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SEBENTA DIREITO PROCESSUAL Civil III (EXECUTIVO)

direito executivo (Universidade de Lisboa)

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DIREITO PROCESSUAL CIVIL III


[PROCESSO EXECUTIVO]

PEDRO FERREIRA RIBEIRO


2021/2022

Regente: Prof. Rui Pinto


Assistente: Prof. Tomás Ludovice

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FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS

FUNDAMENTO CONSTITUCIONAL E MATERIAL DA AÇÃO EXECUTIVA


Sabemos que o A.202ºCRP explora a função jurisdicional. A função jurisdicional advém de um
monopólio do Estado na resolução de litígios, através dos tribunais. O A.20ºCRP, no entanto, consagra o direito
à ação para os particulares, o direito à tutela jurisdicional – o particular tem o direito a ver resolvido um litígio
no qual é parte. Os tribunais europeus falam numa tutela plena, efetiva, real, o que implica a execução das
sentenças proferidas, a sua aplicação material com efeitos materiais. Se assim não fosse, uma sentença não
servia para nada. O A.20º4 CRP tem, aliás, esta realidade expressa (tem de existir um efeito útil).
Relativamente ao processo declarativo, o que existe de errado? Temos de analisar os tipos de ações do
A.10ºCPC, isto porque as ações declarativas podem ser insuficientes. Dizemos que podem porque existem ações
declarativas cuja sentença favorável no final do processo produz efeitos plenos, sem necessidade de execução,
sem necessidade de qualquer outro comportamento. É o exemplo da ação declarativa de mera apreciação, nos
casos de nulidade de um contrato, por exemplo. O mesmo acontece nas ações constitutivas.
Todavia, as ações condenatórias pecam nesse aspeto. Efetivamente, apesar de permitirem uma injunção
de comportamento contra o réu (pagar, fazer, não fazer, etc.), a sua eficácia é bilateral. Isto significa que mesmo
existindo trânsito em julgado, o réu pode não cumprir – é aqui que entra o direito executivo. Note-se que este
pensamento vale, também, para os direitos reais.
Por outro lado, ainda sobre o processo declarativo, temos o A.703ºCPC. O output da ação executiva
pode ser uma sentença, mas não é o único meio. Aquilo a que se chama um título executivo corresponde a um
documento que certifica legalmente a existência de uma obrigação, não sendo necessariamente uma sentença
(ex: cheque com cobertura, uma escritura pública, um documento autenticado por notário, uma injunção).
Vejamos, agora, qual o fundamento material. Corresponde à violação de direitos a uma prestação – o
fundamento material é o direito à execução. Neste âmbito, cabe distinguir duas realidades:
1. Direito à execução → Corresponde ao direito a executar forçosamente o património do devedor – é um
direito privado de nos dirigirmos ao violador, obrigando-o/forçando-o a cumprir;
2. Direito de execução → Corresponde ao direito a ir aos tribunais instaurar uma ação executiva – ou seja,
é um direito assegurado através do Estado.

Qual a definição de ação executiva? (A.10º4 CPC). A regência adota a seguinte noção:
➢ Ação executiva é uma ação em que o autor requer as providências necessárias à realização coativa de
um direito ou à realização de um poder de uma prestação, enunciado num título legalmente competente
(noção do REGENTE);
➢ Alguns autores distinguem entre ação executiva em sentido próprio e em sentido impróprio. A ação
executiva em sentido próprio significa que foi violado um direito de crédito ou direito real, que foi
devidamente declarado, e que precisa, agora, de ser executado. A ação executiva em sentido impróprio
está pensada para os casos de cancelamento do registo por nulidade, por exemplo. A regência discorda
desta distinção, na medida em que as ações em sentido impróprio não são verdadeiras, não é o
cancelamento que as torna executivas.

A execução específica de contrato de promessa (A.830ºCC) é uma ação constitutiva, em que a sentença,
só por si, cria efeitos na ordem jurídica – ela própria tem efeitos executivos. Em sentido material, não deixa de
ser ação executiva - o credor fica satisfeito, contra a vontade do devedor, por força da própria sentença, que serve
como se fosse uma declaração emitida pelo próprio devedor. Não se trata de uma ação em sentido impróprio,
porque faz parte do objeto do Direito Executivo – há atos materiais que satisfazem coativamente a vontade do
credor. Imaginando que não existe ação de execução específica, se existe um direito de tutela jurisdicional
(A.20ºCRP), como resolveríamos o problema? A resposta seria uma ação condenatória, mas isso significa que
nada obrigaria o réu a cumprir, pelo que teríamos de ir para o processo executivo. Este aspeto demonstra que a
execução específica de contrato de promessa é, de facto, uma forma de execução, pertence ao seu objeto e
procura satisfazer a tutela da confiança depositada pelo fiel promitente.

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PROCEDIMENTO EXECUTIVO:
● Aquele que visa realizar coativamente a prestação;
● Ação declarativa → Fase dos articulados + condensação + instrução + sentença;
● Se o título executivo é a sentença, o direito existe: não é um repetir da ação, mas a sua execução;
● Fases Ordinárias da Ação Executiva 1:
1. Requerimento Executivo (= PI);
2. Despacho de Recebimento e Citação do Executado;
3. Prazo de Defesa do Executado (podem haver factos novos, havendo sempre fundamento de
nova defesa - ex: já paguei o que devia);
4. Oposição à Execução (= Contestação) → Ação declarativa de embargo;
5. Processo é distribuído a um agente de execução (entidade privada);
6. Fase da Penhora;
7. Fase da reclamação de créditos (concurso de credores)2;
8. Fase da venda judicial dos bens penhorados;
9. Fase do pagamento da dívida com a receita da venda judicial dos bens penhorados.

PRINCÍPIOS ESTRUTURANTES:
1. Princípio do Contraditório → O Processo executivo desenvolve participação entre exequente e
executado, valendo este princípio também para aqui (decorre, inclusive, da própria CRP);
2. Princípio da Igualdade (A.4ºCPC) → As partes são tratadas da mesma forma perante a mesma ação;
➢ Na ação declarativa não sabemos quem tem razão até à sentença, existindo igualdade formal
entre as partes. Mas na ação executiva já sabemos quem tem razão, pelo que encontramos
instrumentos que favorecem o credor em detrimento do devedor;
➢ Assim, reina o princípio do favor creditoris → Limitação à igualdade substancial das partes
(violaria a CRP tratar as partes de forma estritamente igual, tendo uma delas um direito já
confirmado por sentença declarativa).

3. Princípio da Legalidade da Decisão


4. Princípio da Economia Processual
5. Digitalização do Processo:
➢ E-Leilões.pt → Site para comprar bens penhorados
➢ SISAE.pt → Sistema informático de Suporte à atividade do Agente de Execução

PRINCÍPIOS INSTRUMENTAIS:
1. Princípio da Disponibilidade das Partes → Impulso processual cabe às partes, assim como a extinção
do processo. O avanço do processo, em alguns aspetos, depende das partes, assim como estas podem
celebrar negócios processuais;
2. Princípio da Oficiosidade → Alguns factos são de conhecimento oficioso;
3. Princípio da Oficialidade → Certos atos processuais podem ser praticados sem que as partes o peçam (o
processo executivo avança por impulso do juiz ou do agente de execução - direção do processo);
4. Princípio da Legalidade do Procedimento → A sequência dos atos processuais está fixada na lei, sem
prejuízo do princípio da adequação formal;
5. Princípio da Cooperação entre as partes (A.7ºCPC).

1
Ação Executiva Sumária → Penhora-se os bens primeiro e avisa-se depois.
2
Se for penhorado um bem sobre o qual incida uma garantia real, tem de existir citação do garantido (ex: se o imóvel está
hipotecado, tem de ser citado também o banco) → Concurso de Credores.

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PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS:
1. Favor Creditoris → Regente defende que não é um verdadeiro princípio, mas um conjunto de exceções
ao princípio geral da igualdade entre as partes (só pode operar como exceção);
2. Princípio da Patrimonialidade (A.817ºCC) → Os atos executivos têm como objeto situações jurídicas
ativas que integram o património do executado (o objeto do processo executivo são sempre bens);
3. Princípio da Proporcionalidade (A.751º2 e 735º3 CPC) → Se vamos atacar o património do executado,
a proporcionalidade é o limite (estrita medida do necessário para satisfazer a obrigação exequenda);
4. Princípio da Formalização → Não há execução viável sem título executivo (A.10º5 CPC).

OBJETO PROCESSUAL DA AÇÃO EXECUTIVA:


● Todas as ações identificam-se por um cartão de cidadão: identifica os sujeitos, pedido e causa de pedir;
● Os sujeitos são os do título executivo (depois estudamos melhor!)
● Pedido → Realização coactiva da prestação devida, consistindo a realização coativa na realização de
atos materiais de ingerência na esfera patrimonial do devedor destinados a produzir os mesmos efeitos
jurídico-econômicos que adviriam da realização voluntária da prestação (execução específica).
➢ Objeto imediato → Realização coactiva da prestação devida;
➢ Objeto mediato → Prestação devida (A.10º6 CPC → é o objeto mediato que me diz qual a
forma de processo executivo que devo adotar)3.
1. Execução para pagamento de quantia certa → O objeto é a realização da prestação
devida, através da entrega do valor pecuniário correspondente à dívida a que o credor
tem direito (ex: dívida de 50€, penhora-se e vende-se o objeto y e entrega-se 50€);
2. Execução para entrega de coisa certa → O objeto já não é a realização da prestação
devida, mas a entrega de um bem que o exequente tem direito (A.859ºss CPC);
3. Execução para prestação de facto (A.868ºss CPC).

CAUSA DE PEDIR
● Se podemos pedir ao tribunal que através do agente de execução proceda à realização coativa da
prestação, qual é a causa de pedir dessa solicitação? De que factos jurídicos procede a minha pretensão
de pagamento?
● Em termos gerais, a causa de pedir são os factos jurídicos de onde sucede o efeito jurídico pretendido
pelo autor (Causa de pedir → Atos de onde procede a pretensão alegada pelo autor);
● Na ação declarativa são os factos constitutivos do direito do autor, são alegados e provados. Desses
factos retiram-se efeitos jurídicos. Na ação executiva o facto de onde se retira o direito alegado está
contido no título executivo;
● O título executivo não é a causa de pedir, mas demonstra-a. É um meio de demonstração, de
justificação da causa de pedir, não é um meio de prova;
● O REGENTE e LF 4 têm defendido que a causa de pedir é composta por:
1) Factos principais: Ex: contrato de compra e venda;
2) Factos complementares: Ex: data do vencimento do pagamento.

● Os factos necessários à procedência da ação são os factos principais e complementares, e por isso
ambos devem integrar a causa de pedir (segundo o REGENTE);
● Em princípio, o título executivo vai indicar tanto os factos principais como os factos complementares
(embora possa apenas conter os factos principais);

3
A mais importante e usada é a execução para pagamento de quantia certa.
4
Contra MTS, que considera que os factos complementares não integram a causa de pedir.

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● Causa de pedir na Ação Executiva → Pode ser definida como os factos de aquisição de um direito ou
de um dever a uma prestação exigível;
● Alguns consideram que a causa de pedir é o não cumprimento da prestação devida, ou que o
incumprimento é pelo menos parte da causa de pedir (A.817ºCC);
● Segundo o REGENTE, o incumprimento não integra a causa de pedir, porque a causa de pedir é
integrada por factos demonstráveis (apenas se tem de demonstrar que o direito existe e é exigível). O
incumprimento está implicitamente enunciado, não tendo de ser alegado (mas apenas a exigibilidade da
prestação) e, por isso, o incumprimento não integra a causa de pedir;
● Nos títulos de crédito ou declarações de dívida (títulos executivos), a causa de pedir vai ser exatamente
a causa contratual ou doação que não está enunciada na declaração de dívida;
● Mesmo quando há confissão de dívida, a causa de pedir é a relação subjacente a essa dívida;
● Também os títulos de crédito, que não são confissões de dívida, são fontes de dívida. Num cheque, por
exemplo, a causa de pedir autónoma é o facto da emissão do próprio título.

ORIENTAÇÃO JUDICIÁRIA EXECUTIVA


● A ação executiva é complexa quando se trata de contratos nos quais as entidades ou órgãos do Estado
intervêm. Numa ação temos o exequente, o executado e o tribunal. No entanto, o tribunal não atua
sozinho. Em nome do Estado, as tarefas de execução estão também entregues ao agente de execução;
● A ação executiva é uma ação judicial, o que quer dizer que corre sempre sob a competência do tribunal,
nomeadamente nos tribunais judiciais comuns;
● Desde março de 2003, houve uma reforma na maneira como a ação executiva se desenrola: Quem
realizava os atos processuais materiais era o oficial de justiça e não o juiz. A partir dessa altura
entendeu-se que deviam existir tribunais apenas para matéria de execução, pelo que se criaram os juízes
de execução nas comarcas (previstos no A.81º3/j LOSJ);

1) JUIZ
● Os juízes tratam de todo o processo executivo e não apenas da execução;
● Poder geral de controlo passivo (A.723º1 CPC):
➢ Típico → Competência expressamente atribuída pela Lei;
➢ Provocado → Ex: requerimentos; atos postulativos…
➢ Oficioso → Sempre que o processo chega às mãos do juiz, este conhece oficiosamente os
pressupostos processuais e as nulidades que lhe cumpre conhecer (estado do processo).

● Tem competências declarativas e competências executivas. O tribunal de execução não pode solicitar o
processo para ver as ilegalidades, apenas a propósito das suas competências processuais – controlo
passivo e não ativo:
➢ Competências Declarativas → Conhecer da reclamação dos atos do agente de execução,
conhecer das questões levantadas pelas partes, julgar processos declarativos acessórios, julgar
os incidentes. Tudo o que seja do foro jurisdicional.
➢ Competência Executiva → Residual;
➢ Competência Genérica (A.719ºCPC) → Incumbe à secretaria exercer as funções que lhe são
cometidas pelo A.157ºCPC, na fase liminar e nos procedimentos ou incidentes de natureza
declarativa. A secretaria não faz citações, isso cabe ao agente de execução.

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2) AGENTE DE EXECUÇÃO5
● Foi criado um modelo em que o tribunal trabalha com uma entidade privada que trata apenas da
execução, o agente de execução. É uma inspiração do modelo francês;
● O processo continua a ser da competência do tribunal, mas o poder de direção do processo, a prática
dos atos materiais e das citações, é do agente de execução;
● É um auxiliar de justiça: profissional liberal designado6 pelo exequente, que atua em nome do Estado, a
favor do exequente, apesar de não haver nenhum contrato. Residualmente, o juiz mantém um poder
geral de controlo;
● Quem pode ser agente de execução? Primordialmente está feito para que o agente de execução seja um
auxiliar de justiça: profissional liberal que pratica atos de autoridade em nome do Estado. No entanto,
em certos casos, o agente de execução pode não ser o auxiliar de justiça, mas antes um oficial de justiça
(A.722ºCPC - elenca as situações em que isto acontece). São situações residuais, a diferença é que o
oficial de justiça não é privado;
● O agente de execução não é mandatário do exequente. Em caso de responsabilidade civil quem
responde pelo agente de execução é o Estado.
● As despesas que o exequente tem com o agente de execução, depois exige-as ao executado, assim como
os honorários gastos com o advogado (A.533º2/c CPC e A.25º Reg. Custas Processuais);
● Se o executado não pagar as custas ao exequente, este pode executar o executado noutra ação pelas
custas processuais (o título executivo é a nota discriminatória dos honorários do agente de execução);
● O exequente pode impugnar a nota discriminativa do agente de execução, mas aquando do caso
julgado, o agente de execução pode usá-la como título executivo contra o próprio exequente;
● Como se processa o pagamento ao agente de execução?
1. Parte Fixa → Honorários que o agente de execução deve sempre receber ao longo do avanço
do processo (tabela na PORTARIA n.º 282/2013). Está dividida em 4 partes correspondentes
às partes do processo executivo (exequente paga antecipadamente para que o agente avançe
para a seguinte fase [A.721º2 CPC] → Condição do impulso processual)7 8;
2. Parte Variável → Honorário suplementar que depende do sucesso da ação e do seu valor;

● O agente de execução ganha uma percentagem sobre o valor da quantia executada (prémio). Calcula-se
em termos percentuais sobre o valor recuperado, variando ainda consoante o tempo de recuperação;
● O agente de execução recupera o valor, através de:
1. Pagamento Voluntário;
2. Acordo de pagamento;
3. Penhora (percentagem do valor obtido com a venda).

● Agente de execução está sujeito a fiscalização, inspeção e sancionacionação pela 1) Ordem dos
Solicitadores e Agentes de Execução e pela 2) Comissão para o Cumprimento da Atividade de Justiça
(a segunda regulada pela Lei n.º 77/2013);
● Natureza jurídica do Agente de Execução → Auxiliar de justiça, isto é, mandatário do Estado que
exerce os seus poderes de autoridade para cobrar dívidas privadas (A.162º Estatuto dos AE).
➢ É um profissional liberal e não um funcionário público do Estado.
➢ Assim, não representa as partes, mas sim o próprio Estado, não havendo contrato de mandato
entre ele e o exequente (A.163º Estatuto dos AE);

5
Regulados pela Lei n.º 154/2015 e PORTARIA n.º 282/2013.
6
Em França é contratado, em Portugal é designado.
7
Não se considera instaurada a ação executiva, mesmo que recebida pela secretaria, até à data de pagamento ao agente de
execução (A.724º6 CPC) → Limitação razoável ao Direito de Ação (REGENTE).
8
E se não se der o pagamento da seguinte fase? A execução fica suspensa e passados 30 dias da citação do exequente para
pagar, a ação executiva extingue-se (A.721º2 e 3 CPC).

