Você está na página 1de 28

1

PROCESSO CIVIL

Noção de processo civil

Em sentido jurídico, processo civil é uma sequência de actos destinados à


resolução de um litígio ou conflito de interesses, por um órgão imparcial de autoridade,
ou seja, um tribunal. Quando este conflito diz respeito a interesses privados, entra-se no
domínio do processo civil.
O direito subjectivo, normalmente, atribui a uma das partes um direito subjectivo,
impondo o dever jurídico correlativo à outra parte, sendo que, o processo civil tem por
objectivo integrar, fazer correr o processo, pois sozinho não é nada, necessita de um
conflito para que seja necessária a sua utilização e esse conflito só existe quando é
desrespeitado um direito subjectivo.
O processo civil é uma das formas de fazer respeitar as normas jurídicas, mas
existe também a possibilidade do emprego da força por parte do titular do direito
subjectivo, ou seja, a acção directa. Contudo, este sistema de auto defesa não seria o
mais justo porque em vez de resolver os conflitos de interesses seria uma fonte de
geradora de outros conflitos.
Por estas razões o artº 1º CPC proíbe a autodefesa excepto nos casos previstos na
lei, sendo que, os requisitos para que esta se possa verificar se encontram descritos no
artº 336º CC e são:

-a existência de um direito próprio;

-impossibilidade de recorrer em tempo útil aos meios coercivos normais;

-que seja indispensável a acção directa para evitar a inutilização prática do direito;

-que o agente não exceda o que for necessário para evitar o prejuízo;

-que a acção directa não sacrifique interesses superiores aos que o agente visa
realizar ou assegurar;

A acção directa está prevista em vários artigos do Código Civil, como por
exemplo, 1277º ou 1314º, constituindo estas as excepções, na medida em que é
geralmente vedado aos particulares o recurso à força própria, obrigando-se o estado,
através de órgãos próprios que são os tribunais, a conceder ao titular do direito violado a
reintegração efectiva do seu direito.
Os tribunais judiciais são órgãos de soberania com competência para administrar
a justiça em nome do povo, sendo que, as suas decisões são obrigatórias para todas as
entidades públicas e privadas e prevalecem sobre as de quaisquer outras autoridades.
Segundo o artº 2º nº 2 CPC a todo o direito corresponde a acção adequada a fazê-
lo reconhecer em juízo. Mas isto não basta, uma vez que existem pessoas que não têm
possibilidades económicas para suportar os custos de uma acção. Tornou-se necessário
eliminar os entraves de ordem económica, possibilitando o acesso à protecção jurídica a
2

quem se encontre em insuficiência económica, o que se regulou no na Lei nº. 34/2000, de


29 de Julho.
Tal como expressa o artº. 3º nº 1 CPC é aos particulares que cabe pôr em
funcionamento a maquina jurisdicional, ou seja, é por meio da propositura de uma acção
que o titular de um direito pode desencadear a actividade do tribunal para que este dirima
o conflito, sendo que, esta segue os trâmites ditados pela lei processual civil.

Características do Direito Processual Civil

Direito instrumental ou adjectivo

As suas normas contêm os trâmites que devem ser percorridos de modo a


alcançar-se a resolução final do conflito, obtida pela decisão final do tribunal, tornando-
se num instrumento ao serviço da resolução do conflito.
A solução assenta em normas do direito civil, um direito substantivo, o que
implica que a acção se destina à realização do direito subjectivo, ou seja, o direito
processual apenas indica os meios para se obter a decisão do caso concreto.
Uma vez que o direito processual não regula os conflitos surgidos entre os
particulares, as suas normas são, de um modo geral, de aplicação imediata, ou seja,
aplica-se a todos os actos que vierem a praticar-se, porque se parte do princípio de que,
quando se alterou a lei, foi por se considerar que a anterior era menos perfeita para a
administração da justiça, tal como expressa o artº. 141º nº 2 CPC.

Norma de direito público

Regula o exercício de uma função do estado representado pelos tribunais, sendo


que, na relação que se estabelece entre o estado e as partes, aquele aparece revestido do
seu poder de império, encontrando-se as partes numa posição de subordinação, o que
acaba por explicar a força vinculativa de que gozam as decisões judiciais.

Importância do Direito Processual Civil

O deficiente conhecimento das normas processuais pode comprometer o êxito da


pretensão do autor de uma acção.
Com as diversas reformas que têm sido levadas a cabo, tem-se procurado
assegurar a prevalência da justiça material sobre a formal, tornando menos gravosas as
consequências do desconhecimento do direito processual, tentando-se eliminar todos os
obstáculos injustificados à obtenção de uma decisão de mérito, sendo disto exemplo o artº
508º nº 1 b) CPC.
Contudo é impossível eliminar todas essas consequências. É o que acontece, por
exemplo, com o ónus de alegar (artº. 690º nº 3 e 291º nº 2 CPC) e de provar os factos
capazes de fundamentar a decisão final (artº 342º CC).
3

A importância do processo civil evidencia-se também, por exemplo, no facto de a


parte vencedora poder ser condenada a suportar o pagamento das custas relativamente aos
actos supérfluos a que deu azo – artº 448º CPC.

Espécies de acções

Nos termos do artº 4º CPC, as acções são declarativas ou executivas consoante o


seu fim.
Nas acções declarativas o autor procura que o tribunal declare a solução, com
fundamento num direito substantivo, para um determinado caso, determinando o tribunal
a existência ou inexistência do direito invocado.
As acções executivas visam a realização coerciva das providências destinadas à
efectiva reparação do direito violado, pois, nos termos do artº 817º CC, não sendo a
obrigação voluntariamente cumprida, tem o credor o direito de executar o património do
devedor, designadamente através da penhora.
A diferença reside no facto de na acção declarativa ser declarada a vontade da lei,
visando a acção executiva a verificação ou execução dessa vontade.
Conforme o artº. 4º nº 2 CPC as acções declarativas podem ser:

De simples apreciação

Visam unicamente obter a declaração da existência ou inexistência de um direito,


põem termo a uma situação de incerteza, prevenindo os litígios. Podem ser positivas
quando o autor pretende que o tribunal declare a existência de um direito ou negativas
quando o autor pretende que seja declarado que um direito não existe, sendo que, cabe ao
réu a prova da existência do direito a que se arroga – artº. 343º nº 1 CC.
Como exemplo de uma acção de simples apreciação pode referir-se a acção
destinada a declarar a existência ou não de uma servidão de passagem.

De condenação

Quando o autor propõe uma acção de condenação, pretende não só que seja
declarado o seu direito, mas também que o réu seja condenado à reintegração desse
mesmo direito, pressupondo a sentença de condenação uma prévia declaração da
existência do direito.
Como exemplo pode-se referir o caso do incumprimento de uma obrigação, em
que o credor pretende que depois de declarado o seu direito, o tribunal condene o réu à
prestação devida e à indemnização referente aos danos causados.
4

Constitutivas

São, na generalidade dos casos, o meio processual adequado ao exercício de


certos direitos potestativos, que se tratam de um meio de introduzir uma alteração na
esfera jurídica de determinada pessoa – criando, extinguindo ou modificando direitos –
sem a cooperação desta.
É o que se verifica, por exemplo, na acção de divórcio em que o tribunal,
verificados certos pressupostos, determina a extinção ou modificação da relação
matrimonial – artºs. 1779º, 1788º e 1794º do CC. É também constitutiva a acção de
investigação de paternidade ou maternidade, o pedido de servidão de passagem (artº.
1550º CC), etc.. Em todas estas acções não se pede a realização de qualquer prestação,
visto que elas se destinam a produzir efeitos jurídicos independentemente da vontade do
réu.

Em suma, em todas as acções se visa o reconhecimento de um direito. É no que


vem a seguir que reside o traço diferenciador.

Procedimento cautelares

Razão da sua existência

De modo a evitar que, em virtude da demora excessiva da sentença (periculum in


mora), esta, quando vier a ser proferida, acabar por perder o efeito prático, tornou-se
necessário obter a composição de litígios de uma forma rápida, embora provisória. Assim
surgem as providências cautelares, uma providência provisória, destinada a durar
somente enquanto não se profere o julgamento definitivo e que pretende evitar os
eventuais prejuízos provenientes do tempo que demora o decurso normal de uma acção.
Para que seja decretada necessita de um breve exame e instrução, durante os quais o juiz
tem de convencer-se apenas da probabilidade da existência do direito e do perigo
invocado.
Com o fim de evitar o periculum in mora, ou seja, o prejuízo da demora inevitável
do processo, o artº 2º nº 2 CPC prevê os procedimentos necessários para acautelar o
efeito útil da acção – os procedimentos cautelares previstos nos artºs. 381º e ss CPC.

