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DIREITO PROCESSUAL CIVIL – TÓPICOS DE MATÉRIA

Regente: Paula Costa e Silva

1. O que é o processo e qual a sua função?


O processo tem a sua função determinada pela pretensão concretamente formulada ao
tribunal. O autor deduz uma pretensão concreta – o pedido. Perante o mesmo, o tribunal
realiza a atividade heterocompositiva (há um terceiro sujeito que faz parte da composição,
agindo de formas imparcial – o juiz) correspondente ao pedido deduzido: o fim essencial
do processo é a justa composição do litígio em tempo útil, de acordo com a verdade
material.
Assim, a atividade de heterocomposição de conflitos não se inicia sem que seja formulada
uma pretensão de tutela jurídica, perante uma instância com poderes para a exercer.
O direito dado ao autor para que a sua pretensão possa ser formulada perante o tribunal e
que por este seja apreciada, de modo a obter uma decisão conforme ao Direito, consiste
no direito de ação (uma decisão conforme ao Direito não implica que seja
necessariamente favorável ao autor).
Este direito é um direito processual, consiste no direito de deduzir num tribunal uma
concreta pretensão relativamente a uma situação jurídica que se quer ver tutelada.

2. Espécies de ações judiciais


No processo civil, há que distinguir 2 grandes tipos de ações: a declarativa, através da
qual o autor pede ao tribunal que declare a existência ou inexistência de um direito ou de
um facto jurídico; e a executiva, que visa exigir a realização coativa do cumprimento de
um direito já certificado através de um título executivo, por parte do devedor – é mais
restrita, uma vez que é mais invasiva (ex.: CV de imóvel – penhora dos bens, por não ter
ocorrido o pagamento do preço).
Quanto às ações que podem ser intentadas no processo civil declarativo, é necessário ter
em conta 3 tipos:
▪ As ações de simples apreciação, através das quais o autor pede ao tribunal que
declare a existência ou inexistência de um direito ou de um facto – artigo 10º, nº3,
a), CPC. Assim, procura a firmação de uma situação de incerteza que exija uma
clarificação.
Ex.: reconhecimento do direito de propriedade de um carro.
▪ As ações de condenação, através das quais o autor pede ao tribunal que condene
o réu na prestação de uma coisa ou de um facto, pressupondo ou prevendo a
violação de um direito – artigo 10º, nº3, b), CPC.
O autor invoca a titularidade de um direito violado, pede que seja reconhecido tal
direito e que o réu seja condenado numa prestação destinada a reintegrar o mesmo.
Ex.: condenação ao pagamento de uma indemnização.
▪ As ações constitutivas, através das quais o autor pede ao tribunal que autorize
uma mudança na ordem jurídica, em conformidade com um direito potestativo do
autor – artigo 10º, nº3, c), CPC.
Ou seja, o autor pretende obter um efeito jurídico novo que terá origem na decisão
do tribunal.
Ex.: divórcio unilateral – não estamos perante uma condenação. Decretamento do
maior acompanhado (vem alterar uma situação civil).
Na petição inicial, é estabelecido o tipo de ação.

3. O juiz ou o decisor: garantias constitucionais


Os tribunais gozam de um estatuto de independência (203º, CRP), garantida pela
existência de um órgão privativo de gestão e disciplina da magistratura judicial – o
Conselho Superior de Magistratura (217º, CRP) e pela sua não sujeição a ordens ou
instruções. Gozam ainda de uma inamovibilidade dos juízes (216º, CRP), sendo, ainda,
garantida a sua imparcialidade (pelo princípio do juiz natural, que é quele que é indicado
pelas normas gerais de competência e pela concreta distribuição do processo para apreciar
causa, mas sobretudo através dos próprios mecanismos que permitem afastar o juiz
natural da causa.
Uma outra garantia constitucional é o dever de fundamentação, previsto no artigo 205º,
CRP. Assegura aos destinatários das decisões o conhecimento das razões de facto e de
direito que levaram o juiz a proferi-las – não se manifesta apenas no momento da emissão
da sentença, mas ao longo de todo o processo. A violação deste dever poderá ser causa
geradora de nulidade da sentença – 615º, nº1, b) CPC.