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➢ Tem consequências jurisdicionais:


1. Se a ação estiver parada por falta da prática de atos pelo agente de execução, há
extinção da ação por deserção? Não, porque a deserção tem de ser imputável à
negligência do exequente, e o agente de execução não o representa;
2. Quem responde a título subsidiário pela responsabilidade civil do agente de execução
não é o exequente, mas sim o Estado (A.12º da Lei n.º 67/2007)9.

● O agente de execução é designado pelo exequente no requerimento executivo, a partir de uma lista
oficial de agentes de execução (A.720º e A.724/1/c CPC). Pode ser qualquer um, não tendo de ser da
comarca (mas, neste caso, o exequente tem de pagar as custas de deslocação);
● Recebido o requerimento executivo pela secretaria, esta envia-o para o agente de execução, e este tem
sempre 5 dias para decidir o chamamento. Em caso de recusa, notifica-se o exequente que terá de
designar outro agente de execução. Se o exequente não designar novo agente de execução, será
substituído na designação pela secretaria (A.720º2 e 3 CPC);
● O agente de execução pode ser substituído e pode ser destituído (substituição que resulta de intervenção
de terceiro → A competência para destituição é do exequente e não do tribunal10 - A.720º4 CPC). A
destituição pode também resultar de processo disciplinar;
● Atos do agente de execução: (A.719ºCPC)
➢ “Cabe ao agente de execução efetuar todas as diligências do processo executivo que não
estejam atribuídas à secretaria ou sejam da competência do juiz” (nº1);
➢ Poder de direção da ação executiva (juiz só intervém residualmente) → Ao contrário da ação
declarativa, nas ações executivas o juiz só tem poderes passivos;
➢ Como se impugnam os atos deste?
❖ O juiz pode julgar, sem possibilidade de recurso, as reclamações dos atos praticados
pelo agente de execução, no prazo de 10 dias (A.723º1/c);
❖ O pedido é que seja revogado o ato processual do agente de execução e a causa de
pedir prende-se com ilegalidades materiais/processuais ou erros de facto;
❖ Impugnado o ato, quem pratica novo ato? REGENTE defende que não pode ser o
tribunal por falta de competência, tendo o ato de ser re-praticado pelo agente de
execução segundo as diretivas emanadas pelo juiz;
❖ E se houver nulidade da penhora ou da citação? A Lei prevê um conjunto de meios de
ataque a atos ilegais e penhoras ilegais (ex: oposição à penhora e embargos de
terceiro). Mas a reclamação está em concurso com estes, só se aplicando a
reclamação quando outros meios de defesa não forem aplicados (REGENTE);

➢ Os atos executivos do agente de execução são jurisdicionais ou administrativos? REGENTE


defende que são atos administrativos porque o agente de execução é o representante do Estado
na administração da justiça11.

9
Mas REGENTE defende que é possível responsabilizar também o exequente, uma vez que foi este que escolheu o agente de
execução. Se o agente escolhido já tiver sido sujeito várias vezes a responsabilidade civil e se provar que era provável que o
voltasse a fazer, pode-se considerar a responsabilidade do exequente por culpa in eligendo.
10
Mesmo que a pedido do executado. REGENTE defende que esta solução viola o Princípio da Igualdade, uma vez que não
há qualquer razão para não se permitir a destituição por impulso do executado.
11
REGENTE → No plano material, o processo executivo é judicial porque se passa no tribunal, mas funcionalmente é
administrativo porque não se diz o direito. Assim, podemos dizer que, no sentido amplo, a função jurisdicional também
congrega o processo executivo, uma vez que os atos administrativos são instrumentais de atos judiciais (da sentença).

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CONDIÇÕES DE EXEQUIBILIDADE

1) EXEQUIBILIDADE EXTRÍNSECA - TÍTULO EXECUTIVO

TITULO EXECUTIVO:
● As ações executivas são aquelas em que o credor requer as providências adequadas à realização coativa
de uma obrigação que lhe é devida (A.10º4 CPC);
● O A.10º5 CPC exige um título executivo para a ação executiva, pelo que na falta ou insuficiência deste
pode haver lugar a:
1. Recusa de recebimento pela secretaria (nos processos ordinários - A.725º1/d CPC) ou pelo
agente de execução (nos processos sumários - A.855º2/a CPC);
2. Indeferimento liminar (A.726º2/a CPC);
3. Extinção superveniente da execução (A.734º1 CPC);
4. Oposição à execução (A.729º/a e /e CPC).

● REGENTE → Título executivo é o documento (forma de representação de um facto jurídico) que


demonstra a causa de pedir da ação executiva – os factos principais integrantes da causa de pedir e em
que se funda o pedido de execução: os factos de aquisição do direito/poder a uma prestação12.
➢ Nuns casos, o título executivo incorpora em si mesmo esses factos aquisitivos – por exemplo,
o contrato de compra e venda na forma autêntica ou autenticada é título executivo da
obrigação de pagar o preço (vide A.703º1/b CPC) e, em simultâneo, incorpora a constituição
dessa obrigação (vide A.879ºCC);
➢ Noutros casos, o título executivo enuncia ou reconhece um facto aquisitivo prévio - por
exemplo a sentença condenatória (A.703º1/a CPC) ou documento privado de reconhecimento
de uma dívida (A.703º1/b CPC e A.458ºCC).

● Pode incorporar em si mesmo os factos aquisitivos ou simplesmente enunciar/reconhecer um facto


aquisitivo prévio (A.724º1/e CPC);
● Título executivo é a causa de pedir? Não, o título demonstra a causa de pedir, mas não é a causa de
pedir. O título é apenas o documento demonstrativo da causa de pedir;
● É o fundamento jurídico para a ação executiva → Documento pelo qual o requerente de realização
coativa da prestação demonstra a aquisição de um direito ou poder a uma prestação, segundo requisitos
legalmente preenchidos (vide A.10º4 e 5 CPC e A.703ºCPC);
● O documento não prova a causa de pedir (sem prejuízo de poder ser usado como meio de prova na ação
declarativa), apenas a comprova. Não pode haver prova da dívida na ação executiva: esta não serve para
provar a dívida, pelo que tem de chegar completa à execução.

12
MTS → Título executivo é o documento do qual resulta a exequibilidade de uma pretensão e, portanto, a possibilidade da
realização coativa da correspondente prestação através de uma ação executiva. Incorpora o direito de execução - direito do
credor a executar o património do devedor ou de um terceiro para obter a satisfação efetiva do seu direito à prestação.

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FUNÇÕES DO TÍTULO EXECUTIVO


1. FUNÇÃO DE REPRESENTAÇÃO DOS FACTOS PRINCIPAIS
● O título não é a causa de pedir, mas apenas a representa. Essa representação da causa de pedir
permite a execução da obrigação exequenda;
● Documento que constitui a base da ação executiva, com autonomia relativamente à atual
existência da obrigação, que não tem, em princípio, de ser questionada na ação executiva;
● Esta função de representação resulta da verificação das condições formais que para o
legislador constituem a base da aparência ou da probabilidade do direito (vide A.703ºCPC).

2. FUNÇÃO DELIMITADORA
● Enunciada no A.10º5 CPC: É através do título que se determina o objeto (âmbito objetivo) e
os sujeitos (âmbito subjetivo) da execução;
● Indiretamente o título executivo determina também os pressupostos processuais.

3. FUNÇÃO CONSTITUTIVA
● O título executivo constitui o direito à realização coativa da prestação (A.10º4 e 5 CPC);
● MTS → O título executivo atribui exequibilidade a uma pretensão, possibilitando que a
correspondente prestação seja realizada através das medidas coativas impostas ao executado
pelo tribunal. Falamos aqui em exequibilidade extrínseca e intrínseca;
● Enquanto na ação declarativa o juiz tem de responder à pergunta “o direito existe na esfera do
autor?”, na ação executiva a pergunta é a de se “a execução apresenta as condições suficientes
para a realização coativa da prestação?”. Portanto, o tribunal da execução não certifica o
direito exequendo, antes o impõe, porque o título executivo já o certifica.
● REGENTE diz que as exigências de título executivo e de exigibilidade/determinação da
obrigação constituem requisitos de tipo diferentes dos pressupostos processuais, na medida em
que estes são condições de conhecimento do pedido executivo, respeitantes à relação
processual, ao passo que os primeiros respeitam à relação material e, por isso, determinam se
o tribunal pode ou não satisfazer o pedido do credor de realização coativa da prestação, ou
seja, a procedência do pedido executivo. Assim, entende que o título executivo e a obrigação
com determinadas qualidades não são pressupostos processuais, mas sim condições de ação.

SUFICIÊNCIA DO TÍTULO EXECUTIVO


● Se for um título executivo negocial, o credor tem um ónus de fundamentar o seu pedido numa
aparência mínima dos factos principais constitutivos do seu direito, sendo essa que impede um juízo de
inexistência manifesta desses factos (A.726º2/c CPC);
● REGENTE → Se forem obrigações abstratas (cambiárias ou objeto de declaração unilateral do devedor
de promessa de uma prestação ou de reconhecimento de dívida à luz do A.458º1 CC):
1. No reconhecimento de dívida do A.458º1 CC, título recognitivo privado por excelência,
decorre do preceito que o credor fica dispensado de provar a relação fundamental, cuja
existência se presume até prova em contrário (neste sentido, Ac. STJ de 17/04/2008). Mas o
credor que beneficia de um reconhecimento de dívida, que tem a sua favor a inversão do ónus
da prova da causa de pedir, não fica dispensado de a indicar caso o título não a contenha
(A.724º1/e CPC);
2. Na execução de títulos de crédito, a causa de pedir é a aquisição na esfera do requerente de um
direito a uma prestação mediante o saque ou emissão do título, mas sem que ele tenha de
indicar a que relação subjacente corresponde esse direito (A.1º LULL e A.458ºCC): ou seja, a
apresentação do título de crédito, devidamente datado e preenchido, cumpre só por si a
exigência de causa de pedir, pois certifica por si mesmo o facto do saque ou da emissão.

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CARACTERÍSTICAS DO TÍTULO EXECUTIVO


1. TIPICIDADE → Só são títulos executivos os documentos que a Lei expressamente enuncie como tal
(A.703ºCPC + legislação avulsa), pelo que, de acordo com o REGENTE, não há títulos executivos
implícitos, nem por analogia nem por interpretações extensivas. É uma lei imperativa de Direito
Público: assim, as partes não podem atribuir nem retirar força executiva a um documento.

2. SUFICIÊNCIA → O título cumpre todas as suas funções sem necessidade de documentos


complementares. Mas isto admite exceções, como é o caso do A.707ºCPC, daí que se fale numa
suficiência possível ou tendencial. Assim, se a obrigação exequenda não for certa, líquida e exigível em
face do título, a lei permite diligências processuais preliminares e complementares de acertamento
qualitativo e quantitativo da obrigação e, bem assim, de demonstração da sua exigibilidade (A.713ºss).

3. AUTONOMIA → Consiste no facto de a exequibilidade do título executivo ser independente da


exequibilidade da pretensão. Ou seja, podemos ter título sem ter obrigação, como sucede no caso de se
executar o título de uma dívida que já está paga. Isto significa que a “vida” da obrigação não determina
necessariamente a exequibilidade do título.
➢ No entanto, as vicissitudes da obrigação, em certos casos, contaminam o título: se houver uma
invalidade formal (i.e. se o contrato não obedecer à forma exigida por lei), essa vicissitude
contamina sempre a obrigação, o contrato e o título. Quando o A.703ºCPC fala das sentenças,
documentos autênticos ou autênticados, títulos de crédito… pressupõe que os documentos são
formalmente válidos;
➢ Já em relação às invalidades substantivas, normalmente, estas não contaminam o título (ex: se
um negócio for celebrado por um menor, essa invalidade do negócio não contamina o título
executivo) – nesses casos, caberá ao executado invocar a invalidade, mas isso não tira força
executiva ao título;
➢ Por outro lado, o REGENTE e LF entendem que também a ocorrência de factos modificativos
ou extintivos da obrigação supervenientes à constituição do título pode e deve ser conhecida
pelo juiz, desde que a sua causa seja de conhecimento oficioso e resulte do próprio título, do
requerimento inicial de execução, da ação de oposição à execução, em articulação com o
A.5º2 CPC. Nesse caso, a execução deve ser rejeitada por inexigibilidade ou inexistência da
obrigação, consoante o fundamento (ex: A.726º2/c, A.729º/e e A.734º1 CPC), embora o título
executivo permaneça eficaz (princípio da autonomia).

CLASSIFICAÇÃO DOS TÍTULOS EXECUTIVOS


1. Judicial vs Extrajudicial → Esta distinção utiliza a sentença como referência, sendo esta o
título judicial e todos os demais títulos extrajudiciais;
2. Públicos vs Privados → Distinção em razão da entidade autora do efeito jurídico: nos títulos
executivos privados temos títulos executivos autênticos e particulares; nos títulos executivos
públicos temos títulos de formação judicial, títulos injuntórios e títulos administrativos;
3. Constitutivos vs Recognitivos → Distinção em razão do seu efeito material: os títulos
constitutivos são aqueles que são fonte da obrigação (ex: contrato de compra e venda); sendo
que os títulos recognitivos limitam-se a reconhecer uma pré-divida, ou seja, uma dívida que
existia antes do título (ex: confissão de dívida);
4. Típicos vs Atípicos → Os títulos típicos são aqueles que constam das alíneas do A.703ºCPC,
enquanto os títulos avulsos são todos os outros, em que para sabermos o teor destes temos de
consultar outras normas avulsas (ex vi A.703º1/d CPC).

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→ SENTENÇA CONDENATÓRIA (A.703º1/a CPC)


● As sentenças condenatórias são quaisquer sentenças que, a título único ou cumulado, imponham um
comando de atuação ao réu. Estão, assim, abrangidas:
1. Sentenças de ação de condenação a título singular, finais ou antecipadas em
saneador-sentença, incluindo as proferidas em processo especial (ex: A é condenado a pagar a
B 10.000€ a título de restituição de quantia mutuada, juntamente com juros remuneratórios e
com juros de mora);
2. A parte condenatória de ação de simples apreciação, em que ao pedido de reconhecimento da
existência/inexistência de um facto/direito o autor tenha cumulado um pedido de condenação
(ex: A pede a declaração de nulidade do contrato de CV celebrado com B, por coação física, e
a condenação em pagamento de indemnização por danos morais);
3. A parte condenatória de ação constitutiva, em que com o pedido de constituição, modificação
ou extinção de uma situação jurídica o autor tenha cumulado um pedido de condenação (ex: A,
pai de B, menor, pede a anulação da venda do automóvel que este fez a C, e a restituição da
viatura à sua posse).

● Pelo contrário, estão normalmente excluídas pela doutrina e jurisprudência as sentenças de simples
apreciação (sem parte condenatória), porque não impõem um comando de atuação, e as sentenças
constitutivas porque não carecem de colaboração ulterior do réu quanto ao efeito que produzem;
● No plano da competência, estas sentenças podem provir de todos os tribunais com competência em
Portugal, incluindo os tribunais arbitrais (A.705º2 CPC e A.42º7 LAV).
● No plano da legitimação, a sentença condenatória pode ser normal, ou seja, proferida após o
julgamento, mas pode também ser uma sentença condenatória homologatória: esta não decorre de um
julgamento (da matéria de facto e de direito); o que houve foi a homologação de um negócio, como
uma transação entre autor e réu ou a confissão do réu. Decorrem, portanto, de uma adesão a um
negócio processual que tenha eficácia condenatória (confissão ou transação)13;
● No plano da eficácia formal, as providências cautelares que tenham teor condenatório também são
abrangidas no conceito de sentença condenatória, pois têm força executiva (REGENTE14 faz, assim,
interpretação extensiva). Trata-se aqui de uma verdadeira sentença, embora com um caso julgado
material provisório, sem prejuízo da possibilidade de consolidação pelo mecanismo da inversão do
contencioso (A.369º e A.371º1 e 2 CPC);
● No plano formal são equiparadas às sentenças condenatórias os despachos e quaisquer outras decisões
ou atos da autoridade judicial que condenem no cumprimento de uma obrigação (A.705º1 CPC). É o
que sucede com a decisão, autonomizada em despacho ou integrante da sentença, que imponha o
pagamento das custas processuais (A.527º1 e A.529º1 CPC) ou a condenação no pagamento de multa
e/ou de indemnização por litigância de má-fé (A.542º1 CPC).

13
O título executivo é a própria sentença e não o negócio subjacente.
14
Diferentemente, MTS inclui a decisão cautelar no A.705º1 CPC, como se fosse uma mera decisão acessória da questão de
mérito, com fundamento processual, como sucede com a condenação de custas, multa ou indemnização.