Classificação quanto à finalidade

Tal como especifica o artº. 381º nº1 CPC, as providências cautelares podem ser
conservatórias se visam manter a situação de facto anterior por forma a prevenir uma
alteração que se prevê como prejudicial (exemplos: arresto, arrolamento, embargo de
obra nova e suspensão das deliberações sociais) ou antecipatórias que visam obstar a
que se verifiquem prejuízos ocasionados pela demora de decisão definitiva, constituindo
uma antecipação provisória dos efeitos dessa decisão, como por exemplo, os alimento
provisórios e a restituição provisória da posse.
5

Providências cautelares não especificadas

A lei define várias providências cautelares, tipificadas na lei ou nominadas, mas,


na impossibilidade de prever todas as situações, admite a possibilidade de ser requerida
uma providência cautelar comum ou inominada, só podendo esta ser requerida quando a
situação não se poder enquadrar em nenhuma daquelas previstas na lei.

Carácter instrumental

O procedimento cautelar é sempre dependente da acção que tenha por fundamento


o direito acautelado e pode ser instaurada como preliminar (antes de instaurada a acção)
ou como incidente (no decurso) de uma acção – artº. 383º nº1 CPC. Assim, a providência
em que se pede a prestação de alimentos é sempre dependente da acção de alimentos
definitivos e o arrolamento pode ser dependente da acção de divórcio.
Em suma, o procedimento cautelar pressupõe sempre um processo definitivo, daí
resultando o seu carácter instrumental.
Quando o procedimento é requerido antes, é sujeito a distribuição mas o processo
será apenso ao da acção principal logo que ela seja proposta – artº. 383º nº2 CPC.
Sendo o procedimento cautelar requerido na pendência da acção principal, como
incidente desta, não será sujeito a distribuição pois terá de correr onde corre a acção
principal – artº. 383º nº4 CPC.
A decisão a proferir na acção impõe-se à decisão do procedimento, porque
enquanto a primeira visa impor o direito depois de uma averiguação com respeito dos
princípios e garantias, a decisão do procedimento cautelar visa acautelar o efeito útil da
acção (artº. 2º CPC), baseando-se em meros juízos de probabilidade (artº. 384º nº 1 CPC).
Nos termos do artº. 389º nº1 CPC, o procedimento cautelar extingue-se:

-se a acção principal não for proposta dentro de 30 dias;

-se depois de proposta a acção, o processo estiver parado mais de 30 dias por
negligência do requerente;

-se a acção principal vier a ser julgada improcedente;

-se o réu for absolvido da instância e o requerente não propuser nova acção em
tempo de aproveitar os efeitos da proposição anterior (artº. 289º nº 2 CPC);

-se o direito que o requerente pretende acautelar se tiver extinguido;

Se a providência cautelar caducar por facto imputável ao requerente, este


responde pelos danos causados ao requerido, quando não tenha agido com a prudência
normal – artº. 390º nº 1 CPC.
Depois de ter sido julgada improcedente a providência cautelar, só é possível
requerer outra com uma nova causa de pedir, ou seja, com novos fundamentos.
6

Carácter provisório

A providência cautelar tem um carácter iminentemente provisório em virtude de


ser analisada preliminar e sumariamente, tentando evitar uma lesão do direito do
requerente (artº. 381º nº1 CPC), ou seja, evitar o periculum in mora, sendo que, só dura
enquanto não é proferida a decisão final.

Celeridade

Dado que se destina a prevenir o perigo da demora inevitável do processo, o


procedimento cautelar necessita de ter uma estrutura mais rápida e simplificada, sendo
que, na apreciação dos seus requisitos o juiz não tem a mesma exigência do que na acção
principal, pois neste caso o juiz não emite uma decisão definitiva mas apenas um juízo
provisório. Assim basta apenas a probabilidade séria da existência do direito – artºs. 384º
nº1 e 387º nº1 CPC.
Trata-se de uma apreciação sumária – summaria cognitio – da existência do
direito, contentando-se o juiz com uma aparência do direito – fumus bonis juris.
A apreciação sumária justifica que sejam decretadas certas providências
cautelares sem prévia audição do requerido, constituindo uma excepção ao artº. 3º nº2
CPC. Nalguns casos é mesmo proibida, como acontece na restituição provisória da posse
no caso de esbulho violento (artº. 394º CPC e 1279º CC) e do arresto (artº. 408º nº1).
Noutros casos é permitido mas não obrigatório – artº. 385º nº1 CPC.
Segundo este último artigo, a audiência da parte contrária só será dispensada se
puser em risco sério o fim ou eficácia da providência requerida, assumindo um carácter
excepcional, devendo assumir estas excepções um carácter proporcional ao valor
subjacente às finalidades que se pretendem acautelar. Com isto o princípio do
contraditório não é definitivamente afastado, pois será observado em momento posterior,
dando hipótese ao requerido de se defender.
Devido à celeridade nunca há citação edital – artº. 385º nº4 CPC e dá às
providências cautelares um carácter urgente, fazendo com que precedam qualquer outro
serviço judicial não urgente – artº. 382º nº1 CPC. Como consequência desta urgência, os
respectivos prazos processuais não se suspendem durante as férias judiciais – artº. 144º
nº1.
Tendo ainda em vista a celeridade, os procedimentos cautelares têm que ser
decididos em primeira instância num prazo máximo de dois meses ou se o requerido não
tiver sido citado num prazo máximo de 15 dias – artºs. 385º nº1, 394º e 408º nº1 CPC.

Procedimentos cautelares especificados

Restituição provisória da posse

Constitui um meio de defesa nas mãos do possuidor, nos casos em que dela tenha
sido esbulhado de forma violenta, estando prevista nos artºs.1276º, 1277º e 1279º CC e
393º e ss CPC.
7

Posse é o poder que se manifesta quando alguém actua por forma correspondente
ao exercício do direito de propriedade ou de outro direito real – artº. 1251º CC, sendo
que, esta providência cautelar só deve ser requerida nos casos de esbulho violento. No
caso de o esbulho não ser violento, o possuidor esbulhado pode requerer um
procedimento cautelar comum – artº. 395º CPC.
De acordo com o artº. 336 CC, em caso de apenas perturbação, o possuidor pode
manter-se pela sua própria força e autoridade e se já tiver sido esbulhado sem violência
pode, nas mesmas circunstâncias, restituir-se pela sua força e autoridade (acção directa)
ou recorrer ao tribunal para que lhe seja restituída a posse.
A restituição provisória da posse é dependente de uma acção de restituição
definitiva da posse.
Na verdade os requisitos desta providência são a posse, o esbulho e a violência,
como resulta do exposto no artº. 393º CPC, faltando-lhe a característica do periculum in
mora, uma vez que, o requerente não precisa de alegar que corre riscos em virtude da
demora previsível da acção definitiva.
Trata-se de uma providência cautelar excepcional também porque decorre sem
audiência do esbulhador, o que contraria o princípio do contraditório
O valor do procedimento cautelar é determinado pelo valor da coisa esbulhada –
artº. 313º nº3 b) CPC.
O artº. 1282º CC estabelece que a acção de restituição caduca se não for intentada
dentro do ano subsequente ao esbulho, tendo o mesmo que se considerar extensível à
providência cautelar, dado o seu carácter instrumental.

Suspensão de deliberações sociais

Tem lugar quando há uma deliberação que viola o contrato social ou a lei e é
ofensiva do direito dos sócios. Neste caso, qualquer dos sócios pode requerer que seja
suspensa a deliberação social – artº. 396º CPC.
Tem legitimidade para intentar a providência cautelar quem tiver a qualidade de
sócio, sendo os outros requisitos para além da legitimidade e como resulta do artº. 396º
nº1 CPC, ter sido a deliberação contrária à lei ou ao pacto social e resultar da sua
execução dano apreciável.
O prazo para instaurar a acção é de 10 dias e conta-se a partir da data da
assembleia em que foram tomadas – artº. 396º nºs. 1 e 3 CPC.
Ainda que a deliberação seja contrária à lei, aos estatutos ou ao contrato, o juiz
pode deixar de suspendê-la, desde que o prejuízo resultante da suspensão seja superior ao
que derivar da execução – artº. 397º nº2 CPC.

