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Apontamentos de

Direito Processual Civil III

Teresa Mouro

Bibliografia utilizada:
FREITAS, José Lebre de. A Ação Executiva - À Luz do Código de Processo Civil de 2013.

I. PARTE GERAL

1. Conceito e fins da acção executiva


1.1 Delimitação
Existem duas espécies de acções, segundo o art.10/1 do CPC:
1. Acção Declarativa (art.10/2 e 3 CPC), que pode ser:

a) Acção de simples apreciação:

É pedido ao tribunal que declare a (in)existência dum direito ou de um facto jurídico. Ex: A, que se arroga proprietário de um prédio, pretende que a
existência do seu direito seja judicialmente declarada;

b) Acção de condenação:

Pretende-se que o réu seja condenado a prestar uma coisa ou de um facto. Pode ser precedida por uma acção de simples apreciação (onde se
declara a (in)existência prévia de um direito) ou não.

No primeiro caso, quando existe lugar a uma acção de simples apreciação inicial, ou seja, quando há um pedido de declaração prévia de um direito
ou de um facto jurídico, dizemos que estamos perante uma cumulação de pedidos (art.555 CPC). Ex: A, que pediu ao tribunal que reconhecesse o seu
direito de propriedade, pede também que condene D, possuidor do prédio em causa, a restituir-lho.

No segundo caso, quando apenas se pede a condenação do réu, o juízo prévio de apreciação é apenas um pressuposto lógico do juízo condenatório
pretendido.

Um pressuposto lógico da condenação é também a violação de um direito. No entanto, não é necessário que a mesma esteja consumada à data do
recurso a juízo ou até à data da sentença. Nestes casos, basta que haja uma previsão da violação do direito, dando lugar a uma intimação ao réu para
que se abstenha de o violar (art.1276 CC) ou à sua condenação a satisfazer a prestação no momento do vencimento – pedido de prestações
vincendas (art.557 CPC) e julgamento no caso de inexigibilidade da obrigação (art.610 CPC):

c) Acção constitutiva:

Pela sentença, o juiz cria novas situações jurídicas entre as partes, constituindo, impedindo, modificando ou extinguindo direitos e deveres que só
nascem com a própria sentença – ex: dissolução de um casamento por divórcio. O aspecto declarativo da sentença reside fundamentalmente na
definição só para o futuro ou retroactivamente da situação jurídica constituída.

2. Acção Executiva (art.10/6 CPC):

A acção executiva tem por finalidade reparar um direito violado. Providencia-se, de forma coativa, a prestação devida (art.10/4 CPC). Passa-se da
declaração concreta da norma jurídica, para a sua actuação prática, mediante o desencadear de mecanismos de garantia, postulados por um órgão
do Estado, dotado de jus imperii (os tribunais) – art. 2 CPC. Desta forma, o Estado tutela a atividade de resolução/extinção do conflito - garantia
jurisdicional efetiva como um direito individual à tutela jurisdicional (art. 20º CRP). Se não houvesse este direito constitucional à execução, todas as
garantias feitas valer não teriam propósito e estar-se-ia a preterir a garantia de igualdade entre as partes, já que uma sentença não executada
permanece inoperante em detrimento de uma parte (Caso TEDH Hornsby/Grécia, 1997).

Existem três tipos de acção executiva:

a) Acção executiva para pagamento de quantia certa:

O exequente pretende obter o cumprimento duma obrigação pecuniária através da execução do património do executado (817 CC). São apreendidos
pelo tribunal os bens que forem considerados suficientes para cobrir o valor em dívida e das custas, normalmente, tem lugar a venda dos bens, para
com o preço obtido se proceder ao pagamento. O exequente obtém o mesmo resultado que com a realização da prestação que lhe é devida.

b) Acção executiva para entrega de coisa certa:

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O exequente é titular da prestação de uma coisa determinada e pretende que o tribunal apreenda essa coisa ao executado e seguidamente lha
entregue (827 CC). Se não se encontrar a coisa, procedesse à liquidação do seu valor e do prejuízo resultante da falta da entrega, penhorando-se e
vendendo-se bens do executado para o pagamento da quantia liquidada (867 CC).

Neste tipo de processo, procura-se um resultado idêntico ou a um seu equivalente. Pode ter por base uma obrigação – ex: por escritura pública, o
proprietário obriga-se, a mediante retribuição, proporcionar o gozo temporário de uma coisa a outrem, que, para obter a entrega, propõe uma acção
executiva – ou um direito real – ex: numa acção de reivindicação, o possuidor ou detentor é condenado a entregar a coisa reivindicada ao
proprietário e este pede a execução da sentença.

c) Acção executiva para prestação de facto:

Quando se trata de um facto fungível, o exequente pode requerer que ele seja prestado por outrem à custa do devedor (828 CC), sendo então
apreendidos e vendidos os bens deste que forem necessários ao pagamento do custo da prestação.

Se o facto for infungível, o exequente só pode pretender a apreensão e a venda de bens do devedor suficientes para o indemnizar do dano sofrido
com o incumprimento (868 CC).

No caso da violação dum dever de omissão, ou seja, numa prestação de facto negativo, o exequente pedirá a demolição da obra que porventura
tenha sido efectuada pelo devedor, à custa deste, assim como à indemnização do prejuízo sofrido, ou uma indemnização compensatória (829 CC e
876 CPC).

1.2. Conclusões sobre a função da acção executiva:

- Pressupõe sempre o dever de realização de uma prestação. Esta prestação pode ser fruto de uma obrigação (primária ou de indemnização) ou de
um direito real;

- Não pode ter lugar perante uma simples previsão da violação de um direito. Como o exequente visa reparar um direito violado, só poderá propor
acção de execução depois de consumada a violação ou de se ter tornado exigível a obrigação;

- Através da acção executiva, o exequente pode obter resultado idêntico ao da própria prestação que lhe é devida, quer por meio directo (apreensão
da coisa/quantia devida ou por prestação do facto por terceiro), quer por meio indirecto (apreensão e venda de bens do devedor e subsequente
pagamento), ou, em sua substituição, ao valor equivalente ao património do devedor (execução por equivalente);

- O tipo de acção executiva é sempre determinado em face do título executivo, consoante deste resulte uma obrigação pecuniária, de coisa ou de
prestação de facto;

- A satisfação do credor é conseguida mediante a substituição do tribunal ao devedor.

1.3. Normas substantivas e normas processuais

O processo executivo visa a satisfação do direito do exequente. Como tal, fora dos casos de execução específica directa, tal implica a apreensão,
normalmente seguida de venda, de bens do devedor. Os efeitos da natureza real destes actos executivos e a necessidade de os articular com
eventuais direitos de terceiros sobre os bens apreendidos, importa o estabelecimento de normas que são também de direito substantivo, como os
arts. 819 a 826 do CC. É também ao direito substantivo que cabe a definição de responsabilidade patrimonial e de sujeição à execução dos bens
objecto de garantia real e de obrigação de prestação de coisa determinada, bem como do da exequibilidade intrínseca da pretensão (arts. 817, 818,
827 a 829, 400-2, 548 e 777-2-3 CC).

1.4. O acertamento e a execução

A declaração ou acertamento, que no processo declarativo é o ponto de chegada, no executivo é o ponto de partida.

No processo executivo, enquanto tal, que visa a satisfação do direito duma das partes contra a outra, os princípios da igualdade de armas (4 CPC) e
do contraditório (3-3 e 4 CPC), não têm o mesmo alcance que no processo declarativo.

O princípio da igualdade de armas (4 CPC) visa garantir o equilíbrio entre as duas partes na apresentação das respectivas teses. Enquanto o princípio
do contraditório (3-3 e 4 CPC) – que não se deve confundir com o direito de defesa (3-1 CPC) – implica o mesmo jogo de ataque e resposta e que
qualquer posição tomada por uma parte seja comunicada à contraparte, para que esta possa responder.

Ambos os princípios são uma derivação do princípio geral da igualdade das partes, que implica a paridade simétrica de ambas perante o tribunal e
desaguam no direito constitucional de acesso à justiça.

No entanto, a circunstância de no processo executivo estar apenas em causa a actuação da garantia de um direito subjectivo pré-definido leva a que:

- O executado não goze de paridade de posição com o exequente;

- A sua participação no processo se circunscreva no âmbito da substituição dos bens penhorados ou duma eventual indicação dos bens a penhorar,
da audição sobre a modalidade de venda e do controlo da regularidade e legalidade dos actos executivos;

- O seu direito à contradição seja assegurado ex post, através da possibilidade de oposição à execução, que constitui uma acção declarativa
estruturalmente autónoma relativamente ao processo executivo.

Assim, ainda que os princípios referidos supra estejam presentes no processo executivo, o primeiro limita-se apenas ao uso dos meios técnicos gerais
do processo civil e o segundo representa-se pela estrutura dialética que tem no processo declarativo. Pode dizer-se que a igualdade das partes é
meramente formal.

1.5. Juiz e agente de execução

O juiz exerce funções de tutela (731-b) e de controlo, proferindo nalguns casos despacho liminar (723-1-a e 726) e intervindo para resolver dúvidas
(723-1-d), garantir a protecção de direitos fundamentais (738-6, 749-7, 757, 764-4, 767-1) ou assegurar a realização dos fins da execução (759, 773-6,
782-2-3-4, 814-1, etc), mas deixou de ter a seu cargo a promoção de diligências executivas.

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A prática de actos executivos, assim como a realização das várias diligências do processo de execução passaram a caber ao agente de execução, que é
um misto de profissional liberal e de funcionário público, cujo estatuto de auxiliar de justiça implica a detenção de poderes de autoridade no
processo executivo. Podemos dizer que a sua existência implica a sua desjudicialização e a diminuição dos actos praticados pela secretaria. Contudo,
não impede a responsabilidade do Estado pelos actos ilícitos que o agente de execução possa praticar no exercício da sua função.

2. Pressupostos da acção executiva

2.1. Pressupostos específicos

Para que possa ter lugar a realização coactiva de uma prestação devida, ou do seu equivalente, devem estar cumpridos dois pressupostos, dos quais
depende a exequibilidade do direito à prestação:

a) O dever de prestar deve constar do título executivo. É um pressuposto de carácter formal, que extrinsecamente condiciona a exegibilidade do
direito, na medida em que lhe confere um grau de certeza, que o sistema considera suficiente, para a admissão da acção executiva.

b) A prestação deve mostrar-se certa, exigível e líquida. Estes são pressupostos de carácter material, que condicionam intrinsecamente a
exequibilidade do direito, visto que sem eles não é admissível a satisfação coactiva da prestação.

A configuração do título executivo como pressuposto processual não é duvidosa, dado que, no acertamento do título já foi constituída a única
condição da acção executiva. Quanto à certeza, exigibilidade e à liquidez da prestação, embora sejam apelidadas de “pressupostos”, adequa-se
melhor chamar-lhes condições da acção executiva, uma vez que se tratam de características conformadoras do conteúdo duma relação jurídica de
direito material. Só constituem requisitos autónomos da acção executiva, quando não resultem do título executivo (713). Caso contrário, diluem-se
no âmbito das restantes características da obrigação e a sua verificação é presumida pelo título. Por isso, podemos dizer que são exigências
complementares. Assim, concluímos que só são pressupostos processuais quando não constem do título – posição de ANSELMO DE CASTRO.

Contudo, a liquidez assume um estatuto diferente, quando referida à sentença judicial condenatória: esta só constitui título executivo após a
liquidação da obrigação pecuniária, que não dependa de mero cálculo aritmético, a qual tem lugar no processo declarativo (704/6). Neste caso, a
liquidez integra o próprio título, em vez de complementar um título já constituído.

Em suma, podemos concluir que o título executivo e a verificação da certeza, exigibilidade e da liquidez da obrigação exequenda são requisitos de
admissibilidade da acção executiva, sem os quais não tem lugar as providências executivas que o tribunal deve realizar com vista à satisfação da
pretensão do exequente.

2.2. Pressupostos gerais

Pressupostos gerais do processo civil:

- A competência do tribunal;

- A legitimidade das partes;

- O patrocínio judiciário;

- Os pressupostos no caso de pluralidade de sujeitos à acção;

- Os pressupostos no caso de cumulação de pedidos.

3. O título executivo

3.1. Noção

O acertamento é o ponto de partida da acção executiva, pois, a realização coactiva da prestação pressupõe a anterior definição dos elementos da
relação jurídica de que ela é o objecto. Através dele, determina-se o fim e os limites da acção executiva (10/5), i.e., o tipo de acção, o seu objecto,
assim como a legitimidade (activa e passiva) para ela (53/1). Pode ter que ser complementado, de forma a verificar-se se a obrigação é certa, líquida
e exigível (art.713 a 716).

O título executivo ganha relevância especial fruto da circunstância de oferecer a segurança mínima reputada suficiente quanto à existência do direito
de crédito, que se pretende executar.

3.2. Espécies

O 703/1 elenca quatro espécies de título executivo. A saber:

- Sentença condenatória;

- Documento exarado ou autenticado por notário ou outra entidade ou profissional com competência para tal;

- Título de crédito;

- Título executivo por força de disposição especial.

3.3. Sentença condenatória

3.3.1. Conceito

Qualquer tipo de acção – não apenas de condenação, mas também de mera apreciação, constitutiva ou até de execução – tem condenação em
custas e a decisão que a profere constitui título executivo para o efeito da sua cobrança coerciva.

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Por outro lado, discute-se se a sentença de mérito favorável proferida em acção declarativa constitutiva é susceptível de ser executada. O problema
põe-se quando por ela são criadas obrigações que podem ser objecto de incumprimento – p.e., o cônjuge obrigado a prestar alimentos não os presta.
À primeira vista, dir-se-á que a sentença constitui título excecutivo, de forma análoga à sentença proferida em acção declarativa de condenação. Mas,
se bem se vir, o efeito constitutivo da sentença produz-se automaticamente, nada restando dele para executar – a sentença realiza a sua eficácia no
mundo dos efeitos jurídicos, sem operar no mundo material. Neste caso, o que pode vir a ser objecto de execução é uma decisão condenatória,
expressa ou implícita, que com ele se pode cumular – p.e., a condenação no pagamento dos alimentos fixados.

Quanto às sentenças de mérito proferias em acções de simples apreciação é pacífico concluir´que não existe título executivo. Pois, ao tribunal foi
apenas pedido que apreciasse a existência dum direito ou dum facto jurídico. Existe apenas reconhecimento judicial.

Pode ainda acontecer que a condenação seja proferida em processo de natureza não civil – de carácter penal ou administrativo. Também aqui temos
uma sentença condenatória.

Assim, podemos afirmar que das sentenças judiciais, apenas as de condenação constituem título executivo. O termo sentença abrange também
acórdãos (156/3).

3.2.3. Trânsito em julgado e liquidez

A. Para que a sentença seja exequível, é necessário que tenha transitado em julgado, ou seja, seja insusceptível de recurso ordinário ou de
reclamação (628), excepto se, contra ela, se tiver interposto recurso com efeito meramente devolutivo (704/1).

A atribuição de efeito meramente devolutivo significa que é possível executar a decisão recorrida na pendência do recurso – constitui a regra no
recurso de apelação (647) e tem sempre ligar no recurso de revista (676).

Nestes casos, a execução, de natureza provisória, sofrerá as consequências da decisão que a causa venha a ter nas instâncias superiores.

Quando a causa vier a ser definitivamente julgada, a decisão proferida terá o efeito:

- de extinguir a execução, se for totalmente revogatória da decisão exequenda, absolvendo o executado;

- de a modificar, se apenas em parte revogar a decisão exequenda, mantendo uma condenação parcial do réu (704/2/1ª parte).

Se pelo tribunal de recurso vier a ser proferida uma decisão que, por sua vez, seja novamente objecto de recurso para um tribunal de instância
superior, a execução pode:

- suspender-se ou modificar-se, consoante a decisão da 2.ª instância for total ou parcialmente revogatória da anterior, se ao novo recurso também for
atribuído efeito meramente devolutivo;

- prosseguir tal como foi instaurada e só poderá ser extinta ou modificada com a decisão definitiva, se for atribuído efeito suspensivo ao recurso, o
qual se traduz em suspender a execução da decisão intermédia proferida (704/2/2ª parte).

A acção executiva proposta na pendência do recurso poderrrf também ser suspensa a pedido do executado, caso este preste caução. A caução visa
garantir o dano que, no caso da confirmação da decisão recorrida, o exequente sofra em consequência da demora da execução. É o que dispõe o
704/5, em equiparação desta situação à do executado que se tenha oposto à execução.

Não havendo lugar a esta suspensão e prosseguindo a execução, não é admitido pagamento, enquanto a sentença estiver pendente de recurso, sem
prévia prestação, pelo credor, de caução (704/3). Estas cauções são prestadas nos termos gerais dos art. 623 CC e do 906 e ss.

Dúvida: Porque é que o exequente presta caução?

B. Proferida a condenação judicial genérica (609/2) e não dependendo a liquidação da obrigação pecuniária de simples cálculo aritmético, esta tem
lugar em incidente do próprio processo declarativo, renovando-se para tanto a instância se já estiver extinta (704/6 e 358/2). Nesse caso, a sentença
de condenação só se torna exequível com a sentença de liquidação, que a complementa. Contudo, isto não prejudica a imediata exequibilidade da
parte da sentença de condenação que já é líquida (609/2). Esta imposição da liquidação da obrigação na acção declarativa rege igualmente o caso de
obrigação de entrega duma universalidade, mas só quando o autor possa caracterizar os elementos que a compõem antes do acto da apreensão
(716/7).

Nota: Não percebi nada.

3.3.3. A sentença proferida por tribunal estrangeiro

A sentença proferida por tribunal estrangeiro é exequível por força do 703/1/a. Mas só o é após revisão e confirmação pelo competente tribunal da
relação (706 e 969), visto que só depois de confirmada é que têm eficácia em Portugal (978/1). A confirmação é assim necessária, com a única
ressalva da sua invocabilidade em tribunal como meio de prova, a apreciar livremente pelo julgador (978/2).

Requisitos da confirmação, segundo o 980:

- O trânsito em julgado da sentença, segundo a lei do país onde foi proferida (al.b). Pelo que não é possível a execução provisória de uma sentença
estrangeira pendente de recurso;

- A não ocorrência de competência internacional exclusiva dos tribunal portugueses (63), nem fraude à lei que tenha provocado a competência do
tribunal estrangeiro (al.c);

- O respeito pelo direito de defesa e a observância dos princípios do contraditório e da igualdade de armas (al.e);

- A ininvocabilidade da excepção de litispendência ou de caso julgado com fundamento na afectação da causa a um tribunal português (al.d);

- A não contradição da decisão com a ordem pública internacional portuguesa (al.f)

O âmbito de aplicação dos preceitos da lei portuguesa sobre a revisão das sentenças estrangeiras encontra-se reduzido em consequência do
Regulamento de Bruxelas I e da Convenção de Lugano, que estabelecem que o reconhecimento automático das sentenças proferidas noutro Estado
da União ou, no caso da Convenção, noutro Estado Contratante, sem quaisquer formalidades. Delas conhece qualquer tribunal perante o qual a

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decisão seja invocada a título incidental, i.e., como resolução duma questão prévia de que dependa a decisão a proferir ou para dedução da excepção
de caso julgado. Se for invocada a título principal, pode a parte interessada, no regime do Regulamento, requerer ao tribunal que o Estado-Membro
haja indicado à Comissão que declare não haver motivos para recusar o reconhecimento, o mesmo podendo fazer a parte interessada na recusa. A
decisão só não será reconhecida nos casos em que seja contrária à ordem pública, ofenda os direitos de defesa, seja inconciliável com outra decisão
ou haja inobservância de normas de competência.

No regime do Regulamento N.º 44/2001, a execução de sentença proferida por um tribunal dum Estado da UE ou de outro Estado Contratante da
Convenção de Lugano sobre matéria não excluída e que tivesse força executiva no Estado em que houvesse sido proferida devia ser precedida de
declaração de executoriedade, a emitir a requerimento de qualquer interessado, por tribunal de 1.ª instância português. Este regime mantém-se na
Convenção, mas o Regulamento dispensa a declaração de executoriedade. Assim, a decisão proferida num Estado-Membro e que nele seja exequível
pode ser executada e fundar medidas cautelares em outro Estado da UE, em conformidade com a lei deste Estado.

3.3.4. Despachos judicias e decisões arbitrais

Os despachos e outras decisões ou actos de autoridade judicial - que condenem no cumprimento duma obrigação – e as decisões dos tribunais
arbitrais (705) são equiparados às sentenças (703/1/a).

Como exemplos de despachos condenatórios exequíveis, temos os que imponham multas à partes ou a testemunhas, condenem em indemnizações
ou fixem honorários de peritos, depositários, agentes de execução ou liquidatários judiciais. Estão também nesse caso as decisões que ordenem
providências cautelares que não sejam executadas nos próprios autos do procedimento cautelar (ver anotação do 373 do CPC anotado).

Quanto às decisões dos tribunais arbitrais estão, quando proferidas no estrangeiro, sujeitas a revisão, nos termos da Convenção de Nova Iorque
sobre o Reconhecimento e Execução de Sentenças Arbitrais Estrangeiras. Quando proferidas em território nacional, estão sujeitas às regras da
exequibilidade das sentenças dos tribunais judiciais de 1.ª instância.

3.3.5. Sentença homologatória

Na categoria de sentenças condenatórias cabem as sentenças homologatórias, das quais são exemplos a sentença homologatória de transacção ou
confissão do pedido (290/3) e a decisão homologatória de partilha.

As sentenças homologatórias caracterizam-se por o juiz se limitar a sancionar a composição dos interesses em litígio pelas próprias partes, limitando-
se a verificar a sua validade enquanto negócio jurídico. Por esta razão, estas sentenças foram qualificadas como títulos executivos parajudiciais ou
títulos judicias impróprios, em oposição às sentenças propriamente ditas.

ANSELMO DE CASTRO define os títulos executivos parajudicias como aqueles que, formando-se num processo – ou seja, de carácter formalmente
judicial – não procedem de uma decisão judicial, mas antes de um acto de confissão expressa ou tácita das partes.

À distinção destes dois tipos de título executivo, segundo ANSELMO DE CASTRO, correspondem duas especialidades de regime:

- Por um lado, a oposição à execução da sentença homologatória de conciliação, confissão ou transacção é possível com maior amplitude do que a
oposição à sentença judicial propriamente dita, pois nela se pode invocar qualquer causa de nulidade ou anulabilidade desses actos (729/i);

- Por outro lado, a sentença homologatória proveniente de tribunal estrangeiro não teria de ser objecto de revisão e confirmação por um tribunal
português, devendo ser equiparada aos títulos estrangeiros extrajudicias, que dela não carecem.

Em face do direito português, esta qualificação não é de adoptar. Na lógica da sua definição, ANSELMO DE CASTRO considerava também título
executivo parajudicial, entre outros, a sentença de condenação provisória do réu (fundada na confissão expressa, ou na simples admissão, da autoria
da assinatura do doc. em que se baseasse a acção). Está igualmente na lógica daquela definição considerar título executivo parajudicial toda a
sentença (ou despacho) proferida por via dum efeito cominatório pleno (716/4, 773/4 e 777/3, 791/4).

Por seu lado, a sentença homologatória constitui, no nosso direito, uma sentença de condenação como as restantes, sem prejuízo de os actos
dispositivos das partes que a determinam estarem, como negócios jurídicos do direito civil, sujeitos a um regime de impugnação que não se
confunde com o da sentença homologatória, da qual resulta o efeito de exequibilidade. Ter em conta, em sede de acção declarativa, o 291/2 e, em
sede de acção executiva, o 729/i.

3.4. O documento exarado ou autenticado por notário ou entidade equiparadas

3.4.1. Conceito

Os docs. exarados ou autenticados por notário ou por outra entidade a que a lei atribua competência (703/1/b) são títulos extrajudiciais, uma vez
que não foram proferidos em juízo, ou negociais, porque emergem de um negócio jurídico celebrado extrajudicialmente.

São exarados por notário (docs. autênticos), entre outros, o testamento público e a escritura pública.

São autenticados por notário aqueles que, por ele não exarados, lhe são posteriormente levados, para que, na presença das partes, ateste a
conformidade da sua vontade com o respectivo conteúdo. Inclui-se aqui, p.e., o testamento cerrado (2206/4CC).

Evidentemente que o testamento não pode constituir título executivo. Mas já o será, por nos situarmos no campo das obrigações, quando o testador
nele confessa uma dívida sua ou constitui uma dívida que impõe a um sucessor. Em ambos os casos, tem que se verificar uma aceitação da herança
pelo sucessor, a qual constitui condição de transmissão da dívida e, por isso, fundamento de legitimidade passiva do sucessor para a execução, no
primeiro caso, e condição suspensiva da própria obrigação, no segundo. Por isso, a aceitação tem que ser alegada e, pelo menos no segundo caso,
provada pelo exequente (54/1 e 715/1, respectivamente); mas o título executivo é sempre o testamento e não o acto de aceitação da herança.

3.4.2. Documento recognitivo

Os docs. autenticados e autênticos constituem título executivo quando formalizam o acto de constituição de uma obrigação, mas também quando
deles conste o reconhecimento, pelo devedor, duma obrigação pré-existente: confissão do acto ou mero facto que constitui (352, 358/2 e 364 CC);
reconhecimento de dívida (458 CC), segundo o 703/1/b.

A prova da obrigação pode ser feita através do doc. original, como através da sua certidão ou fotocópia autêntica (383, 384, 386 e 387 CC).

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3.4.3. A promessa de contrato real e a promessa de obrigação futura

A norma constante do 707 teve uma redação que deu lugar a dificuldades de interpretação. Dizia-se que cabiam o âmbito de previsão do preceito, os
contratos de abertura de crédito, fornecimento, empreitada e outros de execução continuada, sendo nele consideradas as prestações futuras a
efectuar por aquele que se quisesse prevalecer do título executivo: a entidade financiadora, o fornecedor, o empreiteiro ou outro credor que tivesse
que efectuar uma prestação posteriormente à sua emissão, devia provar tê-la efectuado por um doc. complementar, emitido de acordo com a
própria escritura ou revestido de exequibilidade própria.

Desta afirmação, resultaria que sempre que por escritura pública fossem contraídas obrigações bilateriais recíprocas no âmbito dum contrato de
execução continuada, nenhum dos contraentes poderia propor a execução sem fazer prova documental, salvo se a contraparte estivesse obrigada a
cumprir antes dele.

A norma constante do 715 estatuía que para todos os casos de obrigações recíprocas em que o exequente tenha de cumprir ao mesmo tempo ou
antes do executado, qualquer que fosse o título executivo e estivesse em causa o contrato de execução instantânea ou de execução continuada,
contentando-se com a oferta da prestação e admitindo mais largamente os meios de prova. Não fazendo sentido um regime mais apertado no caso
da escritura no que de outro título executivo, a única maneira de compatibilizar os dois preceitos consistia em restringir a expressão “prestação
futura” de forma a fazê-la coincidir com a “prestação constitutiva dum contrato real”: a prova complementar seria exigida apenas quando fosse
apresentado um título executivo negocial que provasse a contratação, uni ou bilateral, da obrigação de celebrar um contrato real, por só assim ficar
suficientemente assente, para efeitos de execução, a contracção da obrigação exequenda.

Com a revisão do CPC, o preceito ganhou nova redacção, mas não maior clareza textual. Nele se preveem dois tipos de situação:

- A convenção de prestações futuras, onde se exige a prova de que alguma prestação foi realizada para conclusão do negócio jurídico. O que
corresponde à formulação do direito anterior, com a substituição de “cumprimento do negócio” pela “conclusão do negócio”, que abona no sentido
de que se quis exigir a prova complementar da realização da prestação constitutiva dum contrato real prometido por documento autêntico ou
autenticado. Os contratos de abertura de crédito, bem como os de promessa de mútuo, fornecimento, comodato, depósito ou locação são
abrangidos por esta previsão;

- A previsão da constituição da obrigações futuras, onde se exige a prova de que alguma obrigação foi constituída na sequência da previsão das
partes. Procura abranger casos em que as partes não se tenham vinculado, uni ou bilateralmente, à celebração de um negócio jurídico, mas se
tenham limitado a prever, em doc. autêntico ou autenticado, a possibilidade dessa celebração, nomeadamente constituindo logo garantia
(hipotecária) que cubra a realização dessa previsão. É bastante frequente na prática bancária.

3.5. Títulos de crédito

3.5.1 O título de crédito enquanto tal

O 703/1/c) concede exequibilidade aos títulos de crédito que, ainda meros quirógrafos, desde que, neste caso, os factos constitutivos da relação
subjacente constem do próprio documento ou sejam alegados no requerimento executivo.

A letra, a livrança e o cheque são os únicos docs. particulares a que a lei confere exequibilidade.

Quanto ao cheque, alguma jurisprudência (minoritária) nega-lhe exequibilidade, com o argumento de que ele mais não é do que uma ordem de
pagamento. Contudo, esquece-se que a entrega ao portador ou o preenchimento à ordem tem implícita a constituição ou o reconhecimento de uma
dívida, a satisfazer através da cobrança de um direito de crédito (cedido), contra a instituição bancária. De salientar que é exigível o seu total
preenchimento, incluindo a datação, para que possa valer como tal. O STJ decidiu ser imprescindível a apresentação do cheque a pagamento no
prazo de 8 dias, sem a qual não pode funcionar como título executivo (Ac. Do STJ de 14/6/1983, BMJ, 1983).

Só é exigido o reconhecimento da assinatura do devedor no título de crédito quando ele não saiba ou não possa ler, sendo então assinado a rogo.
Fora deste caso, o reconhecimento, por notário, da assinatura, do devedor tem a utilidade de obstar ao pedido de suspensão da acção executiva pelo
executado que alegue a não genuinidade da assinatura.

3.5.2. O título de crédito enquanto quirógrafo

Prescrita a obrigação cartular constante de uma letra, livrança ou cheque (pelo decurso do prazo prescricional, seguido da manifestação de vontade
do devedor no sentido de que pretende valer-se da prescrição), pode o título de crédito continuar a valer como título executivo, desta vez enquanto
escrito particular consubstanciando a obrigação subjacente, segundo o 703/1/c).

Quando o título de crédito mencione a causa da relação jurídica subjacente, o título prescrito vale como documento particular respeitante à relação
jurídica subjacente.

Quanto aos títulos de crédito prescritos dos quais não conste a causa da obrigação, há que distinguir consoante a obrigação emerja ou não de um
negócio jurídico formal.

Se não emergir, uma vez que a causa do negócio jurídico é um elemento essencial deste, o documento não constitui título executivo (221/1 e 223/1
CC).

Se emergir, a autonomia do título executivo em face da obrigação exequenda e a consideração do regime do reconhecimento de dívida (458/1) leva a
admiti-lo como título executivo, sem prejuízo de a causa da obrigação dever ser invocada na petição executiva e poder ser impugnada pelo
executado. Se o exequente não a invocar, ainda que a título subsidiário, no requerimento executivo, não será possível fazê-lo na pendência do
processo, após a verificação da prescrição da obrigação cartular e sem o acordo do executado (264), por tal implicar alteração da causa de pedir.

A invocação da causa da obrigação subjacente introduz esta como objecto do processo executivo, mesmo que ainda não tenha prescrito a dívida
abstracta.

3.5.3. Legalização de documentos estrangeiros

Não carecem de revisão para serem exequíveis em Portugal (706/2), mas devem ser objecto de legalização. Esta legalização tem lugar, para docs.
autênticos e autenticados, mediante o reconhecimento da assinatura do oficial público que os emitiu ou autenticou pelo agente diplomático ou

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consular português, no Estado respectivo (440/1). Só é dispensável – para além dos casos abrangidos por regulamento comunitário ou por convenção
aprovada e ratificada pelo Estado Português, como é o caso do Regulamento de Bruxelas I, da Convenção de Haia e da Convenção de Lugano -
quando a autenticidade for manifesta. O reconhecimento não é obrigatório, em sede de prova, senão quando haja fundadas dúvidas sobre a
autenticidade do coumento (365/2 CC)

Para os títulos de crédito é igual. Para serem exequíveis carecem de reconhecimento notarial da assinatura do subscritor (440/2).

Notas:

- Regulamento Bruxelas I: Também dispensa a declaração de executoriedade.

Convenção de Haia: O reconhecimento de documentos exarados num dos Estados outorgantes, que se pretendam fazer valer em outro Estado
outorgante, é feito através de uma apostilha (certificação da autenticidade de atos públicos), a emitir por uma entidade pública do Estado de origem
por este designada – em Portugal, é a PGR). Da articulação desta Convenção com o Regulamento Bruxelas I e a Convenção de Lugano, resulta que os
documentos autênticos carecem da declaração de executoriedade para o efeito de fundarem a acção executiva, sempre que possam fundar uma
acção executiva no Estado em que foram exarados, sem prejuízo de carecerem da apostilha, quando se pretenda fazê-los valer como simples meior
de prova e ainda quando não constituam título Executivo no Estado de origem.

- Convenção de Lugano (art.57): os documentos autênticos exarados num Estado contratante, de acordo com os requisitos de autenticidade nele
estabelecidos, e que aí revistam natureza de título executivo, podem fundar uma execução em outro Estado contratante, mesmo que aqui não fosse
exequíveis, após a emissão, neste Estado, da declaração de executoriedade, a emitir, a requerimento de qualquer interessado, nos mesmos termos
que a declaração de executoriedade das sentenças. Esta declaração só pode ser negada, se a execução for contrária à ordem pública internacional do
Estado requerido.

- Regulamento Bruxelas I: Também dispensa a declaração de executoriedade.

3.6. O título executivo por força de disposição especial

3.6.1. Títulos judiciais impróprios

Alguns títulos cuja força executiva resulta de disposição especial da lei (703/1/d) formam-se no decurso do processo. Podem formar-se na pendência
de um processo executivo – p.e. 741/5, 776/2, 777/3, 792/3, 827/1.

Assim, no processo de prestação de contas, quando o réu as apresente e delas resulte um saldo a favor do autor, pode este requerer que o réu lhe
seja notificado a pagar a importância do saldo, sob pena de lhe ser instaurado um processo executivo (944/5). Aqui, o título executivo são as contas
apresentadas pelo réu.

Assim, também, nos termos do DL 269/98 e DL 62/2013, que regulam o processo de injunção, o titular do direito de crédito pecuniário, decorrente
do contrato, cujo valor não exceda a alçada do tribunal da 1.ª instância, ou constitua remuneração estabelecida em contrato de fornecimento de
mercadorias ou prestação de serviços, celebrada entre empresas ou entre empresas e entidades públicas, pode requerer, na secretaria do tribunal do
lugar do cumprimento da obrigação ou do do domicílio do devedor, a injunção para o cumprimento da obrigação (art.1 do DL 269/98, art.8/1 do
regime anexo e 10/1 do DL 62/2013). O requerido é notificado para, em 15 dias, pagar ao credor a quantia pedida ou deduzir oposição. Se se opuser,
tal como se a notificação se frustrar, seguem-se os termos do processo especial de acção declarativa. Mas se o requerido não deduzir oposição, o
secretário judicial, sem que o processo seja concluso ao juiz, escreverá no requerimento de injunção que “este documento tem força executiva”, a
menos que não se verifiquem os requisitos do processo de injunção. O requerente pode propor, no competente juízo civil, acção executiva com base
no título executivo formado pelo requerimento de injunção a que é aposta a fórmula executória.

3.6.2. Títulos administrativos ou de formação administrativa

São emitidos por repartições do Estado, de autarquias locais ou de outras pessoas colectivas públicas. Têm por conteúdo créditos próprios.

São, por exemplo, títulos de cobrança de tributos, coimas, dívidas determinadas por acto administrativo, reembolsos ou reposições e outras receitas
do Estado (148 e 162 CPPT), certificado de conta de emolumentos e demais encargos devidos por acto de registo ou notariado, certidão de dívida de
contribuições a uma instituição de segurança social, etc.

3.6.3. Títulos particulares

Exemplos: actas de reunião de assembleia de condóminos, em que se encontrem fixadas as contribuições a pagar ao condomínio; documento de
contrato de arrendamento de prédio urbano, acompanhado de comprovativo da comunicação ao arrendatário da resolução ou da denúncia do
contrato pelo senhorio, fundando execução para restituir o local (1084/1, 1097, 1101 CC); extracto de conta passado por sociedade dedicada à
concessão de crédito por via de emissão e utilização de cartões de crédito, titulando o respectivo saldo; os certificados passados por entidades
registradoras de valores mobiliários escriturais; documento de contrato de mútuo concedido pela CGD; a certidão de não pagamento de prestações
do preço da compra e venda de um prédio ou fracção em regime de propriedade resolúvel, bem como dos respectivos juros, emitida pela entidade
vendedora e contendo a declaração de resolução para, juntamente com o documento do contrato de compra e venda dar a execução para restituição
da coisa ao vendedor (art-12/2 do DL 167/93).

3.7. Natureza e função do título executivo

3.7.1. O título é um documento

Os títulos criados pelo 703/1/b/c/d são inequivocamente documentos escritos e representativos de uma declaração - de ciência (tem por objecto um
facto que é afirmado como real, constituindo assim uma afirmação sobre a realidade exterior) ou de vontade (quando manifesta um querer do
declarante, exteriorizando assim um elemento psíquico volitivo) – e como tal constitui meio de prova (362, 371/1 e 376/2 CC).

No caso da sentença condenatória, o aspecto dinâmico da injunção ao réu para que este realize uma prestação devida sobressai sobre o aspecto
estático do documento em que ela se materializa. Se tomarmos como paradigma o título executivo, este constitui um acto jurídico e não tanto um
documento. Acto jurídico esse que, aplicando e concretizando o direito, torna possível, graças à sua estrutura de comando, a subsequente actuação
prática da sanção se a ordem judicial não for cumprida.

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Esta diferente perspectiva de aproximação do conceito de título executivo, deu origem a uma discussão doutrinária entre Carnelutti e Liebman. Para
Carnelutti, a sentença condenatória tem a natureza de documento, mas, para Liebman, reveste a natureza de acto.

A concepção de Liebman acaba, no caso dos títulos executivos negociais, fazer coincidir o título com o próprio negócio, quando há muita a doutrina
vem afirmando que a acção executiva, baseada no título, goza duma autonomia paralela à do título de crédito em face a obrigação subjacente.

Quanto a uma definição do título como documento, compatibilizando-se com esta autonomia, desde que no documento se veja mais a
materialização ou corporalização dum direito exequível do que o meio de prova do facto constitutivo desse direito.

O título executivo extrajudicial constitui documento probatório da declaração de vontade constitutiva de uma obrigação ou duma declaração directa
ou indirectamente probatória do facto constitutivo duma obrigação e é este o seu valor probatório, que leva a atribuir-lhe exequibilidade.

O título executivo judicial constitui documento probatório dum acto jurisdicional que acerta esse facto constitutivo.

Mas a consideração da inexiquibilidade da sentença de mera apreciação, que também realiza esse acertamento, leva a concluir que tal não chega
para explicar a constituição do título executivo judicial, o qual requer também a emanação duma ordem emitida em função dum pedido. Para LEBRE
DE FREITAS, esta dualidade de justificações da figura pode ser insuperável e, na tentativa de chegar a um conceito unitário, assume que se tenha de
ficar pela afirmação de que uma e outra são consideradas base suficiente para a radicação da própria obrigação no título (documento) para efeitos
executivos, dado constituir qualquer delas o grau de certeza, sobre a existência do direito, que o sistema entende exigível para a admissibilidade da
acção executiva.

De qualquer modo, a função executiva do documento, embora pressupondo sempre a sua função probatória, não se confunde com ela e o
documento constitui base da acção executiva, com autonomia relativamente à actual existência da obrigação, que não tem de ser questionada na
acção executiva e em conformidade com a lei vigente à data em que o tribunal tenha de verificar a exequibilidade.

O título executivo é um documento; e a sentença, a ordem do tribunal fica representada nas folhas do processo em que é exarada, as quais não se
confundem com o acto de condenação que lhe constitui o conteúdo.

3.7.2. O título como condição da acção

Não há execução sem título, o qual tem de acompanhar o requerimento inicial ou de se formar dentro do processo, antes que tenha lugar qualquer
diligência de ordem executiva.

Maior dificuldade levanta a configuração do título como condição suficiente da acção executiva.

Consideremos os títulos negociais.

A desconformidade entre o título e a obrigação exequenda pode resultar de vício formal ou substancial da declaração de vontade ou de ciência que
lhe constitui o conteúdo ou do acto jurídico a que a declaração de ciência se reporte ou ainda de causa que afecte a ulterior subsistência da
obrigação.

No plano da validade formal, quando a lei exija certo tipo de documento para a sua constituição ou prova, não se pode admitir execução fundada em
documento de menor valor probatório para o efeito de cumprimento de obrigação correspondentes ao tipo de negócio ou acto em causa. P.e., no Ac.
Do TRL de 16/7/95, foi entendido que a nulidade por falta de forma do contrato de mútuo (1143CC), não afecta a exequibilidade da livrança
subscrita, mesmo no domínio das relações imediatas. A afirmação só é verdadeira, se se estiver no domínio das relações mediatas. No campo das
imediatas, a execução não pode prosseguir, uma vez verificada a nulidade do acto constitutivo da relação fundamental, a não ser para a restituição da
quantia entregue.

Do mesmo modo, não deve ser admitida a execução pretendida se tiver sido convencionada pelas partes certa forma voluntária e dado
conhecimento ao tribunal desta estipulação, que não tenha sido respeitada no acto de contracção da obrigação exequenda.

No campo da validade substancial, devem ser conhecidas todas as causas de nulidade do negócio ou acto que o título formaliza ou prova, desde que
sejam de conhecimento oficioso e o juiz se possa servir dos factos de que decorrem, no termos do art.5. Também aqui a desconformidade manifesta
entre o título e o direito que se pretende fazer valer impede a realização dos actos executivos.

A mesma orientação deve ser seguida quanto à ocorrência de factos modificativos ou extintivos posteriores à constituição do título. P.e., a extinção
da obrigação exequenda por acto de pagamento de terceiro, que resulta do próprio requerimento inicial.

Toda a desconformidade entre o título e a realidade substantiva pode e deve ser conhecida pelo juiz, desde que a sua causa seja de conhecimento
oficioso e resulte do próprio título, do requerimento inicial de execução, dos embargos de executado ou de facto notório ou conhecido pelo juiz em
virtude do exercício das suas funções.

Da articulação do 726/2/c) com o 734 resulta que o juiz deve indeferir liminarmente o requerimento de execução com algum dos fundamentos
referidos – embora o 726/2/c) não refira os factos modificativos, estes poderão dar lugar a indeferimento parcial, como consagra o 726/3. Resulta
também que não o tendo feito, deverá rejeitar ulteriormente a execução, extinguindo-a, quando se aperceba da situação, ainda que em virtude de
embargos de executado deduzidos com outro fundamento ou quando o processo lhe seja concluso, por outro motivo, até ao primeiro acto de
transmissão de bens.

O juiz não pode solicitar meios de prova complementares ao exequente, salvo os casos de incerteza, inexigibilidade e iliquidez da obrigação.

A obrigação exequenda tem de constar no título e a sua existência é por ele presumida, podendo ser ilidida tal presunção, salvo o recurso à acção
declarativa de embargos de executado, movida com essa finalidade. Só neste sentido julgamos poder ser afirmada a suficiência do título para a acção
executiva e a sua consequente autonomia em face da obrigação exequenda.

3.7.3. O título e a causa de pedir

O título é a causa de pedir na acção executiva, de acordo com a qual a causa de pedir deixaria, na acção executiva, de ser o facto jurídico de que
resulta a pretensão do exequente (581/4) para passar a ser o próprio título executivo, que dela constitui prova ou acertamento.

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Não constituindo o título um acto ou facto jurídico, esta construção não se harmoniza com o tradicional conceito de causa de pedir. Resultaria
também na impossibilidade de deduzir a excepção de litispendência, por serem diversas as causas de pedir, quando o mesmo crédito estivesse
representado por dois títulos executivos (p.e, escritura e sentença) e ambos fossem executados cada qual em seu processo. Se assim fosse, um
resultado prático semelhante ao da litispendência poderia conseguir-se mediante a invocação do 752/1, mas, afastada a configuração do título
executivo como causa de pedir, a excepção de litispendência, deduzida do 729/c) impede mais radicalmente (732/4) o prosseguimento da segunda
execução.

A invocação do 752/1 para afastamento duma segunda penhora é útil no campo das relações concorrentes. Se, p.e., o credor mover uma execução
contra cada um dos devedores solidários, não se configura litispendência, mas a obtenção, numa das execuções, duma primeira penhora levará à
suspensão das restantes, até que, realizado o pagamento, elas se extingam (se o pagamento for total) ou prossigam com o objecto reduzido (se for
parcial), por aplicação dos 523CC, 729/g) e 849/1.

3.8. Consequências da falta de apresentação do título executivo

O título (ou a sua cópia) é um pressuposto forma da acção executiva e deve, em regra, acompanhar o requerimento inicial da execução (724/4/a).

Só assim não é quando o requerimento executivo é apresentado nos autos da acção declarativa em que foi proferida a sentença exequenda (85/1),
visto que esta consta do próprio processo, a menos que dela tenha sido interposto recurso com efeito meramente devolutivo (a sentença é
certificada por translado: 649/1).

Se der entrada no tribunal um requerimento desacompanhado do título (ou cópia) ou acompanhado do título que nada tem a ver com a execução
instaurada, o juiz deve proferir despacho de indeferimento liminar. Mais correcta é a solução do despacho de aperfeiçoamento, por força do princípio
da economia processual, de forma a corrigir o requerimento (726/2 e 4).

No caso de se pedir mais do que o constante do título – p.e., pedir 2500€ quando do título consta a obrigação de 1500€ - tem lugar o indeferimento
parcial.

No caso de serem deduzidos vários pedidos e nem todos constarem do título, não sendo manifesta a falta de título para os pedidos a descoberto,
deve o juiz mandar aperfeiçoar a petição, ordenando a apresentação de título do qual constem os pedidos a descoberto. Se a apresentação não for
feita, deve indeferir a petição inicial quanto a eles.

Se o executado for citado, pode deduzir oposição à execução.

3.9. Uso desnecessário da acção declarativa

O facto de se dispor de título executivo não impede que o credor legitimado proponha contra o devedor uma acção declarativa, mas é desnecessário.
Neste caso, as custas são pagas pelo credor (535/2)

4. Certeza, exigibilidade e liquidez da obrigação

4.1. Conceito

4.1.1 A certeza

É certa a obrigação cuja prestação se encontra qualitativamente determinada (ainda que esteja por liquidar ou individualizar).

Não é certa aquela em que a determinação (ou escolha) da prestação, entre uma pluralidade, está por fazer (400CC). Tal acontece nos casos da
obrigação alternativa (em que o devedor está obrigado a efectuar uma de duas ou mais prestações, segundo escolha a efectuar: 543CC) e nos casos
de obrigação genérica de espécie determinada (o devedor está obrigado a prestar determinada quantidade de um género que contém duas ou mais
espécies diferentes. 539CC).