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SENTENÇAS CONDENATÓRIAS IMPLÍCITAS


● Discute-se se podem ser executadas obrigações que, embora para elas o autor não tenha pedido a
condenação no cumprimento e sobre as quais não houve pronúncia judicial expressa, se teriam
constituído na esfera jurídica do réu como resultado implícito da procedência do pedido declarativo;
● Esta questão é frequentemente colocada quanto à execução dos juros moratórios legais não
compreendidos na sentença de condenação – este exemplo está resolvido no A.703º2 CPC (os juros de
mora legais consideram-se sempre incluídos no título executivo);
● MTS entende que podem haver sentenças de simples apreciação ou constitutivas que contenham, de
forma implícita, a condenação num dever de cumprimento, podendo nesse caso servir de título
executivo. A condenação implícita teria lugar quando o pedido não tivesse utilidade económica distinta
e, por isso, se tivesse tido lugar a sua efetiva dedução, estar-se-ia perante uma cumulação aparente.
➢ A grande vantagem desta tese é a economia processual;
➢ Ex1: numa ação de nulidade do contrato, o autor que não tivesse pedido a restituição da sua
prestação poderia, ainda assim, executar o direito à entrega da coisa;
➢ Ex2: numa ação de despejo, o autor que não tivesse pedido saída do inquilino do imóvel
poderia, ainda assim, executar o direito à entrega da coisa.

● REGENTE defende que não podem existir títulos executivos sobre condenações implícitas15, porque:
➢ O Princípio do Dispositivo - segundo o qual o objeto da ação é aquilo que se pede, o objeto da
instrução são os factos que sustentam esse pedido, e o objeto da sentença é aquilo que foi
pedido - impõe que o caso julgado apenas abranja o que foi decidido (e apenas foi decidido o
que foi pedido). Assim, não pode existir caso julgado implícito;
➢ Admitir condenações implícitas é violar o princípio da nulidade de sentenças que condenem
em mais do que aquilo que foi pedido: estaríamos a violar o A.609º1 CPC, o que ditaria a
nulidade da sentença (A.615ºCPC) e nulidade geral por impossibilidade de contraditório do
réu sobre essa “condenação” (A.195º1 e A.3º3 CPC);
➢ Se o autor tem necessidade de pedir mais (ex: não só as rendas em atraso, mas também o
despejo), então peça na PI. Estas seriam obrigações futuras que só podem ser deduzidas se
couberem no elenco taxativo do A.557ºCPC (apenas nestes casos se pode condenar in
futurum). Assim, admitir as condenações implícitas é também violar o A.557ºCPC:
Obrigações futuras à data da sentença condenatória que se admitem como exequendas;
➢ Mas onde está o fundamento para afirmar que o juiz está a condenar? Não há nenhum ato
voluntário do tribunal a condenar. A Lei estabelece que apenas as sentenças condenatórias têm
força executiva, porque apenas estas verificam o incumprimento (ao contrário das de mera
apreciação e das declarativas). Nas condenações implícitas o juiz também não verifica o
incumprimento, porque nem sequer lhe foi pedido que o fizesse.

15
No entanto, o REGENTE admite que existem certas sentenças, constitutivas e de simples apreciação, que têm um efeito
constitutivo não expresso [implícito], derivado da procedência do pedido constitutivo ou de simples apreciação. Assim,
importam a constituição de obrigações que não existiam antes da prolação da sentença, só se constituindo na sequência desta.
É o caso da sentença de execução específica, que importa ex lege a constituição da obrigação de entregar o imóvel vendido
(A.830ºCC) e de pagar o preço; e da sentença de declaração de nulidade do contrato, que importa ex lege a constituição da
obrigação de devolver as prestações já efetuadas (A.289º1 CC).

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SENTENÇAS ESTRANGEIRAS
● A.706ºCPC prevê que as sentenças estrangeiras podem ser executadas junto dos tribunais nacionais,
desde que sejam revistas e confirmadas em portugal (nº1);
● É competente para a revisão e confirmação da sentença o Tribunal da Relação da área em que esteja
domiciliada a pessoa contra quem se pretende fazer valer essa sentença (A.979ºCPC e A.59º1/h LAV);
● Abrange quer as sentenças, quer os documentos não-judiciais exarados no estrangeiro (documentos
autênticos ou particulares autenticados);
● Ressalvam-se as normas de DIP e de Instrumentos Europeus (Reg. 1215/201216 e Convenção de
Lugano de 30 Out. 2007);
● As sentenças que provenham de um EM podem ser executadas nos tribunais de outro EM sem
necessidade do processo especial de revisão e confirmação (simples procedimento de exequibilidade da
UE - livre circulação de sentenças - A.36º1 e A.39º Reg. 1215/2012).
➢ A força executiva das sentenças estrangeiras tem de ser apreciada à luz do direito nacional
desse EM (e não pelo A.703ºCPC).

SENTENÇA DE CONDENAÇÃO GENÉRICA


● Regra geral as sentenças a que se refere o A.703º1/a CPC têm uma obrigação líquida/determinada;
● Mas pode acontecer que tenha sido deduzido um pedido ilíquido na PI da ação declarativa (A.556ºCPC
- exceção). Ex: acidente de viação, condenação genérica quanto ao cálculo da indemnização;
● Se durante a ação declarativa já se sabe o valor da lesão, propõe-se um acidente de liquidação do
pedido. Mas nem sempre é assim. Se não for apurado durante o processo declarativo, o A.609º2 CPC
permite que a sentença condene no que vier a ser liquidado (tribunal reconhece o direito de crédito, mas
não pode determinar o quantum);
● REGENTE defende que esta é também uma sentença condenatória, uma vez que o juiz já estabelece
um comando de ação (tens de pagar x);
● A sentença genérica não pode ser executada por falta de liquidez da obrigação exequenda: a obrigação
existe, mas não tem força executiva (A.704º6 CPC) → Solução é abrir incidente de liquidação na ação
declarativa, com reabertura do processo, a título póstumo (A.358º2 CPC);
● Só com a sentença de liquidação se pode iniciar o processo executivo.

SENTENÇA PENDENTE DE RECURSO


● Como uma sentença é um título jurídico, só produz a sua eficácia quando transita em julgado, ou seja,
quando já não admite recurso ordinário ou reclamação (A.628ºCPC);
● Regra geral, uma sentença que ainda não transitou em julgado não tem força executiva (A.704º1 CPC).
No entanto, a lei faz uma ressalva: a não ser que o recurso não tenha efeito suspensivo da eficácia da
decisão, ou seja, que tenha efeito meramente devolutivo → O valor de exequibilidade é, assim,
alcançado mesmo antes do valor de caso julgado;
● A regra é a de que os recursos cíveis têm efeito meramente devolutivo (A.647º1 - recurso de apelação),
consequentemente, as sentenças podem executar-se provisoriamente, após a sua notificação ou
conhecimento pelas partes17.

16
Também se aplica à Dinamarca, ainda que indiretamente.
17
Exceção quanto aos casos de despejo, em que o recurso tem sempre efeito suspensivo (A.647º3/b CPC).

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● O recorrente-executado pode pedir ao juiz a concessão do efeito suspensivo, alegando e demonstrando


que a imediata execução da sentença lhe causa prejuízo considerável18 e prestando caução (A.647º4):
1) Se o efeito suspensivo for concedido, a sentença não tem força executiva, pois não transitou
em julgado e por isso não existe título executivo;
2) Se o efeito suspensivo não for concedido, transitando a sentença em julgado e havendo título
executivo (ainda que provisório), a Lei diz que o executado pode prestar caução, mas agora já
não se põe em causa a força executiva do título e sim a marcha do processo.
➢ Mas a execução suspensa prosseguirá se o recurso estiver parado durante mais de 30
dias por negligência do devedor (A.733º3 CPC e A.650º3 e 4 CPC);
➢ Se não houver dinheiro para prestar caução, a execução vai decorrer até ao fim;
➢ Em qualquer dos casos, se um dos bens penhorados for a casa de morada de família,
pode requerer-se que a execução aguarde pela sentença definitiva (A.704º4 CPC).

● Este regime de exequibilidade imediata da sentença pendente de recurso com efeito meramente
devolutivo vale, por identidade de razão, para todas as situações em que a sentença exequenda não está
estabilizada na sua eficácia:
➢ Vale para as sentenças que nem sequer admitam recurso e estejam a aguardar o esgotamento
do prazo de 10 dias para se reclamar ou requerer reforma (A.615º1 e 3 e A.616º1 e 2 CPC);
➢ É ainda uma execução provisória a execução de sentença contra a qual tenha sido apresentado
recurso extraordinário de revisão de sentença, nos termos dos A.696ºss CPC;
➢ Em ambos os casos, o credor pode executar de imediato a sentença, seguindo os regimes de
prestação de caução, proteção do executado, modificabilidade da execução e ineficácia da
venda (A.704º2, 4 e 6 CPC e A.839º1/a e nº3 CPC).

● O A.47º3 e 4 LAV admite ainda que uma sentença arbitral possa ser executada ainda que tenha sido
impugnada mediante pedido de anulação apresentado de acordo com o A.46ºLAV. Esta impugnação
tem efeito meramente devolutivo, mas o impugnante pode requerer que ela tenha efeito suspensivo da
execução, oferecendo-se para prestar caução (A.733º3, A.648º e A.650ºCPC).

● Deve ainda incluir-se no âmbito do A.704º1 CPC a execução de providências cautelares. Sendo certo
que todas as providências cautelares têm efeitos constitutivos, algumas delas impõem deveres de prestar
aos requeridos, que são dotados de exequibilidade. O regime do A.704ºCPC deve vigorar para a
caducidade de uma providência cautelar por sentença posterior desconforme (A.373º1/c CPC), por ser
o mais adequado para lidar com os efeitos negativos que o requerido sofreu na sua execução;
● Por fim, ficam sujeitas ao A.704º1 CPC as execuções de sentenças e transações judiciais estrangeiras
que estejam pendentes de recurso no seu ordenamento de origem. No entanto, existindo regulamentos e
convenções da UE, estes prevalecem (A.44º e A.51º1 do Reg. 1215/2012).

18
O perigo de prejuízo considerável deve ser justificado nos mesmos termos que valem para as providências cautelares
(A.368º1 CPC) ou para a dispensa de citação prévia (A.727º1 CPC): mediante a alegação e prova de factos dos quais decorra
ser verossímil essa ocorrência. Mas o tribunal deverá ainda fazer um balanceamento entre os interesses das partes (A.368º2).

PEDRO FERREIRA RIBEIRO | 14

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→ DOCUMENTOS AUTÊNTICOS OU AUTENTICADOS (A.703º1/b CPC)


● Constituem títulos executivos extrajudiciais privados:
1. Documentos Autênticos (A.363º2 CC) → Aqueles exarados por notário ou entidade similar;
2. Documentos Autenticados (A.363º3 CC) → Aqueles exarados pelas partes, mas sujeitos a
uma apreciação de validade por parte do notário.

● No plano formal podem ser:


1. Escrituras ou testamentos públicos;
2. Testamentos cerrados (A.2206º1 e 4 CC), no seu original ou na sua certidão ou fotocópia
autêntica (A.383º, A.384º, A.386º e A.387ºCC).

● No plano material podem ser:


1. Títulos constitutivos → contrato de mútuo de valor superior a 25.000€ (A.1143ºCC), contrato
de compra e venda de coisa imóvel (A.875ºCC);
2. Títulos recognitivos da obrigação → Confissão do ato ou facto que constituiu a dívida (A.352º,
A.358º2 e A.364ºCC), reconhecimento de dívida (A.458ºCC).

● Com a entrada em vigor do novo CPC, em 2013, os documentos particulares simples perderam a força
executiva (que tinham pelo antigo CPC):
➢ O Acórdão do TC nº408/2015 declarou com força obrigatória geral que o A703ºCPC, aplicado
de forma retroativa, era inconstitucional por violação do princípio da segurança jurídica;
➢ Assim, os documentos particulares simples anteriores a esta data, mesmo sem termo de
autenticação, continuam a ter força executiva;
➢ Mas então são títulos executivos “forever”? Um título executivo é-o por si próprio, pelo que
não há nenhuma razão que justifique que perca a sua força executiva. A obrigação é que só
dura até que lhe seja oposta uma causa de extinção (ex: prescrição). Ou seja, uma coisa é a
extinção do título e outra coisa é a extinção da dívida. Assim, as dívidas tituladas pelos
documentos particulares simples anteriores a 2013 prescrevem, no máximo, em 20 anos.

● Além de um requisito formal, o A.703º1/b CPC consagra ainda um requisito material → É necessário
que estes documentos importem a constituição de uma obrigação ou que reconheçam uma obrigação já
existente (documentos constitutivos ou recognitivos de uma obrigação):
1) Um título executivo recognitivo apenas serve para executar as obrigações que reconhece (ex: o
reconhecimento, em documento autenticado, de uma dívida de pagamento do fornecimento de
mercadorias (A.458ºCC) constitui título executivo dessa dívida e de mais nenhuma);
2) Um título executivo constitutivo tem força executiva para todas as obrigações que enuncia
expressamente, bem como para todas as obrigações do tipo legal não enunciadas (ex: para
executar a prestação de entrega do imóvel vendido é suficiente o respetivo contrato de CV, que
tem por efeito a constituição dessa obrigação - A.879ºb CC -, mesmo que o contrato não
enuncie expressamente essa obrigação. O mesmo contrato de CV é ainda suficiente para
executar a cláusula pela qual o vendedor se obriga a mandar fazer obras no imóvel antes de o
entregar: A primeira é uma obrigação típica da compra e venda, a segunda não).

PEDRO FERREIRA RIBEIRO | 15

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ESPECIFICIDADES NAS OBRIGAÇÕES FUTURAS


● Os documentos do A.703º1/b CPC referem-se a dívidas presentes: não servem para executar uma
dívida posterior à data do título, mas antes constituem ou reconhecem, só se vencendo no futuro
(servem para executar obrigações vincendas mas não obrigações constituendas);
● Só nas condições do A.707ºCPC é que a Lei admite que os documentos autênticos ou autenticados
possam servir para executar obrigações futuras, desde que seja junta prova complementar do título (sem
esta não existe força executiva);
● Obrigação futura é diferente de obrigação não vencida, mas constituída ou reconhecida pelo título dado
à execução. No primeiro caso, aplica-se o A.707ºCPC (há dois contratos - ex: contrato-promessa e
contrato prometido), e no segundo caso rege o disposto no A.715ºCPC (só existe um contrato);
● O exemplo mais importante do A.707ºCPC é o contrato de abertura de crédito19: este contrato não
constitui ele próprio a obrigação de devolver o dinheiro emprestado, sendo necessário que o Banco
prove que a contraparte efetivamente levantou o dinheiro que este se obrigou a emprestar.
● O A.707ºCPC abrange apenas os contratos-promessa de contratos reais quoad constitutionem (como o
contrato-promessa de comodato, depósito ou locação): em todos eles apenas com a entrega de um bem
se constitui a obrigação de restituição - objeto da ulterior execução.
● Que documentos podem ser juntos como prova complementar20?
1) Documentos previstos nas próprias cláusulas do contrato que serve de base à execução;
2) Documentos revestidos de força executiva própria → Isto quer dizer que um título executivo
pode ser usado para atribuir força executiva a outro documento (ex: confissão de dívida).

● Abrangem-se obrigações futuras e obrigações eventuais → As futuras são as que se constituem na


sequência da execução de um contrato prometido, e as eventuais são as que se constituem por mera
vontade das partes, mas sem que elas estivessem previamente obrigadas à formação do respetivo
contrato (ex: contrato de abertura de crédito em que se prevê que dali a um ano havia possibilidade de
serem emprestados mais 1.000€, mas mais nada se diz);
● Não cabem no A.703º1/b CPC obrigações vincendas em face do título, isto é, obrigações que o título
reconhece ou constitui, mas ainda não são exigíveis (ex: A obrigação de pagar a obra constitui-se com o
contrato de empreitada, mas só é exigível com a entrega e aprovação da obra - é, assim, uma obrigação
vincenda em face do título). Enquanto a prova do título faz-se sempre documentalmente, a
exigibilidade (vencimento) da obrigação pode ser feita por qualquer meio de prova (A.715º2 CPC);
● O Ac. do STJ de 31/03/2022 interpretou o A.707ºCPC extensivamente, admitndo que nele cabem as
situações em que o contrato que serve de base à execução constitui obrigações mas prevê a
possibilidade futura de modificação dessas obrigações, desde que o exequente junte prova, nos mesmos
termos, de que alguma obrigação foi efetivamente modificada.

19
Contrato através do qual uma entidade bancária se obriga a mutuar uma certa quantia ao cliente. Ainda não é um contrato
de mútuo, mas sim um contrato-promessa de mútuo: se o dinheiro for efetivamente entregue, na medida em que é quoad
constitutionem, nasce um novo contrato (o contrato de mútuo); se o contrato for incumprido, visto que o contrato-promessa é
o único documento que o banco tem, será este que servirá de título executivo.
20
Note-se que o título executivo não é o documento complementar, ainda que revestido de força executiva própria, mas sim o
documento exarado ou autenticado. Portanto, o objeto e os sujeitos da execução e os pressupostos processuais aferir-se-ão
por este e não pelos documentos da prova complementar. Se a prova complementar é realizada mediante apresentação de
documento revestido de força executiva própria, cabe ao credor decidir se baseia a execução no contrato preparatório ou se a
baseia naquele (pondera qual dos dois documentos apresenta melhores garantias do crédito).

