I deste artigo, a avaliação poderá ser realizada quando
houver fundada dúvida do juiz quanto ao real valor do bem”.
A estimativa do valor dos bens suscetíveis de penhora, via de regra, não é obrigação do exequente, pois não consta do
rol do art. 798 do CPC/2015. Todavia, caso o executado requeira a substituição do bem penhorado, deverá atribuir
valor aos bens indicados à penhora (art. 847, § 1º, V, do CPC/2015), não se procedendo à avaliação se o exequente
concordar com essa estimativa. Nada obstante as partes concordem com a estimativa, ainda assim a avaliação poderá
ser realizada quando houver fundada dúvida do juiz quanto ao real valor do bem.
Em alguns casos, o valor do bem pode ser aferido pela mera certidão ou publicação no órgão oficial, caso em que
também não haverá avaliação. Enquadram-se nessa hipótese os títulos ou mercadorias que tenham cotação em bolsa,
bem assim os títulos da dívida pública, as ações de sociedades e os títulos de crédito negociáveis em bolsa, cujo valor
será o da cotação oficial do dia.
Finalmente, o legislador imputou a quem realizar a nomeação do bem à penhora, seja o exequente ou o executado, o
encargo de comprovar a cotação de mercado, quando se tratar de veículos automotores ou de outros bens cujo preço
médio de mercado possa ser conhecido por meio de pesquisas realizadas por órgãos oficiais ou de anúncios de venda
divulgados em meios de comunicação. Se o magistrado não se convencer do valor do bem pelos documentos
colacionados aos autos, deverá determinar a sua avaliação.
Apresentado o laudo, as partes devem ser intimadas para, querendo, impugnar o ato por simples petição, no prazo de
15 (quinze) dias (arts. 525, § 11, e 917, § 1º, do CPC/2015). O executado também pode questionar a avaliação na
impugnação ao cumprimento de sentença (art. 525, § 1º, IV, do CPC/2015) ou nos embargos à execução (art. 917, II,
do CPC/2015).
Em regra, a avaliação é una e, portanto, não se repete.
Nada obstante, o Código de 2015 dispõe:
“Art. 873. É admitida nova avaliação quando:
I – qualquer das partes arguir, fundamentadamente, a ocorrência de erro na avaliação ou dolo do avaliador;
II – se verificar, posteriormente à avaliação, que houve majoração ou diminuição no valor do bem; III – o
juiz tiver fundada dúvida sobre o valor atribuído ao bem na primeira avaliação. Parágrafo único. Aplica-se o
art. 480 à nova avaliação prevista no inciso III do caput deste artigo”.
O legislador, além de admitir que qualquer das partes impugne a avaliação, admite a reavaliação tanto na majoração
quanto na diminuição do valor do bem.
A avaliação, conforme assentado, tem o escopo de fixar os limites dos atos executivos necessários à satisfação do
crédito exequendo. Por essa razão, após a avaliação, poderá mandar o juiz, a requerimento do interessado e ouvida a
parte contrária, reduzir ou ampliar a penhora, tema já versado em capítulo anterior.
Determinada a nova avaliação, as partes devem ser intimadas para, querendo, interpor agravo de instrumento (art.
1.015, parágrafo único, do CPC/2015). Ademais, após a realização da nova avaliação, também devem ser intimadas as
partes para que seja oportunizada eventual impugnação por simples petição (arts. 525, § 11, e 917, § 1º, do CPC/2015).
Logo após a realização da penhora e da avaliação, já deve o juiz dar início aos atos de expropriação do bem (art. 875
do CPC/2015), para manter a contemporaneidade da aferição do valor.

3.12Fase de expropriação

O fim da execução por quantia certa é a obtenção da soma e a sua ulterior entrega ao credor. O meio de obtê-la é a
expropriação, consistente na alienação forçada dos bens penhorados com o escopo de pagar ao credor. Por isso, dispõe
o art. 824 do CPC/2015 que a execução por quantia certa é realizada pela expropriação de bens do executado,
ressalvadas as execuções especiais – como aquela promovida em desfavor da Fazenda Pública.
A regra da redação original do CPC/1973 era a alienação judicial, por não poder o juiz simplesmente entregar os bens
do executado ao exequente – aliud pro alio solvet non potest. Ocorre que, já na reforma promovida pela Lei nº
11.382/2006, constatou-se que a alienação em hasta pública era anacrônica e formalista, além de onerosa e demorada,
de modo que a regra foi alterada para que a adjudicação do bem penhorado pelo próprio credor se tornasse o meio
expropriatório preferencial. Caso não ocorresse a adjudicação, tentar-se-ia a alienação por iniciativa particular ou
através de agentes credenciados, sob a supervisão do juiz. Apenas se frustrados os meios anteriores far-se-ia a
alienação em hasta pública.
O Código de 2015 estabelece, em seu art. 825, três modos de expropriação, quais sejam, a adjudicação, a alienação e a
apropriação de frutos e rendimentos de empresa ou de estabelecimentos e de outros bens.
A expropriação somente importa a perda da propriedade do executado sobre o bem quando: (i) na adjudicação, for
lavrado e assinado o respectivo auto pelo juiz, pelo adjudicatário, pelo escrivão ou chefe de secretaria, e, se estiver
presente, pelo executado (art. 877, § 1º, do CPC/2015); (ii) na alienação, for assinado o auto de arrematação pelo juiz,
pelo arrematante e pelo leiloeiro (art. 903 do CPC/2015).
Entretanto, os arts. 867 a 869 do CPC/2015 preveem a perda temporária da faculdade de fruir o bem, quando
penhorados os seus frutos e rendimentos, submetendo-o à exploração econômica paulatina com o fito de gerar os
fundos necessários ao pagamento do crédito exequendo. Então, a arrematação, com a entrega do dinheiro ao
exequente, e a adjudicação resultam em satisfação imediata do crédito (art. 904 do CPC/2015), ao passo que, na
penhora de frutos e rendimentos, o pagamento é paulatino (pro solvendo).
A alienação de bens demanda atos preparatórios compatíveis com a sua finalidade. É que, se a arrematação visa a
converter os bens em dinheiro, mister se faz propiciar a participação de um número maior de interessados para que
sejam múltiplas as chances de obtenção de fundos, ao mesmo tempo em que se impõe a aferição oficial do valor dos
bens antes de anunciá-los à licitação pública. Essas diligências necessárias são compostas pelas etapas prévias da
avaliação dos bens expropriáveis, tema apreciado em capítulo anterior desta obra, e da publicidade da licitação (arts.
886 a 889 do CPC/2015).
A expropriação é ato de natureza processual, autoritário-judicial, que não se confunde nem se aproxima do negócio
jurídico da compra e venda, de índole manifestamente consensual. O insigne Paula Batista, um dos maiores
processualistas nacionais, de há muito revelou a distinção entre o negócio civil da compra e venda e o ato processual
da arrematação, demonstrando a ausência de consenso e a inaplicação dos preceitos civis a esse importante momento
do processo satisfativo. Segundo o mestre pernambucano, o único ponto afim reside no fato de ambas as alienações
(compra e venda e arrematação) se operarem mediante pagamento de preço. De resto, a arrematação encerra ato de
império do juízo da execução, solene e público (hasta pública), consubstanciando desapropriação forçada do direito do
devedor sobre o bem expropriado. Doutrinava o mestre que o Estado, assim como penhora independentemente do
assentimento do executado (execução forçada), expropria o bem alienando a sua propriedade para terceiro, a título
oneroso. Consectário dessa distinção é a inaplicação das garantias da evicção e dos vícios redibitórios aos bens
adquiridos através da expropriação judicial. É que tais garantias são inerentes aos contratos onerosos em função das
quais o alienante garante o comprador contra os defeitos que tornem a coisa imprestável, bem como contra a venda por
quem não é dono.
A expropriação é forma de aquisição originária da propriedade do bem pelo arrematante ou adjudicatário. O
arrematante adquire a propriedade do bem com o registro da carta de arrematação, para imóveis, ou com a tradição,
para bens móveis. Expedida a carta de arrematação ou feita a ordem de entrega, a invalidação da arrematação ainda
poderá ser pleiteada por ação autônoma, em cujo processo o arrematante figurará como litisconsorte necessário (art.
903, § 4º, do CPC/2015). Contudo, ainda que o executado seja vitorioso nessa ação autônoma ou nos próprios
embargos à execução, a arrematação não será anulada ou desconstituída, cabendo ao executado apenas a reparação
pelos prejuízos sofridos (art. 903, caput, in fine, do CPC/2015).
Ressalte-se, por oportuno, que o arrematante pode ser despojado do bem em razão da ineficácia do ato de alienação,
mormente nas hipóteses mencionadas no art. 804, caput e parágrafos, do CPC/2015.  Entretanto, pelo princípio que
150

veda o enriquecimento sem causa, é lícito ao arrematante pleitear em juízo, através de ação autônoma própria contra o
executado, o reembolso de tudo quanto pagou para adquirir a coisa, porquanto este não poderia ter-se desvencilhado
da dívida com o bem alheio. Outrossim, ressalta legítimo acionar o credor exequente, uma vez que ele também não
pode ser satisfeito com patrimônio do reivindicante que não tem qualquer responsabilidade quanto ao débito. Nesta
hipótese, repõem-se as coisas ao estado anterior, porquanto o terceiro obtém o bem arrematado de volta e o
arrematante o dinheiro que despendeu daqueles que se locupletaram com o patrimônio alheio. Nada obstante o risco de
ineficácia da alienação, as providências determinadas pelo art. 889 do CPC/2015 na fase prévia da alienação judicial
eliminam em grande parte esse risco. 151

Os mesmos princípios devem ser aplicados às demais formas de expropriação, porquanto, ubi eadem ratio ibi eadem
dispositio.

