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II - As Grandes Mudanças

Em 1985, na vigência do X Governo Constitucional, a organização administrativa do Estado sofreu uma profunda
remodelação. Desapareceram alguns ministérios e outros foram alvo de reestuturações orgânicas devido à
transferência de atribuições ou à criação de novos serviços. Esta reforma foi ditada por critérios de funcionamento e de
eficácia da Administração tal com foi referido no Decreto-Lei nº 497/85, de 17 de Dezembro.

A nova orgânica do Governo obrigou a uma redistribuição dos serviços em função dos objectivos prosseguidos pelos
diferentes Ministérios.

No caso do Ministério da Administração Interna, foram transferidas para Ministério do Plano e da Administração do
Território todas as unidades de trabalho relacionadas com a administração regional e local. Esta constituiu a última
grande perda de atribuições do MAI. A partir desse momento, a vertente da segurança foi reforçada e repensada em
novos moldes.

O Decreto-Lei nº 55/87, de 31 de Janeiro, configurou a nova orgânica do Ministério e confinou os domínios da sua
actuação às áreas da segurança interna, da administração eleitoral e da protecção civil. Para o desempenho das suas
atribuições o MAI contava com o seguinte conjunto de serviços:

 Serviços administrativos e de apoio

 Serviços desconcentrados (Governos Civis)

 Forças e Serviços de Segurança (PSP, GNR, SEF, SIS)

 Serviços de Protecção Civil (Serviço Nacional de Bombeiros)

 Serviços Operacionais (STAPE e Inspecção de Explosivos)

A nova orgânica do Ministério reflectia, por outro lado, as mudanças induzidas na política de segurança interna, na
sequência da entrada de Portugal na CEE e das exigências, daí decorrentes, de aproximação aos padrões de
segurança dos parceiros europeus.

O Serviço de Estrangeiros e Fronteiras e o Serviço de Informações de Segurança foram criados respectivamente em


1986 e 1987 para dar resposta, entre outros aspectos, aos compromissos assumidos a nível internacional no que
respeita à segurança.

A adesão de Portugal à Comunidade Económica Europeia, em 1985, impulsionou a redefinição das grandes linhas de
actuação no domínio da política de imigração e de controlo de fronteiras. A livre circulação de pessoas e o gradual
desaparecimento das barreiras alfandegárias nos países da Europa comunitária colocaram novos desafios em termos
de segurança, para os quais Portugal não estava devidamente preparado. Por outro lado, o aumento considerável de
fluxos imigratórios provenientes da ex-colónias e o aumento das comunidades estrangeiras residentes exigiam a
adopção de novos procedimentos em matéria de política de imigração e acompanhamento da sua situação em
território nacional.

O Decreto-Lei nº 440/86, de 31 de Dezembro, extinguiu o antigo Serviço de Estrangeiros e criou o actual Serviço de
Estrangeiros e Fronteiras (SEF), concebido como serviço de segurança, organizado hierarquicamente na dependência
do MAI, com autonomia administrativa, incumbido de controlar a circulação de pessoas nas fronteiras, a permanência e
actividades de estrangeiros em território nacional.

A criação em Portugal de serviços de informações estruturados em moldes similares aos que vigoravam nos países
democráticos revestiu-se de grande controvérsia. Nos anos 70 foram ensaiados vários modelos para a sua
implementação, mas o espectro da PIDE/DGS e o contexto político então vivido em Portugal não permitiram o

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aprofundamento do debate em torno desta questão. A tarefa foi, então, confiada aos militares que, até à década de 80,
asseguraram a produção de informações.

Embora já numa fase de degelo da guerra fria, a actividade dos serviços de informações era considerada fundamental
para a contenção da ameaça oriunda do bloco de leste. A espionagem de natureza política e militar envolvia, na
maioria dos países, serviços altamente organizados e especializados capazes de assegurar uma rede de cooperação à
escala internacional. Por outro lado, o terrorismo de cariz ideológico e nacionalista constituía uma fonte de
preocupação acrescida para as forças e serviços de segurança dos países ocidentais.

A OTAN, por seu turno, exigia que Portugal adoptasse normas de segurança que garantissem a sua plena integração
na organização, designadamente no que dizia respeito ao acesso a informação classificada.

A deterioração das condições de segurança na primeira metade dos anos 80, em virtude do recrudescimento da
actividade das denominadas "Forças Populares 25 de Abril", bem como a eclosão de uma série de atentados
terroristas perpetrados por grupos estrangeiros em território nacional, acenderam o debate político em torno da
necessidade da constituição de serviços de informações em Portugal.

Em Março de 1984, o Governo apresentou a Proposta de Lei de Enquadramento dos Órgãos e Serviços de Estado a
quem Incumbe Assegurar a Obtenção, Tratamento e Difusão das Informações Necessárias à Defesa Nacional, ao
Cumprimento das Missões das Forças Armadas, à Segurança do Estado de Direito e à Garantia da Legalidade
Democrática.