PEDRO FERREIRA RIBEIRO | 16

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→ TÍTULOS DE CRÉDITO (A.703º1/c CPC)


● Podem servir de base à execução os títulos de crédito (letras, livranças e cheques21) e os títulos de
crédito que se transformaram em meros quirógrafos;
● Desde que estes títulos de crédito estejam devidamente preenchidos, nos termos das respectivas Leis
Uniformes, e estejam cumpridos os prazos e formalidades prescritas, então têm força executiva (quando
o título estiver em branco, apenas assinado, não serve como título executivo);
● Vantagens → Os títulos de crédito são facilmente transmissíveis (com cessão do crédito), mas por outro
lado têm prazos de acionabilidade/prescrição muito curtos (ex: livranças: 3 anos);
● Títulos de crédito são caracterizados por:
1) Literalidade → A eficácia jurídica do documento é estritamente a que lá está indiciada;
2) Autonomia → O título vale independentemente dos vícios que lhe estão subjacentes;
3) Abstração → O título de crédito não precisa da causa para ter eficácia jurídica.

ESPECIFICIDADES DOS CHEQUES


● Requisitos para que o cheque tenha força executiva (A.40ºLUC22):
1) Tem de estar devidamente preenchidos (assinatura, data e valor) - A.1ºLUC;
2) Tem de ser levado a pagamento no prazo de 8 dias a contar da data aposta23 (A.29º1 e 4 LUC);
3) É necessário um ato formal do Banco que prove o incumprimento do pagamento - protesto -
antes do termo de prazo de 8 dias ou no 1º dia útil seguinte (A.40º e 41ºLUC);
4) A ação executiva tem de ser proposta no prazo de 6 meses a contar do termo do prazo de 8
dias (A.52ºLUC).

● Se estes requisitos não forem cumpridos, a doutrina maioritária entende que o documento não vale
como título executivo da obrigação cambiária, mas vale como confissão particular de dívida (título
executivo da obrigação subjacente), podendo ser executado enquanto documento particular – são os tais
quirógrafos (MTS, contra REGENTE 24);
● Para o “mero quirógrafo” valer como título executivo é necessário que:
1) Estejam satisfeitos os requisitos dos outros documentos particulares, ou seja, o documento tem
de estar assinado pelo devedor;
2) O título de crédito ou o requerimento executivo enuncie a concreta e determinada relação
causal ou subjacente de onde decorre a obrigação exequenda;
3) A relação subjacente não seja formal - o contrato subjacente não pode ter forma especial;
4) O título de crédito, quando chega à execução, esteja no domínio das relações imediatas, isto é,
não pode ter sido transmitido a terceiro/entrado em circulação (ex: A passa cheque a B e este
passa-o a C: o pagamento seria exigido a A, não por B, mas agora por C).

21
Estes são os mais conhecidos, mas há imensos (ex: passe do comboio é um título de crédito) - documento que constitui e
incorpora o direito de crédito a que se refere e que, se for destruído, extingue-se o título de crédito.
22
Lei Uniforme Relativa aos Cheques - DL n.º 23.721, de 29 de março de 2019.
23
Embora a doutrina maioritária defende que deixe de valer como título executivo, RP e MTS defendem que apenas há a
possibilidade de o cheque ser revogado (este só perde a força executiva com o decurso do prazo de 6 meses do A.52ºLUC).
24
REGENTE não concorda com este entendimento. Os títulos de crédito têm a natureza de negócios jurídicos que devem ser
interpretados à luz do direito especial que lhe é aplicável: as Leis Uniformes das letras, livranças e cheques. Ora, qualquer
devedor sabe que pode emitir um reconhecimento de dívida no quadro do A.458ºCC, pelo que se o devedor subscreve um
título de crédito, é porque quer vincular-se nos termos objetivos e temporais das Leis Uniformes, não se podendo atribuir
uma vontade negocial ao subscritor que de facto não existe: nada no título permite a afirmação expressa de uma vontade
negocial de reconhecimento da obrigação subjacente.
Assim, defende que o credor perde o título executivo e este, como não contém a causa da obrigação, nem sequer como
reconhecimento de dívida subjacente pode valer. O título prescrito não é sequer documento suficiente para provar por si só a
obrigação subjacente: com ele o autor apenas provará a sua emissão, cumprindo-lhe provar ainda, além da existência da
obrigação que a fez nascer, outros elementos.
Se o cheque perder a força executiva, o exequente tem de obter um outro título executivo (sentença condenatória ou
contrato autêntico).

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→ DOCUMENTOS AVULSOS (A.703º1/d CPC)

TITULOS INJUNTÓRIOS
● Falamos aqui dos documentos avulsos do tipo injuntório – estes são, no plano prático, dos mais
modernos, na medida em que são soluções que visam evitar a produção de uma sentença;
● Têm várias características:
1. É um procedimento que pode ser judicial ou administrativo, consoante seja da competência de
um juiz ou de uma entidade administrativa;
2. Do lado do autor, a obtenção do título visa obter os resultados práticos do exercício do direito
de ação, embora não configure uma forma desse exercício, não formando caso julgado
material. Note-se que o autor pode sempre usar os meios judiciais (garantido pelo A.20ºCRP);
3. Do lado do réu, garante-se o efetivo conhecimento do procedimento de formação do título
através da citação, e o direito de defesa, imediato ou diferido;
4. Organicamente, o título incorpora um ato judicial ou um ato administrativo, com possibilidade
de recurso para um juiz;
5. Materialmente, o comando do cumprimento (injunção) ao réu é uma cominação por este ter
confessado expressa ou tacitamente (por falta de contestação) a obrigação;
6. Formalmente a injunção não é uma sentença, pois não declara direitos com valor de caso
julgado. Assim, qualquer das partes pode instaurar uma ação de simples apreciação ou uma
ação de condenação.

● Estes são então procedimentos que começam com um requerimento por parte do autor da substituição
do direito de ação. Depois, o tribunal ou a entidade administrativa notificam/citam o requerido e este é
provocado para reagir;
● No caso de haver uma omissão de contestação por parte do requerido, forma-se automaticamente um
título executivo contra ele. Não é uma sentença, mas a ideia é a de que aquele que não se defende está a
confessar-se como devedor → Assim, a revelia operante cria um título executivo;
● Então o que é este documento? Um título executivo injuntório é aquele que enuncia um comando de
cumprimento de uma obrigação ao requerido, o qual, sendo citado e não cumprindo, vê formar-se
contra si um título executivo;
● O uso da injunção para a produção de títulos executivos tem a sua expressão em:
1) Procedimentos Injuntórios Autónomos → Procedimento de injunção25 (A.7ºss do Anexo ao
DL nº269/98), procedimento especial de despejo (A.15º-B ss. Lei nº6/2006), processo especial
de prestação de contas do réu (A.944ºCPC);
2) Incidentes Injuntórios → No seio de uma ação declarativa ou executiva há uma solução nos
termos da qual, feita a notificação à parte passiva, a sua não defesa importa a constituição de
título executivo. Assim se passa na ação de despejo (A.14º4 e 6 Lei nº6/2006) e no incidente
de comunicação da dívida ao cônjuge (A.741º e A.742ºCPC);
3) Processos Injuncionais Transeuropeus (Regs. 805/2004 e 1896/2006).

25
Este DL tem um diploma preambular e um anexo. Nesse anexo, há duas realidades:
1) Ação declarativa sumaríssima – AECOP
2) Injunção (A.7ºss) – As obrigações a que se refere o art. são as referidas no A.1º do anexo: obrigações provenientes
de contrato (até 15.000€) e obrigações emergentes de transação comercial tal como definido no DL nº62/2013 (sem
limite de valor).

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● PROCEDIMENTO DE INJUNÇÃO (DL n.º 269/98)


➢ Prevê-se uma ação declarativa "sumaríssima" → AECOP (Ação Especial para Cumprimento
de Obrigação Pecuniária - ação para obrigações pecuniárias de pequenos montantes);
➢ Injunção → Providência que tem por fim conferir força executiva a requerimento destinado a
exigir o cumprimento das obrigações provenientes diretamente de um contrato (dívidas até
15,000€) e das obrigações emergentes de transação comercial (sem limite de valor);
➢ Por via eletrónica o alegado credor preenche um requerimento injuntório que envia para o
Balcão Nacional de Injunções, não tendo de juntar nenhuma prova, visto que não vai para um
juiz (atuação administrativa). O requerimento pode, no entanto, ser dirigido à secretaria do
tribunal que seria competente;
➢ Após notificação, o notificado defende-se ou não:
1) Se o notificado não se defender, é aposta a fórmula executória no requerimento de
injunção pela secretaria (A.14º DL 269/98), podendo o credor propor uma ação
executiva para pagamento de quantia certa na forma sumária, utilizando o próprio
requerimento injuntório como título executivo (A.550º2/b e A.703º1/d CPC);
2) Se o notificado se defender, estamos perante uma oposição feita nos termos do que
seria a contestação na ação declarativa: o processo sai da fase administrativa, e entra
na fase contenciosa ao ser distribuído a um juiz. O requerimento injuntivo passa a
valer como P.I., e a sua oposição como contestação, correndo então um processo civil
declarativo normal até ser proferida sentença. A sentença que provenha de ação
especial é uma sentença condenatória, que pode ser utilizada como título executivo
nos termos gerais (A.703º1/a CPC).

➢ É possível optar por intentar, logo de início, ação especial? Sim.


➔ TEIXEIRA DE SOUSA e REGENTE dizem que, sendo um processo especial, este
prevalece (A.549ºCPC), ou seja, no caso em que se está perante uma obrigação no
valor de 10,000€, e se intentar um processo comum, há erro na forma do processo;
➔ No entanto, intentado processo comum nestes casos, caso o réu não conteste, é
conferida força executiva à petição não contestada (A.2º DL 269/98). Ou seja, o título
executivo não é a sentença homologatória, mas sim a PI não contestada (título
executivo de formação judicial impura);

➢ Dos A.1ºss. do DL 269/98 temos três títulos executivos:


1. Procedimento de injunção com fórmula executória aposta;
2. Na ação especial, a sentença condenatória final;
3. Quando há revelia, a PI não contestada.

TÍTULOS PRIVADOS
1) Ata de Reunião de Condomínio (A.6º DL nº268/94)
● A ata que constitua ou reconheça uma obrigação do condómino que tenha a ver com a
conservação e fruição de parte comum ou com serviços de interesse comum, essa obrigação
pecuniária pode ser objeto de título executivo da própria ata.
● São condições dessa exequibilidade a ata: 1) Aprovar o montante daquelas despesas e valores,
2) estabelecer o prazo de vencimento e a quota-parte de cada condómino, e 3) identificar
devidamente o condómino-devedor;
● Note-se que o condómino devedor não tem de estar presente na respetiva assembleia, nem tem
de assinar a ata para que esta ganhe força executiva (sem prejuízo de ter de ser convocado para
a assembleia de condomínio e ter de receber a comunicação da deliberação em questão).

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2) Extrato de conta emitido por sociedade sediada em Portugal, dedicada à concessão de crédito por
emissão e utilização de cartões de crédito, quanto ao saldo destes (A.1º DL nº45/79).

TÍTULOS ADMINISTRATIVOS
● As entidades administrativas, incluindo autarquias e pessoas coletivas públicas, e agentes
administrativos, beneficiam de um vasto leque de títulos avulsos de dívidas contraídas pela prática de
atos administrativos em face dos particulares;
● Fala-se, por exemplo, na certidão de dívida à segurança social.

2) EXEQUIBILIDADE INTRÍNSECA

1 - EXIGIBILIDADE DA OBRIGAÇÃO
● A obrigação tem de ser certa, líquida e exigível → Condição material de ação, que decorre dos A.713º,
A.724º1/h, A.725º1/c e A.728º/e CPC. Trata-se da própria configuração do direito à prestação que é
exigida para que esse possa consubstanciar objeto de execução;
● Aquela causa de pedir, que está certificada pelo título executivo, que consiste na aquisição de um
direito ou poder a uma prestação, tem de ser exigível, ou seja, deve corresponder a uma obrigação que
o executado deva cumprir ao tempo da citação;
● A exigibilidade é um facto complementar da ação executiva. Temos de distinguir consoante:
1. Causa de Pedir Simples → Caso em que o credor está dispensado da sua prova, competindo ao
executado demonstrar uma condição resolutiva ou a exceção do não cumprimento (ex: A
obriga-se a pagar a mercadoria a B no dia 31/04 – qualquer data de propositura da causa que
seja posterior a esse dia dispensa prova do vencimento da obrigação);
2. Causa de Pedir Complexa → Caso em que é exigida ao credor a prova sumária de um facto
cuja ocorrência não decorre do título executivo, nem constitui um facto notório (como, p.e., a
verificação da condição suspensiva da contraprestação (ex: A obriga-se a pagar a B no dia
31/04 o valor de mercadoria. Se até ao dia 15 do mesmo mês tiver recebido a mercadoria – A
tem de provar que B recebeu a mercadoria).

● A exigibilidade é a característica de a obrigação poder ser cumprida de modo imediato e incondicional


após interpelação ao devedor. Esta consubstancia uma qualidade substantiva;
● Se uma parte da obrigação for inexigível e a outra já for exigível, pode executar-se esta segunda
imediatamente (A.715º6 CPC), sendo que o acertamento da outra parte é feito na pendência da
execução (A.716º8 CPC);
● Se a obrigação não for exigível, a execução é extinta por falta de condição material do seu objeto
material, sem nenhum tipo de juízo de improcedência, pois este é alheio à funcionalidade executiva. No
entanto, e em paralelo, se essa apreciação foi objeto de sentença de oposição à execução, alcança valor
de caso julgado material (A.732º5 CPC).

1. OBRIGAÇÕES COM PRAZO → São aquelas que só se vencem a partir de um determinado prazo,
pelo que a exigibilidade só se dá com esse vencimento (A.805º2/a CC). O prazo pode ser fixado pelas
partes ou judicialmente, e temos de ter atenção às situações em que o devedor perde o benefício do
prazo (A.780ºCC).

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2. OBRIGAÇÕES CONDICIONAIS → Obrigações que estão dependentes de uma condição suspensiva


ou de uma contraprestação sinalagmática e que, em ambos os casos, têm de ser demonstradas pelo
credor na ação executiva junto do juiz (A.715ºCPC).

3. OBRIGAÇÕES PURAS → São aquelas obrigações sem prazo que só se vencem mediante interpelação.
Temos de distinguir duas situações:
➢ A interpelação é feita previamente à ação executiva – a obrigação venceu-se antes da ação
executiva e tornou-se exigível antes da ação executiva; assim, quando se coloca o
requerimento executivo, a obrigação já está vencida, o devedor já está em mora e, por isso,
podem pedir-se juros de mora vencidos desde a data de interpelação extrajudicial;
➢ A interpelação ainda não foi feita aquando da ação executiva – nestes casos, a citação para a
ação executiva vale como interpelação para cumprimento e, aí, só podem pedir-se juros de
mora a partir da data da interpelação. Mais, se o executado pagar no prazo de oposição à
execução, quem paga as custas é o requerente (A.535º1/b CPC).

2 - DETERMINAÇÃO DA OBRIGAÇÃO
O objeto da obrigação deve estar determinado: deve saber-se o que é (determinação qualitativa) e
quanto é (determinação quantitativa) → A lei refere-se à determinação qualitativa como certeza da obrigação
exequenda e à determinação quantitativa como liquidez da obrigação;
Se o objeto do pedido não se apresentar com a qualidade da determinação em face do título, o
exequente terá de realizar diligências preliminares de determinação do objeto da prestação (A.713ºCPC);

→ CERTEZA DA OBRIGAÇÃO (A.714ºCPC)


● A obrigação diz-se certa quando está determinada no objeto da sua prestação;
● Há duas situações em que assim não acontece:
1. Obrigações Genéricas de Escolha (A.539ºss. CC);
2. Obrigações Alternativas (A.543ºss. CC).
● Ambas têm uma característica comum: é necessário um ato de especificação da qualidade da obrigação;
● Assim, quando a escolha não está feita no título executivo, como fazer? A solução encontra-se no
A.714ºCPC e importa distinguir:
1. A escolha cabe ao credor → A escolha deve ser feita no requerimento executivo (A.724º1/h
CPC), acompanhada da indicação dos factos que a fundamentam;
2. A escolha cabe a terceiro → É citado o devedor e é notificado o terceiro para fazer a escolha
no prazo da oposição à execução (20 dias a contar da notificação), se não tiver sido fixado
outro prazo pelas partes. Se não a fizer, o direito de escolha é devolvido ao credor (A.714º2)
3. A escolha cabe ao devedor → Este é o regime supletivo dos A.539º e A.543º2 CC. Temos de
ver se foi ou não convencionado um prazo para o devedor escolher:
➢ Se foi fixado um prazo e o devedor não escolheu dentro desse prazo, já se devolveu o
direito de escolha ao credor, mesmo antes de a ação executiva se iniciar (REGENTE
e LF). Assim, deve o credor fazer a escolha antes da ação executiva, e exprimir essa
escolha no requerimento executivo (A.724º1/h CPC);
➢ Se o prazo ainda não se esgotou ou nem sequer foi convencionado, pertence ao
devedor a escolha da prestação, sendo por isso simultaneamente citado para a
execução e notificado para, no prazo da oposição (se outro não tiver sido fixado pelas
partes), declarar por qual das prestações opta (A.714º1). A forma de processo nunca
será sumária nestes casos, porque é necessário antes de qualquer penhora saber qual é
a prestação em causa (A.550º3). Se o devedor não escolher, devolve-se ao credor o
direito de escolha, agora já na pendência da execução (A.714º3 in fine).