4.1.2. A exegibilidade

A prestação é exigível quando a obrigação se encontra vencia ou o seu vencimento depende, de acordo com estipulação expressa ou com a norma
geral supletiva do 777/1CC, de simples interpelação do devedor.

Não é exigível quando, não tendo decorrido o vencimento, este não está dependente de mera interpelação. É este o caso quando:

- Tratando-se de uma obrigação a prazo certo, este ainda não decorreu (779CC);

- O prazo é incerto e a fixar pelo tribunal (777/2CC);

- A constituição da obrigação foi sujeita a condição suspensiva, que ainda não se verificou (270CC e 715/1);

- Em caso de sinalagma, o credor não satisfez a contraprestação (428CC). Neste caso, a lei processual equipara a falta de realização ou oferta da
prestação a efectuar pelo exequente às situações de pura inexigibilidade (715/1).

O conceito de exigibilidade não se confunde com o de vencimento, nem com o de mora do devedor.

A obrigação pura, cujo devedor não tenha sido ainda interpelado não está vencida, e, no entanto, é exigível (777/1CC). Por outro lado, pode a
prestação ser exigível e a obrigação estar vencida e não haver mora do devedor: basta que tenha ocorrido mora do credor, por este não ter aceite a
prestação ou não ter realizado os actos necessários ao cumprimento (813CC), que se trate de obrigação pura em que já tenha sido feita a
interpelação ou oferta da prestação pelo devedor, quer de obrigação a prazo em que este já tenha decorrido.

A exigibilidade da prestação não é requisito na acção declarativa de condenação.

4.1.3. A liquidez

No seu conceito de direito das obrigações, é ilíquida a obrigação que tem por objecto uma prestação cujo quantitativo ainda não esteja apurado.

A obrigação ilíquida distingue-se da obrigação genérica, que é aquela cujo objecto é referido a um género que o contém. A obrigação genérica pode
ter objecto quantitativamente indeterminado (obrigação de espécie indeterminada) ou determinado (ex: são devidas 200 toneladas de mármore de

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certa qualidade). No caso das obrigações genéricas de objecto determinado a concretização d objecto depende dum mero acto de individualização
das unidades que serão prestadas (861/2).

Normalmente, a obrigação genérica é uma obrigação líquida, a menos que também quantitativamente o seu objecto se apresente indeterminado
(deve-se uma quantidade de toneladas de mármore que ainda está pode determinar).

O CPC faz coincidir os conceitos de pedido genérico (que nada tem a ver com a obrigação genérica) e de pedido ilíquido, i.e., pedido respeitante A
uma obrigação ilíquida, abrangendo neste conceito o caso da universalidade.

O conceito de pedido genérico retira-se dos seguintes artigos:

- Art.556: Casos em que, na acção declarativa, ele é admitido e expresso em que a subsequente concretização do pedido genérico, em prestação
determinada, se pode fazer mediante o incidente de liquidação dos 558 e 360, sempre que ele se refira a uma universalidade ou às consequências de
um facto ilícito;

- Art.557/1: Onde pedido genérico é também respeitante a outros casos de obrigação ilíquida.

Quando o pedido genérico não é subsequentemente liquidado na pendência do processo declarativo, o tribunal condena no que vier a ser liquidado,
sem prejuízo de condenação imediata na parte que já seja líquida (609/2). É que a liquidação da obrigação tem sempre lugar na acção declarativa
que decorra nos tribunais judiciais (704/6), renovando-se, para o efeito, a instância quando o pedido de liquidação tenha lugar depois do trânsito em
julgado da sentença (358/2). Execptuando-se os casos em que a liquidação dependa de simples cálculo aritmético.

O 716 trata da liquidação na obrigação na acção executiva, aplicando-se a todos os casos em que a obrigação exequenda se apresente ilíquida em
face do título executivo. O n.º 1 refere-se à obrigação pecuniária ilíquida e o n.º7 à obrigação de entrega de uma universalidade. Neste último caso,
bem como quando a liquidação da obrigação não dependa de simples cálculo aritmético, pode ter lugar a um incidente de liquidação, na acção
executiva.

4.2. Regime: certeza e exigibilidade

4.2.1. Obrigações alternativas

Nas obrigações alternativas, a escolha ou determinação da prestação a efectuar, entre a pluralidade de prestações que constitui o seu objecto, pode
incumbir ao credor, ao devedor ou a terceiro (543/2CC e 549CC).

- Se a escolha pertencer ao credor e este não a tiver ainda feito, fá-la-á no requerimento inicial da execução (724/1/h). Assim, quando der entrada no
tribunal, a obrigação já é certa.

- Se a escolha pertencer ao devedor, é este notificado, ao mesmo tempo que citado, para, no prazo da oposição à execução, se outro não tiver sido
fixado pelas partes, declarar por qual das prestações opta (714/1). Na falta de escolha pelo devedor, escolhe o credor (714/3).

De acordo com esta norma:

- Se o prazo da escolha estiver fixado no título executivo, basta, sem prejuízo de o credor poder preferir a notificação judicial avulsa do
devedor (256), que este seja convidado, no acto da citação, a escolher a prestação;

- Se o prazo de escolha não estiver fixado, o devedor tem o ónus de escolher no prazo de 20 dias do 728/, em conformidade com o
548CC;

- Se o executado não escolher, é notificado o exequente para o fazer;

- Sendo vários os devedores e não sendo possível formar maioria quanto à escolha, cabe esta ao exequente (714/3).

- Se o prazo fixado se mostrar há muito excedido, o direito de escolha é devolvido ao exequente;

- Se, não tendo sido expressamente fixado prazo algum para a escolha, a obrigação for a prazo e este já tiver decorrido, depende da
interpretação do contrato saber se o prazo da escolha coincide com o previsto para o cumprimento ou se uma vez este decorrido, deve ter lugar a
notificação do devedor para que escolha (caso em que só depois poderá ocorrer o vencimento da obrigação).

- Se a escolha for de terceiro e este não a tiver efectuado, há lugar, na fase liminar do processo executivo, à sua notificação para o efeito (714/2). Se
não escolher, passa o exequente a fazê-lo (714/3).

Para LEBRE DE FREITAS, a reversão da escolha para o exequente é grave, na medida em que pode colocar em risco o equilíbrio negocial das
prestações, tal como as partes o estabeleceram.

Se a escolha tiver sido feita antes do processo de execução, seja pelo devedor, terceiro ou pelo tribunal, cabe ao exequente, ao propor a acção
executiva, fazer nela prova de que foi efectuada, por aplicação anlógica do 715/1 a 4.

4.2.2. Obrigações genéricas

Só são incertas quando há uma pluralidade de espécies, podendo a quantidade que o devedor está obrigado a prestar ser de uma ou outra dessas
espécies.

Aplica-se todo o regime descrito para as obrigações alternativas. Dado que é um misto de obrigação genérica e alternativa.

4.2.3. Obrigações a prazo

A. Se a obrigação tiver prazo certo, só decorrido este, a execução é possível. Até ao dia do vencimento, é inexigível.

Fica o devedor imediatamente constituído em mora (805/2/a)CC), a menos que o credor não tenha realizado os actos de cobrança da prestação que
porventura lhe incumbissem, como acontece (772CC), nos casos em que a prestação deva ser efectuada no domicílio do devedor. Esta situação de
mora do credor não impede a propositura da acção executiva (610/2/b)+551/1).

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O 610/2/b) só é directamente aplicável aos casos de obrigação pura em que não tinha sido feita interpelação ou esta tenha tido lugar fora do local do
cumprimento. Mas é aplicável, por analogia, ao caso de obrigação a prazo em que o credor deva proceder à cobrança no domicílio do devedor, com a
única diferença de no termo do prazo ocorrer o vencimento, mas não a mora do devedor. Adpatando o preceito a esta situação, temos que a dívida
está vencida no momento da propositura da acção, mas a mora do devedor só tem lugar a partir da citação.

A responsabilidade pelas custas incumbe ao autor (535/2/b). Se ele a quiser evitar, deve proceder previamente ao acto de cobrança, provando que,
por sua parte, o efectuou, nos termos do 715/1 a 4.

B. No caso de obrigação com vencimento dependente de prazo a fixar pelo tribunal, tem o credor, na fase liminar da acção executiva, de promover a
fixação judicial do prazo, nos termos aplicáveis do 1026 e 1027 (cfr. 874, no domínio da obrigação para prestação de facto.

C. Controvertida é a questão da licitude do pactum non exequendo ad tempus, pelo qual credor e devedor acordam em que a obrigação já vencida,
não será sujeita a execução durante determinado prazo. Contra a sua admissibilidade diz-se que representa uma renúncia (parcial) do direito de
acção, que é irrenunciável. A favor, argumenta-se que, no campo do direito disponível, não há razão para que o credor, que pode remitir a obrigação,
não se possa vincular a retardar a execução.

Enquanto configurado como modalidade do pactum de non petendo, o pacto de non exequendo é considerado ilícito. Contudo, se for entendido
como estipulação de novo prazo de cumprimento da obrigação, não se vê razão que obste à sua validade.

Quando o pacto é válido, a obrigação fica, após a sua celebração, sujeita ao regime das obrigações a prazo.

4.2.4. As obrigações puras

O vencimento depende do acto de interpelação, ou seja, da intimação dirigida pelo credor ao devedor para que lhe pague. Tratando-se de prestações
exigíveis a todo o tempo, a citação equivale a interpelação, se esta não tiver tipo lugar anteriormente.

Quer a interpelação não tenha sido efectuada, que tenha sido feita, mas não acompanhada dos actos que a credor incumbia realizar (p.e., ir ao local
do cumprimento, por hipótese o do domicílio do devedor), a acção executiva pode ter lugar, mas as custas são pagas pelo autor.

Se a interpelação tiver sido devidamente realizada, o credor exequente deverá prová-lo (715), para evitar a sua condenação em custas.

4.2.5. Obrigações sob condição suspensiva

Só é exigível depois de a condição se verificar. Até lá, todos os refeitos do respectivo negócio constitutivo ficam suspensos (270CC).

Daí que o 715/1 a 4, exija ao credor exequente a prova da verificação de condição, sem o que a execução não é admissível.

No caso de condição resolutiva, o problema não se põe: a obrigação produz efeitos em face do título executivo e ao executado caberá, em oposição à
execução, provar que a condição ulteriormente se verificou, extinguindo-se ex tunc a obrigação (729/1/g).

4.2.6. Obrigações sinalagmáticas

Estando o credor obrigado para com o devedor a uma contraprestação a efectuar simultaneamente, para o que basta terem sido estipulados
diferentes prazos de cumprimento (428CC), incumbe-lhe, independentemente da invocação, pelo devedor, da excepção de não cumprimento, provar
que a efectuou ou ofereceu (715/1 a 4), sob pena de não poder promover a execução.

Embora não se trate de caso de inexigibilidade é-lhe dado tratamento semelhante ai dos casos de prestação inexigível.

Também o exequente podia invocar a seu favor a excepção de não cumprimento do contrato, basta-lhe provar que ofereceu a sua prestação contra a
exigência que lhe é devida.

O mesmo regime se aplica ao caso de o exequente dever cumprir a sua prestação antes da do seu devedor.

4.2.7. Prova complementar do título

A. A certeza e a exigibilidade da obrigação exequenda têm de se verificar antes de serem ordenadas as providências executivas, pelo que, quando
não resultem do próprio título nem de diligências anteriores à propositura da acção, abre-se uma fase liminar do processo executivo, que visa tornar
certa ou exigível a obrigação que ainda não o seja, sem prejuízo de ter lugar no próprio requerimento de execução a actuação, a desenvolver para o
efeito, que dependa pura e simplesmente da vontade do credor (ex: escolha da prestação que a ele incumba), bem como a solicitação, por ele, da
actuação do tribunal, do devedor ou de terceiro que para o mesmo efeito seja necessária (fixação do prazo; escolha da prestação).

Quando a certeza e a exigibilidade, não constando do título, tenham resultado de diligências anteriores à propositura da acção, há que provar no
processo executivo que tal aconteceu. Trata-se de uma actividade liminar de prova, a ter lugar no início do processo. Esta actividade de prova,
chamada prova complementar do título, está consagrada no 715/1 a 4 e, para além dos casos nele previstos, também se aplica a todos aqueles em
que a certeza e a exigibilidade não resultem do título executivo, mas já se verificavam antes da propositura da acção, assim como ainda àqueles em
que, sendo a prestação exigível em face do título, o credor queira provar que ocorreu o vencimento e a mora do devedor, para evitar a sua
condenação em custas.

B. Nas execuções com processo sumário, em que não há lugar a despacho liminar (855/1), a certeza e a exigibilidade da obrigação exequenda são
verificadas pelo agente de execução, sem intervenção do juiz:

- Em face do título executivo, se à data esses requisitos já se verificavam ou se a exigibilidade resultar do simples decurso dum prazo nele estipulado;

- Perante documento, apresentado no processo, que prove a ocorrência, posterior à formação do título, do facto constitutivo da certeza ou
exigibilidade.

Tendo o agente de execução dúvida quanto à verificação desses pressupostos, deve chamar o juiz a intervir, que decidirá (855/2/b).

Nas execuções com processo ordinário, em que há despacho liminar (726/1), cabe ao juiz verificar se a obrigação exequenda é certa e exigível, em
face do título executivo e da prova documental complementar.

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C. Sendo necessária a produção de prova (extradocumental) para a verificação da certeza e exigibilidade da obrigação, o exequente oferece-a no
requerimento executivo (724/1/h), seguindo-se sempre despacho liminar (715/3). Não ocorrendo causa de indeferimento ou aperfeiçoamento
(726/2/b)/4), o juiz, a menos que entenda necessária a audição do executado, designa dia para a produção de prova, a qual é sumariamente feita, em
termos semelhantes aos estatuídos pelo 345. Depois do juiz entender provada a certeza e a exigibilidade, o processo segue.

Tem carácter de excepção a audição do devedor (715/3). Se o juiz entender que é necessária, o devedor é logo citado para pagar ou opor-se à
execução (715/4), com a advertência de que, não contestando os factos alegados no requerimento, constitutivos da certeza e da exigibilidade, eles se
terão por assentes, sem prejuízo das execpções decorrentes do 568.

A contestação do executado tem lugar na oposição à execução, mediante a invocação do fundamento consistente na incerteza e na inexigibilidade da
obrigação exequenda (729/e). Continua, porém, o exequente a ter o ónus de prova dos factos de que depende a certeza e exigibilidade da obrigação
exequenda (verificação da condição, efectivação ou oferta da contraprestação ou da prestação devida por terceiro; escolha extrajudicial da
obrigação) ou o seu vencimento (interpelação extrajudicial, cobrança frustrada no domicílio do devedor)

4.2.8. Consequências da falta de certeza ou exigibilidade

Constitui orientação fundamental do CPC a de proporcionar o aproveitamento das acções, mediante o suprimento da falta de pressupostos
processuais, bem como a correcção de irregularidades formais susceptíveis de sanação (6/2 e 590/2). Por isso, a primeira consequência é a solução
do aperfeiçoamento (726/4). Só no caso do requerente não aperfeiçoar a petição é que se seguirá, tal como na falta de apresentação de título
executivo, o indeferimento do requerimento executivo (726/5).

A apreciação judicial tem lugar no despacho liminar, sem prejuízo de, poder ainda vir a ser feita até à primeira transmissão de bens penhorados
(734/1).

Se a execução prosseguir sem que a falta do pressuposto seja sanada, o executado pode sempre opor-se à execução (729/e).

4.3. Regime: A Liquidez

4.3.1. Os meios de liquidação

Como foi dito, a conversão da obrigação em líquida tem também lugar na fase liminar do processo executivo.

A lei distingue a liquidação que depende de simples cálculo aritmético e a que dele não dependa, referindo-se ainda à liquidação por árbitro e à
liquidação da obrigação de entrega duma universalidade (716/4a7).

4.3.2. Liquidação por simples cálculo aritmético

O exequente deve fixar o seu quantitativo no requerimento inicial da execução, mediante especificação e cálculo dos respectivos valores (716/1).

Dá lugar a este meio de liquidação, p.e., a obrigação de pagamento dum preço a determinar de acordo com a cotação (duma moeda, acção ou
mercadoria) verificada em determinado dia, a de pagamento de uma indemnização em montante a ratear por vários credores conjuntos na
proporção dos respectivos direitos, ou ainda a de pagamento de juros, cujo montante dependerá do período de tempo durante o qual se vençam.

Relativamente aos juros, deve ser deduzido um pedido ilíquido, quando os juros continuem a vencer-se na pendência do processo executivo, sendo
liquidados no requerimento inicial os já vencidos e liquidados a final, pelo agente de execução, os vincendos (716/2).

A liquidação pelo agente de execução tem também lugar no caso da sanção pecuniária compulsória: executando-se obrigação pecuniária, a
liquidação não depende de requerimento do executado, devendo ser feita a final (716/3); executando-se a obrigação de prestação de facto
infungível, o exequente tem de a requerer, quer já tenha sido fixada na sentença declarativa, quer se pretenda que seja pelo juiz da execução (868/1,
874/1, 876/1/c).

Estes são os únicos casos em que são adimitidos pedidos ilíquidos para pagamento de quantia certa.

Não se segue nenhum procedimento especial. Pode, porém, o agente de execução, não havendo lugar a despacho liminar, suscitar a intervenção do
juiz (855/2/b). Pode o executado, que discorde da liquidação feita pelo exequente, opor-se à execução, quando para ela citado, com fundamento no
729/e). Pode ainda do acto do agente de excecução, que liquide os juros vencidos na pendência da execução, reclamar-se para o juiz (723/1/c), sem
prejuízo do agente encarregado de os contar poder suscitar previamente perante ele a resolução de alguma dúvida que tenha (723/1/d).

4.3.3. Liquidação não dependente de simples cálculo aritmético

O exequente, no próprio requerimento inicial da execução, especificará os valores que considera compreendidos na prestação devida e concluirá por
um pedido líquido (716/1). De seguida, procede-se à citação do executado, que é feita com a advertência de que, na falta de contestação, a obrigação
se considera fixada nos termos do requerimento executivo. A impugnação da liquidação só poderá ter lugar em oposição à execução (716/4).

Apresentada a contestação, seguem-se, por apenso (732/1), os termos subsequentes aos processo comum de declaração (360/3, por remissão do
716/4 e 732/2). Mas quando o executado não conteste, nem se oponha e a revelia seja inoperante, já os termos do processo sumário têm lugar nos
autos do processo executivo, como incidente deste. Não se verificando nenhum dos casos do 568, a obrigação considera-se liquidada nos termos
constantes do requerimento inicial, o que caracteriza um efeito cominatório pleno.

Quando a prova produzida pelos litigantes seja insuficiente para fixar a quantia devida, deve o juiz completá-la oficiosamente (411), ordenando a
produção de prova pericial (478, 360/4). Como último recurso, estando em causa o montante duma indemnização, o juiz julgará segundo a equidade
(566/3CC).

4.3.4. Liquidação por árbitros

Segundo o 716/6, quando uma lei especial ou as partes hajam estipulado que a liquidação se faça por árbitros, a arbitragem tem lugar
extrajudicialmente (antes de apresentado o requerimento executivo), sem prejuízo de ao juiz presidente do tribunal de execução caber a nomeação
do terceiro árbitro ou só segundo, 10/4+59/1/a)LAV. Só assim não será quando se trate de liquidar a obrigação constante de sentença judicial. Caso
em que se aplica directamente o 361 ou de liquidar a obrigação constante de título de crédito, cuja exequibilidade não admite iliquidez que não
dependa de mero cálculo aritmético.

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Constituindo a arbitragem o exercício da função jurisdicional (209/2CRP), o princípio do contraditório é aplicado à arbitragem necessário (1085)
impõe que as partes possam expor as suas razões de facto e de direito antes da decisão dos árbitros. O executado por querer pôr em causa,
mediante contestação da liquidação, a próprias imposição da arbitragem e, baseando-se esta em estipulação das partes, necessitar de provar, p.e.,
que o compromisso não existiu ou caducou. Ao devedor há de ser dada a possibilidade de impugnar os valores alegados.

A liquidação considera-se feita:

- em conformidade com o laudo dos dois árbitros, nomeados pelas partes, no caso de acordo (361/3);

- em conformidade com o laudo do árbitro nomeado pelo tribunal (o terceiro árbitro), se se verificar divergência, único caso em que esse árbitro
intervém, não para desempatar, mas com autonomia relativamente aos laudos dos outros dois (361/3 e 4)

4.3.5. Pedido de entrega de universalidade

Quando o exequente pede que lhe seja entregue uma universalidade, constituiria desnecessária complicação do acesso à justiça negar a
possibilidade de dedução genérica do pedido, na acção executiva, quando ao exequente não seja possível fazê-lo por requerimento inicial, por a
universalidade se achar na posse do executado e não ter meios para a ela aceder. Neste caso, o pedido ilíquido é admissível, procedendo-se à
liquidação em incidente imediatamente posterior à apreensão dos bens e anterior à sua entrega ao exequente (716/7).

4.3.6. Formação do caso julgado

A decisão de mérito favorável proferida no incidente de liquidação tem como efeito quantificar ou especificar o objecto da obrigação constante de
documento autêntico, completando o título mediante o acertamento dum aspecto do seu objecto, que nele está por acertar e ao qual se
circunscreve o juízo declarativo.

A sentença de liquidação da obrigação exequenda constitui caso julgado que obsta a que, em nova execução fundada no mesmo título, se volte a
discutir a liquidação da mesma obrigação. Contudo, não impede que tenha lugar um novo incidente de liquidação da mesma obrigação em execução
fundada noutro título executivo; nem é invocável como caso julgado numa acção declarativa autónoma.

Quando, sendo o título executivo, uma sentença, a liquidação tem lugar na instância declarativa, a sentença de liquidação que a complementa fica a
integrar o âmbito objectivo do caso julgado por ela formado.

4.3.7. Consequências da iliquidez da obrigação

Se não for requerida a liquidação de obrigação ilíquida, deve o juiz proferir despacho de aperfeiçoamento e só no caso de a petição não ser
consequentemente aperfeiçoada vir a indeferi-la, podendo, se não o fizer, haver lugar à oposição à execução (729/e).

5. Competência do tribunal

5.1 Competência em razão da matéria

A competência dos tribunais judiciais para a acção executiva determina-se por um duplo critério:

- Critério de atribuição positiva: Cabem na competência dos tribunais judiciais todas as acções executivas baseadas na não realização duma prestação
devida segundo as normas do direito privado;

- Critério de competência residual: Os tribunais judiciais são também competentes para as acções executivas que não caibam no âmbito da
competência atribuída aos tribunais de outra ordem jurisdicional (40/1LOSJ e 64). Esta competência residual verifica-se quanto à execução de
sentenças proferidas por tribunais carecidos de competência executiva – antes da reforma do CAT, acontecia com a execução das sentenças de
condenação proferidas pelo tribunal administrativo, que agora está consagrada no 4/1/n ETAF; quanto aos tribunais fiscais, é admitida competência
executiva dos aos serviços periféricos locais da administração tributária e aos tribunais tributários (nota de rodapé da p.125 da Acção Declarativa à
luz do CPC 2013).

No sistema da LOSJ, os tribunais de comarca desdobram-se em juízos, que podem ser de competência especializada, de competência genérica e de
proximidade (80/2+81/1LOSJ) .

Entre os juízos de competência especializada estão os cíveis (centrais e locais) e os de execução (81/3LOSJ). Quando haja juízos de execução
(81/3/jLOSJ), estes têm competência exclusiva (129/1LOSJ), inclusivamente para a execução de decisões proferidas pelo juízo central cível
(129/3LOSJ). Quando não haja juízo de execução, o juízo central cível tem competência para as acções executivas de valor superior a 50 000€
(117/1/bLOSJ) e o juízo local cível ou de competência genérica tem-na para as execuções de valor igual ou inferior a 50 000€ (130/2LOSJ).

Dentro dos tribunais judiciais, a competência do tribunal de competência genérica ou do juízo especializado de execução cede quando é atribuída a
outro tribunal ou juízo de competência especializada competência para a execução das decisões (sentenças ou meros despachos) por ele proferidas.

Carecem de competência executiva os tribunais arbitrais, dado que não são dotados de jus imperii.

5.2. Competência em razão da hierarquia

Apenas os tribunais de 1.ª instância têm competência executiva (85+86). Esta abrange a competência para a execução de decisão proferida em acção
proposta na Relação ou no Supremo, em algum dos casos especiais (indemnização contra magistrados, revisão de sentenças estrangeiras) em que, no
âmbito da acção declarativa, o tribunal superior funciona como 1.ª instância.

Não havendo nunca lugar a actos executivos em tribunal superior, os tribunais da relação e o Supremo limitam-se, no que concerne às decisões
proferidas no decurso da acção executiva, a decidir, nos mesmos termos que na acção declarativa, os recursos para eles interpostos e os conflitos de
jurisdição e de competência.

5.3. Competência em razão do valor

As normas de competência em razão do valor estabelecem quais as execuções que competem aos juízos centrais cíveis e quais as que competem aos
juízos locais cíveis ou de competência genérica das instâncias locais, quando não haja juízo de execução. Ao qual cabe apenas preparar e julgar as
acções declarativas com valor superior a 50000€ (117/1/aLOSJ).

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5.4. Competência em razão do território

5.4.1. Tipologia

Sem prejuízo da aplicação subsidiária das disposições reguladoras do processo declarativo (78 a 84), a competência para a acção executiva em razão
do território é estabelecida nos arts.85 a 90, bem como, em caso de cumulação de pedidos, nos arts.709/2a4 e 56/3.

Há que distinguir entre a execução baseada em decisão condenatória dum tribunal judicial ou dum tribunal arbitral e a execução baseada noutro
título.

5.4.2. Decisão do tribunal judicial

Há que distinguir os casos em que a acção declarativa tenha sido proposta num tribunal de 1.ª instância e aqueles em que tenha funcionado como
1.ª instância um tribunal superior.

No caso de a acção em que foi proferida a acção exequenda ter sido proposta num tribunal de 1.ª instância, é competente para a execução o tribunal
da comarca em que a causa foi julgada em 1.ª instância (85/1/2), ainda que a sentença proferida tenha sido revogada em recurso e por isso se
execute a decisão proferida, em sua substituição, por um tribunal superior.

No caso de a acção em que foi proferida a acção exequenda ter sido proposta na Relação ou no Supremo, a execução é promovida no tribunal de 1.ª
instância do domicílio do executado (89/1) ou, se este não tiver domicílio em Portugal, mas aqui tiver bens, no da situação destes (89/3).

5.4.3. Decisão do tribunal arbitral

Para execução de sentença proferidas por árbitros é competente o tribunal do lugar da arbitragem (85/3, para o qual remete o 59/9LAV). Esta norma
aplica-se mesmo quando o objecto do processo tenha conexão com ordens jurídicas estrangeiras – ver 49LAV, sobre arbitragem internacional.

5.4.4. Outros títulos

Baseando-se a execução em título que não seja decisão dum tribunal judicial ou arbitral, há que distinguir:

- Se a execução for para entrega de coisa certa ou por dívida com garantia real, é competente o tribunal do lugar em que a coisa se encontre ou situe
(89/2). Se for devida a prestação de uma pluralidade de coisas ou duma coisa imóvel situada em mais do que uma circunscrição territorial, é
competente o tribunal do lugar dos imóveis com maior valor matricial, se eles forem vários ou, subsidiariamente, qualquer dos tribunais da situação
das coisas (70/3 por analogia). Para entrega de um navio ou de uma aeronave, ou para fazer valer hipotecas sobre eles incidente, é competente o
tribunal da circunscrição da respectiva matrícula (70/2 por analogia).

- Nos restantes casos (execução de dívida pecuniária ou de prestação de facto, sem garantia real) é competente o tribunal do lugar do domicílio do
executado – cumulando-se mais do que um pedido executivo e não sendo o mesmo tribunal competente para todos eles, é também competente o
tribunal do domicílio do executado – ou, em alternativa, tratando-se de acção movida contra pessoa colectiva ou em que exequente e executado
tenham domicílio na área metropolitana de Lisboa ou do Porto, o tribunal do lugar onde a obrigação devia ser cumprida (89/1).

Estas normas aplicam-se no caso de a execução se fundar em título executivo extrajudicial ou em sentença condenatória proferida por tribunal não
integrado na ordem dos tribunais judiciais.

O 89/4 contém uma norma residual: sendo o tribunal português internacionalmente competente por os bens a executar se situarem no território
nacional, mas não se verificando com o território português nenhuma das conexões relevantes para a determinação da competência territorial, é
competente o tribunal em cuja circunscrição se situem os bens a executar.

5.4.5. Sentença estrangeiras

Enquanto não é confirmada, a sentença estrangeira não tem eficácia em Portugal, carecendo designadamente de exequibilidade, advindo esta da
confirmação. Passa-se com a confirmação da sentença estrangeira, no que à exequibilidade diz respeito, algo semelhante ao que se dá com a
sentença homologatória de negócio de autocomposição do litígio, à qual de devem os efeitos de produção de caso julgado e de constituição de título
executivo. Sendo assim, a execução funda-se na sentença de confirmação e não na sentença confirmada, o que leva a entender que era competente
o tribunal da comarca do domicílio do executado e só na falta dele o da situação dos bens penhoráveis. Ver art.90.

Note-se que também a competência para a acção de revisão se determina pelo local do domicílio do requerido (979), observando-se, na falta deste,
os critérios do 80/2/3. A LAV de 2011 atribui também ao tribunal da relação do distrito em que se situe o domicílio do executado a competência para
o reconhecimento da sentença arbitral estrangeira (59/1LAV), mas, tal como o Regulamento de Bruxelas I e a Convenção de Lugano, deixa incólumes
as normas da lei de processo determinativas da competência para a execução (59/9).

5.5. Competência internacional

5.5.1. A lei portuguesa

Fora do âmbito de aplicação do direito convencional, a doutrina tradicional, confrontada com a inserção das normas de competência internacional na
parte geral do CPC – entre essas normas, está a que estabelece o princípio da coincidência: o tribunal português é internacionalmente competente
sempre que o elemento de conexão relevante para a determinação da competência territorial se verifique em Portugal (62/a) – e com a ausência de
qualquer outra norma que explicitamente as afastasse no âmbito da acção executiva, procedia à sua aplicação directa a esta acção, utilizando, assim,
os mesmos critérios para definir a competência internacional dos tribunais português na acção delcarativa e na acção executiva.

Mas houve quem defendesse a inaplicabilidade dessas normas à acção executiva, com a consequência de os tribunais portugueses terem para ela
competência internacional sempre que a execução deva correr sobre bens sitos em Portugal, e só neste caso (89/3), ou de só terem competência
para se ocuparem daquelas execuções para as quais resultam já competentes por aplicação das normas de competência territorial. Estas teses
tiveram o mérito de chamarem a atenção para a conveniência de atender na acção executiva a elementos de conexão distintos dos utilizados na
acção declarativa, dada a especificidade funcional da primeira quando se dirige à realização coactiva do direito a uma prestação.

A esta mesma especificidade atendeu a reforma executiva, ao introduzir a norma hoje constante, com restrição aos bens imóveis, do 63/d). Em
consequência, sempre que se pretenda penhorar coisa imóvel existente, à data da propositura da execução, em território português, a regra de

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competência exclusiva leva a que a execução deva ser proposta em tribunal nacional, sem que outro possa ser reconhecido como competente. Não
pode proceder-se à penhora de bens imóveis aqui existentes por mera carta rogatória, ainda que a decisão em que a execução se funde se mostre
revista e confirmada (180/d). O mesmo se diga da acção executiva para entrega de coisa imóvel certa que se localize em Portugal.

Mas a norma de competência exclusiva do 63/d) não afasta as normas de competência do 62, pelo que a competência do tribunal português para
uma execução a incidir sobre bens imóveis não localizados em Portugal, pode resultar do critério da coincidência (62/a), do critério da causalidade
(62/b) ou do critério da necessidade (62/c). Quanto aos critérios que, uma vez assente a competência dos tribunais portugueses à luz do 62/c),
permitirão determinar o tribunal interno territorialmente competente, duas vias são defensáveis:

- recurso, à falta de outros no plano do direito constituído, aos critérios constantes no 80, a aplicar subsidiariamente;

- a aplicação analógica do 89/4.

A segunda via é a que melhor se enquadra no actual sistema.

Incidindo a execução sobre coisa imóvel ou direito, não há preceito especial em matéria de execuções, pelo que se aplicam tão só as normas gerais
de competência internacional do 62.

As partes podem celebrar pactos de jurisdição, nos termos do 94.

5.5.2. O Regulamento de Bruxelas I e a Convenção de Lugano

Sobrepõem-se às normas internas sobre a competência internacional dos tribunais portugueses. No entanto, não contêm normas para a acção
executiva propriamente dita. Segundo o 24/5 do regulamento e o 22/5 da Convenção, são exclusivamente competentes, em matéria de execução de
decisões, os tribunais do Estado-Membro do lugar da execução. Trata-se de uma norma de extensão de competência, circunscrita aos casos de
execução de decisões.

5.6. Competência convencional e regime da incompetência relativa

5.6.1. A doutrina de Anselmo de Castro

As normas de competência em razão do território são, na acção executiva, tão imperativas como as restantes; geram também incompetência
absoluta do tribunal; não podem ser afastadas por um pacto de competência.

Razão de ser desta posição é entender-se que na acção executiva, diferentemente do que acontece na acção declarativa, não está em causa somente
o interesse particular das partes, pelo que há que atender também ao interesse público em que o processo executivo, pelo qual eminentemente se
exerce o poder coercivo do Estado, corra no tribunal mais adequado. Os argumentos apresentados não são hoje invocáveis.

5.6.2. Regime actual

Desde a revisão do CPC, a subordinação do regime da incompetência na acção executiva ao regime geral da incompetência na acção declarativa é
bem acentuada, nomeadamente quando, no 104/1, são enunciadas as excepções, no campo de uma e de outra, à regra da não oficiosidade do
conhecimento da incompetência relativa. As disposições reguladoras da competência dos tribunais enquadram-se na parte geral do CPC e, por isso,
ressalvadas as especialidades e excepções, são directamente aplicáveis à acção executiva.

O 104/1/a impede o afastamento das normas dos 85/1 e 89/1/1.ªparte+2. Só fora do âmbito destas normas é admitida às partes liberdade de
estipulação do foro competente (95/1) e consentida ao exequente, desde que o executado não se oponha, a determinação do tribunal em que
pretende que siga a acção executiva.

6. Legitimidade das partes

6.1. Quem é a parte legítima

6.1.1. Critérios de aferição

Têm legitimidade como exequente e executado quem no título figura como credor e como devedor (53).

Esta regra consente, quanto à legitimidade passiva, um desvio (no caso de excecução por dívida provida de garantia real) e excepções (por
alargamento a terceiro abrangidos pela eficácia do caso julgado).

Há que considerar, também, a legitimidade específica do MP para a acção executiva.

6.1.2. A adaptação do regime regra

A. Quando tenha ocorrido sucessão, singular ou universal, na titularidade da obrigação, quer do lado activo, quer do lado passivo desta, a execução
deve ser promovida por ou contra os sucessores da pessoa que, como credor ou devedor, figura no título, pelo que o exequente deve, no próprio
requerimento de execução, alegar os factos constitutivos da sucessão (54/1) → (Dúvida: E se não alegar?)

Sendo o título extrajudicial, a sucessão prevista ocorre entre o momento da a sua formação e o da propositura da acção executiva.

Tratando-se de sentença, também pode ter ocorrido na pendência da acção declarativa, uma vez que a sucessão entre vivos no direito litigioso pode
não dar lugar à habilitação do adquirente na pendência da instância (356). A formação perante ele do caso julgado (263/3) tem como principal razão
proteger a contraparte do efeito que, de outro modo, teria a transmissão efectuada: o autor teria de propor nova acção contra o adquirente, não
atingindo na acção proposta o efeito prático pretendido (de entrega ou restituição da coisa); o réu estaria sujeito à eventualidade de nova acção
declarativa, quando, confrontado com a eminência duma acção desfavorável, o autor transmitisse o seu direito a terceiro. Quando a sentença seja de
procedência e a transmissão se tenha dado no lado activo, a consideração do interesse do adquirente, que pode até ter ignorado a pendência da
acção declarativa, e o princípio da economia processual aconselham a que lhe seja atribuída legitimidade para a acção executiva, sem necessidade de
previamente propor nova acção declarativa, que estaria sujeita à invocação da excepção de caso julgado. Tendo sido transmitida a situação litigiosa
do réu, a legitimidade do adquirente para a acção executiva baseada na sentença de condenação estaria sempre assegurada pelo 55, mas a
equiparação das suas situações (sucessão no crédito; sucessão no débito) leva a abrangê-las ambas na norma do 54/1, que prevalece no concurso
aparente entre estes dois preceitos.

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É assim dispensado o incidente de habilitação no caso de sucessão ocorrida antes da propositura da acção executiva. Mas tal não dispensa o
exequente de, liminarmente, provar, como nele faria, os factos constitutivos que alega.

A este respeito, importa também considerar a posição de EURICO LOPES CARDOSO, perfilhada por AMÂNCIO FERREIRA: a prova dos fundamentos da
sucessão só é necessária no caso do executado embargar com fundamento na sua ilegitimidade. Esta tese foi perfilhada no ac. Do STJ de 10/1/84
(JOAQUIM FIGUEIREDO). Mas constituindo a legitimação das partes para o processo executivo uma das funções do título executivo, mal se
compreenderia que dela não tivesse de ser feita prova complementar no caso da sucessão na posição do credor ou do devedor, sem prejuízo do
executado só em oposição à execução (729/c) poder vir a tomar sobre ela posição. Enquanto não estiverem estabelecidos os factos constitutivos da
sucessão, o juiz não pode, quando haja lugar a despacho liminar, proferir o despacho de citação, devendo mandar aperfeiçoar e, em último caso,
indeferir a petição, por falta de legitimidade da parte (726/4e5+734) não só quando não forem alegados os factos em que a sucessão se funda, mas
também quando não for oferecida a respectiva prova.

No caso da sucessão ocorrer na pendência do processo executivo, ou se o facto do falecimento do executado, sendo anterior à propositura da acção,
for pela primeira vez trazido ao processo na consequência da frustração da citação (351/2) ou, ainda, no caso da transmissão entre vivos da posição
do executado só se vier a ter conhecimento em momento posterior à propositura da acção, é o incidente de habilitação o meio adequado para a
fazer valer, pelo que têm de se observar as normas do 351 a 355 (para a sucessão universal), 356 (para a sucessão singular) e 367 (habilitação perante
tribunais superiores), com as necessárias adaptações.

B. Fundando-se a execução em título ao portador, de que o cheque é um exemplo, a regra geral tem que se adaptada no que se refere à legitimidade
activa. Não constando o nome do credor no título executivo, a execução é promovida pelo portador (53/2).

Em processo civil, quando em sentença proferida em acção popular, o réu seja condenado a indemnizar globalmente os titulares de interesses
protegidos não individualmente identificados (22/2 da L83/95): não sendo disponibilizada voluntariamente, pelo réu condenado, a quantia global
fixada na sentença, os interessados têm três anos para reclamar a sua quota-parte, podendo seguir-se uma execução por eles promovida.

6.1.3. O terceiro proprietário ou possuidor de bem onerado

Pode acontecer que a garantia real de um crédito incida sobre bens de terceiro, ou porque assim já se tenha constituído, ou porque, constituída
embora sobre bens do devedor, este os tenha posteriormente alienado, em data anterior à propositura da acção executiva. Se a transmissão lhe for
posterior e for oponível à execução (o que não acontece quando decorra dum acto posterior à penhora – 819CC - , dever-se-á fazer a habilitação do
adquirente como sucessor, por causa de morte ou entre vivos, do alienante.

Dado não ser possível a penhora de bens pertencentes a pessoa que não tenha posição de executado, a acção executiva tem de ser proposta contra o
proprietário do bem.

A esta é equiparável a situação do adquirente dos bens após procedência da impugnação pauliana, pelo que é analogicamente aplicado o 54/2.

A renúncia do credor a garantia real só pode ter lugar pelas formas indicadas na lei civil, entre as quais não se conta a mera propositura de uma ação
em que a garantia não seja invocada, embora, em alguns casos, seja admissível a renúncia no requerimento inicial, desde que expressa. Mas, fora no
caso do exercício desta faculdade, o exequente só não pode, sob pena de ilegitimidade, deixar de propor a acção executiva contra o proprietário dos
bens quando pretenda fazer valer, na execução, o direito real de garantia, pois no caso contrário pode mover a acção executiva apenas contra o
devedor e nela penhorar os seus bens, sem que ele lhe possa opor a necessidade de previamente se reconhecer a insuficiência dos bens dados em
garantia para o fim da execução (752/1). É o que decorre, também, do 697CC.

O 54/2 e 3 estabelece que, quando os bens dados em garantia pertençam a terceiro, o exequente que queria fazer valer a garantia na execução tem
opção entre:

- a propositura da acção contra o terceiro e, mais tarde, se os bens forem insuficientes, o chamamento do devedor, que poderá opor-se à execução;

- a propositura da execução, desde logo, contra o terceiro e o devedor, em litisconsórcio voluntário.

Mas se o título executivo for uma sentença condenatória, a propositura da acção executiva contra o proprietário que sobre os seu bens haja
constituído a garantia real pressupõe que contra ele tenha sido também proposta a acção de condenação e que nesta tenha sido declarada a
existência de garantia (635/1CC, 667/2CC, 717/2CC).

Pode ainda acontecer que, sendo o devedor o proprietário pleno dos bens dados em garantia, estes estejam na posse de terceiro. Nesse caso, o
credor pode livremente escolher entre a propositura da acção de execução contra o devedor ou contra o devedor e o possuidor, visto que em
qualquer dos casos a penhora dos bens é possível (54/4).

6.1.4. Terceiros abrangidos pelo caso julgador

Quando o título executivo é uma sentença, a legitimidade passiva para a acção executiva é alargada às pessoas que, não tendo sido por ela
condenadas, são porém abrangidas pelo caso julgado (55), em manifestação da ideia de que o âmbito subjectivo da eficácia executiva do título
coincide, no caso da sentença, com o âmbito da eficácia subjectiva do caso julgado.

Esta extensão da eficácia subjectiva passiva do título executivo, de carácter excepcional, não abrange, por já ter abrangido pela norma do 54/1, o
caso de transmissão da situação jurídica do réu, por acto entre vivos, em subsequente intervenção do adquirente no processo, em que há caso
julgado perante o adquirente, desde que a transmissão seja posterior à propositura da acção ou, estando sujeita a registo, seja registada depois do
registo da acção (263/3).

Sobram assim, para integração da previsão do 55, os casos de chamamento à intervenção principal de terceiro titular de situação susceptível de gerar
litisconsórcio voluntário passivo, nos termos do 32/2, que não intervém na causa. O chamamento à intervenção principal pode ser requerido por
qualquer das partes quando haja lugar a litisconsórcio necessário, pelo autor quando haja lugar a litisconsórcio voluntário passivo, principal ou
subsidiário, e, pelo réu quando haja lugar a litisconsórcio voluntário passivo ou activo (261/1). A sentença que vier a ser proferida, constituirá caso
julgado perante o chamado não interveniente, por imposição do 320, sendo que, no caso do litisconsórcio necessário, tal solução resulta da sua
própria natureza e da finalidade de assegurar a legitimidade das partes a que obedece o preceito do 261/1. No regime do novo código, a sentença
condenatória pronuncia-se sobre a situação jurídica do chamado, mesmo que o litisconsórcio seja voluntário (320), pelo que, ainda que não
intervenha, o terceiro fica, com a citação, constituído como parte e, sendo condenado, aplica-se-lhe a norma do 53 e não do 55.
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Nos casos de intervenção acessória (321 e 326), embora o interveniente, provocado ou espontâneo, tal como o não interveniente provocado, seja
abrangido pelo caso julgado (323/4 e 332) não lhe é conferida legitimidade para a acção de execução da sentença que o constitui, visto que, sendo na
causa um mero auxiliar da parte principal, a apreciação da sua posição jurídica terá lugar em acção autónoma, embora condicionada pelos limites
decorrentes da formação daquele caso julgado (prejudicial).

Não se vê que hoje tenha aplicação a norma do 55.

6.1.5. O Ministério Público

Compete-lhe promover a execução por custas e multas impostas em qualquer processo (57). Normas que regulam a sua legitimidade processual: 21 a
24.

6.2. Consequências da ilegitimidade das partes

Constitui uma excepção dilatória de conhecimento oficioso (557/e) e 578). Cabe ao juiz, quando se verifique, seja insanável e haja lugar a despacho
liminar, indeferir liminarmente a petição inicial (726/2/b); sendo sanável, cabe-lhe proferir despacho de aperfeiçoamento (6/2 e 726/4) e,
seguidamente, só se não for sanada indeferir o requerimento executivo (726/5). Aplica-se também o 734.

Quando seja citado não obstante legitimidade insanável, ainda que não manifesta, o executado tem a possibilidade de se opor à execução por
embargos (729/c), quanto à execução da sentença).

7. Patrocínio judiciário

Nas acções executivas cujo valor exceda a alçada da Relação, é obrigatória a constituição de advogado em processo executivo (58/1/1ª parte).
Naqueles cujo valor se contenha entre a alçada da comarca e a da Relação, o patrocínio é igualmente obrigatório, mas pode ser exercido por
advogado, advogado estagiário ou solicitador (58/3).

Quando tenha lugar uma acção ou incidente que corra por apenso ao processo executivo ou nele se enexerte, mais siga os termos do processo
declarativo, isto é, duma tramitação de natureza declarativa principal, segue-se o regime decalcado do regime geral deste processo:

- Em regra, a constituição de advogado é obrigatória desde que o valor seja superior ao da alçada do tribunal de 1.ª instância (58/1/2.ª parte). Assim
acontece nos embargos de executado, nos embargos de terceiro e no incidente de liquidação.

- Se se tratar de acção de reclamação e verificação de créditos, a constituição de advogado é obrigatória quanto à apreciação dos créditos cujo valor
seja superior à alçada do tribunal de comarca (58/2). O patrocínio não é obrigatório para a reclamação, mas apenas para a apreciação, i.e., apenas
quando for impugnado o crédito reclamado e a partir do momento da impugnação.

8. Pluralidade de sujeitos e pluralidade de pedidos

8.1. Litisconsórcio

8.1.1. Litisconsórcio inicial

Assim, que vários autores formulem contra um só réu um pedido único (litisconsórcio activo), quer um autor formule contra vário réus um pedido
único (litisconsórcio passivo), que um pedido único seja formulado por vários autores contra vários réus (litisconsórcio simultaneamente activo e
passivo), são-lhe aplicáveis as mesmas normas que regem o processo declarativo.

Há litisconsórcio voluntário sempre que, podendo, o pedido ser formulado apenas por um autor ou apenas contra um réu, tenha sido deduzido por
vários autores ou contra vários réus. Convém ter presente que tanto na obrigação conjunta (32/1) como a solidária (517CC) e a garantia por bens de
terceiro (641/1CC, 667/2CC, 717CC), assim como do lado activo, a obrigação indivisível com pluralidade de credores (538/1) e as relações reais que
lhe são equiparadas (1286/1CC, 1405/2CC e 2078/1CC) podem configurar casos de litisconsórcio voluntário.