4. Objeto do processo: pedido e causa de pedir


O objeto da relação processual é o pedido formulado em juízo, pedido a que o tribunal
tem de dar uma resposta.
Assim, é através do pedido que o autor solicita a tutela jurisdicional – o objeto do processo
resulta da conjugação do pedido e da causa e pedir.
O primeiro consiste no efeito jurídico que se pretende obter com a ação (581º, nº3). No
entanto, ao autor não basta formular o pedido, tem também de indicar a causa de pedir,
isto é, tem de alegar os factos constitutivos de efeito jurídico que pretende fazer valer. A
causa de pedir é o facto jurídico que serve de fundamento à pretensão.
Na petição inicial, o autor terá de expor os factos essenciais que constituem causa de pedir
– 552º, nº1, d), CPC.

5. Princípio do Contraditório
O princípio do contraditório é um dos corolários do princípio da igualdade das partes,
estando na base da estrutura do processo civil. Encontra-se consagrado no artigo 3º, nº1
e 3, CPC, e garante a participação efetiva das partes no desenvolvimento do processo, isto
é, garante que não sejam tomadas quaisquer providências contra alguém, sem que a
pessoa seja previamente ouvida. Deste modo, não pode o juiz decidir quaisquer questões
de facto ou direito, sem que as partes se possam pronunciar quanto às mesmas – garante
a imparcialidade do tribunal.
A sentença de um processo só pode ser justamente obtida se for conferida às partes
igualdade de armas, prevista no artigo 4º, CPC,
Este princípio concretiza-se em 2 direitos:
▪ Direito à audição prévia: a parte contra a qual foi proposta a ação deve ser
chamada para poder deduzir oposição (artigo 3º, nº1, parte final). É através da
citação do réu, prevista no artigo 219º, CPC, que o mesmo ganha conhecimento
de que foi proposta uma determinada ação contra ele, sendo chamado ao processo
para se defender. Sem citação não há contestação.
▪ Direito à resposta: consiste na faculdade, concedida a qualquer das partes, de
responder a um ato processual da contraparte, tanto no que respeita a matéria de
direito, como no que se refere a matéria de facto. Tem expressão legal em várias
normas, tais como os artigos 569º e ss, referentes à contestação e os artigos 584º
e ss, referentes à réplica.

O princípio do contraditório concretiza o direito constitucionalmente consagrado ao


processo equitativo (20º, nº4, CRP), deste modo, perante a sua violação, o processo é
considerado inconstitucional. Nos termos do artigo 195º, nº1, o ato é também nulo
(nulidade processual típica – isto porque o contraditório se manifesta durante todo o
processo – ocorre durante o processo)
O contraditório tem várias dimensões: pode manifestar-se ao longo de todo o processo.
Limita e vincula a atuação do juiz até ao momento final do processo – sentença – não
pode o juiz pronunciar-se acerca de questões sobres as quais as partes não dialogaram:
problema de excesso de pronúncia, que dá azo a decisões surpresa (615º, d)).

Nulidade processual – ex.: irregularidade com a citação do réu – 195º, CPC


(normalmente, invocável no trâmite do próprio processo).
Nulidade da sentença (615º, d), 2ª parte) – diz respeito ao conteúdo da sentença, é
necessário percorrer todas as etapas do processo.

6. Princípio do Dispositivo
O Princípio do Dispositivo, um pilar do processo civil, determina que o processo se
encontra na disponibilidade das partes, tendo por base a ideia de que no processo civil
estamos perante interesses de cariz privado. Assim, cabe às partes o ónus da iniciativa
processual, através da petição inicial, consagrada no artigo 3º, nº1, do CPC, uma vez que
só às partes cabe solicitar a tutela jurisdicional, isto é, não pode esta ser oficiosamente
concedida.
Segundo o Prof. Miguel Teixeira de Sousa, existem dois corolários subjacentes a este
princípio: princípio do impulso processual (é incumbido às partes praticarem atos que
determinam a pendência da causa e o andamento do processo) e o princípio da
disponibilidade privada (incumbe às partes a definição deste objeto e a realização da
prova dos respetivos factos, ou seja, ónus de alegação e o ónus da prova).
Deste modo, as partes estabelecem o objeto do processo, nomeadamente o autor da ação,
nos termos do artigo 552º, nº1, d), que vem limitar o conhecimento do tribunal e a sua
decisão, ou seja, o juiz não pode decidir em quantidade superior e diferente do pedido
(608º, nº2 e 609º, nº1). A causa de pedir é vinculativa para o Tribunal, cabendo às partes
expor os factos essenciais que constituem a causa de pedir, segundo o disposto no artigo
5º, nº1, CPC.
Podem, ainda, as partes pôr termo ao processo por meio de transação (parte da vontade
de ambas as partes – 283º, nº2, CPC), por meio de desistência do pedido (parte do próprio
autor – 283º, nº1, CPC) e por meio de desistência da instância (parte do réu, através da
confissão do pedido – 284º).
Assim, o princípio do dispositivo consagra a liberdade e responsabilidade das partes.
Segundo o disposto no artigo 615º, nº1, d) e), a violação do princípio do dispositivo tem
como consequência a nulidade da sentença. E em termos práticos, como é que esta
nulidade pode ser invocada? 615º, nº4.
Reclamação – feita ao tribunal que emitiu a sentença. Apenas existe quando não é possível
interpor recurso.
Recurso – recorrer a um tribunal superior (hierarquia).