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● Existem 2 categorias de obrigações que, embora estejam determinadas no seu objeto (sejam certas),
conhecem algumas especialidades:
1. Obrigações genéricas de quantidade:
➢ Nestes casos, a obrigação não é incerta: ela está determinada, sabe-se qual é o
conteúdo do objeto, mas falta escolher o objeto/exemplar concreto;
➢ O problema não é de liquidez, atenção, apenas falta concentrar a obrigação num
objeto concreto, cujas qualidades já se conhecem;
➢ Ex: enquanto nas obrigações genéricas de escolha o devedor se obriga a entregar uma
televisão, sendo necessário ainda determinar as características concretas dessa
televisão, nas obrigações genéricas de quantidade essas características já estão todas
definidas, faltando apenas determinar a televisão em concreto que vai ser entregue;
➢ A determinação do exemplar concreto é feita pelo agente de execução (A.861º2), e
deverá ter lugar mediante operações de individualização, pesagem ou medição;
➢ Este problema só se coloca nas ações executivas para entrega de coisa certa.

2. Obrigações com Faculdade Alternativa:


➢ Nestes casos, há uma prestação principal, mas o devedor tem a faculdade de escolher
a realização de outra prestação (ex: A.558ºCC);
➢ Ex: o devedor está obrigado a pagar em moeda estrangeira, mas pode pagar em
moeda nacional: então, executa-se pela moeda estrangeira ou nacional?
➢ A resposta é a de que o credor deve executar pela moeda principal, primária, cabendo
ao executado, no prazo da oposição, exercer a faculdade alternativa. Não o fazendo,
sujeita-se à execução da obrigação principal;
➢ Se se tratar de uma obrigação com faculdade alternativa pelo credor, caberá a este
escolher no próprio requerimento (A.724º1/h 2ª parte CPC).

→ LIQUIDEZ DA OBRIGAÇÃO (A.358ºss. e A.716ºCPC)


● O acertamento da obrigação cujo objeto não esteja quantificado em face do título é um dos
pressupostos da execução, já que ele irá dar a medida do ataque do património do executado – princípio
da proporcionalidade (A.735º3 CPC);
● Por conseguinte, o exequente não pode, na execução, formular pedido ilíquido sem proceder à respetiva
liquidação (operação de quantificação da obrigação);
● A exigência de que a obrigação seja líquida também existe na ação declarativa. Assim, também na ação
executiva só excecionalmente podem ser deduzidos pedidos ilíquidos (A.556ºCPC):
1. Quando se pedem juros vincendos (A.716º2 CPC) → A liquidação é feita a final, pelo agente
de execução, em face do título e dos documentos complementares, ou em face das taxas legais
de juro de mora aplicáveis (A.703º2 CPC);
2. Quando se pede a sanção pecuniária compulsória (A.716º3 CPC) → Será liquidada
mensalmente e no momento da cessação da sua aplicação, pelo agente de execução;
3. Universalidade de facto (A.716º7 CPC) → A liquidação é feita depois da apreensão dos bens.

Liquidação da Obrigação Acessória dos Juros de Mora:


● Nos termos do A.806º1 CC, os juros de mora vencem-se a partir do dia em que se constitui a mora do
devedor (A.804º2 CC). Para sabermos a partir de quando entra o devedor em mora, temos de atentar ao
A.805ºCC, que difere consoante esteja em causa uma obrigação pura (a mora só se constitui mediante
interpelação do credor) ou uma obrigação sujeita a prazo (a mora constitui-se no termo do prazo);
● Mas há ainda situações de mora imediata, que se dá com o facto constitutivo da obrigação: Se a
obrigação provier de facto ilícito ou se o devedor impedir a interpelação, considerando-se interpelado,
nesse caso, na data em que normalmente o teria sido.

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O que acontece se o crédito for ilíquido?


● O problema aqui é o seguinte: se a obrigação é ilíquida, o devedor pode sempre dizer que não sabe
quanto tem de pagar. A solução está no A.805º3 CC: nestes casos, a mora só se inicia quando o crédito
se tornar líquido, a não ser que a iliquidez seja imputável ao devedor;
● No entanto, se se tratar de responsabilidade pelo risco ou por facto ilícito, a mora inicia-se com a
citação para a ação declarativa: assim, a obrigação de, por exemplo, pagar indemnização por acidente
automóvel vence-se com a citação para a ação condenatória de pagamento da indemnização;
● No entanto, imaginemos que nesta ação declarativa de pagamento da indemnização se deduz um pedido
genérico (ainda não se sabe o valor dos danos). Nesse caso, o Ac. STJ/UJ nº4/2002, diz que o crédito só
se vence desde a data da sentença do incidente de liquidação (faz uma interpretação restritiva do
A.805º3 CC). REGENTE vai mais longe: desde a data em que a sentença é proferida, quando transitada
em julgado;
● As taxas de juro devidas pela mora são as taxas legais, nos termos do A.806º2 CC. No caso dos títulos
de crédito, há regime específico (A.48º2 e 49ºLULL - letras e livranças; A.45º2 LUC para os cheques).

Como procedemos à liquidação da obrigação que não está quantificada em face do título?
1. Liquidação por simples cálculo aritmético (A.716º1 CPC) → Aquela que só depende de contas
aritméticas, porquanto não assenta nenhuma matéria de facto controvertida.
➢ Todos os dados necessários para a liquidação decorrem do título executivo, ou seja, estão
abrangidos pela segurança do título executivo ou são de conhecimento oficioso pelo tribunal
ou agente de execução (A.5º2/c, A.412ºCPC…);
➢ É o exemplo dos juros de mora, em que existe uma taxa legal, sendo apenas necessário aplicar
essa taxa, fazendo contas;
➢ A liquidação por simples cálculo aritmético deve ser feita pelo exequente no requerimento
executivo (A.724º1/h CPC). Esta é constituída por uma especificação no requerimento
executivo dos valores que o exequente considera compreendidos na prestação devida e pela
conclusão do requerimento executivo com um pedido líquido (A.716º1 CPC);
➢ O valor liquidado no requerimento pode ser impugnado em sede de oposição à execução.

2. Liquidação Incidental → Quando a quantificação da prestação devida assenta em matéria de facto


passível de ser controvertida. Assim, esses factos carecem de uma valoração judicial, a ter lugar em
processo declarativo incidental de simples apreciação do valor da obrigação (incidente de liquidação).
1) Incidente de liquidação de sentença (A.358º a A.361ºCPC)
➢ Não pode haver execução de sentença genérica, tendo de ser previamente liquidada
(A.704º6). Essa liquidação tem de ser feita no processo declarativo (A.358ºCPC);
➢ O incidente de liquidação deve ser deduzido pelo autor em requerimento (A.359º),
após proferida a sentença, renovando-se a instância declarativa entretanto extinta
(A.358º2). O pedido incidental não pode ultrapassar os limites do que ficou julgado
na sentença a liquidar e das preclusões já ocorridas na instância declarativa;
➢ Contudo, isto não vale para todas as sentenças. Algumas sentenças podem ser
liquidadas no próprio requerimento executivo, à semelhança de um título
extrajudicial (A.716º5 CPC): há sentenças em que não é possível voltar ao processo
declarativo prévio, como é o caso da sentença arbitral (na medida em que os árbitros
já esgotaram a sua competência declarativa - A.716º6 CPC) e da sentença estrangeira.
➢ Tratando-se de liquidação de indemnização em dinheiro, o valor liquidado rege-se
pela regra do A.566º2 CC: corresponderá à diferença entre a situação patrimonial do
lesado, na data mais recente que puder ser atendida pelo tribunal (nesse caso, a do
encerramento da discussão na ação condenatória – A.611º1 CPC), e a que teria nessa
data se não existissem danos;
➢ Note-se que a sentença pode ser objeto de liquidação por simples cálculo aritmético.

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2) Incidente de liquidação de título diverso de sentença:


➢ Por exemplo, liquidação com base num contrato. Imagine-se que temos um contrato
de sociedade, com base no qual, ao fim de 3 anos todos os sócios têm direito a
receber uma percentagem sobre os lucros acumulados dos 3 anos. Ora, neste caso não
basta o título executivo; é necessário anexar documentos comprovativos. Esses
documentos têm de ser juntos ao requerimento executivo (A.716º2 CPC);
➢ Nestes casos, o exequente especifica os valores compreendidos, nos termos do
A.716º1 CPC, e ainda junta documentos comprovatórios;
➢ Segue-se sempre despacho liminar de citação (A.726º6 CPC), sendo o executado
citado pelo agente de execução para contestar a liquidação do exequente, em
oposição à execução, no prazo de 20 dias a contar da citação (A.716º4, A.726º6 e
A.728º1 CPC). Significa que ele tem o ónus de cumular a contestação da liquidação
com a oposição à própria execução, não podendo deixar esta para momento posterior;
➢ Se o executado contestar a liquidação do exequente, ou sendo a sua revelia
inoperante, o A.716º4 CPC manda aplicar o A.360º3 e 4. Por conseguinte, o
procedimento corre junto do juiz de execução e são observados os termos
subsequentes do processo comum declarativo. À medida que se discute a oposição à
execução, também se discute o valor, fixando o juiz na sentença o valor que
considerar ter sido demonstrado;
➢ Se o executado não contestar o valor oferecido pelo exequente, vale um efeito
cominatório pleno, o que significa que o juiz considera a obrigação fixada nos termos
apresentados pelo exequente (A.716º4 CPC).

Efeitos da sentença de liquidação:


● Executando-se sentença condenatória genérica, a sentença do incidente terá valor de caso julgado
material. Precludido ou exercido o direito ao recurso e à reclamação, a decisão não poderá ser
impugnada, salvo nos termos restritos do A.729ºCPC;
● Executando-se título diverso de sentença, esta decisão não é final, valendo apenas para o título a que
diz respeito. Rejeitado o título executivo ou apresentado outro, a decisão de liquidação caducará ou não
será oponível no novo processo executivo, respetivamente. Em suma: a decisão incidental faz caso
julgado material restrito à eficácia daquele título.

Consequências da iliquidez da obrigação:


● A dedução de pedido ilíquido, fora dos casos excecionais, é de conhecimento oficioso e, em regra, é
sanável. O tribunal deve proferir um despacho de aperfeiçoamento do requerimento executivo, liminar
(A.726º4 CPC) ou superveniente (A.734ºCPC). Identicamente, na forma sumária da execução para
pagamento de quantia certa, o agente de execução deverá suscitar a intervenção do juiz (A.855º2/b);
● Na falta de correção há lugar a indeferimento do requerimento, no primeiro caso;
● Além disso, a iliquidez pode constituir fundamento de oposição à execução (A.729º/e CPC), podendo
esse fundamento resultar em suspensão da execução (A.733º1/c CPC);
● Diversamente sucede com a falta de liquidação incidental da sentença: a simples sentença de
condenação genérica não constitui título executivo (A.704º6 CPC). Desta forma, o legislador convolou
um problema relativo à obrigação exequenda num problema relativo ao título executivo, evitando a
propositura desnecessária de execuções. Em consequência, será proferido despacho de indeferimento
do requerimento executivo, liminar (A.726º2/a e A.855º2/b CPC) ou superveniente (A.734ºCPC).

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PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS
RELATIVOS AO TRIBUNAL

COMPETÊNCIA

1) COMPETÊNCIA INTERNACIONAL
● Coloca-se um problema de competência internacional quando os sujeitos e/ou o objeto convocam a
aplicação de normas jurídicas que não apenas as portuguesas (execução plurilocalizada);
● O tribunais portugueses são internacionalmente competentes em 3 situações: (A.59ºCPC)
1. Em consequência do que estiver estabelecido em regulamentos europeus e outros instrumentos
internacionais;
2. Quando se verifique algum dos elementos de conexão dos A.62º e A.63ºCPC;
3. Quando as partes atribuem competência aos tribunais portugueses, por via convencional, nos
termos do A.94ºCPC.

INSTRUMENTOS INTERNACIONAIS
● Quando está em causa uma situação plurilocalizada, há que determinar se tem aplicação alguma
Convenção ou Regulamento da UE. Nesta sede, são importantes:
1) Regulamento 1215/2012;
2) Convenção de Lugano II.

● Ambos os Regulamentos dão força executiva a sentenças proferidas nos respetivos âmbitos;
● Estes Regulamentos têm normas de distribuição da jurisdição declarativa. E contêm normas de
distribuição da jurisdição executiva? REGENTE e MTS defendem que não, porque apesar de os A.24º5
Reg. 1215/2012 e A.22º5 Lugano II poderem dar essa ideia, estes artigos dizem apenas respeito ao
contencioso executivo (embargos de terceiro, oposição à execução, oposição à penhora), determinando
que as respetivas sentenças são executadas no lugar em que está a correr o processo principal.

NORMAS INTERNAS DOS A.62º E 63ºCPC


● O A.63ºCPC consagra a competência exclusiva dos tribunais portugueses, mas das conexões deste
artigo, a única que releva para a ação executiva é a da alínea d). Assim, na execução para entrega de
imóvel ou na ação para pagamento de quantia certa que implique a penhora sobre o imóvel, situando-se
esse imóvel em território português, serão automaticamente competentes os tribunais portugueses;
● Note-se que se o exequente indicar à penhora um bem imóvel (A.724º1/h, 2 e 4/b CPC) cuja
localização desconhece, não está cumprida a previsão do A.63º/d CPC). Assim, o executado pode opor
que a execução deve correr em tribunal estrangeiro, a não ser que, entretanto, já se tenha apurado que o
imóvel está em Portugal (A.729º/c CPC);
● Mas se sobre o imóvel incidir uma garantia real, esta vai indicar onde está o imóvel. O agente de
execução, como tem de executar primeiro a garantia real (benefício da excussão real – A.697ºCC),
necessariamente tem de executar a garantia real (A.752º1 CPC). Se o imóvel estiver fora do país,
contudo, não podemos dizer que a competência dos tribunais portugueses resulta do A.63º, tendo nesse
caso de recorrer às regras gerais do A.62ºCPC;
● Se não se preencher a alínea d) do A.63ºCPC, temos de verificar se se verifica alguma das alíneas do
A.62ºCPC. Em tempos dizia-se que este artigo só se aplicava à ação declarativa e não à ação executiva,
porque ao aplicar-se este artigo as consequências poderiam ser limitadas: por exemplo, poder-se-ia
concluir que os tribunais portugueses eram internacionalmente competentes numa situação em que os
bens penhorados estivessem noutro país; nessa circunstância, os atos materiais teriam de ser praticados
no estrangeiro e, por isso, não se poderia falar numa efetiva competência dos tribunais portugueses;

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● MTS refere que, nesses casos, haveria então que usar uma conexão suplementar para verificar se, em
concreto, a execução seria viável. Essa conexão suplementar é a do A.89º3 CPC: o domicílio do
executado em território português ou, pelo menos, a existência de bens penhoráveis em Portugal. E isto
porque, em regra, qualquer executado domiciliado em território português possui bens penhoráveis em
território nacional. Este último seria, afinal, o que verdadeiramente releva como fator atributivo da
competência internacional. Contudo, aquela prova da conexão relevante já não seria necessária quanto
às conexões estabelecidas para a execução do título diverso de sentença pelos nº1 e 2 do A.89º, pois
nesse caso todos os elementos de conexão que são relevantes para a aferição da competência territorial
apresentam uma ligação com o território português;
● Já o REGENTE entende que o A.62ºCPC se aplica à ação executiva, estando feito para otimizar a
relação entre a competência internacional e a localização dos bens. Segundo o REGENTE, a posição de
MTS postula uma interpretação restritiva do âmbito do A.62º sem correspondência na letra respetiva:
➢ Por um lado, o A.89º3 CPC in fine é objetivamente uma norma residual, lateral perante o
sistema e, sobretudo, feita a pensar na competência interna;
➢ Por outro lado, o uso do critério da dupla funcionalidade das normas de competência interna,
eventualmente com aquele outro do A.89º3 CPC, embora tecnicamente sofisticado,
dificilmente se poderá dizer que foi querido pelo legislador.

● Conexões de competência internacional do A.62ºCPC:


1) Critério da Coincidência → Quando a ação possa ser proposta em tribunal português segundo
as regras de competência territorial internas;
2) Critério da Causalidade → Quando um ou mais dos factos que integram a causa de pedir
foram praticados em Portugal (ex: contrato foi assinado em Portugal);
3) Critério da Necessidade → Quando o direito invocado não possa tornar-se efetivo senão por
meio de ação proposta em território português ou se verifique para o autor dificuldade
apreciável na propositura da ação fora do país, desde que entre o objeto do litígio e a OJ
portuguesa haja um elemento ponderoso de conexão pessoal ou real.

2) COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA MATÉRIA E VALOR:


● Cabem na competência dos tribunais judiciais todas as ações executivas baseadas na não realização
duma prestação devida segundo as normas do direito privado;
● Os tribunais judiciais são também competentes para as ações executivas que não caibam no âmbito da
competência atribuída aos tribunais de outra ordem jurisdicional (A.40º1 LOSJ e A.64ºCPC);
● Os tribunais da comarca desdobram-se em juízos, que podem ser de competência especializada,
genérica e de proximidade (A.80º2 e A.81º1 LOSJ). Entre os juízos de competência especializada estão
os cíveis (centrais e locais) e os de execução (A.81º3/J LOSJ);
● Quando haja juízos de execução, estes têm competência exclusiva (A.129º1 LOSJ), inclusivamente para
a execução das decisões proferidas pelo juízo central cível (A.129º3 LOSJ);
● NOTA → Os juízos especializados (ex: de comércio, laborais, de propriedade intelectual, marítimos…)
têm competência executiva para a execução das suas próprias decisões (A.129º2 LOSJ);
● Quando não haja juízo de execução, o juízo central cível tem competência para as ações executivas de
valor superior a 50.000€ (A.117º1/B LOSJ), e o juízo local cível tem-na para as execuções de valor
igual ou inferior a 50.000€ (A.130º2/C LOSJ);
● Carecem de competência executiva os tribunais arbitrais, que não são dotados de jus imperii.