3.12.1Adjudicação

A adjudicação é a primeira opção na ordem de expropriação e consiste na possibilidade de que o exequente,


oferecendo preço não inferior ao da avaliação, adquira os bens penhorados para o pagamento da dívida. 152

A expropriação, como já visto, tem o escopo de traduzir em dinheiro os bens penhorados, possibilitando a entrega de
uma soma ao credor. A adjudicação, então, ocorre a requerimento do exequente, posto não estar obrigado a receber
coisa diversa de dinheiro. Essa entrega do próprio bem penhorado como forma de satisfação do crédito muito se
assemelha à “dação em pagamento” do Direito Civil.
Obedecidos os mesmos princípios da arrematação, os bens devem ser adjudicados ao menos pelo preço da avaliação.
O requerimento de adjudicação pode ocorrer a qualquer tempo, à míngua de prazo estabelecido em lei, mas o
requerente responde pelos prejuízos causados, caso os atos de alienação já tenham se iniciado. A avaliação como piso
na adjudicação segue o princípio de que o credor não deve locupletar-se às expensas do devedor, tanto mais que a
execução se perfaz da forma menos onerosa para o solvens. Assim, v.g., se o imóvel foi avaliado em R$ 500.000,00
(quinhentos mil reais), por este valor o exequente poderá adjudicá-lo, abatendo-o na dívida, pouco importando a
alegação de que, se alienado, o bem não alcançaria este preço. Como a adjudicação pressupõe requerimento do
exequente, é dever deste perseguir essa forma de pagamento, podendo, se assim o pretender, aguardar a alienação
particular ou o leilão judicial.
Além do exequente, também podem requerer a adjudicação, nos termos do art. 876, § 5º, do CPC/2015: os credores
concorrentes que hajam penhorado o mesmo bem; o cônjuge ou companheiro, os descendentes e os ascendentes do
executado; o coproprietário de bem indivisível do qual tenha sido penhorada fração ideal; o titular de usufruto, uso,
habitação, enfiteuse, direito de superfície, concessão de uso especial para fins de moradia ou concessão de direito real
de uso, quando a penhora recair sobre bem gravado com tais direitos reais; o proprietário do terreno submetido ao
regime de direito de superfície, enfiteuse, concessão de uso especial para fins de moradia ou concessão de direito real
de uso, quando a penhora recair sobre tais direitos reais; o credor pignoratício, hipotecário, anticrético ou fiduciário,
quando a penhora recair sobre bens com tais gravames, caso não seja o credor, de qualquer modo, parte na execução; o
promitente comprador, quando a penhora recair sobre bem em relação ao qual haja promessa de compra e venda
registrada; o promitente vendedor, quando a penhora recair sobre direito aquisitivo derivado de promessa de compra e
venda registrada; a União, o Estado e o Município, no caso de alienação de bem tombado.
Dispõe o Código de 2015 que deve ser realizada uma licitação caso mais de um sujeito pretenda a adjudicação do bem
penhorado. Nessa licitação, têm preferência, em caso de igualdade de oferta, o cônjuge, o companheiro, o descendente
ou o ascendente, nessa ordem (art. 876, § 6º, do CPC/2015). Além disso, em caso de adjudicação de quota social ou de
ação de sociedade anônima fechada, os sócios têm preferência em relação aos demais pretendentes (art. 876, § 7º, do
CPC/2015). Nessa situação, a regra do desempate do concurso de credores pela melhor oferta cede espaço tendo em
vista que a affectio societatis expressa fator de relevo jurídico.
O requerente da adjudicação deverá realizar o depósito do valor da diferença entre o preço ofertado e o crédito
exequendo, sempre que o valor do crédito for inferior ao do bem adjudicado. Dispõe o art. 876, § 4º, I, do CPC/2015
que esse valor depositado “ficará à disposição do executado”. Figure-se, entretanto, a seguinte hipótese: o exequente
de crédito de R$ 100.000,00 disputa a adjudicação do bem penhorado e avaliado em R$ 200.000,00 com credor
hipotecário de dívida de R$ 500.000,00. O exequente, então, oferece R$ 220.000,00 para adquirir o bem, ao passo que
o credor hipotecário faz proposta de apenas R$ 200.000,00. A adjudicação, então, deve ser feita em favor do
exequente. Todavia, o valor do crédito exequendo (R$ 100.000,00) é inferior ao valor da proposta (R$ 220.000,00).
Teria o adjudicatário de depositar apenas a diferença entre esses valores, ou seja, R$ 120.000,00? Parece-nos que não.
Afinal, cuida-se de hipótese de concurso especial de credores, determinando o art. 908, § 1º, do CPC/2015 que os
créditos que recaem sobre o bem, inclusive os de natureza propter rem, sub-rogam-se sobre o preço da adjudicação,
observada a ordem de preferência. Isso significa que, em caso de pluralidade de credores ou exequentes,  o preço da
adjudicação deve ser depositado por inteiro, de modo que se permita a distribuição e entrega do dinheiro conforme as
preferências de cada interessado. 153

Nesta hipótese, cumpre ao exequente observar se vantajosa a adjudicação com esse ônus adicional. É que, depositando
o preço integral, sem abater nada em seu crédito (como ocorreria se o exequente fosse o único adjudicatário), ele
conserva o crédito exequendo, em razão do qual a execução deve prosseguir. Assim, é possível que a adjudicação seja
apenas satisfatória ao exequente quando a pretenda sozinho, já que, havendo concurso, a exigência de depósito do
preço ofertado como forma de não se frustrar por via oblíqua as preferências asseguradas por lei, torna-a uma figura
mais assemelhada à da “arrematação pelo credor” do que à “dação em pagamento”. É que as preferências sempre se
operam na fase de pagamento, sub-rogando-se no preço, daí a necessidade de depósito do valor do bem. Do contrário,
isto é, sem depósito, o exequente adjudicaria pelo seu crédito sem exibir preço, e as preferências anteriores não teriam
sobre o que incidir. Assim, v.g., se o credor de R$ 10.000,00 adjudica bem avaliado em R$ 10.000,00, sem exibir
preço, as preferências anteriores não teriam soma a receber prioritariamente, ao passo que, se o exequente deposita,
mantém-se íntegro o privilégio de direito material, muito embora não se possa falar tecnicamente de  “pagamento ao
credor”, porquanto o depósito em dinheiro deixa o crédito originário sem satisfação. Por essa razão é que se reafirma
que a adjudicação, na prática, somente é vantajosa se o exequente for o único candidato à obtenção do bem ou se o
preço deste for satisfatório sob outros aspectos.
Em conclusão, a regra do art. 876, § 4º, do CPC/2015 somente tem lugar quando o exequente fizer a única proposta de
adjudicação, caso em que depositará de imediato a diferença entre o valor do crédito e o dos bens, sendo aquele
inferior a este, ficando o depósito à disposição do executado. Se o valor do crédito for superior ao dos bens, a
execução prosseguirá pelo saldo remanescente.
Uma vez requerida a adjudicação pelo exequente ou outro legitimado, deverá ser intimado o executado (art. 876, § 1º,
do CPC/2015): (i) pelo Diário da Justiça, na pessoa de seu advogado constituído nos autos; (ii) por carta com aviso de
recebimento, quando representado pela Defensoria Pública ou quando não tiver procurador constituído nos
autos; (iii) por meio eletrônico, quando, sendo empresa pública ou privada não enquadrada como microempresa ou de
pequeno porte, não tiver procurador constituído nos autos. A intimação postal para o endereço constante dos autos é
válida quando o executado houver mudado de endereço sem prévia comunicação ao juízo (art. 876, § 2º, do
CPC/2015). É dispensável a intimação quando o executado, citado por edital, não tiver procurador constituído nos
autos (art. 876, § 3º, do CPC/2015).
Os interessados, uma vez intimados, possuem o prazo comum de 5 (cinco) dias, contados da última intimação, para se
manifestar sobre o requerimento de adjudicação. Ultrapassado esse prazo, o juiz decidirá eventuais questões e, na
sequência, ordenará a lavratura do auto de adjudicação. Lavrado e assinado o auto pelo juiz, pelo adjudicatário, pelo
escrivão ou chefe de secretaria, e, se estiver presente, pelo executado, considera-se perfeita e acabada a adjudicação.
Então, deverá ser expedida carta de adjudicação e mandado de imissão na posse, quando se tratar de bem imóvel, ou
ordem de entrega ao adjudicatário, quando se tratar de bem móvel. Deveras, a carta de adjudicação deve conter a
descrição do imóvel, com remissão à sua matrícula e registros, a cópia do auto de adjudicação e a prova de quitação do
imposto de transmissão (art. 877, caput e §§ 1º e 2º, do CPC/2015), sendo este o documento translatício da
propriedade, registrável e oponível erga omnes. O dispositivo torna clara a regra tributária de que o adjudicatário paga
apenas o imposto de transmissão cuja guia deverá constar da carta, assim como a decisão da disputa da adjudicação,
muito embora a ela a lei não se refira, mas que se revela importante para fins registrais.
A redação legal indica que a faculdade de remição dos bens penhorados deve anteceder a confecção do ato
consubstanciador da expropriação em prol do exequente (art. 877, § 3º, do CPC/2015). Pelas mesmas razões de
segurança jurídica, este também deve ser considerado o marco temporal para a remição da execução, nos termos do
art. 826 do CPC/2015.

