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5. Princípio do Contraditório
O princípio do contraditório é um dos corolários do princípio da igualdade das partes,
estando na base da estrutura do processo civil. Encontra-se consagrado no artigo 3º, nº1
e 3, CPC, e garante a participação efetiva das partes no desenvolvimento do processo, isto
é, garante que não sejam tomadas quaisquer providências contra alguém, sem que a
pessoa seja previamente ouvida. Deste modo, não pode o juiz decidir quaisquer questões
de facto ou direito, sem que as partes se possam pronunciar quanto às mesmas – garante
a imparcialidade do tribunal.
A sentença de um processo só pode ser justamente obtida se for conferida às partes
igualdade de armas, prevista no artigo 4º, CPC,
Este princípio concretiza-se em 2 direitos:
▪ Direito à audição prévia: a parte contra a qual foi proposta a ação deve ser
chamada para poder deduzir oposição (artigo 3º, nº1, parte final). É através da
citação do réu, prevista no artigo 219º, CPC, que o mesmo ganha conhecimento
de que foi proposta uma determinada ação contra ele, sendo chamado ao processo
para se defender. Sem citação não há contestação.
▪ Direito à resposta: consiste na faculdade, concedida a qualquer das partes, de
responder a um ato processual da contraparte, tanto no que respeita a matéria de
direito, como no que se refere a matéria de facto. Tem expressão legal em várias
normas, tais como os artigos 569º e ss, referentes à contestação e os artigos 584º
e ss, referentes à réplica.
6. Princípio do Dispositivo
O Princípio do Dispositivo, um pilar do processo civil, determina que o processo se
encontra na disponibilidade das partes, tendo por base a ideia de que no processo civil
estamos perante interesses de cariz privado. Assim, cabe às partes o ónus da iniciativa
processual, através da petição inicial, consagrada no artigo 3º, nº1, do CPC, uma vez que
só às partes cabe solicitar a tutela jurisdicional, isto é, não pode esta ser oficiosamente
concedida.
Segundo o Prof. Miguel Teixeira de Sousa, existem dois corolários subjacentes a este
princípio: princípio do impulso processual (é incumbido às partes praticarem atos que
determinam a pendência da causa e o andamento do processo) e o princípio da
disponibilidade privada (incumbe às partes a definição deste objeto e a realização da
prova dos respetivos factos, ou seja, ónus de alegação e o ónus da prova).
Deste modo, as partes estabelecem o objeto do processo, nomeadamente o autor da ação,
nos termos do artigo 552º, nº1, d), que vem limitar o conhecimento do tribunal e a sua
decisão, ou seja, o juiz não pode decidir em quantidade superior e diferente do pedido
(608º, nº2 e 609º, nº1). A causa de pedir é vinculativa para o Tribunal, cabendo às partes
expor os factos essenciais que constituem a causa de pedir, segundo o disposto no artigo
5º, nº1, CPC.
Podem, ainda, as partes pôr termo ao processo por meio de transação (parte da vontade
de ambas as partes – 283º, nº2, CPC), por meio de desistência do pedido (parte do próprio
autor – 283º, nº1, CPC) e por meio de desistência da instância (parte do réu, através da
confissão do pedido – 284º).
Assim, o princípio do dispositivo consagra a liberdade e responsabilidade das partes.
Segundo o disposto no artigo 615º, nº1, d) e), a violação do princípio do dispositivo tem
como consequência a nulidade da sentença. E em termos práticos, como é que esta
nulidade pode ser invocada? 615º, nº4.
Reclamação – feita ao tribunal que emitiu a sentença. Apenas existe quando não é possível
interpor recurso.
Recurso – recorrer a um tribunal superior (hierarquia).
7. Princípio do Inquisitório
8. Competência interna
Competência em razão do território (70º e seguintes, CPC) – qual a parcela
territorialmente competente? Para MTS, o artigo 7º (dupla funcionalidade) do
Regulamento já estabelece onde estará o tribunal competente. Caso não aplicássemos,
teríamos de aplicar o artigo 71º, CPC. Incompetência Relativa (102º, CPC)
Competência em razão da matéria – tiramos os tribunais administrativos e fiscais, e vamos
para os tribunais judiciais (64º, CPC) –aqui estamos perante matéria civil – juízo de civil.
Incompetência Absoluta (97º, a), CPC)
Competência em razão da hierarquia – 1ª instância (tribunais da comarca); 2ª instância
(Tribunais da Relação – há 5 em Portugal); STJ. Possibilita que as ações julgadas em 1ª
instância possam ser recorridas – 80º, nº1, LOSJ. Incompetência Absoluta (97º, a), CPC)
Competência em razão do valor – 117º, nº1, a) e 130º da LOSJ – dentro da matéria civil,
nos tribunais de 1ª instância temos 2 juízos que podem ser competentes: temos os juízos
centrais cíveis (valor superior a 50 mil euros – o legislador presume que envolve matéria
mais complexa) e os juízos locais cíveis (valor inferior a 50 mil euros). Incompetência
Relativa (102º, CPC)
9. Personalidade judiciária
Segundo o disposto no artigo 11º, do CPC, a personalidade judiciária consiste na
suscetibilidade de ser parte, sendo que, quem tem personalidade jurídica tem, igualmente,
personalidade judiciária.