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3) COMPETÊNCIA EM RAZÃO DA HIERARQUIA


● Ao nível da hierarquia, a ação executiva civil é da competência dos tribunais judiciais comuns (A.209º1
CRP), e apenas dos tribunais de 1ª instância (A.85º e 86ºCPC e A.79ºLOSJ);
● Esta abrange a competência para a execução de decisão proferida em ação proposta na Relação ou no
STJ, em algum dos casos especiais em que, no âmbito da ação declarativa, o tribunal superior funciona
como tribunal de 1ª instância (ex: indemnização contra magistrado ou revisão de sentença estrangeira);
● Não havendo nunca lugar a atos executivos nos tribunais superiores, estes limitam-se a decidir, nos
mesmos termos da ação declarativa, os recursos interpostos e os conflitos de jurisdição e competência.

4) COMPETÊNCIA EM RAZÃO DO TERRITÓRIO


● Sem prejuízo da aplicação subsidiária das disposições do processo declarativo (A.70º a A.84ºCPC), a
competência para a ação executiva em razão do território é consagrada nos A.85º a A.90ºCPC, bem
como, em caso de cumulação de pedidos, nos A.709º2 a 4 e A.56º3 CPC;
● Neste âmbito temos de distinguir entre a execução baseada em decisão condenatória de um tribunal
judicial ou de um tribunal arbitral, e execução baseada em título diverso.

→ DECISÃO DO TRIBUNAL JUDICIAL


● Se a execução for baseada em sentença condenatória judicial, há ainda que distinguir os casos em que a
ação declarativa foi proposta em tribunal de 1ªinstância ou em que tenha funcionado como 1ªinstância
um tribunal superior;
● Se a ação em que foi proferida a decisão exequenda tiver sido proposta num tribunal de 1ªinstância, é
competente para a execução o tribunal da comarca em que a causa foi julgada em 1ªinstância (A.85º1 e
2), ainda que a sentença tenha sido revogada em recurso e por isso se execute a decisão do recurso26;
● Se a ação em que foi proferida a decisão exequenda tiver sido proposta na Relação ou no STJ, a
execução é promovida no tribunal de 1ªinstância do domicílio do executado (A.86ºCPC) ou, se este não
tiver domicílio em Portugal, mas aqui tiver bens, no da situação desses bens (A.89º3 analogicamente).

→ DECISÃO DO TRIBUNAL ARBITRAL → Para a execução de sentenças arbitrais que tenham tido lugar em
Portugal, é competente o tribunal do lugar da arbitragem (A.85º3 CPC → A.59º9 LAV).

→ OUTROS TÍTULOS
● Baseando-se a execução em título diverso de decisão judicial ou arbitral, temos de distinguir:
1. Se a execução for para entrega de coisa certa ou para pagamento de quantia certa com
garantia real, é competente o tribunal do lugar em que a coisa se encontre ou situe (A.89º2)27;
2. Se a execução for para pagamento de quantia certa sem garantia real ou de prestação de
facto, é competente o tribunal do lugar do domicílio do executado ou, em alternativa,
tratando-se de ação contra PC ou em que as partes tenham domicílio na área metropolitana de
Lisboa ou do Porto, o tribunal do lugar onde a obrigação devia ser cumprida (A.89º1 CPC).

● Estas normas aplicam-se no caso da execução se basear em título executivo extrajudicial ou em


sentença condenatória proferida por tribunal não integrado na ordem dos tribunais judiciais;
● Sendo o tribunal português internacionalmente competente por os bens a executar se situarem no
território nacional (A.64ºCPC), mas não se verificando nenhuma das conexões relevantes com o
território português para a determinação da competência territorial, é competente o tribunal em cuja
circunscrição se situem os bens a executar (A.89º4 CPC → Norma Residual).

26
Esta regra mantém-se em relação às condenações em custas, multas ou indemnizações (A.87º e A.88ºCPC).
27
LF → Se for devida prestação de uma pluralidade de coisas ou de uma coisa imóvel situada em mais do que um
circunscrição territorial, é competente o tribunal do lugar dos imóveis de maior valor matricial, se eles forem vários, ou,
subsidiariamente, qualquer dos tribunais da situação das coisas (A.70º3 CPC por analogia).

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→ SENTENÇA ESTRANGEIRA
● As sentenças estrangeiras (proferidas por tribunal estrangeiro ou por árbitros no estrangeiro) revista e
confirmada pela Relação, segue o regime do A.86ºCPC (ex vi A.90ºCPC);
● Assim, é competente para a execução o tribunal de 1ªinstância do domicílio do executado, salvo o caso
especial do A.84ºCPC (ações em que seja parte o juiz, seu cônjuge ou certos parentes).
● Esta solução justifica-se porque enquanto não é confirmada, a sentença estrangeira não tem eficácia em
Portugal, carecendo de exequibilidade (A.706º1 CPC). Assim, a execução funda-se na sentença de
confirmação e não na sentença estrangeira confirmada (LF).

5) INCOMPETÊNCIA
● Se forem violadas as normas de competência internacional, haverá incompetência absoluta
(A.96ºCPC), que é uma exceção dilatória inominada insanável, de conhecimento oficioso:
1. Pelo juiz, no despacho liminar (A.726º2/a CPC);
2. Pelo agente de execução, remetendo o requerimento executivo para o juiz, para este proferir
despacho liminar – isto na forma sumária (A.855º2/b CPC). Ou então no despacho sucessivo
do A.734ºCPC, e conduz ao indeferimento liminar do requerimento executivo ou à absolvição
do executado da instância (A.97º1, A.99º e A.278º1/a CPC).

● Também a violação de um pacto privativo de jurisdição está sujeita a incompetência absoluta, mas aqui
já não é de conhecimento oficioso, como resulta dos A.97º e A.578ºCPC. Caberá ao executado invocar,
na oposição à execução, a violação do pacto privativo de jurisdição.
● Quanto à violação das normas de competência interna em razão da matéria (incluindo a violação das
regras de competência do juízo de execução - A.65ºCPC e A.81ºLOSJ) e da hierarquia haverá
incompetência absoluta (A.96ºCPC), que é de conhecimento oficioso;
● A violação das regras de competência em razão do território, do valor da causa ou violação de pacto de
competência gera incompetência relativa (A.102ºCPC) que é, regra geral, dependente de arguição pelo
executado em sede de oposição à execução (A.103ºCPC). Há, no entanto, situações em que a
incompetência relativa é de conhecimento oficioso no A.104ºCPC.

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PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS
RELATIVOS ÀS PARTES

PERSONALIDADE E CAPACIDADE JUDICIÁRIAS


● Seguem as regras gerais dos A.11ºss. e A.15ºss. do CPC, não havendo normas especiais;
● Assim, o regime de representação de incapazes, de incertos, de ausentes, de pessoas coletivas, etc., é
aplicável na ação executiva, assim como o regime de falta de personalidade judiciária e de capacidade
judiciária (A.20º a A.26ºCPC);
● A falta de personalidade ou de capacidade judiciárias ou a representação irregular do incapaz ou pessoa
coletiva são situações de vício, de falta de pressuposto processual, que são de conhecimento oficioso,
podendo ser conhecidos em despacho liminar do juiz (forma ordinária – A.726ºCPC) ou em despacho
liminar do juiz suscitado pelo agente de execução (forma sumária – A.726º2 e 4 e A.855º2/b CPC);
● Preferivelmente, e sempre que possível, o juiz deve proferir despacho de aperfeiçoamento (A.726º4),
seja para sanação da falta de personalidade (A.14º), para sanação da falta de capacidade ou irregular
representação (A.27º e A.28º), seja para obtenção de autorização ou deliberação em falta (A. 29ºCPC).
● O juiz controla os pressupostos processuais em dois momentos:
1. Em despacho liminar;
2. Nos casos em que ou não interveio inicialmente (forma sumária), ou interveio mas foi
proferido despacho liminar genérico, o juiz pode sempre conhecer de um vício superveniente
ou sobre o qual ainda não tenha tido oportunidade de se pronunciar (A.734ºCPC).

● A falta destes pressupostos configura exceções dilatórias que podem servir de fundamento à oposição à
execução, ao abrigo do A.729º/c CPC e em remissão dos A.857º, A.730º e A.731ºCPC.

PATROCÍNIO JUDICIÁRIO
● A Lei é menos exigente quanto a este pressuposto em processo executivo do que em declarativo;
● Nas ações executivas cujo valor exceda a alçada da Relação ( + 30.000€), é obrigatória a constituição
de advogado (A.58º1 1ªparte CPC);
● Nas ações executivas cujo valor se contenha entre a alçada da Comarca e a da Relação (entre 5.000€ e
30.000€), o patrocínio é igualmente obrigatório, mas pode ser exercido por advogado,
advogado-estagiário ou solicitador (A.58º3 CPC);
● Quando tenha lugar uma ação ou incidente que corra por apenso ao processo executivo ou nele se
enxerta, mas siga os termos do processo declarativo (tramitação de natureza declarativa):
1. A constituição de advogado é obrigatória desde que o valor seja superior ao da alçada do
tribunal de 1ª instância (A.58º1 2ªparte CPC);
2. Se se tratar de ação de reclamação e verificação de créditos, a constituição de advogado é
obrigatória quanto à apreciação dos créditos cujo valor seja superior à alçada do tribunal de
Comarca (A.58º2 CPC).

● É aplicável o A.40º1/c CPC, que exige a constituição de advogado nos recursos.

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LEGITIMIDADE DAS PARTES

→ LEGITIMIDADE SINGULAR
VISÃO GERAL
● Na ação declarativa, a legitimidade processual responde às perguntas de quem deve colocar a ação e
contra quem deve ser colocada a ação, considerando o objeto processual concreto;
● É preciso garantir que estejam no processo os mesmos sujeitos da relação subjetiva, uma vez que a
sentença terá efeito de caso julgado face a estes (relação entre o processo e o litígio subjacente) →
Relação de interesse direto (A.30º1 CPC);
● “O autor é parte legítima quando tem interesse direto em demandar; o réu é parte legítima quando tem
interesse direto em contradizer” (A.30º1 CPC);
● Quando o A.817ºCC estipula o direito de execução, afirma que o titular da pretensão executiva é o
credor e que essa pretensão executiva tem como polo passivo o devedor;
● O A.818ºCC determina situações em que a execução já pode ser dirigida não contra o devedor, mas
contra terceiros à dívida. Quando é isto possível? Quando estes tenham uma garantia real ou quando
tenha existido uma ação de impugnação pauliana (é formalmente terceiro, mas já não o é face aquela
dívida concreta);
● O A.606ºCC permite que, em certos casos, um credor se sub-roge ao seu devedor para executar os
devedores do devedor (ex: A é credor de B, que lhe deve 10€. B é credor de C no valor de 15€. A pode
executar C em nome de B, havendo negligência deste, no valor de 10€ [substituição processual]);
● Em sede executiva há 3 casos de legitimidade:
1) Legitimidade Literal (A.53ºCPC);
2) Legitimidade Sub Rogatória (A.54º1 CPC);
3) Legitimidade de Terceiros à Dívida (A.54º2, 3 e 4 CPC)

LEGITIMIDADE LITERAL (A.53ºCPC)


● Na ação executiva a indagação da posição das partes faz-se em confronto com o título executivo: têm
legitimidade como exequente e executado quem no título figura, respectivamente, como credor e como
devedor (A.53ºCPC e A.817ºCC) → Literalidade do Título;
● Abrange os devedores principais e os devedores subsidiários (se houver vários devedores), singulares e
plurais, e abrange o fiador28 ou avalista29 (garantias pessoais - são verdadeiros devedores);
● Esta literalidade não é rígida, há situações excecionais em que o credor pode estar indeterminado em
face do título, mas o qual conseguimos, ainda assim, determinar (MTS chama de legitimidade aberta):
1. Se o título executivo for um título ao portador, a execução é promovida pelo portador do título
(A.53º2 CPC) – nomeadamente, título de crédito;
2. Contrato a favor de terceiro (A.443º1 CC) – o credor é o terceiro;
3. Contrato para pessoa a nomear (A.352º1 CC) – o credor será determinado posteriormente, nos
termos do contrato.

28
Prevista no A.627ºCC - Alguém fica como devedor de uma dívida alheia, ficando pessoalmente obrigado perante o credor.
A obrigação do fiador é acessória, na medida em que se extingue com a extinção da obrigação principal do devedor principal
(não está no mesmo plano do devedor principal, só respondendo em 2º lugar [benefício da excussão prévia], distinguindo-se
dos devedores subsidiários ou solidários) → Título executivo é o contrato de fiança ou a cláusula de fiança, desde que
autêntico ou autenticado (A.703º1/b CPC).
29
Aval é uma garantia própria das letras e livranças, previsto no A.32ºLULL, sendo o avalista um devedor solidário do
devedor principal, respondendo ao mesmo tempo que o segundo. O aval é uma garantia pessoal → Título executivo é o título
de crédito (A.703º1/c CPC).

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● SUCESSÃO NA OBRIGAÇÃO (A.54º1 CPC)


➢ Quando tenha ocorrido sucessão30, singular ou universal, na titularidade da obrigação, a
execução deve ser promovida por ou contra os sucessores da pessoa que figura no título como
credor ou devedor, pelo que o exequente deve, no requerimento executivo, alegar os factos
constitutivos da sucessão (A.54º1 CPC);
➢ O executado poderá, na oposição à execução, invocar a ilegitimidade singular ativa ou passiva
por falta desta sucessão (A.729º/c CPC);
➢ Este artigo pressupõe que a sucessão se deu antes da ação executiva. Se se tiver dado na
pendência da ação executiva, visto que esta foi colocada entre quem constava do título mas
superveniente alguém “saiu” daquele título, é necessário deduzir incidente de habilitação de
herdeiro ou de transmissário (A.351ºss e A.356ºCPC), ficando a execução suspensa até que os
sucessores venham à ação e sendo nesta sede que se faz a prova complementar da transmissão.

● TERCEIROS ABRANGIDOS POR SENTENÇA (A.55ºCPC)


➢ A regra é a de que o caso julgado só tem força entre as partes (A.619ºCPC), só vinculando
terceiros em casos excecionais. No entanto, o A.55ºCPC permite que a sentença seja
executada contra quem não é réu, mas em relação ao qual a sentença tem força de caso julgado
(legitimação passiva por extensão subjetiva imperativa do caso julgado);
➢ Isto acontece nas situações do A.263º3 CPC: se o crédito ou coisa litigiosa foram transmitidos
a terceiro e isso não foi assumido pelo processo (não houve habilitação), a execução pode ser
proposta contra esse adquirente não habilitado, por via da conjugação dos A.55º e A.263º3;
➢ REGENTE defende que não cabem aqui as outras situações de intervenção de terceiro –
A.316º, A.319º, A.323º e A.332ºCPC. Em todos estes casos, o “terceiro” foi citado para ação
declarativa, pelo que já não é um verdadeiro terceiro na ação executiva;
➢ REGENTE defende que não podem existir situações de caso julgado eventual do lado passivo,
porque o CC consagra que o co-devedor solidário (A.522ºCC), o co-devedor parciário e o
fiador (A.635ºCC) que não estejam na causa não ficam sujeitos ao caso julgado, não podendo
ser prejudicados pela sentença (embora possam aproveitar-se dela)31;
➢ REGENTE e MTS defendem que podem existir situações de caso julgado eventual do lado
ativo, uma vez que os A.531º e A.538º2 CC permitem que os credores possam aproveitar a
sentença (seja ela declarativa ou executiva)32;

LEGITIMIDADE SUB ROGATÓRIA (A.54º1 CPC)


● O credor tem a faculdade de exercer contra terceiro os direitos de conteúdo patrimonial que competem
àquele (A.606ºCC). Por exemplo, se B deve 100.000€ a A e C, por sua vez, deve 50.000€ a B, mas B
não coloca ação executiva contra C, A pode colocar a ação executiva em nome de B;
● A sub-rogação só é permitida quando seja essencial à satisfação ou garantia do direito do credor;
● Não tem de ser um direito de crédito, basta que haja um direito patrimonial que beneficie o devedor33;
● No procedimento executivo de penhora de créditos prevê-se que o exequente se substitua ao executado
na execução do crédito deste sobre terceiro (A.777º3 CPC). Por exemplo, A coloca ação executiva
contra B, B tem um crédito sobre C e A penhora o crédito de C; mas entretanto o crédito de C vence-se
e C não paga ao executado mas o executado também não faz nada.

30
Ex: Sucessão, cessão de créditos (A.577ºCC), assunção de dívida (A.595ºCC) ou endosso (A.14ºLULL e LUC).
31
Imagine-se que na ação declarativa 3 devedores foram condenados a pagar 10€, mas em sede executiva, a ação foi apenas
intentada contra um deles. A sentença que condena um devedor não pode ser oposta aos outros co-devedores (A.522ºCPC),
mas estes, se quiserem, podem invocá-la a seu favor (efeito secundum eventum litis). A.635ºCC estende o regime ao fiador;
32
Imagine-se que há vários credores, mas apenas um deles instaurou ação executiva contra o devedor. RP e MTS entendem
que, neste caso e ao abrigo do A.55ºCPC, a sentença condenatória aproveita a todos os credores, estando estes abrangidos
pelo caso julgado.
33
Ex: sub rogação na aceitação da herança, acautelando a transmissão de património para que o possa executar.