Há litisconsórcio necessário quando a lei, o negócio jurídico ou a própria natureza da prestação a efectuar imponha a intervenção de todos os
interessados na relação controvertida. Os casos raros e já foi defendido por JOSÉ ALBERTO DOS REIS, a inexistência de litisconsórcio necessário em
sede de execução. No entanto alguns casos são verificáveis. Há litisconsórcio necessário passivo quando, na execução para entrega de coisa certa,
esta pertença a vários – 1405/1CC, 1404CC e 2091/1CC, para os cônjuges - e quando, na execução da prestação de facto, a obrigação incumba a
vários também – p.e., a obra de arte colectiva, em que não é possível exigir uma parte a cada um dos obrigados -; na execução para pagamento de
quantia certa, pode o negócio jurídico ou a lei exigir a intervenção de todos os interessados.

8.1.2. Litisconsórcio sucessivo

Verifica-se quando, em consequência da dedução dum incidente de intervenção de terceiro, este fique a ocupar na acção proposta a posição de
autor ou de réu, ao lado da parte primitiva.

A sua admissibilidade, em geral, só é admitida quanto a pessoa com legitimidade para a acção executiva, pois, de outro modo, o incidente de
intervenção iria servir à formação de um título executivo a favor ou contra terceiros, o que só se compadece com o fim (10/4) e os limites (10/5) da
acção executiva quando uma norma excepcional o preveja.

Um caso logo que se impõe a admissibilidade do incidente em processo executivo: quando o exequente careça de chamar a intervir determinada
pessoa para assegurar a legitimidade duma parte, nos termos do 261. Convidado o exequente, nos termos do 726/4, a requerer a intervenção,
proferido o despacho de indeferimento liminar, nos termos do 726/5, rejeitada oficiosamente a execução, nos termos do 734, ou julgada procedente
a oposição à execução, o exequente pode requerer o chamamento da pessoa em falta, tal como pode requerer espontaneamente-
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Já no âmbito do litisconsórcio voluntário, a admissibilidade geral do incidente é discutível. Quatro caso há em que a lei é expressa em admiti-lo:

- Quando o exequente demande apenas o proprietário dos bens onerados, tem a possibilidade de, mais tarde, demandar o devedor, se os bens que
garante o cumprimento da obrigação forem insuficientes (54/2);

- Instaurada a execução apenas contra o devedor principal, cujos bens se revelem insuficientes, pode o exequente demandar o devedor subsidiário
(745/3);

- Instaurada a execução apenas contra o devedor subsidiário, que invoque o benefício da excussão prévia, o exequente pode demandar o devedor
principal (745/2);

- Instaurada a execução contra o devedor obrigado no título e citado o cônjuge, a requerimento do exequente ou do executado para declarar se
aceita a comunicabilidade da dívida, constitui-se ele como executado se a aceitar ou nada declarar, bem como quando, tendo impugnado a
comunicabilidade, venha a ser desta convencido em decisão incidental da própria execução (741/1a5 e 742).

Deixando de lado este último caso, cuja principal particularidade consiste na criação de um título executivo, vemos que os dois primeiros têm a
responsabilidade subsidiária dos chamados subsequentemente à intervenção principal, mas o terceiro, em que a relação de subsidiaridade é inversa,
permite defender que o incidente de intervenção principal é, em geral, admissível na modalidade de intervenção passiva provocada pelo exequente,
em nome da economia processual.

Ao invés, fora do caso particular do 742, a intervenção principal provocada pelo executado não é admitida.

Por fim, há quem configure como litisconsórcio sucessivo a situação decorrente da intervenção na acção executiva para pagamento de quantia certa,
após a penhora, do cônjuge do executado e dos credores com garantia sobre os bens penhorados, convocados nos termos do 864. Com o aumento
dos poderes processuais do cônjuge do executado, é claro considerá-lo, a partir da citação, uma parte principal, dado ter um estatuto equiparado ao
do executado, continuando os credores reclamantes a meras partes acessórias.

A equiparação do cônjuge do executado a este resulta do 787, tendo direitos idênticos ao do executado, os dois estatutos processuais pouco diferem
após a citação.

8.2. Coligação

Por força do 56, a coligação é admitida no processo executivo quando, não se baseando um dos pedidos em decisão judicial a executar nos autos da
acção declarativa (709/1/d) ex vi 56/1), cumulativamente se verifiquem os seguintes pressupostos:

a) A espécie de acção executiva decorrente de cada um dos pedidos deve ser a mesma (pagamento de quantia certa, entrega de coisa certa ou
prestação de facto), a menos que todos se baseiem numa mesma sentença (709/1/b) ex vi 56/1);

b) Tendo a execução por fim o pagamento de quantia certa, as várias obrigações devem ser líquidas ou liquidáveis por simples cálculo aritmético
(56/2);

c) O tribunal deve ser competente internacionalmente e em razão da matéria e da hierarquia, para a apreciação de todos os pedidos, ainda que não
o seja em razão do valor ou do território (709/1/a ex vi 56/1);

d) Cada um dos pedido, individualmente considerado, deve ter de ser apreciado em processo executivo comum, ou no mesmo processo executivo
especial que caberia para a apreciação dos outros pedidos, não interessando para o efeito se se tratar de execução de sentença, a forma do processo
declarativo em que se tenha proferido, e sem prejuízo de o juiz poder autonomizar a cumulação, adequando a forma processual às necessidades do
caso concreto (709/1/c) ex vi 56/1);

e) Tratando-se de coligação passiva, é ainda necessário que a execução tenha por base, quanto a todos os pedidos, o mesmo título (56/1/b) ou que
os devedores sejam titulares de quinhões no mesmo património autónomo (ex: herança) ou direitos relativos ao mesmo bem indiviso (ex:
compropriedade) quando um ou outro sejam objecto de penhora.

Por força da remissão do 56/3 para o 709/2a5, observam-se, na coligação, quanto à competência em razão do valor e do território, as seguintes
regras:

- Quando todos os pedidos se fundem em títulos judiciais impróprios, a acção executiva corre no tribunal do lugar onde haja corrido o processo de
valor mais elevado;

- Quando haja pedidos fundados em título judicial impróprio e outros em título extrajudicial, a acção executiva corre no tribunal em que haja corrido
o processo em que o título se formou;

- Quando todos os pedidos se fundem em título extrajudicial, a competência determina-se nos termos do 82/2e3;

- Segue-se a forma de processo ordinário quando os pedidos originariam, isolados, formas de processo comum distintas.

8.3. Consequências da falta de litisconsórcio, quando necessário, e da coligação ilegal

Havendo lugar a litisconsórcio necessário, a falta de qualquer dos litisconsortes é fundamento de ilegitimidade da parte (33/1). No despacho liminar,
quando o houver, o juiz deve convidar o exequente a requerer a intervenção principal do terceiro (6/1 e 726/4) e, se o exequente não responder ao
convite, deve indeferir liminarmente o requerimento executivo (726/5). Ver o 734.

O vício pode ser corrigido pelo exequente até 30 dias sobre o trânsito em julgado do despacho de indeferimento liminar (ou de rejeição oficiosa, nos
termos do 734) ou da sentença que julgue procedentes os embargos de executado. Permite o 261, mediante chamamento da pessoa cuja falta é
motivo de ilegitimidade, e, se já estiver extinta à data do chamamento, a instância é renovada, pagando o exequente as custas.

No caso da coligação ilegal, por não verificação de algum dos pressupostos, o juiz, havendo lugar a despacho liminar, profere despacho de
aperfeiçoamento, convidando o exequente a que escolha o pedido relativamente ao qual pretende que o processo prossiga, e só no caso de ele não
o fazer absolverá o executado da instância (38 e 726/4e5); quando, quanto a algum dos pedidos, se verificar incompetência absoluta do tribunal ou a
inadequação da forma de processo, o princípio da economia processual manda que se profira um despacho de indeferimento parcial e a causa

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prossiga relativamente aos outros pedidos (726/3); verificada a incompetência absoluta do tribunal ou a inadequação da forma de processo quanto a
todos os pedidos, tem lugar o indeferimento liminar total (726/1/b).

Em ambos os caso, o executado pode opor-se à execução (729/c)

8.4. Cumulação simples de pedidos

8.4.1. Formas

A coligação constitui uma cumulação de pedidos, mas pode também o exequente cumular pedidos contra o mesmo executado.

Esta cumulação simples pode ser:

- Inicial (709): quando tem lugar logo no acto de propositura da acção executiva;

- Sucessiva (711): quando, na pendência de uma execução já instaurada, o exequente deduz, no mesmo processo, novo pedido executivo.

8.4.2. Pressupostos

A cumulação simples de pedidos, também excluída quando um deles se baseie em sentença a executar nos autos da acção declarativa, pressupõe a
verificação das circunstâncias atrás referidas, sob as alíneas a) (tipo de acção executiva), c) (competência) e d) (forma de processo). Mas, ainda que
sejam diferentes os tipos de acção executiva, a cumulação (sucessiva) é admitida quanto, em virtude da conversão da acção executiva para
pagamento de quantia certa (867 e 869), as diligência executivas acabam por ser apenas as deste tipo de acção. A cumulação torna-se possível a
partir da conversão. Tenha-se também em conta a cumulabilidade, na mesma execução, de pedidos baseados na mesma sentença (709/1/b) e 710 ex
vi 56/1).

A cumulação simples não exige que as obrigações devam ser líquidas ou liquidáveis por simples cálculo aritmético. Os pedidos cumulados podem
fundar-se no mesmo título ou em títulos diferentes. Observam-se as mesmas regras relativas à competência e à forma de processo que encontrámos
ao tratar da coligação (709/2a5).

8.4.3. Consequências da cumulação indevida

Sendo a cumulação sucessiva, o juiz, se o novo título exigir despacho liminar ou suscitar o funcionário judicial, aprecia a admissibilidade no despacho
que proferir sobre o requerimento do exequente. Haja ou não despacho liminar, o executado pode, se entender que a cumulação é indevida, opor-se
à execução (729/c).

Em tudo o mais valem as considerações feitas a propósito da coligação ilegal.

9. Formas do processo executivo

9.1. O tipo e a forma do processo

Já vimos quais os tipos de acção executiva – execução para pagamento de quantia certa, execução para entrega de coisa certa e execução para
prestação de facto. Em princípio, não são cumuláveis entre si; excepto se os pedidos que os caracterizam resultarem da mesma sentença.

Cada um destes tipos de acção pode seguir uma forma de processo comum ou uma forma de processo especial.

O processo especial tem lugar quando a lei impõe, para a execução de determinado tipo de obrigação, uma tramitação especial, que pode, na sua
especialidade, ser mais ou menos ampla. O processo comum tem forma única nas execuções para entrega de coisa certa e execução para prestação
de facto (550/4) e duas formas (ordinária e sumária) nas execuções para pagamento de quantia certa (550/1/2/3).

9.2. Âmbito das formas processuais

9.2.1. Processos especiais

São raros e devem considerar-se duas categorias:

- A primeira é constituída por processos exclusivamente executivos. Está neste caso a execução por alimentos (933a935);

- A segunda é constituída por processos mistos, que têm a particularidade de a uma primeira fase declarativa se seguir uma fase executiva. É o caso
de investidura em cargos sociais (1070e1071).

Há processos declarativos em que podem ter lugar actos executivos. É, nomeadamente, o caso dos processos de divisão de coisa comum (929/2), de
liquidação da herança vaga em benefício do Estado (939/2/4) e da apresentação de coisa ou documento (1047).

9.2.2. Processo comum

Pode ter forma ordinária e sumária, sendo determinadas em função da espécie de título executivo, conjugada, em certos casos, com o valor da ação,
o objecto da penhora e a necessidade de liquidar a obrigação exequenda. Esta visão ficou consagrada pelo revisão do CPC em 1995-1996 e, depois de
abandonada, foi retomada com a última revisão.

A dispensa de despacho liminar e a efectivação do penhor antes da citação do executado são os pontos caracterizadores do regime sumário. A forma
sumária emprega-se, em regra, a execuções baseadas em:

a) Decisão arbitral ou judicial, esta nos casos em que não deva ser executada nos autos do processo declarativo. À execução nos autos do processo
declarativo aplicam-se as normas reguladoras do processo sumário, à execpção da que manda citar o executado, que é apenas notificado (626/2). O
mesmo, com referência à forma única de processo comum, na execução para entrega de coisa certa (626/3). A execução de sentença judicial que
condene na prestação de facto não dispensa a citação do executado (626/4), sendo igualmente regida pelas normas desse tipo de execução;

b) Requerimento de injunção ao qual tenha sido aposta fórmula executória;

c) Título extrajudicial de obrigação pecuniária vencida, garantida por hipoteca ou penhor;

d) Título extrajudicial de obrigação pecuniária vencida cujo valor não exceda o do dobro da alçada do tribunal de 1.ª instância.

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A forma ordinária emprega-se em todos os outros caso e ainda quando, apesar de se verificar uma das situações que normalmente dão lugar ao
processo sumário, ocorra alguma das excepções seguintes:

a) A obrigação não é certa e a determinação da prestação não cabe ao credor;

b) Há que fazer prova complementar do título executivo;

c) A obrigação carece de ser liquidada na execução e a liquidação não depende de simples cálculo aritmético;

d) O exequente alega no requerimento executivo a comunicabilidade de dívida constante de título, diverso de sentença, que apenas obrigue um dos
cônjuges;

e) A execução é movida apenas contra o devedor subsidiário que não haja renunciado ao benefício de excussão prévia.

9.3. Direito supletivo

O processo ordinários de execução para pagamento de quantia certa vem regulado nos 724 a 854 e o processo sumário nos 855 a 858; o processo
comum para entrega de coisa certa é regulado nos 859 a 867 e o que visa a prestação de facto nos 868 e 877.

Supletivamente, aplicam-se:

- Ao processo sumário de execução para pagamento de quantia certa, as disposições do processo ordinário (551/3);

- À execução para entrega de coisa certa e para a prestação de facto, as disposições aplicáveis à execução para pagamento de quantia certa (551/2);

- Aos processos especiais, as disposições reguladoras do processo comum ordinário (551/4).

Tenha-se em conta a disposição do 551/1, que determina que são subsidiariamente aplicáveis ao processo de execução, com as devidas adaptações,
as disposições reguladoras do processo de declaração. Nesta aplicação, deve sempre atender-se à diferente natureza dos processos e, portanto, não
são aplicáveis as disposições reguladoras do processo declarativo que estejam em desacordo com a natureza da acção executiva, mas só as que com
essa natureza se mostrem compatíveis.

II. PROCESSO ORDINÁRIO DE EXECUÇÃO PARA PAGAMENTO DE QUANTIA CERTA

10. Delimitação

Só os títulos dos quais conste uma obrigação pecuniária podem dar lugar ao processo executivo para pagamento de quantia certa. Através deste,
pretende obter-se o cumprimento forçado duma obrigação desta natureza, quer ela resulte directamente de um negócio jurídico (A obriga-se a pagar
a B certa quantia, que B exige em acção executiva), quer tenha uma causa diferente (facto ilícito, enriquecimento sem causa, gestão de negócios), em
que se inclui o não cumprimento dum negócio jurídico do qual derivem obrigações não pecuniárias (A obriga-se a vender o prédio x a B. Não cumpre
e B propõe acção declarativa em que exige, como indemnização, a restituição em dobro do sinal entregue, após o que executa a sentença obtida. A
prestação pecuniária exigida é um equivalente ou sucedâneo da prestação originária. Mas é aquela a constante do título).

Mas tal não evita que os processos de execução para entrega de coisa certa (867) e para prestação de facto (869) se possam converter em processos
de execução para pagamento de quantia certa, visando o pagamento duma indemnização ao exequente; e, quanto ao segunda, quando não haja
conversão, o devedor é executado pela quantia necessária ao custeamento da prestação de facto a efectuar por outrem (870),

A obrigação pecuniária reveste normalmente a natureza de obrigação de quantidade, cujo objecto é um certo valor expresso em moeda que tenha
igual custo legal em Portugal (550CC). Quanto às outras duas modalidades que pode assumir (obrigações de moeda específica e obrigação em moeda
em curso legal apenas no estrangeiro), a primeira dá sempre lugar à execução para pagamento de quantia certa, mesmo que falte ou não tenha curso
legal a moeda estipulada (555CC+556CC), enquanto a segunda se executa através do processo para entrega de coisa certa.

Quanto à delimitação do âmbito de aplicação do processo ordinário, veja-se o ponto supra 9.2.2.

11. Fase inicial

11.1. Requerimento inicial e a tramitação complementar

11.1.1. O requerimento inicial

A petição com que se inicia a acção executiva é, desde a revisão do CPC, designada como requerimento executivo (724) – como ficou visto, a
incerteza da obrigação não impede o início do processo. O requerimento executivo obedece ao formulário que se encontra no site indicado no 2/1 da
Portaria 282/2013, ver os 132/1 e 725/1/a) e é transmitido electronicamente ao tribunal (e ao agente de execução nela designado), acompanhado
pela cópia do título executivo (sem prejuízo do original dever ser apresentado nos 10 dias subsequentes à distribuição, quando se trate de títulos de
crédito, 724/5) e pelos documentos relativos aos bens a penhorar e aos pagamento da taxa de justiça (724/4). Deve o autor designar o tribunal em
que a acção é proposta, identificar as partes, indicar o domicílio fiscal do mandatário judicial e a espécie da execução, formular o pedido, declarar o
valor da causa e fornecer os dados de identificação da conta em que deverão ocorrer os pagamentos (274/1/a/b/d/e/f/g/k).

Uma vez que a execução tem sempre por base um título executivo e este deve acompanhar a petição inicial, a indicação da causa de pedir só tem de
ter lugar quando ela não conste do título(724/1/e).

Quando o título executivo contenha uma promessa de cumprimento ou reconhecimento de uma dívida sem indicação da respectiva causa (458CC),
tratando-se de título de crédito (letra, livrança ou cheque) relativamente ao qual tenha decorrido já os prazos de prescrição já invocada pelo devedor
ou querendo-se, prudentemente, prevenir a hipótese da sua invocação em oposição à execução, o exequente deve alegar a causa da obrigação,
competindo ao tribunal ajuizar da sua validade nos termos que ficaram indicados a propósito do título executivo.

Executando-se título referente a negócio jurídico para o qual a lei exige forma escrita, o problema não se põe, visto que a causa deve constar do
próprio título, sob pena de este não poder fundar a execução: que a al. b), quer a al. c) do 703/1 exigem a validade da obrigação titulada.

A indicação de factos na petição tem igualmente lugar quando:

20
- a obrigação precise ser liquidada, para tal não bastando fazer cálculos aritméticos (supra 4.3.3.), caso em que o requerimento executivo precisa de
ser deduzido por artigos (147/2, 716 e 724/1/h);

- o título careça de prova complementar, por a certeza ou a exigibilidade dele não resultar (supra 4.2.7.+724/1/h), por ter ocorrido sucessão no
crédito ou no débito (supra 6.1.2.A) ou no caso de escritura pública contende a promessa de contrato real ou a previsão de obrigação futura (supra
3.4.3.);

- o exequente requeria a dispensa da citação prévia do executado, com base no receio de perda da garantia patrimonial do crédito (727 e 724/1/j);

- o exequente alegue que é comum a dívida constante de título, diverso de sentença, formado apenas contra um cônjuge (741/1 e 724/1/e).

Constituem outras menções, facultativas ou eventuais, do requerimento executivo:

- a escolha da prestação, quando ela caiba ao credor (721/1/h);

- a designação do agente de execução (724/1/c);

- o requerimento de citação do devedor subsidiário antes da excussão do património do devedor principal (745/1);

- a indicação do empregador do executado, das contas bancárias de que ele seja titular e dos seus bens e créditos, devidamente especificados, bem
como dos ónus e encargos que sobre eles incidam (724/1-i)/2/3).

A apresentação do requerimento executivo só se considera concluída, para o prosseguimento do processo, com o pagamento ao agente de execução
da quantia que lhe seja inicialmente devida a título de honorários e despesas (724/6/a), ressalvado o regime do apoio judiciários (724/6/a) e
552/5e6),

Se não tiver sido reembolsado das custas de parte, por falta de pagamento das custas da acção declarativa pelo réu nela condenado, o exequente
poderá exigir o reembolso no requerimento inicial, fazendo neste uma cumulação de pedidos. Mesmo que a execução, baseada na sentença, se
destine à entrega de coisa certa ou à prestação de facto (710). O mesmo se a execução, não baseada em sentença, for convertida em execução para
pagamento de quantia certa 711/2.

A apresentação do requerimento executivo tem lugar no próprio processo em que haja sido proferida a sentença, proveniente de tribunal (estadual)
português e não pendente de recurso, que se pretenda executar (85/1 e 626), Não tem, neste caso, de ser acompanhada por cópia de sentença.

11.1.2. Tramitação complementar do requerimento inicial

O requerimento inicial pode ser recusado pela secretaria, nos casos do 725/1:

- quando tenha sido omitido um requisito do requerimento executivo (assinatura, utilização de língua portuguesa, utilização do modelo aprovado,
elemento exigido pelo 724/1/4, ainda que só eventualmente);

- quando não seja apresentado o título executivo ou seja manifesta a insuficiência do título apresentado.

O acto de recusa é reclamável para o juiz, mas a decisão deste é irrecorrível, salvo quando se funde na falta de exposição dos factos (725/2).

Recebido o requerimento inicial, seguem-se a distribuição (salvo quando a execução tenha lugar nos autos do processo declarativo em que tenha
sido proferida a decisão exequenda) e a autuação, bem como as eventuais diligências para tornar certa ou exigível a obrigação, a designação do
agente de execução pela secretaria, quando o exequente o não tenha designado ou ele tenha recusado a designação feita (720/2/8), e a subsequente
notificação a este da designação efectuada (720/3).

Segue-se a produção de prova complementar do título, nos casos em que deva ter lugar.

11.2. Despacho liminar

11.2.1. Tem sempre lugar

O CPC, ao desdobrar em ordinária e sumária a forma do processo comum, impõe na primeira o despacho liminar e dispensa-o na segunda. Aliás, esse
controlo judicial prévio constitui a característica fundamental da forma ordinária em face da sumária.

O despacho liminar pode ser de indeferimento, aperfeiçoamento ou de citação.

11.2.2. Aperfeiçoamento e indeferimento liminar

Quando haja despacho liminar, o juiz deve convidar o exequente a suprir a falta de pressupostos processuais e as outras irregularidades de que
enferme o requerimento executivo, desde que sanáveis (726/4), e só no caso do não suprimento devem num segundo despacho, indeferir o
requerimento (726/5). Exemplos: representação irregular do exequente, falta de autorização ou deliberação que o exequente devesse ter obtido, de
falta de constituição de advogado por parte do exequente, quando obrigatória, ou de falta, insuficiência ou irregularidade de mandato judicial por
parte do mandatário que tenha proposto a acção executiva (27a29, 34/2 e 48), tal como nos de falta de apresentação do título exectivo, de omissão
do requerimento das diligências destinadas a tornar certa, exigível ou líquida a obrigação, de falta de alegação ou requerimento de prova dos factos
constitutivos da transmissão do crédito ou do débito, de coligação ou cumulação simples ilegal, impõe-se a utilização do despacho liminar de
aperfeiçoamento, seguido do de indeferimento, no caso de, na sua pendência, o vício não ser sanado.

O indeferimento liminar imediato é reservado para os casos em que seja manifesta:

- a falta insuprível de pressuposto processual de conhecimento oficioso, não tendo a secretaria, se se tratar de falta do título executivo – o juiz
indefere o requerimento quando seja manifesta a falta de insuficiência do título executivo -, recusado o requerimento executivo (726/2/a/b);

- a actual inexistência da obrigação exequenda constante de título negocial, por causa oficiosamente cogniscível (726/2/c)
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11.2.3. Rejeição oficiosa da execução

Passado o momento do despacho liminar, é possível ao juiz vir a conhecer, até ao primeiro acto de transmissão de bens penhorados (venda,
adjudicação, entrega de dinheiro) ou, por extensão, de consignação dos respectivos rendimentos, de qualquer das questões que, nos termos do
726/2a5, podiam ter conduzido ao convite ao aperfeiçoamento ou ao indeferimento liminar do requerimento executivo (734).

Só com esse primeiro acto de transmissão preclude a possibilidade de apreciação, no âmbito do processo executivo, dos pressupostos processuais
gerais e das questões de mérito respeitantes à existência da obrigação exequenda.

Até esse momento, o juiz deve convidar à supressão de irrgularidades ou da falta de pressuposto ou rejeitar oficiosamente a execução, proferindo
neste caso despacho de extinção da instância, logo que se aperceba da ocorrência de alguma das situações susceptíveis de fundar o aperfeiçoamento
ou indeferimento liminar, quer tenha ou não havido despacho liminar e quer tal situação fosse já manifesta à data em que este foi proferido, quer só
posteriormente se tenha revelado no processo executivo ou, mesmo, no processo declarativo dos embargos de executado.

11.2.4. Indeferimento parcial

Art.726/3

11.3. Citação do executado

Proferido o despacho de citação, é o executado citado para, no prazo de 20 dias, pagar ou se opor à execução (726/6).

Pode o exequente requerer dispensa da citação prévia do executado quando justificadamente receie perder a garantia patrimonial do crédito (727).
Trata-se, neste caso, como que do enxerto de uma providência cautelar na fase liminar da acção executiva: em vez de requerer o arresto como
preliminar desta (364/1), o credor serve-se da própria execução para conseguir o efeito de acautelamento do seu direito, que a citação ao devedor
ameaçaria. Contudo, deve alegar e provar os factos que justifiquem a perda da garantia patrimonial, já por via do conhecimento de que do devedor
tome da execução, já em consequência do tempo que decorra até à penhora. A semelhança com o arresto é grande e o requisito do periculum in
mora idêntico; só a prova do fumus boni juris é dispensada, visto que o título executivo já presume a existência do direito exequendo.

A dispensa da citação prévia pode ser requerida relativamente a qualquer executado, incluindo o devedor subsidiário com benefício de excussão
prévia.

Dispensada a citação prévia, o executado é citado depois da penhora e pode opor-se à penhora ou à execução ou a ambas cumulativamente, nos 20
dias subsequentes (727/4+856/1e3)-

Se a oposição à execução improceder, o exequente responderá pelos danos que culposamente cause ao devedor, se não tiver atuado com a
prudência normal, além de incorrer em multa e sem prejuízo de eventual responsabilidade criminal (727/4 e 858). Esta norma de responsabilidade é
paralela à do 374/1, relativa ao requerente da providência cautelar julgada injustificada ou que venha a caducar.

Quando ocorra a cumulação sucessiva (supra 8.4.1.), o executado já não é de novo citado (para pagar ou opor-se à execução do segundo título), mas
apenas notificado para o efeito (728/4).

12. Oposição à execução

12.1. Meio

Uma vez citado – ou notificado, nos termos do 728/4, em consequência da cumulação sucessiva -, o executado pode opor-se à execução por meio de
embargos (728/3).

A oposição do executado visa a extinção da execução, mediante o reconhecimento da actual inexistência do direito exequendo ou da falta dum
pressuposto, específico ou geral, da acção executiva.

Constituindo os embargos de executado uma verdadeira acção declarativa, que ocorre por apenso ao processo de execução, nela é possível ao
executado, não só levantar questões de conhecimento oficioso, mas também de alegar factos novos, apresentar novos meios de prova e levantar
questões de direito que estejam na sua disponibilidade (ex: prescrição ou compensação que não tenha invocado antes da acção executiva, 303CC e
848/1CC).

Como resulta do 787, pode também opor-se à execução o cônjuge do executado, citado nos termos do 786/1.

12.2. Fundamentos

12.2.1. Na execução da sentença

A. A nossa lei processual enumera os fundamentos da oposição à execução de sentença, distinguindo a sentença dos tribunais estaduais (729) da
sentença do tribunal arbitral (730 e, no âmbito da primeira, dando tratamento especial à sentença homologatória de confissão ou transacção das
partes (729/i).

B. Enumeração constante das alíneas a) a h) do 729 (execução de sentença dos tribunais estaduais) engloba a falta de pressupostos processuais
gerais, a falta de pressupostos processuais específicos da acção executiva e a inexistência da actual obrigação exequenda, incluindo a compensação.

Algumas observações sobre aqueles fundamentos, que não foram já anteriormente analisados (consequências da falta de apresentação do título
executivo, consequências da falta de certeza ou exigibilidade, liquidação por árbitros, consequências da ilegitimidade das partes, consequências da
falta de litisconsórcio, quando necessário, e da coligação ilegal, consequências da cumulação indevida):

a) Falsidade: Verifica-se nos casos indicados do 372/2CC, pode revestir a modalidade de falsidade ideológica ou de falsidade material, incluindo a
contrafacção, e tem por objecto todo o processo declarativo, a sentença nele proferida ou o translado (certidão emitida para servir de base à
execução: 649/1). Ocorrendo falsidade de um acto de processo executivo, sem que se inclui também a falsidade da citação, ou de qualquer
documento deste que não seja o título executivo, deverá ela ser arguida nos termos do 446 a 450, nada disso tendo a ver com a a oposição à
execução. Tão pouco pode ser fundamento de oposição a falsidade de um acto do processo declarativo, ou de qualquer documento nele produzido e
em que a sentença se tenha baseado, o que apenas pode fundar recurso de revisão (696/b). A falsidade é de conhecimento oficioso se for evidente
em face dos sinais exteriores do processo ou do traslado (372/3CC);
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b) Infidelidade: A infidelidade do translado ao original integra-se no conceito de falsidade da própria certidão ou fotocópia, a que se referem o 385CC
e 387/1CC, e, em paralelismo com o regime da falsidade do original, não dá lugar ao incidente do 444/3 (como acontece com a infidelidade da cópia
de um documento, diferente do título executivo, produzido em processo executivo), mas à dedução de oposição por embargos. Este vício só pode ser
de conhecimento oficioso quando o processo declarativo original se encontre no tribunal da execução; mas nada impede que no caso de existirem
sinais exteriores do traslado que revelem falsidade, o juiz requisite o processo para confronto (436).

c) Falta de pressuposto processual geral: A dedução de oposição onde se queria fazer valer a falta de pressuposto processual geral não preclude a
possibilidade do seu suprimento, nos autos do processo executivo, nos termos gerais do 6/2. Suprida a falta de pressuposto, cessa o fundamento da
oposição, que o juiz julgará, consequentemente, improcedente (adaptação do 611). Mas se, dependendo do suprimento da falta de pressuposto dum
acto do exequente, o juiz tiver proferido despacho de aperfeiçoamento do requerimento executivo, o executado não tiver sanado o vício e o juiz tiver
omitido o subsequente despacho de indeferimento liminar, pode ter precludido a possibilidade de suprir a falta do pressuposto (p.e, o 29/2 e 48/2)
ou ser ainda admissível o suprimento (261.

d) Falta ou nulidade da citação: Há falta de citação para a acção declarativa nos casos do 188 e nulidade quando, fora desses casos, tenha havido, na
realização do acto, preterição de formalidade escrita por lei (191/1). A falta da citação só fica assim sanada se o réu intervier no processo sem logo a
arguir (189); quanto à nulidade da citação, embora a sua arguição no processo declarativo deva, em regra, ter lugar no prazo indicado para a
contestação (191/2), pode ser invocada em embargos do executado quando não tenha sido feita valer no processo declarativo, desde que a acção
tenha corrido à revelia do réu. Note-se que a falta de citação é de conhecimento oficioso (196), enquanto a nulidade tem de ser arguida pelo réu
(197/1), de onde resulta que a primeira pode fundar o indeferimento liminar, enquanto a segunda só pode ser arguida nos embargos. Com este vício
(falta ou nulidade da citação na acção declarativa) nada tem a ver a falta ou nulidade da citação para a acção executiva a qual é fundamento de
anulação da execução (851). Tenha-se ainda em conta o fundamento de revisão (696/e);

e) Caso julgado: Quando, fora do esquema de impugnações, são proferidas duas decisões sobre a mesma questão, apenas é eficaz a que primeiro
transitar em julgado (625), com a consequência de ser inexequível a segunda, pelo que, pedida a execução desta, pode o executado opor-se. Esta
excepção é de conhecimento oficioso (578) e, quando o processo em que foi proferida a decisão primeiramente transitada tenha ocorrido no mesmo
tribunal, também o é o facto em que ela se funda (412/2).

f) Facto extintivo ou modificativo da obrigação: Abrange as várias causas de extinção das obrigações, designadamente o pagamento, a dação em
cumprimento, a consignação em depósito, a novação, a remissão e a confusão (837 e ss CC), bem como aquelas que as modificam (designadamente
por substituição do seu objecto, extinção parcial ou alteração de garantias), a prescrição e, no que respeita a pretensões reais, as causas de extinção
e modificação do direito em que se baseiam (incluindo aquelas de que decorre a transmissão do direito real), bem como a usucapião. A
compensação é, no novo código, autonomizada na al. h) do artigo.

Ao exigir-se a prova documental destes factos (com a excepção da prescrição) e sem o prejuízo da prova por confissão do exequente, introduz-se um
desfasamento entre o direito substantivo (em que só vigora a limitação do 395CC) e o direito processual executivo: pode, por exemplo, uma
obrigação estar extinta por contrato de remissão realizado verbalmente e, no entanto, essa extinção não ser invocável em oposição à execução,
prosseguindo esta com base no título constitutivo de um direito insubsistente. Encontramos aqui uma manifestação extrema da autonomia do título
face à obrigação exequenda.

O 729/g) põe ainda a questão de saber se, ao estatuir, por respeito pelo caso julgado, que o facto extintivo ou modificativo há de ser posterior ao
encerramento da discussão no processo de declaração – ou conhecido depois dele: superveniência subjectiva -, ela se contenta, no caso das
excepções em sentido próprio, com a ocorrência, ao tempo dos respectivos pressupostos ou exige que também até então tenha tido lugar a
declaração de querer fazer valer a excepção, dado que tal declaração constitui um pressuposto do efeito jurídico dela decorrente. Da consideração do
lugar paralelo do 860 (invocabilidade de benfeitorias na acção executiva para entrega de coisa certa) retira-se, tido em conta o n.º3, que a excepção
em sentido próprio não pode ser feita valer na oposição quando se baseie em pressupostos já verificados à data do encerramento da discussão.

Não obstante a al. g) não referir os factos impeditivos, devem entender-se sujeitos ao mesmo regime (de invocabilidade em oposição, quando os
respectivos pressupostos se tenham verificado já depois de encerrada a discussão da causa) aqueles que integrem excepções em sentido próprio.

g) Compensação: A nova qualificação processual que se pretendeu dar à compensação no 266/2/c) levou à sua autonomização como fundamento de
embargos de executado. É que, excedendo a reconvenção a função defensiva dos embargos, a caracterização adjectiva da compensação como
reconvenção levaria a negar a sua invocabilidade na dependência da acção executiva, o que seria contrário ao seu regime substantivo. Na opinião de
LEBRE DE FREITAS, a compensação continua a constituir uma excepção peremptória e o que a nova lei estabelece é que, quando muito, um ónus de
reconvir na acção declarativa (pedindo a mera apreciação da existência de contracrédito) cuja observância é suporte necessário da invocação da
excepção. A nova norma tem a utilidade de deixar claro que, seja como for, a compensação (até montante da obrigação exequenda) pode constituir
fundamento de embargos de executado. Fora de questão está que o executado cujo contracrédito seja superior ao do exequente possa invocar a
sentença a seu favor venha a ser proferida como sentença de condenação do exequente no pagamento da diferença entre os dois crédito, nem que
como sentença de mero reconhecimento da existência da dívida pelo excesso, nem obter o pagamento forçado dessa diferença no processo
executivo a que se opôs; mas , quer ao seu crédito seja igual ou inferior, quer seja superior ao do exequente, é-lhe permitido deduzir a excepção de
compensação, seja como objecção, seja como excepção propriamente dita (no caso de essa declaração ser feita no requerimento de oposição).

A consideração do fundamento da compensação em alínea separada da dos restantes factos extintivos da obrigação exequenda, liberta o executado
do ónus de provar através de documento, quer o facto constitutivo do contracrédito e as suas características relevantes para o efeito do 847CC, que a
declaração de querer compensar (848CC), no caso desta ter sido feita fora do processo. Permitir-lhe-á também essa consideração separada fazer
valer a compensação quando o executado o podia já ter feito na acção declarativa? As mesmas razões que, tido em conta o lugar paralelo do 660,
justificam a extensão da preclusão estabelecida no 729/g) à excepção em nome próprio cujos pressupostos esteja, já verificados à data do
encerramento da discussão na acção declarativa levaria a uma resposta negativa; mas, uma vez entendido que o titular do contracrédito tem hoje o
ónus de reconvir, o momento preclusivo recua à data da contestação (a reconvenção não pode ser deduzida em articulado superveniente); a
invocação da compensação só não será admissível quando ela já era possível à data da contestação da acção declarativa, só assim se harmonizando o
regime da al. h) com o da al. g) do 729.

h) Prescrição: o prazo de prescrição é, em regra, ordinário, uma vez que a sentença transitada em julgado altera o prazo de prescrição dos direitos
que reconhece, ainda que este último prazo fosse o da prescrição presuntiva (311/1CC). No entanto, se a sentença exequenda tiver condenado em
prestações futuras, continua, em relação a elas, a contar-se a prescrição de curto prazo (311/2CC).
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Nos casos em que o fundamento dos embargos do executado constituiu também fundamento do recurso extraordinário de revisão, a pendência
desta à data em que o executado é citado para a execução da sentença recorrida não dispensa o executado de se opor à execução, que o recurso de
revisão não suspende (699/3). Uma vez deduzida a oposição, terá lugar, normalmente, a suspensão da instância de recurso, até que a oposição seja
devidamente julgada.

C. No caso de execução de sentença homologatória de confissão ou transacção, além dos fundamentos elencados nas al.a) a h) do 729, podem ser
invocadas quaisquer causas que, segundo a lei civil, determinem a nulidade ou anulabilidade do negócio jurídico homologado (729/i): simulação,
dolo, erro, inidoneidade do objecto, incapacidade, etc. Os actos de autocomposição do litígio constituem negócios jurídicos, como tais sujeitos ao
regime geral (291/1), sem que o trânsito em julgado da sentença que os homologue obste à propositura da acção de declaração de nulidade ou de
anulação (291/2), e esta pode surgir sob a forma de embargos de executado.

Note-se que, nos casos de anulabilidade, nunca terá ocasião de se verificar a caducidade de um acto estabelecida no 287/1CC. Esta caducidade
pressupõe o cumprimento do negócio e, enquanto este não ocorrer, a causa de anulabilidade é invocável a todo o tempo (287/2CC). Quando se trata
de executar a sentença homologatória do negócio jurídico, este não está cumprido.

D. Na execução de sentença de tribunal arbitral, os fundamentos de oposição são, além dos do 729, aqueles em que se pode basear a anulação da
decisão arbitral (730), desde que a anulabilidade não esteja sanada pelo decurso do prazo para a acção de anulação e desde que a acção de anulação
não tenha sido definitivamente julgada improcedente (48LAV).

12.2.2.Na execução de outro título

Diferentemente do que acontece nos embargos à execução de sentenças, os embargos à execução baseada em outro título podem fundar-se em
qualquer causa que fosse lícito deduzir como defesa no processo de declaração (731).

Compreende-se porquê: o executado não teve ocasião de, em acção declarativa prévia, se defender amplamente da pretensão do exequente.

Pode, por isso, alegar nos embargos matéria de impugnação e de excepção (571/2) - em relação a esta última, põe-se o problema de saber se será
aplicável a restrição do 729/g), quando exige priva escrita do facto extintivo ou modificativo da obrigação exequenda. A orientação dominante vai no
sentido negativo: o executado está em face da execução como estaria perante a acção declarativa, por isso, só não poderá provar por outro meio o
facto extintivo ou modificativo quando a lei civil lhe imponha a prova por documento (JOSÉ ALBERTO DOS REIS, EURICO LOPES CARDOSO, MANUEL
DE ANDRADE). De facto, a exigência de prova documental tem como fundamento não ser muito verosímil. Mas não pode reconvir: a reconvenção,
que não é um meio de defesa mas de contra-ataque, não é admissível nem no processo executivo, nem no processo declarativo que a ele
funcionalmente se subordinam.

12.3. Oposição por requerimento

A enunciação dos fundamentos de oposição à execução deve ter-se por taxativa?

Assim o inculca a redação do 729, dos artigos seguintes e, em sede de execução para entrega de coisa certa, o 860.

Resta saber se não obstante a letra da lei, a interpretação extensiva do 729 não se imporá, por necessidade, de outro modo insuperável, de
configuração de outros fundamentos de execução.

Esta posição foi defendida por CASTRO MENDES e ANSELMO DE CASTRO, antes da revisão. Segundo CASTRO MENDES, o executado podia deduzir
oposição à execução da sentença, não só com algum dos fundamentos indicados, mas também com base em outro qualquer fundamento que fosse
de conhecimento oficioso, designadamente a incompetência absoluta e a litispendência. ANSELMO DE CASTRO, entendendo que podia fundar a
oposição a falta de qualquer pressuposto processual geral, citava a incompetência e a nulidade por erro na forma de processo como devendo
engrossar a enumeração legal.

Quer a incompetência absoluta, como falta de pressuposto processual, quer a litispendência, como pressuposto processual negativo – tanto a
litispendência como a ineptidão da petição inicial são considerados pressupostos negativos respeitantes ao objecto do processo , passaram a ser
abrangidas na previsão da do 729/c). Mas fora do campo dos pressupostos, outros fundamentos processuais de oposição do executado são
hipotizáveis. Assim, além do erro na forma do processo, que constitui uma nulidade, pode dar-se o exemplo da não indicação do valor da acção no
requerimento executivo, que dá lugar a que o juiz convide o exequente a declará-lo, sob pena da extinção da instância (305/3); o mesmo acontece se
faltar outro requisito legal da petição (590/3, 726/4 e 734). Se, ocorrendo um destes casos, o juiz tiver proferido despacho de citação, ou se não tiver
havido despacho liminar, o executado poderá querer levantar a questão, no primeiro caso não precludida (226/5), após a sua citação para a acção
executiva. Através da oposição à execução ou por simples requerimento?

Tratando-se de vícios cuja demonstração não carece de alegação de factos novos nem de prova, o meio da oposição à execução seria demasiado
pesado, pelo que basta requerimento do executado em que suscite a questão no próprio processo executivo. Utilização pelo exequente dum meio
processual inadequado dá lugar a que o juiz, sem prejuízo do princípio da adequação formal (547), aproveite os actos já praticados que possam ser
aproveitados e ordene o seguimento do processo na forma adequada (193). Não o tendo feito no despacho liminar, pode o executado arguir a
nulidade praticada. Também pode fazê-lo se, convidado o exequente a apresentar nova petição inicial, por a que apresentou não ser aproveitável
para a forma adequada, ele não o tiver feito e o juiz não tiver indeferido a petição inicial (726/5). No primeiro caso, é ainda suprível o erro praticado.
O preceito do 723/1/d (admissibilidade do requerimento da parte ao juiz do processo – sem prejuízo da multa a que pode dar lugar quando
manifestamente infundados: 723/2), não permite duvidar da admissibilidade deste meio.

A redação do 729 não constitui obstáculo a esta solução: o direito de defesa do executado e o princípio do contraditório não podem nunca ser
preteridos; mais, sempre que a contraditoriedade possa ser assegurada por um simples requerimento, essa é a via que permitirá colmatar as lacunas
das normas que regulam a defesa do executado, com as vantagens da maior simplicidade do meio (princípio da economia processual) e da não
violentação do texto legal do 729.

Assim, conclui-se que o meio de requerimento constitui uma solução bastante satisfatória.

12.4. Processo

12.4.1. Natureza

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A oposição à execução constitui, do ponto de vista estrutural, algo e extrínseco à acção executiva, toma o carácter de uma contra-acção tendente a
obstar à produção dos efeitos do título executivo e (ou) da acção que nele se baseia. Quando veicula uma oposição de mérito à execução, visa um
acertamento negativo da situação substantiva (obrigação exequenda), de sentido contrário ao acertamento positivo consubstanciado no título
executivo (judicial ou não), cujo escopo é obstar ao prosseguimento da acção executiva mediante eliminação, por via indirecta, da eficácia do título
executivo enquanto tal; e, autores há que, levando mais longe a incidência da procedência da apreciação da subsistência da obrigação titulada,
afirma que o seu fim é tão só combater a exequibilidade do título, mediante a declaração de inadmissibilidade da execução nele fundada, e
consequentemente defendem a natureza constitutiva da sentença que a julgue procedente. Quando a oposição tem um fundamento processual, o
seu objecto é uma pretensão de acertamento negativo da falta dum pressuposto processual, que pode ser o próprio título executivo, igualmente
obstando ao prosseguimento da acção executiva, mediante o reconhecimento da sua inadmissibilidade.

12.4.2. Ónus e preclusões

Constituindo petição duma acção declarativa e não contestação duma acção executiva, a dedução de oposição à execução não representa a
observância de qualquer ónus cominatórios (ónus da contestação, ónus da impugnação especificada) a cargo do réu na acção declarativa: nem a
omissão de oposição produz a situação de revelia nem a omissão de impugnação dum facto constitutivo da causa de pedir da execução produz
qualquer efeito probatório, não fazendo sentido falar, de prova de factos alegados pelo exequente ou de definição do direito corrente do título
executivo, o qual continua, após o decurso do prazo para a oposição como até aí, a incorporar a obrigação exequenda, com dispensa, em princípio, de
qualquer indagação p´revia sobre a sua real existência.

Mas, na medida em que a oposição à execução é o meio idóneo à alegação dos factos que em processo declarativo constituíram matéria de
excepção, o termo do prazo para a sua dedução faz precludir o direito de os invocar no processo executivo, a exemplo do que acontece no processo
declarativo. A não observância de ónus de excepcionar, diversamente da não observância do ónus de contestar ou do de impugnação especificada,
acarreta a preclusão dum direito processual cujo exercício se poderia revelar vantajoso. No entanto, existe uma diferença face ao processo
declarativo: enquanto neste o efeito preclusivo se dissolve com a sentença, no efeito geral do caso julgado, tal não acontece no processo executivo,
em que não há caso julgado, pelo que nada impede a invocação duma execpção não deduzida (que não respeite à configuração da relação processual
executiva) em outro processo. A decisão neste subsequentemente proferida não tem eficácia no processo executivo, mas pode conduzir à restituição
do executado da quantia conseguida na execução, pelo mecanismo de restituição do indevido. Esta restituição faz-se de acordo com as normas do
enriquecimento sem causa, na medida do enriquecimento do exequente (479/2CC).

12.4.3. Formação de caso julgado

A. “A decisão de mérito proferida nos embargos à execução constitui, nos termos gerais, caso julgado (material) quanto à existência, validade e
exigibilidade da obrigação exequenda” (732/5).

Esta disposição, introduzida no novo código, resolve uma questão doutrinariamente controvertida.