3.12.2Alienação

Não realizada a expropriação pela adjudicação, tem lugar a alienação, que pode ocorrer por  iniciativa particular ou
em leilão judicial, eletrônico ou presencial. Sob a sistemática do Código de 2015, não há mais a antiga distinção
entre praça e leilão, de modo que, independentemente da natureza do bem penhorado, a hasta pública sempre ocorrerá
por meio de leilão judicial, eletrônico ou presencial. 154

3.12.3Alienação por iniciativa particular

A alienação por iniciativa particular tem preferência sobre o leilão judicial, de modo que a alienação estatal é a última
modalidade de expropriação a ser observada. Assim, não efetivada a adjudicação, o exequente poderá requerer a
alienação por sua própria iniciativa ou por intermédio de corretor ou leiloeiro público credenciado perante o órgão
judiciário (art. 880, caput, do CPC/2015). Cuida-se de modalidade de alienação que já era prevista no art. 973 do
CPC/1939, mas que foi revogada pelo Código Buzaid antes de ser reintroduzida na reforma da Lei nº 11.382/2006.  A 155

lei exige requerimento do exequente, não podendo o juiz proceder de ofício, nem sendo admitida expressamente a
iniciativa do executado.
O exequente, pela pouca complexidade e por representar anseio do maior interessado na execução, pode engendrar a
adjudicação, cujo desinteresse conduz à alienação dos bens penhorados pela sua iniciativa ou por intermédio de
corretor credenciado perante a autoridade judiciária, desde que deferido pelo juízo, em decisão agravável.
Deferido o requerimento, o juiz fixará o prazo em que a alienação por iniciativa particular deve ser efetivada, a forma
de publicidade, o preço mínimo, as condições de pagamento, as garantias e, se for o caso, a comissão de corretagem, a
qual deve ser suportada pelo proponente que pretende adquirir o bem. A lei não estabelece qualquer parâmetro
expresso para a fixação do preço mínimo na alienação por iniciativa particular. Todavia, merece aplicação analógica o
art. 891 do CPC/2015, de modo que, também nessa modalidade, o bem não possa ser alienado por preço inferior a
cinquenta por cento do valor da avaliação.
Sobressai evidente que a execução não se processa sem a interferência judicial, por isso que o princípio da
economicidade será o critério de vigília do juiz, que pode inverter a ordem legal se, v.g., entender melhor a alienação
particular do que a adjudicação, ou se acolher impugnação do devedor de que o credor prefere a adjudicação em razão
de o valor da avaliação estar aquém da realidade de mercado etc. Inocorrentes essas situações anômalas, cabe ao juiz
fixar o prazo em que a alienação deve ser efetivada, visando à manutenção de um preço útil na alienação particular.
Isso significa que se houver um espaço muito grande entre a opção de venda particular e a sua efetivação, nova
avaliação poderá ser procedida, quer em razão de defasagem monetária quer em face de valorização superveniente. O
juiz deve ter em mente que as condições de mercado e o valor são importantes para gerar um produto que possa quitar
o débito e quiçá gerar saldo em favor do executado.
Essa intervenção judicial nos interesses privados da execução permite ao juiz deferir parcelamentos no pagamento do
preço do imóvel e adiamentos para o momento mais oportuno, tudo sob o crivo do contraditório.
Fora esses parâmetros a serem estabelecidos pelo juiz, de acordo com o caso concreto, o Código não prevê detalhes do
procedimento da alienação por iniciativa particular. Todavia, consagra norma de delegação para que os Tribunais
possam editar disposições complementares sobre o procedimento da alienação por iniciativa particular, admitindo,
quando for o caso, o concurso de meios eletrônicos. Os Tribunais podem, ainda, dispor sobre o credenciamento dos
corretores e leiloeiros públicos, os quais deverão estar em exercício profissional por não menos que 3 (três) anos (art.
880, § 3º, do CPC/2015). Nas localidades em que não houver corretor ou leiloeiro público credenciado, a indicação
será de livre escolha do exequente (art. 880, § 4º, do CPC/2015).
A lei não regula, mas pode ocorrer que o adquirente atrase o pagamento ou não implemente o preço, hipótese em que
se aplica analogicamente os arts. 895, § 4º, e 897 do CPC/2015, que dispõem, verbis:
“Art. 895. § 4º No caso de atraso no pagamento de qualquer das prestações, incidirá multa de dez por cento
sobre a soma da parcela inadimplida com as parcelas vincendas.”
“Art. 897. Se o arrematante ou seu fiador não pagar o preço no prazo estabelecido, o juiz impor-lhe-á, em
favor do exequente, a perda da caução, voltando os bens a novo leilão, do qual não serão admitidos a
participar o arrematante e o fiador remissos.”
A publicidade da alienação deve indicar os itens previstos nos incisos I e VI do art. 886 do CPC/2015, que
normalmente constam dos editais de leilão judicial.  Outrossim, apesar de silente a lei, deverão ser cientificados da
156

alienação por iniciativa particular todos os sujeitos indicados no art. 889 do CPC/2015. 157

Ultimada a alienação por iniciativa particular, deverá ser será formalizada por termo nos autos, com a assinatura do
juiz, do exequente, do adquirente e, se estiver presente, do executado. Dispensa-se, portanto, a escritura pública. Na
sequência, deve ser expedida a carta de alienação e o mandado de imissão na posse, quando se tratar de bem imóvel,
ou a ordem de entrega ao adquirente, quando se tratar de bem móvel (art. 880, § 2º, do CPC/2015).