Alimentos provisórios

Segundo o artº. 399º CPC, o interessado pode requerer ao tribunal a fixação da


quantia mensal que deve receber, a título de alimento provisórios, enquanto não houver
pagamento da primeira prestação definitiva. Por alimentos entende-se tudo o que é
indispensável ao sustento, habitação e vestuário. Este é o conceito de alimentos
8

definitivos. Tratando-se de alimento provisórios, o conceito é mais restrito, visto que


apenas abrange o que se considera estritamente necessário para a satisfação daquelas
necessidades – artº. 399º nº2 CPC.
A ideia de que os alimentos provisórios são uma antecipação dos definitivos está
contida no artº. 2007º nº1 CC, estabelecendo-se neste preceito a distinção entre alimentos
provisórios devidos a maiores e menores, facultando ao tribunal, quanto a estes, a sua
fixação oficiosamente, sendo um exemplo desta situação o previsto no artº. 1407º nº7
CPC.
A prestação alimentícia provisória também engloba as despesas da acção, quando
o requerente não possa beneficiar do apoio judiciário – artº. 399º nº2 CPC.
Os alimentos devem ser fixados em prestações pecuniárias mensais – artº. 2005
nº1 CC, e são devidos a partir do primeiro dia do mês subsequente à data de dedução do
respectivo pedido – artº. 401º nº1 CPC.
Os alimentos definitivos são devidos deste a propositura da acção – artº. 2006º
CC, não havendo lugar em caso algum à restituição dos alimento provisórios recebidos –
402º CPC.
O requerente de alimento provisórios só responde pelos danos causados com a
improcedência ou caducidade da providência se tiver actuado de má fé – artº. 402º CPC.
Nos termos do disposto no artº. 400º CPC, recebida a petição de alimentos
provisórios, o juiz designa logo dia para o julgamento, o que não afasta a possibilidade de
proferir um despacho de indeferimento liminar ou de aperfeiçoamento.
É na própria audiência de julgamento que o requerido apresentará a contestação
ou oferecerá os respectivos meios de prova, sendo as partes advertidas de que devem
comparecer pessoalmente na audiência, ou fazerem-se representar, sendo nítida a
intenção do legislador de que a decisão seja tomada por consenso entre as partes. Neste
sentido, determina o artº. 400º nº2 CPC que o juiz procurará obter a fixação de alimentos
por acordo, que logo homologará por sentença.
O valor do procedimento cautelar é determinado pelo valor da mensalidade
pedida multiplicada por doze – artº. 113º nº3 a) CPC.

Arresto

Nos termos do artº. 619º CPC o credor que tenha o justo receio de perder a
garantia patrimonial do seu crédito, pode requerer o arresto dos bens do devedor, sendo
que o artº. 406º dispõe que, o arresto consiste na apreensão judicial dos bens do devedor,
requerida pelo credor que tenha justificado receio de perder a garantia patrimonial do seu
crédito – artº. 406 CPC.
É, como se vê, uma providência de carácter preventivo que se destina à
manutenção da garantia patrimonial com o fim de assegurar a respectiva execução.
O arresto que for intentado como incidente (no decorrer da acção), deve ser
instaurado no tribunal em que decorre a acção principal e processado como apenso nesta
– artº. 383º nº3 CPC.
No caso de o arresto ser requerido como preliminar, é competente tanto o tribunal
onde deva ser proposta a acção principal como o do lugar onde os bens se encontram –
artº. 83º nº1 CPC.
9

Ao arresto são aplicáveis as disposições relativas à penhora – artº. 406º nº2 CPC,
sendo que só são passíveis de arresto os bens penhoráveis. Não são passíveis de penhora
os bens absolutamente ou totalmente impenhoráveis – artº. 822º CPC, nem os
relativamente penhoráveis – artº. 823º CPC. Aliás o arresto constitui na prática uma
antecipação da penhora, na qual se pode converter – artº. 846º CPC.
O arresto pode decorrer na dependência de uma acção declarativa, cujo objecto
seja a condenação no cumprimento de certa obrigação, como de uma acção executiva
destinada ao cumprimento coercivo da obrigação imposta por sentença.
Na petição inicial devem ser mencionado os factos reveladores da existência do
crédito e do justificado receio de que venha a perder a garantia patrimonial, bem como, a
relação dos bens a apreender.
Examinadas as provas, o arresto é decretado, sem audiência da parte contrária,
desde que se mostrem preenchidos os requisitos legais – artº. 408º nº1 CPC, verificando-
se, assim, a inobservância do princípio do contraditório, pois o legislador, tendo em conta
a finalidade do arresto que é evitar a dissipação dos bens para manter a garantia
patrimonial, considerou que este fim era suficiente para se dispensar, nesta fase, a
audiência da parte contrária.
Depois de ter sido notificado pessoalmente, o arrestado pode impugnar a decisão
– artºs. 385º nº6 e 388º CPC.
Se o arresto houver sido requerido em mais bens que os suficientes para a
segurança normal do crédito, reduzir-se-á a garantia aos justos limites.
O arresto fica sem efeito nas situações previstas no artº. 389º CPC e também no
caso de, depois de decisão favorável já transitada em julgado, o credor insatisfeito não
promover execução dentro dos dois meses subsequentes, ou se, promovida a execução, o
processo ficar sem andamento durante mais de trinta dias por negligência do exequente -
artº. 410º CPC.
No caso de o arresto ser requerido preliminarmente a acção deve ser proposta no
prazo de 10 dias – artº. 389º CPC. Sendo requerido como incidente deve ser
impulsionado nos termos do artº. 389º nº1 b) CPC.
O valor do procedimento cautelar é determinado pelo montante do crédito que se
pretende garantir – artº. 313º nº3 c) CPC.

Embargo de obra nova

Através desta providência cautelar, o interessado pode requerer a suspensão de


uma obra que seja ofensiva do seu direito de propriedade – artº. 412º nº1 CPC, sendo que,
este embargo pode ser efectuado por via extra-judicial, ou seja, notificando verbalmente,
perante duas testemunhas o dono da obra, tendo de proceder à ratificação judicial no
prazo de cinco dias – artº. 412º nºs 2 e 3 CPC.
Trata-se de uma providência cautelar por meio da qual se tente impedir a
continuação da obra até que o litígio seja decidido na acção principal.
Esta providência cautelar não tem justificação no caso de a obra já se encontrar
concluída e no caso de ainda não ter sido iniciada – artº. 412º nºs 1 e 2 CPC.
Tendo sido decretado o embargo, é elaborado um auto em que se descreve
minuciosamente o estado da obra – artº. 418º CPC, tendo a descrição do estado da obra a
finalidade de se poder constatar se, apesar do embargo, a obra foi continuada.
10

Se apesar do embargo a obra continuar, tem o requerente o direito de requerer que


seja destruída a parte inovada – artº. 420º CPC, sendo que, a continuação da obra depois
do respectivo embargo só é possível nos casos previstos no artº. 419º CPC.
O embargo da obra nova é dependente da acção principal em que se pede a
demolição da obra.
O valor do procedimento cautelar é determinado pelo prejuízo que se quer evitar –
artº. 313º nº3 b) CPC.

Arrolamento

Havendo justo receio de extravio, ocultação ou dissipação de bens, móveis ou


imóveis, ou de documento, pode requerer-se o arrolamento deles – artº. 421º nº1 CPC.
Existe uma certa semelhança entre o arrolamento e o arresto, na medida em que,
com este se pretende evitar o extravio ou dissipação dos bens e o primeiro serve para
assegurar a garantia patrimonial.
É possível a apreensão de documentos que se tornem necessários para a prova de
algum facto – artº. 532º CPC e também o arrolamento de coisas imóveis tais como os
frutos naturais que ainda estiverem ligados ao solo – artº. 204º CC.
O arrolamento pode ser requerido por qualquer pessoa que tenha interesse na
conservação dos bens ou documentos – artº. 422º nº1 CPC, tendo o requerente de fazer
prova sumária do direito relativo aos bens e dos factos em que fundamenta o receio do
seu extravio ou dissipação, sendo que no despacho do juiz far-se-á logo a nomeação de
um depositário – artº. 423º CPC, sendo que este é nomeado em conformidade com o que
dispõe o artº. 426º CPC.
O arrolamento consiste na descrição, avaliação e depósito dos bens – artº. 424º
CPC e encontra-se na dependência da acção à qual interessa a especificação dos bens ou
a prova da titularidade dos direitos relativos às coisas arroladas – artº. 421º nº2 CPC,
podendo ser requerido como preliminar ou como incidente da acção principal – artº. 427º
nº1 CPC.
Nos casos previstos no artº. 427º nº1 CPC, não se aplica o disposto no artº. 421º
nº1 CPC, ou seja, o requerente não tem a necessidade de alegar ou provar o justo receio
de extravio.
O valor do procedimento cautelar é determinado pelo valor dos bens arrolados –
artº. 313º nº3 f) CPC.