A doutrina divide-se entre aqueles que circunscrevem ao processo executivo, baseado num título executivo determinado, o caso julgado formado nos
embargos de executado e os que atribuem à decisão de mérito neles proferida eficácia de caso julgado material.

A segunda posição surge como consequência natural da autonomia do meio de oposição para quem leve essa autonomia ao ponto de nele admitir a
reconvenção. Mas embora estruturalmente autónomo, o processo de embargos de executado está ligado funcionalmente ao processo executivo e o
acertamento que nele se faz, seja um acertamento de mérito, seja um acertamento sobre pressupostos processuais da acção executiva, serve as
finalidades desta. Está na lógica desta construção circunscrever o seu efeito à acção executiva e defender que a eficácia extraprocessual só seria de
admitir se, no próprio processo executivo, tivesse lugar uma decisão dotada da força de caso julgado, mas então por força desta outra decisão e não
como directa consequência da decisão dos embargos à execução. Mesmo quando o objecto desta acção é uma pretensão de acertamento da
inexistência de um direito exequendo, este acertamento subordinar-se-ia aos fins da execução, com a consequência, quando a oposição é
procedente, de destruir a eficácia do título que contém o acertamento positivo de um direito.

Por isso, se o devedor pretendesse obter a segurança duma decisão material definitiva, deveria lançar mão duma acção declarativa autónoma,
estrutural e funcionalmente, em que pediria que fosse declarada a inexistência da obrigação. E, por isso também, na falta desta acção, o devedor
poderia ser de novo demandado pelo credor para satisfação da mesma obrigação, não obstante ter obtido vencimento nos embargos, assim como,
no caso de não o ter obtido, poderia, como mesmo fundamento, mover uma acção contra o credor para obter a restituição do que indevidamente
tivesse pago no processo executivo ou (e) para lhe pedir uma indemnização.

Mas, em direito, a pura lógica deve ceder à consideração dos interesses em jogo, quando estes imponham uma solução diversa daquela e por isso era
defendida a formação de caso julgado na acção de embargos de executado, antes da revisão. Esta posição tinha como pressuposto que, aos estatuir
que a oposição do executado desse lugar a uma acção declarativa que, a partir dos articulados seguia a forma de processo ordinário ou sumário,
consoante o valor, a lei processual vigente até à reforma estabelecia para os encargos do executado uma forma quase tão solene como a do processo
comum. Uma vez que o princípio do contraditório nela é plenamente assegurado, não se justificaria admitir posteriormente outra acção com a
mesma causa de pedir em que se pudesse voltar a pôr em causa a existência da obrigação exequenda. Era possível concluir que no caso de oposição
de mérito, a procedência dos embargos não se limitava a ilidir a presunção estabelecida a partir do título e gozava de eficácia extraprocessual nos
termos gerais, como definidora da situação jurídica de direito substantivo reinante entre as partes. A sentença proferia sobre uma oposição de
mérito era dotada de força geral de caso julgado.

Esta solução tornou-se questionável com a reforma do CPC, dado que os embargos do executado com ela passaram a seguir sempre, após os
articulados, os termos do processo sumário, independentemente do valor. As acções que, propostas autonomamente, seguiriam a forma ordinária
passaram a conhecer, como maior limitação, a redução a metade do número de testemunhas por parte (10 em vez de 20) e por facto (3 em vez de 5),
o que constituía importante limitação do direito à prova. Isto não significava que o caso julgado não se formava na acção de embargos de executado,
mas apenas queria dizer que se poderia verificar se o direto à prova tinha sido efectivamente limitado, para o que seria adequado o recurso ao
critério perfilhado para o caso da assistência (actualmente o 332/a), a aplicar com as adaptações que a distinta natureza das duas situações
implicava: em princípio, o caso julgado produzia-se; era, porém, admissível a parte provar, em acção que autonomamente viesse a ser proposta, que
as limitações de prova referidas a tinham impedido de fazer uso de testemunhos que poderiam ter influído na decisão final. A reabertura da
discussão só afastaria, no final, a decisão anterior se as novas testemunhas se revelassem efectivamente determinantes duma convicção judicial de
conteúdo diverso só primeiro.

25
A norma introduzida no CPC de 2013 não distingue. Nem tinha que distinguir: com a redução das formas de processo comum a uma só, o regime da
prova testemunhal passou a ser o mesmo na acção declarativa comum e na acção de embargos de executado. Tornou-se indiscutível que faz caso
julgado material a decisão dos embargos sobre a existência da acção exequenda.

B. Um dos corolários da autonomia estrutural da acção de embargos do executado relativamente à acção executiva é a possibilidade de não serem as
mesmas partes num e noutro processo. Basta que, havendo vários executados litisconsortes, nem todos se oponham à execução.

Neste caso, a sentença proferida na oposição só é vinculativa entre os embargantes e o exequente, não sendo os restantes executados abrangidos
pela eficácia do caso julgado (580/1, 581/1/2 e 619/1). Consequentemente, se a oposição for julgada procedente, só perante o embargante se
produzirá o efeito directo do caso julgado material da decisão da oposição de mérito ou de caso julgado formal da decisão sobre pressupostos
processuais. Os restantes executados, terceiros relativamente ao processo, não são abrangidos pela eficácia directa do caso julgado que nele se
forme: as situações jurídicas de que são titulares limitam-se a registar, se for caso disso, repercussões indirectas que lhes possam caber segundo o
direito substantivo, em nada mais lhes aproveitando a dedução dos embargos. Exceptuam-se os casos de imposição de litisconsórcio executiva, em
que o recurso ao mecanismo do 261/1 é necessário para garantir a legitimidade dos embargantes.

12.4.4. Prazo

A oposição à execução deve ser deduzida no prazo de 20 dias a contar da citação do executado (728/1) ou, no caso de cumulação sucessiva de
pedidos, da sua posterior notificação. Há, no entanto, a possibilidade de embargos supervenientes:

- quando o facto que os fundamenta ocorrer depois da citação do executado;

- quando este só tiver conhecimento do facto (ex: pagamento feito por um seu antecessor) depois da citação.

O prazo de 20 dias conta-se a partir da ocorrência do facto ou do seu conhecimento pelo executado (728/3).

12.4.5. Efeitos da pendência

Deduzida a oposição à execução, esta não é, em regra, suspensa (733/1), mas nem o exequente nem outro credor pode ser pago, na pendência dela,
sem prestar caução (733/4).

Há 3 possibilidade de o embargante conseguir a suspensão da execução:

- a primeira consiste na prestação de caução;

- a segunda, circunscrita às acções fundadas em documento particular sem a assinatura reconhecida, tem lugar quando o embargante alegue que a
assinatura não é genuína;

- a terceira tem lugar quando o embargante impugne a exigibilidade ou a liquidação da obrigação (733/1/a/b/c).

Se o embargante prestar caução, o juiz deve determinar a suspensão da execução. Não é estabelecido prazo para a prestação de caução, devendo
entender-se que ela pode ter lugar a todo o tempo e não apenas com a petição inicial de oposição, pois não se justificaria qualquer restrição
temporal.

A caução é prestada nos termos do incidente referido no 915 e regulada no 913.

Quando a execução se funde em documento particular sem a assinatura reconhecida notarialmente e o executado alegue em oposição à execução,
que não o assinou o pretenso devedor, o juiz, ouvindo o exequente, pode suspender a execução se for junto documento que indicie que a alegação
do opoente é verdadeira – documento que constitua o princípio de prova, maxime, o BI do devedor, o seu passaporte ou outro documento autêntico
por ele subscrito.

Neste caso, a suspensão não é automática: o juiz só suspenderá a execução, dispensando a prestação de caução, se, ouvido o embargado, se
convencer da séria probabilidade da assinatura não ser do devedor.

Também quando tenha sido impugnada a exigibilidade ou contestada a liquidação da obrigação feita pelo exequente, o que o executado só pode
fazer por embargos, pode o juiz, ouvido o embargado, suspender a execução com dispensa da prestação de caução.

De acordo com o 733/3, cessa a suspensão se, durante mais de 30 dias, o embargante mantiver, com negligência, o processo de embargos parado.

A suspensão mantém-se na fase de recurso, tenha a oposição sido julgada procedente ou improcedente. Com a decisão definitiva sobre a oposição, a
execução extingue-se, quando a oposição proceda (732/4) ou prossegue, quando improceda, os mesmo efeitos se produzindo não tiver havido
suspensão.

12.4.6. Tramitação

A. Os embargos constituem uma verdadeira acção declarativa, que corre por apenso ao processo de execução.

Inicia-se com uma petição inicial, que terá de ser articulada, em obediência aos 147/2.

Uma vez ela autuada, o processo é concluso ao juiz para proferir despacho liminar.

B. O despacho deve ser de indeferimento se:

- os embargos tiverem sido deduzidos fora do prazo (732/1/a);

- for invocado fundamento para além dos admitidos pelos 729 a 731 (732/1/b);

- for manifesta a improcedência da oposição do executado (732/1/c).

Deve sê-lo também se ocorrer execpção dilatória insuprível de que o juiz deva conhecer oficiosamente (590/1).

Proferido despacho de citação, o exequente é notificado para contestar no prazo de 20 dias, sem mais articulados (732/2).

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C. Não contestando o exequente, consideram-se admitidos os factos alegados na petição de embargos, aplicando-se o 567/1, com as excepções do
568.

Ver também o 732/3.

D. Terminada a fase dos articulados, aplicam-se os termos subsequentes do processo as normas do processo comum de declaração (732/2).

É admissível a suspensão da instância dos embargos de execução por decorrência de causa prejudicial (272/1).

13. Objecto da penhora

13.1. Noção

A satisfação do direito do exequente - e, com ele, a dos credores com garantia real sobre os bens penhorados que venham a reclamar o pagamento
dos seus créditos na execução – é conseguida, no processo de execução, mediante a transmissão de direitos do executado, seguida, no caso de ser
feita para terceiro, do pagamento da dívida exequenda.

Para que essa transmissão se realize, há que proceder previamente à apreensão dos bens que constituem objecto desses direitos, ao mesmo tempo
paralisando ou suspendendo, na previsão dos actos executivos subsequentes, a afectação jurídica desses bens à realização de fins do executado, que
fica impedido de exercer plenamente os poderes que integram os direitos de que sobre eles é titular, e organizando a sua afectação específica à
realização dos fins da execução.

É nessa apreensão judicial de bens do executado que se traduz a penhora, que é assim o acto judicial fundamental do processo de execução para
pagamento de quantia certa, aquele em que é mais manifesto o exercício do poder coercitivo do tribunal: perante uma situação de incumprimento, o
tribunal priva o executado de pleno exercício dos seus poderes sobre um bem, que sem deixar de lhe pertencer, fica a partir de então
especificamente sujeito à finalidade última de satisfação do crédito do exequente, a atingir através da disposição do direito do executado nas fases
subsequentes à execução. Destas se poderá dizer que são como que a consequência natural da penhora, que é o acto executivo por excelência.

13.2. Princípios gerais

A garantia geral das obrigações é, em princípio, constituída por todos os bens que integram o património do devedor. Esta sujeitabilidade da
generalidade dos bens do devedor à execução para satisfação do direito do credor a uma prestação pecuniária constitui a responsabilidade
patrimonial (originária ou de ressarcimento, consoante o património do devedor responda por incumprimento do dever originiário de pagar uma
quantia em dinheiro, como pelo incumprimento do dever de indemnização, quer este se constitua por violação duma obrigação, quer por violação de
um dever genérico de conduta), que, resultante do incumprimento, é o fundamento de toda a execução por equivalente, bem como da execução
específica, ainda quando por meio directo, das obrigações pecuniárias. Mas a figura da garantia especial (fora do âmbito da responsabilidade
patrimonial) e da impugnação pauliana, bem como as limitações e condicionamentos da responsabilidade patrimonial, introduzem excepções e
especialidade a que há que atender quando se põe a questão do objecto possível da penhora.

Da articulação do 735/1/2, e 736 a 739 com o 601CC e 818CC, assim como da sua aproximação dos 740 a 745, 752/1 e 54/2 podem extrair-se os
seguintes princípios gerais:

- Todos os bens que constituem o património do devedor, principal ou subsidiário, podem ser objecto de penhora, à excepção dos bens inalienáveis e
de outros que a lei declare impenhoráveis.

- Os bens de terceiro só podem ser objecto de execução em dois casos: i) quando sobre eles incida direito real constituído para garantia do crédito
exequendo; ii) quando tenha sido julgada procedente impugnação pauliana de que resulte para o terceiro a obrigação de restituição dos bens ao
credor;

- Há que ter em conta os desvios resultantes da existência de patrimónios autónomos, da constituição de garantias reais sobre bens próprios do
devedor e da articulação de responsabilidades entre devedor principal e devedor subsidiário, desvios estes que, na maior parte dos casos, se
exprimem em diferentes regimes de penhorabilidade subsidiária.

- Nunca podem ser penhorados senão bens do executado, seja este devedor principal, um subsidiário ou um terceiro (ver exemplo na nota de rodapé
14B, da p.238). Esta regra não tem excepções.

13.3. Penhora e disponibilidade substantiva

13.3.1. Indisponibilidade objectiva

Uma vez que a penhora consiste na apreensão de um bem com vista a uma ulterior transmissão, seria inútil admiti-la quando, segundo a lei
substantiva, o bem apreendido é objectivamente indisponível.

Em consequência, são impenhoráveis os bens do domínio público (736/b). Assim como os bens inalienáveis do domínio privado (736/a). Não podem,
por isso, penhorar-se o direito a alimentos (2008/1CC), o direito de uso e habitação (1488C), o direito à sucessão de pessoa viva (2028CC), a
propriedade de nome ou insígnia de estabelecimento separadamente deste (297CPI), a propriedade de recompensa industrial sem parte do
estabelecimento cujos produtos justifiquem a concessão (279CPI) ou a posição de arrendatário de prédio para habitação, a qual, fora o caso de
divórcio ou separação judicial de pessoas e bens (1105CC), só é transmissível por morte do titular e para pessoas determinadas, quando verificados
determinados requisitos (1106CC).

13.3.2. Indisponibilidade subjectiva

A. Também os regimes de indisponibilidade subjectiva geram impenhorabilidade. As normas de indisponibilidade subjectiva actuam eliminando ou
restringindo os poderes de disposição sobre bens próprios. No primeiro caso, o poder de disposição é atribuído a um não titular do direito, quer para
exercício dum direito próprio da pessoa a quem é atribuído com fim de garantia, quer para a realização do interesse do respectivo titular, incapaz de
o exercer. No segundo caso, a limitação do poder de disposição traduz-se na necessidade de o titular do direito obter, para dispor, uma autorização
ou consentimento alheio, também quer por consideração do seu próprio interesse, quer por consideração do interesse da pessoa que terá de
autorizar ou consentir o acto dispositivo.

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B. O primeiro tipo de situação não oferece relevância em sede de penhorabilidade: quando a atribuição do poder de disposição visa um fim de
garantia, a pessoa a quem ele é atribuído tem direito a ser paga antes do exequente, se o bem for penhorado antes de exercido o direito que justifica
a atribuição (666CC); quando, ao invés, a atribuição é feita no interesse do titular do direito, a regularidade da penhora é assegurada mediante
mecanismo de representação deste no próprio processo executivo (16/1).

Tão-pouco oferece dificuldade o caso em que a limitação do poder de disposição se faz no interesse do titular do direito: sendo a penhora um acto
independente da vontade do executado e que pode ter lugar sem a sua colaboração, basta fazer intervir no processo executivo, ao lado do
executado, a pessoa que, se o acto fosse voluntário, o deveria autorizar (10/1).

C. Mais complexa é a situação em qe o poder de disposição é restringido no interesse da pessoa legitimada para conceder a autorização ou
consentimento.

À primeira vista, dir-se-ia que, não tendo essa pessoa responsabilidade pela dívida, iria afecta ilegitimamente o seu interesse a admissão da venda
executiva do bem quando o consentimento exigido pela lei substantiva não é prestado. Mas a constatação de que assim se poderia vir a prejudicar
gravemente o exequente, nomeadamente em casos em que é íntima a ligação entre o titular do direito e o titular do poder de autorização ou
consentimento, leva a distinguir.

Em primeiro lugar, há casos em que a limitação é extrínseca ao direito em causa. Assim, o casamento actua do exterior sobre certas situações
jurídicas próprias de cada um dos cônjuges, adquiridas quer na sua vigência, quer antes dele. Compreende-se que a situação conjugal do titular do
direito justifique essa limitação quando está em causa um acto dela independente: embora o interesse que explica a limitação nele não radique, a
não organização desse interesse em direito subjectivo leva naturalmente a sacrificá-lo ao interesse, mais forte, do credor. Assim se explica que, na
vigência do regime da comunhão de bens ou de comunhão de adquiridos, os bens imóveis e o estabelecimento comercial próprios de um dos
cônjuges possam ser penhorados sem o consentimento conjugal (1696/1CC), não obstante só serem alienados com consentimento do outro cônjuge
(1682/A/1CC) e este ter, se não tiver dado, o direito de anular o acto praticado (1697/1CC).

Noutros casos, trata-se de uma limitação intrínseca do direito, fora ou dentro dum esquema de cumprimento contratual.

D. Como paradigma de limitação intrínseca não inserta num esquema de cumprimento contratual, temos o caso da autorização social exigida pela lei
ou pelo pacto, para a cessão de quota ou parte social. A limitação é intrínseca porque respeita directamente ao regime do direito em causa. Não se
insere num esquema de cumprimento contratual porque, embora os direitos do sócio tenham como primeira referência o pacto social, dele se
destacam no âmbito de relações duradouras que abstraem do contrato constitutivo da sociedade.

Para bem compreender as soluções legais neste caso, há que atender a que a posição de sócio duma sociedade, civil ou comercial, tem uma estrutura
complexa que integra direitos (maxime, os direitos a quinhoar o lucros, a participar nas deliberações dos sócios, a administrar ou ser designado para
os órgãos de administração e fiscalização), mas também deveres (maxime, os de quinhoar nas perdas e de realizar a sua quota-parte no capital social
e eventuais prestações acessórias e suplementares). Enquanto nas sociedades de capitais a responsabilidade do sócio é limitada às entradas
convencionadas no contrato ou ao valor da quota-parte do capital por ele subscrito, nas sociedades de pessoas os sócios são subsidiariamente
responsáveis pelas obrigações sociais, em solidariedade entre si.

A exigência do consentimento da sociedade, de pessoas ou de capitais, pata a transmissão das posições sociais explica-se por ela implicar a
transmissão, não só de direitos, mas também de deveres. Por isso, nas sociedades anónimas, em que os deveres dos sócios se apresentam reduzidos
à realização do valor da acção própria e de eventuais prestações acessórias, a transmissão das acções é livre – imperativamente quanto às acções ao
portador e supletivamente quanto às acções nominativas, cuja transmissão o pacto social pode condicionar ao consentimento da sociedade ou a
outros requisitos conformes com o interesse social (328C/a/cCSC). Mas nos outros tipos de sociedade, o consentimento é, ainda que supletivamente,
uma exigência legal.

Quando passa ao tratamento da penhora, a lei opta explicitamente por libertar qualquer restrição no caso da sociedade de capitais (239/2CSC e
475CSC, para as quotas da sociedade por quotas e em comandita simples; 328/5CSC, para as acções nominativas da sociedade anónima), o mesmo
não fazendo no caso da sociedade de pessoas (999/1CC, para a sociedade civil; 183/1CSC e 474CSC, para as partes sociais na sociedade em nome
colectivo e comandita simples). A disparidade de regimes compreende-se: nas sociedades de capitais, realizadas as entradas contratualmente
convencionadas, os deveres dos sócios esbatem-se, a ponto de já quase só lhe caberem direitos e deveres acessórios, e, não tendo sido realizada a
entrada inicial, a não exoneração do transmitente da quota ou acção da obrigação a realizar (206CSC e 286/5CSC) implica que as garantias da
sociedade não diminuam com a entrada do novo sócio; pelo contrário, nas sociedades de pessoas, permanece, por cada obrigação social contraída, a
responsabilidade pessoal do sócio, pelo que a identidade deste nunca é indiferente. A transmissão forçada da quota para o terceiro implicaria a
assunção, por este, sem o consentimento da sociedade ou dos seus sócios, de importantes responsabilidades. Por isso, só é admissível a penhora do
direito ao lucro e à quota de liquidação da parte social do devedor na sociedade pessoal, liquidação essa só exigível na falta de outros bens do
devedor (999CC, 183CSC, 474CSC).

Daqui se retira que o afastamento dentre o regime da penhorabilidade e o de alienabilidade, no caso da sociedade de capitais, se dá por
determinação expressa da lei, que estatui a excepção (a penhorabilidade) depois de estabelecer a regra (a inalienabilidade); já no caso da sociedade
civil a lei não cuida tanto de determinar a impenhorabilidade da quota (apenas aflora) como de determinar a penhorabilidade da quota de liquidação
(999/1CC). A impenhorabilidade da quota aparece, assim, mais como um pressuposto da norma que estabelece essa penhorabilidade do que como
objecto da estatuição normativa, sendo fácil a conclusão de que tal acontece porque já decorre da anterior norma sobre a inalienabilidade, sem
consentimento, da parte social.

E. Caso de limitação intrínseca inserta numa esquema de cumprimento contratual é o da exigência de consentimento do autor para a transmissão
dos direitos resultantes para o editor do contrato de edição, feita no 100CDA. Em causa está a cessão duma posição contratual, em que a lei especial
assume, como natural imposição da lei geral, a derivação do regime da inalienabilidade para o regime da impenhorabilidade.

Pelo contrato de edição é concedida pelo autor autorização a outrem para produzir por conta própria um número determinado de exemplares duma
obra ou de um conjunto de obras, que a outra parte tem obrigação de distribuir e vender (83CDA). O autor conserva o direito de publicar a obra, mas
o editor adquire o de a reproduzir e comercializar. Este direito do editor não pode ser transmitido a terceiro sem consentimento do autor, salvo no
caso de trespasse do seu estabelecimento ou de liquidação, judicial ou extrajudicial, da sociedade editora de que resulte a adjudicação a algum dos
seus sócios .

28
É manifesto que a exigência do consentimento é feita no interesse do autor, que não perde, com o contrato de edição, o direito de publicar a obra e
tem o direito à retribuição estipulada no contrato de edição ou determinada supletivamente pela lei.

A lei nada diz, expressamente, sobre a penhorabilidade ou impenhorabilidade dos direitos de editor, mas vê-se claramente que está subjacente no
100/4CDA a ideia de que a medida da instramissibilidade do direito implica a sua impenhorabilidade: fora no caso de trespasse, a apreensão e a
subsequente transmissão forçada só são permitidas, excepcionalmente, em processo de insolvência, desde que para o sócio da sociedade editora,
nos mesmos termos em que é admitida a transmissão negocial, em liquidação extrajudicial, ou a transmissão, por acordo ou não, em processo de
liquidação judicial subsequente à dissolução da sociedade.

A bilateralidade do contrato de edição explica um regime de alienabilidade conforme o do 424/1CC, sobre o qual se molda, sem necessidade de a lei
o expressar, o regime de penhorabilidade.

Vê-se assim que as normas excepcionais rompem a inconsciência entre a indisponibilidade subjectiva e a impenhorabilidade dos bens, mediante a
admissão de penhora fora das condições exigidas para a transmissão negocial, regulam casos em que com isso não são ofendidos direitos subjectivos
de terceiro e, finalmente, que a necessidade desta salvaguarda se faz sentir quando está em jogo a cessão da posição contratual derivada de contrato
com prestações recíprocas.

Tal não impede a penhorabilidade dos direitos resultantes de contrato bilateral que possam ser objecto autónomo de um subsequente acto de
transmissão, de tal como que os correspondentes deveres não sejam com eles transmitidos. Do contrato de compra e venda, p.e., resulta a obrigação
do vendedor entregar a coisa que dele é objecto e de o comprador pagar o preço convencionado (879CC). Mesmo que nenhuma das obrigações
tenha ainda sido cumprida, é possível penhorar o direito ao preço, sem que tal implique a sessão da posição contratual. Criado embora pelo contrato,
o direito do vendedor integra uma relação jurídica obrigacional diversa da relativa à entrega da coisa e é como tal susceptível de constituir objecto da
cessão de crédito ou onerá-lo. Nestes casos, permanecendo o sinalagma, o devedor por opor ao cessionário (585CC) ou ao credor pignoratício
(684CC) a excepção de não cumprimento do contrato (428CC), mas tal não impede a eficácia da cessão ou oneração do crédito. Do mesmo modo,
feita a penhora do direito ao preço, o executado +e notificado para entregar a coisa ao comprador e, se não a entregar, pode o exequente substituir-
se ao devedor, promovendo contra ele execução para entrega de coisa certa (859/1/2CC).

[ver notas de rodapé das páginas 233 a 246]

13.3.3. Impenhorabilidade convencional

No âmbito da disponibilidade das partes, estas podem, por negócio jurídico, estipular a impenhorabilidade específica de determinados bens pode
dívidas também determinadas. Isso é permitido pelos seguintes artigos:

- 602 CC: Permite que, por convenção entre credor e devedor, se limite a responsabilidade do devedor a alguns dos seus bens e, por maioria de
razão, que determinados bens do devedor sejam excluídos da sujeição à execução pela dívida contraída. Note-se que esta convenção nada tem a ver
com a estipulação de uma garantia real sobre certos bens do devedor: o credor é um credor comum e os bens do devedor a que se limite a
responsabilidade ou que não sejam excluídos só responderão pela dívida, nos termos gerais, enquanto permanecerem integrados no seu património.
A limitação ou exclusão não pode ir ao ponto de praticamente suprimir a exequibilidade do crédito, por os bens sujeitos à execução só
simbolicamente o garantirem, o que, a ser válido, corresponderia a uma renúncia (inadmissível) ao direito de acção (executiva);

- 603 CC: Permite que, por doação ou testamento, se convencione que os bens transmitidos não responderão pelas dívidas do beneficiários já
existentes à data, salvo se a natureza dos bens obrigar a registo e a penhora for registada antes do registo da cláusula;

- 833 CC: O 831 CC prevê a cessão de bens aos credores para estes os alienarem e, com o produto da alienação, satisfazerem os seus créditos. Os
credores que não participem na cessão podem fazer penhorar os bens cedidos, enquanto a alienação não tiver lugar. Mas, relativamente aos
credores cessionários e aos posteriores à cessão, já não é assim e os bens cedidos não são por eles penhoráveis.

13.4. Impenhorabilidade directamente resultante da lei

13.4.1. Enunciação

A impenhorabilidade não resulta apenas da indisponibilidade (objectiva e subjectiva) de certos bens ou de convenções negociais que
especificamente as estipulem. Resulta também da consideração de certos interesses gerais, de interesses vitais do executado ou de interesses de
terceiro que o sistema jurídico entende deverem-se sobrepor aos do credor.

Esta impenhorabilidade é, em alguns casos, absoluta e total – os bens não podem, na sua totalidade, ser penhorados, seja qual for a dívida
exequenda – enquanto, noutros casos, é relativa – os bens podem ser penhorados apenas em determinadas circunstâncias ou para pagamento de
certas dívidas – ou parcial – os bens só podem ser penhorados em certa parte.

São declarados bens impenhoráveis por razões de interesse geral: os objectos cuja apreensão seja ofensiva dos bons costumes, os objectos
especialmente destinados ao exercício de culto público e os túmulos (736/c/d/e), bem como os bens do Estado, das restantes pessoas colectivas
públicas, de entidades concessionárias de obras ou serviços públicos e de pessoas colectivas de utilidade pública, quando se encontrem
especialmente afectados à prossecução de fins de utilidade públicas, salvo se a execução for para pagamento de dívida com garantia real (737/1). No
caso excepcional em que o 737/1 permite a apreensão, esta só pode incidir sobre a coisa onerada em garantia real de dívida exequenda.

- Razões de interesses vitais do executado: são os bens que asseguram ao seu agregado familiar um mínimo de condições de vida (bens
imprescindíveis a qualquer economia doméstica que se encontrem na residência permanente do executado, 737/3. Não o integram, segundo
algumas decisões (Ac. Do TRL de 9/7/85) televisões, frigoríficos, candeeiros, máquinas de lavar, sofás-cama não utilizados para dormir, etc, com
fundamento de que não existem na economia mais modesta. No entanto, não nos podemos esquecer de que dado o padrão evolutivo da sociedade,
esta taxatividade não pode ser estanque. Outras decisões, mais recentes, consideram que se deve atender às condições sociais económicas médias,
pelo que uma televisão, um frigorífico ou um computador não devem ser penhorados – a penhora é, porém, admissível se se destinar ao pagamento
do preço da aquisição ou do custo da reparação do bem. Também não são penhoráveis os bens que são indispensáveis ao exercício as profissão do
executado (737/2), constituem uma parte do rendimento do seu trabalho por conta de outrem ou se reputam indispensáveis ao seu sustento
(738/1/5), à sua integridade física (736/f) ou à sua personalidade moral (como, p.e., a impenhorabilidade de obra inédita ou incompleta, sem
consentimento do autor).

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Fora do CPC, outros bens foram declarados impenhoráveis por razões semelhantes. O TC veio a pronunciar-se pela inconstitucionalidade de algumas
dessas estatuições específicas, por implicarem um sacrifício excessivo do direito do credor e violarem o direito da igualdade.

A impenhorabilidade dos direitos de crédito, maxime dos referidos no 738, estende-se à quantia em dinheiro ou ao depósito bancário que resulte da
sua satisfação (739). A equiparação deve cessar quando cesse a presunção de que a quantia ou depósito se destina ao mesmo fim típico que o
crédito visava satisfazer. Assim, não se pode penhorar mais do que ⅓ do montante do vencimento, salário, pensão, depois de recebido, quando já na
posse do executado ou depositado num banco; mas a isenção da penhora só se impõe quando se poder presumir que o seu emprego normal é o
sustento do executado e da família – p.e., no caso do depósito, se contiver apenas o seu vencimento, costumando o funcionário fazer as suas
despesas por cheque, ou por levantamentos periódicos, deve ter-se como impenhorável em ⅔; já as economias, mesmo que provenientes do
vencimento, são penhoráveis.

Exemplo de impenhorabilidade por consideração de direito de terceiro constitui o 1184 CC: os bens que o mandatário sem poderes de representação
haja adquirido em execução do mandato e que devem ser transferidos para o mandante (1181/1CC) não respondem pelas dívidas do mandatário,
desde que o mandato conste de documento anterior à data da penhora e não tenha sido feito registo da aquisição, se se tratar de bens sujeitos a
registo (por razão de tutela dos interesses de terceiros que hajam confiado na aparência registal).

Subordinando-se a penhora à finalidade de satisfação de direitos patrimoniais é também vedada a apreensão de bens de valor económico nulo ou
diminuto (736/c).

13.4.2. A satisfação do direito a alimentos

A regra da impenhorabilidade parcial dos direitos de crédito a que se refere o 738 (vencimentos, salários, pensões, etc) mantém-se no caso da
execução de alimentos?

Dada a natureza e os fins da obrigação alimentícia, era sustentada a resposta negativa, embora com o limite do que fosse absolutamente
indispensável à sobrevivência do próprio devedor de alimentos.

A solução inicialmente defendida por LEBRE DE FREITAS teve contra si o facto de, depois da revisão do CPC, não ter sido expressamente consagrada
entre as disposições gerais destinadas ao objecto da penhora. Mas a consideração da finalidade da norma de impenhorabilidade em causa,
conjugada com a facilidade com que o devedor de alimentos, atenta a lenta operacionalidade dos nossos tribunais, se podia colocar em situação de
dever, por prestações vencidas, quantias que o limite do 738 não mais permitiria que fossem cobradas, continuava a aconselhar a defesa dessa
interpretação. Teve-a em conta a reforma da acção executiva, que afastou a garantia mínima de um salário mínimo nacional; mas o ponto
permaneceu em aberto em relação ao limite de penhorabilidade de ⅓, estabelecido no 738/1.

O novo CPC resolveu a questão com o 738/4: sendo o crédito exequendo de alimentos, é impenhorável a quantia equivalente à totalidade da pensão
social do regime não contributivo.

13.5. Penhorabilidade subsidiária

13.5.1. Enunciação

Além dos casos de impenhorabilidade, há a considerar os casos em que determinados bens, ou todo um património, só podem ser penhorados
depois de outros bens/património se terem revelado insuficientes para a satisfação do fim da execução.

Isso acontece, em primeiro lugar, em consequência da separação entre património comum dos cônjuges e património próprio de cada um deles, nos
regimes da comunhão geral e de comunhão de adquiridos. Acontece, em segundo lugar, quando, por negócio ou lei, há um devedor principal ou um
património colectivo, que respondem em primeiro lugar, e um devedor subsidiário com o benefício de excussão prévia. Acontece quando há bens do
devedor especialmente afectados ao cumprimento da obrigação. E também quando a consideração de determinados interesses leva a só permitir em
último lugar a penhora de certos bens.

13.5.2. Responsabilidade comum e responsabilidade própria dos cônjuges

A. No regime de comunhão geral, são executados da comunhão os bens indicados no 1733CC; no de comunhão de adquiridos são próprios os bens
mencionados no 1722CC/1723CC e os adquiridos por virtude de titularidade de bens próprios (1728CC), ao passo que são comuns os consagrados no
1724CC.

São dívidas comuns as indicadas nos arts. 1691CC, 1693/2CC e 1694/1CC e próprias as do 1692CC, 1693/1CC e 1694/2CC. Ora:

- pelas dívidas que são da responsabilidade de ambos os cônjuges respondem os bens comuns do casal e só na sua falta/insuficiência é que os bens
próprios de qualquer dos cônjuges responde em solidariedade( (1695/1CC);

- pelas dívidas da exclusiva responsabilidade de um dos cônjuges respondem os bens próprios do devedor (e, com eles, os bens comuns a que se
refere o n.º2) e só na sua falta/insuficiência é que responde a sua meação nos bens comuns (1696CC).

Todas as dívidas da exclusiva responsabilidade de um cônjuge podem dar lugar à penhora subsidiária de bens comuns, sem se ter de esperar a
dissolução do casamento, a declaração da sua nulidade ou a anulação ou ainda a separação dos bens do casal – arts. 740 a 742.

B. O 740/1 aplica-se à execução movida contra só um dos cônjuges e nela admite, em consonância com o 1696CC, a penhora de bens comuns do
casal.

É de notar que enquanto o 1696CC estatui para as dívidas a exclusiva responsabilidade de um dos cônjuges, o 740 fá-lo para todos os casos de
execução movida contra um só dos cônjuges. Cabem, assim, no âmbito deste artigo, não só os casos de responsabilidade exclusiva do executado, mas
também daqueles em que a responsabilidade é comum, segundo a lei substantiva, mas a execução foi movida contra um só dos responsáveis – quer
haja título executivo contra ambos (caso em que o credor podia ter movido a execução contra os dois), quer haja título executivo apenas contra o
executado (caso em que o credor, querendo executar ambos os cônjuges, teria de propor previamente acção declarativa contra marido e mulher
(34/3).

Em todos estes casos aplica-se o 740/1.

Há que atender, na ordem a observar na penhora, à diferença dos regimes substantivos aplicáveis:
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- Sendo a dívida da responsabilidade exclusiva do executado, a penhora deve começar pelos bens próprios dele e só depois pode ser penhorada a
meação;

- Sendo a dívida comum e havendo título executivo contra ambos os cônjuges, a penhora deve começar pelos bens comuns e só na sua
falta/insuficiência pode incidir sobre bens próprios. Assim, só se não houver bens comuns é que se justifica a propositura da execução contra um só
dos obrigados no título;

- Sendo a dívida comum e baseando-se a execução em sentença que apenas constitua título executivo contra um dos cônjuges, o executado, que não
chamou o cônjuge a intervir no processo declarativo, para o convencer da sua responsabilidade (316/3/a), não pode alegar no processo executivo
que a dívida é comum. Segue-se assim o regime de penhora das dívidas de responsabilidade exclusiva do executado, sem prejuízo do apuramento
ulterior de contas entre os cônjuges (1697/1CC) e da possibilidade de o credor ainda propor nova acção declarativa contra o cônjuge não condenado.
O chamamento à intervenção principal do cônjuge não demandado constitui assim um ónus do cônjuge demandado na acção declarativa, cuja
inobservância preclude a invocação da comunicabilidade da dívida;

- Sendo a dívida comum e baseando-se a execução em título extrajudicial contra um só cônjuge, a doutrina formada anteriormente à reforma da
acção executiva dividia-se na solução a dar ao caso: segundo uma opinião (posição defendida por ANSELMO DE CASTRO e TEIXEIRA DE SOUSA), o
executado, sobre pena de fica em desvantagem de meios relativamente à acção declarativa, podia chamar o cônjuge a intervir na acção executiva e
alegar, em oposição à execução por embargos, a responsabilidade comum – 329 + segundo TEIXEIRA DE SOUSA, o chamamento à intervenção
principal seria feito em requerimento autónomo quando não se pretendesse embargar a execução (por outro motivo) -; segundo outros, esse
chamamento não podia ter lugar, sendo o regime a seguir na penhora o mesmo do das dívidas de responsabilidade exclusiva do executado. LEBRE DE
FREITAS entende que com a reforma da acção executiva, passou a proporcionar-se ao exequente, no requerimento executivo, e ao executado, no
prazo para a oposição, a invocação da comunicabilidade da dívida, com a consequência do convite ao cônjuge do executado para vir declarar-se
aceita a comunicabilidade; a não negação desta (expressamente ou mediante requerimento de separação de bens ou prova da pendência do
processo de separação) constitui automaticamente um título extrajudicial contra o cônjuge, que passa, com base nele, a ser também executado.
Estes pontos estão presentes no CPC (741 e 742), com três alterações:

1. É facultada ao exequente a invocação da comunicabilidade, em requerimento autónomo, até ao início das diligências para venda ou adjudicação
dos bens penhorados, quando não a tenha feito no requerimento executivo;

2. Restringe-se a invocação da comunicabilidade pelo executado, em oposição à penhora, ao caso em que lhe tenham sido penhorados bens próprios
e onera-se o executado com a indicação, logo, dos bens comuns que podem ser penhorados;

3. É minuciosamente regulada a impugnação pelo cônjuge, da comunicabilidade da dívida (em oposição à execução ou em oposição autónoma –
741/3), mas sem menção da impugnação tácita consistente no pedido de separação de bens (que tem de ser considerada).

Contudo, a principal inovação do novo regime é que negada, pelo cônjuge, a comunicabilidade da dívida, segue-se instrução, discussão e julgamento,
nos termos dos incidentes da instância – 741/1/4, 742/2 e 785/2). Sendo a comunicabilidade invocada pelo executado, aproveita-se para o efeito o
incidente de oposição à penhora, ao qual se aplicam as normas gerais dos incidentes da instância.

Excluída permanece a possibilidade de o executado inutilizar a execução, mediante a oposição à penhora de bem próprio, nos termos do 784/1/b)
com fundamento em que a dívida é comum e há que penhorar primeiro os bens comuns do casal. Contra esta solução, embora conforme ao regime
susbtantivo, é invocável o 34/3, que confere ao credor a possibilidade de, no caso de facto praticado por um só cônjuge, mas da responsabilidade de
ambos, escolher entre accionar um ou os dois. Com efeito, o interesse do executado deve ceder perante o interesse do credor, por uma razão de
segurança na celebração dos contratos: o credor pode desconhecer que a dívida é da responsabilidade comum dos cônjuges, e não apenas daquele
que a contraiu, e seria violento impor-lhe, quando o descobrisse, a inutilização da execução e a consequente necessidade de propor uma acção de
condenação, seguida de nova execução contra ambos os cônjuges. O novo ponto do regime consiste na criação dum incidente para determinar se a
dívida é própria ou comum mantém afastada, ainda que de outro modo, a possibilidade dessa inutilização.

C. Após a penhora dos bens do casal na execução movida contra um dos cônjuges, tem lugar a citação do cônjuge executado, para requerer a
separação de bens ou mostrar que ela está já requerida (740/1).

Citado o cônjuge do executado (786/1/a), pode ele, no prazo de 20 dias de que dispõe para a oposição (787/1):

- requerer a separação de bens, em processo de inventário que corre por apenso à execução e tem, entre outras, a particularidade de poder ser
impulsionado, não só pelo cônjuge executado, como parte principal, mas também pelo exequente, e de nele poderem ser ouvidos os credores
conhecidos (740);

ou

- juntar aos autos certidão comprovativa da pendência de processo de separação de bens já instaurado, por apenso a outra execução, ou perante
notário (740/1).

Se o cônjuge do executado nada fizer, a execução prosseguirá nos bens penhorados (740/1). Caso contrário, a execução é suspensa até que se
verifique a partilha e se, nesta, os bens penhorados não forem atribuídos ao executado, poderão ser penhorados outros que lhe tenham cabido
(740/2).

Sendo o cônjuge citado para declarar se aceita que a dívida é comum, essa aceitação é incompatível com a separação de bens, pelo que se esta tiver
sido requerida, ou se o cônjuge tiver provado que a requereu antes de o executado suscitar a questão da comunicabilidade, a citação do cônjuge para
o efeito de se pronunciar sobre esta já não tem de ter lugar.

13.5.3. Responsabilidade subsidiária com excussão prévia

A. São devedores subsidiários com o benefício de excussão prévia os sócios da sociedade comercial em nome colectivo e da sociedade civil, bem
como os sócios comanditados da sociedade comercial em comandita, que respondem solidariamente entre si, mas subsidiariamente à sociedade,
pelas dívidas sociais (175/1CSC, 465CSC, 997CSC) e, fora os casos do 640CC, o fiador que é igualmente titular passivo duma obrigação acessória da do
devedor principal e, tal como o sócio daquelas sociedades, pode exigir a prévia excussão do património do devedor principal antes dos seus bens
responderem pela dívida (627CC e 638CC).

31
A lei material faz depender a excussão prévia da manifestação de vontade do devedor subsidiário.

Movida uma execução contra o devedor principal e o devedor subsidiário, constitui ónus deste a invocação do benefício da excussão prévia (745/1).
Se o invocar, a penhora começa pelos bens do devedor principal e só pode incidir em bens do devedor subsidiário depois de, efectuada a venda dos
primeiros, se apurar que eles são insuficientes para o pagamento das custas da execução, do crédito exequendo e dos credores reclamantes que
antes dele tenham sido graduados.

Se a execução tiver sido movida apenas contra o devedor principal, o problema não se põe, uma vez que nela não podem ser penhorados bens de
terceiro (o sócio ou o fiador), contra quem a execução não foi proposta; mas, como vimos ao tratar o litisconsórcio sucessivo, sempre que haja título
executivo contra o devedor subsidiário, é possível a sua citação ulterior para a execução, depois de verificada, após a excussão, a insuficiência do
património do devedor principal (745/3).

Se a execução tiver sido movida apenas contra o devedor subsidiário, poderá este, invocando o benefício da excussão prévia, obter a sua suspensão,
até que o exequente requeira a citação do devedor principal, contra quem tenha também título executivo, para excluir o respectivo património
(745/2) – não estamos perante um caso de ilegitimidade do devedor subsidiário, por falta de litisconsórcio necessário (o caso é de litisconsórcio
voluntário, visto que a excussão prévia está dependente da invocação do benefício pelo respectivo titular), nem perante inexigibilidade como
defende LOPES CARDOSO, segundo o qual a obrigação tanto é exigível ao sócio ou ao fiador que, se houver, p.e., lugar a juros de mora, ele está
obrigado subsidiariamente a pagá-los. Mas se o título executivo for uma sentença proferida apenas contra o devedor subsidiário, em acção que não
tenha intervindo o devedor principal, o benefício da excussão prévia não é já invocável, por o réu, na acção declarativa, não ter chamado a intervir o
devedor principal, nos termos do 316/3/a), a menos que então expressamente tenha declarado que não pretendia renunciar ao benefício da
excussão (641/2CC). Não se trata tanto de um ónus de chamamento (641/1CC) como duma presunção legal de renúncia ao benefício de excussão, só
ilidível mediante declaração expressa contrária no prazo em que o chamamento era admissível. Em qualquer caso, aparentemente excutidos os bens
do devedor principal e dirigida a execução contra os bens do devedor subsidiário , pode este ainda indicar bens do devedor principal que hajam sido
posteriormente adquiridos ou que não fossem conhecidos, sustando assim a execução nos seus bens (745/4). Perante esta indicação, o agente de
execução deve proceder à penhora dos bens indicados. Se não o fizer e os bens indicados desaparecerem, poderá o devedor subsidiário, mais tarde,
vir a opor-se à penhora dos seus bens, com fundamento no 638/2CC.

Quanto à forma, basta um simples requerimento.

Quanto ao prazo, o benefício da excussão prévia deve ser invocada no prazo para os embargos de executado (745/1). Já na execução que siga a forma
do processo sumário, em que a penhora tem lugar antes da citação, a invocação do pedido de excussão prévia não evita realização inicial da penhora,
pouco conforme com o regime do direito civil, que imporia a prévia notificação do devedor subsidiário para o exercício do direito à prévia notificação
do devedor subsidiário para o exercício do direito à prévia excussão do património de devedor principal.

B. Estas regras aplicam-se, devidamente adaptadas, aos casos em que, por via da existência de outro património colectivo, só após a excussão deste
respondem os bens dos respectivos titulares. Tratando-se de dívida contraída na prossecução das finalidades visadas com a criação do património
colectivo, respondem, em primeiro lugar, os bens que o integram e só na sua falta a insuficiência os bens dos titulares. Assim, acontece, p.e., com as
associações sem personalidade jurídica, cujos associados só subsidiariamente respondem pelas dívidas validamente contraídas em nome da
associação: na falta ou insuficiência do fundo comum, respondem, sem segundo lugar, os associados que tiverem contraído a obrigação e, em
terceiro lugar, os restantes associados, na proporção das suas entradas (198/1/2CC).

13.5.4. Dívida com garantia real

Bem (do devedor ou de terceiro) especialmente afectado ao cumprimento da obrigação há quando se tenha constituído uma garantia real. Ora,
quando o bem onerado pertença ao devedor, a penhora de outros bens só pode ter lugar depois de se verificar a insuficiência daquele.

Executando-se dívida com garantia real que onere bens pertencentes ao devedor, a penhora inicia-se pelos bens sobre que incida a garantia e só
pode recair noutros quando se reconheça a insuficiência deles para conseguir o fim da execução (752/1). É o que explica a norma de competência do
89/2.

A própria penhora constitui uma garantia real a favor do exequente, pelo que a penhora de outros bens, além desses, só pode ter lugar depois de
verificada a insuficiência dos já penhorados (751/4/b), mas sem ter de esperar a consumação da sua venda. Caso de garantia real (hipoteca ou
caução) constituída no próprio processo executivo é o do 815/3, com a consequência do n.º 4 do mesmo artigo.

Esta regra de penhorabilidade subsidiária não tem lugar quando, incidindo a garantia sobre bens de terceiro, a propositura da execução tenha lugar
só contra o devedor ou o exequente nomeie à penhora bens deste; e cessa quando, por forma válida segundo a lei civil, tenha lugar a renúncia à
garantia real constituída. Nestes casos, o exequente pode, desde logo, fazer incidir a penhora em outros bens do devedor.