Nos termos do artigo 66º, nº1, do CC, terão personalidade jurídica e, consequentemente,
personalidade judiciária as pessoas singulares e as pessoas coletivas de Direito Privado
(158º, CC) ou Público.
O artigo 12º, CPC vem estender o conceito de personalidade judiciária a certas entidades
desprovidas de personalidade jurídica, de acordo com o critério de separação patrimonial.
Essa extensão é feita também relativamente a sucursais, agências, filiais, delegações ou
representações de pessoas jurídicas, atendendo ao critério de imputação do facto.
A falta deste pressuposto processual é, em princípio, insanável. Com exceção dos casos
previstos nos artigos 12º a 14º, do CPC, a inexistência de personalidade jurídica de
qualquer entidade impede a sua constituição como parte – trata-se de uma exceção
dilatória, de conhecimento oficioso, que gera a absolvição da instância (278º, nº1, c) +
577º, c) + 578º).
11. Legitimidade
Ser parte legítima é ter uma relação direta com o objeto do litígio.
Legitimidade Substantiva: atribui a titularidade real da relação material controvertida às
partes, à luz do direito substantivo – parte em sentido material. A consequência da sua
falta não é a absolvição do réu da instância, mas sim a absolvição do réu do pedido – a
ação é considerada improcedente.
Legitimidade Processual: enquanto pressuposto processual – condição de
admissibilidade para o juiz conhecer do mérito da causa). É retirada através da narrativa
do autor – é o que o autor indica na petição inicial.
30º, nº3, CPC – é um critério supletivo, mas acaba por ser o mais usado devido à incerteza
causada pelos nºs 1 e 2. Tem legitimidade processual quem o autor diz que tem
legitimidade processual, na petição inicial – o autor diz que é titular da relação material
contro vertida, dizendo quem é o réu. Ou seja, são considerados titulares do interesse
relevante para o efeito da legitimidade os sujeitos da relação material controvertida, tal
como é configurada pelo autor (a relação material que interessa para a aferição da
legitimidade é aquela que o autor descreveu na petição inicial, e não a que venha a apurar-
se na própria causa.
Por isso, é muito raro existir um caso de ilegitimidade processual singular (exceto quando
o autor intenta a ação, não se configurando como autor na petição inicial). Caso haja,
estaríamos perante uma exceção dilatória - 577º, e), CPC. É uma exceção insanável:
absolvição do réu da instância (278º, d), CPC).
֍ Ilegitimidade plural
Quando a mesma situação jurídica diz respeito a uma pluralidade de pessoas, todas têm
de estar em juízo: são os casos de imposição de litisconsórcio.
No litisconsórcio, o mesmo pedido é formulado por várias partes e/ou contra várias partes,
correspondendo a pluralidade de partes à pluralidade na contitularidade da mesma relação
material controvertida. Nos termos do artigo 33º, do CPC, o litisconsórcio é necessário
(legal, negocial ou natural) quando é obrigatória a intervenção de todos os titulares da
relação material.
Ao contrário da ilegitimidade processual singular que é insanável, a ilegitimidade plural
é sanável através do incidente da intervenção principal, espontânea ou provocada (311º a
316º, CPC).
Uma vez requerida essa intervenção, se o chamado não intervier, depois de citado, fica
sanada a ilegitimidade (320º, CPC). Contudo, se essa intervenção não for requerida, o réu
será absolvido da instância (278º, nº1, d) e 577º, e), CPC).
A intervenção principal tem por finalidade levar um terceiro a fazer valer um interesse
igual ao do autor ou do réu – podem intervir a título principal todos aqueles que, apesar
de não estarem desde o início no processo, são também titulares da relação material
controvertida.
Esta intervenção pode ser espontânea – o interveniente pode apresentar articulado
próprio, se o fizer até ao termo da fase dos articulados.
Pode, ainda, ser provocada – pode ter por objeto a sanação da ilegitimidade plural
decorrente da preterição do litisconsórcio necessário, do lado ativo ou passivo, caso em
que pode ser requerida por qualquer das partes, até ao termo da fase dos articulados (316º,
nº1 e 318º, nº1, a), do CPC); a intervenção é, ainda, permitida mesmo depois de uma
decisão de absolvição da instância (261º, CPC).
Contudo se o réu contestar (cf. n.º 1 do artigo 535.º do CPC) a Professora entende que a
previsão do artigo 535.º do CPC não está preenchida e nesse caso, a consequência de falta
de interesse processual será, como defende o Professor Miguel Teixeira de Sousa, a
absolvição do réu da instância;