Você está na página 1de 25

Direito Civil Processual Civil II

Professor LEONARDO VIEIRA

Aula 02

Introdução, Conceito, Classificação

1
2.1. Histórico – Alterações Legislativas – Processo
Sincrético – Autonomia da Execução

O processo de conhecimento pode ser condenatório,


constitutivo ou declaratório (arts. 19 e 20). Estes dois últimos
não dão ensejo à execução civil, porquanto a sentença cumprese
automaticamente, sem nenhuma providência do réu. Só a
sentença condenatória dá ensejo à execução.

Antes da Lei n. 11.232/2005, o processo de conhecimento, de


cunho condenatório e o de execução que lhe seguia eram

2
considerados dois processos distintos, com funções diferentes.
Isso exigia que o devedor fosse citado para o processo de
conhecimento e depois, para o de execução.

Após a lei, os dois processos passaram a constituir duas fases


distintas de um processo único. O anterior processo de
conhecimento condenatório tornou-se fase cognitiva
condenatória, e o antigo processo de execução por título judicial
tornouse fase, que o legislador denominou de “cumprimento de
sentença”, mas que não deixa de ser a fase de execução . Com

3
isso, basta que o devedor seja citado uma única vez, na fase
inicial do processo.

A rigor, a alteração foi mais de nomenclatura do que de


estrutura. Tudo aquilo que acontecia antes, da petição inicial até
a satisfação do julgado, continua se realizando, com muito
poucas alterações.

Apenas o que antes se denominava processo de execução


passou a chamar-se fase, tornando despicienda uma nova
citação. Todavia, cumpre destacar que quando a execução for

4
de sentença arbitral, penal condenatória ou estrangeira,
conquanto fundada em título judicial, continuará
constituindo um novo processo.

Esse processo único, que passou a conter duas fases, foi


apelidado de “sincrético”, por ter funções distintas.

A Lei n.º 11.382/2006, por sua vez, trouxe importantes


modificações no procedimento da execução de título
extrajudicial, que continua constituindo um processo autônomo,
não precedido de nenhum anterior.

5
Podese dizer que:

 têm natureza de processos autônomos as execuções


fundadas em título extrajudicial, e as execuções fundadas
em título judicial, quando de sentença arbitral, penal
condenatória ou estrangeira;

 NÃO têm natureza de processo autônomo as


execuções fundadas em título judicial, com as exceções
acima mencionadas.

6
2.2. Introdução – Diferenças entre Processo de
Conhecimento e de Execução

A função do Poder Judiciário é solucionar os conflitos de


interesses. Há alguns que, levados a juízo, se resolvem pelo
simples pronunciamento judicial, sem necessidade, para a
satisfação do titular do direito, de algum tipo de comportamento
do obrigado.

É o que ocorre quando o conflito advém apenas da incerteza


quanto à existência ou não de determinada relação jurídica.

7
Por exemplo: A pensa que B é seu pai, mas este não reconhece
essa qualidade. A então propõe em face de B ação de
investigação de paternidade, para que a dúvida seja sanada.

O juiz colhe as provas e, ao final, profere sentença que,


transitada em julgado, terá o condão de afastar a dúvida, sem a
necessidade de qualquer conduta ou comportamento do réu. O
efeito almejado advém da sentença em si.

O mesmo vale para os conflitos cuja solução depende tão


somente da constituição ou desconstituição de uma relação

8
jurídica. Se A celebra com B um contrato, porque foi coagido,
bastará que postule judicialmente a sua anulação.

Se o juiz acolher a pretensão, em definitivo, o contrato estará


anulado, independentemente de qualquer conduta do réu. A
satisfação advém do pronunciamento judicial.

Mas há casos em que ela depende de um comportamento,


de uma ação ou omissão do réu. O titular da obrigação só se
satisfará se o réu cumprir uma prestação, de fazer, não
fazer, entregar coisa ou pagar determinada quantia.