Em 5 de Novembro de 1984 foi finalmente aprovada a Lei nº 30/84 (Lei Quadro do Sistema de Informações da
República Portuguesa), na sequência da qual foi criado, pelo Decreto-Lei nº 225/85, de 4 de Julho, o Serviço de
Informações de Segurança (SIS) que passou a integrar a orgânica do Ministério da Administração Interna. O SIS tem
competência exclusiva para a produção de informações destinadas a prevenir actividades de espionagem, sabotagem,
terrorismo, bem como actos que, pela sua natureza, possam pôr em causa ou ameaçar o Estado de direito
democrático constitucionalmente estabelecido.

A definição do conceito de segurança interna, introduzida pela Lei de Revisão Constitucional nº1/82, integrou os
conceitos de ordem pública, segurança pública, segurança interna do Estado, prevenção da criminalidade e protecção
de bens e pessoas, salvaguardando, desde logo, que a prossecução dos objectivos em matéria de segurança interna
visava, antes de mais, assegurar o direito ao livre desenvolvimento da personalidade do cidadão.

A definição deste conceito desencadeou, necessariamente, uma profunda revisão da política de segurança interna.

Em 1984, iniciou-se, na Assembleia da República, a discussão da Proposta de Lei de Segurança Interna, visando
definir os princípios estruturantes de um sistema de segurança interna, que garantisse a articulação e a coordenação
da actividade desenvolvida pelas autoridades policiais e serviços de segurança existentes em Portugal.

Em 1987 foi, finalmente, publicada a Lei de Segurança Interna, Lei nº 20/87, de 12 de Junho, alterada posteriormente
pela Lei nº 8/91, de 1 de Abri. Esta Lei define a segurança interna como "a actividade desenvolvida pelo Estado para
garantir a ordem, a segurança e a tranquilidade públicas, proteger pessoas e bens, prevenir a criminalidade e contribuir
para assegurar o normal funcionamento das instituições democráticas, o regular exercício dos direitos e liberdades
fundamentais e o respeito pela legalidade democrática".

Resulta clara da Lei nº 20/87 a distinção entre as actividades de manutenção da ordem pública, próprias da PSP e da
GNR, as de investigação criminal, sobretudo atribuídas à Polícia Judiciária, e as de produção de informações,
incumbidas ao SIS, com a direcção do processo penal, regulada em sede própria.

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As forças e serviços de segurança passam a constituir pilares fundamentais do sistema de segurança interna que se
alicerça, então, numa estrutura orgânica de entidades que conduzem, coordenam e fiscalizam, ao mais alto nível, a
execução da política de segurança interna.

Tanto a GNR como a PSP, nos anos subsequentes à publicação dessa Lei, foram sendo, sucessivamente,
reorganizadas.

A Guarda Nacional Republicana foi dotada de nova lei orgânica através do Decreto-Lei nº 231/93, de 26 de Junho. Este
diploma redefiniu o posicionamento da GNR no conjunto das forças militares e das forças e serviços de segurança.

Ao longo da década de 90, a GNR viu aprovado um novo Estatuto Disciplinar que consagrou os princípios gerais do
processo disciplinar e salvaguardou os direitos fundamentais e as garantias de defesa aos seus profissionais.

Este diploma estabelece ainda uma escala única de sanções para todo e qualquer militar infractor, independentemente
do posto que ocupa, e elimina a possibilidade de aplicação de penas privativas da liberdade em sede disciplinar,
factores que constituem um claro benefício para os profissionais da GNR e para a dignificação da Instituição.

Por outro lado, o Decreto-Lei nº 321/94, de 29 de Dezembro, aprovou a nova lei orgânica da Polícia de Segurança
Pública, "criando um novo modelo de organização que se quer moderno flexível e racional e fixando, simultaneamente,
um regime de estatuto do pessoal que corresponde aos desafios do futuro.

A PSP volta a ser reorganizada em 1999, através da Lei nº 5/99, de 27 de Janeiro, que contempla a consagração de
uma estrutura civil para esta Força de Segurança.

Desde 1996 que a nomeação para o cargo de Comandante-Geral já não era feita exclusivamente de entre oficiais das
Forças Armadas. A partir da publicação da referida Lei, permite-se que o Director-Nacional possa ser oriundo dos
quadros da própria Instituição ou mesmo recrutado entre indivíduos licenciados de reconhecida idoneidade e
experiência profissional, vinculados ou não à Administração.

A publicação da Lei de Segurança Interna teve, por outro lado, repercussões na orgânica do Ministério da
Administração Interna, dada a natureza das suas atribuições. Durante a década de 90, a vertente da segurança foi
claramente reforçada quer através da incorporação de novas atribuições quer através da revisão da estrutura funcional
e orgânica das forças e serviços de segurança sob a sua tutela.

Em 1992 foram introduzidas alterações na Lei Orgânica do MAI, por via da integração da Direcção-Geral de Viação
(DGV) e da Guarda Fiscal, posteriormente, extinta e integrada na GNR, sob a designação de Brigada Fiscal.

Até essa data, a Direcção-Geral de Viação, criada pelo Decreto-Lei nº 21/83, pertenceu ao Ministério das Obras
Públicas, Transportes e Comunicações. O aumento dos níveis de sinistralidade passou a constituir um sério problema
de segurança para a sociedade portuguesa o que justificou, entre outros aspectos, a integração da DGV no Ministério
da Administração Interna.