MTS – os factos essenciais representam a concretização de uma norma. Factos


complementares é tudo aquilo que surge à volta do pedido, complementando os essenciais
– ambos são alegados pelas partes.
Os factos instrumentais são aqueles que são retirados daquilo que foi provado no
processo.
Questões de conhecimento oficioso – ex.: uma exceção dilatória, uma nulidade – pode
ser invocada pelas partes, mas também pelo tribunal, pois é de conhecimento oficioso
(contrariamente à anulabilidade). Estão previstas na lei – o tribunal tem de procurar
conhecer. Significa que o tribunal pode trazer ao processo, mesmo eu as partes não o
façam (no entanto, as partes têm de ter oportunidade de se pronunciarem).

7. Princípio do Inquisitório

O princípio do inquisitório consagra-se sobretudo na fase da instrução da causa – fase do


processo destinada à produção das provas que irão determinar o convencimento do juiz
para fins de sentença. Tendo em conta isto, devem as partes submeter-se às inspeções
necessárias, responder ao que foi perguntado e facultar o que lhe for solicitado.
O artigo 6º, nº1, do CPC atribui ao juiz o poder-dever de dirigir ativamente o processo,
providenciar pelo seu andamento célere – está em causa um verdadeiro poder-dever de
gestão processual, traduzindo-se numa atuação mais dinâmica, mas também mais
cooperante do juiz.
Deste modo, deve assegurar a regularidade da instância, providenciando oficiosamente
pela sanação da falta de pressupostos processuais e adotar mecanismos se simplificação
e agilização processual.
Em sentido estrito, o princípio do inquisitório caracteriza-se por permitir que o tribunal
investigue e esclareça os factos relevantes para a apreciação da ação. Encontra-se
consagrado no artigo 411º, CPC, consistindo num poder-dever do juiz: deve proceder às
diligências necessárias de modo a apurar a verdade, chegando à justa composição da
causa, quanto aos factos que lhe é lícito conhecer.
De alguma maneira, constitui o inverso do princípio da controvérsia: no campo da
instrução, cabe ao juiz a iniciativa e às partes o dever de colaborar (417º).
Em suma, ao juiz cabe a direção formal do processo e o andamento do mesmo (em
condições de regularidade e de celeridade), nos seus aspetos técnicos como na estrutura
interna. Isto é, embora caiba ao Autor indicar e definir a forma do processo (552º), ao juiz
cabe mandar seguir a forma adequada (193º) como também adaptar a tramitação prevista
de forma abstrata na lei, adaptando a prática dos atos que melhor se adequem ao fim do
processo.
Artigo 6º, nº2 – o juiz vai tentar sanar a falta de pressupostos processuais (na fase do pré-
saneador) - ou temos exceções dilatórias sanáveis, ou então, o processo termina ali –
absolvição do réu (através do despacho saneador).
Mérito da causa =objeto do processo: estão preenchidas todas as condições para se
pronunciar quanto ao objeto do processo (pedir + causa de pedir).
Se, na fase do pré-saneador, tudo estiver regular, passamos para a fase de instrução (o juiz
vai ver se o facto foi ou não dado como provado). O juiz é o destinatário das provas, logo,
é sobre ele que vai cair a convicção se determinado facto ocorreu ou não – procura-se
convencer o juiz. Começa aí todo o regime probatório do processo. – 607º, nº4. Na
sentença final, o juiz tem mesmo de fundamentar por que razão considerou provados
aqueles factos.
Ex.: prova por inspeção judicial – o juiz desloca-se ao local (importante para ele tem uma
perceção local quanto ao que aconteceu).