Interpretação das leis processuais

O direito processual civil não dispõe de nenhuma disposição que defina critérios
especiais para a interpretação das próprias normas, tendo, portanto, que se recorrer às
normas do direito civil, que constam do artº. 9º CC.
A interpretação da lei processual obedece às mesmas regras de qualquer outra
interpretação, dando somente uma maior relevância ao elemento sistemático, dado que o
processo é dominado por um conjunto de princípios gerais (como o do contraditório, do
11

dispositivo, da igualdade das partes, da aquisição processual, da imediação, etc.) e todas


as normas que se apresentem como desvios, devem ser interpretadas restritivamente.

Integração de lacunas

Tal como acontece nos restantes ramos do direito, também no direito processual
civil se encontram lacunas e estas situações não podem deixar de ser reguladas, pois tal
como se encontra disposto no artº. 8º CC, o tribunal não pode abster-se de julgar.
Para colmatar as lacunas terá de se recorrer à lei substantiva, sendo que, na falta
de norma que regule a situação deve ter-se em conta o artº. 10º CC.

Aplicação das leis no tempo

Também no que concerne à aplicação da lei no tempo das leis processuais se


recorre à lei civil, valendo neste caso o princípio consagrado no artº. 12º CC que
estabelece que a lei só dispõe para o futuro.
A questão é saber se, quando, depois de uma acção instaurada, é alterada a lei
processual, a nova lei apenas é aplicada às acções que vierem a ser propostas ou se, em
relação às acções já pendentes, se aplica aos novos actos que tiverem de ser nela
praticados.
Perante uma nova lei processual, a primeira coisa a ver é se a mesma dispõe de
uma norma transitória que disponha acerca da sua entrada em vigor e do seu âmbito de
aplicação que refere se se aplica ou não aos casos pendentes.
Na falta de norma transitória e segundo o artº. 142º C.P.C., será de aplicação
imediata a nova lei processual não só às acções que sejam instauradas posteriormente à
sua entrada em vigor, mas também aos actos que houverem de ser praticados nas acções
ainda não terminadas. As razões que justificam este facto são:

-o direito processual é um direito público e acima dos interesses do particulares


encontram-se os interesses públicos e se o estado resolve emitir uma nova lei é
porque considera esta mais perfeita que a anterior, o que leva a que se aplique de
imediato.

-tratando-se o direito processual de um direito adjectivo ou instrumental, não


regula os conflitos de interesses entre os particulares, pois essa é a função do
direito substantivo; assim a aplicação imediata das leis processuais não viola
quaisquer expectativas das partes quanto aos direitos que através da acção
pretendem defender.
12

Casos especiais da aplicação do princípio

Leis sobre a competência dos tribunais

Estas leis definem os critérios que hão-de servir para delimitar a jurisdição de
cada tribunal, sendo que o artº. 22º nº1 Lei 3/99 define que a competência se fixa no
momento em que a acção se propõe e o nº 2 do mesmo artigo refere que são irrelevantes
as modificações de direito que entretanto se venham a produzir, excepto se for suprimido
o órgão a que a causa está afecto.
Assim a regra é a aplicação imediata da nova lei, mas apenas quanto às acções
futuras, pois às pendentes aplicar-se-á a lei vigente no momento em que foram propostas,
o que quer dizer que, mesmo existindo alterações à lei sobre a competência dos tribunais,
o tribunal que é o competente para julgar a acção quando foi proposta, manterá a sua
competência até ao julgamento final.
Contudo o artº. 22º nº2 Lei 3/99 estabelece duas excepções:

-a primeira para o caso de a nova lei ter suprimido o órgão a que a causa estava
afecta, sendo que, neste caso, o tribunal cessa imediatamente a sua competência
logo que a nova lei inicie o seu período de vigência;

-a segunda excepção surge quando a nova lei atribua ao tribunal competência de


que inicialmente carecesse para o conhecimento de causa, como por exemplo,
num caso em que por incompetência territorial um tribunal não fosse competente
para julgar determinada questão, se entretanto surgir legislação que o torne
competente é lá que continuará o processo porque retirar o processo do tribunal
onde se encontra, que agora é competente, para enviá-lo para outro que agora não
é competente seria errado.

Leis sobre o formalismo processual

O artº. 142º nº1 CPC, consagra o princípio da aplicação imediata da nova lei não
só às acções futuras como aos actos a praticar futuramente nas acções pendentes, sendo
que, em sentido contrário e relativamente ao processo, segundo o artº. 142º nº2 CPC, a
forma de processo aplicável determina-se pela lei vigente à data em que a acção é
proposta. Assim a nova lei não tem aplicação imediata à forma do processo, pois uma
acção que tenha sido proposta sobre a forma de processo comum ou especial, ordinário,
sumário ou sumaríssimo, conserva esta mesma forma até ao final. Doutra forma, poderia
conduzir à inutilização prática de alguns actos anteriores, frustrando as legítimas
expectativas das partes.
13

Leis sobre recursos

Recursos são os meios de impugnação das decisões judiciais, facultando a


possibilidade de ser requerida a sua reapreciação por um tribunal superior – artº. 678º
CPC.
Para efeitos da sua aplicação no tempo, há que distinguir entre leis que
disponham sobre a tramitação do recurso que, por dizerem apenas respeito ao
formalismo processual têm aplicação imediata, não só aos recursos que futuramente
foram propostos, mas também aos recursos pendentes e leis que regulam a
admissibilidade de recurso, segundo as quais, a nova lei que venha admitir recurso que
a anterior o não admitia, não se aplica às decisões já proferidas pois constituiria uma
violação das expectativas fundadas na força do caso julgado.
Quando a nova lei negue recurso, nos casos em que pela anterior era permitido,
não se aplica às decisões anteriores se o recurso já tiver sido interposto, não saindo
frustradas as legítimas expectativas criadas à sombra da lei vigente.
No caso de o recurso ainda não ter sido interposto quando entrou em vigor a nova
lei, existe a propensão da doutrina no sentido de considerar a não aplicação da lei nova às
decisões que admitiam recurso no momento em que foram proferidas.
A nova lei é de aplicação imediata a todas as decisões que venham a ser
proferidas nas causas pendentes.

Leis sobre alçadas

A alçada de um tribunal corresponde ao limite do valor das causas dentro do qual


o tribunal julga sem admissibilidade de recurso ordinário, dependendo do valor da causa
e portanto da alçada a forma do processo (ordinário, sumário e sumaríssimo) – artº. 462º
CPC. Assim a lei que altere o valor da alçada pode suscitar a questão da forma do
processo, mas no que concerne a esta questão o artº. 142º nº2 CPC retira todas as dúvidas
ao afirmar que a forma do processo se determina pela lei vigente à data em que a acção é
proposta.
A admissibilidade de recurso é outra das questões que a alteração da lei sobre as
alçadas pode suscitar. A lei nova sobre a admissibilidade de recursos ordinários não é
aplicável às acções pendentes quando ela exclui um recurso admissível na vigência da lei
antiga, sendo esta a orientação que resulta da lei das alçadas, ao determinar que a
admissibilidade dos recursos por efeito de alçadas é regulada pela lei em vigor ao tempo
em que foi instaurada a acção – artº. 24º nº1 Lei 3\99.