Actualmente, a segurança rodoviária constituiu uma das áreas de actuação mais importantes do MAI, cabendo à DGV
a coordenação, o controlo, a fiscalização e o planeamento da política nos domínios da circulação e segurança
rodoviárias.

O alargamento das atribuições do MAI em matéria fiscal e aduaneira, a quando da criação da Brigada Fiscal no seio da
GNR, decorreu da reorganização e redifinição do enquadramento das actividades de controlo de bens e pessoas em
face da plena integração de Portugal na CEE.

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Por outro lado, a actividade das redes de contrabando revestiu-se de maior ameaça no quadro da criminalidade geral,
atendendo à sua interconexão com outras actividades ilícitas, designadamente no domínio dos tráficos de armas e
estupefacientes. Estas alterações nos padrões criminais exigiram o reforço dos componentes de segurança das forças
encarregadas do controlo do trânsito de mercadorias, razão aduzida, no âmbito do Decreto-Lei nº 230/93, de 26 de
Junho, para a inserção desta actividade no leque de competências da GNR.

As atribuições do MAI em matéria de protecção civil foram reforçadas, após a publicação da Lei de Bases da Protecção
Civil, Lei nº 113/91, de 29 de Agosto que reformulou o próprio conceito de protecção civil, assim como reequacinou o
posicionamento das entidades com atribuições e competências neste sector de actividade do Estado. Entre outras
alterações, o Serviço Nacional de Protecção Civil foi, em 1993, transferido do Ministério da Defesa para o MAI.

Esse diploma conferiu uma nova e acrescida importância à função de protecção civil através da implantação de um
sistema que passou a integrar várias entidades e serviços com vista à prevenção de fenómenos que configurem
acidente grave, catástrofe ou calamidade, de origem natural ou tecnológica, bem como à prestação de assistência e
socorro no caso de se verificar a ocorrência de tais fenómenos.

Até ao 25 de Abril, o apoio às populações, em caso de emergência, encontrava-se intimamente associado à função de
defesa civil, atribuição exclusiva do Ministério da Defesa Nacional que, por via da Legião Portuguesa, assegurava o
combate a incêndios, a execução de planos de alerta, emergência e evacuação em cenários de guerra ou de
catástrofe.

O Decreto-Lei nº 78/75, de 22 de Fevereiro, criou, ainda na dependência do Ministério da Defesa, o Serviço Nacional
de Protecção Civil, que só foi devidamente estruturado em 1980, a quando da publicação da sua Lei Orgânica, através
do Decreto nº510/80, de 25 de Outubro.

Um ano depois da publicação da Lei de Bases da Protecção Civil, o Serviço Nacional de Protecção Civil integrou a
estrutura orgânica do MAI, de acordo com o estabelecido pelo Decreto-Lei nº 92/92, de 23 de Maio.

Em 1993, o Decreto-Lei nº 203/93, de 3 de Junho, conferiu a este Serviço a função basilar de orientar e coordenar a
nível nacional, no domínio da protecção civil, as acções de todos os organismos, que concorram para esta função.

Na década de 90, a continua multiplicação dos fogos florestais constituiu uma preocupação crescente no âmbito da
política de protecção civil. A vertente da prevenção revestiu-se, assim, de importância fundamental na actividade do
Serviço Nacional de Bombeiros, que intensificou a sua intervenção ao nível das acções de informação e de
sensibilização das populações, bem como reforçou as suas missões no âmbito da fiscalização do cumprimento das
normas de segurança contra riscos de incêndio. Paralelamente, a elaboração de cartas de risco e de planos de
emergência conferiram maior eficácia à política preventiva e tornaram mais exigentes os critérios de formação do
quadro de pessoal desta instituição.

O Decreto-Lei nº 227/95 veio alterar novamente a orgânica do MAI ao criar a Inspecção-Geral da Administração Interna
(IGAI).

Este Ministério deixou de dispor de um organismo de inspecção e fiscalização superior para actuar no domínio das
suas atribuições e competências a quando da transferência, em 1985, da antiga Inspecção-Geral da Administração
Interna para o Ministério do Plano e da Administração do Território.

A progressiva concentração no MAI de organismos vocacionados para a actividade de segurança interna sublinhou a
necessidade de ser criado um serviço "de inspecção e fiscalização especialmente vocacionado para o controlo da
legalidade, para a defesa dos direitos dos cidadãos e para uma melhor e mais célere administração da justiça
disciplinar nas situações de maior relevância social".

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O aprofundamento dos princípios da proporcionalidade e da adequação do exercício dos poderes de polícia aos
direitos fundamentais do cidadão, recolocaram a questão da formação do pessoal que integra as várias forças e
serviços de segurança.

Em 1998, a Resolução de Conselho de Ministros nº 78/98, de 7 de Junho, criou o Conselho Consultivo para a
Formação das Forças e Serviços de Segurança (FSS) com o intuito de promover, através deste órgão de consulta e
apoio do Ministro da Administração Interna, a melhoria dos serviços prestados pelas FSS e a modernização da
actividade policial.

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