9
Se o devedor da obrigação não a cumpre, o que fazer? O
Estado, por meio da lei, mune o Poder Judiciário de poderes
para impor o cumprimento, ainda que contra a vontade do
devedor, no intuito de satisfazer o credor. Não fosse assim, o
litígio só seria solucionado por meio da autotutela, o que não se
admite nos Estados modernos, salvo algumas exceções.

Para que o Estado-juiz possa desencadear a sanção executiva,


fazendo uso dos mecanismos previstos em lei para a satisfação
da obrigação, é preciso que esta esteja dotada de um grau
suficiente de certeza.

10
Afinal, isso implicará que o Estado tome medidas que podem ser
drásticas contra o devedor, invadindo, se necessário, o seu
patrimônio, para alcançar o resultado almejado.

Esse grau de certeza é dado pelo título executivo. A lei


considera como tais alguns documentos extrajudiciais,
produzidos sem a intervenção do Judiciário, mas aos quais se
reconhece esse grau suficiente de certeza. Esses documentos
permitirão a instauração do processo de execução.

11
Na ausência deles, o titular da obrigação deve ingressar em juízo
com um processo de conhecimento para que o Judiciário
reconheçalhe o direito de fazer cumprir a obrigação. Se o fizer e
o devedor não a satisfizer espontaneamente, terá início a fase de
cumprimento da sentença (ou fase de execução).

O que distingue, portanto, o processo (ou fase) de


conhecimento do processo (ou fase) de execução é, antes
de tudo, a finalidade de um e de outro.

12
No primeiro, o que se busca é uma sentença, em que o juiz diga
o direito, decidindo se a pretensão do autor deve ser acolhida em
face do réu ou não.

No segundo, a finalidade é que o juiz tome providências


concretas, materiais, que tenham por objetivo a satisfação do
titular do direito, consubstanciado em um título executivo.

No primeiro, o juiz resolve a dúvida, a incerteza, a respeito da


pretensão do autor; no segundo, ele toma as providências

13
necessárias para satisfação do credor, diante do inadimplemento
do devedor.

2.3. Instrumentos de Sanção Executiva – Sub-rogação e


Coerção

Quando o devedor não cumpre espontaneamente a obrigação,


de que meios podese valer o Judiciário para promover a
satisfação do credor?

Eles podem ser agrupados em duas categorias: os de sub-


rogação e os de coerção.

14
Os primeiros são aqueles em que o Estadojuiz substitui o
devedor no cumprimento. Por exemplo: se ele não paga, o
Estado apreende bens suficientes do seu patrimônio, e com o
produto da excussão, paga o credor. Ou, uma vez que o devedor
não entrega o bem que pertence ao credor, o Estado o tira do
primeiro e entrega ao segundo. Ou ainda, se o devedor não
cumpre a obrigação de pintar um muro, a Estado autoriza a
contratação de um outro pintor, que o faça, às expensas do
devedor. Aquele pagamento, entrega de coisa ou serviço, que

15
era para o devedor cumprir voluntariamente, mas não cumpre, o
Estado realiza no seu lugar.

A outra técnica é a da coerção, que se distingue da anterior,


porque visa não a que prestação seja realizada pelo Estado, no
lugar do devedor; mas que seja cumprida pelo próprio devedor.
Para tanto, a lei mune o juiz de poderes para coagi-lo a cumprir
aquilo que não queria espontaneamente, como, por exemplo, o
de fixar multas diárias, que forcem o devedor.

16
Este último instrumento, conquanto possa ser utilizado para o
cumprimento de todos os tipos de obrigação, é particularmente
útil naquelas de caráter personalíssimo, que, por sua natureza,
não podem ser objeto de subrogação. Por exemplo: se o
devedor, pintor famoso, comprometeu-se a pintar um quadro
para determinada exposição, o Estado não terá como
substituí-lo no cumprimento da obrigação, dada a sua
natureza pessoal, mas poderá impor uma multa,
suficientemente amedrontadora, para cada dia de omissão,

17
que pressione a vontade do devedor para que ele realize
aquilo para que estava obrigado.