Factos instrumentais são exceções ao princípio do dispositivo? O problema é saber se


uma instrução da causa, quando se produz prova, pode o juiz extrair alguma conclusão?
5º/2 a) o princípio do contraditório manifesta-se, em relação à prova, pelo artigo 415º
(princípio do inquisitório pelo 411º). Artigo 413º: a norma é dirigida ao tribunal, a prova
tem o sentido de contrariam o que foi deduzido pela parte contrária
607º/5- juiz justifica na sentença tem de dizer porque é que ficou convicto com
determinados factos. O juiz aprecia e pronuncia-se livremente as provas, segundo a sua
convicção (princípio do inquisitório 411º e 413º- em sentido estrito). Ele não depende do
legislador, não lhe atribui competência probatória. E exceção é a lei exigir formalidade
especial. Regra geral o juiz aprecia livremente as provas, mas só está limitado aquela que
tem força probatória.
O inquisitório em sentido estrito (411 e 413º e 607º): não limita o dispositivo, com base
nos factos alegados pela parte que o tribunal analisa a prova da causa. Alegando factos
essenciais que concretizam a causa de pedir, mas temos de juntar documentos e meios de
prova (na audiência de testemunhas aprecia livremente as mesmas)
No meio da instrução o juiz é o protagonista.
um facto desconhecido

11. A competência internacional


O Regulamento nº 1215 tem considerandos – existem para uniformizar a aplicação do
mesmo, ou seja, ajuda a interpretação da norma e a sua aplicação.
1º - temos de fundamentar se estamos perante um conflito plurilocalizado. Há ou não
elementos de conexão com ordenamentos jurídicos estrangeiros: nacionalidade;
residência; localização do imóvel, etc.
Artigo 8º, nº4, CRP -Primado da União Europeia – averiguar se se aplica ou não o
Regulamento nº1215. Verificar o preenchimento dos âmbitos de aplicação:
▪ Âmbito Material: matéria civil e comercial (artigo 1º, do Regulamento).
▪ Âmbito Espacial: não releva a nacionalidade, mas sim a residência das
partes (tem de ser num Estado-Membro).
▪ Âmbito Temporal: só se aplica às ações judiciais intentadas em 10 de
janeiro de 2015 ou em data posterior (artigo 66º e 81º, CPC). Não havendo
data, presumimos que não há problema temporal.
Artigo 4º - regra-geral – Domicílio do Réu
Artigo 5º e 7º - critérios especiais de competência. Alternativos com a regra do domicílio
do réu: o autor pode escolher. Estas regras especiais que atribuem a tribunais de Estados
diverso do Estado de residência do réu não excluem a normal competência dos tribunais
deste último. Assim, o autor pode optar pelo tribunal do Estado do domicílio do réu, ou o
tribunal do Estado para que aponta o critério especial.
Artigo 7º, nº2 (onde ocorreu o facto e como deve isso ser interpretado):
Interpretação mais restritiva – apenas vale o facto onde o dano se verificou pela primeira
vez OU Interpretação mais extensiva/mais ampla (defendida pelo Tribunal de Justiça da
União Europeia) – após a transferência do autor para outro EM, os danos continuaram a
ser produzidos. Assim, há quem defenda que, neste caso, o artigo 7º atribui competência
a tribunais de EM diferentes (é mais acessível para o autor intentar a ação em Portugal).
Artigo 24º - competência exclusiva (prevalece até sobre pactos de jurisdição).
Caso tenha sido intentado num tribunal incompetente – 27º, do Regulamento: o tribunal
tem de se declarar oficiosamente incompetente.
Artigo 25º - Pacto de jurisdição é um contrato celebrado entre as partes. O pacto de
jurisdição exige, tal como um contrato substantivo, uma proposta e uma aceitação– não
pode afastar a competência exclusiva dos tribunais. Se for um Estado terceiro à União
Europeia, não pode ser celebrado o Pacto.
Aqui, é irrelevante a residência das partes, importando apenas que a competência seja
atribuída a tribunais de um Estado-Membro.
É um negócio jurídico-processual.
Requisitos:
I. Formal - Tem de ter forma escrita.
II. Material – Não podem ser contrários aos artigos 15º, 19º, 23º e 24º.
O professor Lima Pinheiro defende que num contrato-promessa compra e venda sobre
um imóvel, ainda que com eficácia real, não cabe no âmbito do artigo 24º, isto porque
não se discute o direito de propriedade/ direito real - ou seja, o pacto de jurisdição que
regule esta matéria de forma contrária ao artigo 24º é válido.
O pacto pode ainda ser tácito: 26º.
Artigo 6º - ainda que o réu não seja domiciliado em Estado-Membro, a competência é
regulada pela lei do Estado do foro, ressalvando-se a competência exclusiva definida no
artigo 24º e os pactos de jurisdição (25º) – é independente do domicílio do demandado.