3.12.4Leilão judicial

Como último método de expropriação, apenas aplicável se não efetivada a adjudicação ou a alienação por iniciativa
particular, tem-se o leilão judicial, também denominado pela doutrina como hasta pública (art. 881 do CPC/2015).
A lei determina que o leilão seja feito, preferencialmente, pela via eletrônica. A Resolução nº 236/2016 do Conselho
Nacional de Justiça regulamenta a alienação judicial por meio eletrônico, nos termos do art. 882, § 1º, do CPC/2015. A
referida resolução também estabelece os requisitos para o credenciamento de leiloeiros públicos e corretores, bem
assim as responsabilidades desses auxiliares do juízo. Isso porque o leilão judicial é necessariamente realizado pelo
leiloeiro público, auxiliar do juízo designado pelo magistrado (art. 883 do CPC/2015), salvante os casos de alienação a
cargo de corretores de bolsa de valores (art. 881, §§ 1º e 2º, do CPC/2015). O leiloeiro público pode ser indicado pelo
exequente e, caso isso não ocorra, deverá haver sorteio entre os leiloeiros credenciados (art. 9º da Resolução nº
236/2016 do CNJ).
O Código de 2015 estabelece as seguintes obrigações do leiloeiro público:
“Art. 884. Incumbe ao leiloeiro público: I – publicar o edital, anunciando a alienação;
II – realizar o leilão onde se encontrem os bens ou no lugar designado pelo juiz;
III – expor aos pretendentes os bens ou as amostras das mercadorias;
IV – receber e depositar, dentro de 1 (um) dia, à ordem do juiz, o produto da alienação;
V – prestar contas nos 2 (dois) dias subsequentes ao depósito.
Parágrafo único. O leiloeiro tem o direito de receber do arrematante a comissão estabelecida em lei ou
arbitrada pelo juiz”.
Relativamente ao rito do leilão eletrônico, dispõe a Resolução nº 236/2016 do CNJ, verbis:
“Art. 12. O usuário interessado em participar da alienação judicial eletrônica, por meio da rede mundial de
computadores, deverá se cadastrar previamente no site respectivo, ressalvada a competência do juízo da
execução para decidir sobre eventuais impedimentos.
Art. 13. O cadastramento será gratuito e constituirá requisito indispensável para a participação na alienação
judicial eletrônica, responsabilizando-se o usuário, civil e criminalmente, pelas informações lançadas por
ocasião do cadastramento.
Parágrafo único. O cadastramento implicará na aceitação da integralidade das disposições desta Resolução,
assim como das demais condições estipuladas no edital respectivo.
Art. 14. Caberá ao leiloeiro do sistema de alienação judicial eletrônica (as próprias unidades judiciais ou as
entidades credenciadas) a definição dos critérios de participação na alienação judicial eletrônica com o
objetivo de preservar a segurança e a confiabilidade dos lances.
§ 1º O cadastro de licitantes deverá ser eletrônico e sujeito à conferência de identidade em banco de dados
oficial.
§ 2º Até o dia anterior ao leilão, o leiloeiro estará disponível para prestar aos interessados os esclarecimentos
de quaisquer dúvidas sobre o funcionamento do leilão.
§ 3º O leiloeiro deverá manter telefones disponíveis em seção facilmente visível em seu site na rede mundial
de computadores para dirimir eventuais dúvidas referentes às transações efetuadas durante e depois do leilão
judicial eletrônico.
Art. 15. O leiloeiro confirmará ao interessado seu cadastramento via e-mail ou por emissão de login e senha
provisória, que deverá ser, necessariamente, alterada pelo usuário.
Parágrafo único. O uso indevido da senha, de natureza pessoal e intransferível, é de exclusiva
responsabilidade do usuário.
Art. 16. Os bens penhorados serão oferecidos em site designado pelo juízo da execução (art. 887, § 2º), com
descrição detalhada e preferencialmente por meio de recursos multimídia, para melhor aferição de suas
características e de seu estado de conservação.
Parágrafo único. Fica o leiloeiro autorizado a fotografar o bem e a visitá-lo, acompanhado ou não de
interessados na arrematação.
Art. 17. Os bens a serem alienados estarão em exposição nos locais indicados no site, com a descrição de
cada lote, para visitação dos interessados, nos dias e horários determinados.
Art. 18. Os bens serão vendidos no estado de conservação em que se encontram, sem garantia, constituindo
ônus do interessado verificar suas condições, antes das datas designadas para a alienação judicial eletrônica.
Art. 19. O leiloeiro suportará os custos e se encarregará da divulgação da alienação, observando as
disposições legais e as determinações judiciais a respeito.
Art. 20. O período para a realização da alienação judicial eletrônica (art. 886, IV) terá sua duração definida
pelo juiz da execução ou pelo leiloeiro, cuja publicação do edital deverá ser realizada com antecedência
mínima de 5 (cinco) dias (art. 887, § 1º) da data inicial do leilão.
Art. 21. Sobrevindo lance nos 3 (três) minutos antecedentes ao termo final da alienação judicial
exclusivamente eletrônica, o horário de fechamento do pregão será prorrogado em 3 (três) minutos para que
todos os usuários interessados tenham oportunidade de ofertar novos lances.
Parágrafo único. No caso de alienação presencial ou simultânea (presencial e eletrônica), o tempo previsto
no caput deste artigo será de 15 (quinze) segundos.
Art. 22. Durante a alienação, os lances deverão ser oferecidos diretamente no sistema do gestor e
imediatamente divulgados on-line, de modo a viabilizar a preservação do tempo real das ofertas. Parágrafo
único. Não será admitido sistema no qual os lances sejam realizados por e-mail e posteriormente registrados
no site do leiloeiro, assim como qualquer outra forma de intervenção humana na coleta e no registro dos
lances.
Art. 23. Com a aceitação do lance, o sistema emitirá guia de depósito judicial identificado vinculado ao juízo
da execução.
Art. 24. O pagamento deverá ser realizado de imediato pelo arrematante, por depósito judicial ou por meio
eletrônico (art. 892), salvo disposição judicial diversa ou arrematação a prazo (art. 895, § 9º).
Art. 25. A arrematação será considerada perfeita, acabada e irretratável tão logo assinado o auto pelo juiz,
pelo arrematante e pelo leiloeiro, observadas as disposições do art. 903 do CPC.
Art. 26. Não sendo efetuados os depósitos, serão comunicados também os lances imediatamente anteriores,
para que sejam submetidos à apreciação do juiz, na forma do art. 895, §§ 4º e 5º; art. 896, § 2º; arts. 897 e
898, sem prejuízo da invalidação de que trata o art. 903 do CPC.
Art. 27. Para garantir o bom uso do site e a integridade da transmissão de dados, o juiz da execução poderá
determinar o rastreamento do número do IP da máquina utilizada pelo usuário para oferecer seus lances.
Art. 28. O leiloeiro público deverá disponibilizar ao juízo da execução acesso imediato à alienação. Art. 29.
Correrão por conta do arrematante as despesas e os custos relativos à desmontagem, remoção, transporte e
transferência patrimonial dos bens arrematados.
Art. 30. Serão de exclusiva responsabilidade do leiloeiro e do corretor público ônus decorrentes da
manutenção e operação do site disponibilizado para a realização das alienações judiciais eletrônicas, assim
como as despesas com o arquivamento das transmissões e ao perfeito desenvolvimento e implantação do
sistema de leilões eletrônicos.
Art. 31. A estrutura física de conexão externa de acesso e segurança ao provedor é de responsabilidade do
leiloeiro e do corretor público.
Parágrafo único. Caso a alienação judicial eletrônica não possa se realizar em razão de força maior, o início
do novo período de pregão deverá ser publicado na forma do art. 897, § 1º, do CPC.
Art. 32. Os lances e dizeres inseridos na sessão on-line correrão exclusivamente por conta e risco do usuário.
Art. 33. Eventuais ocorrências ou problemas que possam afetar ou interferir nas regras desta Resolução serão
dirimidos pelo juiz da execução.
Art. 34. Todo o procedimento deverá ser gravado em arquivos eletrônicos e de multimídia, com capacidade
para armazenamento de som, dados e imagens”.
O leilão também poderá ser simultâneo (eletrônico e presencial), cujo endereço será indicado no edital e a modalidade
presencial se dará no último dia do período designado para o leilão eletrônico (art. 11, parágrafo único, da Resolução
nº 236/2016 do CNJ).
Compete ao juiz da execução estabelecer o preço mínimo, as condições de pagamento e as garantias que poderão ser
prestadas pelo arrematante (art. 885 do CPC/2015). O preço mínimo, que constará do edital, deve ser ao menos o valor
da avaliação, que é a proposta mínima a ser apresentada em primeiro leilão (art. 895, I, do CPC/2015). Quanto às
condições de pagamento e garantias, sendo omisso o magistrado, deverão ser observadas as diretrizes do art. 895, § 1º,
do CPC/2015: pagamento de pelo menos vinte e cinco por cento do valor do lance à vista e o restante parcelado em até
30 (trinta) meses, garantido por caução idônea, quando se tratar de móveis, e por hipoteca do próprio bem, quando se
tratar de imóveis.
O leilão se desenvolve por três fases consecutivas: a publicidade, a realização e a formalização.
A publicidade do leilão implica fazer-se anunciar ao público em geral que o bem vai ser vendido em hasta pública,
objetivo que se alcança através da publicação de edital pelo leiloeiro na rede mundial de computadores, em sítio
designado pelo juízo da execução, pelo menos 5 (cinco) dias antes da data marcada para o leilão. Não sendo possível a
publicação na rede mundial de computadores ou considerando o juiz, em atenção às condições da sede do juízo, que
esse modo de divulgação é insuficiente ou inadequado, o edital será afixado em local de costume e publicado, em
resumo, pelo menos uma vez em jornal de ampla circulação local. A lei confere certa flexibilidade ao juiz para
adequar a publicidade às características do caso concreto, pois, atendendo ao valor dos bens e às condições da sede do
juízo, o juiz poderá alterar a forma e a frequência da publicidade na imprensa, mandar publicar o edital em local de
ampla circulação de pessoas e divulgar avisos em emissora de rádio ou televisão local, bem como em sítios distintos
daquele designado anteriormente. Tratando-se de leilão de imóveis e de veículos automotores, os editais serão
publicados pela imprensa ou por outros meios de divulgação, preferencialmente na seção ou no local reservados à
publicidade dos respectivos negócios (art. 887, caput e §§, do CPC/2015). Nada impede, portanto, a publicação do
edital de venda de veículo automotor em um site notoriamente conhecido pela compra e venda dessa espécie de bem.
Não se realizando o leilão por qualquer motivo, o juiz mandará publicar a transferência da data, seguindo-se a mesma
sistemática (art. 888 do CPC/2015).
Os requisitos do edital, destinado a dar publicidade geral ao leilão, estão listados no art. 886 do CPC/2015:
“Art. 886. O leilão será precedido de publicação de edital, que conterá:
I – a descrição do bem penhorado, com suas características, e, tratando-se de imóvel, sua situação e suas
divisas, com remissão à matrícula e aos registros;
II – o valor pelo qual o bem foi avaliado, o preço mínimo pelo qual poderá ser alienado, as condições de
pagamento e, se for o caso, a comissão do leiloeiro designado;
III – o lugar onde estiverem os móveis, os veículos e os semoventes e, tratando-se de créditos ou direitos, a
identificação dos autos do processo em que foram penhorados;
IV – o sítio, na rede mundial de computadores, e o período em que se realizará o leilão, salvo se este se der
de modo presencial, hipótese em que serão indicados o local, o dia e a hora de sua realização; V – a
indicação de local, dia e hora de segundo leilão presencial, para a hipótese de não haver interessado no
primeiro;
VI – menção da existência de ônus, recurso ou processo pendente sobre os bens a serem leiloados. Parágrafo
único. No caso de títulos da dívida pública e de títulos negociados em bolsa, constará do edital o valor da
última cotação”.
O conteúdo do edital visa à proteção do direito de terceiros, notadamente do arrematante, que pode inclusive desistir
da arrematação por vício do edital (art. 903, § 5º, I, do CPC/2015), bem como a otimização da expropriação em prol da
satisfação do credor da forma menos onerosa para o devedor. Assim, se faltam requisitos no edital, mas a hasta pública
se realiza em proveito da execução e sem prejuízo para o terceiro, consolida-se a arrematação pela finalidade
alcançada.
A publicidade para o público em geral não supre a necessidade da publicidade especial, que se impõe pela
comunicação de que o bem vai a leilão a determinadas pessoas,  listadas no art. 889 do CPC/2015:
158