2.4. Classificação das Execuções

São várias as classificações da execução civil. Nos itens


seguintes, serão examinadas as principais.

a) Execução mediata e imediata

A primeira é aquela que se aperfeiçoa com a instauração


de um processo, no qual o executado deve ser citado; a
segunda, aquela que se realiza sem novo processo, como uma

18
sequência natural da fase de conhecimento que lhe antecede.
No Brasil, são imediatas as execuções por título judicial, salvo as
fundadas em sentença arbitral, penal condenatória ou decisão
estrangeira.

b) Execução por título judicial ou extrajudicial

Toda execução há de estar fundada em título executivo, que


poderá ser judicial ou extrajudicial, conforme a sua origem. São
títulos judiciais e extrajudiciais aqueles previstos no NCPC.

19
Art. 515. São títulos executivos judiciais, cujo
cumprimento dar-se-á de acordo com os artigos previstos
neste Título:
I - as decisões proferidas no processo civil que
reconheçam a exigibilidade de obrigação de pagar
quantia, de fazer, de não fazer ou de entregar coisa;
II - a decisão homologatória de autocomposição judicial;
III - a decisão homologatória de autocomposição
extrajudicial de qualquer natureza;
IV - o formal e a certidão de partilha, exclusivamente em
relação ao inventariante, aos herdeiros e aos sucessores
a título singular ou universal;

20
V - o crédito de auxiliar da justiça, quando as custas,
emolumentos ou honorários tiverem sido aprovados por
decisão judicial;
VI - a sentença penal condenatória transitada em julgado;
VII - a sentença arbitral;
VIII - a sentença estrangeira homologada pelo Superior
Tribunal de Justiça;
IX - a decisão interlocutória estrangeira, após a concessão
do exequatur à carta rogatória pelo Superior Tribunal de
Justiça;
Art. 784. São títulos executivos extrajudiciais:

21
I - a letra de câmbio, a nota promissória, a duplicata, a
debênture e o cheque;
II - a escritura pública ou outro documento público
assinado pelo devedor;
III - o documento particular assinado pelo devedor e por 2
(duas) testemunhas;
IV - o instrumento de transação referendado pelo
Ministério Público, pela Defensoria Pública, pela
Advocacia Pública, pelos advogados dos transatores ou
por conciliador ou mediador credenciado por tribunal;
V - o contrato garantido por hipoteca, penhor, anticrese ou
outro direito real de garantia e aquele garantido por
caução;

22
VI - o contrato de seguro de vida em caso de morte;
VII - o crédito decorrente de foro e laudêmio;
VIII - o crédito, documentalmente comprovado, decorrente
de aluguel de imóvel, bem como de encargos acessórios,
tais como taxas e despesas de condomínio;
IX - a certidão de dívida ativa da Fazenda Pública da
União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios,
correspondente aos créditos inscritos na forma da lei;
X - o crédito referente às contribuições ordinárias ou
extraordinárias de condomínio edilício, previstas na
respectiva convenção ou aprovadas em assembleia geral,
desde que documentalmente comprovadas;

23
XI - a certidão expedida por serventia notarial ou de
registro relativa a valores de emolumentos e demais
despesas devidas pelos atos por ela praticados, fixados
nas tabelas estabelecidas em lei;
XII - todos os demais títulos aos quais, por disposição
expressa, a lei atribuir força executiva.
***A distinção entre esses dois tipos de execução tornouse mais
relevante, pois, em regra, a de título judicial é imediata, sem
novo processo (salvo a fundada em sentença arbitral, estrangeira
ou penal condenatória) e a por título extrajudicial sempre implica
a formação de processo autônomo.

24
2.5. Conceito

Executar é satisfazer uma prestação devida. A presente


disciplina se dedicará ao estudo da execução forçada no âmbito
da jurisdição civil de acordo com o Novo Código de Processo
Civil, o qual está disposto do art. 771 à 925.

25

Você também pode gostar