Caso o Regulamento não se aplique, para atribuir competência internacional aos


tribunais portugueses – usamos os artigos 62º e 63º, do CPC.
Segundo o professor MTS, para que um tribunal português seja competente para apreciar
um litígio, é necessário que haja um elemento de conexão suficientemente relevante entre
o litígio e a ordem jurídica portuguesa, que se afere segundo 4 critérios, sendo que para o
professor, estes são alternativos (basta a verificação de um deles para os tribunais
portugueses serem internacionalmente competentes).

Critério de Exclusividade: 63º, CPC – matérias relativamente às quais os tribunais


portugueses são exclusivamente competentes.
Critério da Coincidência: 62º, a), CPC - de acordo com as regras de competência
territorial estabelecidas na lei interna, a ação pode proposta num tribunal português
(regras relativas à competência em razão do território).
Critério da Causalidade: 62º, b), CPC - ação poderá ser intentada em Portugal se tiver
sido praticado em território português o facto que serve de causa de pedir à ação.
Critério da Necessidade: 62º, c), CPC – os tribunais portugueses são competentes quando
não possa tornar-se efetivo o direito invocado senão por meio de ação proposta em
Portugal (impossibilidade jurídica – inexistência de jurisdição junto da qual o direito do
autor se possa fazer valer; impossibilidade prática – há uma jurisdição competente, mas
factos anómalos impedem a propositura da ação nos tribunais desse país).

94º, CPC – Pactos de jurisdição:


Podem ser atributivos (as partes conferem competência aos tribunais portugueses) ou
privativos (as partes retiram competência aos tribunais portugueses) + podem ser de
competência convencional alternativa ou exclusiva (em caso de dúvida, a atribuição de
competência a tribunais estrangeiros deve entender-se como exclusiva).

8. Competência interna
Competência em razão do território (70º e seguintes, CPC) – qual a parcela
territorialmente competente? Para MTS, o artigo 7º (dupla funcionalidade) do
Regulamento já estabelece onde estará o tribunal competente. Caso não aplicássemos,
teríamos de aplicar o artigo 71º, CPC. Incompetência Relativa (102º, CPC)
Competência em razão da matéria – tiramos os tribunais administrativos e fiscais, e vamos
para os tribunais judiciais (64º, CPC) –aqui estamos perante matéria civil – juízo de civil.
Incompetência Absoluta (97º, a), CPC)
Competência em razão da hierarquia – 1ª instância (tribunais da comarca); 2ª instância
(Tribunais da Relação – há 5 em Portugal); STJ. Possibilita que as ações julgadas em 1ª
instância possam ser recorridas – 80º, nº1, LOSJ. Incompetência Absoluta (97º, a), CPC)
Competência em razão do valor – 117º, nº1, a) e 130º da LOSJ – dentro da matéria civil,
nos tribunais de 1ª instância temos 2 juízos que podem ser competentes: temos os juízos
centrais cíveis (valor superior a 50 mil euros – o legislador presume que envolve matéria
mais complexa) e os juízos locais cíveis (valor inferior a 50 mil euros). Incompetência
Relativa (102º, CPC)

9. Personalidade judiciária
Segundo o disposto no artigo 11º, do CPC, a personalidade judiciária consiste na
suscetibilidade de ser parte, sendo que, quem tem personalidade jurídica tem, igualmente,
personalidade judiciária.
Nos termos do artigo 66º, nº1, do CC, terão personalidade jurídica e, consequentemente,
personalidade judiciária as pessoas singulares e as pessoas coletivas de Direito Privado
(158º, CC) ou Público.
O artigo 12º, CPC vem estender o conceito de personalidade judiciária a certas entidades
desprovidas de personalidade jurídica, de acordo com o critério de separação patrimonial.
Essa extensão é feita também relativamente a sucursais, agências, filiais, delegações ou
representações de pessoas jurídicas, atendendo ao critério de imputação do facto.
A falta deste pressuposto processual é, em princípio, insanável. Com exceção dos casos
previstos nos artigos 12º a 14º, do CPC, a inexistência de personalidade jurídica de
qualquer entidade impede a sua constituição como parte – trata-se de uma exceção
dilatória, de conhecimento oficioso, que gera a absolvição da instância (278º, nº1, c) +
577º, c) + 578º).