13.5.5. Bens que respondam em último lugar

Só respondem em último lugar, entre os bens do devedor, no caso de execução por dívida pessoal do sócio, o direito ao produto da liquidação da
quota deste na sociedade civil (999CC), na sociedade comercial em nome colectivo (183CSC) e, quanto aos sócios comanditados, na sociedade
comercial em comandita simples (474CSC); o mesmo quanto ao estabelecimento individual de responsabilidade limitada, que só responde em último
lugar pelas dívidas não respeitantes à actividade da empresa, quando sejam insuficientes os restantes bens do comerciante.

Estes preceitos têm a sua razão de ser nos regimes da sociedade civil e da comercial em nome colectivo (ou em comandita simples), bem como no do
estabelecimento individual de responsabilidade limitada.

Na sociedade civil, predominando o elemento pessoal sobre o elemento capital, a morte (1001CC), a exoneração (1002CC) e a exclusão (1003CC)
dum sócio dão lugar à liquidação da sua quota, por não ser possível, sem alteração do contrato de sociedade por unanimidade, a admissão de novo
sócio em sua substituição (1021CC). Na sociedade comercial em nome colectivo, idêntico regime de responsabilidade pessoal (subsidiária e entre si
solidária) dos sócios pelas dívidas sociais, importando consequências semelhantes nos casos de morte exoneração e exclusão de sócios (184, 185,
186, 188 e 195/1 todos do CSC), igualmente explica que também nela se procure evitar a liquidação da quota. Assim, o credor particular do sócio
pode, sem restrições, obter o pagamento através dos lucros da quota, mas só pode exigir a liquidação desta no caso de insuficiência dos restantes
bens do património do devedor, sem prejuízo de o seu direito ficar garantido com a penhora da quota de liquidação.

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Quanto ao estabelecimento individual de responsabilidade limitada, ao qual o titular afecta uma parte do seu património, em princípio
exclusivamente responsável pelas respectivas dívidas, impede-se que os credores comuns por sela se paguem enquanto outros bens houver no
património do devedor, mas, quando não haja, sobre ela tem de se admitir o funcionamento da garantia patrimonial.

13.6. A penhora em acção contra o herdeiro

A. A limitação da responsabilidade do herdeiro pelas dívidas da herança, consequência, por sua vez, da ideia de que o credor deve continuar, para
além da morte do devedor, a contar com a garantia patrimonial comum do crédito, mas o património pessoal do herdeiro traduz-se em que, na
execução contra ele movida, só se podem penhorar os bens recebidos do autor da herança (744/1).

À penhora que recaia sobre outros bens, pode o executado opor-se por simples requerimento, em que pedirá que seja levantada, indicando os bens
da herança que tenha em seu poder (744/2).

Ouvido o exequente, a penhora é levantada se ele não deduzir oposição. Opondo-se o exequente, das duas uma:

- Ou a herança foi aceite a benefício de inventário e basta ao executado juntar certidão do respectivo processo, da qual constem os bens que recebeu
da herança. Sem prejuízo da arguição da falsidade de certidão junta e do direito de recurso do despacho que o juiz vier a proferir, o incidente fica por
aqui e o exequente só em acção separada poderá demonstrar a existência de outros bens da herança para além dos inventariados;

- Ou a aceitação foi pura e simples e o executado tem, em oposição à penhora, de alegar e provar que os bens penhorados não provieram da herança
e que dela não recebeu mais bens do que aqueles que indicou, ou, se recebeu mais, que os outros foram todos aplicados em solver encargos dela
(744/3).

B. Outros patrimónios autónomos há que implicam semelhante limitação da responsabilidade do proprietário, não podendo credores constituídos
por via de prossecução dos respectivos fins pagar-se por bens do património geral do respectivo titular. Assim acontece no caso do estabelecimento
individual de responsabilidade limitada.

13.7. Extensão da penhora

13.7.1. Âmbito inicial

De acordo com o 758/1, a penhora abrange as partes integrantes (se se tratar de um bem imóvel:204/3CC) e os frutos, naturais ou civis (212/2CC), do
bem penhorado. Mas a mesma disposição admite que as partes integrantes e os frutos sejam expressamente excluídos no acto da penhora e
igualmente se exclui da penhora quando estão sujeitos a um privilégio.

Tratando-se de frutos naturais ou de partes integrantes, só o proprietário (ou titular de direito real menos de gozo que o consinta) têm a faculdade de
operar a separação jurídica da coisa móvel. Embora esta pressuponha a sua desafectação (separação material definitiva) do prédio, é admissível,
antes dela, um acto de alienação autónoma, cujo efeito translativo apenas se produz com a separação (408/2CC), sem prejuízo do direito de
indemnização do adquirente condicional no caso de o transmitente não a efectuar. Paralelamente, a exclusão da penhora tem também em vista a
futura desafectação e, produzindo efeito imediato de restrição do objecto da penhora, só virá a restringir identicamente o objecto da venda executiva
se, entretanto, a separação material tiver lugar. Assim, só pode, quanto a eles, haver exclusão da penhora se o executado (proprietário ou titular de
outro direito real de gozo) nela consentir: designadamente, tratando-se de partes integrantes, só o proprietário as pode materialmente separar, dada
a perda de valor (delas e do imóvel) decorrente da separação. Mas, no caso dos frutos pendentes, que são susceptíveis de penhora autónoma
quando não falte mais de um mês para a época normal da colheita (758/2), a sua separação material do bem que os produz, quando tenham sido
excluídos da penhora, pode ter lugar sem intervenção do proprietário, na época em que normalmente devam ser colhidos, de onde se retira que
também podem ser excluídos da penhora.

Estando em causa os frutos civis, cuja autonomização como objecto duma penhora separada não põe os mesmos problemas, a sua exclusão da
penhora é admissível sem restrições, sem prejuízo da integração dos frutos civis futuros no objecto da venda subsequente.

O termo privilégio está, no 758/1, em sentido amplo, em que se incluem, não só o privilégio creditório sobre frutos (739CC e 740CC), mas também
consignação de rendimentos (665CC e 658CC). Justifica-se esta restrição de objecto da penhora com fundamento na anterioridade do privilégio
relativamente à penhora. Há quem entenda que ela é incompreensível, dada a compatibilidade entre garantia real de terceiro e penhora (788/1);
mas, pelo menos quanto aos frutos (naturais ou civis), torna claro que são excluídos da administração do depositário e que são eficazes os actos de
disposição do direito sobre eles.

Mais duvidoso é o caso do penhor duma parte integrante do bem penhorado. Dos temos em que é admissível o negócio de alienação duma parte
integrante, resulta que o efeito de oneração da coisa fica condicionado ao acto da separação, pelo que, quando este não tiver ainda lugar à data da
penhora, o privilégio não está constituído, não tendo o credor pignoratício qualquer direito sobre a coisa.

13.7.2. Sub-rogação

Se o bem penhorado se perder, for expropriado ou sofrer diminuição de valor e, em qualquer dos casos, houver lugar a indemnização de terceiro, a
penhora passa a incidir sobre o crédito de indemnização ou sobre as quantias pagas a esse título (823CC).

13.7.3. Divisão do prédio penhorado

Quando, penhorado um bem imóvel divisível, o seu valor manifestamente exceder o da dívida exequenda e dos créditos reclamados, o executado
pode requerer autorização para proceder ao seu fraccionamento (759/1).

Este pode ter duas finalidades: permitir a venda separada, viabilizando que parte do prédio primitivo se mantenha na titularidade do executado, por
se vir a revelar desnecessária a sua venda para o fim da execução; possibilitar o levantamento parcial da penhora quanto à parte destacada do prédio
primitivo, por a parte restante manifestamente bastar para a satisfação do exequente e dos credores reclamantes. No primeiro caso, a penhora
mantém-se, aguardando o momento da venda executiva; no segundo, o executado terá de requerer o levantamento da penhora (759/2).

A autorização é concedida pelo juiz.

33
14. A fase da penhora

14.1. Actos preparatórios

14.1.1. Descoberta dos bens

No requerimento executivo, é dada a indicação dos bens do executado que o exequente conheça (724/1/i), com as precisões que lhe seja possível
fornecer (724/3, quanto à penhora de direitos), indicação que é dada na medida no possível. O agente de execução não fica vinculado a penhorar os
bens indicados: deve, em princípio, respeitar a indicação que lhe é feita, mas só se tal não importar a inobservância da cláusula geral de
proporcionalidade e adequação que lhe cabe, em primeira linha, respeitar e que pode levar a que outros bens sejam penhorados (735/3 e 751/1a3).
Assim:

- a apreensão terá em conta o montante da dívida exequenda e o das despesas previsíveis da execução, a eles se devendo adequar, tanto quanto
possível, o valor pecuniário estimado como realizável com a alienação dos bens a apreender;

- devem ser penhorados os bens cujo valor pecuniário seja de mais fácil realização;

- só quando se deva presumir que a penhora de outros bens não permitirá a satisfação integral do credor nos prazos constantes do 751/3 é que é
admissível a apreensão de bens imóveis e do estabelecimento comercial cujo valor se estime excessivo em face do montante do crédito exequendo.

Não estando vinculado à indicação feita pelo exequente, para descoberta dos bens do executado, o agente de execução começa por consultar o
registo informático de execuções (748/2), que contém o rol das execuções pendentes, findas e suspensas, com informação, entre outras, sobre as
partes, os montantes envolvidos, os bens penhorados e indicados para penhora, os casos em que não foram encontrados bens para penhorar e os de
insolvência (717). Procede seguidamente a qualquer diligência que tenha utilidade para a identificação e a localização dos bens penhoráveis,
incluindo a consulta de bases de dados oficiais, só precedida de autorização judicial no caso de a base de dados estar sujeita a regime de
confidencialidade ou sigilo fiscal e não ser nenhuma das referidas no 749/1.

Não sendo encontrados bens suficientes no prazo de 3 meses, são notificados o exequente e o executado para indicação de bens penhoráveis e, na
falta de indicação, extingue-se a instância (750/1/2), sem prejuízo de se vir a renovar se forem encontrados posteriormente bens penhoráveis
(850/5).

14.1.2. Autorização da penhora

Execpecionalmente, a penhora de certos bens é precedida de despacho judicial, por poder estar em jogo a protecção de direitos fundamentais ou de
sigilo.

Assim acontece com a penhora da casa de domicílio ou de bem móvel nela existente (757/4, 764/4 e 767/1), em que cabe ao juiz ordenar a
requisição da força pública, por imposição da norma constitucional que garante a inviolabilidade do domicílio (34/2CRP) – sem prejuízo de, não se
tratando de domicílio, a poder solicitar directamente ao agente de execução quando seja oposta resistência no acto da penhora, ou quando haja
receio justificado de oposição de resistência (757/2), bem como quando seja necessário proceder ao arrombamento de porta e substituição de
fechadura (757/3).

14.1.3. Penhoras subsequentes

Efectuada a penhora é admissível ao executado requerer a substituição dos bens penhorados por outros que igualmente assegurem os fins da
execução (751/4/a)/5). Mas o 751/4 enumera outros casos em que é admissível vir a penhorar outros bens, além ou em substituição dos inicialmente
penhorados: manifesta insuficiência dos bens penhorados (dando normalmente lugar ao reforço da penhora, mas podendo, em alternativa, dar lugar
à substituição dos bens penhorados, no caso dos novos bens serem suficientes); situação de oneração dos bens penhorados (dando normalmente
lugar à substituição por bens desonerados, mas podendo, em alternativa, dar lugar ao reforço da penhora); recebimento de embargos de terceiro
contra a penhora, com automática consequência da suspensão da execução (347); oposição à penhora com prestação de caução e consequente
suspensão da execução sobre os bens penhorados (785/3) (dando normalmente lugar à substituição dos bens penhorados, mas podendo, em
alternativa, dar lugar ao reforço da penhora; desistência da penhora, por outra incidir já anteriormente sobre os mesmo bens (dando lugar à
substituição dos bens penhorados); invocação do benefício da excussão prévia pelo devedor subsidiário não previamente citado (dando
normalmente lugar à substituição total ou parcial dos bens penhorados).

Salvo quando, neste último caso, o exequente não haja movido a execução contra o devedor principal e haja bens deste ou, tendo a execução sido
movida contra ambos os devedores, o devedor subsidiário indique bens do devedor principal suficientes para os fins da execução (745/4), a penhora
inicial, cuja substituição seja pedida, só é levantada depois de penhorados os novos bens, a fim de evitar a perda da garantia por ela conseguida
(751/6).

14.2. O acto da penhorabilidade

14.2.1. Formas

A lei distingue entre penhora de bens imóveis (755 e ss), penhora de bens móveis (764 e ss) e penhora de direitos (773 e ss).

A penhora de direitos determina-se por exclusão de partes: tem lugar quando não está em causa o direito de propriedade plena e exclusiva do
executado sobre coisa corpórea (as situações de compropriedade dão lugar à penhora de direitos) nem um direito real menor que possa acarretar a
posse efectiva e exclusiva da coisa (corpórea) móvel ou imóvel.

A tripartição legal deve-se mais a considerações práticas de regime, designadamente atinentes ao modo de realização da penhora, do que a uma
tipologia rigorosa. Não obstante a heterogeneidade da categoria da penhora de direitos, poder-se-á falar de três diferentes formas básicas de
penhora, embora, com a reforma da acção executiva, tenham deixado de corresponder inteiramente aos três indicados “tipos” de objecto da
penhora.

A penhora de bens imóveis faz-se, de acordo com o 755/1, por comunicação à conservatória do registo predial competente, com o valor de
apresentação registal (41CRP, 48/1 CRP, 60 CRP): penhora e acto de apresentação confundem-se. Tem assim lugar uma transferência de posse

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meramente jurídica, à qual se segue a feitura do auto da penhora (753/1 e 755/3), a afixação dum editar na porta ou noutro local visível do prédio
penhorado (755/3) e a tradição material da coisa para o depositário (757). A comunicação à conservatória é também o meio de efectuar a penhora
de bem móvel sujeito a registo (768/1), a que se segue, consoante os casos, a imobilização do automóvel, quando não tenha precedido a
comunicação (768/2), e a notificação às autoridades de controlo do navio e da aeronave (768/4/5); bem como a penhora de direito a bem indiviso
sujeito a registo (781/1 a contrario sensu), de quota em sociedade (781/6), de direito real de habitação periódica e de outros direitos reais cujo
objecto não deva ser apreendido (781/5), lavrando-se depois o respectivo auto (753/1) e havendo notificações a fazer.

Quanto à penhora de bem móvel não sujeito a registo, tem lugar mediante a tradição material da coisa, que é removida para depósito, público ou
não, salvo caso de impossibilidade ou grande dificuldade na remoção, lavrando-se auto da diligência (764/1/2/5 e 766).

A penhora de direitos não sujeitos a registo faz-se por notificação a terceiros. São figuras expressamente previstas a penhora de direito de crédito, a
penhora de direito a bens indivisos e a penhora de direito ou expectativa de aquisição. A primeira e a última realizam-se por via de notificação
pessoal. Há ainda a considerar os direitos potestativos autónomos e os direitos sobre coisas incorpóreas.

14.2.2. A penhora do direito de crédito

Tratando-se dum direito de crédito, é notificado ao devedor que o crédito fica à ordem do agente de execução, 773/1 (Se a penhora for de direito
incorporado em título de crédito ou de crédito garantido por penhor (ou, por analogia, garantido por um direito de retenção (759/3CC), tem lugar
uma diligência de apreensão material (773/7 e 774/1). Além, embora não esteja em causa a propriedade de uma coisa, a incorporação do direito no
título força a dar ao caso o tratamento de coisa móvel, consistindo a penhora num acto de apreensão material e já não na notificação, que só
complementarmente tem lugar, nos termos do 774/2. Aqui, a natureza constitutiva do acto de entrega da coisa (669/1CC) impõe igualmente a
apreensão material, mas o acto de notificação é que verdadeiramente constitui a penhora).

Pode então o devedor, no prazo de 10 dias (no entanto, no caso de penhora de depósito bancário ou de valor mobiliário abrangido pelo 780/14, o
prazo é de 2 dias úteis):

- impugnar a existência do crédito (775/1), caso em que, se o exequente mantiver a penhora, o crédito passa a ser considerado litigioso (775/2);

- invocar a excepção de não cumprimento de obrigação recíproca (776/1), podendo seguir-se, por apenso, uma execução acessória, para exigir a
prestação ao executado, se este confirmar a declaração, o que constituirá título executivo (776/2/4), e passando o crédito a ser considerado litigioso,
se o executado impugnar a declaração e o exequente mantiver a penhora (776/3);

- reconhecer a existência do crédito (773/2), com o que ele fica imediatamente assente no âmbito do processo executivo, podendo ser como tal
adjudicado ou vendido (777/2) e servindo o acto de reconhecimento de base à formação dum título executivo em que se pode fundar uma execução
contra o terceiro devedor (que não pague, por depósito efectuado à ordem do agente de execução ou da secretaria, 771/1), por meio de substituição
processual (do executado pelo exequente, mas constituindo título executivo a declaração de reconhecimento do devedor) ou por acção do
adquirente (mediante a atribuição de exequibilidade ao título de aquisição do crédito) e por apenso ao processo executivo (777/3);

- fazer qualquer outra declaração sobre o crédito penhorado que interesse à execução (773/2);

- nada fazer, o que tem o efeito cominatório de equivaler ao reconhecimento do crédito, nos termos constates da indicação do crédito à penhora
(773/4), se a houver, e transmitidos ao terceiro devedor no acto da notificação, constituindo título executivo a notificação efectuada e a falta de
declaração (777/3); mas, se, não pagando o terceiro devedor, contra ele for proposta execução, é-lhe ainda possível, em oposição, provar que o
crédito se extingue e a venda, a ter tido lugar, é anulada, sem prejuízo do direito do exequente a haver do terceiro devedor uma indemnização, que
pode ser feita valer na própria oposição (777/4).

Consistindo o crédito no direito a depósito em instituição bancária ou equiparada, há que atender às especialidades do 780.

14.2.3. A penhora do direito a bens indivisos

Na penhora de direito a bens indivisos integra o 781 diferentes situações:

- o direito de quota em coisa comum (compropriedade ou outra contitularidade de direitos reais);

- o quinhão numa universalidade de direito (herança, meação de bens do casal, etc), de que trata, tal como do direito de quota em coisa comum, o
743;

- o direito real de habitação periódica ou outro direito real menor que não acarrete a posse efectiva e exclusiva do seu objecto;

- a quota em sociedade, civil ou comercial.

No último caso, é feita notificação à sociedade.

Nos restantes casos, tratando-se de bem não sujeito a registo, é feita notificação ao administrador dos bens, se houver, e aos terceiros titulares ou
contitulares dos restantes direitos implicados, e a penhora considera-se feita à data da primeira notificação. Tratando-se de bem sujeito a registo, as
mesmas notificações seguem-se à comunicação à conservatória, com a qual se tem por feita a apreensão. RUI PINTO, entende que a penhora é,
neste caso, um acto complexo, constituído pelo registo e pelas notificações, sem prejuízo de o registo funcionar como presunção (ilidível) de que a
penhora teve lugar, enquanto as notificações não forem realizadas.

Os notificados podem também contestar a existência do direito penhorado ou fazer acerca dele outras declarações pertinentes (781/2/5); mas, não
tendo o seu silêncio qualquer efeito cominatório, ele não impede, designadamente, a dedução de embargos de terceiro.

Podem os contitulares notificados declarar que pretendem que a venda executiva tenha por objecto a totalidade do bem ou do património, caso em
que, tendo todos feito tal declaração, a venda abrangerá essa totalidade (781/2/4).

A penhora do direito ao produto da liquidação de quota em sociedade de pessoas constitui penhora de bem indiviso, mas não assim a penhora do
direito ao lucro, que tem o tratamento dos direitos de crédito.

14.2.4. A penhora de direitos ou expectativas de aquisição

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A penhora pode incidir sobre direito ou expectativa real de aquisição do executado. Assim, é, p.e., penhorável a posição do promitente comprador
fundada em contrato com eficácia real, bem como a do titular de direito de preferência de origem legal ou fundado em contrato a que as parte
tenham atribuído eficácia real. No segundo caso, a penhora só terá interesse se o preço da venda ou o valor da dação em cumprimento for baixo, o
que praticamente a circunscreve a casos em que a transmissão do bem tenha tido lugar. É igualmente penhorável o direito de aquisição meramente
obrigacional (posição de promitente comprador ou preferente que não goze de eficácia real), mas este constitui um direito de crédito, cuja penhora o
773 já prevê. É também penhorável, na pendência da condição, o direito que seja objecto de negócio condicional, cuja alienação, de eficácia
subordinada à do próprio negócio, a lei expressamente admite (274/1CC); está neste caso a expectativa de aquisição de bem vendido com reserva de
propriedade.

Aplicam-se as disposições relativas à penhora de direito de crédito, com as necessárias adaptações (778/1). A penhora é feita por notificação à
contraparte (promitente vendedor, pessoa sujeita à preferência, vendedor reservatário ou comprador sob condição resolutiva), a qual pode impugnar
a existência do direito penhorado, invocar o direito a qualquer prestação de que a aquisição dependa, reconhecer o direito, fazer sobre ele qualquer
outra declaração relevante ou nada declarar, tendo-se neste caso o direito como reconhecido, nos mesmo termos em que se tem por reconhecido o
direito de crédito. À verificação e à exigência da prestação a efectuar pelo executado aplica-se o 776. o exercício tempestivo do direito apreendido
(quando, sem ele, este corra o risco de se extinguir ou de outro modo perder consistência), pelos meios para tanto facultados pela lei civil
(celebração do contrato prometido ou acção de execução específica do 830/1CC, de declaração de querer preferir nos termos do 416/2CC ou acção
de preferência do 1410CC), pode ter lugar, antes da venda executiva e mediante autorização judicial (773/6), por acto do exequente ou credor
reclamante (que quando actue judicialmente, assim se substitui processualmente ao executado), e, depois dela, por acto do adquirente do direito
(por adaptação do 773/3, sem prejuízo de o próprio tribunal, através do agente de execução, devidamente autorizados pelo juiz, poder praticar os
actos necessário ao exercício do direito (773/6). Sendo o meio uma acção judicial, pode a contraparte, na contestação, alegar que, não obstante o
silêncio por si observado, o direito não existiam estando sujeita a indemnizar os danos que o exequente demonstre ter sofrido em consequência da
falta de declaração.

No caso de bens sujeitos a registo, a este há também que proceder, esteja na posse ou detenção do executado (maxime, tratando-se de contrato-
promessa que tenha dado lugar a tradição ou de compra e venda com reserva de propriedade), a garantia do interesse do exequente torna
necessária, para além da notificação constitutiva da penhora, a apreensão material da coisa (778/2, 757, 764/1), sem prejuízo do direito de
propriedade da contraparte, que a penhora não afecta e que permanecerá com a eventual resolução do contrato de alienação (934CC e 936/1CC). Ao
aplicar o 778/2, há que ter em conta: por um lado, que as situações de simples detenção (1253CC), maxime quando meramente toleradas
(1253/b)CC), têm de ceder perante a pretensão real da contraparte; por outro, que, quando o executado não tenha a posse da coisa, mas a ela tenha
direito por via do contrato que celebrou, o acto de reconhecimento da contraparte (ou a omissão da sua declaração) serve de base à formação de
título executivo, em que se pode fundar uma execução para entrega de coisa certa contra ela dirigida (773/3, por remissão do 778/1).

Este acto de apreensão não implica a penhora da própria coisa. A realização esta penhora tem sido defendida, no caso da compra e venda com
reserva de propriedade, com o argumento de que, ocorrido o pagamento, que é o habitual factor condicionante da aquisição, antes da venda
executiva, a penhora da expectativa se tornaria inútil se a coisa não ficasse automaticamente a garantir a dívida, com a anterioridade resultante da
data da penhora. Mas a penhora da coisa não deixaria de pôr problemas pelo facto de ela à data ainda pertencer a outrem. É, por isso, melhor
solução a de, semelhantemente ao que se passa no caso da penhora do direito à prestação duma coisa, entender que, consumada a aquisição, o
objecto da penhora passa automaticamente a incidir sobre o bem transmitido (778/3). A anterior apreensão material da coisa, quando tenha tido
lugar, é destinada apenas a acautelar o seu eventual extravio ou destruição, sem, porém, constituir uma penhora e, portanto, com inteira ressalva dos
direitos da contraparte.

14.2.5. A penhora de outros direitos

Outros direitos penhoráveis são os direitos potestativos autónomos – p.e., o direito de resolução (927CC) ou o de anulação; o direito real de
aquisição constitui também (direito de preferência) ou pode constituir (direito do promitente adquirente, quando confrontado com a mora da
contraparte) um direito potestativo, pelo que o texto se refere apenas a outros direitos potestativos -, o conteúdo patrimonial do direito de autor
(47CDA), o direito de edição – com importantes limitações decorrentes da exigência do consentimento do autor – e os direitos emergentes de
patentes, modelos de utilidade, registos de modelos e desenhos industriais e registo de marcas (29/1 CPI)– a menos que a penhora da marca,
independentemente da do estabelecimento, possa induzir o público em erro quanto à proveniência do produto ou do serviço ou aos caracteres
essenciais para a sua apreciaçaõ (211/2CPI) .

No caso de direito absoluto, a penhora efectua-se mediante simples notificação ao executado; mas, tratando-se de direito sujeito a registo, é
constituída pela comunicação à entidade registadora, nos termos do 755.

Sendo o direito relativo, a penhora constitui-se com a notificação à contraparte.

14.3. O depositário

A penhora implica, em regra, um depositário. Este é:

- na penhora de coisas imóveis, e, por aplicação subsidiária, na de coisas móveis sujeitas a registo e na de direitos (772 e 783), o agente de execução
ou, quando as diligências de execução são realizadas por oficial de justiça, pessoa por este designada (756/1). O executado pode ser depositário
quando o exequente consinta e quando seja penhorada a sua casa de habitação efectiva – os prédios que estejam arrendados e os que sejam objecto
de direito de retenção, em consequência de incumprimento contratual judicialmente verificado, têm como depositários, respectivamente, o
arrendatário e o retentor. O agente de execução pode também designar outrem como depositário, desde que o exequente consinta;

- na penhora de coisas móveis não sujeitas a registo, o agente de execução que efectue a diligência (764/1). Não é de excluir que, com o
consentimento expresso do exequente, possa ser depositário o executado, pelo menos quando excepcionalmente, considerada a dificuldade de
remover a coisa apreendida, a grande desvalorização que yal implicaria ou o seu custo, comparado com o valor do bem, tal se mostre conveniente
para os fins da execução. Tão-pouco está excluída a aplicação, com alguma cautela (atenta a natureza do bem), do preceito 756/1/b) em caso de
locação a terceiro da coisa móvel penhorada. Sendo a diligência efectuada por oficial de justiça, pode entender-se que lhe cabe designar o
depositário, em aplicação subsidiária do 756/1. O cumprimento do dever de remoção para depósito levará a que a pessoa que tiver a guarda dos
bens nele depositados tenha os poderes e deveres que a lei civil atribui ao depositário (1187CC e 1198CC), com as devidas adaptações e sem prejuízo
dos poderes e deveres próprios do depositário judicial, quando ele próprio não tenha sido designado como tal.

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- na penhora de estabelecimento comercial, pessoa designada pelo juiz, quando estiver paralisada ou deva ser suspensa a actividade do
estabelecimento (782/4).

Além dos deveres gerais do depositário (1187CC, 1188CC, 1191CC, 1195CC), cabe-lhe administrar os bens ou direitos penhorados, com a diligência
do bom pai de família, e prestar contas da sua administração (760/1). Através dele, é exercida a posse do tribunal, sempre que a esta haja lugar.

Mas há casos em que não há lugar, por desnecessária, à figura do depositário.

Assim acontece no caso da penhora de direito de crédito. Se o devedor cumprir a obrigação, relativamente à prestação principal e às prestações
acessórias (maxime juros) porventura devidas, fará depósito à ordem do agente de execução ou à secretaria, que funcionará como depositário,
conforme os casos (777/1). Se não cumprir, caberá ao exequente (ou ao adquirente do direito pela venda) executar o crédito (777/3). Exceptuam-se
apenas os casos em que haja de ser apreendida uma coisa dada em garantia, como acontece, em regra, com o penhor (773/7).

Tão-pouco há lugar a depositário no caso de penhora de direito ou expectativa de aquisição, quando não haja lugar à apreensão complementar da
coisa sobre que incide, e no de penhora de (outro) direito potestativo, bem como no da penhora de automóvel não apreendido.

Quanto aos casos de penhora de direito a bem ou património indiviso, de quota em sociedade comercial ou de direito de habitação periódica, podem
implicar a constituição de depositário, assim será, pelo menos, sempre que o direito penhorado careça de ser administrado (760/1).

Quando não seja o agente de execução, o depositário pode ser removido se não cumprir os deveres do seu cargo (761/1). Sendo depositário o
agente de execução, a violação dos seus deveres constitui actuação, dolosa ou negligente, sancionada nos termos do 720/4 e podendo levar à sua
destituição, pelo órgão com competência disciplinar, para todos os efeitos do processo (e não apenas para os decorrentes do depósito).

14.4. O registo da penhora

14.4.1. Quando tem lugar e para quê?

A penhora de bens sujeitos a registo efectua-se com a comunicação à conservatória competente. É o que acontece nos casos de:

- imóveis ou direitos reais sobre imóveis (755/1, 781/5, 783, 2/1/a/nCRP);

- móveis sujeitos a registo ou direitos reais sobre eles (768/1, 783);

- quota de contitular de direito que dê lugar a registo (781/1 e 783);

- quota ou direito sobre quota de sociedade comercial (781/6);

- direito ao lucro e à quota de liquidação de sociedade em nome colectivo ou de parte social de sócio comanditado de sociedade em comandita
simples (781/6, por analogia, ou 783);

- direito de autor (783);

- direito a patente, modelo, desenho ou marca (783).

Mas outras vezes, o registo da penhora constitui um acto a esta subsequente, a efectuar com base em certidão do auto que atesta a sua realização. É
o que acontece nos casos de:

- direito de crédito com garantia real sujeita a registo (hipoteca, consignação de rendimentos e penhor de crédito garantido por hipoteca, 773/7,
2/1/oCRP e 5/1 RPA);

- direito ou expectativa real de aquisição de bem sujeito a registo (778/1, por analogia, 773/7);

- bens ou direitos sujeitos a registo que integrem o estabelecimento comercial (782/6).

No segundo grupo de casos, o registo é obrigatório, constituindo ónus do exequente. Com efeito, não é só condição da eficácia do acto da penhora
perante terceiros, nos termos gerais, como também condição do prosseguimento do processo de execução, o qual só tem lugar após a junção do
certificado do registo da penhora e da certidão do ónus que incidam sobre os bens por ela abrangidos (755/2).

14.4.2. Inscrição em nome de terceiro

Aplica-se o 119 CRP, que ordena a citação do titular da inscrição registada para, no prazo de 10 dias, vir declarar se o bem penhorado lhe pertence,
sob pena da execução prosseguir. Se o titular da inscrição declarar que o bem lhe pertence, o exequente, se quiser manter a penhora, instaurará
contra ele uma acção declarativa de propriedade, autónoma relativamente à execução, que fica entretanto suspensa quanto ao bem em causa, sem
prejuízo de o exequente poder desistir da penhora ou requerer a sua conversão em penhora de direito litigioso.

14.5. Levantamento da penhora

14.5.1. Em geral

Efectuada a penhora, ela irá subsistir até à venda do bem penhorado. Pode extinguir-se por causa diferente da venda executiva, quer essa causa
implique a realização do fim da execução, quer não. Então, a penhora é levantada. É o que acontece quando:

- ocorra uma causa de extinção da execução, diferente do pagamento posterior à venda executiva;

- seja julgada procedente a oposição à penhora;

- o exequente desista da penhora, nos casos que lhe é permitida a substituição por outro do bem penhorado (751/4/a)/e));

- nos esquemas dos efeitos legais do acordo do pagamento em prestações;

- se a execução estiver parada durante seis meses, por negligência que não seja imputável ao executado, e este requerer o levantamento (763/1);

- no caso de desaparecimento do bem penhorado.

Determinado o levantamento da penhora, procede-se ao cancelamento do respectivo registo, se a ele tiver havido lugar (101/2/g)CRP).

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14.5.2. Desaparecimento do bem penhorado

Se ocorrer o desaparecimento do bem penhorado, das duas uma:

- ou há lugar a indemnização e a penhora transfere-se para o bem sub-rogado (crédito ou quantia paga), nos termos do 823CC;

- ou não há lugar a indemnização e a penhora extingue-se, por falta de objecto (para o caso análogo da hipoteca: 730/c)CC)

14.5.3. Paragem da execução

O CPC determina que o levantamento da penhora tem lugar (sempre a pedido do executado, dirigido ao agente de execução) em qualquer caso que
no processo não tenha sido efectuada nenhuma diligência para a realização do pagamento nos 6 meses anteriores ao requerimento do executado,
por acto ou omissão que não seja da sua responsabilidade: 863/1.

Devem ser tidos em conta o 763/3/4.

15. Função e efeitos da penhora

15.1. Função da penhora

Trata-se da apreensão judicial de bens que constituem objecto de direitos do executado. A penhora é o acto fundamental do processo executivo, de
que as restantes fases são como que o desenvolvimento natural. Ainda assim, não esgota em si mesma a sua finalidade: delimitando o objecto dos
actos executivos subsequentes e assegurando a sua viabilidade, pela apreensão dos bens sobre os quais tais actos irão incidir, a penhora é dirigida
aos actos ulteriores de transmissão dos direitos do executado para, através deles, directa ou indirectamente, ser satisfeito o interesse do exequente.
Esta é a sua função.

Tem três efeitos jurídicos:

- a transferência para o tribunal dos poderes de gozo que integram o direito do executado;

- a ineficácia relativa dos actos dispositivos do direito subsequentes;

- a constituição de preferência a favor do exequente.

A natureza civil destes efeitos da penhora não deve levar a confundi-la com uma figura de direito privado. Acto de apreensão judicial, a penhora é
uma manifestação de jus imperii e o primeiro acto pelo qual se efectiva a garantia da relação jurídica pecuniária.

15.2. Perda dos poderes de gozo

Pela penhora, o executado perde os poderes de gozo, que passam para a esfera do tribunal que, em regra, os exercerá através dum depositário.

Quando a penhora incide sobre o objecto corpóreo dum direito real (penhora de bem imóvel, penhora de bem móvel, penhora de quota em bem
indiviso), a transferência dos poderes de gozo importa uma transferência da posse. Cessa a posse do executado e passa para o tribunal, ou seja, para
o depositário em nome deste último.

Estando em causa um direito de natureza diferente (direito de crédito, direito real de aquisição, direito a quinhão numa universalidade, direito a
quota em sociedade, direito potestativo, direito real sobre coisa incorpórea), já não se pode falar em posse (1251CC), mas continua a verificar-se a
transferência dos poderes de gozo.

Mesmo no caso da penhora do direito de crédito, em que não há depositário, o agente de execução ou a secretaria fica com o poder de receber e
provisoriamente reter a prestação principal, assim como as prestações acessórias do crédito, quando este é pecuniário (770/1). A recepção e a
retenção da prestação creditícia, principal ou acessória, representam o exercício de poderes de gozo do credor. Por isso também, o terceiro devedor
não fica exonerado, perante a execução quando, depois da penhora, pague ao executado ou a terceiro ou acorde com o executado a prática de outro
acto extintivo da obrigação (novação, dação em cumprimento, remissão), ou ainda quando declare querer compensar o débito com um crédito seu
que só depois da penhora tenha permitido a compensação (820CC; no caso da compensação, o 853/2CC).

Semelhantemente, no caso dum direito potestativo, destinado a extinguir-se com o seu exercício sem que este produza qualquer modificação no
mundo material, o poder de produzir declaração de vontade em que esse exercício se consubstancia, em momento anterior à caducidade ou à
criação de outra situação que possa levar à perda do direito, passa a pertencer ao tribunal.

Algo semelhante se dirá do caso em que o direito real de aquisição apreendido, não constituindo (ainda) um direito potestativo, dê lugar a uma
actividade extrajudicial, como a de celebração do contrato prometido. Diversamente, a penhora da expectactiva de aquisição, dando apenas lugar a
que se aguarde a verificação da condição, só quando, por esta se verificar, passa a incidir sobre o bem transmitido é que se traduz no exercício de
poderes de gozo (já sobre a coisa) pelo tribunal.

15.3. Ineficácia relativa dos actos dispositivos subsequentes

O executado perde os poderes de gozo que integram o seu direito, mas não o poder de dele dispor. Mantém a titularidade dum direito esvaziado de
todo o seu restante conteúdo. E, sendo assim, continua a poder praticar, depois da penhora, actos de disposição ou de oneração. Contudo, estes
actos comprometeriam a função da penhora se tivessem eficácia plena. Por isso, são inoponíveis ao executado. Trata-se de um caso de
inoponibilidade objectiva ou situacional. Não se tratando de actos nulos, mas apenas ineficazes, eles readquirirão eficácia plena no caso da penhora
vir a ser levantada. Mas se da execução resultar a transmissão do direito do executado, o direito do terceiro que tiver contratado com o exequente
caduca, embora transferindo-se, por sub-rogação objectiva, para o produto da venda (824CC).

Exemplo: A (executado) vende o bem x, após a penhora, a B; B adquire o direito de propriedade sobre o bem, mas este direito é inoponível à
execução; se a penhora for levantada, B poderá exercer plenamente o direito que adquiriu; mas se o bem for vendido na execução, o direito de B
caduca; neste caso, se do produto da venda restar algo após o pagamento ao exequente e aos restantes credores (e ao tribunal pelas custas do
processo), B poderá ainda exercer, fora do processo executivo, o seu direito de propriedade sobre o remanescente; se nada restar, a B só caberão
direitos em sede obrigacional. Estando em causa um direito de crédito, são ineficazes a sua cessão ou penhor.

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Fazendo-se a penhora por registo ou devendo este ter lugar depois dela efectuada, as regras próprias do registo imporiam que se considerasse as
datas do registo da penhora e do acto dispositivo para determinar a anterioridade ou posterioridade do acto da penhora em face dum acto de
alienação ou oneração. Contudo, há que ter em conta o disposto no 5/4 CRP que exclui da protecção conferida pela propriedade registal, por não os
considerar terceiros, os adquirentes por causa diversa dum acto dispositivo do titular anterior da inscrição registal.

Com a reforma da acção executiva, passou a ser também estabelecida a inoponibilidade à execução do contrato de arrendamento. Não caducando
com a venda executiva o direito ao arrendamento, o contrato celebrado pelo executado após a penhora mantém-se a sua inoponibilidade perante o
adquirente do bem arrendado.

Com actos jurídicos que são, a disposição, a oneração e o arrendamento dependem da vontade do titular do direito e a norma do 819 CC pressupõe a
prática dum acto voluntário do executado. Assim, a regra da ineficácia relativa não abrange os actos constitutivos de direito real de garantia sobre os
bens penhorados em que o titular destes não intervenha. É o que aconteces com a penhora (794), com o arresto (391) e com a hipoteca legal ou
judicial (704CC e 710CC). Do mesmo modo, a usucapião, as sentenças constitutivas proferidas contra o executado, a amortização da sua quota e
outros actos independentes da sua vontade estão excluídos da aplicação da regra.

15.4. Preferência do exequente

Dada a função que lhe é própria, a penhora envolve a constituição dum direito real de garantia a favor do exequente. Como tal, tem este direito o
atributo da preferência (ou prevalência): o exequente fica com o direito de ser pago com preferência a qualquer outro credor que não tenha garantia
real anterior (822/1CC).

A anterioridade da penhora reporta-se à data do arresto, quando o exequente tenha feito arrestar previamente os bens penhorados (822/2CC) e,
tratando-se de bens sujeitos a registo, à data da efectivação deste.

Se sobrevier a insolvência do executado, a preferência resultante da penhora cessa, tal como, de resto, a resultante de hipoteca judicial (140/3CIRE).

A preferência do exequente, mas já nos termos do penhor ou da hipoteca, mantém-se após o acordo de pagamento da dívida exequenda em
prestações, a menos que outro credor queira prosseguir com a execução e o exequente desista da garantia ou não denuncie o acordo celebrado com
o executado.

16. Oposição à penhora

16.1. Meios de oposição

Existem 4 meios de reagir a uma penhora ilegal:

- Oposição por simples requerimento;

- Incidente de oposição à penhora;

- Embargos de terceiro;

- Acção de reivindicação.

Destes meios, os dois primeiros têm lugar no próprio processo de execução, ainda que o segundo por apenso, e os dois últimos constituem acções
declarativas, sendo os embargos, que constituem o meio mais específico de reacção contra a ilegalidade do acto, também processados por apenso à
execução, em que igualmente se inserem funcionalmente; mas a acção de reivindicação é um meio geral, plenamente autónomo dela.

A ilegalidade da penhora pode assentar no facto de se terem ultrapassado os “limites objectivos da penhorabilidade (penhoram-se bens que não
deviam ser penhorados em absoluto, ou não deviam ser penhorados naquelas circunstâncias, ou sem excussão de todos os outros, ou para aquela
dívida); mas também pode ocorrer quando a penhora seja subjectivamente ilegal (são penhorados bens que não são o executado). No primeiro caso,
a impenhorabilidade é objectiva; no segundo é subjectiva.

O incidente de oposição à penhora cuida da penhorabilidade objectiva. Pelos restantes meios reage-se contra a penhorabilidade subjectiva.

16.2. Oposição por simples requerimento

A. Penhorada uma coisa móvel encontrada em poder do executado, a lei concede a possibilidade de se fazer, perante o juiz do processo, prova
documental inequívoca de que ela pertence a terceiro, mediante simples requerimento acompanhado dessa prova, presumindo até lá que a coisa
pertence ao executado (764/3).

A lei processual presume que pertencem ao executado os bens móveis encontrados em seu poder: tal como para os efeitos do 747, relativo aos bens
encontrados em posse de terceiro, entende-se estarem em poder do executado todos aqueles sobre os quais ele exerce a posse ou detenção, ou
pode exercê-la por se encontrarem na sua esfera de controlo, designadamente em imóvel que lhe pertença ou que em nome próprio utilize.

Para ilisão desta presução, com as consequências de a penhora efectuada não se manter e a coisa ser restituída, é exigido um documento do qual
resulte inequivocamente que os bens pertencem a terceiro, ou que terceiro tem sobre eles direito real menor de gozo que implique a sua usufruição
(caso em que o objecto da penhora deve ser reduzido, de modo a abranger apenas o direito do executado). A apresentação de documento autêntico
com data anterior à da penhora, ou de documento particular que tenha sido autenticado, reconhecido ou apresentado em serviço público (que nele
tenha atestado a apresentação) em data anterior à da penhora, é normalmente suficiente para o efeito, se não houver motivo sério para duvidar da
sua genuinidade ou da validade do acto documentado. A ilisão da presunção por este meio expedito só pode ter lugar em casos em que se torne
manifesto o direito do terceiro. Assim será, p.e., quando são penhoradas mercadorias dum comerciante que se encontrem no seu estabelecimento à
consignação; mas já não, por se então duvidoso se o pagamento do preço (ainda que antes do vencimento acordado) se verificou, quando sejam
penhoradas máquinas vendidas com reserva de propriedade ou cedidas em locação financeira. Nestes casos, pode convir ao exequente o pagamento
do remanescente do preço, com o qual se dará a transmissão da propriedade, sendo certo que a apreensão, por si, não lesa a posse do proprietário,
vendedor ou locador.

A ilisão faz-se perante o juiz, dado a decisão a proferir constituir exercício da função jurisdicional. Tal implica que o levantamento, ou a redução, da
penhora não seja ordenado, salvo caso de manifesta desnecessidade, sem a prévia audição do exequente, em observância do princípio do
contraditório (3/3). Não ordenado o juiz o levantamento da penhora, não fica precludido o direito de o terceiro deduzir oposição por embargos,
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mesmo quando tenha sido ele a requerer o levantamento – o terceiro é livre de escolher entre os dois meios: mais simples e expedito o do
requerimento, no pressuposto que se verificam os respectivos requisitos; mas complexo o dos embargos.

B. A oposição à penhora por simples requerimento é hipotizável em outros casos.

A questão da sua admissibilidade vem de muito antes da reforma da acção executiva, tendo havido, inclusivamente, quem defendesse que o
executado podia sempre reagir por esse meio a uma penhora ilegal (ANSELMO DE CASTRO), sem prejuízo de seguidamente, quando não cumprido o
seu levantamento, poder ainda recorrer aos embargos de terceiro. LEBRE DE FREITAS também sustentou que quer o exequente, quer o executado (e
ainda o cônjuge do executado, quando, por via da anterior nomeação de outro bem à penhora, tivesse sido citado para a execução e os novo bens
penhorados fossem também imóveis comuns ou só alienáveis com o seu conhecimento), podiam, entre o momento da nomeação do bem à penhora
(pela contraparte) e o despacho que a ordenasse, introduzir no processo, por simples requerimento, elementos que possibilitassem ao juiz decidir
pela penhorabilidade ou impenhorabilidade (subjectiva ou objectiva) do bem nomeado; mas que, fora o caso em que o juiz não tivesse conhecido de
questão concreta de penhorabilidade que se levantasse, apesar de o dever ter feito, por o processo conter os elementos suficientes para o efeito, o
uso do requerimento, após o despacho ordenatório da penhora, só era admissível para o exequente, quando a nomeação tivesse sido feita pelo
executado.

Perante o disposto no 723/1/c/d, é indubitável que, na falta de outro meio de impugnação da penhorabilidade do bem apreendido ou a apreender, o
exequente pode suscitar perante o juiz a questão da impenhorabilidade. Por outro lado, indicado pelo exequente, na petição inicial, determinado
bem como susceptível de penhora, pode o executado, que seja previamente citado, suscitar a questão da impenhorabilidade, antes mesmo da sua
apreensão. Nestes casos, o requerente levanta, em requerimento, a questão da impenhorabilidade, carreando para o processo os elementos
indispensáveis à sua verificação e oferecendo a prova para tanto necessária. Ouvida a contraparte, essa prova é seguidamente produzida, juntamente
com a que esta ofereça, decidindo o juiz em conformidade.

Restam ainda os casos específicos em que a lei admite o requerimento (744/2; 738/6, quando o requerimento seja apresentado depois da penhora).

16.3. O incidente de oposição à penhora

Meio de oposição privativo do executado (e do seu cônjuge, por via do 787/1) constitui o incidente de oposição à penhora.

Trata-se, desta vez, de casos de impenhorabilidade objectiva, visto ser pressuposto que os bens penhorados pertencem ao executado.

Três são as situações que, segundo o 784, podem fundar a oposição do executado à penhora:

a) A inadmissibilidade da penhora dos bens (do executado) concretamente apreendidos ou da extensão em que foi realizada;

b) Imediata penhora de bens (do executado), que só subsidiariamente respondam pela dívida exequenda;

c) Incidência da penhora sobre bens (do executado) que, não respondendo, nos termos do direito substantivo, pela dívida exequenda, não deviam ter
sido atingidos pela diligência.