“Art. 889. Serão cientificados da alienação judicial, com pelo menos 5 (cinco) dias de antecedência: I – o
executado, por meio de seu advogado ou, se não tiver procurador constituído nos autos, por carta registrada,
mandado, edital ou outro meio idôneo;
II – o coproprietário de bem indivisível do qual tenha sido penhorada fração ideal;
III – o titular de usufruto, uso, habitação, enfiteuse, direito de superfície, concessão de uso especial para fins
de moradia ou concessão de direito real de uso, quando a penhora recair sobre bem gravado com tais direitos
reais;
IV – o proprietário do terreno submetido ao regime de direito de superfície, enfiteuse, concessão de uso
especial para fins de moradia ou concessão de direito real de uso, quando a penhora recair sobre tais direitos
reais;
V – o credor pignoratício, hipotecário, anticrético, fiduciário ou com penhora anteriormente averbada,
quando a penhora recair sobre bens com tais gravames, caso não seja o credor, de qualquer modo, parte na
execução;
VI – o promitente comprador, quando a penhora recair sobre bem em relação ao qual haja promessa de
compra e venda registrada;
VII – o promitente vendedor, quando a penhora recair sobre direito aquisitivo derivado de promessa de
compra e venda registrada;
VIII – a União, o Estado e o Município, no caso de alienação de bem tombado.
Parágrafo único. Se o executado for revel e não tiver advogado constituído, não constando dos autos seu
endereço atual ou, ainda, não sendo ele encontrado no endereço constante do processo, a intimação
considerar-se-á feita por meio do próprio edital de leilão”.
O executado é intimado por ocasião da formalização da penhora (art. 841 do CPC/2015) e novamente quando da
efetiva alienação judicial. A intimação, contudo, é suprida pelo próprio edital de leilão se o executado for revel e não
tiver advogado constituído, não constando dos autos seu endereço atual ou, ainda, não sendo ele encontrado no
endereço constante do processo. Imperioso assentar que a intimação se refere a cada alienação acaso sejam múltiplos
os bens penhorados. Outrossim, na forma da Súmula nº 121 do E. STJ aplica-se ao executado o mesmo preceito que na
execução fiscal.  É que as regras do CPC são aplicadas subsidiariamente à execução fiscal (Lei nº 6.830, art. 1º). O
159

executado é intimado para acompanhar o leilão e quiçá substituir o bem por dinheiro.  A falta de intimação do
executado nulifica a arrematação (art. 903, § 1º, I, do CPC/2015).
Relembre-se que o cônjuge deve ser intimado da formalização da penhora quando esta recair sobre bem imóvel ou
direito real sobre imóvel, salvo se forem casados em regime de separação absoluta de bens (art. 842 do CPC/2015). O
art. 889 do CPC/2015, por sua vez, não determina uma nova intimação do cônjuge por ocasião da alienação judicial,
muito embora este possua preferência na arrematação (arts. 843, § 1º, e 892, § 2º, do CPC/2015). É que o cônjuge tem
a sua meação reservada no produto da alienação dos bens indivisíveis (art. 843, caput, do CPC/2015), além de
eventualmente poder destacá-la do imóvel se ele admitir divisão cômoda (arts. 872, § 1º, e 894 do CPC/2015). Por
isso, está habilitado à oposição de embargos de terceiros para defender a posse de bens da sua meação quando
inobservadas as mencionadas regras processuais (art. 674, § 2º, I, do CPC/2015). Outrossim, os bens que não devem
responder pelas dívidas podem ser excluídos pelos embargos de terceiros em defesa de bens próprios, como o são os
mencionados nos arts. 1.659, V a VII, 1.674 e 1.668 do CC, por isso que, se penhorados,  impõe-se a intimação.  A 160

propósito, confira-se o teor da Súmula nº 134 do E. STJ de seguinte teor: “Embora intimado da penhora em imóvel do
casal o cônjuge do executado pode opor embargos de terceiro para defesa de sua meação.”
O art. 889, V, do CPC/2015 impõe a intimação do credor com penhora anteriormente averbada. É que o exequente
aparelhado com penhora tem prioridade no recebimento do preço e os créditos preferenciais garantidos na forma do
direito material, com a expropriação, sub-rogam-se no preço, que lhes confere prioridade também na entrega do
dinheiro. Aliás é cediço que a expropriação extingue o gravame, consoante o disposto no art. 1.499, VI, do CC, mas,
em compensação, cria a preferência no recebimento do preço. 161