PEDRO FERREIRA RIBEIRO | 31

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LEGITIMIDADE DE TERCEIROS À DÍVIDA (A.54º2, 3 e 4 CPC)


● Pode acontecer que a garantia real dum crédito incida sobre bens de terceiro, ou porque já assim tenha
sido constituída, ou porque, constituída embora sobre bens do devedor, este os tenha posteriormente
alienado em data anterior à propositura da ação executiva;
● O CPC proibe a penhora de bens pertencentes a pessoa que não tenha a posição de executado, pelo que
para se fazer atuar a garantia real prestada, tem de se propor a ação contra o proprietário do bem;
● A esta situação é equiparável a situação do adquirente dos bens após procedência da impugnação
pauliana → REGENTE e LF defende que se aplica analogicamente o A.54º2 CPC;
● Assim, nas situações em que exige garantia real ou nas situações de impugnação pauliana34, a ação
executiva pode ser colocada contra terceiro à dívida (A.818º e A.616º1 CC + A.54º2 e A.735º2 CPC);
● Se se reconhecer a insuficiência dos bens onerados com a garantia real, o que só pode acontecer após a
distribuição do produto da venda, pode o exequente requerer, no mesmo processo, o prosseguimento da
ação executiva contra o devedor, que será demandado para completa satisfação do crédito exequendo
(A.54º3 CPC) → Litisconsórcio Superveniente pois a obrigação exequenda é a mesma, não podendo
permanecer extinta em face de um e não extinta em face do outro.
● O exequente pode não querer executar logo a garantia. Assim, desde que se declare no processo que
não se quer executar a garantia (pois, caso contrário, o agente de execução é obrigado a executá-la –
A.735º2 CPC), pode demandar diretamente o devedor, nos termos do A.53º, A.54º1 ou A.55ºCPC.
➢ REGENTE: Não se trata de renúncia à garantia real: esta só pode ser feita segundo os modos
previstos na lei civil para a renúncia a direito real – uma renúncia válida e eficaz é a que foi
feita extrajudicialmente, i.e., antes da execução, segundo a forma válida, ou no próprio
requerimento executivo apenas quando a forma legal o consinta, e desde que haja declaração
expressa do exequente (A.730ºCC).

● O A.54º4 CPC admite que se possa colocar a execução não só contra o devedor, mas também contra o
terceiro que está na posse do bem do devedor (ex: arrendatário) – trata-se de um caso de legitimidade
passiva plural → REGENTE: ao contrário do que sucede em sede do A.54º2 CPC (onde o terceiro
garante tem legitimidade para ser executado sem o devedor), o terceiro possuidor não pode ser
executado sozinho: deve ser demandado juntamente com o devedor.

ILEGITIMIDADE SINGULAR
● A ilegitimidade singular é uma exceção dilatória insanável de conhecimento oficioso, que leva ao
indeferimento liminar do requerimento executivo (A.726º2/b CPC) ou, se conhecida mais tarde, ao
abrigo do A.734ºCPC, deve absolver o executado da instância e extinguir a execução.
● Na forma sumária cabe ao agente de execução suscitar a intervenção do juiz quando se lhe afigure
provável a ocorrência da ilegitimidade (A.855º2/b conjugado com o A.726º2/b CPC).
● A falta de legitimidade constitui uma exceção dilatória que pode ser fundamento à oposição à execução
pelo executado (A.729º/c CPC).

34
O título executivo é a própria sentença de impugnação pauliana.

PEDRO FERREIRA RIBEIRO | 32

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→ LEGITIMIDADE PLURAL
LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO
Encontra-se consagrado no A.33ºCPC, que estabelece que o litisconsórcio é necessário na ação executiva
quando a realização coativa de um direito a uma prestação apenas por todos os credores ou contra todos os
devedores pode ter lugar, seja por lei, vontade das partes ou indivisibilidade material da própria prestação;

1) LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO CONVENCIONAL → Existe quando as partes convertem uma


obrigação parcial ou solidária numa obrigação unitária, i.e., a obrigação era divisível, mas as partes
acordaram que o direito de ação tinha de ser exercido unitariamente;

2) LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO NATURAL → Exige uma indivisibilidade da própria prestação:


apenas pode ser materialmente realizada em face a todos os credores ou por todos os devedores, o que
implica que todos tenham de estar na ação.
➢ Não acontece na execução para pagamento de quantia certa, porque o objeto da prestação é
sempre divisível (dinheiro);
➢ Pode acontecer, eventualmente, na execução para entrega de coisa certa, quando aquela
indivisibilidade material surgir como a própria indivisibilidade material dos atos de apreensão
(ex: obtida a sentença de condenação de B, alegado proprietário, e C, alegado usufrutuário, na
entrega de um trator, a ação deve ser dirigida contra os dois, caso o trator esteja numa garagem
detida por ambos: é verdade que o trator é usado pelo C, mas quem é proprietário é o B);
➢ Na execução para prestação de facto, podem configurar-se obras ou factos plurais, como a
realização de um concerto.

3) LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO LEGAL → Deve aqui verificar-se, nos regimes obrigacionais,


familiares, reais e sucessórios, quais são as normas que impõem a presença de credores e devedores na
ação executiva sob pena de ilegitimidade. Exemplos:
➢ A.496º2 CC → litisconsórcio entre os vários titulares sucessivos do crédito de indemnização;
➢ A.500º1 CC → litisconsórcio entre comitente e comissário na execução de indemnização;
➢ A.535º1 CC → litisconsórcio entre pluralidade de devedores de obrigação indivisível;
➢ A.608ºCC → Quanto à execução sub-rogatória: se o credor exercer a faculdade de executar
contra terceiro os direitos de conteúdo patrimonial que compete ao seu devedor, será
necessária a citação do devedor sub-rogado, em litisconsórcio passivo. Neste caso, a
legitimidade afere-se não apenas pelo direito exequendo, mas também pela penhora, de modo
a que os atos executivos tenham como sujeitos processuais os sujeitos dos respectivos efeitos
substantivos (A.819º e A.824ºCC, nomeadamente).

PRETERIÇÃO DE LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO


● A preterição do litisconsórcio necessário consubstancia uma situação de ilegitimidade (A.33º1 CPC),
que é uma exceção dilatória de conhecimento oficioso que pode servir de fundamento à oposição à
execução (A.729º/c CPC);
● É uma exceção sanável, pelo que o tribunal que a conheça deve proferir um despacho liminar ou
superveniente de aperfeiçoamento (A.726º4 e A.734ºCPC). Na forma sumária, o agente de execução
deve suscitar a intervenção judicial para despacho liminar (A.855º2/a CPC);
● O juiz deve proferir despacho liminar de sanação (A.316ºCPC); na falta de sanação, o juiz profere
despacho de indeferimento liminar ou sucessivo, consoante os casos (A.726º5 CPC);
● No entanto, aplica-se também na ação executiva o mecanismo do A.261ºCPC, que permite que o
exequente possa sanar o vício no prazo de 30 dias a contar do trânsito em julgado formal do despacho
de indeferimento liminar ou da sentença de procedência de oposição à execução. Há um benefício: a
instância extinta considera-se renovada e aproveitada.

PEDRO FERREIRA RIBEIRO | 33

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REGIME ESPECÍFICO DOS CÔNJUGES (A.34ºCPC)


● REGENTE e MTS → Defendem que o A.34ºCPC se aplica tanto à ação declarativa como à ação
executiva, consagrando os nº1 e 3 litisconsórcio necessários legais. A preterição do litisconsórcio
necessário, seja ativo ou passivo, leva a uma situação de ilegitimidade;
● LF → Defende que o A.34ºCPC só se aplica à ação declarativa e não à ação executiva, pelo que não há
um verdadeiro litisconsórcio necessário em sede executiva, mas apenas um direito conferido ao
exequente de executar ambos ou apenas um deles. Diz ainda que o A.34ºCPC se reporta apenas à
definição do direito, não à execução desse direito. Assim, para o prof. LF para se definir o direito em
acção declarativa necessitam de estar os dois ("...obtendo uma decisão susceptivel de ser executada..."),
mas para executar o direito não precisam de estar os dois;
● Nota → O A.34ºCPC só se aplica ao casamento, não se aplica à união de facto.
● Segundo o REGENTE, aplica-se à ação executiva, mas há que adaptá-los, tendo de distinguir:
1) Execução para Prestação de Facto → O A.34ºCPC não se aplica, não havendo litisconsórcio
necessário legal por ou contra ambos os cônjuges na prestação de facto. Esta solução
justifica-se pelo facto de esta ação não colocar um problema de direitos ou bens;
2) Execução para Entrega de Coisa Certa → A.34º1 e 3 CPC apenas se aplicam à execução para
entrega de coisa certa quando dela possa resultar a perda ou oneração 1) de bens, próprios ou
comuns, que só por ambos possam ser alienados ou 2) a perda de direitos que só por ambos
possam ser exercidos, nos termos do direito substantivo (ex: perda de estabelecimento
comercial - A.1682º-A CC), ou 3) que versem sobre a casa de morada de família;
3) Execução para Pagamento de Quantia Certa :
➢ Do lado ativo, o A.34º1 CPC não se aplica: se um ou ambos os cônjuges são
credores, o risco de perda ou oneração de bens e direitos indisponíveis, por meio da
penhora e ulterior venda executiva, está do lado do executado;
➢ Do lado passivo, se ambos os cônjuges forem os executados, temos de distinguir:
1. Dívida Comum em face do Título → Ambos devem ser executados por força
da primeira parte do A.34º3 CPC (Litisconsórcio Necessário);
2. Divida Própria em face do Título → Só esse cônjuge tem legitimidade, não
se podendo executar os dois cônjuges35 (A.53º1 CPC).

35
Se for penhorado bem próprio do executado que seja imóvel ou estabelecimento comercial, deve ser feita a citação do
cônjuge terceiro (A.786º1/a CPC), para que aceda ao estatuto processual previsto no A.787º1 CPC : será equiparado ao
executado em termos de poderes processuais.
Se for penhorado bem comum, o cônjuge terceiro é alheio à dívida, mas não é alheio ao bem. Assim, terá de ser citado para
que promova a separação da sua meação (A.786º1/a, A.740º e A.787º2 CPC).

PEDRO FERREIRA RIBEIRO | 34

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ESQUEMA DO REGIME ESPECÍFICO DOS CÔNJUGES (A.34ºCPC)

REGIME PATRIMONIAL COMUNHÃO (GERAL OU ADQUIRIDOS) SEPARAÇÃO

- Ambos os cônjuges respondem pela dívida que se considere comum (A.1691º1/a CC). - Respondem os bens próprios dos executados, nos termos gerais;

TÍTULO EXECUTIVO - Respondem os bens comuns e, subsidiariamente, os bens próprios solidariamente (A.1695º1 CC). - Mantém-se a discussão do Litisconsórcio Necessário vs Voluntário.
CONTRA OS 2 CÔNJUGES
(Dívida Comum) - O exequente deve propor ação executiva contra ambos os cônjuges (REGENTE e MTS - litisconsórcio - Se ambos os cônjuges forem demandados, respondem todos os
necessário) OU pode escolher entre demandar ambos ou apenas um deles (LF - litisconsórcio voluntário). bens destes, como devedores parciários (A.1695º2 CC).

- Ambos os cônjuges respondem pela dívida comunicável (A.1691º + A.1693º2 + A.1694º1 CC). - O exequente apenas pode propor a ação contra o cônjuge que se
encontre obrigado pelo título executivo.
- Respondem os bens comuns e, subsidiariamente, os bens próprios solidariamente (A.1695º1 CC).
- Respondem os bens próprios do executado, nos termos gerais.
- TÍTULO JUDICIAL → O exequente apenas pode propor a ação executiva contra o cônjuge que se encontre
obrigado pelo título judicial, não existindo comunicabilidade da dívida na execução (A.741º1 a contrario). - TÍTULO EXTRAJUDICIAL → REGENTE defende a aplicação
analógica dos nº2 a 6 do A.741ºCPC, quanto aos mecanismos de
- TÍTULO EXTRAJUDICIAL → O exequente apenas pode propor a ação executiva contra o cônjuge que se comunicabilidade da dívida, de forma a estender a penhora aos bens
TÍTULO EXECUTIVO encontre obrigado pelo título executivo, mas o exequente ou o executado podem alegar a comunicabilidade próprios do cônjuge do executado.
CONTRA 1 CÔNJUGE da dívida ao cônjuge na ação executiva (A.741º + A.742ºCPC), tendo este de reagir à alegação de
(Dívida Comunicável) comunicabilidade no prazo de 20 dias:
1) Aceita → Dívida considera-se comum e respondem os bens comuns e, subsidiariamente, os bens
próprios de cada um dos cônjuges, solidariamente;
2) Não se Pronuncia → Dívida considera-se comum e respondem os bens comuns e,
subsidiariamente, os bens próprios de cada um dos cônjuges, solidariamente;
3) Não Aceita e Requer Separação → Dívida considera-se própria do executado e respondem apenas
os bens próprios deste e a sua meação nos bens comuns;
4) Não Aceita e Não Requer Separação → Dívida considera-se própria do executado, mas respondem,
além dos bens próprios deste, também todos os bens comuns do casal.

- Apenas responde o cônjuge que contraiu a dívida (A.1692ºCC). - Respondem os bens próprios do executado, devendo a ação
executiva ser proposta apenas contra este, nos termos gerais.
TÍTULO EXECUTIVO - Respondem apenas os bens próprios do executado e, subsidiariamente, os bens que integrem a meação deste
CONTRA 1 CÔNJUGE no património comum (A.1696º1 CC).
(Dívida própria)
- O exequente deve propor a ação executiva contra o cônjuge-devedor, sendo o outro citado para requerer a
separação de bens, de forma a proteger da penhora a sua meação nos bens comuns (A.740º1 CPC).

PEDRO FERREIRA RIBEIRO | 35

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EXECUÇÃO PARA PAGAMENTO DE QUANTIA CERTA

FORMAS PROCEDIMENTAIS
● O processo comum para pagamento de quantia certa é ordinário ou sumário (A.550º1 CPC);
● A diferenciação entre as formas ordinária e sumária é apenas relativa à fase introdutória,
nomeadamente quanto à admissão liminar do requerimento e à essencialidade ou não do despacho
judicial liminar. Assim, a partir da fase de citação (A.786ºCPC ss), há apenas 1 sequência processual;
● A forma ordinária é aquela em que existe sempre despacho liminar e citação prévia à penhora, enquanto
a forma sumária é aquela em que não existe despacho liminar ou citação prévia à penhora:
➢ Ordinária (A.724ºss CPC) → A secretaria admite o requerimento, o juiz despacha-o
liminarmente e manda citar o executado para pagar ou se defender36 (fase introdutória para
contraditório);
➢ Sumária (A.855ºss CPC) → O agente de execução admite o requerimento, realiza a penhora e,
só depois, cita o executado37 (fase introdutória com contraditório diferido).

● O processo comum para pagamento de quantia certa só segue a forma sumária quando a Lei o impuser
expressamente (casos do A.550º2 e A.626º2 CPC), sendo um elenco taxativo;
● A execução para pagamento de quantia certa tem uma sequência procedimental base:
1. Fase Introdutória → Compreende o requerimento executivo, recebimento, apreciação judicial
liminar (por vezes eventual), citação do executado e oposição à execução (eventual);
2. Fase de Penhora → Compreende atos preparatórios, atos de penhora, notificação e oposição à
penhora do executado ou de terceiro;
3. Fase do Concurso de Credores;
4. Fase de Intervenção do Cônjuge do Executado (eventual);
5. Fase da Venda Judicial;
6. Fase do Pagamento.

● Erro na forma do processo:


➢ O erro no uso das forma procedimental devida constitui nulidade processual, devendo
aproveitar-se os atos previamente praticados que não importem diminuição das garantias do
executado (A.193º1 e 2 CPC);
➢ O erro pode dever-se tanto a erro de qualificação formal no requerimento executivo (A.724º1/d
CPC in fine), como a erro oficioso da secretaria ou do agente de execução na marcha que
efetivamente promovam (ex: em procedimento ordinário, a secretaria envia o processo ao AE
para penhora imediata, em vez de o remeter ao juiz para despacho liminar);
➢ Nos casos de erro oficioso, o executado e o exequente podem invocar o vício até ao termo do
prazo para a dedução de oposição à execução (A.198º1 CPC). O tribunal e o AE podem,
porém, conhecer oficiosamente o erro na forma de processo (A.196ºCPC).

36
Há exceções à citação prévia no A.727ºCPC → Quando o exequente alegar factos que justifiquem o receio de perda da
garantia patrimonial do seu crédito e oferecer de imediato prova, e o juiz assim o considere.
37
Há exceções à inexistência de despacho liminar o juiz no A.855º2/b CPC e exceções quanto à inexistência de citação
prévia (A.855º5 CPC → Quando a penhora versar sobre bens imóveis ou estabelecimento comercial em execução de título
extrajudicial de obrigação vencida de valor não superior ao dobro da alçada de 1ªinstância [10.000€]).