A al. b) não oferece dúvida: em qualquer caso de responsabilidade subsidiária, o executado pode opor-se à penhora de bens seus que só deviam
responder na falta de outros (igualmente seus ou de outro património), se, existindo estes, por eles não tiver começado a execução. Se gozar do
benefício da excussão prévia e o tiver invocado, constituirá fundamento de oposição o facto de não terem sido previamente penhorados e vendidos
os bens do património do principal responsável. Se não goza do benefício, a oposição basear-se-á no facto de não terem sido previamente
penhorados os bens, seus ou alheios, que respondiam em primeiro lugar ou de não ter sido verificada a sua insuficiência para a satisfação dos
créditos a satisfazer por força deles; fundando-se a oposição na existência de patrimónios separados, deve o executado indicar logo os bens
penhoráveis que tenha em seu poder e se integrem no património autónomo que responde pela dívida exequenda (784/2).

Quanto às al. a) e c), visam cobrir todos os outros casos de bens objectivamente impenhoráveis. Mas, enquanto a al. c) se reporta às causas de
impenhorabilidade, específica ou derivada dum regime de indisponibilidade objectuva, resultantes do direito substantivo; a al. a) visa as causas de
impenhorabilidade enunciadas na lei processual, derivem delas situações de impenhorabilidade absoluta e total, de impenhorabilidade relativa ou de
impenhorabilidade parcial.

O executado tem, para se opor, o prazo de 10 dias, contados da notificação da penhora (785/1), estando o incidente sujeito às normas gerais do 293
e 295 (785/2), bem como às do 732/1/3, devidamente adaptados, em tudo quanto não esteja especialmente regulado no 785/2/3/4. Assim:

- Com o requerimento de oposição, são oferecidos os meios de prova, sendo de cinco o limite do número de testemunhas (293/1 e 294/2);

- Há despacho liminar, indeferindo o juiz a oposição quando esta tenha sido deduzida fora de prazo, não se funde em causa de impenhorabilidade
objectiva prevista no 784/1 ou seja manifestamente improcedente (732/1);

- O exequente pode responder no prazo de 10 dias, contados da data em que é notificado da oposição, oferecendo logo os meios de prova com a
mesma limitação do número de testemunhas (293/1/2 e 294/1);

- A falta de resposta ou a omissão de impugnação tem efeito cominatório semipleno, não sendo, porém, considerados provados os factos, dos
alegados pelo executado, que estiverem em oposição com o que o exequente tenha dito no requerimento executivo ou com o que ele próprio ou
outro sujeito com o poder de indicar bens haja dito no respectivo requerimento (732/3);

- A execução só é suspensa, na sequência da admissão da oposição e limitadamente aos bens em causa, se o executado prestar caução (785/3), sem
prejuízo do reforço ou substituição da penhora (851/4/d); mas, tal como na pendência do recurso da decisão exequenda (704/4) e dos embargos do
executado (733/5), qando a oposição respeite à casa de habitação do executado e a venda possa causar prejuízo irreparável ou de difícil reparação, o
juiz pode determinar que a venda aguarde a decisão dos embargos em 1.ª instância (785/4);

- Tal como na pendência do recurso da decisão exequenda (704/3) e dos embargos de executado (733/4), nem o exequente, nem outro credor pode,
na pendência da oposição, obter o pagamento sem prestar caução (785/5);

- O incidente corre por apenso (732/1).

Relativamente aos bens cuja penhora haja suscitado a sua intervenção na execução, o cônjuge do executado tem os mesmo poderes processuais que
este (878/1).
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16.4. Embargos de terceiro

Os embargos de terceiro podem ser definidos como o incidente pelo qual quem não é parte no processo pede a extinção da penhora, apreensão ou
entrega judiciais ofensivas de posse ou direito seus. Trata-se de um meio de defesa perante uma penhora ou apreensão subjectivamente ilegais e que
não se cinge aos estritos limites de uma acção executiva. Na verdade, a sua necessidade pode colocar-se na execução de qualquer medida processual
de ingerência material na esfera jurídica de um terceiro, como, entre outras, as providências cautelares de arresto (391 e ss) e arrolamento (401 e ss).

Parece resultar que embora a penhora recaia sobre direitos do executado, ela pode restringir ou mesmo suprimir direitos de terceiro que não sejam
licitamente oponíveis ao exequente.

Os embargos de terceiro tanto podem ser acções preventivas de uma lesão a um direito ou posse, como acções repressivas dessa mesma lesão,
como decorre do 350. Além do mais, apresentam uma dupla estrutura procedimental: uma fase cautelar, dita introdutória no 345, e uma fase
declarativa ou contraditória, depois daquela.

16.4.1. Terceiro legitimado (EMBARGOS DE TERCEIR0)

A. Sabemos que à penhora só estão sujeitos bens do executado, seja este o próprio devedor, seja um terceiro (relativamente à obrigação exequenda),
este nos casos excepcionais em que a lei substantiva admite a penhora de bens de pessoa diversa do devedor.

Consequentemente, os bens de terceiro (relativamente à execução), i.e., de pessoa que não seja exequente nem executado, não são penhoráveis,
regra esta que permanece válida quanto às pessoas obrigadas no título conjuntamente com o executado, mas contra as quais não tenha sido
proposta a execução. Mas já são penhoráveis os bens do executado que estejam em poder de terceiro, ainda que este deles seja possuidor em nome
próprio.

Por outro lado, o possuidor em nome próprio (exerça a posse directamente ou através de outrem, possuidor em nome alheio: 1252/1CC) goza da
presunção da titularidade do direito correspondente à sua posse (1268/1CC e 1251CC), pelo que lhe deve ser consentido valer-se dessa presunção
até que ela seja ilidida, mediante a demonstração de que o proprietário do bem possuído é o executado.

Os embargos de terceiro, como meio de oposição à penhora, mantêm-se na lei civil configurados como um meio possessório, paralelo às acções de
prevenção, manutenção e restituição da posse (1276CC e 1278CC) e, portanto, facultado, em primeira mão, ao possuidor em nome próprio (1285CC)
e negado, em princípio, ao proprietário não possuidor, ao simples detentor de facto e ao possuidor em nome alheio, figuras que o 1253CC equipara e
que não gozam da presunção de propriedade de que goza o possuidor em nome próprio.

Mas a lei civil faculta também os meios possessórios a determinados possuidores em nome alheio (1037/2CC, 1125/2CC, 1133/2CC e 1188/2CC,
respectivamente para locatário, o parceiro pensador, o comodatário e o depositário). Sendo difícil sustentar a tese de que ao fazê-lo, a lei civil exclui
os embargos de terceiro do elenco das providências facultadas a esses possuidores em nome alheio para a defesa da sua posse, não se pode dizer
que o direito de acção que lhes é conferido se baseia, como o dos possuidores em nome próprio, na presunção de que neles radica a titularidade do
direito real sobre a coisa, mas antes na especial relevância do seu interesse próprio em continuar no gozo da coisa que contratualmente detêm,
conjugado com a presunção de que a titularidade do direito real, correspondente à posse da pessoa em nome de quem possuem, radica
efectivamente nesta. A atribuição ao possuidor em nome alheio de legitimidade para embargar só se compreende como medida de tutela directa do
interesse do terceiro (pessoa diversa do executado) que através dele possui, na medida em que dele dependa o interesse do embargante.

Quando o locatário (se se entender que não tem um direito real), o parceiro, o depositário ou o comodatário possui a coisa penhorada em nome do
executado, os embargos de terceiro não são admissíveis «, visto que, no conflito entre o direito real (constituído através da penhora) e o direito de
crédito, este, independentemente da data da sua constituição, terá de ceder perante o primeiro: as expressões “mesmo contra o locador” (1037CC),
“mesmo contra o parceiro proprietário (1125/2CC), “mesmo contra o comodante” (1133/2CC) e “mesmo contra o depositante” (1188/2CC) não têm
aplicação aos embargos de terceiro, em que não está em causa a defesa do possuidor em nome alheio em face da pessoa que através dele possui,
mas a sua defesa perante o terceiro exequente que, através da penhora, agride o património dela.

Mas, quando a posse tiver lugar em nome dum terceiro, da sintonia entre o interesse deste e o do possuidor em nome alheio resulta a legitimação
extraordinária deste último para embargar, em substituição processual daquele. Daqui resulta a necessidade de o possuidor em nome alheio, na
petição de embargos, alegar o título da sua posse e identificar a pessoa em nome de quem possui, em regime diverso do vigente para o possuidor em
nome próprio e justificado pela excepcionalidade da sua legitimação para embargar; e, na contestação dos embargos, a exceptio dominii continuará a
poder ser deduzida nos mesmos termos em que é dedutível perante o possuidor em ome próprio, i.e., mediante a invocação do direito de
propriedade (ou outro direito de fundo) do executado.

A execepcionalidade desta atribuição de legitimidade para embargar a certos possuidores em nome alheio não permitia, antes da revisão do CPC,
atribuí-la, na falta duma norma expressa, ao promitente adquirente duma coisa a quem antecipadamente tivesse sido feita a sua entrega, em
cumprimento de obrigação estabelecida no contrato celebrado, não obstante o aconselhasse o facto de ele exercer a posse na expectativa duma
aquisição futura: impedia-o, não obstante esta expectativa, o facto de esse exercício se fazer com base num direito de crédito e em nome do
promitente alienante.

O mesmo obstáculo não existia para o possuidor baseado em direito real de garantia (credor pignoratício, titular do direito de retenção ou, em certos
casos, consignatário de rendimentos 670/aCC, 758CC, 759/3CC, 661/1/bCC), visto ter uma posse em nome próprio.

A sua posse não é, em regra, ofendida pela penhora, pois tem mero fim de garantia dum crédito do possuidor e, reclamando-o no processo de
execução, o credor verá o seu interesse totalmente satisfeito. Mas pode haver casos em que se vislumbre um interesse jurídico do credor em
embargar. É o que acontece quando o prazo para o cumprimento é estabelecido no interesse, ainda que não exclusivo, do credor pignoratício ou
consignatário. Se o proprietário da coisa (ou titular do direito real de gozo sobre ela) for o executado, a consideração da finalidade do direito real de
garantia não permitirá defender que o credor possa embargar de terceiro, sem prejuízo do seu eventual direito a uma indemnização que pode, em
conformidade com o contrato celebrado, ser igualmente abrangido pela garantia constituída. Mas se o proprietário for um terceiro, já é defensável
que o credor possa, como possuidor em nome próprio, embargar de terceiro, em termos semelhantes àqueles em que o pode fazer o possuidor em
nome alheio a quem a lei civil concede o poder de embargar.

B. A qualidade de terceiro, expressão de interesse processual específico:

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B.1. Um dos traços distintivos dos embargos em análise é o de que o 342/1 exige ao titular do direito ou posse que se pretende defender da penhora
uma certa qualidade: ele não deve estar no processo como parte, sendo por isso “terceiro”. Trata-se de um conceito processual de terceiro: o
embargante não pode ser nem executado, nem exequente, nem cônjuge citado por força do 786/1, nem credor reclamante.

Exemplo: o facto de o embargante ter a qualidade de sócio gerente da sociedade executada, não o impede de embargar de terceiro contra uma
acção que penhora bens que alega serem seus e estarem na sua posse, pois a executada é a sociedade.

Por ser um conceito processual, também o devedor que seja penhorado, mas não seja executado é terceiro. Diversamente, já não é terceiro o
herdeiro habilitado como sucessor do primitivo executado: desde que executado, não pode deduzir embargos de terceiro.

B.2. Ao contrário, se o sujeito passou a ser parte na causa, perdeu a qualidade inicial de terceiro.

Exemplo: demandados B e C, devedores solidários, sendo citado de imediato B e penhorados por engano os bens de C, ainda não citado, este pode
embargar de terceiro até o ser; o terceiro que adquire a fracção autónoma do prédio hipotecado, torna inútil a lide nos embargos de terceiro
entretanto deduzidos por si.

Nesta eventualidade, a penhora deixa de ser subjectivamente inválida, pelo que os embargos devem extinguir-se não por ilegitimidade
superveniente, mas por inutilidade superveniente (227/e/2.ª parte), por perda de interesse processual.

Todavia, a penhora pode ainda ser nula se, por ter sido feita antes da aquisição da qualidade de parte, o (novo) executado não pôde, à época, exercer
os seus direitos, p.e., como não foi notificado, não pôde opor-se à penhora.

B.3. Suponha-se que penhoram bens do exequente ou de credor reclamante. Visto não serem nem terceiro, nem executado, estas partes não podem
nem embargar, nem opor-se à penhora respectivamente. Por isso, o meio de defesa é o simples requerimento ao tribunal, segundo o 723/1/d).

Mas, porventura, de iure condendo, seria mais adequada uma equiparação a terceiro, de modo a que a parte aproveitasse os benefícios desse
incidente.

É que o problema com que lidam os embargos de terceiro é, antes de mais, subjectivo e não tanto de não presença ou ausência na instância:
penhoram-se bens, que pela sua titularidade, não podem integrar o objecto da execução.

B.4. A qualidade de ser-se terceiro nada tem que ver nem com a legitimidade processual, i.e., o interesse directo (o qual advém da titularidade de
direito ou posse) nem com a procedência do pedido: independentemente da posição que ocupe fora ou dentro do processo, o sujeito tem um direito
ofendido e incompatível com a execução, maxime, um direito de propriedade. A qualidade de terceiro parece dizer respeito à admissibilidade
subjectiva do meio de defesa, i.e, ao interesse processual. O legislador quis reservar um procedimento com esta estrutura e regime para um terceiro.
E é por esta razão que a parte da execução que não seja executado não pode usar os embargos de terceiro. Se o fizer, haverá absolvição da instância.

C. Desde a revisão de 2013, a norma do 342/1 veio alargar a legitimidade activa para os embargos de terceiro: por um lado, desvinculou-a da posse,
ao admitir que os embargos se fundem em direito incompatível com a realização ou o âmbito da diligência; por outro lado, conferiu-a a todo o
possuidor (em nome próprio ou alheio) cuja posse seja incompatível com essa realização ou esse âmbito.

Para bem compreender o âmbito de previsão do preceito, há que partir do conceito de direito incompatível. Sabido que a penhora se destina a
possibilitar a ulterior venda executiva, é com ela incompatível todo o direito de terceiro, ainda que derivado do executado, cuja existência, tido em
conta o âmbito com que é feita, impediria a realização desta função, i.e., a transmissão forçada do objecto apreendido (840/1).

É incompatível com a penhora o direito de propriedade plena, que sempre impedirá a venda executiva do bem sobre o qual incide; e também o são
os direitos reais menores de gozo que, considerada a extensão da penhora, viriam a extinguir-se com a venda executiva. Seja de quem for que o
terceiro tenha derivado o seu direito (do executado ou de outrem), os embargos são-lhe consentidos.

Se estiver em causa um direito real de aquisição ou um direito real de garantia, a incompatibilidade não se verifica, visto que o respectivo titular
encontrará satisfação no esquema da acção executiva. Ponto é que esse direito, não tendo sido derivado do executado, não possa ser posto em causa
pelo facto de o bem penhorado a este pertencer, pois, ocorrendo esta situação, o titular do direito real de aquisição ou de garantia tem interesse em
embargar de terceiro, a fim de demonstrar que o bem penhorado pertence à pessoa de quem o seu direito derivou e, feita essa demonstração,
encontramo-nos, como no caso em que o direito real de gozo do embargante é incompatível com a penhora, perante um direito (de terceiro)
impeditivo da realização da função desta: a incompatibilidade do direito deste terceiro com a penhora resulta também na incompatibilidade com ela
do direito dele derivado. Ponto é ainda que, no caso do contrato de promessa, não haja divergência quanto ao seu conteúdo (ou, no limite, quando à
sua actual existência), pois, de outro modo, o terceiro promitente adquirente poderá optar por mover uma acção de execução específica, devendo,
na acção executiva, o bem ser vendido como litigioso, ou seja, com as cautelas do 840 (os embargos de terceiro, cuja procedência teria de ficar
dependente do êxito da acção de execução específica, continuam a ser inadmissíveis).

Quanto aos direitos pessoais de gozo e aos direitos pessoais de aquisição, não são nunca incompatíveis com a penhora: quando constituem direitos
de crédito contra o executado, os bens deste não deixam de, como tais, estar sujeitos à penhora, sem que, no segundo caso, o dever de os transmitir
a terceiro seja oponível ao exequente; quando se trata de direitos de crédito contra terceiro, que seja proprietário do bem penhorado (ou titular de
direito real menor sobre ele), há incompatibilidade entre o direito deste último e a penhora, mas o direito pessoal que no primeiro se baseie
continua a não ser oponível ao exequente e, portanto, incompatível com a penhora, ao seu titular cabendo, contra o seu devedor, o direito a ser
indemnizado.

Por sua vez, posse incompatível com a realização da penhora é, em primeiro lugar, aquela que, sendo exercida em nome próprio, constitui presunção
da titularidade de um direito incompatível: enquanto esta presunção não for ilidida, mediante a demonstração de que o direito de fundo radica no
executado, o possuidor em nome próprio é admitido a embargar de terceiro.

Incompatível com a realização da penhora é também a posse que, exercida em nome de outrem que não o executado, respeite a direito pessoal de
gozo ou de aquisição do bem penhorado. Cabem aqui, em primeiro lugar, as situações previstas no CC, de posse do locatário, do comodatário, do
depositário e do parceiro pensador. É o caso também do promitente adquirente para quem, em cumprimento de obrigação contratual, tenha sido
transferida a posse da coisa prometida. A tradição do bem penhorado para o tribunal, via depositário judicial, implicaria a insubsitência da posse
destes detentores e, com ela, a das pessoas em nome de quem possuem, em quem radica a presunção da titularidade do correspondente direito de
fundo.

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Assim, a incompatibilidade entre a penhora e o direito de terceiro verifica-se no plano funcional, com apelo ao âmbito e aos efeitos da futura venda
executiva, ao passo que a incompatibilidade entre ela e a posse de terceiro, sem que deixe de ter o plano funcional como ultima ratio, verifica-se em
face dos efeitos imediatos da penhora, só assim se explicando a atribuição da legitimidade para os embargos de terceiro a qualquer possuidor em
nome alheio afectado pela diligência. Mantendo a legitimidade para embargar os possuidores que já a tinham antes da revisão do CPC, a norma
proveniente da revisão veio estender, não apenas aos titulares de direitos reais não possuidores, mas também a possuidores em nome alheio a quem
a lei civil não a atribuía, a legitimidade para embargar de terceiro.

16.4.2. A titularidade do direito de fundo

Quando os embargos de terceiro são fundados apenas na posse (do embargante ou do terceiro em nome do qual ele possui), a legitimidade activa
baseia-se numa presunção de propriedade (ou de outro direito real de gozo) que, como tal, pode ser ilidida, vindo o 348/2 proporcionar, quer ao
exequente, quer ao executado, a alegação e a prova de que o direito de fundo (seja o direito de propriedade, seja outro direito real de gozo) pertence
a este. Provada a alegação, os embargos são julgados improcedentes.

Uma vez que a questão da propriedade, após a sua invocação pelo embargado, prevalece sobre a da posse, só o possuidor formal de coisa não
pertencente ao executado, pode ter a segurança, uma vez provada a causa de pedir, de que os embargos não serão julgados improcedentes.

O primeiro caso (possuidor causal) abrange, quer o possuidor-proprietário, que o possuidor cuja posse se baseie na titularidade dum direito real
menor de gozo (usufrutuário, proprietário de raiz, etc): este não pode impedir a penhora do direito real menor de que não é titular, mas embargará
procedentemente para evitar a penhora do seu direito (ex: o usufrutuário embarga para que a penhora que, por hipótese, incidiu sobre a
propriedade plena, seja reduzida à propriedade de raiz).

Para que a acção seja decidida no plano da titularidade do direito de fundo, e não no da posse, é necessário que esse direito seja invocado pelo
embargante na petição inicial ou pelo embargado na contestação, sem prejuízo, porém, da cognoscibilidade oficiosa da excepção de propriedade
quando sejam alegados e provados os factos em que ela se baseia.

16.4.3. Embargos do cônjuge do executado

Os embargos de terceiro são, portanto, o meio específico de reacção contra a penhora por parte de terceiros, baseando-se na impenhorabilidade
subjectiva dos bens destes.

Mas o terceiro pode ser o cônjuge do executado.

Permite-lhe expressamente o 343, quando tenha essa posição, a dedução de embargos para defesa dos seus direitos relativos aos bens próprios, bem
como dos relativos aos bens comuns que indevidamente hajam sido atingidos pela penhora.

Ao embargante cabe provar a natureza própria ou comum dos penhorados.

Tratando-se de bens próprios, a penhora não pode subsistir, uma vez que, mesmo quando respondam pela dívida segundo o direito substantivo, não
podiam ser apreendidos sem que o seu proprietário fosse executado.

Tratando-se de bens comuns, em dois casos não pode o cônjuge do executado embargar:

a) Quando tenha sido citado nos termos do 740/1 e o executado não tenha bens próprios;

b) Quando a penhora incida sobre bens levados para o casal pelo executado ou por ele posteriormente adquiridos a título gratuito e/ou sobre os
rendimentos de uns e outros desses bens, ou sobre bens sub-rogados no lugar deles, ou ainda sobre o produto do trabalho e os direitos de autor do
executado, dado que estes bens, ainda que comuns, respondem ao mesmo tempo que os bens próprios (1696/2CC).

Mas os embargos já são admissíveis quando, por haver bens próprios do executado, não esteja verificado o condicionalismo em que actua a
responsabilidade subsidiária, bem como quando não tenha sido feita a citação do cônjuge nos termos do 740/1.

16.4.4. Tramitação

A. Anteriormente qualificados como acção (possessória) e, após a revisão do CPC, como incidente (de intervenção de terceiros) da instância
executiva, os embargos de terceiro constituem, quando deduzidos contra a penhora, uma tramitação declarativa dependente do processo executivo
e que corre por apenso a este (344/1).

Devem ser deduzidos no prazo de 30 dias subsequente à penhora, ou ao posterior conhecimento desta pelo embargante (344/2), podendo, no
entanto, sê-lo ainda antes da penhora, desde que depois do despacho que a ordena (350); nunca, porém, depois da venda ou adjudicação dos bens
(344/2).

Devem ser deduzidos contra o exequente e o executado (348/1).

B. Têm a particularidade de se desdobrarem em duas fases:

- Uma fase introdutória, que tem por finalidade a emissão, pelo tribunal, dum juízo de admissibilidade. O embargante deve, na petição inicial,
oferecer prova sumária dos factos em que funda a sua pretensão (344/2), bem como alegar a data em que teve conhecimento da penhora, se sobre
ela já tiverem decorrido 30 dias. Proferido despacho liminar, logo se entra na fase da produção de prova, seguida do recebimento ou rejeição dos
embargos;

- Uma fase contraditória, que tem início com a notificação dos embargos para contestar, segue os termos do processo declarativo comum (348/1) e
tem como única especialidade a norma de legitimidade passiva constante no 348/2.

C. Relativamente à primeira fase, é de salientar que o DL 329-A/95 revogou o preceito que anteriormente estabelecia como fundamento de rejeição
dos embargos a circunstância de a posse do embargante se fundar em alienação feita pelo embargado com o fim de frustrar a execução.

Dado o desfasamento que o preceito introduzia relativamente ao regime do direito civil, a sua supressão foi ajustada. Em consequência, só na fase
contraditória dos embargos e com sujeição aos requisitos gerais da impugnação pauliana é que o exequente embargado pode pôr em causa a
alienação que o executado tenha feito, tal como pode fazer com qualquer outro fundamento de impugnação do acto ou causa da sua nulidade (erro,
incapacidade, simulação). Se a alienação tiver sido onerosa, não basta a finalidade prosseguida pelo executado ao transmitir: é precisa também a má-
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fé do adquirente, consistente na consciência do prejuízo causado ao credor (612CC). Se a alienação tiver sido gratuita, basta a anterioridade do
crédito do exequente relativamente ao acto e que, por este, o credor se tenha visto impossibilitado de obter satisfação (610CC).

D. Após o despacho de recebimento dos embargos, o processo de execução fica suspenso quanto aos bens a que os embargos digam respeito (347)
e, se estes tiverem sido deduzidos antes da penhora, esta não chegará a realizar-se até decisão final, sem prejuízo da fixação de caução (350/2).

No despacho que receba os embargos, o juiz ordena a restituição provisória da posse ao embargante, se este a tiver requerido, podendo condicioná-
la à prestação de caução (350/2, por interpretação extensiva).

Outra consequência do recebimento dos embargos é possibilitar o reforço ou a substituição da penhora (751/4/d).

E. Relativamente à segunda fase do processo de embargos, é de salientar que:

- Os termos do processo comum aplicam-se logo após a notificação dos embargados para contestar, pelo que o prazo para a contestação é de 30 dias,
segundo o 569/1 (contestação da acção);

- Qualquer dos embargados pode alegar na contestação, em reconvenção ou por excepção, que o bem penhorado pertence ao executado (348/2),
caso em que o tribunal conhecerá da questão da propriedade (ou da titularidade de outro direito real de gozo).

16.4.5. Natureza

Com a revisão, os embargos de terceiro passaram a ser regulados entre os incidentes da instância, mais especificamente entre os de intervenção de
terceiros, classificados como incidente de oposição (oposição mediante embargo).

16.4.6. A formação de caso julgado:

Se os embargos forem julgados procedentes, a penhora, se já tiver sido efectuada, é levantada.

Mas terá a sentença, de procedência ou de improcedência, eficácia de caso julgado fora do processo executivo?

A questão, que é a mesma que se põe para os embargos de executado, tem tido, na doutrina, solução mitigadamente afirmativa. Não sendo as
garantias das partes nem a complexidade da tramitação inferiores nos embargos de terceiro às da acção declarativa com processo comum, o caso
julgado produz-se. Quanto ao seu âmbito, estando sujeito às regras gerais que presidem à delimitação subjectiva e objectiva da sua eficácia, será
distinto consoante o fundamento dos embargos e o facto de, quando baseados na posse, ter sido levantada na contestação, a questão da
propriedade:

- Se os embargos se fundarem em direito de fundo do terceiro, ficará assente a existência ou inexistência deste direito;

- Se a causa se mantiver no âmbito da posse, ficará assente que o terceiro era ou não possuidor do bem penhorado à data da penhora;

- Se for invocado em reconvenção o direito de propriedade (ou outro direito real de gozo) do executado, ficará assente que este é ou não proprietário
do bem penhorado (ou titular do direito real menor invocado).

É o que está consagrado no 349.

16.5. A acção de reivindicação

16.5.1. Sua autonomia

Trata-se da acção declarativa comum ao alcance do proprietário (ou titular de outro direito real menor) cujo direito tenha sido ofendido com a
penhora.

É um meio totalmente autónomo relativamente ao processo executivo e que, como resulta do 839/1/d, pode levar, a todo o tempo, à anulação da
venda que neste for efectuada. Não deixa, porém, a sua propositura de poder ter efeitos na acção executiva: se for proposta antes da entrega dos
bens móveis ao adquirente e do levantamento do produto da venda pelos credores (841), ou se o reivindicante tiver protestado pela reivindicação
antes de efectuada a venda (840), a entrega só terá lugar depois de o adquirente prestar caução destinada a garantir o direito do reivindicante e, por
sua vez, os credores e restantes titulares de direitos sobre o produto da venda só poderão proceder ao seu levantamento depois de prestarem
também caução, esta em garantia do direito do comprador à restituição do preço no caso de proceder a reivindicação.

O proprietário pode, alternativamente, usar o meio dos embargos de terceiro ou a acção de reivindicação. Poderão também ser usados
cumulativamente, se os embargos forem e permanecerem fundados na posse, caso contrário havendo litispendência.

16.5.2. As interferências do registo

Se a penhora incidir sobre bem sujeito a registo, há que ter em conta as limitações decorrentes, para o terceiro reivindicante, das regras próprias do
registo.

Assim, registadas a penhora e a venda subsequente em processo executivo, o exequente e o adquirente do direito penhorado, que esteja, de boa fé,
gozam da protecção do registo, se este for anterior ao registo da acção de reivindicação e, alternativamente:

- o direito do reivindicante se fundar na nulidade ou anulação do negócio jurídico pelo qual o executado adquiriu o direito penhorado e a acção de
reivindicação não for registada nos três anos posteriores à conclusão do negócio (291CC);

- houver, fora desse condicionalismo, registo pré-existente a favor do executado, salvo se o direito do reivindicante se fundar em usucapião (17/2CRP
e 5/2/aCRP).

Já no caso de o direito do reivindicante se fundar em transmissão efectuada pelo executado, esta prevalece hoje, ainda que não registada, sobre os
direitos decorrentes da penhora e da venda executiva.

17. Convocações e concurso

17.1. Convocações
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17.1.1. Em geral

Feita a penhora, são convocados para a execução os credores do executado e, em certos casos, o seu cônjuge (786/1/5).

Por estas convocações, vai dar-se a possibilidade de intervenção na acção executiva a outras pessoas para além do exequente e do executado.

Vimos já que essas pessoas convocadas, uma vez que intervenham no processo, passam a desempenhar, ao lado do exequente ou do executado, a
função de parte, acessória ou principal.

Sendo chamadas pela primeira vez ao processo, a sua convocação faz-se sob a forma de citação (219/1), cuja falta ou nulidade tem o mesmo efeito
que a falta ou nulidade da citação do réu (187 a 191), mas com restrições quanto à anulação derivada dos actos posteriores (786/6).

17.1.2. Dos credores

A. No esquema da nossa lei processual civil, são convocados os credores que gozam de garantia real sobre o bem penhorado (786/1/b e 788/1). Esta
delimitação do âmbito do concurso de credores dá-nos a finalidade que é visada com a sua convocação: visto que a penhora será, normalmente,
seguida da transmissão dos direitos do executado, livres de todos os direitos reais de garantia que os limitam (824CC), os credores vêm ao processo,
não tanto para fazerem valer os seus direitos de garantia sobre os bens penhorados. Daí, três consequências:

a) O credor reclamante só pode receber o valor dos bens penhorados sobre os quais tem garantia (796/2) e, se esse valor não chegar para o
pagamento integral do seu crédito, a única possibilidade que tem é a de mover outra execução, onde nomeará outros bens do devedor à penhora.

b) Qualquer resultado que deixe incólume o direito real de garantia pode ser obtido, na acção executiva, sem atenção ao credor. Ora o direito real de
garantia só caduca com a transmissão do bem onerado na acção executiva (824/2CC), pelo que, quando ela não ocorra, o direito do credor não tem
de ser atendido na execução. Assim, nos casos de consignação de rendimentos, pagamento voluntário, extinção da obrigação (exequenda) por causa
diferente do pagamento, desistência da instância de recurso ou procedência da oposição à execução, os credores reclamantes não obtêm a satisfação
na acção executiva, ressalvada a excepção consignada no 920/2;

c) Os poderes processuais do credor reclamante, para além dos que respeitam à verificação e graduação do seu próprio crédito, circunscrevem-se
nos limites do seu direito de garantia: o credor só pode impugnar os créditos que tenham igualmente garantia dobre os bens que especialmente
garantem o seu crédito (789/3); só pode pedir a adjudicação dos bens penhorados sobre os quais tem garantia (799/2); só pode tomar posição
quanto à venda dos mesmos bens (821/2/3 e 834/1/a); também assim nos casos do 382/a/b e 835/1; só é dispensado do depósito do preço quando
tenha garantia sobre o bem que haja adquirido (815/1); só pode substituir-se ao exequente, na prática de acto que ele tenha negligenciado, quanto
aos bens sobre os quais tenha invocado garantia (763/4).

B. São citados os credores com direito real de garantia registado e os que forem conhecidos (747/2 e 786/1/b)/3/4), bem como ainda a Fazenda
Pública, o ISS, IP e O IGFSS. O DL38/2003 suprimiu a citação dos credores (786/7).

17.1.3. Do cônjuge do executado

A. O cônjuge do executado só é convocado em dois casos:

- quando a penhora tenha recaído sobre bem comum do casal, 740;

- quando a penhora tenha recaído sobre bem imóvel ou estabelecimento comercial que o executado não possa alienar livremente (786/1/a).

Neste último caso, os bens só podem ser alienados por ambos os cônjuges, estão, salvo na vigência do regime da separação de bens, os imóveis
próprios ou comuns e o estabelecimento comercial (1682-A/1CC), bem como, no regime da separação de bens, a cada da morada de família (1692-
A/2CC).

Na acção declarativa, tal como na acção executiva para entrega de coisa certa baseada no direito de propriedade do exequente, impõe o 34/3, em
consonância com o regime substantivo, a propositura contra ambos os cônjuges de acções de que possa resultar a perda ou oneração de bens
(móveis ou imóveis) que só pode ambos podem ser alienados ou a perda de direitos que só por ambos podem ser exercidos.

Na acção executiva para pagamento de quantia certa, a citação do cônjuge do executado visa a mesma finalidade de adequação do regime
processual ao de direito substantivo, mas circunscritamente aos bens imóveis ou estabelecimento comercial. Note-se, porém, que, ao referir o bens
imóveis ou estabelecimento comercial, o 786/1/a está incluindo os direitos reais menores de gozo sobre eles (204/1/dCC); e que, impondo o 740/1 a
citação do cônjuge do executado quando são penhorados bens comuns, o que o 786/1 acrescenta é a imposição da citação do cônjuge nos casos de
penhora de bem próprio do executado.

B. Em qualquer dos casos, o cônjuge do executado, uma vez convocado, pode, como resulta do 787:

a) Deduzir o incidente de oposição à penhora (784/1);

b) Impugnar os créditos reclamados (789/2);

c) Pronunciar-se sobre o objecto, a forma e as condições de alienação dos bens, nos mesmos termos em que tal é consentido ao executado (812/1,
813/3, 814/2, 821/1, 825/1/a/b, 832/a/b, 834/1/a);

d) Impugnar irregularidades que se comentam quanto à alienação dos bens (822/1 e 835/1);

e) Pedir a sustação da venda 813/1;

f) Opor-se ao acordo dos credores quanto à entrega da venda ao agente de execução (833/2), a reclamar de acto deste (723/1/c e, em especial,
812/7) e suscitar questões perante o juiz (723/1/d);

g) Opor-se à execução.

Havendo oposição entre a posição tomada pelo executado e a assumida pelo cônjuge, em matéria em que releve a pura vontade da parte (p.e, 813/3
ou 821), o juiz decidirá nos termos gerais do 723/1/d.

A oposição do cônjuge à execução e à penhora deve ter lugar no prazo de 20 dias.

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Fora o caso em que a execução passe a correr também contra ele, por aceitação da comunicabilidade da dívida ou decisão do incidente de
comunicabilidade, ao cônjuge não é consentido fazer valer, em oposição, fundamento já invocado pelo executado em oposição própria: o cônjuge do
executado actua, na oposição à execução, como substituto processual deste.

17.2. Pressupostos específicos da reclamação de créditos

17.2.1. Enunciação

São pressupostos específicos da reclamação de créditos:

- a existência de garantia real sobre os bens penhorados;

- a existência de título executivo;

- a certeza e a liquidez da obrigação.

Diferentemente da obrigação exequenda, a obrigação do credor reclamante pode ser inexigível, e, se assim for, há lugar ao desconto, no final, dos
juros correspondentes ao período de antecipação (791/3).

17.2.2. A garantia real

A. Só o credor com garantia real sobre os bens penhorados tem o ónus de reclamar o seu crédito na execução, a fim de concorrer à distribuição do
produto da venda.

Será este ónus extensivo ao credor cuja garantia incida apenas sobre os rendimentos dos bens penhorados (credo com o privilégio dos arts. 739CC e
740CC ou credor consignatário nos termos do 656CC)?

O problema põe-se na medida em que a penhora não abrange os frutos, naturais ou civis, sobre os quais exista privilégio (758/1). Sendo o objecto da
venda delimitado pelo objecto da penhora, dir-se-ia que a transmissão de bens nessas condições não abrange os respectivos rendimentos: o
privilégio ou a consignação de rendimentos subsistiria para além da venda em processo executivo e o credor não poderia reclamar neste o
pagamento.

Analisando, porém, melhor os preceitos aplicáveis, concluímos em sentido contrário.

Por um lado, são causas paritárias de exclusão dos frutos do objecto da penhora a existência de garantia real sobre eles e a restrição expressa
(758/1). Ora, transferindo a venda em execução para o adquirente os direitos do executado sobre a coisa vendida (824/1CC), e integrando o direito
de propriedade os poderes de fruição da coisa (1305CC), não pode deixar de se entender que tenham sido expressamente excluídos da penhora. Se
assim não fosse, estaríamos perante um fraccionamento do direito de propriedade não admitido por lei. Da equiparação das duas situações resulta
que a limitação do objecto da penhora não implica a limitação, em qualquer delas do objecto da venda.

Por outro lado, o 805/2, ao prever a venda, livre desse ónus, dos bens penhorados sobre os quais seja constituída consignação de rendimentos a
favor do exequente, está-se reportando, necessariamente, à venda em processo executivo, considerando-lhe assim plenamente aplicável o 824/2CC.

A opção da nossa lei positiva é no sentido de atribuir ao titular de garantia sobre os rendimentos do bem penhorado o ónus de reclamação do seu
crédito.

B. Restringindo a lei ao credor com garantia real a possibilidade de reclamação, não é de aceitar, de jure constituto, que os credores com preferência
de pagamento sobre património autónomo possa, com base nela, reclamar os seus créditos quando sejam penhorados bens desse património em
execução movida por credor que não goze de igual preferência. Esta posição, que já se defendeu entre nós por ANSELMO DE CASTRO, concederia,
p.e., legitimidade para reclamar aos credores dum herança quando, em execução, um credor pessoal do herdeiro penhorasse bens a ela
pertencentes (20270/1CC), ou aos credores comuns do casal quando, em execução movida a um dos cônjuges por dívida própria, fossem penhorados
bens comuns (1696/1CC). A esses credores cabe, para defesa dos seus direitos, requerer a falência do devedor, se tal for o caso; mas nada poderão
fazer no processo de execução. O afastamento do esquema de execução colectiva mal se compadeceria com este chamamento à execução de todos
os credores dum património autónomo.

C. O credor que não tenha garantia real à data da penhora pode obtê-la no decurso do prazo das reclamações, mediante a constituição de hipoteca
judicial, se tiver sentença a seu favor e o bem penhorado for um imóvel ou móvel sujeito a registo (710CC), ou mediante arresto do bem penhorado
(619CC, 622/2CC e 391). Fora desse prazo, pode ainda efectuar penhora sobre o mesmo bem em execução própria, após o que reclamará o seu
crédito na outra execução (788/5 e 794). Do mesmo modo, pode o credor com direito a hipoteca legal sobre os bens penhorados (705CC) constituí-la
mediante registo (708CC).

D. A reforma da acção executiva intentou circunscrever a reclamação de créditos por parte do credor com privilégio creditório geral, tida em conta a
subversão da função da acção executiva que o privilégio creditório propicia.

No projecto que acompanhou o pedido de autorização legislativa, o credor com privilégio creditório geral não era admitido a reclamar (salvo
tratando-se de crédito de trabalhador) quando fosse penhorado algum bem só parcialmente penhorável (738), renda ou outro rendimento periódico
(779/1), veículo automóvel (768/2), moeda corrente, nacional ou estrangeira, ou depósito bancário em dinheiro (798/1), e ainda quando o
exequente requeresse procedentemente a consignação de rendimentos (803/1) ou a adjudicação, em dação em cumprimento, do direito de crédito
no qual a penhora tivesse incidido, antes de convocados os credores (799/1/5). Mas, fora dos casos de bem só parcialmente penhorável, rendimento
periódico e veículo automóvel, o projecto-lei introduziu um requisito de valor que muito limitou o alcance da inovação: o crédito exequendo há de
ser inferior a 190UC, ou, em interpretação extensiva, os bens penhorados hão de ter valor inferior a esse limite, ainda que o valor da obrigação
exequenda lhe seja superior.

A norma mantém-se no 788/4, com ligeira ampliação: também quando a penhora tenha incidido em bens móveis de valor inferior a 25UC é
inadmissível a reclamação do credor com privilégio crédito geral.

Nos casos em que a reclamação é admitida, e salvo tratando-se de crédito de trabalhador (796/4), o crédito com privilégio creditório geral pode
sofrer uma redução: nos termos do 796/3, é reduzido até 50% do remanescente do produto da venda, deduzidas as custas da execução e as quantias

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a pagar aos credores que devam ser graduados antes do exequente, na medida do necessário ao pagamento de 50% do crédito do exequente, até
que este receba o valor correspondente a 250UC.

Desta norma resulta que:

- Quando concorram ao produto da venda apenas o exequente e o credor privilegiado, o pagamento a este é reduzido na medida necessária ao
pagamento de 50% do crédito do exequente, mas com a garantia mínima de 50% do remanescente do produto da venda após a dedução das custas;
logo, porém, que o exequente atinja o plafond de 250UC, a limitação para o credor privilegiado deixa de se aplicar;

- Quando concorra ao produto da venda, além do exequente e do credor privilegiado, outro credor que deva preferir ao exequente (credor
hipotecário ou pignoratício com garantia real anterior, por exemplo), a redução do crédito com privilégio só tem lugar na medida em que tal
aproveite ao exequente, sem que dela possa beneficiar ou por ela possa ser prejudicado outro credor. Assim, devendo o credor pignoratício ser pago
antes do credor privilegiado (749CC), a questão só se porá se algo sobrar depois dele pago, aplicando-se a norma à distribuição do remanescente; e,
devendo o credor hipotecário naqueles casos em que tal não importe inconstitucionalidade, ser pago depois do credor privilegiado, há que apurar o
remanescente, o apuramento da parte devida ao exequente nos termos da norma do n.º3 e seguidamente deduzir na parte do credor privilegiado a
parte assim atribuída ao exequente.

Quer a norma do 788/4, quer a do 796/3, conhecem a restrição decorrente da inadmissibilidade, por inconstitucionalidade, dos privilégios
creditórios imobiliários gerais.

17.2.3. O título executivo

É aplicável tudo quanto se disse sobre o título executivo enquanto pressuposto da acção executiva.

Mas, podendo um credor com garantia real sobre o bem penhorado não dispor ainda de título no termo do prazo para a reclamação, é-lhe facultado
requerer, dentro deste prazo, que a graduação dos créditos aguarda a sua obtenção (792/1), em acção já pendente ou a propor no prazo de 20 dias
(792/7/a), sem prejuízo de o processo executivo prosseguir até à venda ou adjudicação dos bens penhorados e de se fazer entretanto a verificação
dos restantes créditos (792/6).

É ainda possibilitada a formação dum título executivo judicial impróprio, que evitará a propositura da acção: o executado é notificado para, no prazo
de 10 dias, se pronunciar sobre a existência do crédito invocado (792/2) e, se i reconhecer ou nada disser (a menos neste caso, que esteja pendente
acção declarativa para a sua apreciação), considera-se formado o título executivo, sem prejuízo de o crédito poder ser impugnado pelo exequente ou
restantes credores (792/3).

Havendo que propor acção (por o executado ter negado a existência do crédito), nela intervêm, como partes em litisconsórcio necessário, o
exequente e os credores reclamantes com garantia real sobre o mesmo bem (792/5).

Constitui ónus do credor provar que propôs a acção e ónus do exequente, quando a acção esteja já pendente à data do requerimento, provar que o
credor nela não requereu a intervenção principal do exequente e dos restantes credores. Cabe também ao exequente provar a negligência do credor
em promover os termos da acção, com a consequência de esta estar parada durante 30 dias; no final, cabe ao credor provar, em 15 dias, a obtenção
de decisão favorável e ao exequente que foi proferida decisão desfavorável (792/7).

Ao possibilitar a formação do título executivo judicial impróprio, a reforma da acção executiva simplificou o processo conducente à obtenção do
título. Outra solução, que radicalmente suprimiria a necessidade da acção autónoma , consistiria em dispensar o título executivo, reservando a
apreciação da existência do crédito para o apenso de verificação e graduação.

17.2.4. A certeza da obrigação

Se a obrigação do credor não for qualitativamente determinada, ele lançará mãos dos meios que o exequente tem à sua disposição para a tornar
certa (788/7).

Quando a escolha não dependa do credor e este não torne certa a obrigação dentro do prazo que tem para reclamar, a dedução do direito terá lugar
em forma alternativa, a resolver no momento em que a obrigação se tenha tornado certa.

17.2.5. A liquidez da obrigação

Tal como no caso da obrigação exequenda, a liquidez do crédito reclamado não tem de se verificar à data da reclamação, também aqui dispondo o
credor dos mesmo meios de que dispõe o exequente (788/7).

Assim, quando a liquidação é feita na acção executiva, por o título executivo não ser uma sentença judicial, a reclamação tem logo lugar, requerendo-
se com ela a liquidação , nos termos do 716, a que se procede no próprio apenso das reclamações (788/8).

Quando o título executivo é uma sentença, é na acção declarativa que a liquidação há de ter lugar, nos termos do 358 a 360, dado que o credor
reclamante em execução alheia dispões dos mesmos meios de que dispõe o exequente. Vista a existência de prazos para reclamar, ao credor que, no
termo do prazo que tem para a reclamação, ainda não tenha obtido decisão que liquide a obrigação objecto de sentença genérica, tem de ser
permitido, em aplicação analógica do 792/1, requerer que a graduação dos créditos, relativamente ao bem sobre o qual tenha garantia, aguarde a
liquidação na acção declarativa, entenda-se esse requerimento como veículo duma reclamação a completar mais tarde ou como mero anúncio de
uma reclamação futura.

17.3. A acção de verificação e graduação de créditos

17.3.1. Fases

O concurso de credores é processado por apenso ao processo de execução (788/8). Trata-se de mais um processo declarativo de estrutura autónoma,
mas funcionalmente subordinado ao processo executivo. Vamos sucessivamente considerar:

- os articulados;

- a verificação dos créditos;

- a graduação dos créditos.


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A convocação é feita nos autos do processo executivo e só comas as reclamações (petições iniciais) é que tem início a acção declarativa. Esta é uma
só para todas as reclamações.

17.3.2. Articulados

Citados os credores, estes podem, no prazo peremptório de 15 dias (788/2) reclamar os seus créditos, mediante a apresentação de petição, que é
articulada quando o crédito reclamado for de valor superior à alçada do tribunal de 1.ª instância (58/2 e 147/2).

Terminado o último prazo para a reclamação dos créditos, as reclamações apresentadas são notificadas ao exequente, ao executado, ao cônjuge
deste e aos outros credores reclamantes, que, em articulado, podem impugnar os créditos reclamados e as respectivas garantias, limitadamente, no
que aos credores respeita, àqueles de que seja invocada garantia sobre os mesmos bens; podem ainda os credores, impugnar o crédito do exequente
e as respectivas garantias, igualmente em articulados (789/3a5).

Se não houver impugnação, o crédito ter-se-á por reconhecido (791/2): trata-se dum processo cominatório pleno.

Havendo impugnação, o credor reclamante tem direito a resposta, a dar em 10 dias (790).