Note-se que, a par do credor com penhora anteriormente averbada, os sujeitos listados nos incisos III a VII do art. 889
do CPC/2015 devem ser intimados sobre a alienação judicial mesmo já tendo sido anteriormente intimados sobre a
propositura da execução (art. 799, I a VI, do CPC/2015), sob pena de ineficácia da alienação, consoante dispõe o art.
804 do CPC/2015:
“Art. 804. A alienação de bem gravado por penhor, hipoteca ou anticrese será ineficaz em relação ao credor
pignoratício, hipotecário ou anticrético não intimado.
§ 1º A alienação de bem objeto de promessa de compra e venda ou de cessão registrada será ineficaz em
relação ao promitente comprador ou ao cessionário não intimado.
§ 2º A alienação de bem sobre o qual tenha sido instituído direito de superfície, seja do solo, da plantação ou
da construção, será ineficaz em relação ao concedente ou ao concessionário não intimado.
§ 3º A alienação de direito aquisitivo de bem objeto de promessa de venda, de promessa de cessão ou de
alienação fiduciária será ineficaz em relação ao promitente vendedor, ao promitente cedente ou ao
proprietário fiduciário não intimado.
§ 4º A alienação de imóvel sobre o qual tenha sido instituída enfiteuse, concessão de uso especial para fins
de moradia ou concessão de direito real de uso será ineficaz em relação ao enfiteuta ou ao concessionário
não intimado.
§ 5º A alienação de direitos do enfiteuta, do concessionário de direito real de uso ou do concessionário de
uso especial para fins de moradia será ineficaz em relação ao proprietário do respectivo imóvel não
intimado.
§ 6º A alienação de bem sobre o qual tenha sido instituído usufruto, uso ou habitação será ineficaz em
relação ao titular desses direitos reais não intimado”.
Sendo hipótese de ineficácia, a não intimação dos credores preferenciais faz prevalecer o ônus mesmo depois de o
bem ter sido arrematado. O credor com garantia real pode obstar a expropriação judicial do objeto de direito real de
garantia, caso não tenha sido intimado, nos termos legais dos atos expropriatórios respectivos, oferecendo embargos
de terceiro até 5 (cinco) dias depois da adjudicação, da alienação por iniciativa particular ou da arrematação, mas
sempre antes da assinatura da respectiva carta (arts. 674, § 2º, IV, e 675 do CPC/2015). Contra os embargos do credor
com garantia real, o embargado somente poderá alegar que o devedor comum é insolvente; que o título é nulo ou não
obriga a terceiro; ou que outra é a coisa dada em garantia (art. 680 do CPC/2015).
Superada a fase de “publicidade” inicia-se a etapa subsequente, com a “realização” propriamente dita da “hasta
pública”. Em princípio, qualquer pessoa pode licitar, desde que esteja na livre administração de seus bens. Entretanto,
a novel codificação, em face de razões éticas, deslegitima a lançar determinadas pessoas, sob pena de nulificação da
licitação. A proibição encerra presunção jure et de jure de suspeição, gerando esse impedimento nulificador.
Nesse sentido, dispõe o CPC/2015:
“Art. 890. Pode oferecer lance quem estiver na livre administração de seus bens, com exceção:
I – dos tutores, dos curadores, dos testamenteiros, dos administradores ou dos liquidantes, quanto aos bens
confiados à sua guarda e à sua responsabilidade;
II – dos mandatários, quanto aos bens de cuja administração ou alienação estejam encarregados; III – do juiz,
do membro do Ministério Público e da Defensoria Pública, do escrivão, do chefe de secretaria e dos demais
servidores e auxiliares da justiça, em relação aos bens e direitos objeto de alienação na localidade onde
servirem ou a que se estender a sua autoridade;
IV – dos servidores públicos em geral, quanto aos bens ou aos direitos da pessoa jurídica a que servirem ou
que estejam sob sua administração direta ou indireta;
V – dos leiloeiros e seus prepostos, quanto aos bens de cuja venda estejam encarregados;
VI – dos advogados de qualquer das partes”.
Nos termos do art. 13 da Resolução nº 236/2016 do CNJ, o cadastramento do interessado é requisito indispensável
para a participação na alienação judicial eletrônica.

3.12.5Arrematação

A arrematação é o ato complexo de transferência forçada dos bens penhorados ao licitante vitorioso. Realizado o
leilão, deve ser expedido documento que consubstancia a aquisição pelo arrematante, destinado aos respectivos
registros públicos, que se denomina “carta de arrematação”.
O preço é elemento de constante vigília pelo juízo, porquanto evita que, a pretexto de satisfazer-se o direito do credor,
se onere excessivamente o devedor. Nessa linha, a arrematação não pode ocorrer pelo que a lei denomina como “preço
vil”. O art. 891, parágrafo único, do CPC/2015 esclarece que é vil o preço inferior ao mínimo estipulado pelo juiz e
constante do edital, e, não tendo sido fixado preço mínimo, considera-se vil o preço inferior a cinquenta por cento do
valor da avaliação.
Quanto à forma de pagamento, a regra é que seja realizado de imediato pelo arrematante, por depósito judicial ou por
meio eletrônico (art. 892, caput, do CPC/2015). No leilão judicial eletrônico, a Resolução nº 236/2016 do CNJ dispõe
em seus arts. 23 e 24 que, com a aceitação do lance, o sistema emitirá guia de depósito judicial identificado vinculado
ao juízo da execução, devendo o pagamento ser realizado de imediato pelo arrematante, por depósito judicial ou por
meio eletrônico, salvo disposição judicial diversa ou, como veremos adiante, em caso de arrematação a prazo (art. 895,
§ 9º, do CPC/2015).
Se o arrematante ou seu fiador não pagar o preço no prazo estabelecido, o juiz impor-lhe-á, em favor do exequente, a
perda da caução, voltando os bens a novo leilão, do qual não serão admitidos a participar o arrematante e o fiador
remissos. O fiador do arrematante que pagar o valor do lance e a multa poderá requerer que a arrematação lhe seja
transferida (arts. 897 e 898 do CPC/2015).
A posição do credor exequente é singular, já que não está inibido de acudir à praça, haja vista que o dinheiro com o
qual participa é seu próprio crédito. É evidente que o credor pode entrever vantagem em participar da hasta pública
para arrematar o bem, pagando com o seu próprio crédito. Nesta hipótese, é preciso apenas  verificar se o valor do
crédito cobre o valor do bem, que é o da avaliação. Em caso positivo, arrematando o bem, o exequente não precisa
depositar nada. Havendo saldo devedor residual, poderá prosseguir na execução. Havendo saldo a favor do devedor,
cumpre ao exequente depositá-lo dentro de 3 (três) dias, sob pena de tornar-se sem efeito a arrematação, e, nesse caso,
realizar-se-á novo leilão, à custa do exequente (art. 892, § 1º, do CPC/2015). O exequente ainda deposita o valor se
houver credor com direito de recebimento do produto da expropriação antes do seu próprio crédito, porque, do
contrário, se frustraria o direito de preferência.
Assim, v.g., se o credor participa da arrematação de um imóvel hipotecado de R$ 100.000,00, o seu crédito é de R$
120.000,00 e há hipoteca sobre o bem, anterior à sua penhora, o credor hipotecário tem o direito de receber o produto
da expropriação no montante de R$ 100.000,00 antes do exequente, porquanto, se este não depositar o preço, como em
regra se lhe faculta, frustrará o direito de preferência do credor da garantia. O mesmo raciocínio engendra-se caso haja
anterioridade de outras penhoras sobre o mesmo bem, em face da exegese sistemática do art. 905 e incisos do
CPC/2015. 162

É que esta faculdade de não exibir preço é aplicável exclusivamente ao exequente e desde que a execução seja movida
apenas por ele, prevalecendo para os terceiros licitantes o preceito imperativo do art. 892, caput, do CPC/2015. Tanto
assim o é que, se o arrematante ou o seu fiador não pagar dentro do prazo, o juiz deve impor-lhes, em favor do
exequente, a perda da caução.
O art. 892, § 2º, do CPC/2015 estabelece que, se houver mais de um pretendente, proceder-se-á entre eles à licitação,
e, no caso de igualdade de oferta, terá preferência o cônjuge, o companheiro, o descendente ou o ascendente do
executado, nessa ordem. Trata-se da mesma ordem de preferências estabelecida para o caso de adjudicação (art. 876, §
6º, do CPC/2015). Também há a previsão de que a União, os Estados e os Municípios terão, nessa ordem, o direito de
preferência na arrematação de bem tombado, havendo igualdade de oferta (art. 892, § 3º, do CPC/2015).
Tratando-se de praça que verse bens diversos do executado dá-se preferência ao lançador que propuser a arrematação
global (art. 893 do CPC/2015).  Nessa hipótese, alcançado o preço suficiente para pagamento do crédito exequendo,
163

mediante a venda de alguns bens, preservam-se os demais, suspendendo-se a arrematação (art. 899 do CPC/2015).
Quando o imóvel admite divisão cômoda, o juiz, a requerimento do executado, pode autorizar a alienação
parcial suficiente para pagamento do crédito exequendo e das despesas de execução. Frustrada essa estratégia de
defesa do patrimônio do devedor, aí sim, aliena-se o bem, em segundo leilão, em sua integralidade. Destaque-se que a
alienação por partes deverá ser requerida a tempo de permitir a avaliação das glebas destacadas e sua inclusão no
edital, e, nesse caso, caberá ao executado instruir o requerimento com planta e memorial descritivo subscritos por
profissional habilitado (art. 894 do CPC/2015). 164