Lei sobre as provas

Segundo o artº. 341º CC, as provas têm por função a demonstração da realidade
dos factos, são os meios de que se serve o tribunal para demonstrar a realidade dos factos
controvertidos (em que existem versões diferentes).
14

As normas reguladoras das provas podem constituir direito probatório material


que determina os meios de prova admissíveis e fixa o respectivo valor e direito
probatório formal que diz respeito ao modo de produção das provas em juízo,
determinando os actos a praticar para a sua utilização. Estas são de aplicação imediata
porque constituem mero formalismo processual.
As normas de direito probatório que regulam a admissibilidade de prova de
qualquer facto em geral também são de aplicação imediata, sendo que aquelas que
regulam a admissibilidade de prova que diga respeito a um facto em concreto já não têm
aplicação imediata, porque, nestes casos implicaria sujeitar as partes a uma alteração da
situação material, como é por exemplo o caso do artº. 1143º CC, que regula o contrato de
mútuo superior a um certo montante.

Leis sobre prazos judiciais

Prazo é o espaço de tempo compreendido entre o momento inicial e o final, sendo


que, a doutrina costuma classificar o prazo em legal quando é fixado pela lei e em
judicial quando é fixado pelo juiz.
O artº. 145º CPC distingue os prazos em dilatórios e peremptórios. Prazo
dilatório difere para certo momento a possibilidade de realização de um acto ou o início
da contagem de um outro prazo – artº. 145º nº2 CPC, sendo dele exemplos os prazos
constantes dos artºs. 250º nº2 e 252º - A CPC.
O decurso de prazo peremptório extingue o direito de praticar o acto, salvo caso
de justo impedimento – artº. 145º nº3 CPC, sendo dele exemplo o prazo de contestação
previsto no artº. 486º CPC.
Alem destes prazos existem também os prazos cominatórios, assim chamados
por estabelecerem uma cominação ou ameaça, sendo dele exemplo o prazo para
apresentação de documentos do artº. 523º nº2 CPC.
Quanto à alteração dos prazos deve observar-se o que dispõe o artº. 297º CC,
segundo o qual, se a lei veio encurtar um prazo peremptório ou cominatório, deve aplicar-
se imediatamente aos prazos que já estiverem em curso. Se a nova lei torna maior um
prazo peremptório ou cominatório, é também aplicável imediatamente aos prazos.
Quando a nova lei torna mais longo um prazo dilatório deve ser adoptada idêntica
solução. Se, pelo contrário, a nova lei encurta o prazo dilatório também deve aplicar-se os
prazos em curso, mas se em conformidade com a nova lei o prazo já estiver esgotado, a
dilação deve considerar-se finda no momento da entrada em vigor da nova lei, na medida
em que o contrário poderia ofender com gravidade as legítimas expectativas dos
interessados.
15

2ª Parte
Processo Comum e Processos Especiais

Os actos a praticar e as formalidades a observar não são uniformes em todas


formas de processo.
No domínio das acções declarativas e nos termos do disposto no art.º 460º nº1 do
C.P.C., o processo pode ser comum ou especial (previstos nos artºs 944º e ss do C.P.C.).
Segundo o número 2 do mesmo artigo, o processo especial aplica-se aos casos
expressamente designados na lei, enquanto que o processo comum é aplicável a todos os
casos a que não corresponda processo especial, o que significa que o processo comum
constitui a regra e o especial a excepção.
Por sua vez o processo comum divide-se em três espécies: processo ordinário,
sumário ou sumaríssimo.

Processos de jurisdição voluntária

Uma das categorias de processos especiais é o processo de jurisdição voluntária,


previsto nos artºs 1409º e seguintes.
Geralmente os processos são de jurisdição contenciosa, ou seja, através deles
procura-se decidir um conflito de interesses entre as partes, como por exemplo entre o
credor e o devedor, para tal usando o direito substantivo.
Nos processos de jurisdição voluntária não existe um conflito de interesses a
dirimir, mas apenas um interesse fundamental que o juiz procura regular da melhor forma
possível. Assim, por exemplo, numa acção de regulação do exercício de poder paternal,
embora as opiniões do progenitores sejam diferentes, procura-se defender os interesses do
filho e não a resolução de um conflito, sendo que, nestes casos a função do juiz não é
tanto de interpretar e aplicar a lei, como nos processos de jurisdição contenciosa, mas sim
de procurar a melhor solução para o caso, resolvendo caso a caso. Por isso se tem
classificado a jurisdição voluntária como uma função administrativa, por contraposição à
função jurisdicional pura da jurisdição contenciosa.
Os princípios que caracterizam os processos de jurisdição voluntária são:

Princípio do inquisitório: tal como dispõe o art.º 1409º do C.P.C., o tribunal pode
investigar livremente os factos, indicar as provas, ordenar os inquéritos e recolher
as informações convenientes, dispondo assim o juiz de um largo poder de
iniciativa, prevalecendo esta sua actividade inquisitória sobre os factos alegados
pelas partes – art.º 664º do C.P.C.

Predomínio da equidade sobre a legalidade: de acordo com o art.º 1410º do


C.P.C., o tribunal não está sujeito aos critérios de legalidade estrita, devendo
adoptar a solução que julgue mais conveniente. O juiz procurará com bom senso a
16

melhor solução para o caso em concreto, segundo um juízo de equidade, que é


uma forma de encontrar soluções baseadas na justiça de um caso concreto. Pelo
contrário, nos processos de jurisdição contenciosa o juiz deve uma obediência
rígida às normas legais – art.º 659º nº2 do C.P.C.;

Livre modificabilidade das decisões: as decisões tomadas em processo de


jurisdição voluntária não ganham a força de caso julgado, podendo ser alteradas
sempre que se modifiquem as circunstâncias que determinaram essas decisões –
art.º 1411º do C.P.C., por contraposição ao que acontece nos processo de
jurisdição contenciosa – art.º 666º do C.P.C.;

Inadmissibilidade de recurso para o S.T.J.: conforme preceitua o art.º 1411º nº2


do C.P.C., das resoluções proferidas segundo critérios de conveniência ou
oportunidade, não é admissível recurso para o S.T.J., o que significa que não
estando em causa a violação da lei substantiva não é admissível recurso para o
S.T.J.

Processo comum

No processo comum pode-se distinguir entre:

Processo declaratório: destina-se a alcançar do poder judicial a vontade da lei no


caso em apreço; o autor pede ao tribunal que declare a solução para o caso
submetido à sua apreciação.

Processo executivo: com este tipo de processo tem-se em vista a realização


coactiva da lei, ou seja, acontece no caso de o devedor não cumprir
voluntariamente a decisão do processo declaratório que lhe deu origem, sendo
que, é a parte vencedora na acção de execução que terá de propor a acção
executiva.

Toda a execução tem por base um título, onde se determinam o fim e os limites da
acção executiva – art.º 45º nº1 do C.P.C., sendo que as diferentes espécies de títulos se
encontram expressos no art.º 46º do C.P.C.

Formas de processo comum

Não cabendo, à acção que o autor pretende instaurar alguma forma de processo
especial, logicamente deve ser utilizado o processo comum.
Conforme dispõe o art.º 461º do C.P.C., o processo comum pode ordinário,
sumário, ou sumaríssimo, sendo necessário, segundo a alínea c) do nº1 do art.º 467º do
C.P.C., indicar qual a forma que o processo comum vai seguir.
17

Se o valor da causa ultrapassar o valor da alçada da relação (14963,94€),


emprega-se o processo ordinário – art.º 462º 1ª parte.
Se não exceder este valor, emprega-se o processo sumário, excepto se não
ultrapassar o valor fixado para a alçada do tribunal de comarca (3740,98€) e a acção se
destinar ao cumprimento de obrigações pecuniárias, à indemnização por dano ou à
entrega de coisas móveis, sendo que nestes caso o processo adequado é o sumaríssimo.
Assim, para que seja usado processo sumaríssimo é necessário que o valor da
acção seja inferior ao valor da alçada do tribunal de comarca e esteja em causa uma das
situações atrás referidas, sendo que, tem que se ter em conta a natureza do contrato (por
exemplo no contrato promessa o que está em causa é o incumprimento).
Do exposto ressalta a importância que o valor da causa tem na determinação do
processo comum.

Determinação do valor da causa

O art.º 467º nº1 f) do C.P.C. impõe ao autor que declare o valor da causa, sendo
esse o valor a que se atende para determinar a forma do processo, a alçada e a
competência do tribunal – art.º 305º do C.P.C..
A lei começa por formular um critério genérico para o cálculo, a que se segue a
indicação de critérios especiais. Assim sendo, há que primeiramente indagar se ao caso se
aplica algum dos critérios especiais do art.º 307º do C.P.C.. Caso contrário, o valor da
causa terá que ser encontrado pelos critérios gerais - art.º 306º do C.P.C.
O art.º 308º do C.P.C. dispõe sobre o momento a que deve atender-se para a
determinação do valor. O nº1 estabelece a regra geral, segundo a qual, deve atender-se ao
momento da propositura da acção, estabelecendo o nº2 excepções ao número anterior. O
nº3 prevê os casos em que o valor não pode ser determinado no momento em que é
instaurada a acção, definindo-se o valor definitivo no decurso desta, sendo que,
inicialmente é fixado um valor provisório.