10. Capacidade judiciária


Quanto à capacidade judiciária, o artigo 15º, do CPC define-a como a suscetibilidade de
estar, por si, em juízo, tendo esta por base e por medida a capacidade do exercício de
direitos. Ou seja, carece de capacidade judiciária, quem não tem capacidade de exercício;
e têm a sua capacidade judiciária limitada, as pessoas cuja capacidade de exercício se
encontre limitada e na medida dessa limitação.
Assim, não têm capacidade judiciária os menores (representados, em princípio, pelos seus
pais); os maiores acompanhados.
O artigo 26º vem estabelecer que as entidades com mera personalidade judiciária devem
ser representadas pelos seus administradores.
A falta deste pressuposto processual é sanável, nos termos dos artigos 27º a 29º, CPC –
assim que o tribunal se apercebe da incapacidade judiciária tem o poder-dever de,
oficiosamente e a todo o tempo, providenciar pelo seu suprimento, através da
representação,

11. Legitimidade

Ser parte legítima é ter uma relação direta com o objeto do litígio.
Legitimidade Substantiva: atribui a titularidade real da relação material controvertida às
partes, à luz do direito substantivo – parte em sentido material. A consequência da sua
falta não é a absolvição do réu da instância, mas sim a absolvição do réu do pedido – a
ação é considerada improcedente.
Legitimidade Processual: enquanto pressuposto processual – condição de
admissibilidade para o juiz conhecer do mérito da causa). É retirada através da narrativa
do autor – é o que o autor indica na petição inicial.
30º, nº3, CPC – é um critério supletivo, mas acaba por ser o mais usado devido à incerteza
causada pelos nºs 1 e 2. Tem legitimidade processual quem o autor diz que tem
legitimidade processual, na petição inicial – o autor diz que é titular da relação material
contro vertida, dizendo quem é o réu. Ou seja, são considerados titulares do interesse
relevante para o efeito da legitimidade os sujeitos da relação material controvertida, tal
como é configurada pelo autor (a relação material que interessa para a aferição da
legitimidade é aquela que o autor descreveu na petição inicial, e não a que venha a apurar-
se na própria causa.
Por isso, é muito raro existir um caso de ilegitimidade processual singular (exceto quando
o autor intenta a ação, não se configurando como autor na petição inicial). Caso haja,
estaríamos perante uma exceção dilatória - 577º, e), CPC. É uma exceção insanável:
absolvição do réu da instância (278º, d), CPC).
֍ Ilegitimidade plural

Quando a mesma situação jurídica diz respeito a uma pluralidade de pessoas, todas têm
de estar em juízo: são os casos de imposição de litisconsórcio.
No litisconsórcio, o mesmo pedido é formulado por várias partes e/ou contra várias partes,
correspondendo a pluralidade de partes à pluralidade na contitularidade da mesma relação
material controvertida. Nos termos do artigo 33º, do CPC, o litisconsórcio é necessário
(legal, negocial ou natural) quando é obrigatória a intervenção de todos os titulares da
relação material.
Ao contrário da ilegitimidade processual singular que é insanável, a ilegitimidade plural
é sanável através do incidente da intervenção principal, espontânea ou provocada (311º a
316º, CPC).
Uma vez requerida essa intervenção, se o chamado não intervier, depois de citado, fica
sanada a ilegitimidade (320º, CPC). Contudo, se essa intervenção não for requerida, o réu
será absolvido da instância (278º, nº1, d) e 577º, e), CPC).
A intervenção principal tem por finalidade levar um terceiro a fazer valer um interesse
igual ao do autor ou do réu – podem intervir a título principal todos aqueles que, apesar
de não estarem desde o início no processo, são também titulares da relação material
controvertida.
Esta intervenção pode ser espontânea – o interveniente pode apresentar articulado
próprio, se o fizer até ao termo da fase dos articulados.
Pode, ainda, ser provocada – pode ter por objeto a sanação da ilegitimidade plural
decorrente da preterição do litisconsórcio necessário, do lado ativo ou passivo, caso em
que pode ser requerida por qualquer das partes, até ao termo da fase dos articulados (316º,
nº1 e 318º, nº1, a), do CPC); a intervenção é, ainda, permitida mesmo depois de uma
decisão de absolvição da instância (261º, CPC).