17.3.3. Verificação

Se nenhum crédito tiver sido impugnado ou, tendo havido impugnação, não houver prova a produzir, o juiz proferirá sentença de verificação dos
créditos reclamados, acabando aí o processo (791/2).

Se, pelo contrário, a verificação de algum dos créditos reclamados estiver dependente de produção de prova, seguir-se-ão os termos do processo
comum de declaração, sem prejuízo de, no despacho saneador, o juiz julgar verificados os créditos cujo reconhecimento não estiver dependente de
produção de prova (791/1). Segue-se, relativamente aos restantes, a fase de instrução e, no final, tem lugar sentença a verificá-los.

A verificação pode, nos termos gerais, consistir no reconhecimento do crédito ou no seu não reconhecimento, podendo igualmente o tribunal não
entrar na verificação de certo crédito por julgar procedente uma excepção dilatória conducente à absolvição da instância (com alcance limitado a
esse crédito).

17.3.4. Graduação

A. Logo que estejam verificados todos os créditos reclamados, o juiz gradua-os, isto é, estabelece a ordem pela qual devem ser satisfeitos, incluindo o
crédito do exequente, de acordo com os preceitos aplicáveis de direito substantivo.

É assim que:

- em caso de concurso sobre a mesma coisa móvel, prevalece o direito real de garantia que mais cedo tiver sido constituído ou que mais cedo tiver
sido registado (6/1CRP), salvo disposição em contrário (cfr. 746CC) e com a excepção do privilégio mobiliário geral, que é graduado em último lugar
(749CC e 750CC);

- em caso de concurso sobre a mesma coisa imóvel, o privilégio imobiliário é graduado em primeiro lugar, seguido do direito de retenção e, a seguir,
da hipoteca e da consignação de rendimentos, prevalecendo entre as duas últimas a que for registada em primeiro lugar (751CC, 759/2CC e 6/1CRP);

- concorrendo entre si vários privilégios creditórios, a ordem de prevalência é, em geral, a dos 745CC a 748CC, mas há várias disposições avulsas,
designadamente no domínio do direito fiscal e parafiscal, que estabelecem o lugar em que são graduados determinados privilégios;

- o crédito do exequente, se for apenas garantido pela penhora, será graduado depois deste créditos (a menos que, estando sujeitos a registo, o
registo da penhora lhes seja anterior), mas antes dos credores que, por segunda penhora, arresto ou hipoteca judicial, constituam garantia real
posteriormente à penhora. Se o exequente tiver direito real de garantia, deve atender-se à natureza e à data de constituição deste.

B. Obedecendo a uma preocupação de tutela dos interesses do Estado e outras pessoas colectivas públicas, em detrimento dos credores particulares,
o nosso legislador tem vindo a criar numerosos privilégios creditórios gerais para garantia das dívidas de impostos e de contribuições para a Seg.
Social. É assim subvertida a finalidade do processo executivo, desviado da sua função de realização coactiva do crédito do exequente para a de
cobrança mediante aproveitamento da actividade deste, desses créditos fiscais e parafiscais. Por lei graduado à frente do exequente, o credor
privilegiado, cujo crédito é normalmente desconhecido quando a execução é instaurada, acaba frequentemente por ser o único a ser pago pelo
produto da venda dos bens penhorados, enquanto o exequente não consegue encontrar no património do devedor bens que lhe permitam a
satisfação do seu direito.

Esta subversão, que o CC quis atenuar, constitui, ao menos em alguns casos, violação do direito fundamental de acesso à justiça e do princípio da
confiança, pois possibilita a retirada ao exequente da tutela judiciária assegurada pela acção executiva e altera, por forma não transparente, a base a
que assenta a constituição das garantias especiais, razão esta pela qual alguns privilégios creditórios gerais foram declarados inconstitucional, com
força obrigatória geral.

17.3.5. Formação de caso julgado

Tal como relativamente às outras acções declarativas em dependência funcional da acção executiva, também em face da acção de verificação e
graduação de créditos se coloca a questão da eficácia extraprocessual da sentença nela proferida.

Mas, diversamente do que acontece nos embargos de terceiro, nos embargos de executado, a acção de verificação e graduação dos créditos não
oferece ao devedor garantias idênticas ou equiparáveis à acção declarativa comum.

Nela vigora o efeito cominatório pleno, que a revisão do CPC aboliu no âmbito do processo declarativo comum, mesmo quando o executado, não
pessoalmente notificado do despacho que admita as reclamações (designadamente, por se verificar o condicionalismo do 240), tenha sido citado
editalmente para a execução. O reconhecimento do crédito não impugnado tem assim lugar, ainda que os factos alegados pelo reclamante não
permitam essa conclusão e que o executado não tenha tido efectivo conhecimento da acção.

Por outro lado, se esta constatação levará a defender que o caso julgado material só se produz na acção de verificação e graduação de créditos
quando o executado nela tenha intervenção efectiva ou quando para ela tenha sido pessoalmente notificado e todos os créditos sejam impugnados
(pelo exequente, por outro credor reclamante ou pelo cônjuge do executado), a consideração de que, em qualquer caso, o objecto da acção de

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verificação e graduação não é tanto a pretensão de reconhecimento do direito de crédito como a de reconhecimento do direito real que o garante
relega o conhecimento do crédito para o campo dos pressupostos da decisão, como tal não abrangido pelo caso julgado. Assim se explica que, apesar
de expressamente reconhecer a força de caso julgado, nos termos gerais, às sentenças de mérito proferidas nos embargos de executado (732/5) e
nos embargos de terceiro (349), o CPC nada diga sobre a sentença de verificação e graduação de créditos.

O caso julgado produz-se apenas quanto ao reconhecimento do direito real de garantia, ficando por ele reconhecido o crédito reclamado só na
estrita medida em que funda a existência actual desse direito real. Verificado o pressuposto da intervenção do executado na acção, o caso julgado
forma-se quanto à graduação, mas não quanto à verificação dos créditos.

17.3.6. Estado de insolvência do executado

Se ocorrer a situação de insolvência do executado (3CIRE) e for, em consequência, requerida, no respectivo processo especial, a recuperação da
empresa ou a insolvência, pode qualquer credor requerer a suspensão de execução, a fim de impedir que nela se façam os pagamentos (793).

No processo de insolvência o concurso é universal, nele reclamando também pagamento os credores comuns do insolvente.

Sabemos já que, decretada a insolvência, cessa a preferência concedida pela penhora.

18. Venda executiva

18.1. Modalidades

18.1.1. Quais são

A. Uma vez os bens penhorados, pode a sua venda não dever esperar o momento normal para ser realizada, sendo feita antecipadamente (814). Tal
pode acontecer por os bens estarem sujeitos a deterioração ou depreciação ou por haver manifesta vantagem na antecipação da venda, ou seja,
casos em que a realização da venda no seu momento normal produziria um preço menor ou impossibilitaria a obtenção de um preço superior. Cabe
ao juiz autorizar a venda antecipada – após a audição contraditória das partes, se a venda não exigir decisão imediata (814/2) -, que é efectuada pelo
depositário ou, quando este seja o executado, pelo agente de execução, em ambos os casos por negociação particular (832/c). Fora estes casos
excepcionais, as diligências para a venda dos bens só se iniciam com termo do prazo para as reclamações de créditos.

B. Terminado o prazo para as reclamações de créditos, a execução prossegue, sem prejuízo de correr paralelamente o apenso de verificação e
graduação (796/1).

Tem então lugar, em regra, a venda dos bens penhorados para, com o produto nela apurado, se efectuar o pagamento da obrigação exequenda e das
verificadas no apenso de verificação e graduação.

São modalidades de venda: a venda em leilão electrónico; a venda em mercados regulamentados; a venda directa a pessoas ou entidades que
tenham direito a adquirir os bens penhorados; a venda mediante proposta por carta fechada; a venda por negociação particular; a venda em
estabelecimento de leilões, a venda em depósito público (811/1).

Caso especial de venda executiva constitui a adjudicação dos bens penhorados (799 e ss), que se articula com a modalidade da venda por proposta
por carta fechada.

18.1.2. Quando têm lugar

A. A indicação da modalidade de venda cabe ao agente de execução (812/2/a), limitando-se, em regra, a verificar os requisitos que a lei faz depender
a modalidade da venda. Tem, porém, a possibilidade de escolha entre a venda por negociação particular e a venda em estabelecimento de leilão,
quando se frustre a venda de coisa móvel em depósito público (832/e e 834/1/b), e pode, por motivo justificado, entender que não é de recorrer à
modalidade preferencial da venda em leilão electrónico.

Fora dos casos seguidamente indicados, com o n.º 1 a 3, sob a al a), a venda em leilão electrónico constitui no CPC, a modalidade preferencial de
venda dos bens móveis e imóveis (837/1). Se ela não for, por motivo justificado, utilizada, ou se frustrar, a venda por propostas em carta fechada
constituirá a forma normal da venda executiva de bens imóveis e a venda em depósito público ou equiparado a forma norma da venda executiva de
bens móveis (764/1 e 836/1), constituindo as restantes formas excepcionais.

Sendo o bem penhorado um direito, a venda por propostas em carta fechada deve ter lugar, não só quando tenha por objecto um estabelecimento
comercial de valor superior a 500UC (816/1 e 829/1), mas também, por analogia, quando esteja em causa um direito real respeitante a bem imóvel
ou a estabelecimento comercial de valor superior a 500UC; nos outros casos (direitos reais menores sobre coisas móveis, quotas-partes e coisas
móveis, direito ou expectativa de aquisição de coisa móvel ou direito de crédito), deve o agente de execução, também por analogia, poder escolher
entre a venda por negociação particular e a venda em estabelecimento de leilão.

B. As modalidade excepcionais têm lugar:

a) quando a lei as impõe, como acontece com:

- os instrumentos financeiros e as mercadorias com cotação em mercados regulamentados, que nestes são vendidos (830);

- os bens que determinadas pessoas têm direito a comprar e por isso lhes são vendidos directamente (831), incluindo os que tenham sido objecto de
contrato-promessa com eficácia real;

- os bens cujo valor seja inferior a 4 UC, que são vendidos por negociação particular (832/g);

- os bens que não se tenha conseguido vender mediante propostas em carta fechada, que são vendidos, em regra, por negociaçaõ particular (832/d);

b) quando o exequente, o executado ou um credor reclamante com garantia sobre os bens a vender proponha a venda em estabelecimento de leilão
e não haja oposição dos restantes (834/1/a) ou quando todos estejam de acordo na venda por negociação particular (832/a/b);

c) quando a lei concede ao agente de execução a opção entre mais de uma modalidade de venda (como já referido).

A determinação da modalidade de venda é precedida de audição do exequente, do executado e dos credores com garantia sobre os bens a vender
(812/1) e comunicada seguidamente aos mesmos, que podem reclamar para o juiz. Este decide, sem admissibilidade de recurso (812/6/7).
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C. A venda em leilão electrónico faz-se nos termos da Portaria 282/2013, de 29 de agosto (837/1).

Quanto à venda por proposta em carta fechada, consta das seguintes formalidades:

- É fixado 85% do valor base dos bens o valor a anunciar para a venda (816/2);

- São publicados editais e anúncios, sem prejuízo do recurso a outros meios que garantam maior publicidade (817);

- Entre o momento das publicações e o da venda, o depositário tem a obrigação de mostrar os bens a quem pretenda examiná-los (818);

- São notificados os titulares do direito de preferência na alienação dos bens (819);

- As propostas são abertas na presença do juiz, salvo quando, na venda de estabelecimento comercial, ele não o entenda necessário (829/2), tendo
lugar, quando necessária, licitação entre os proponentes (que tenham oferecido preço igual ou superior aos restantes) ou sorteio (820/1/2/3);

- O exequente pode manifestar a vontade de adquirir os bens e, se o fizer, abre-se licitação entre ele e o proponente de maior preço ou, estando este
ausente, faculta-se ao exequente a possibilidade de cobrir a respectiva proposta (820/5);

- O executado, o exequente e os credores presentes deliberam sobre as propostas apresentadas, salvo se nenhum estiver presente, caso em que é
automaticamente aceite a proposta de maior preço, desde que superior ao valor anunciado para a venda (821);

- São interpelados os titulares do direito de preferência presentes para que declarem se o querem exercer, abrindo-se, se necessário, licitação entre
eles (823/1/2);

- Quer os proponentes, com a proposta, quer o preferente, ao preferir, devem apresentar, como caução, um cheque visado de 5% do valor anunciado
para a venda ou garantia bancária no mesmo valor (824/3 e 824/1);

- O preço da venda é depositado pelo proponente aceite ou pelo preferente, deduzido o valor do cheque que a haja entregue, à ordem do agente de
execução ou, na sua falta, da secretaria, dentro de 15 dias (824/2), com o que a venda se aperfeiçoa, produzindo os seus efeitos, mas podendo o
agente de execução, se o depósito não for feito, determinar que a venda fique “sem efeito” (825/1/a/b), em vez de exigir o cumprimento forçado
(825/1/c);

- Após o depósito e cumpridas as obrigações fiscais (IMI ou IVA), passa-se título da transmissão (827/1), com base no qual o adquirente pode
requerer contra o detentor, no próprio processo de execução, a entrega de bens (828) e comunica-se a venda à conservatória competente para
registo oficioso, sendo caso disso (827/2).

A venda em depósito público ou equiparado (i.e., depósito aberto ao público, ainda que pertencente a entidade concessionária privada) realiza-se
nos termos de portaria (836/3), que é actualmente, a Portaria 2828/2013, alterada pela Portaria 233/2014 e pela Portaria 329/2015.

18.1.3. Dispensa de depósito

A compra pode ser efectuada por terceiro, pelo exequente ou por um credor reclamante.

O exequente ou o credor com garantia sobre o bem comprado é dispensado de depositar “a parte do preço que não seja necessária para pagar a
credores graduados antes dele (Estado, pelas custas, incluído) e não exceda a importância que tem direito a receber” (815/1). Dá-se assim, com
atenção ao lugar em que o crédito do comprador tenha sido graduado e ao seu montante, a compensação (total ou parcial) entre a dívida do preço e
o crédito exequendo ou verificado.

18.1.4. Adjudicação de bens

Semelhante compensação dá-se no regime geral da adjudicação de bens.

No seu regime geral, a adjudicação dos bens penhorados tem a particularizá-la:

- Ter lugar a pertir da proposta de compra do bem penhorado, formulada pelo exequente ou por um credor com garantia real sobre esse bem, por
conta do respectivo crédito (799/1/2), em requerimento que indique o preço oferecido (799/3);

- Constituir preferência, pelo preço oferecido, a favor do requerente, a quem o bem será atribuído se não surgirem propostas de compra por um
preço superior, quer em venda judicial que esteja já anunciada à data do requerimento (799/a e 801/3), quer em cartas fechadas recebidas após a
sua publicitação (800 e 801/1).

A reforma da acção executiva criou um regime especial: no caso de adjudicação de direito de crédito pecuniário não litigioso, o valor da adjudicação
determina-se pelo valor da prestação devida, descontado o juro negativo correspondente ao período de tempo que falte até ao vencimento; este
regime é obrigatório quando a data do vencimento é próxima e facultativo quando assim não seja (799/5); encontramo-nos, agora, perante uma
verdadeira dação em cumprimento. O apuramento do valor da adjudicação depende do mero cálculo aritmético e, por isso, é dispensável o concurso
de outros interessados; não é também admitida a reclamação do credor com privilégio creditório geral quando o crédito do exequente ou o crédito
adjudicado (se outros bens não houver penhorados) for inferior a 190UC (788/4/c), o que, a menos que incida num penhor sobre o crédito, implicará
normalmente que não haja concurso de credores. Mas, considerando o risco da incobrabilidade do crédito, o requerente pode pretender que a
adjudicação lhe seja feita a título de dação pro solvendo (799/6; 840/2CC), só sendo então determinado o valor a abater no seu crédito quando,
ocorrido o vencimento, o terceiro devedor entregue ao requerente a prestação (777/2).

Com as necessárias adaptações, aplicam-se, subsidiariamente as disposições relativas à venda (maxime as relativas à venda por propostas em carta
fechada), incluindo a respeitante à dispensa do depósito do preço (800/3 e 802).

18.2. Remição e preferências

18.2.1. Direito de remição

A lei processual concede ao cônjuge e aos parentes em linha reta do executado (845) um especial direito de preferência, denominado direito de
remição.

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Tem por finalidade a protecção do património familiar e evita, quando exercido, a saída dos bens penhorados do âmbito da família do executado. Na
prática, por detrás do executado está frequentemente um remidor: um devedor que deixa executar todos os seus bens, na mira de que o preço
obtido na venda executiva fique muito aquém do valor dos débitos, pode livrar-se de boa parte das suas dívidas sem que os bens saiam do âmbito da
família e sem o risco que implicaria uma transmissão particular, simulada ou não, para o adquirente remidor, i.e., o risco de ser demandado numa
acção de simulação ou pauliana. Em contrapartida, o conhecimento da existência do direito de remição e da probabilidade do seu exercício podem
levar o exequente e os restantes credores do executado a oferecer pelos bens penhorados valor superior ao que ofereceriam noutras circunstâncias,
diminuindo, assim, a margem de lucro que o comprador normalmente obtém em processo de execução.

Direito de preferência pela sua natureza, o direito de remissão é, no entanto, um direito de preferência qualificado, na medida em que, em caso de
concorrência, prevalece sobre o direito de preferência em sentido estrito (844). Mas, circunscrito ao processo executivo, o exercício do direito de
remição só pode ter lugar num prazo apertado, que varia consoante a modalidade da venda e a formalização (ou não) desta por escrito: até à
emissão do título de transmissão ou ao termo do prazo para preferência, no caso do 825/3, quando a venda se faz por propostas em carta fechada
(843/1/a); até à assinatura do título de venda, se o houver, ou à entrega do bem, na falta de forma escrita, nas outras modalidades de venda
(843/1/b).

18.2.2. Direito de preferência

O direito de preferência convencional sem eficácia real não é reconhecido em processo executivo (422CC). Mas são nele reconhecidos o direito de
preferência legal e o direito de preferência convencional que tenha eficácia real. O primeiro prevalece sobre o segundo (422CC).

Os titulares do direito de preferência são notificados para o exercer (800/2, 810/2 e 819/1), devendo fazê-lo no próprio acto e estando sujeitos às
mesmas regras do proponente quanto ao pagamento do preço (823/3 e 824/2, na venda por proposta em carta fechada).

Quando não seja feita a notificação, segue-se o regime geral da lei civil e o titular do direito pode propor a acção de preferência no prazo que a lei,
consoante a causa do seu direito, lhe concede (819/4).

18.3. Efeitos

18.3.1. O enunciado legal

As particularidades da venda executiva levam a que ela tenha outros efeitos além dos essenciais da compra e venda em geral. Assim:

«Os bens são transmitidos livres dos direitos de garantia que os oneram, bem como dos demais direitos que não tenham registo anterior ao de
qualquer arresto, penhora ou garantia, com excepção dos que, constituídos em data anterior, produzam efeitos em relação a terceiros
independentemente de registo» (824/2CC);

«Os direitos de terceiro que caducarem nos termos do número anterior, transferem-se para o produto da venda dos respectivos bens» (824/3CC).

A interpretação deste normativo não é isenta de dificuldades.

18.3.2. Caducidade dos direitos reais

Comecemos pelo preceituado no n.º2:

Quanto aos direitos reais de garantia, todos eles caducam: os bens são sempre transmitidos livres de todos eles, sejam de constituição anterior ou
posterior à penhora, tenha havido ou não reclamação na execução dos créditos que garantem.

Mas, no campo dos direitos reais de gozo, há que distinguir entre os que sejam de constituição (ou registo, se se tratar de coisas imóveis ou de
móveis a ele sujeitos) anterior à constituição (ou registo) de todos os direitos reais de garantia invocados ou constituídos no processo de execução e
os que sejam de constituição (ou registo) posterior à constituição (ou registo) de qualquer deles.

Para que se verifique o primeiro caso, é preciso, pois, que os direitos de garantia de todos os credores (incluindo o exequente) sejam de data
posterior à do direito real de gozo (ex: usufruto) dum terceiro. E, quando a lei refere «qualquer arresto, penhora ou garantia», abrange tanto o direito
real constituído, fora do processo de execução, por um credor reclamante (e que serve de fundamento à sua reclamação) como o direito real do
exequente, quer este seja anterior à execução (trata-se, p.e., da execução dum crédito hipotecário, ou duma execução que foi procedida de arresto),
quer seja constituído na própria execução (o exequente é um credor comum e só com a penhora adquire um direito real de garantia).

Ora, neste primeiro caso, o direito real de gozo do terceiro subsiste. De resto, normalmente a penhora não terá abrangido esse direito (no exemplo
dado: terá sido abrangida a propriedade de raiz, mas não o usufruto) e, se tal aconteceu, o terceiro ter-se-lhe-á provavelmente oposto por embargos.
Mas, mesmo que o bem tenha sido penhorado como se o executado sobre ele tivesse a propriedade plena, o terceiro não tenha embargado e a
venda tenha tido por objecto a propriedade plena, o direito do terceiro subsiste, podendo ele propor uma acção comum em que o seu direito será
reconhecido contra o adquirente na venda executiva.

Vejamos o segundo caso e distingamos nele três momentos possíveis de constituição (ou registo) do direito real de gozo:

a) posterior à constituição (ou registo) da penhora;

b) anterior à constituição (ou registo) da penhora, mas depois da constituição (ou registo) dum direito real precedente (hipoteca voluntária ou
judicial, arresto, etc) do exequente;

c) anterior à constituição (ou registo) de qualquer direito real do exequente, mas depois da constituição (ou registo) do direito real de garantia
invocado por um dos credores reclamantes.

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Em qualquer destas hipóteses, a lei determina que os bens se transmitam livres do direito real do terceiro, o que é o mesmo que dizer que se
transmite a propriedade plena e não apenas o direito real menos de gozo do executado (no nosso exemplo: a propriedade de raiz, direito de
propriedade limitado pelo usufruto).

Nas hipóteses a) e b), tal não oferece dificuldade: o direito do exequente não pode ser limitado por um direito posterior, que na primeira hipótese
até normalmente lhe é inoponível e na segunda deu certamente lugar a uma execução movida, nos termos do 54/4, contra o devedor e o terceiro. A
penhora, consequentemente, abrangeu a propriedade plena e é essa que é transmitida.

Mas, na hipótese c), as coisas complicam-se. Agora, a penhora não abrangeu certamente, tal como não o abrangeu no primeiro caso (direito real de
gozo anterior a qualquer direito real de garantia), o direito real de gozo do terceiro (o exequente penhorou, no nosso exemplo, a propriedade de raiz
do executado, mas não o usufruto do terceiro), mas a lei vem dizer que, pela venda, o bem se transmite livre desse direito real. Estaremos perante
um caso em que o objecto da venda pode ir além do objecto da penhora? Ou deverá o 824/2CC ser interpretado restritivamente, quando se refere a
qualquer arresto, penhora ou garantia a favor do exequente?

A interpretação literal do artigo tem por si a consideração da grande probabilidade de prejuízo que, para o credor com garantia constituída antes da
limitação da propriedade plena, adviria de, na interpretação restritiva, obter na execução o pagamento de parte apenas do seu crédito, em
consequência da restrição apresentada pelo direito do executado à data da execução (no exemplo, a restrição da propriedade de raiz), vendo-se
obrigado a nova execução contra o terceiro (no exemplo, o usufrutuário) para obter o pagamento do resto do crédito. Embora a reclamação de
créditos tenha, como vimos, a finalidade de garantia do credor, e não tanto a de pagamento do seu crédito, certo é que «a venda, não da
propriedade plena, mas de direitos parcelares, pode prejudicá-lo: a soma do que estes renderem raramente será o que renderia a propriedade
plena».

Certa parece ser a conclusão de que o 824/2CC tem se ser interpretado como estamos fazendo; mas, então, o único meio de aproximar o objecto da
penhora do da venda estará na disponibilidade do credor com direito real de garantia anterior e consistirá em este, uma vez citado, requerer a
extensão da penhora ao objecto da sua garantia e, simultaneamente, a citação do terceiro (o usufrutuário do nosso exemplo), com base no 54/2,
para tomar a posição de executado no processo. Se não o fizer, aceita o credor que o seu crédito seja pago na execução só pelo produto do direito
penhorado (na parte proporcional ao valor total do prédio), subsistindo o direito de gozo do terceiro e conservando o credor a sua garantia, pelo
remanescente, quanto a esse direito.

Note-se que esta última solução está de acordo com o que decorre do 824/2CC quanto aos direitos reais de garantia que contam para o efeito de
verificar a anterioridade do direito real de gozo: apenas interessa, para este efeito restrito, os direitos reais que garantem créditos reclamados e,
portanto, também com o âmbito com que foram reclamados; se o credor não requerer a extensão da penhora ao objecto da sua garantia, está
implicitamente renunciado a invocar a totalidade deste objecto na execução.

18.3.3. Transferência para o produto da venda

A lei considera caducos os direitos que não acompanham a transmissão pela venda executiva, mas acrescenta que eles se transferem para o produto
da venda. Não estamos perante uma verdadeira caducidade, mas perante uma sub-rogação objectiva.

A norma constante do 824/3CC não sofre qualquer limitação literal. É, no entanto, corrente excluir do seu âmbito de aplicação os direitos reais de
garantia, de garantia ou de gozo, constituídos pelo executado posteriormente à penhora (ou ao seu registo), bem como os direitos reais anteriores
constituídos para garantia de crédito não reclamados na execução. Argumenta-se, neste sentido, com a ineficácia do acto de constituição dos
primeiros relativamente à execução (819CC) e, quanto aos segundos, com o facto de não poderem ser tomados em consideração no processo
executivo créditos que aí não tenham sido oportunamente reclamados. LEBRE DE FREITAS crê que não fazendo a lei qualquer distinção literal, não há
também qualquer razão para a fazer, desde que nos entendamos sobre o conceito de transmissão para o produto da venda.

Vendido o direito penhorado, o produto da venda é, no processo executivo, distribuído pelo exequente e demais credores reclamantes, de acordo
com a ordem estabelecida na sentença de graduação dos créditos. Caducando um direito real de gozo posterior a algum dos direitos reais de garantia
(do exequente ou dum credor reclamante) que se yemja feito valer no processo, mas anterior à penhora nele efectuada, tem o respectivo titular
também direito a receber a sua parte do produto da vendado bem, com respeito pela ordem decorrente das datas de constitução (ou registo) dos
vários direitos em causa.

Só estes direitos são atendidos no processo de execução.

Se algo restar ainda do preço da venda, deve ser restituído ao executado.

Mas a norma da ineficácia relativa do acto dispositivo, precisamente porque circunscreve a inoponibilidade do acto à esfera da execução, não impede
que, uma vez atingido o fim desta, os titulares de direitos reais constituídos pelo executado posteriormente à penhora reclamem direitos sobre o
eventual remanescente do produto da venda. E o mesmo se dirá dos titulares dos direitos reais de garantia que não tenham reclamado pagamento
na execução. Não há razão nenhuma para que a sub-rogação do objecto do direito não tenha lugar. Pelo contrário, a ideia de sub-rogação
corresponde a um princípio geral dedutível de várias normas sobre a extinção dos direitos reais (cfr. 692CC, 823CC, 1478CC e 1539/2CC).

Claro que, recorrendo a juízo, o titular do direito real terá fazê-lo em processo distinto e autónomo da execução. Por outro lado, só pode fazer valer o
seu direito, no plano real, enquanto o remanescente da venda não for recebido pelo executado ou, uma vez recebido, enquanto for possível provar a
origem da quantia em dinheiro à qual se arroga direito.

18.3.4. Cancelamento de registos

Caducando direitos sobre bens sujeitos a registo, o agente de execução comunica a venda ao serviço do registo competente e este procede,
oficiosamente, ao cancelamento das inscrições respectivas, incluindo a da própria penhora (827/2). O cancelamento faz-se perante o título de
transmissão dos bens, do qual constará , quando a venda não tenha lugar mediante proposta em carta fechada ou em depósito público, que ela é
feita pela pessoa para tanto legitimada (833/1 e 834/2, ver também o 831), no âmbito da execução.

Efectuada simultaneamente com o cancelamento das inscrições relativas aos direitos que tenham caducado, a inscrição da venda obedece, tal como
a da penhora (755/1) ao princípio da instância.

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18.4. Anulação

18.4.1. Casos de anulação

A venda executiva é anulável quando ocorra algum dos fundamentos indicados no 838 e 839.

Desses, alguns respeitam a vícios nos pressupostos do acto: existência de ónus ou limitação que não tenha sido tomado em consideração e exceda os
limites normais inerentes aos direitos da mesma categoria; erro sobre a coisa transmitida, por desconformidade com o que tiver sido anunciado
(838/1). Outros integram nulidades processuais: falta ou nulidade da citação do executado revel (839/1/b); nulidade do acto anterior de que a venda
dependa absolutamente (839/1/c e 195/2); nulidade da própria venda (839/1/c e 195/1). Outros ainda têm a ver com a irregular constituição,
originária ou superveniente, do processo executivo, por falta de pressupostos ou inexistência da obrigação exequenda: anulação ou revogação da
sentença exequenda; procedência da oposição à execução ou à penhora (839/1/a). Consagra-se, enfim, a impenhorabilidade subjectiva do bem
vendido, reconhecida em acção de reivindicação (839/1/d).

18.4.2. Tutela do comprador

Os dois primeiros fundamentos (existência de ónus ou limitação não considerado e erro sobre a coisa transmitida), constantes do 838, visam a tutela
do comprador e por isso estão na sua exclusiva disponibilidade. Integram situações de erro acerca do objecto jurídico (ónus ou limitação) ou material
(identidade ou qualidade da coisa transmitida) da venda, mas têm a caracterizá-los, quando comparado o seu regime com o regime geral da anulação
do negócio jurídico por erro (257CC e 251CC), a dispensa dos requisitos de que a lei a faz depender, designadamente a essencialidade para o
declarante e o seu conhecimento ou cognoscibilidade pelo declaratário; basta por isso que o ónus ou limitação não tenha sido tomado em
consideração ou que a identidade ou as qualidades do bem vendido divirjam das que tiverem sido anunciadas.

A anulação da venda começa por ser pedida no processo executivo. Mas se, por complexidade da questão, o comprador for remetido para uma acção
de anulação, a correr autonomamente, esta terá de ser proposta no prazo de um ano do 287/1CC (838/3). O comprador pode fazer também valer o
seu direito a uma indemnização (838/1). A anulabilidade é sanável com o desaparecimento do ónus, limitação ou desconformidade (906CC).

Não só por erro a venda executiva pode ser anulada a requerimento do comprador. Este pode também fazer valer contra ela os restantes
fundamentos de anulação do negócio jurídico (incapacidade, dolo, coação). O preceito do 838 tem a justificá-lo o especial regime consagrado para o
erro, mas, considerando o interesse do comprador, tão merecedor de tutela como o comprador na compra e venda privada, não visa impedir a
anulação no caso de ocorrer outro fundamento de acordo com a lei geral. No entanto, esses outros fundamentos são de muito difícil verificação na
venda executiva.

18.4.3. A tutela de outros interessados

Os restantes fundamentos do 839 não visam já a tutela do comprador, mas sim o executado (al.a)/b), o terceiro proprietário (al.d) ou uma das partes
no processo (al.c).

Não vamos proceder à sua análise, mas apenas salientar algumas particularidades importantes do regime:

- Nos casos das al. a), b) e c), a restituição tem de ser pedida no prazo de 30 dias a contar da decisão definitiva proferida sobre o recurso, a oposição
ou a anulação, sob pena de o executado só ter direito ao preço. Perdida a restituição, o comprador só tem de restituir o bem vendido depois de ser
reembolsado do preço e das despesas da compra (IMI, escritura, etc). A restituição do preço é feita pelo tribunal, no caso de o produto da venda
ainda estar depositado à sua ordem, ou pelo exequente e pelos credores que o hajam recebido, se o pagamento tiver sido efectuado, caso em que a
obrigação de restituição pode estar garantida por caução (704/3 e 733/4).

- A anulação da execução por falta ou nulidade da citação do executado, consignada no 851, pode ter lugar a todo o tempo, com o limite da
usucapião da coisa transmitida (n.º4), e ressalva sempre a sanação da nulidade por intervenção do executado no processo (189). O mesmo efeito tem
a falta ou nulidade da citação de credores ou do cônjuge do executado, mas só quando apenas beneficiar o exequente (786/6), isto é, quando tiver
sido ele o adquirente.

- A anulação do acto da venda nos termos do 195 e ss. pode ocorrer, que por nulidade da própria venda (n.º1), quer por nulidade de acto anterior de
que dependa absolutamente (n.º2);

- Procedendo a reivindicação, o comprador tem direito ao preço que desembolsou, o qual lhe deve ser restituído pelo exequente e pelos credores
que o hajam recebido, podendo ainda pedir uma indemnização, pelos danos que tenha sofrido, ao exequente, aos credores e ao executado que
hajam procedido com culpa (825/1CC). Este direito à indemnização não existe em regra, se o proprietário tiver protestado pela reivindicação antes do
acto da venda, pois se entende que o risco decorrente da reivindicação foi assumido pelo comprado (825/2CC e 840).

18.5. Natureza

É discutido se a venda executiva é um acto de direito privado ou de direito público.

A questão põe-se, não só pelo intervenção que o tribunal tem na venda executiva, para a qual não conta, ou só conta em pequena medida, a vontade
do proprietário do bem vendido, mas também considerando particularidades do seu regime que a afastam do regime da compra e venda comum.
Designadamente, a regra de caducidade do 824/2CC tem como consequência a aquisição pelo comprador de mais do que aquilo que o proprietário
lhe poderia transmitir, a anulação do acto tem um regime distinto do de direito civil e distintos são também o regime do pagamento do preço e as
sanções decorrentes, nos termos do 825, da sua inobservância.

Mas a sujeição da venda executiva, para além destas disposições especiais, ao regime geral da compra e venda, leva a caracterizá-la como um
contrato especial de compra e venda com características de acto de direito público. Ou, de acordo com uma corrente da doutrina alemã, um contrato
de direito público semelhante à compra e venda privada; ou ainda um misto de acto de direito público, em relação ao vendedor, e de acto de direito
privado, em relação ao comprador (ac. Do STJ de 9.1.79). A intervenção do tribunal reveste-se de autoridade, caracterizando aspectos nítidos de
direito público.

19. Pagamento

19.1. Meios de atingir o pagamento

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Nem sempre a venda (adjudicação de bens incluída) é necessária para se atingir o fim último da execução.

Ao pagamento se pode chegar também, mais directamente, pela entrega de dinheiro que tenha sido apreendido ou resulte do pagamento de
créditos pecuniários que hajam sido objecto de penhora (798). No primeiro caso, a própria natureza do objecto da penhora é incompatível com a
venda; no segundo, idêntica incompatibilidade surge, por via de sub-rogação, quando o pagamento, mediante depósito em instituição de crédito à
ordem do agente de execução ou da secretaria (777/1), tem lugar antes da venda do crédito penhorado.

Pode, por outro lado, ter lugar a consignação de rendimentos, caso em que o fim da execução consegue dispensando a venda dos bens.

19.2. Consignação de rendimentos

A consignação de rendimentos é condicionada pela natureza do objecto da penhora, pois só pode ter lugar quando esteja em causa:

- um bem imóvel ou um bem móvel sujeito a registo (803/1), seja qual for o direito que sobre ele tenha o executado (direito de propriedade plena,
quota de comproprietário ou direito real menor que implique a fruição da coisa, em titularidade exclusiva ou em contitularidade);

- um título de crédito nominativo (805/3, cfr. 774).

Só o exequente tem legitimidade para requerer, ao agente de execução, a consignação de rendimentos e pode fazê-lo entre o momento da realização
da penhora e o da venda ou adjudicação dos bens penhorados (803/1). É necessário o acordo ou o silêncio do executado (803/2). A consignação de
rendimentos tem a particularidade de dispensar a convocação dos credores, se for requerida antes de a ela se proceder (803/3). É efectuada, tal
como a penhora, por comunicação à conservatória (803/4), que a regista por averbamento ao registo da penhora (803/5), ou, no caso do título de
crédito, por comunicação à entidade registadora (102CVM, 103CVM, 305/3/iCSC e 340CSC), sendo seguidamente objecto de averbamento no título
(805, 102/1CVM e 103CVM).

Consiste, como a designação inculca, na afectação, com eficácia real, dos rendimentos dos bens penhorados ao pagamento do crédito do exequente
(656/1CC), na totalidade deste ou no remanescente que esteja por pagar (após, por exemplo, um pagamento parcial subsequente à venda de outro
bem que tenha sido penhorado).

Das três modalidade de consignação admitidas pelo 661/1CC, apenas a de atribuição de rendimentos proveniente de contrato de locação ou
equiparado é possível, mas tal não exclui que o contrato possa ser celebrado com o próprio exequente. Uma vez feita a consignação e pagas as custas
da execução, esta é julgada extinta, levantando-se a penhora sobre o bem cujos rendimentos foram consignados, no seu efeito de assegurar a
preferência a favor do exequente (805/2).

Esta preferência virá a interessar ao exequente no caso de venda judicial de bem penhorado, em outra execução: se esta for movida por credor que
não tenha direito real de garantia constituído em data anterior à penhora, o consignatário será pago antes dele; do mesmo modo, será pago antes
dos credores reclamantes que tenham garantia real posterior.

Vê-se também que, existindo credor com garantia real anterior à penhora, que não tenha sido convocado para reclamar o seu crédito (em virtude do
803/3), o consignatário pode ter de mover nova execução para penhora de novos bens, se o valor obtido pela venda judicial em execução que venha
a ser movida por esse credor não chegar para o seu pagamento. Este risco está em perfeita consonância com a dispensa da citação dos credores
ainda não efectuada, pois de outro modo seriam injustificadamente prejudicados os não convocados.

Note-se que este regime caracteriza a consignação de rendimentos como uma dação pro solvendo (840CC).

19.3. Ordem dos pagamentos

O pagamento coercivo tem lugar segundo a ordem determinada na sentença de graduação de créditos, sendo, porém, sempre pagas em primeiro
lugar as custas da execução (541) e sendo atendidos igualmente, na respectiva ordem, os direitos reais de gozo que tenham caducado com a venda
executiva e sejam oponíveis à execução. Ao executado é entregue o eventual remanescente.

Mas, por imposição da lei tributária (81CPPT), o levantamento desse remanescente não pode ter lugar sem que o executado, ou o adquirente do
remanescente, prove que nada deve à Fazenda Nacional. Os direitos da Fazenda Nacional, já excessivamente tutelados através do esquema dos
privilégios creditórios criados por lei especial, voltam assim a sê-lo na fase do pagamento.

Feita a distribuição, sem precedência de despacho judicial que a ordene, a execução, atingido (ou frustrado) o seu fim, extingue-se.

19.4. Pagamento em prestações

Com a revisão do CPC, tornou-se admissíveis, fora do esquema da transacção, o pagamento em prestações da dívida exequenda.

Necessário é que o exequente e o executado manifestem o seu acordo com um plano de pagamento, que comuniquem ao agente de execução
(806/1), antes da transmissão do bem penhorado ou, no caso de venda por proposta de carta fechada, até à aceitação da proposta vencedora
(806/2).

Segue-se a extinção da instância executiva (806/2), embora a instância se renove quando o acordo não seja cumprido e o exequente pretenda obter a
satisfação do remanescente (808/1), bastando para tanto a falta de pagamento de uma prestação (781CC).

Como, a partir da reclamação de créditos, há que atender também ao interesse dos credores reclamantes, também o credor cujo crédito esteja
vencido pode requerer a renovação da instância para satisfação do seu crédito (809/1). Se o fizer, ao exequente é conferido o direito de denúncia do
acordo, a exercer no prazo de 10 dias contados da notificação para o efeito lhe é efectuada; se exercer este direito, o remanescente do seu crédito
será satisfeito pelo produto da venda do bem penhorado, nos termos da graduação de créditos (a efectuar ou já efectuada); se não o exercer, perde o
direito de garantia constituído a seu favor pela penhora e, assumindo a posição de exequente o credor que tenha exercido o direito a prosseguir com
a execução, esta prossegue apenas para satisfação do seu crédito e dos restantes credores reclamantes com garantia real sobre o bem penhorado
(809/2/3/4).

O acordo de pagamento a prestações pode abranger os credores reclamantes, estando nesse caso sujeito ao regime do 810 (“acordo global”).

Se o exequente declarar que não prescinde da penhora, esta converte-se automaticamente em hipoteca ou penhor, como tal averbado no registo
sendo caso disso e mantendo a propriedade da anterior garantia (807/1/2/3/4). Sob pena de injustificada desigualdade entre os credores, esta

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hipoteca ou penhor legal deve entender-se sujeita ao regime da invocabilidade no processo de insolvência que é estatuído pelo 140/3CIRE para
hipoteca legal, idêntico ao da penhora.

20. Extinção e anulação da execução

20.1. Extinção da execução

20.1.1. Causas

A causa norma da extinção da execução é o pagamento coercivo. Mas, tal como a acção declarativa se pode extinguir sem que se tenha atingido a
sentença de mérito, também na acção executiva a extinção pode ter lugar por causas diferentes do pagamento coercivo, seja por extinção da
obrigação exequenda, seja por motivos diferentes.

20.1.2. Extinção da obrigação exequenda

A. O pagamento pode efectuar-se coercivamente na sequência dos actos executivos que conhecemos, ou por acto voluntário do executado ou
terceiro. A este se refere o 846.

Embora o preceito se refira apenas ao pagamento das custas e da dívida exequenda, no cálculo da quantia a depositar há que entrar também em
conta com os créditos reclamados, quando o requerimento for feito após a venda ou adjudicação de bens, cuja eficácia em nada é afectada pelo acto
de pagamento que lhe seja posterior.

A este pagamento voluntário chama-se remição da execução.

B. A obrigação também pode extingui-se por qualquer outra causa prevista na lei civil: dação em cumprimento, consignação em depósito,
compensação, novação, remissão, confusão (837CC a 873CC).

Ocorrida extrajudicialmente a extinção, é junto ao processo documento que a comprove, após o que tem lugar a liquidação da responsabilidade do
executado (quanto a custas ou, após a venda ou adjudicação de bens, também quanto aos créditos reclamados para serem pagos pelo produto da
venda desses bens) e a subsequente extinção da execução.

20.1.3. Outras causas

A execução pode ainda extinguir-se em consequência da revogação da sentença exequenda (em instância de recurso, que tenha efeito meramente
devolutivo) ou da procedência dos embargos do executado. Pode também o juiz, oficiosamente, extinguir a instância nos termos do 734 (rejeição
oficiosa), até ao primeiro acto de transmissão de bens penhorados.

Pode também a execução extinguir-se por não serem encontrados nem indicados bens penhoráveis (748/3, 750/2 e 855/4), bem como em
consequência da adjudicação pro solvendo do direito de crédito (779/4/b e 799/6), do acordo para pagamento em prestações (806/2) ou da sustação
legal da segunda execução sobre o mesmo bem (794/4).

Pode ainda o exequente desistir da instância ou do pedido, caso em que, porém, o exemplo do que acontece com as causas de extinção referidas no
número anterior, serão pagos os credores graduados se já tiver havido venda ou adjudicação de bens (848). A desistência do pedido, tendo na acção
executiva a mesma natureza de negócio de direito privado que tem na acção declarativa, não pode ser entendida como renúncia ao direito de
executar o crédito (o que brigaria com a irrenunciabilidade do direito de acção), mas como renúncia ao próprio crédito exequendo. De particular tem
que não é homologada por sentença, produzindo directamente, não só os seus efeitos de direito civil (como na acção declarativa), mas também o
efeito processual de extinção da instância executiva.

Podem, finalmente, dos casos de extinção da instância (em geral) indicados no 277, verificar-se na acção executiva a deserção (281) e a transacção
(com alcance paralelo ao da desistência do pedido).

20.1.4. Termo do processo executivo

Até à reforma da acção executiva, a extinção da execução tinha lugar, salvo o caso de deserção da instância (281), mediante uma sentença que lhe
punha termo e devia (tal como hoje a ocorrência da extinção automática da execução: 849/2), ser notificada ao executado, ao exequente e aos
credores reclamantes.

A natureza desta sentença era controvertida. Para quem entendia haver lugar à formação de caso julgado material no processo executivo, constituía-
o essa sentença, sempre que por ela se julgasse extinta a execução por extinção da obrigação exequenda.

Com a reforma da acção executiva, deixou de ter lugar essa sentença, produzindo-se automaticamente o efeito extintivo da instância (849/1).

A extinção da execução produzi-se quando se verifica algum dos seguintes factos (que, constatados pelo agente de execução, dão origem às
notificações do 849/2):

- depósito efectuado nos termos do 847/4, no caso de pagamento voluntário judicial (846/1) ou de extinção extrajudicial da obrigação exequenda
(846/5);

- pagamento das custas da execução, no caso de desistência do exequente, nos termos do 848;

- pagamento das custas de execução e outras, referidas no 541, da obrigação exequenda e dos créditos graduados com garantia sobre os bens
vendidos ou adjudicados no caso do pagamento forçado;

- pagamento das custas de execução, mediante a ocorrência de outra causa extintiva da instância, seja das que vêm indicadas no 277
(nomeadamente, a deserção, a desistência e a transacção: 281, 283/2 e 285), seja uma causa de extinção privativa da execução (revogação da
sentença exequenda, com efeito do 704/2; procedência dos embargos de executado, com efeito do 732/4; rejeição oficiosa da execução, nos termos
do 734).

A questão de formação de caso julgado no processo executivo, deixou de se colocar. Mas, hoje, o efeito substantivo do facto extintivo da obrigação
exequenda (pagamento ou outro) invocado na acção executiva não deixa de se produzir, obstando ao êxito duma nova acção executiva, mas não
impedindo a propositura, pelo executado, duma acção de restituição do indevido.

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20.2. Anulação da execução

O processo de execução pode ser anulado, salvando-se apenas o requerimento inicial.

Tal acontece quando se verifique a falta ou nulidade da citação (851/1 a articular com o 786/6), a qual pode ser arguida a todo o tempo, enquanto
não deva considerar-se sanada pela intervenção dos interessados. A arguição da falta ou simples nulidade da citação é ainda possível depois da
extinção da execução (851/3), sendo inaplicável o 191/2.

A falta ou nulidade da citação rege-se pelas disposições dos arts. 187 a 191 que não estejam em contradição com o 851/1, decorrendo do 187 que a
anulação do processo não implica nulidade do requerimento inicial de execução, que se aproveitará.

20.3. Renovação da acção executiva

20.3.1. Causas

Depois de extinta, a acção executiva pode renovar-se no mesmo processo. Isto pode acontecer:

- por iniciativa do exequente, para cobrança coerciva de prestações vincendas (850/1) ou do remanescente do crédito exequendo após o pagamento
efectuado por força do direito de crédito penhorado (779/5 e, implicitamente, 799/6), bem como mediante indicação superveniente de bens
penhoráveis (850/5), nomeadamente após a extinção, sem venda do bem penhorado, da execução em que ele tenha reclamado, como titular de
segunda penhora sobre o mesmo bem (794/4):

- por iniciativa dum credor reclamante que pretenda prosseguir com a execução (809/1 e 850/2);

- por iniciativa do exequente ou dum credor reclamante, para cobrança coerciva do remanescente do crédito, quando alguma das prestações
acordadas para pagamento não seja paga (808/1 e 810/3);

- por iniciativa do adquirente dos bens penhorados, que deles tenha dificuldade em tomar posse efectiva (828);

- por iniciativa do executado, que requeira a anulação da execução, por falta ou nulidade da citação.