Pressupostos processuais – Noção


Os requisitos para que a acção possa proceder são as condições da acção, ou seja,
são requisitos de natureza material que fazem com que o juiz faça ou não proceder a
acção.
Contudo, antes, impõe-se a existência de requisitos de ordem processual,
indispensáveis para que o juiz decida sobre o mérito da causa – os pressupostos
processuais, sendo que, o seu não cumprimento leva a que o juiz se abstenha de conhecer
o mérito.
Os pressupostos processuais podem ser:

-Positivos: aqueles cuja verificação é essencial para que o juiz conheça do mérito
da causa – personalidade judiciária, a capacidade judiciária, legitimidade,
interesse processual, competência do tribunal e o patrocínio judiciário.
18

-Negativos: aqueles cuja verificação obsta a que o juiz aprecie o mérito da acção –
litispendência e a existência de compromisso arbitral.

Personalidade judiciária

Noção

Dispõe o art.º 5º nº1 do C.P.C. que a personalidade judiciária consiste na


susceptibilidade de ser parte, intervindo em tribunal.
Um processo exige a existência de pelo menos duas partes – pessoas que
requerem ou contra as quais foi requerida a providência judiciária que se pretende
alcançar através da acção – em posições opostas, sendo a primeira chamada autor,
requerente ou demandante e a segunda denominada de réu, requerido ou demandado.
Têm que ficar identificadas na petição inicial – art.º 467º nº1 a) do C.P.P.
A personalidade judiciária é definida segundo o critério da coincidência, que
determina que quem tiver personalidade jurídica (capacidade de gozo de direitos) tem
também personalidade judiciária – art.º 5º nº2 do C.P.P. Assim, todas as pessoas
singulares (incluindo menores, interditos e inabilitados) e colectivas têm personalidade
judiciária.
Contudo, o critério da coincidência sofre excepções, pois a lei chega a estender a
personalidade judiciária a quem não tem personalidade jurídica – artºs 6º e 7º do C.P.C.

Consequências da falta de personalidade

A falta de personalidade jurídica não sanada (há situações em que pode ser
sanável – art.º 8º do C.P.C.), constitui uma excepção dilatória – art.º 494º c) do C.P.C.,
que faz com que haja absolvição da instância – art.º 288º do C.P.C.. A grande maioria
das excepções dilatórias são do conhecimento oficioso do tribunal – art.º 495º do C.P.C.

Capacidade judiciária

Noção

Alem de personalidade jurídica, as partes também têm que possuir capacidade


jurídica, sendo que, segundo o art.º 9º nº1 do C.P.C., capacidade jurídica consiste na
susceptibilidade de estar, por si (sozinho), em juízo. Aqueles que não possuem
capacidade judiciária, têm um representante imposto pela lei.
A capacidade judiciária tem por base a capacidade de exercício de direitos –art.º
9º nº2 do C.P.C., que é a capacidade de um individuo exercer os seus direitos pessoal e
livremente. Assim, um indivíduo pode ser titular de um direito mas não o pode exercer,
ou seja, tem capacidade de gozo de direito mas não tem capacidade de exercício. Deste
modo, só pode ser parte quem tem personalidade judiciária e para poder estar por si em
19

juízo, necessita de ter capacidade judiciária, caso contrário terá só poderá estar em juízo
por intermédio de representantes.
A capacidade judiciária, que tem por medida a capacidade de exercício, sofre uma
limitação total no que se refere aos interditos e parcial no caso dos menores e dos
inabilitados. Quanto aos menores, existem excepções à sua capacidade (art.º 127º do
C.C.), ao passo que relativamente aos inabilitados, a sentença especifica os limites da sua
capacidade judiciária – art.º 954º nº2 do C.P.C.

Modos de suprimento da incapacidade judiciária

A incapacidade de exercício é suprida pelos meios adequados previstos na lei,


sendo que, em substituição do incapaz agirá o seu representante legal (instituto da
representação) ou agirá o próprio incapaz com o consentimento de certa pessoa ou
entidade (instituto da assistência) – art.º 10º nº1 do C.P.C.
A representação legal do menor cabe aos progenitores, ao tutor ou ao
administrador de bens.
A representação legal do interdito cabe ao tutor.
A representação legal do inabilitado cabe, no todo ou em parte ao curador, sendo
que, estes podem intervir em todas as acções em que sejam parte, estando a sua
intervenção subordinada à orientação do curador, que prevalece no caso de divergência –
art.º 11º do C.P.C..

Suprimento da incapacidade judiciária dos menores

A incapacidade dos menores é suprida pelo poder paternal e, subsidiariamente


pela tutela – art.º 124º do C.C., sendo que o poder dos pais, na constância do casamento é
exercido por ambos os progenitores – art.º 1901º do C.C..
Os artºs 10º e 12º do C.P.C. regulam a representação do menor em juízo pelos
pais.
A incapacidade judiciária e a irregularidade de representação são sanadas
mediante a intervenção ou citação do representante legítimo ou do curador do incapaz –
art.º 23º nº1 do C.P.C., sendo que se estes ratificarem os actos anteriormente praticados, o
processo segue como se o vício não existisse – art.º 23º nº2 do C.P.C.
No caso de o incapaz estar por si em juízo quando só podia estar por intermédio
do seu representante legal ou do curador, verifica-se uma excepção dilatória – art.º 494º
do C.P.C.
A incapacidade judiciária pode, no entanto, ser sanada a todo o tempo pela
intervenção do representante legítimo, sendo que, se este ratificar o processado pelo
incapaz, considerar-se-á sanado o vício.
20

Suprimento da incapacidade dos interditos

Segundo o art.º 139º do C.C., o interdito é equiparado ao menor, sendo-lhe


aplicáveis, com as necessárias adaptações, as disposições que regulam a incapacidade por
menoridade – art.º 139º do C.C.
De acordo com o art.º 138º do C.C., são interditos todos aqueles que por anomalia
psíquica, sudez-mudez ou cegueira se mostrem incapazes de governar suas pessoas e
bens.

Suprimento da incapacidade dos inabilitados

A inabilitação contempla os casos em que, não estando a pessoa em estado de


incapacidade que justifique a sua interdição, se encontra, porém, com uma capacidade
reduzida, que não lhe permite administrar devidamente o seu património – art.º 152º do
C.C..
A sua incapacidade é suprida através do curador que o assiste nos actos de
disposição entre vivos e o representa nos actos que dizem respeito à administração do seu
património.
O inabilitado, quando representado pelo curador, pode intervir em todas as acções
em que seja parte, devendo ser citado quando tiver a posição de réu – art.º 13º nº1 do
C.P.C., o que a não acontecer levará à anulação do processo – art.º 194º a) do C.P.C.,
sendo que, havendo divergência prevalece a orientação do curador – art.º 13º nº2 do
C.P.C..

Legitimidade das partes

Noção

Para que o juiz possa conhecer do mérito da causa, é necessário que as partes
tenham legitimidade para a acção, ou seja, significa que o autor é o titular do direito e que
o réu é o sujeito da obrigação. Assim sendo, as partes terão legitimidade como autor e
réu.
O art.º 26º nº1 do C.P.C., define a legitimidade servindo-se do critério do directo
interesse que a parte pode ter em demandar ou em contradizer. Deste modo, o credor tem
interesse directo em pedir ao tribunal que condene o devedor a pagar a importância em
dívida e o devedor, por sua vez, tem interesse directo em intervir como réu porque é na
sua esfera jurídica que se repercutirá a eventual condenação no pagamento.
O interesse tem que ser directo. Por exemplo, um pai não pode interpor uma acção
para que paguem uma dívida a um filho.
O nº3 do art.º 26º do C.P.C., dispõe que, na falta de indicação em contrário, são
considerado legítimos os sujeitos da relação controvertida, tal como é configurada pelo
autor, sendo que, depois de intensa querela, prevaleceu a tese defendida por Barbosa de
21

Magalhães (“tal como configurara o autor”), por contraposição à tese de Alberto dos
Reis.
Actualmente a ilegitimidade evidenciar-se-á naqueles casos em que se verificar
divergência entre as pessoas identificadas pelo autor e as que realmente foram chamadas
a juízo.
Concluindo, do art.º 26º do C.P.C., conclui-se que a legitimidade não constitui
uma qualidade pessoal das partes, mas sim uma posição delas em face do processo
concreto.