12. Substituição processual


263º, CPC – atribui legitimidade indireta ao “transmitente”. Temos sempre 2
interessados. Ocorre, por exemplo, em assunção de dívidas, cessão da posição contratual,
sub-rogação (transmissão de obrigações) OU sucessão e transmissão do direito em litígio
propriamente dito através de contrato – muito comum quando a coisa que é objeto do
processo é vendida. Há transmissão do direito em litígio, ou seja, seria ainda parte no
processo o transmitente.
A substituição de uma parte pela outra não é automática, tem de haver um incidente da
instância que habilite a outra parte e a chama ao processo.
O fenómeno encontra-se na exceção do artigo 30, nº3, 1ª parte – 263º - quando é que pode
ser aplicável? Quando, no âmbito do litígio, houve transmissão do objeto para um
terceiro. Questiona-se se o transmitente continua ou não a ter legitimidade processual.
Como o substituto ainda tem um interesse indireto em estar na ação, ainda tem
legitimidade. A habilitação não é automática, logo apesar de haver transmissão do objeto
do litígio, continua a haver legitimidade processual indireta. Só com a habilitação (351º,
CPC) é que o transmissário ocupa o lugar do réu, substituindo o transmitente.
13. Patrocínio Judiciário
O patrocínio judiciário consiste na representação e assistência técnica proporcionadas às
partes por advogados a fim de conduzirem o processo, de acordo com as regras legais. A
sua exigência prende-se com o direito à jurisdição (acesso ao Direito e à administração
da Justiça).
Assim o patrocínio judiciário só constitui exceção dilatória quando é imposto ao autor
(577º, h)), e só nos casos previstos no artigo 40º, nº1, CPC. O mandato judicial pode
constituir-se por qualquer das formas referidas no artigo 43º, podendo mesmo, em caso
de urgência, ser exercido a título de gestão de negócios (49º).
A falta, insuficiência ou irregularidade do patrocínio podem ser suscitadas pela parte ou
pelo tribunal a todo tempo e são sanáveis (48º, nº1 e 2 e 41º). Não sendo sanada essa falta,
haverá lugar à absolvição do réu da instância.
14. Interesse processual e responsabilidade processual simples
O interesse processual não é referido expressamente na lei portuguesa como pressuposto
processual. No entanto, a doutrina e a jurisprudência maioritária exigem-no, para evitar a
proposição de ações inúteis, referentes a pretensões que manifestamente não carecem de
tutela judiciária.
O interesse processual consiste na indispensabilidade/utilidade da tutela judiciária, isto é,
na situação de necessidade em que o autor se encontra, no momento em que exerce o seu
direito de ação, de solicitar proteção judicial através de um processo, bem como na
manutenção dessa situação de necessidade ou utilidade ao longo do processo. Ou seja,
está em causa uma situação objetiva de carência, na qual o titular da relação material
controvertida se encontra (não basta a existência de uma mera controvérsia) – 2º, nº2,
CPC.
Se o conflito que o autor apresenta ao tribunal não envolver a necessidade ou utilidade da
tutela judicial, apreciada objetivamente e do ponto de vista da normalidade social, o
tribunal deverá obstar ao prosseguimento da ação, absolvendo o réu da instância.
A falta do pressuposto constitui uma exceção dilatória de conhecimento oficioso (578º,
CPC). A falta deste pressuposto é insanável, devendo o juiz abster-se de conhecer de
mérito da causa e absolver o réu da instância (278º, nº1, e), CPC).
No entanto, o réu nunca deve ser absolvido da instância por falta de interesse processual
sem que o tribunal averigue se nesse momento lhe é possível concluir pela improcedência
da ação – 278º, nº3 (entendimento de MTS). Na verdade, sendo uma das finalidades deste
pressuposto evitar que o réu seja incomodado inutilmente, não se compreenderia que a
consequência da sua falta permitisse que o autor pudesse vir novamente propor contra ele
uma ação com o mesmo objeto.
Se o interesse processual deixar de estar presente no decurso do processo – não
prosseguimento da lide por inutilidade superveniente (277º, e), CPC – extinção da
instância).
➢ A matéria do pressuposto processual inominado do interesse em agir está, segundo
da Professora Paula Costa e Silva, intrinsecamente ligado à responsabilidade
processual simples que se encontra no artigo 535.º do CPC (responsabilidade do
autor pelas custas) e prevê a inversão do pagamento das custas e encargos
processuais, contudo a Professora defende que na verdade e em termos
dogmáticos o que está em causa não é uma responsabilidade propriamente dita
porque a propositura de ações não constitui um ato ilícito, mas sim uma norma
que prevê um critério de imputação de custas e encargos processuais.
A regra geral que regula a repartição de custas e encargos processuais consta do
artigo 527.º do CPC que prevê que “quem perde, paga tudo” – “o vencido paga ao
vencedor”.
Porém, no que diz respeito à responsabilidade processual simples, é essencial
abordar o disposto no artigo 535.º do CPC tendo em conta que é este que regula a
inversão das custas, ou seja, mesmo que o Réu perca a ação e seja condenado no
pedido, será o Autor que terá de pagar as custas e os encargos processuais porque
este, apesar de ter razão quanto ao mérito da causa (teve uma decisão favorável):
pe. Ser o autor o credor da obrigação que vincula o devedor réu, não tem interesse
processual e a ação proposta pelo autor não era justificável ao tempo que este a
propôs. Assim a consequência de o Autor intentar ações inúteis que não merecem
tutela jurisdicional no momento em que esta é proposta consubstancia uma
exceção dilatória cuja consequência não é a absolvição do réu da instância mas
sim a inversão do pagamentos das custas e encargos processuais nos termos do
artigo 535.º do CPC.
Divergência doutrinária entre o Professor Miguel Teixeira de Sousa e Professora Paula
Costa e Silva:
a) O Professor Miguel Teixeira de Sousa defende que o pressuposto
processual do interesse em agir decorre do artigo 30/2.º do CPC na parte
que refere a utilidade das ações propostas e que a falta do interesse
processual gera uma exceção dilatória inominada que leva à absolvição do
réu da instância nos termos do artigo 278.º, al. e) do CPC;
b) A Professora Paula Costa e Silva defende que a falta de prossuposto
processual não tem sempre as mesmas consequências, sendo que:

i. Regra Geral: a única consequência da falta de interesse processual


é a inversão de custas que consta do artigo 535.º do CPC, ou seja,
mesmo que o Autor tenha uma decisão favorável, é a este que lhe
é imputada a responsabilidade pelas custas.

Argumentos: à luz do sistema processual como um todo, esta posição é possível de


sustentar à luz do disposto no n.º 3 do artigo 610.º do CPC (condenações in futurum)
porque este refere que: 3 - Nos casos das alíneas a) e b) do número anterior, o autor é
condenado nas custas e a satisfazer os honorários do advogado do réu, que prevê e à luz
do artigo 557.º do CPC (pedidos de prestações vincendas) o autor configura o objeto do
processo partindo do pressuposto que as obrigações ainda não são exigíveis (ou seja não
existiria interesse processual) mas se o Autor comprovar que há um grave prejuízo se este
não intentar a ação (alegação de interesse processual) naquele momento é possível,
excecionalmente, configurar ações cujo objeto é a condenação do réu em prestações que
ainda não se venceram (ou seja não são exigíveis). Assim, neste caso, só é possível o
Autor configurar ações sobre prestações vincendas (art. 557.º do CPC) se este alegar o
seu interesse processual que no caso se materializa na alegação de grave prejuízo se este
não intentar a ação naquele momento;

Contudo se o réu contestar (cf. n.º 1 do artigo 535.º do CPC) a Professora entende que a
previsão do artigo 535.º do CPC não está preenchida e nesse caso, a consequência de falta
de interesse processual será, como defende o Professor Miguel Teixeira de Sousa, a
absolvição do réu da instância;

15. Responsabilidade processual agravada


Artigo 542.º do CPC (Responsabilidade no caso de má-fé - Litigância de má-fé).
Aproximação deste regime à lógica do direito penal no sentido em que só há
responsabilidade no caso de má-fé nos casos tipificados no n.º 2 do artigo 542.º do CPC;
Divergência da Professora Paula Costa e Silva e Professor Menezes Cordeiro no que diz
respeito à natureza do artigo 542.º do CPC (nomeadamente no que diz respeito ao paralelo
com a responsabilidade civil aquiliana que consta do artigo 483.º do CC);
Consequência da litigância de Má-fé: obrigação de indemnizar que consta do artigo 543.º
do CPC (Conteúdo da indemnização).

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