A regra de pagamento imediato do preço é mitigada pela possibilidade de arrematação a prazo (art. 895 do CPC/2015).
Assim, o interessado em adquirir o bem penhorado em prestações poderá apresentar, por escrito, até o início do
primeiro leilão, proposta de aquisição do bem por valor não inferior ao da avaliação; e, até o início do segundo leilão,
proposta de aquisição do bem por valor que não seja considerado vil. É que, cuidando-se de leilão presencial, o art.
886, V, do CPC/2015 estabelece que deverá ser realizado um segundo leilão na hipótese de não haver interessado no
primeiro. A apresentação da proposta de pagamento a prazo não suspende o leilão. Além disso, a proposta de
pagamento do lance à vista sempre prevalecerá sobre as propostas de pagamento parcelado. Sendo várias as propostas
de pagamento parcelado em igualdade de condições, prevalecerá aquela formulada em primeiro lugar. Se as condições
forem diferentes, o juiz decidirá pela mais vantajosa, assim compreendida, sempre, a de maior valor.
A proposta de arrematação a prazo deve conter, em qualquer hipótese, oferta de pagamento de pelo menos vinte e
cinco por cento do valor do lance à vista e o restante parcelado em até 30 (trinta) meses, garantido por caução idônea,
quando se tratar de móveis, e por hipoteca do próprio bem, quando se tratar de imóveis. Também devem ser indicados
o prazo, a modalidade, o indexador de correção monetária e as condições de pagamento do saldo. Sendo aceita a
proposta, o atraso no pagamento de qualquer das prestações implicará multa de dez por cento sobre a soma da parcela
inadimplida com as parcelas vincendas. Por sua vez, o inadimplemento confere ao exequente a opção entre pedir a
resolução da arrematação ou promover, em face do arrematante, a execução do valor devido, devendo ambos os
pedidos ser formulados nos autos da execução em que se deu a arrematação.
Outra consequência da relevância do preço da arrematação pertine à hasta pública de bens de incapaz. Isso porque,
quando o imóvel de incapaz não alcançar em leilão pelo menos 80% (oitenta por cento) do valor da avaliação, o juiz
deve confiá-lo à guarda e administração de depositário idôneo, adiando a alienação por prazo não superior a um ano
(art. 896 do CPC/2015). Se, durante o adiamento, algum pretendente assegurar, mediante caução idônea, o preço da
avaliação, o juiz deverá ordenar a alienação em leilão. Se o pretendente à arrematação se arrepender, sujeitar-se-á a
multa de 20% (vinte por cento) sobre o valor da avaliação, em benefício do incapaz, valendo a decisão como título
executivo. Sem prejuízo, o juiz pode autorizar a locação do imóvel no prazo do adiamento. Findo o prazo, o imóvel
deve ser submetido a novo leilão.
3.12.6Ultimação da arrematação

Realizado o leilão segundo as formalidades acima mencionadas, cumpre ultimá-la através de um ato processual do
qual conste tudo quanto ocorreu na licitação e as condições pelas quais foi alienado o bem. Esse ato denomina-se “auto
de arrematação”, destinado a documentar a hasta pública. Será lavrado apenas um auto de arrematação, ainda que
vários os bens leiloados.
A assinatura do pelo juiz, pelo arrematante e pelo leiloeiro, faz com que a arrematação seja considerada perfeita,
acabada e irretratável (art. 903, caput, do CPC/2015). Todavia, a ordem de entrega do bem imóvel ou a carta de
arrematação do bem imóvel só serão expedidas após efetuado o depósito ou prestadas as garantias pelo arrematante,
bem como realizado o pagamento da comissão do leiloeiro e das demais despesas da execução (art. 901 do
CPC/2015) .165

As consequências do inadimplemento por parte do arrematante, como já visto, variam a depender se o pagamento é à
vista ou a prazo. O inadimplemento da proposta de pagamento parcelado autoriza o exequente a pedir a resolução da
arrematação ou promover, em face do arrematante, a execução do valor devido, devendo ambos os pedidos ser
formulados nos autos da execução em que se deu a arrematação (art. 895, § 5º, do CPC/2015). Sendo o caso de
pagamento à vista, o inadimplemento gera a perda da caução em favor do exequente, voltando os bens a novo leilão,
do qual não serão admitidos a participar o arrematante e o fiador remissos (art. 897 do CPC/2015).
A arrematação perfeita, acabada e irretratável não se desfaz sequer pela procedência dos embargos à execução, nem
mesmo pela procedência de ação autônoma pretendendo a sua invalidação. Nessas hipóteses, apesar de não ser
possível a restituição do bem, o Código assegura ao executado a possibilidade de reparação pelos prejuízos sofridos,
em ação exercida em face do exequente. Trata-se de medida de política judiciária através da qual o legislador
privilegiou o título executivo e erigiu um risco judiciário para o executado.
A irretratabilidade significa que não se pode desconstituir pela vontade a arrematação perfeita e acabada, o que não
significa que não possa ser desfeita nos próprios autos por defeito intrínseco. O art. 903, § 1º, do CPC/2015 consagra
situações nas quais a arrematação pode ser desconstituída. A invalidação da arrematação, com o retorno ao status quo,
ocorre quando realizada por preço vil ou com outro vício (como, v.g., se não houve a publicação de edital com os
requisitos legais, ou se participou do ato licitante impedido, ou se o devedor não foi intimado). Cumpre reavivar que
no processo não há nulidade sem prejuízo, v.g., se, ausente a intimação, o executado peticiona nos autos revelando
ciência inequívoca do ato expropriatório. A ineficácia da arrematação se dá quando não realizada a comunicação da
alienação judicial aos terceiros listados no art. 804, de modo a proteger os interesses do terceiro não cientificado. Por
fim, a resolução da arrematação é consequência do inadimplemento, nos termos dos já referidos arts. 895, § 5º, e 897
do CPC/2015.
Todos esses vícios que inquinam a arrematação devem ser suscitados no prazo de 10 (dez) dias, a contar do
aperfeiçoamento da arrematação com a assinatura do auto. O arrematante deve ser ouvido, juntamente com o
executado, uma vez que, desfeita a expropriação, a execução retoma o seu curso.
Findo o prazo in albis, determina o Código seja expedida a carta de arrematação e, conforme o caso, a ordem de
entrega ou mandado de imissão na posse. A “carta de arrematação” é o documento destinado aos registros públicos,
consagrando a propriedade dos bens imóveis. Havendo pluralidade de penhoras e eventualmente dupla expropriação
sem atendimento à regra do concurso de credores, a anterioridade do registro da carta confere a propriedade a quem
engendrar a providência em primeiro lugar, em nome dos princípios registrais. A carta de arrematação confere ao
arrematante título para reivindicar o bem através de ação petitória (reivindicatória). Entretanto, contra os partícipes do
processo, assim considerados o executado ou o depositário do bem, basta ao arrematante um simples pedido ao juízo
da execução que deve deferir-lhe o mandado de imissão ou de entrega. O registro da carta de arrematação consolida o
domínio do arrematante impondo-lhe, em consequência, a obrigação propter rem pelos impostos incidentes e despesas
condominiais a partir de então, sem prejuízo do implemento do imposto de transmissão.
Subsequentemente à expedição da carta de arrematação ou à ordem de entrega, toda e qualquer questão relativa à
invalidação da arrematação deve ser veiculada em ação autônoma, citando-se o arrematante como litisconsorte
necessário. A ação anulatória, como ação acessória que é, deve seguir o juízo onde ocorreu a arrematação, podendo ser
proposta no juízo deprecante ou deprecado, conforme o local do ato expropriatório, tendo em vista a execução por
carta.
O art. 903, § 5º, do CPC/2015 prevê situações excepcionais nas quais o arrematante pode  desistir da arrematação,
conferindo-lhe o direito de ter imediatamente devolvido o depósito que tiver feito. Assim, poderá desistir o
arrematante que provar, nos 10 (dez) dias seguintes, a existência de ônus real ou gravame não mencionado no edital. É
que, se o ônus real ou gravame não constou do edital, a arrematação é ineficaz em relação ao titular da garantia,
causando prejuízo ao arrematante. Também é possível a desistência se, antes de expedida a carta de arrematação ou a
ordem de entrega, o executado alegar a invalidade, a ineficácia ou a resolução da arrematação, bem como se,  após a
expedição, for ajuizada a ação autônoma para a sua invalidação.
Por fim, considera-se ato atentatório à dignidade da justiça a suscitação infundada de vício com o objetivo de ensejar a
desistência do arrematante, devendo o suscitante ser condenado, sem prejuízo da responsabilidade por perdas e danos,
ao pagamento de multa, a ser fixada pelo juiz e devida ao exequente, em montante não superior a vinte por cento do
valor atualizado do bem (art. 903, § 6º, do CPC/2015).