Legitimidade plural

Por vezes, a acção é composta por vários autores (pluralidade activa) ou contra
vários réus (pluralidade passiva). Assim, podemos deparar com uma situação de
ilegitimidade quando não se configurem do lado activo ou do lado passivo todas as partes
que a lei ou uma convenção que tenham celebrado exijam.
Se o interesse respeitar a uma pluralidade de partes principais que se unam no
mesmo processo para discutirem uma só relação jurídica material, está-se perante um
litisconsórcio, que pode ser:

Voluntário: quando é permitido que só uma das partes tenha intervenção no


processo, embora as restantes também o possam fazer – art.º 27º do C.P.C.;

Necessário: quando é exigida a intervenção de todas as partes – art.º 29º do


C.P.C.;

Daqui se infere que a ilegitimidade plural só pode verificar-se no caso de


litisconsórcio necessário.

Litisconsórcio voluntário

Em regra, o litisconsórcio é voluntário para a generalidade das relações jurídicas


com uma pluralidade de sujeitos, ou seja, estes não têm necessariamente que intervir na
acção, tal como expressa o art.º 27º do C.P.C.. Assim, podem ocorrer várias situações:
podem os interessados propor a acção conjuntamente, pode o autor propor a acção contra
vários réus e depois de proposta a acção pode o autor ou o réu promover a intervenção de
terceiros – art.º 27º do C.P.C..
Por força do art.º 27º nº2 do C.P.C., o credor de uma obrigação solidária não
poderá obter uma decisão válida referente a todos os devedores se optar por demandar
apenas um, não deixando, contudo, de estar assegurada a legitimidade.

Litisconsórcio necessário
22

O litisconsórcio diz-se necessário quando todos os interessados devem demandar


ou ser demandados, constituindo a falta de qualquer interessado fundamento de
ilegitimidade – art.º 28º nº1 do C.P.C..
O litisconsórcio necessário pode ser:

Legal: quando é imposto por lei, como por exemplo, o caso das acções que têm
que ser propostas por ambos (legitimidade activa) ou contra ambos (legitimidade
passiva) os cônjuges – art.º 28º A do C.P.C, sendo que, segundo o nº1 deste
artigo, devem ser propostas contra ambos os cônjuges, ou por um deles com o
consentimento do outro, as acções de que possam resultar a perda ou oneração de
bens que só por ambos possam ser alienados ou a perda de direitos que só por
ambos possam ser exercidos. Os artºs 1717º e seguintes do C.C., determinam
quais os bens e direitos que só podem ser alienados ou exercidos por ambos os
cônjuges. O nº2 deste artigo refere que, no caso de a acção ser proposta só por um
dos cônjuges sem consentimento do outro, a falta pode ser judicialmente suprida
pelo art.º 1425 do C.P.C.. Verifica-se uma situação de litisconsórcio necessário
passivo quando a acção diz respeito a uma acção praticada pelos dois cônjuges,
quando respeita a dívidas comunicáveis (artºs 1691º a 1695º do C.C.), quando da
acção possa resultar a perda ou oneração dos bens que só por ambos possam ser
alienados ou a perda de direitos que só por ambos possam ser exercidos, incluindo
as acções respeitantes à casa de morada de família.

Convencional: quando o é por exigência do negócio jurídico – art.º 28º nº1 do


C.P.C.. Ocorre, por exemplo, quando duas pessoas efectuam um depósito,
convencionando que a coisa só pode ser levantada por todos os depositantes.
Neste caso, deve ser proposta por todos os depositantes a acção em que se pede a
restituição da coisa depositada.

Além dos casos de litisconsórcio necessário imposto por lei e convencional, existe
uma outra situação em que pela natureza da relação jurídica, se torna necessária a
intervenção de ambas as partes, sob pena de ilegitimidade, tal como expressa o art.º 28º
nº2 do C.P.P.. Estão incluídas nesta situação as relações jurídicas indivisíveis por
natureza, como por exemplo a acção de despejo contra ambos os cônjuges e a acção de
divisão de coisa comum pertencente a várias pessoas.

Ilegitimidade – modo de a sanar

Verifica-se a ilegitimidade quando a parte, activa ou passiva, está em juízo


desacompanhada dos restantes interessados, cuja intervenção a lei ou o negócio jurídico
exigem –art.º 28º nº1 do C.P.C.
É sanável mediante a intervenção, espontânea ou provocada, da parte cuja falta
gera a ilegitimidade – art.º 269º do C.P.C., sendo esta intervenção admissível até 30 dias
depois de transitar em julgado o despacho que põe termo ao processo por ilegitimidade,
renovando-se, assim, a instância – art.º 269º nº2 do C.P.C.
23

Coligação

Diferentemente do litisconsórcio, em que existe uma pluralidade de partes e


unidade de pedidos, na coligação há uma pluralidade de partes e pluralidade de pedidos.
É permitida a coligação de vários autores contra um ou vários réus e é permitido a
um autor demandar conjuntamente vários réus, por pedidos diferentes, quando a causa de
pedir seja a mesma ou quando os pedidos estejam entre si numa relação de
prejudicialidade ou de dependência – art.º 30º nº1 do C.P.C.. O restante art.º 30 prevê as
situações em que é permitida a coligação e o art.º 31º do C.P.C. prevê os vários
obstáculos à sua admissibilidade.

Patrocínio judiciário

O patrocínio judiciário traduz-se na assistência técnica prestada às partes por


profissionais do foro, sendo exercido plenamente pelos advogados e em termos limitados
pelos advogados estagiários e pelos solicitadores, encontrando-se previsto nos artºs 32º e
seguintes do C.P.C..
Segundo o art.º 6º nº1 da Lei 3/99, os advogados participam na administração da
justiça, competindo-lhes, de forma exclusiva e com as excepções previstas na lei, exercer
o patrocínio das partes.

Constituição obrigatória de advogado

Nos termos do art.º 32º nº1 do C.P.C., é obrigatória a constituição de advogado:

-nas causas de competência de tribunais com alçada, em que seja admissível


recurso ordinário (da admissibilidade de recurso ordinário trata o art.º 678º do
C.P.C.);

-nas causas em que seja sempre admissível recurso, independentemente do valor;

-nos recursos e nas causas propostas nos tribunais superiores;

As decisões que admitem recurso ordinário estão previstas no art.º 678º do C.P.C.,
sendo que, como resulta do nº1 deste preceito a conjugação do valor da causa com o da
alçada do tribunal é determinante para se concluir se é admissível recurso ordinário.
O art.º 678º do C.P.C. refere ainda as causas cujas decisões admitem sempre
recurso independentemente do valor, caso em que é igualmente obrigatória a constituição
de advogado, nos termos da aliena b) do art.º 32º do C.P.C..
24

Mandato

Os poderes de representação que o advogado exerce em juízo são-lhe conferidos


pela parte por meio de mandato judicial (procuração) – art.º 35º e seguintes do C.P.C..

Gestão de negócios

Em caso de urgência, o patrocínio judiciário pode ser exercido como gestão de


negócios – art.º 41º nº1 do C.P.C., sendo que, pressupõe a inexistência de procuração ou
mandato e só pode ser exercida em casos de urgência, a qual deve ser alegada.
A parte deve ratificar a gestão dentro do prazo que o juiz lhe fixar, sob pena de o
gestor ser condenado nas custas que provocou e na indemnização do dano causado à parte
contrária ou à parte cuja gestão assumiu – art.º 41º nº2 do C.P.C.. A não rectificação
determina a anulação dos actos praticados pelo gestor.

Falta ou irregularidade do mandato – Consequências

O modo de sanação da falta de constituição de advogado e as consequências dessa


falta encontram-se reguladas no art.º 33º do C.P.C.. Segundo este preceito, se a parte não
constituir advogado, sendo obrigatória a sua constituição, o tribunal notificá-la-á de modo
a constitui-lo, sendo que se o vício não for sanado no prazo fixado, o réu será absolvida
da instância.