Vejamos agora os casos do 850/1/2 e do 828.

20.3.2. A satisfação de prestações vincendas

O primeiro caso pode verificar-se quando a execução tem por base um título de trato sucessivo.

Trata-se dum título executivo do qual conste uma obrigação periódica (ex: obrigação de pagar juros de um empréstimo) ou pagar em prestações (ex:
prestações do preço duma compra e venda).

Vencidas novas prestações, a execução pode renovar-se no mesmo processo, a fim de nele se proceder à sua cobrança.

Claro que isto só é possível quando no título conste a obrigação de pagamento de todas essas prestações (sentença que julgue procedente um
pedido formulado nos termos do 557/1; escritura pública de abertura de crédito ou de fornecimento, em execução da qual sejam efectuadas várias
prestações, nos termos do 707; etc)

20.3.3. A satisfação de crédito reclamado

O segundo caso pode verificar-se quando a extinção da execução tenha lugar após a reclamação dum crédito já vencido, mas antes da venda ou
adjudicação dos bens que o garantem.

Pode então o credor requerer, no prazo de 10 dias contados da notificação da extinção da execução (849/2), o prosseguimento desta para pagamento
do seu crédito, após a verificação da graduação (se estes actos não tiverem tido lugar), por força dos bens sobre os quais tem garantia. O requerente
assume a posição de exequente e a acção executiva prossegue, limitadamente a esses bens, pelo produto de cuja venda serão pagos, não só o novo
exequente, mas também os credores para o efeito graduados.

A renovação da acção executiva por iniciativa do credor reclamante ode ter lugar quando a extinção da execução tenha ocorrido por extinção da
obrigação exequenda, por desistência do exequente ou por transacção.

Mas já não pode nos casos de procedência da oposição à execução ou de revogação da sentença exequenda, como resulta do regime que decorre
dos 839/1/a), 847/2 e 848/1. A solução harmoniza-se com a ideia geral de que a reclamação de créditos não visa directamente a satisfação dos
créditos reclamados. A norma do 850/2 alia a uma razão de economia processual a consideração duma presunção de responsabilidade do executado
que, no caso da procedência da oposição à execução ou da revogação do título executivo judicial, se mostra ilidida.

20.3.4. A entrega dos bens ao adquirente

O 828 concede ao adquirente dos bens penhorados o direito de requerer a sua entrega na própria execução. É assim enxertado, na acção executiva
para pagamento de quantia certa, um pedido de execução para entrega de coisa certa, dirigida contra quem os detenha. Não se trata duma acção
executiva para entrega de coisa certa, nem da conversão duma execução para pagamento de quantia certa em execução para entrega de coisa certa.

Se, como deve, tiver lugar a tomada de posse efectiva do bem penhorado pelo depositário (757/764/1 e 782/4, entre outros), o adquirente será, por
sua vez, normalmente empossado (827/1), não tendo de recorrer ao 828; mas, se o depositário não tiver cumprido estes seus deveres, resta ao
adquirente exigir a entrega, sem prejuízo de eventual indemnização moratória. Por outro lado, nos casos em que, por consentimento do exequente
ou por o bem penhorado ser a casa de habitação efectiva do executado, é este o depositário, bem como naqueles em que sobre o bem penhorado
incida direito de retenção de terceiro, também designado depositário (756/1; no caso do arrendamento, este sobrevive à venda executiva), não se
aplica o 757/1, mas aplica-se o 827/1: extintos, com a venda, os direitos reais do executado e do titular do direito de retenção (824/1/2CC), o
depositário deve imediatamente entregar o bem ao agente de execução, para este o entregar ao adquirente ou dele fazer a este entrega directa, se
não o fizer, não cumprindo o seu dever de restituição, o adquirente requererá a entrega, sem prejuízo do direito a indemnização que tenha contra o

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depositário relapso. Resta, finalmente, a possibilidade, ainda que remota, de o depositário designado pelo oficial de justiça (756/1) ou o próprio
agente de execução (enquanto depositário, ou enquanto destinatário da restituição efectuada pelo depositário) não entregar o bem ao adquirente.

Não sendo estabelecido limite temporal para o exercício deste direito, pode acontecer que ele ocorra já depois de proferido o despacho de extinção
da execução, caso em que, embora a lei expressamente não o diga, o prosseguimento da acção executiva implicará a sua renovação. Pode, com
efeito, acontecer que o adquirente só então conclua pela necessidade de obter a entrega judicial, que até aí haja tentado sem êxito. Tal como no caso
da arguição da falta de nulidade da citação do (851/3), o requerimento de entrega pode ter lugar mesmo depois de transitada em julgado a sentença
que declare extinta a execução.

20.4. Recursos

20.4.1. Apelação autónoma

Estão sujeitos a recurso de apelação (autónomo), a interpor no prazo de 30 dias (638/1) e com sujeição às condições gerais de admissibilidade do
629, as decisões finais proferidas nas acções declarativas que correm por apenso ao processo de execução (embargos de executado, nos termos do
732/2; verificação e graduação dos créditos, nos termos do 791/1), bem como as proferidas no incidente declarativo de liquidação (853/1).

É indiferente o fundamento (substantivo ou processual) da oposição à execução, bem como o título (judicial, extrajudicial, arbitral, judicial impróprio)
em que tenha sido baseada a execução.

A decisão proferida no incidente de oposição à penhora do 784 e 785 pode também ser objecto de recurso de apelação, mas com a redução para 15
dias do prazo para o interpor (853/1, 6444/2/i e 638/1).

Cabe também recurso de apelação (a subir imediatamente, em separado e com efeito meramente devolutivo: 853/4) das decisões interlocutórias do
processo de execução enunciadas no 853/2, bem como das decisões (finais) de indeferimento liminar e de rejeição do requerimento executivo
(853/3).

20.4.2. Impugnação não autónoma

As decisões interlocutórias proferias nas acções e incidentes declarativos referidos no 853/1, bem como as decisões interlocutórias, não constantes
do 853/2/3, proferidas no processo de execução, só podem, em princípio, ser impugnadas com o recurso que venha a ser interposto da decisão final
(644/3 e 852). Mas, não havendo recurso da decisão final, podem ser autonomamente impugnadas em recurso único, a interpor após o trânsito
daquela decisão, desde que tenham interesse para o apelante independentemente dela (644/4 e 852).

20.4.3. Revista

Além dos casos em que é sempre admissível recurso de revista (629/2), este só pode ser interposto, nos termos gerais, dos acórdãos da relação
proferidos sobre apelação das decisões finais do incidente de liquidação, da acção de verificação e graduação de créditos e dos embargos de
executado (854).

III. OUTROS PROCESSOS DE EXECUÇÃO

21. A forma sumária de execução comum para pagamento de quantia certa

O regime de processo sumário pouco diverge do processo ordinário, como se constata pelos arts. 855 a 858.

A principal diferença reside em que não há, em regra, despacho liminar. O requerimento executivo, acompanhado pelos documentos com ele
apresentados, é imediatamente enviado por via electrónica ao agente de execução, que inicia as buscas e outras diligências necessárias à efectivação
da penhora (748 a 750), só depois desta feita tendo lugar a citação do executado. Só assim não é quando:

1. ocorra fundamento de recusa do requerimento executivo, nos termos do 725/1;

2. o agente de execução se afigure provável a ocorrência de fundamento de indeferimento liminar, irregularidade do requerimento executivo ou falta
de algum pressuposto processual, nos termos do 726/2 a 4;

3. o agente de execução duvide da verificação dos pressupostos de aplicação na forma de processo sumário (550/2 e 3).

No primeiro caso, o próprio agente de execução recusa o requerimento executivo, aplicando-se o disposto no 725. Nos outros, o agente de execução
suscita a intervenção do juiz, que decide.

Efectuada a penhora, o executado é simultaneamente citado para a execução e notificado do acto da penhora, sendo-lhe comunicado, no acto, que
pode deduzir embargos de executado ou opor-se à penhora no prazo de 20 dias (856/1), bem como que pode também requerer a substituição dos
bens penhorados por outros de valor suficiente (751/4/a).

Se o executado se pretender opor simultaneamente à execução e à penhora, fá-lo-á nos embargos de executado, em que assim cumulação as duas
oposições (856/3). A dedução dos embargos, sendo posterior à penhora, suspende o processo de execução, sem necessidade de prestação de
caução: o exequente está já garantido, pelo que o prosseguimento da execução aguardará a decisão da oposição; mas o embargante pode requerer a
substituição da penhora por caução que, como ela, satisfaça o fim da execução (856/5). Todavia, se falhar o respectivo pressuposto, o exequente
pode, em qualquer altura, pedir o reforço da penhora, nos termos do 751/4/b. A suspensão tampouco impede a substituição do objecto da penhora,
nos termos do 751/4/a e 6.

Segundo o 857/1, a taxatividade dos fundamentos de oposição à sentença do tribunal do Estado estende-se, “com as devidas adaptações”, à
oposição à execução fundada em requerimento de execução em que tenha sido aposta a fórmula executória. Ressalva-se o caso de justo
impedimento (857/2) e admite-se que o executado deduza oposição baseada na inconcludência do requerimento de injunção (no qual são indicados
sucintamente os factos que fundamentam a pretensão) ou na ocorrência de excepções, peremptórias ou dilatórias, de conhecimento oficioso, que
sejam manifestas no procedimento de injunção (857/3).

Esta equiparação é fortemente criticável, dada a natureza não jurisdicional do processo de injunção, a menor garantia que o devedor encontra na
notificação que nele lhe é efectuada, maxime quando a notificação é dirigida, por carta simples, para o domicílio convencionado e em qualquer caso

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por a lei não impor que ele seja advertido das consequências da falta de oposição, e dado o facto de a formação do título prescindir de qualquer juízo
de adequação do montante da dívida aos factos em que ela se fundaria.

A ressalva do 857/3 ainda permite superar a crítica fundada na falta dum juízo sobre a adequação do montante da dívida aos factos de que ela
derivaria. Mas o uso de meios de notificação expeditos não se compadece com a garantia constitucional do direito de defesa. A única forma de
compatibilizar o 857 com a CRP consiste em, na adaptação a fazer, o circunscrever de tal modo que ele só se aplique nos casos em que o devedor, na
execução, não invoque a diminuição de garantias registada no anterior processo de injunção e naqueles em que se prove que ele teve efectivo
conhecimento da notificação, contendo esta a advertência de que a não oposição à injunção preclude definitivamente a discussão sobre a existência
a dívida. Não é assim de estranhar que o TC haja declarado, em 2015, com força obrigatória geral, a inconstitucionalidade da norma do 857/1,
quando interpretada “no sentido de limitar os fundamentos de oposição à execução instaurada com base em requerimento de injunção, no qual foi
aposta fórmula executória”.

Dado que a penhora tem lugar sem citação prévia do executado, o exequente responde, nos termos gerais da responsabilidade civil (responde pelos
danos culposamente causados ao executado, se não tiver actuado com a prudência normal), pelos danos decorrentes, para o executado, da penhora
efectuada, quando a oposição à execução é julgada procedente; e paga uma multa, sem prejuízo de eventual responsabilidade criminal (858).

22. O processo de execução comum para entrega de coisa certa

22.1 Delimitação

A acção executiva para entrega de coisa certa tem lugar sempre que o objecto da obrigação, tal como o título o configura, é a prestação duma coisa
(ou de uma universalidade de coisas, ou ainda da quota-parte de uma coisa, 861/4).

Tal como no caso da obrigação pecuniária, o qualificativo “certa” tem a ver com o pressuposto processual da certeza da prestação, pelo que não
obsta à execução a necessidade de se proceder à individualização (ou concretização) das unidades que serão objecto da prestação a efectuar no caso
de obrigação genérica cujo objecto se apresente qualitativa e quantitativamente determinado.

Sempre que o título configure uma obrigação de prestação de coisa, deve usar-se o processo de execução para entrega de coisa certa, ainda que esta
já não exista, seja objecto dum direito incompatível com o do exequente ou não venha a ser encontrada, casos estes em que tem lugar a
subsequente conversão da execução para entrega de coisa certa em execução para pagamento de quantia certa.

22.2. Características

Diversamente da acção executiva para pagamento de quantia certa, a acção executiva para entrega de coisa certa não se traduz na efectivação de
direitos sobre o património do devedor. Por ela, o credor faz valer, não a garantia patrimonial do seu crédito, mas sim a faculdade de execução
específica, mediante a apreensão da coisa que o devedor está obrigado a prestar-lhe. Não é requerida a execução do património do devedor (817CC),
mas sim a entrega judicial da coisa devida (827CC).

Não há, por isso, neste tipo de acção, lugar a penhora.

Para realizar o direito exequendo, o tribunal procede à apreensão das coisas e à sua imediata entrega ao exequente, após efectivação das buscas e
outras diligências que forem necessárias (861). Como diz expressamente o 861/1, a este acto de apreensão aplicam-se, conforme os caso, em tudo
quanto não esteja especialmente previsto, as normas processuais reguladoras da penhora de bens imóveis, de bens móveis ou da quota dum
comproprietário que forem compatíveis com a natureza da acção executiva em causa. Mas a apreensão da coisa devida não tem a função nem os
efeitos da penhora.

Assim, não consubstancia a constituição dum direito real de garantia nem é dirigida à ulterior transmissão da coisa apreendida, mas sim à sua
entrega ao exequente, que normalmente lhe é feita acto contínuo.

Em consequência, não confere ao exequente qualquer direito de preferência nem opera a transferência da posse da coisa para o tribunal. Podendo a
acção executiva ter na sua base um direito real ou um direito de crédito, a entrea da coisa logo investe o exequente numa posse em nome próprio ou
em nome alheio, quando nela não se limita a mantê-lo; e, mesmo quando a apreensão e a entrega aparecem como actos temporalmente separados,
o tribunal não deixa de actuar, desde a apreensão, como mero detentor da coisa em nome do exequente, a quem a irá entregar.

Não se põe o problema da ineficácia dos actos dispositivos subsequentes, pois o executado conserva, após a apreensão, exactamente os mesmos
direitos que anteriormente tinha: se for titular de um direito real sobre a coisa, com o poder de dela dispor, continuará a poder valer-se da mesma
forma deste seu poder; se não tiver qualquer direito real sobre a coisa ou o seu direito não englobar a faculdade de dela dispor, será nulo, por
ilegitimidade, qualquer negócio jurídico de disposição que celebre, antes ou depois da apreensão. Só no caso excepcionalíssimo de a transferência da
propriedade se processar com a entrega da coisa ao exequente e esta não ter lugar logo a seguir à apreensão é que se poderia ver a utilidade na
aplicação da disposição do 819CC; mas, uma vez entendido que a apreensão logo constitui o exequente na posse da coisa apreendida, através do
tribunal, dificilmente a transferência da propriedade deixará de operar com o acto de apreensão.

Acresce que os limites objectivos à penhorabilidade dos bens não têm aplicação ao caso de execução expecífica da obrigação de entrega de coisa
determinada, uma vez que a cobertura da pretensão do credor pelo título executivo constitui já demonstração suficiente de que não há razões sociais
(de interesse geral ou de interesse particular do devedor) que obstem à entrega.

Do que se deixa dito decorrem dois outros aspectos deste tipo de acção eecutiva: não há lugar a concurso de credores nem à venda da coisa
apreendida.

22.3 Tramitação

22.3.1. Requerimento e oposição

A. Apresentado o requerimento executivo, realizada a tramitação que lhe é complementar e proferido o despacho liminar de citação – sem prejuízo
de, nos termos gerai – pode ser de indeferimento liminar ou de aperfeiçoamento -, o executado é citado para, no prazo de 20 dias, fazer a entrega da
coisa ou opor-se à execução (859). No entanto, importa ressalvar os casos em que há dispensa de citação prévia (727), onde o executado não será
citado quando haja risco de, com a citação, desaparecer a coisa a apreender. Ressalvamos também os casos em que o título executivo seja uma
sentença judicial: a execução nasce e pode processar-se nos autos da acção declarativa; tal como no processo sumário para pagamento de quantia

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certa, faz-se a apreensão prévia, a que se segue a entrega da coisa, e só depois se procede à citação do executado, seguindo-se os termos aplicáveis
do processo sumário para pagamento de quantia certa (626/3); o despacho liminar só tem lugar quando o agente de execução entenda, nos termos
do 855/2/b), que deve suscitar a intervenção do juiz e, neste caso, se o processo houver de prosseguir, a apreensão e a entrega têm também lugar
imediatamente (855/3). Não ocorrendo nenhum destes casos, compreende-se a diferença em face do regime da acção executiva para pagamento de
quantia certa: na execução para entrega de coisa certa, a apreensão desta não tem o efeito de garantia que é próprio da penhora e é desejável que
logo seja seguida pela entrega ao exequente, o que pressupõe a prévia citação do executado para se opor.

B. A oposição segue o mesmo regime que na execução para pagamento de quantia certa.

Mas, quando o cumprimento da obrigação possa, na oposição deduzida à execução de sentença, ser verificado por meio de inspecção judicial ou
perícia, não se justifica a restrição probatória do 729/g), visto que por esse meio se pode atingir segurança maior do que a decorrente dum
documento, que, por isso mesmo, as partes normalmente dispensarão.

Por outro lado, o executado pode – salvo se, tratando-se de execução de sentença, tiver tido a possibilidade de o fazer na acção declarativa e não o
tiver feito (860/3) – invocar na oposição, além dos fundamentos previstos no 729 e no 730 (respectivamente, nos casos de execução de sentença
judicial e se sentença arbitral), a realização de benfeitorias que tenha feito (860/1). Basear-se-á para tanto no direito de retenção por elas conferido.

Desde a revisão do CPC, o 860/2 limita-se a determinar que, «se o exequente caucionar a quantia pedida a título de benfeitorias, o recebimento da
oposição não suspende o prosseguimento da execução», suscitando a dúvida sobre se, na falta dessa caução, a suspensão da acção executiva é
automática ou depende de caução a prestar pelo executado, nos termos gerais do 733/1/a) ex vi 551/2, questão que só faz sentido no pressuposto
de que só as benfeitorias concedem direito de retenção é que continuam a estar previstas no 860/2. No sentido da primeira solução, dir-se-á que a
invocação das benfeitorias não garante a sua existência e que o direito do exequente, que não preste caução, à coisa que lhe é devida pode ser
gravemente ofendido com a demora da execução, por esta ser suspensa, quando os embargos sejam improcedentes ou o pedido de indemnização
seja exorbitante.

É certo que a lei civil mantém o direito de retenção até que o devedor da indemnização preste caução suficiente (756/d)CC); mas também o é que à
posse por ele conferida não corresponde qualquer direito de usufruição, mas o mero fim de garantia do credor (671CC e 672CC, aplicáveis por força
do 758CC e 759CC). Ora este puro fim de garantia não será afectado pelo prosseguimento da execução se a coisa, entretanto apreendida ao
executado, só for entregue ao exequente quando este pague a indemnização a que o executado tenha direito: o lugar paralelo do 733/4 permite
defender em face da redacção do 860/2, que, não prestada caução pelo executado, a coisa devida ao exequente deve ser imediatamente apreendida,
mas não entregue na pendência dos embargos. Esta solução tem por si a harmonização dos interesses legítimos do titular do direito de retenção e o
devedor da indemnização, com economia de meios processuais.

Fora o caso do direito de retenção, não se nos afigura que o direito à indemnização por benfeitorias possa fundar a oposição à execução. A ser assim,
a invocação de benfeitorias, desligada do dever de entrega da coisa, configuraria um pedido reconvencional, que LEBRE DE FREITAS julga nunca ter
lugar no processo executivo. Não obstante o 860/2 falar de quantia pedida a propósito da indemnização pelas benfeitorias invocada, o que inculca a
ideia do pedido reconvencioal previsto no 266/2/b, afigura-se também na opinião de LEBRE DE FREITAS que a invocação das benfeitorias configura
antes um caso de excepção peremptória, que como tal obsta à procedência do pedido executivo, mas com a particularidade de cessar com o
pagamento das benfeitorias. Sendo assim, a decisão que o tribunal profira no processo de embargos quanto ao direito do executado a uma
indemnização por benfeitorias nunca pode ser executada no próprio processo de execução para entrega de coisa certa.

22.3.2. Convocação do cônjuge do executado

Note-se ainda que, embora não haja convocação de credores, se deve aplicar, por analogia, o 786/1/a), que impõe a citação do cônjuge do executado
quando a coisa apreendida for um bem imóvel ou estabelecimento comercial próprio do executado, mas de que ele não possa livremente dispor. No
entanto, a convocação só pode ter por fim permitir ao cônjuge citado a impugnação do crédito exequendo na oposição à execução.

22.3.3. Apreensão e entrega

A. Feitas as buscas e outras diligências que forem necessárias à apreensão da coisa, o tribunal apreende-a e investe o exequente na posse. O
investimento tem lugar mediante:

a) a tradição ou entrega material da coisa imóvel, precedida, se se tratar de coisa fungível (207CC e 539CC), das operações necessárias à
concentração da obrigação (861/2);

b) entrega simbólica da coisa imóvel, mediante entrega material de chaves e documentos e notificação do executado, bem como dos arrendatários e
outros possuidores em nome próprio ou alheio (cuja situação jurídica, derivada do executado, ou do próprio exequente, porque compatível com o
direito deste, deva subsistir), para que reconheçam e respeitem o direito do exequente (861/3), havendo ainda que observar o 863 e 866 quando a
entrega tenha por objecto coisa imóvel arrendada (862).

B. Quid juiris se a coisa a entregar se encontrar penhorada em acção executiva para pagamento de quantia certa?

A apreensão não é possível. Mas, desde que o facto de que resultou o sue direito não esteja afectado por ineficácia perante a execução para
pagamento de quantia certa, o exequente pode opor-se à penhora, se para tanto estiver legitimado, por embargos de terceiro ou por invocação da
sentença proferida em acção de reivindicação (que constitua o seu título executivo ou, quando este for extrajudicial, tenha vindo mais tarde a obter
em acção que proponha), após o que, levantada a penhora, a execução para entrega de coisa certa, entretanto suspensa poderá prosseguir. Quando
porém, tenha um mero direito de crédito, só lhe resta o recurso à acção de indemnização por incumprimento.

O mesmo se aplica no caso de arresto a coisa a apreender.

C. Ficou dito que a notificação do possuidor, em nome próprio ou alheio, para que reconheça e respeite o direito do exequente deve ter lugar quando
a sua posse tenha procedido do executado (ou do próprio exequente), deva subsistir e seja compatível com o direito do exequente.

Mas pode um terceiro ter a posse da coisa a apreender por via dum título autónomo, i.e., originário ou procedente de outro terceiro, ou ter derivado
do executado uma posse incompatível com o direito do exequente.

Deverá a execução ficar suspensa, por falta de título executivo contra o terceiro ou, no caso de ele existir, por o terceiro não ter sido demandado na
acção executiva, ou deverá a apreensão ter lugar, sem prejuízo do direito do terceiro a fazer valer o seu direito em acção autónoma?
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Não sendo extrapoláveis para outras acções de execução para entrega de coisa certa as soluções específicas consignadas nos arts. 863 a 866 para a
execução de despejo, há que procurar nas normas do direito substantivo a solução do conflito de situações jurídicas que se apresente, tendo em
conta que, diversamente do que acontece na acção executiva para pagamento de quantia certa, nem o titular do direito real de garantia nem o titular
do direito real de aquisição têm modo de satisfazer os seus direitos no processo de execução e que o acto de apreensão não desempenha uma
função normal de garantia.

Assim, o agente de execução que seja confrontado com a oposição do terceiro possuidor no acto da apreensão, deve, em regra, suscitar a questão
perante o juiz, nos termos do 723/1/d); mas se o juiz, ao abrigo do 727/2, tiver dispensado a citação prévia do executado, se o direito do exequente
dever manifestamente prevalecer sobre o invocado pelo terceiro ou se tratar de coisa susceptível de fácil sonegação, a apreensão não deve deixar de
ser feita, mediante aplicação analógica do 747/1, quando o exequente funde a acção executiva num direito real ou numa obrigação de restituir (por
via de esbulho, nulidade, anulação ou resolução dum contrato, cessação dum direito pessoal de gozo, etc) mas já não quando a execução se funde
em mero direito pessoal de gozo do exequente. Suscitada a questão perante o juiz, é aplicável analogicamente o 764/3 e, seja a coisa móvel ou
imóvel, a apreensão não será ordenada quando o terceiro produza prova documental inequívoca de que é proprietário da coisa, ou titular de outro
direito real que dela lhe conceda a posse, o mesmo se aplicando quando, realizada a apreensão, a prova documental seja subsequentemente
apresentada ao juiz; não sendo inequívoca a prova apresentada e não havendo urgência na apreensão, pode o juiz ordenar que se aguarde o decurso
do prazo para a dedução de embargos.

O terceiro pode opor-se à apreensão através de embargos de terceiro, que podem ter função preventiva (350), ou lançar mão de acção de
reivindicação. Os embargos, se forem fundados na posse, improcederão se neles ficar assente a propriedade do exequente ou a do executado
(348/2) ou, no caso de esbulho, a sua melhor posse (1278/2/3CC); mas, sendo procedentes, a execução extingue-se, sem prejuízo da possibilidade da
sua conversão em execução para pagamento de quantia certa. Fundando-se a execução em mero direito pessoal de gozo do exequente, a apreensão
só se manterá se o possuidor tiver derivado a sua situação jurídica do executado por causa sobre a qual deva prevalecer o direito do exequente.

De qualquer modo, a prevalência do interesse do exequente ou do terceiro resulta dos regimes de direito substantivo aplicáveis.

22.4. Conversão da execução

Quando não é encontrada a coisa cuja entrega ao exequente tem direito, maxime quando ela já não exista, tem lugar a conversão da acção executiva.
Liquidada a indemnização devida pelo incumprimento (correspondente ao valor da coisa e à reparação de quaisquer outros danos), seguem-se a
penhora e os demais termos da acção executiva para pagamento de quantia certa (867). Nela, só por fundamento superveniente (nos termos do
728/2) pode ter lugar a oposição do executado.

Mas não só quando a coisa não é encontrada se dá a conversão da execução. A esse é de assimilar o caso em que sobre a coisa incida direito de
terceiro que, prevalecendo sobre o do exequente e com ele sendo incompatível, impeça o investimento material ou jurídico na posse.

Quer num quer noutro caso, o exequente, mesmo sabendo já que a execução específica se malogrará, deve instaurar a acção executiva para entrega
de coisa certa e só na sua pendência poderá requerer a ulterior conversão.

23. O processo de execução comum para prestação de facto

23.1. Delimitação

A acção executiva para prestação de facto tem lugar sempre que o objecto da obrigação, tal como o título que o configura, é uma prestação de facto,
seja este de natureza positiva (obrigação de facere) ou negativa (obrigação de non facere).

Mais uma vez, é ao título executivo que há que recorrer, em obediência à norma do 10/5, para determinar o tipo de acção executiva, ainda que o
exequente venha a obter, pela execução, em vez da prestação de facto que lhe é devida, um seu equivalente pecuniário – ou porque, sendo o facto
infungível, não é possível obter de terceiros a sua prestação, ou porque, tratando-se embora de facto fungível, o exequente vem, perante o
incumprimento e nos termos da lei civil, a optar pela resolução do contrato e pela indemnização por perdas e danos.

Claro que o direito à indemnização pecuniária, quando o exequente possa por ela optar, pode ser exercido, não em execução para prestação de facto,
mas em acção declarativa em que se peça a condenação do réu na indemnização pretendida; e uma vez obtida sentença a seu favor, o credor lançará
mão de acção executiva para pagamento de quantia certa. Mas, sempre que o título configure uma prestação de facto, e sem prejuízo da norma do
710 sobre a cumulação de pedidos baseados numa única sentença, é à correspondente execução que há que recorrer.

Por outro lado, a distinção entre a execução para entrega de coisa certa e a execução para prestação de facto nem sempre é fácil de fazer e
determinadas figuras situam-se na fronteira entre as duas espécies de prestação. É o que acontece nos casos em que o devedor está obrigado a
entregar uma coisa após a sua criação ou montagem ou após determinadas alterações, ou obrigado a prestar um facto e ao mesmo tempo a entregar
certas coisas acessórias. As dificuldades do primeiro tipo de situação são bem ilustradas pelas divergências doutrinárias a que dá lugar a distinção
entre a empreitada e a compra e venda de coisa futura, a fabricar pelo vendedor. Nos outros dois tipos de situação, em que há uma prestação
principal e uma prestação acessória de diferente natureza, têm, em regra, de ser movidas duas acções executivas para a realização de uma e de outra
(709/1/b); mas quando, movida a execução pela prestação principal, haja lugar à indemnização pelo incumprimento da prestação acessória deve ser
feita juntamente com a liquidação da indemnização pelo incumprimento da prestação principal, no âmbito da conversão da execução interposta. Por
outro lado, a apreensão duma coisa acessória, i.e., destinada a servir a finalidade de cumprimento duma obrigação de prestação de facto, pode ter
lugar na acção executiva para prestação de facto.

23.2. Prestação de facto com prazo certo

23.2.1. Direitos do credor perante o incumprimento

A. Na interpretação do 868/1 é inequívoco que, quando a obrigação é de prestação de facto infungível, isto é, insubstituível por uma prestação de
terceiro por lhe ser essencial a pessoa do devedor, o credor não pode senão executar o seu direito à indemnização, a menos quem não sendo a
infungibilidade natural, a ela renuncie, pedindo a prestação por terceiro do facto que tenha sido objecto do contrato.

Esta infungibilidade pode resultar da própria natureza do facto (p.e., do fabrico dum produto segundo um processo que só o devedor conhece, da
criação de uma obra literária por um escritor célebre ou da prestação de informações que só o devedor está em condições de fornecer) ou de

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estipulação contratual. No primeiro caso, a renúncia é impossível. No segundo, a infungibilidade presume-se estabelecida a favor do credor, mas
pode, excepcionalmente, tê-lo sido apenas a favor do devedor, caso em que a renúncia do credor também é por si ineficaz.

Quando à prestação de facto fungível, o 868/1 consagra, aparentemente, a possibilidade de o credor optar entre a execução específica (por outrem)
e a indemnização compensatória.

Esta possibilidade de opção, que o 828CC não contraria, é admitida pela doutrina dominante, mas negada por CASTRO MENDES, para quem o credor,
em paralelo com o que acontece na execução para entrega de coisa certa, não pode optar pela indemnização enquanto a prestação por outrem for
possível, uma vez que esta terá para ele o mesmo resultado que a prestação pelo devedor e o 566/1CC estabelece como princípio geral que a
indemnização pecuniária só é admissível quando a reconstituição natural não seja possível.

B. Recordemos o regime geral do incumprimento das obrigações.

Atrasando-se o devedor na realização da prestação, mas sendo esta ainda possível, ocorre a situação de mora do devedor (804/2CC), pela qual este é
constituído na obrigação de reparar os danos causados ao credor em consequência do atraso (804/1CC, cfr. 806/1CC), sem prejuízo de permanecer
obrigado a efectuar a prestação, com o correspondente direito do credor de exigir judicialmente o cumprimento (817CC). Mas, se, em consequência
da mora, o credor perder o interesse objectivo que tinha na prestação ou se esta não for realizada dentro do prazo que razoavelmente for fixado
(808CC), tal como quando a prestação se torne impossível por causa imputável ao devedor (801/1CC), a simples mora cede lugar ao incumprimento
da obrigação e o credor tem direito, em lugar da prestação, a uma indemnização compensatória.

De acordo com este esquema, uma vez não prestado certo facto pelo devedor, na data do vencimento, o credor fica com direito à indemnização
moratória, mantendo o de exigir a prestação que lhe é devida: a simples mora do devedor não lhe confere o direito de pedir a indemnização
compensatória. Mas, quando, citado para uma acção que pode revestir natureza executiva, o réu não realize a prestação, na impossibilidade legal de
o forçar fisicamente a fazê-lo, a obrigação deve ter-se por definitivamente incumprida e só no plano da indemnização é que o credor poderá fazer
valer o seu direito contra o devedor. Ora, quer tenha lugar a realização do facto por terceiro, quer o simples recebimento, pelo credor, duma
indemnização compensatória, isto traduz-se sempre, para o devedor, no pagamento duma indemnização fixada em dinheiro (na interpretação do
566CC que LEBRE DE FREITAS considera correcta, a reconstituição natural refere-se à reposição da situação que existiria se não fosse o facto
determinante da responsabilidade e não à execução específica da obrigação): a execução para prestação de facto positivo fungível visa menos a
execução específica da obrigação, no sentido comum do termo, do que garantir ao credor a prestação do facto por outrem sem contestação do seu
custo e sem se expor a ter de suportar o excesso sobre esse custo.

A ser assim, quando a prestação de facto fungível não é efectuada das duas uma:

- ou ainda é possível a prestação por terceiro e a indemnização compensatória a suportar pelo devedor deve ser calculada em função do custo actual
da prestação do facto por terceiro: o devedor pagará o que ao credor for necessário para que fique em situação idêntica àquela em que estaria se a
obrigação tivesse sido cumprida;

- ou a prestação por terceiro já não é possível e a indemnização compensatória deve ser calculada em função do incumprimento: o devedor
compensará o credor dos danos sofridos por ter ficado sem a prestação a que tinha direito.

No primeiro caso, é indiferente ao devedor que o credor, recebida a indemnização devida, recorra aou não à prestação por terceiro. Mas, se o credor
pretende efectivamente a prestação do facto por terceiro, poderá o seu custo efectivo ser controlado pelo tribunal e não correrá o risco de, recebida
a indemnização, vir a pagar mais do que aquilo que recebeu. Tendo o credor a faculdade de optar, atende-se ao seu interesse, sem sacrifício de
qualquer interesse atendível do devedor.

C. Este regime não difere do que vigora para o incumprimento da obrigação de prestação de coisa. Ainda que seja fungível (um automóvel novo,
p.e.), a execução para prestação de coisa certa converte-se em execução para pagamento de quantia certa logo que as buscas no património do
devedor se revelem infrutíferas, sem que, no processo, se proceda a compra de coisa idêntica a terceiro.

D. A reforma da acção executiva veio esclarecer que a sanção pecuniária compulsória pode ser fixada na acção executiva para prestação de facto
(868/1 e 876/1/c). Enquanto na obrigação pecuniária ela é automática e por isso não precisa de ser requerida ao tribunal nem fixada pelo juiz, na
obrigação de prestação de facto infungível a fixação da sanção pode ter lugar na acção declarativa ou na acção executiva.

Se a sanção pecuniária compulsória tiver sido fixada na acção declarativa e o exequente, na petição inicial, requerer o seu pagamento, o juiz de
execução não terá de se pronunciar, cabendo ao agente de execução liquidar o seu montante (716/3). Havendo que a fixar na execução, o processo
vai concluso ao juiz, a fim de que ele a fixe antes da citação do devedor, cabendo, de qualquer modo, ao agente de execução, no final, fazer a
respectiva liquidação, se o incumprimento persistir.

23.2.2. Posição do devedor em face da execução

A. Apresentado o requerimento inicial e proferido o despacho liminar de citação, quando deva ter lugar, é o devedor citado para, em 20 dias, deduzir
oposição à execução, na qual pode provar por qualquer meio o cumprimento posterior da obrigação, ainda que a execução se funde em sentença
(868/2).

Por outro lado, se o credor pretender a prestação de facto de outrem, o executado pode embargar com fundamento na ilegalidade do pedido, i.e.,
em infungibilidade do facto que decorra da sua natureza ou tenha sido estabelecida em benefício do devedor (875/2).

B. Discute-se se o devedor, uma vez citado, pode ainda realizar voluntariamente a sua prestação.

Se o credor tiver optado pela prestação de facto de outrem, não se vislumbra razão suficientemente forte para impedir o executado de cumprir,
prestando o facto, se a prestação puder ter lugar dentro dos 20 dias concedidos para a oposição ou se, exigindo prazo superior, a prestação tiver
início dentro desse prazo e o juiz, ouvidas as partes, se convencer de que o executado irá com ela prosseguir, ordenando então a suspensão da
instância; mas, neste caso, se porventura o devedor suspender a prestação ou demorar desrazoavelmente a sua realização, a suspensão do processo
deve imediatamente cessar.

Se o exequente tiver optado pela indemnização compensatória, mas a prestação do facto for ainda possível, deve, no entendimento de LEBRE DE
FREITAS, admitir-se ainda o cumprimento pelo devedor, dada a preferência da lei pela execução específica, a possibilidade de fixar sanção pecuniária
compulsória no processo executivo (868/1) e o disposto no 846 (extinção da execução por pagamento voluntário), desde que o contrato em que a
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prestação se funda não tenha sido resolvido antes; mas, ainda assim, não lhe parece que possa ter lugar, sem anuência do exequente, a suspensão da
execução, cabendo ao executado o ónus de deduzir oposição superveniente, quando a prestação terminar, e o eventual dever de indemnizar se a
prestação por terceiro já não tiver sido iniciada.

23.2.3. Termos posteriores quando seja pedida a prestação do facto por outrem

A. Findo o prazo para a oposição (ou julgada ela improcedente, quando suspenda a execução), o exequente requer a nomeação de perito que avalie o
custo da prestação (870/1) e feita a avaliação, procede-se à penhora dos bens do executado necessários ao custeamento da prestação e ao
pagamento das custa, seguindo-se a tramitação do processo de execução para pagamento de quantia certa (870/2).

A realização da prestação tem lugar extrajudicialmente, podendo ser feita pelo próprio exequente, ou por terceiro por ele contratado, fiscalizado e
pago (871/1), caso em que, concluída a prestação, o exequente presta contas do seu custo, que o executado pode contestar no prazo de 30 dias
(871/3 e 946/1), seguindo-se os demais termos do processo de prestação de contas (944, 945 e 946/2), que corre por apenso à execução (947, por
analogia). Aprovadas as contas pelo agente de execução, o crédito que delas resultar para o exequente (e que poderá ser superior ou inferior ao
montante da avaliação efectuada pelos peritos) é pago pelo produto obtido na execução de custeamento (872/1); se ele não chegar, proceder-se-á à
penhora e venda de novos bens, até que o exequente seja integralmente pago (872/2).

Saliente-se ainda que, não sendo obtida do executado a importância estimada como custo da obra, o exequente pode, a todo o tempo, desistir da
prestação do facto e pedir indemnização compensatória, levantando, a seu requerimento, a quantia porventura apurada na execução; mas, se já
estiver iniciada a prestação do facto, cessa a possibilidade de o exequente optar pela indemnização compensatória, tendo-se a escolha por definitiva
(873).

B. Se o credor pretender exigir o pagamento da indemnização moratória, deverá fazê-lo quando opte pela execução do facto por outrem (868/1),
liquidando-a juntamente com a prestação de contas (871/2). Esta cumulação de pedidos correspondentes a dois tipos diversos de execução junta-se
a outras já antes admitidas no âmbito da acção executiva para prestação de facto e permite questionar a razão de ser da regra (contrária) do
709/1/b).

A aprovação de contas tem lugar por despacho judicial (872/1).

23.2.4. A conversão da execução

Se, seja o facto infungível ou fungível, o exequente pedir a indemnização compensatória da falta de cumprimento da prestação devida, findo o prazo
para a oposição, ou julgada esta improcedente quando suspenda a execução, dá-se a conversão da execução para prestação de facto em execução
para pagamento de quantia certa, que se processa nos mesmo termos da execução para entrega de coisa certa convertida (869), isto é, inicia-se com
o incidente de liquidação, a que se segue a penhora e os demais termos do processo de execução para pagamento de quantia certa.

Tal como no caso de conversão da execução para entrega de coisa certa, o pedido de indemnização moratória é cumulável com o de indemnização
compensatória: 867, para o qual o 869 remete, permite ao exequente, no mesmo processo, fazer liquidar o seu valor e o prejuízo resultante da falta
da entrega.

23.3. Prestação de facto sem prazo certo

Podendo o facto a prestar ser de execução duradoura, compete ao tribunal fixar o prazo para a sua prestação, no caso de as partes nele não terem
acordado (777/2CC).

O exequente indica no requerimento inicial o prazo que reputa suficiente e o executado é citado para, em 20 dias, dizer o que se lhe oferece (874/1).
Uma vez que a execução se tem por instaurada, conta a partir da citação o prazo para a oposição à execução, na qual, se for deduzida, o executado
deve dizer o que se lhe oferecer sobre o prazo indicado pelo exequente (874/2).

O juiz fixa o prazo, depois de terem lugar as diligências que entender ordenar (875/1).

Se o executado prestar o facto dentro do prazo fixado, extingue-se a execução; se não o prestar, seguem-se os termos da execução para a prestação
de facto com o prazo certo, numa das suas duas modalidades, substituindo-se a citação do devedor por notificação e apenas admitindo oposição com
fundamento na ilegalidade do pedido de pretação por outrem ou em facto posterior à citação inicial (875/2).

Saliente-se que pode haver lugar à fixação judicial de prazo nos termos do 874 quando, embora tenha sido estipulado prazo para o início da
prestação, não tenha sido fixado o período de tempo em que ela deve ser realizada.

23.4. Violação de obrigação negativa

23.4.1. Direitos do credor perante o incumprimento

Fala-se correntemente de execução para prestação de facto negativo para qualificar a acção executiva em que, em face da violação (necessariamente
positiva) duma obrigação de não fazer, o credor requer as orividências adequadas à reparação do dano.

O objecto da execução não é, no entanto, um facto negativo, mas sim o facto positivo de reparação, embora esta possa (e deva, sempre que possível)
consistir na reconstituição natural da situação anterior à violação. Trata-se, pois, duma execução para prestação de facto positivo, embora baseada na
violação duma obrigação negativa (876), no sentido lato que o termo obrigação tem na acção executiva e, portanto, mesmo quando na sua base
esteja um direito absoluto.

Perante a violação, se esta consistir numa obra, resulta do 566CC e 829CC que o credor não pode optar entre a reconstituição natural e a
indemnização compensatória, podendo tão só exigir a primeira, i.e., a destruição ou demolição da obra à custa do devedor, a menos que o prejuízo
resultante da demolição seja muito superior ao derivado da execução da obra, caso em que só terá direito a indemnização. Mas ao credor resta
sempre a possibilidade de, simultaneamente com a demolição, exigir uma indemnização complementar pelo prejuízo sofrido, indemnização esta que
é pedida e liquidada na própria acção executiva pela qual tem lugar a demolição (876/1 e 877/1).

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Se não houver obra feita, o exequente terá apenas direito à indemnização compensatória.

O pedido de pagamento da quantia devida a título de sanção pecuniária compulsória pode ser formulado, quer ela já tenha sido fixada na acção
declarativa, quer se pretenda agora a sua fixação (876/1).

23.4.2. A verificação da violação

Uma vez que o acto ilícito do executado tem sempre, neste tipo de obrigações, natureza positiva, a sua prova tem sempre de ser efectuada, por
aplicação analógica do 715, na fase liminar da execução.

De particular há, porém, que quando a violação consista numa obra, esta deve ser verificada através de perícia, que ao autor cabe requerer (876/1).
Verificada a violação, o perito avalia logo o custo da demolição (876/3).

Se não houver obra feita e a violação não tiver deixado quaisquer vestígios materiais, a prova do acto ilícito do executado terá de ser feita por outros
meios, inclusivamente pelo depoimento de testemunhas.

Claro que, se a verificação da violação tiver sido feita em acção declarativa prévia, não há que a repetir na acção executiva, a qual será proposta em
conformidade com o decidido na sentença exequenda.

23.4.3. Posição do executado face à execução

Citado para a acção executiva, o executado, além de intervir na fase liminar de verificação da violação, pode:

- proceder à demolição da obra, se obra houver, reparando assim voluntariamente o dano;

- opor-se à execução.

Quanto à oposição, pode ter por fundamento, quando haja obra feita, o facto de a sua demolição representar para o executado um prejuízo
consideravelmente superior ao sofrido pelo exequente (876/2), caso em que a execução é suspensa logo após a realização da perícia,
independentemente da caução (876/4).

23.4.4. Termos posteriores

Reconhecida a falta de cumprimento da obrigação, o juiz ordena a demolição da obra, se a houver, à custa do executado, e fixa indemnização devida
ao exequente (ou apenas fixa esta, se não houver demolição), seguindo-se, conforme os casos, os demais termos da acção executiva para prestação
de facto com prazo certo, ou a sua conversão em acção executiva, para pagamento de quantia certa (877/2, que remete para o 869 e 873).

Quando a obrigação violada for uma obrigação de pati, i.e., de tolerar certas obras ou factos a realizar pelo credor, entende ANSELMO DE CASTRO,
que pode haver lugar a actos de assistência judicial à realização da obra, a fim de impedir a continuação da violação pelo executado. Não obstante o
silêncio da lei, a solução, impõe-se, em integração de lacuna.

24. Processos executivos especiais

24.1. Execução por alimentos

Pode ter por base um documento autêntico ou particular que contenha a sua fixação por acordo das partes (2006CC) ou uma decisão judicial, quer
proferida no procedimento cautelar de alimentos provisórios (384 a 378), quer em processo comum de alimentos definitivos.

Aplicam-se-lhe as normas reguladoras do processo comum para pagamento de quantia certa, com especialidades que têm em conta a especial
natureza da obrigação em causa:

- o exequente pode requerer a adjudicação de parte dos vencimentos, pensões ou outras prestações periódicas que o executado receba, ou a
consignação de rendimentos dos seus bens, para pagamento de prestações vencidas e vincendas de alimentos, o que tem lugar sem precedência de
penhora (933/1/2/3);

- não há citação prévia (933/5);

- a oposição à execução ou à penhora não suspende a execução (933/5).

Outra especialidade consiste no enxerto, no processo executivo pendente, da acção declarativa de cessação ou alteração dos alimentos, provisórios
ou definitivos (936/1/2). Não sendo estipulado prazo para a propositura desta acção, é de entender que pode ter lugar a todo o tempo, sem efeito
suspensivo da execução.

24.2. Investidura em cargos sociais

A pessoa eleita ou nomeada para um cargo social que for impedida de o exercer pode requerer a investidura judicial (1070/1). Após contraditório
(1070/2/3), se o juiz ordenar a investidura, abre-se a fase executiva do processo.

A investidura é feita por funcionário judicial, que faz a entrega ao requerente de todas as coisas de que deva ter a posse, após as diligências
executivas, incluindo arrombamentos, que para o efeito forem necessárias (1071/1). São seguidamente notificados os requeridos de que não
deverão impedir ou perturbar o exercício do cargo (1071/2).

24.3. Execução por custas e execução de despejo

Não constitui hoje processo executivo especial a execução por custas. Quanto à execução de despejo, é enquadrada no processo comum destinado à
entrega de coisa certa.

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