3.13Satisfação do crédito

A natureza satisfativa do processo de execução e do cumprimento da sentença faz do pagamento ao credor sua própria
razão de ser. O pagamento realiza o direito do credor, tal como ocorreria se o devedor tivesse cumprido
voluntariamente a obrigação.
O pagamento, como fase derradeira do processo de execução por quantia certa, submete-se à regra genérica do art. 797
do CPC/2015 segundo a qual, ressalvado o caso de insolvência do devedor, em que tem lugar o concurso universal,
realiza-se a execução no interesse do exequente que adquire, pela penhora, o direito de preferência sobre os bens
penhorados. Então, a satisfação do crédito ocorre quando o exequente recebe o dinheiro ou quando efetua a
adjudicação dos bens penhorados (art. 904, II, do CPC/2015).
A satisfação do crédito opera-se conforme haja ou não mais de um credor com direito aos bens penhorados. Havendo
mais de um credor apto ao pagamento, surge, no processo e juízo onde ocorreu a alienação judicial do bem, um
incidente denominado “concurso de credores”, destinado à disputa da prioridade no recebimento do crédito. Trata-se
de um incidente e que ocorre toda vez que há preferências instituídas anteriormente à penhora sobre o bem
expropriado ou multiplicidade de penhoras, como prevê o art. 797, parágrafo único, do CPC/2015.
A entrega do dinheiro é a forma usual de satisfação dos créditos. No processo de execução por quantia certa, essa
entrega é o objetivo maior e que se alcança mediante a simples expedição, pelo juízo, de “mandado de pagamento” ou
“mandado de levantamento”, como prefere a lei. Essa decisão que defere o levantamento é de natureza  interlocutória
e, portanto, agravável. O mandado pode ser expedido em nome do advogado, desde que a procuração contenha
poderes para receber e dar quitação, e uma vez pago o credor do principal, juros, custas e honorários, extingue-se a
execução, devolvendo-se eventual saldo ao executado (arts. 906 e 907 do CPC/2015). Ao revés, se mesmo após o
pagamento houver saldo devedor, por este prosseguirá a execução, realizando-se nova penhora.
Em determinadas situações, até a satisfação integral de seu crédito, o exequente pode levantar o dinheiro depositado
para segurar o juízo ou o produto dos bens alienados, bem como do faturamento de empresa ou de outros frutos e
rendimentos de coisas ou empresas penhoradas. Essa prerrogativa existe quando for um só o exequente e a ele couber
o direito de preferência sobre os bens penhorados e alienados. O levantamento também será possível quando não
houver sobre os bens alienados outros privilégios ou preferências instituídos anteriormente à penhora. O legislador
vedou, para evitar violação ao juiz natural, a concessão de pedidos de levantamento de importância em dinheiro ou
valores ou de liberação de bens apreendidos (art. 905 do CPC/2015).
A entrega do direito torna-se mais complexa quando concorrem vários credores ao pagamento, o que sucede quando
há privilégios e preferências instituídos anteriormente à penhora ou pluralidade de penhoras sobre o mesmo bem
expropriado (art. 908 do CPC/2015). Exsurge, assim, o “concurso de credores ou concurso de preferências”.
Denomina-se “concurso” porque acodem ao juízo onde se deu a expropriação todos os credores disputando o preço da
arrematação, num “litisconsórcio singular” onde uns se opõem aos outros.
O art. 908 do CPC/2015 dispõe que, havendo pluralidade de credores ou exequentes, o dinheiro lhes será distribuído e
entregue consoante a ordem das respectivas preferências. No caso de adjudicação ou alienação, os créditos que recaem
sobre o bem, inclusive os de natureza propter rem, sub-rogam-se sobre o respectivo preço, observada a ordem de
preferência. Não havendo título legal à preferência, o dinheiro será distribuído entre os concorrentes, observando-se a
anterioridade de cada penhora.
O concurso cria um incidente na fase de pagamento a ser resolvido por decisão interlocutória e não uma “sentença”,
posto não se tratar de “processo incidente”, mas, repita-se, “incidente do processo”. De acordo com o art. 909 do
CPC/2015, os exequentes formularão as suas pretensões, que versarão unicamente sobre o direito de preferência e a
anterioridade da penhora, e, apresentadas as razões, o juiz decidirá. O juiz se limita à verificação dos créditos e
respectivas preferências, assemelhando-se a uma ação declaratória, muito embora sem força de coisa julgada sobre a
matéria apreciada, quantum satis apenas para deferir a prioridade no recebimento da soma. Essa disputa é limitada
tanto mais que a decisão do incidente não tem o efeito de infirmar o crédito do exequente aferido no processo que
promoveu.
Deveras, tratando-se de preferência de direito material, esta desaparece após a expropriação do bem vinculado à
dívida, que, por seu turno, se vence antecipadamente. Neste caso o gravame sub-roga-se no preço e essa parte é
reservada à garantia da dívida, restando ao credor expropriante o remanescente e a possibilidade de prosseguir na
execução, visto que o devedor é solvente.
Esse tratamento prevalece ainda que o devedor queira discutir o crédito privilegiado ou preferencial, uma vez que,
sendo ele declarado indevido em processo ulterior, os credores ainda não pagos poderão satisfazer-se com
esse quantum futuro. O que não é viável é eliminar, simplesmente, a garantia conferida pelo bem expropriado e
comprometido anteriormente com a dívida, pelo simples fato de o credor preferencial não ter movido processo de
execução, até porque é possível que o débito preferencial não estivesse vencido quando da execução.
Sobre a competência para decidir sobre o concurso particular de credores ou exequentes, confira-se importante decisão
do STJ:
“PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO. MÚLTIPLAS CONSTRIÇÕES SOBRE O MESMO BEM.
PENHORA NO ROSTO DOS AUTOS. CONCURSO. MODALIDADE. COMPETÊNCIA.
- A incidência de múltiplas penhoras sobre um mesmo bem não induz o concurso universal de credores, cuja
instauração pressupõe a insolvência do devedor. A coexistência de duas ou mais penhoras sobre o mesmo
bem implica concurso especial ou particular, previsto no art. 613 do CPC, que não reúne todos os credores
do executado, tampouco todos os seus bens, consequências próprias do concurso universal. No concurso
particular concorrem apenas os exequentes cujo crédito frente ao executado é garantido por um mesmo bem,
sucessivamente penhorado.
- Em princípio, havendo, em juízos diferentes, mais de uma penhora contra o mesmo devedor, o concurso
efetuar-se-á naquele em que se houver feito a primeira. Essa regra, porém, comporta exceções. Sua
aplicabilidade se restringe às hipóteses de competência relativa, que se modificam pela conexão. Tramitando
as diversas execuções em Justiças diversas, haverá manifesta incompatibilidade funcional entre os
respectivos juízos, inerente à competência absoluta, inviabilizando a reunião dos processos.
- Em se tratando de penhora no rosto dos autos, a competência será do próprio juízo onde efetuada tal
penhora, pois é nele que se concentram todos os pedidos de constrição. Ademais, a relação jurídica
processual estabelecida na ação em que houve as referidas penhoras somente estará definitivamente
encerrada após a satisfação do autor daquele processo. Outro ponto que favorece a competência do juízo
onde realizada a penhora no rosto dos autos é sua imparcialidade, na medida em que nele não tramita
nenhuma das execuções, de modo que ficará assegurada a total isenção no processamento do concurso
especial.
- O concurso especial deverá ser processado em incidente apartado, apenso aos autos principais, com a
intimação de todos aqueles que efetivaram penhora no rosto dos autos, a fim que seja instalado o
contraditório e respeitado o devido processo legal, na forma dos arts. 711 a 713 do CPC. O incidente
estabelece verdadeiro processo de conhecimento, sujeito a sentença, em que será definida a ordem de
pagamento dos credores habilitados, havendo margem inclusive para a produção de provas tendentes à
demonstração do direito de preferência e da anterioridade da penhora.
Recurso especial parcialmente provido”. (REsp 976.522/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, 3ª TURMA, j.
02.02.2010, DJe 25.02.2010).

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