Competência dos tribunais

Noção

A jurisdição, em sentido abstracto, compete a todos os órgãos jurisdicionais,


sendo a competência a fracção do poder jurisdicional que cabe a cada tribunal.
O poder jurisdicional está repartido pelos diversos tribunais segundo
determinados critérios. As normas que definem os critérios que presidem à delimitação
do poder de julgar pelos diversos tribunais denominam-se regras de competência.

Competência e jurisdição

A importância desta distinção revela-se quando surgem conflitos.


Assim, segundo o art.º 115º nº1 do C.P.C., há conflito de jurisdição quando duas
ou mais autoridades ou dois ou mais tribunais, integrados em ordens jurisdicionais
diferentes, se arrogam ou declinam o poder de conhecer da mesma questão. Surgem,
portanto, entre duas autoridades pertencentes a diferentes actividades do estado, como
25

por exemplo, entre a actividade judicial (tribunal judicial) e a actividade administrativa


(tribunal administrativo). Estes conflitos são resolvidos pelo S.T.J. ou por um Tribunal de
Conflitos – art.º 116º nº1 do C.P.C..
O conflito de competências só pode surgir entre dois ou mais tribunais da mesma
ordem judicial – art.º 115º nº2 do C.P.C., havendo um conflito negativo de competências
quando, por exemplo, quando um tribunal cível e um tribunal de família se atribuem
mutuamente competência para julgar um caso. Estes conflitos são solucionados pelo
tribunal de menor categoria que exerça jurisdição sobre as autoridades em conflito – art.º
116º nº1 do C.P.C..

Modalidades de competência

O poder de julgar está distribuído entre os tribunais de acordo com diversos


critérios, podendo-se distinguir numa primeira perspectiva entre competência
internacional e competência interna.
A competência internacional consiste na atribuição do poder de julgar aos
tribunais portugueses, no seu conjunto, em face dos tribunais estrangeiros.
A competência interna traduz-se na repartição entre os diversos tribunais
portugueses do poder de julgar, subdividindo-se em:

-competência em razão da matéria;

-competência em razão da hierarquia;

-competência em razão do valor;

-competência em razão do território;

Competência internacional

O problema surge quando a causa se encontra em conexão com outra ordem


jurídica, além da portuguesa, tendo que se saber se determinada questão deve ser
resolvida pelos tribunais portugueses ou por tribunais estrangeiros. A questão pode
surgir, por exemplo, quando o autor e o réu pertencem a nacionalidades diferentes,
quando se situa no estrangeiro o local de cumprimento de determinada obrigação ou
quando o ilícito ocorreu no estrangeiro.

Competência interna

A sua repartição
26

Nos termos do art.º 62º nº2 do C.P.C., a jurisdição reparte-se na ordem interna,
pelos diferentes tribunais segundo a matéria, a hierarquia judiciária, o valor da causa a
forma do processo aplicável e o território.

Competência em razão da matéria

A competência em razão da matéria assenta no princípio da especialização,


segundo o qual é vantajoso fraccionar a competência dos tribunais em função da matéria
do litígio, dado que é muito vasta a especificidade das normas que integram os diversos
ramos do direito.
Assim, são da competência dos tribunais judiciais as causas que não sejam
atribuídas a outra ordem jurisdicional – art.º 66º do C.P.C., sendo que, estes podem,
segundo os artºs 77º, 78º e 93º da Lei 3/99 ser:

Tribunais de competência especializada: de instrução criminal, de família, de


menores, de trabalho, de comércio, marítimos e de execução de penas;

Tribunais de competência específica: varas, juízos e tribunais de pequena


instância cíveis e varas, juízos e tribunais de pequena instância criminal;

Os tribunais judiciais de competência genérica constituem a regra, enquanto que


os tribunais de competência especializada e específica constituem a excepção, ou seja,
todas as matérias que não forem atribuídos aos tribunais de competência especializada,
são propostas nos tribunais judiciais.

Competência em razão da hierarquia

Há tribunais de 1ª e de segunda instância e o Supremo Tribunal de Justiça – art.º


16º nº1 da Lei 3/99, que se encontram hierarquizados em forma de pirâmide, com o S.T.J.
no topo, os Tribunais da Relação no meio e os Tribunais de 1ª Instância na base, sendo
que, esta hierarquia se traduz, somente, no poder dos tribunais superiores, por via de
recurso, revogarem ou alterarem as decisões dos tribunais inferiores.
Às Relações compete o conhecimento dos recurso interpostos de decisões
proferidas pelos tribunais de 1ª instância – art.º 71º nº2 C.P.C. e também julgar os
conflitos de competência dos tribunais de 1ª instância – art.º 116º nº1 do C.P.C.
Ao S.T.J. compete o conhecimento dos recursos interpostos de decisões
proferidas pelas Relações – art.º 72º nº2 do C.P.C..

Competência em razão do valor e da forma de processo aplicável

Nos termos do art.º 67º nº1 da Lei 3/99, os tribunais de 1ª instância funcionam,
consoante os casos, como tribunal singular (um juiz) ou como tribunal colectivo (três
juízes), sendo que, em regra os processo são da competência do tribunal singular, a não
27

ser que a lei a atribua ao tribunal colectivo – art.º 104º nº2 Lei 3/99. Compete ao tribunal
colectivo julgar as questões de valor superior à alçada dos tribunais da Relação – art.º
106º b) e c) da Lei 3/99.
O art.º 69º do C.P.C. remete para a Lei 3/99 a indicação das causas que, em razão
da forma de processo aplicável, competem aos tribunais de competência específica.
A incompetência em razão do valor da causa ou da forma de processo aplicável é
sempre do conhecimento oficioso do tribunal – art.º 110º nº2 C.P.C..

Competência em razão do território

O território divide-se em distritos judiciais, círculos judiciais e comarcas – art.º


15º nº1 Lei 3/99. Segundo o art.º 21º desta mesma lei, o Supremo Tribunal de Justiça tem
competência em todo o território, os Tribunais da Relação no respectivo distrito judicial e
os tribunais judiciais na área das respectivas circunscrições.
A área de competência dos tribunais de 1ª instância é a comarca – art.º 63º nº1 Lei
3/99, sendo que, podem haver tribunais de 1ª instância de competência especializada
(instrução criminal, família, menores, trabalho, comércio, marítimos e de execução de
penas – art.º 78º Lei 3/99 ) que conhecem de matérias determinadas, independentemente
da forma de processo aplicável e os tribunais de competência específica (varas cíveis e
criminais, juízos cíveis e criminais e juízos de pequena instância cível, criminal e de
execução – art.º 96º Lei 3/99) que conhecem de matérias determinadas pela espécie de
acção ou pela forma de processo aplicável – art.º 64º nº2 Lei 3/99.
A competência territorial para uma causa determina-se em função de dois
parâmetros: a circunscrição territorial correspondente ao tribunal e o elemento de
conexão de cada tipo de acção com a circunscrição, que são os seguintes:

Foro do réu: constitui a regra geral, pelo que, quando não exista disposição
especial para a atribuição da competência territorial, é competente para a acção o
tribunal em cuja circunscrição o réu tenha o seu domicílio, tratando-se de um
critério supletivo – artºs 85º e 86º do C.P.C.;

Foro real ou da situação dos bens: de acordo com o nº1 do art.º 73º do C.P.C.,
devem ser propostas no tribunal da situação dos bens as acções referentes a
direitos reais ou pessoais de gozo sobre imóveis, as acções de divisão de coisa
comum, de despejo, de preferência e de execução específica sobre imóveis;

Foro obrigacional: as acções devem ser propostas no lugar onde deve ser
cumprida a obrigação, pois entende-se que o tribunal do lugar onde ocorreu o
facto pode dispor dos elementos sem necessidade de os solicitar a outro tribunal,
estando em melhor posição para a boa administração da justiça – art.º 74º do
C.P.C.;

Foro do autor: as acções devem ser propostas no lugar do domicilio ou residência


do autor nas acções de divórcio e separação judicial de pessoas e bens – art.º 75º
do C.P.C.
28

Foro sucessório: o tribunal do lugar de abertura da sucessão é competente para o


inventário e para a habilitação de uma pessoa como sucessora por morte de outra
– art.º 77º nº1 do C.P.C., sendo que, a sucessão por morte abre-se no lugar do
último domicílio do de cujus – art.º 2031º do C.C.;

Você também pode gostar