PEDRO FERREIRA RIBEIRO | 36

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PROCESSOS EXECUTIVOS ESPECIAIS


● O processo executivo comum tem por objeto a execução de qualquer obrigação civil, salvo exceções;
● Estas exceções correspondem a processos e procedimentos executivos qualificados como especiais, em
razão de terem por objeto um específico crédito exequendo, que justifica especialidades no plano da
marcha e dos atos do processo;
● REGENTE adota a arrumação de LEBRE DE FREITAS em:
1) Processos executivos especiais stricto sensu:
➢ Execução para alimentos (A.956ºss CPC);
➢ Execução para pagamento de custas, multas ou outras quantias contadas (A.35º e
A.36ºRCP);
➢ Execução para entrega de coisa imóvel arrendada, em sede de execução para entrega
de coisa certa (A.864ºss CPC).

2) Processos Mistos → Compostos de fase declarativa e de fase executiva (execução


procedimentalmente incorporada):
➢ Investidura em cargos sociais (A.1070º e A.1071ºCPC);
➢ Procedimento especial de despejo (A.15ºss NRAU);
➢ Providências cautelares que impliquem atos materiais, como a restituição provisória
de posse (A.377ºCPC) ou o arresto (A.391ºCPC).

3) Atos Executivos Avulsos → Processos especiais em que, pontualmente, se prevê a prática de


atos executivos:
➢ Adjudicação ou venda na divisão de coisa comum (A.929º2 CPC);
➢ Venda, adjudicação e pagamento em liquidação de herança vaga em benefício do
Estado (A.939º2 e 4 CPC);
➢ Apreensão judicial na apresentação de coisa ou documento (A.1047ºCPC);
➢ Entrega de bens em processo de inventário (A.2º1, A.68º e A.69º4 Lei nº23/2013);
➢ Entrega de bens na justificação da ausência (A.77º4 e 6 Lei nº23/2013);

● Às execuções especiais, além das suas regras próprias (incluindo remissões para determinados regimes
da execução comum), aplicam-se subsidiariamente as normas do processo ordinário (A.551º4 CPC).

FORMA ORDINÁRIA

§1 - IMPULSO PROCESSUAL

REQUERIMENTO EXECUTIVO
● O requerimento executivo é o ato pelo qual o credor dá o impulso processual inicial à ação executiva,
numa clara expressão do princípio do dispositivo;
● A acompanhar o requerimento executivo tem de estar sempre o título executivo (A.724º4/a CPC);
● A falta de elementos comuns acarreta a recusa do seu recebimento pela secretaria ou pelo agente de
execução, consoante a forma seja ordinária ou sumária (A.725º1/b) e c) e A.855º2/a) CPC.
● [...]

§2 - DISTRIBUIÇÃO, ADMISSÃO, DESPACHO LIMINAR E CITAÇÃO


[...]

PEDRO FERREIRA RIBEIRO | 37

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§3 - OPOSIÇÃO À EXECUÇÃO

VISÃO GERAL
● Uma vez citado, o executado pode:
1) Pagar voluntariamente a responsabilidade processual: custas e divida (A.846º a A.849ºCPC);
2) Deduzir oposição à execução, no prazo de 20 dias a contar da citação (A.728ºss CPC);
3) Não fazer nada, continuando o processo normalmente sem existirem consequências
processuais (ao contrário do processo declarativo, não há revelia por falta de oposição).

● A oposição à execução é o meio processual pelo qual o executado exerce o seu direito de defesa perante
o pedido do exequente (princípio do contraditório);
● Processualmente, a defesa do executado não integra o procedimento de execução: trata-se de uma ação
declarativa – constituída por PI, eventual contestação, prova, julgamento e sentença final –, incidental à
execução, fisicamente correndo por apenso38.
● É uma ação autónoma na instância, mas acessória quanto à sua sobrevivência e funcionalidade ;
● Consequências de ser uma ação incidental → No plano formal é uma ação que goza de alguma
simplificação processual:
1. Não admite reconvenção → Nem o executado pode pedir a condenação do exequente, nem o
exequente pode pedir a condenação do executado noutra obrigação diferente;
2. Tem uma prova mais simples;
3. Deve ser julgada em 3 meses;
4. Só admite causas de pedir específicas admitidas nos A.729ºCPC (execução baseada em
sentença judicial), A.730ºCPC (execução baseada em sentença arbitral), A.731ºCPC
(execução baseada em título extrajudicial) e A.857ºCPC (execução baseada em injunção);
5. Não admite cumulação de objetos processuais → REGENTE: Mas pode-se pedir que seja
declarada a inexistência da dívida em cumulação com a extinção da execução (A.732º6 CPC).

● Efeitos da Procedência → Extingue a execução, fazendo caso julgado formal (A.732º4 + A.620ºCPC).
Mas há uma exceção: se for discutida a existência, validade ou exigibilidade da obrigação exequenda,
então a decisão faz caso julgado material quanto a esta matéria (A.732º6 + A.621ºCPC).
● Objeto Mediato da Oposição à Execução:
➢ Pedido → Pedido de extinção total ou parcial da execução (A.732º4 CPC). Mas se for
impugnada a existência ou a exigibilidade da obrigação exequenda, então é possível deduzir
um segundo pedido, em cumulação simples (REGENTE);
➢ Causa de Pedir → As causas de pedir não são livres, estando determinadas na Lei 39:
1. Sistema Restritivo da Causa de Pedir → Quando o título executivo for uma sentença,
só se podem deduzir como causa de pedir os fundamentos que a lei expressamente
elenca como tal no A.729º (sentenças judiciais) ou no A.730º (sentenças arbitrais);
2. Sistema Não Restritivo da Causa de Pedir → Quando o título executivo for diverso de
sentença, podem ser deduzidos todos os fundamentos que poderiam ser deduzidos na
contestação (A.571ºCPC - defesa por impugnação e defesa por exceção dilatória ou
perentória), além daqueles expostos no A.729ºCPC (ex vi A.731ºCPC);
3. Sistema Intermédio → Quando o título executivo for uma injunção, regra geral só se
podem deduzir os fundamentos que poderiam ser deduzidos contra uma sentença.
Mas há várias exceções a esta regra (A.857ºCPC).

38
Como afirma ANSELMO CASTRO, é uma contra-ação acessória à ação executiva: é uma ação que só vive no âmbito da
ação executiva, tanto que se se extinguir a ação executiva extingue-se a ação de oposição à execução.
39
REGENTE → A distinção justifica-se porque, quando o título for diverso de sentença, o executado ainda não teve
oportunidade de se defender em tribunal. Se o título é uma sentença, então não podem ser invocados fundamentos de
contestação pelo ónus da concentração da defesa na ação declarativa e pelo princípio do caso julgado da sentença.

PEDRO FERREIRA RIBEIRO | 38

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● Quais os fundamentos gerais que posso deduzir contra qualquer título executivo?
➢ Fundamentos de forma → Exceções dilatórias; inexistência ou inexequibilidade do título
executivo; falsidade do processo; nulidade ou anulabilidade da confissão ou transação (nas
sentenças homologatórias);
➢ Fundamentos de Mérito → Incerta, inexigibilidade ou iliquidez da obrigação exequenda;
impugnação dos factos constitutivos da obrigação (apenas admissível nos títulos diversos de
sentença); exceções perentórias extintivas ou modificativas da obrigação, desde que esse facto
seja superveniente à ação declarativa40 (se o título for sentença).

ANÁLISE DO A.730º1/g) e h) CPC:


➢ Especificidade dos Factos Supervenientes (A.730º1/g CPC)
● O executado pode invocar exceções perentórias extintivas ou modificativas da obrigação;
● Esse facto, se a execução se basear em sentença (A.729º e A.730º1/g in fine), tem de ser
posterior ao encerramento da discussão em processo declarativo41;
● Este problema não se coloca nas execuções baseadas em título diverso, uma vez que o
executado pode utilizar todos os meios de defesa declarativa (vide A.731ºCPC in fine);
● Mas o que são factos supervenientes? Embora MTS defenda que cabe na alínea g) tanto a
superveniência objetiva (facto novo) como a superveniência subjetiva (facto antigo mas que o
executado só tem conhecimento agora de forma não culposa), REGENTE só enquadra a
superveniência objetiva. Assim, se o executado quiser trazer factos velhos que só agora tem
conhecimento, tem de colocar uma ação de revisão de sentença.

➢ Especificidade da Compensação (A.848ºCC + A.730º1/g) e h))


● Compensação é a extinção de uma dívida através da oposição ao credor de uma contra-dívida
que este tem em relação ao devedor (extinção recíproca de 2 créditos entre partes comuns);
● REGENTE: A compensação feita fora do processo, extrajudicial, é uma exceção perentória
extintiva, mas se as partes quiserem fazê-lo no processo, é feito através da contestação;
● Assim, se o título executivo for diverso de sentença, invocamos a compensação como exceção
perentória extintiva (A.571ºCPC, ex vi A.731ºCPC);
● Se o título for uma sentença, LF defende que a compensação está apenas na alínea h) do
A.729ºCPC. E cabem aqui todas as compensações: as judiciais e as extrajudiciais.
➢ REGENTE não concorda: se for uma compensação extrajudicial, que já ocorreu,
então aplica-se a alínea g), mas se o executado a quiser fazer na ação executiva, pela
primeira vez, então aplicamos a alínea h);
➢ Mas a alínea g), referente à compensação que já ocorreu, exige a prova documental e
que a compensação seja objetivamente superveniente. Estas exigências podem ser
aplicadas analogicamente à alínea h)? REGENTE defende que sim, pelo princípio da
preclusão da defesa (ónus de reconvir) e do caso julgado, mas MTS defende que não
(não há ónus de reconvir, pelo que não há preclusão do direito de compensação).

40
Embora MTS defenda que cabem na alínea g) do A.729ºCPC tanto a superveniência objetiva (facto novo) como a subjetiva
(facto antigo mas que o executado só tem conhecimento agora), REGENTE só enquadra a superveniência objetiva. Assim, se
o executado quiser trazer factos “velhos”, tem de colocar uma ação de simples apreciação autónoma (revisão de sentença).
41
REGENTE defende que o momento relevante é o trânsito em julgado da sentença declarativa.

PEDRO FERREIRA RIBEIRO | 39

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➢ Especificidade dos Factos Impeditivos


● O A.729º/g CPC só admite factos extintivos e modificativos;
● Os factos impeditivos são, pela sua natureza, factos que deviam ter sido alegados na ação
declarativa. Por exemplo, nos casos de nulidade, em que a nulidade do contrato pressupõe a
inexistência da dívida, não é algo superveniente à sentença, é algo que já existia no momento
da contestação. Os factos impeditivos são sempre factos objetivamente não supervenientes;
● Pode sempre haver situações excecionais: pode acontecer que haja um facto impeditivo que só
depois do encerramento da discussão tenha produzido a sua eficácia (ex: o vício causador da
anulabilidade cessar depois do julgamento de audiência). Porém, são situações raríssimas;
● Conclui-se assim que apenas são admitidos factos modificativos ou extintivos supervenientes,
tanto na al. g) como na h) do A.729º1 CPC.

➢ NOTA → A restrição dos factos impeditivos e a exigência de prova documental consagradas no


A.729ºCPC apenas se aplicam às execuções fundadas em sentença. Assim, embora o A.731º remeta
para o A.729º, aplicando-se a alínea g), estas regras não valem: isto porque o executado pode, na
execução fundada em título diverso de sentença, utilizar os meios de defesa da ação declarativa (o
A.571º permite a invocação de factos impeditivos, e as regras probatórias seguem o regime geral).

CAUSAS ESPECÍFICAS DE OPOSIÇÃO:


1) REQUERIMENTO DE INJUNÇÃO COM FÓRMULA EXECUTÓRIA APOSTA (A.857ºCPC)
● O requerimento de injunção com a fórmula aposta é executado na forma sumária (A.550º2/a CPC), daí
que os fundamentos de oposição à execução se encontrem no capítulo do processo sumário (A.857º);
● Quanto aos efeitos normativos do A.857ºCPC, ressalta que os fundamentos de oposição à execução de
requerimento de injunção com fórmula executória aposta são os mesmos que os da sentença
(A.729ºCPC), havendo uma equiparação;
● Entende-se que o contraditório foi plenamente satisfeito e o direito de defesa respeitado tanto na
prolação da sentença como na prolação do requerimento de injunção e, por isso, considera-se que
houve uma preclusão, não se podendo então invocar fundamentos supervenientes;
● O Ac. TC nº388/2013 veio declarar, com força obrigatória geral, a inconstitucionalidade da norma
constante do antigo A.814º2 (que tem um teor muito idêntico ao do A.857ºCPC), pois considerou que
violava gravemente o direito à defesa consagrado no A.20º1 CRP. O legislador de 2013 manteve a
mesma norma, porém colocou duas válvulas de segurança, nos nº2 e 3. No entanto, isto não convenceu
o TC, tendo este, no Ac. TC nº264/2015, declarado mais uma vez a inconstitucionalidade com força
obrigatória geral da norma constante do A.857º1 CPC;
● Então como deve ser interpretado, hoje em dia, o A.857ºCPC?
➢ O nº1 já não pode ser interpretado no sentido de que valem apenas os fundamentos do A.729º,
devendo antes ser interpretado em conformidade com a CRP: se a execução se fundar em
requerimento de injunção ao qual tenha sido aposta fórmula executória, ignora-se a primeira
parte do A.731ºCPC (“não se baseando a execução em [..] requerimento injuntivo”), e podem
ser alegados todos os fundamentos previstos neste artigo;
➢ Assim, independentemente de ter passado o prazo para a defesa e de não se ter defendido,
tenha ou não sido citado para a injunção, volta tudo à estaca zero: quem quer que veja contra
si a execução do requerimento de injunção com a fórmula executória aposta pode agora
defender-se plenamente como se lhe tivesse sido dado essa oportunidade pela primeira vez,
pois é isso que permite a remissão do A.857º1 para o A.731ºCPC;
➢ REGENTE → Os nº2 e 3 pressupunham a aplicação do nº1, mas agora a aplicação do
A.731ºCPC dá-se logo pelo nº1 do A.857ºCPC. Assim, os nº2 e 3 foram consumidos pela
interpretação que o Ac. TC nº264/2015 fez do nº1, não tendo, atualmente, qualquer utilidade.

PEDRO FERREIRA RIBEIRO | 40

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2) EXECUTADO NÃO DEVEDOR: TERCEIRO GARANTE E POSSUIDOR (A.54º2 e 4)


● Quanto ao terceiro-garante, este pode invocar causas de defesa específicas, como a extinção da garantia
real que onera o seu bem. Em particular, por força do A.698º2 CC, o terceiro-garante pode opor uma
exceção material semelhante à que a lei civil concede ao fiador no A.642ºCC: tem a faculdade de se
opor ao pagamento forçado enquanto o devedor puder impugnar o negócio donde provém a sua
obrigação, ou o credor puder ser satisfeito por compensação com um crédito do devedor ou este tiver a
possibilidade de se valer da compensação com uma dívida do credor;
● Tratando-se de um terceiro-garante hipotecário ou pignoratício, pode ainda opor ao exequente os meios
de defesa que o devedor tiver contra o crédito, ainda que o devedor a eles tenha renunciado, ao abrigo
dos A.698º1 e A.678ºCC. Apenas se excluem as exceções que são recusadas ao fiador, como se ressalva
no final do A.698º1 CC;
● Por outro lado, poderá sempre invocar fundamentos gerais não-pessoais do devedor, como a sua
ilegitimidade por não ter garantido o crédito, a incompetência do tribunal (A.729º/c CPC) ou a
falsidade do traslado (A.290º/b CPC), por exemplo;
● Quanto ao terceiro-possuidor, este tanto pode invocar a extinção ou inexistência do seu direito ou
posse, como fundamentos gerais não-pessoais do devedor;
● Pode o terceiro-possuidor invocar que a sua posse é incompatível com o âmbito da penhora, já que a
penhora necessariamente abrange o seu direito?
➢ Se não tiver sido citado, podê-lo-ia, em sede de embargos de terceiro (A.342º1 CPC);
➢ LF entende que sim: O terceiro possuidor pode alegar, na oposição à execução, que a sua
posse é compatível com a penhora e com a venda, como é o caso da posse do arrendatário;
➢ REGENTE concorda, não somente por respeito pelos direitos de defesa da parte passiva, mas
sobretudo por, em bom rigor, o que se está a discutir é se o citado tem legitimidade em face do
A.54º4. É que a posse que nele se considera é a posse compatível com o âmbito da penhora.
➢ Por outro lado, e ao contrário do que sucede com o terceiro-garante do A.54º2, parece que o
terceiro-possuidor não poderá invocar a extinção do crédito, ou, pelo menos, meios de defesa
que o devedor pudesse ter contra o crédito; na ausência de norma de teor idêntico à do
A.698º1 CC, ele não pode atuar em substituição processual do devedor;
➢ A exceção é, porém, a prescrição da dívida, já que, para efeitos do A.305ºCC, trata-se de um
terceiro com interesse legítimo na sua declaração.

3) FUNDAMENTOS NÃO PREVISTOS NO A.729ºCPC


● O A.729º consagra um sistema restritivo de fundamentos taxativos na oposição à execução de títulos
judiciais próprios e impróprios. Todavia, desde sempre a doutrina notou que esta taxatividade não
esgota o leque possível de vícios que o executado terá em interesse e ónus de alegar;
● Atualmente, embora raríssimos, há ainda vícios que não cabem no A.729ºCPC e que o juiz poderá
conhecer oficiosamente, embora de modo eventual, em sede de despacho liminar ou de despacho
sucessivo do A.734ºCPC;
● São, nomeadamente, os casos de erro na forma de processo (A.191ºCPC), falta de indicação do valor
da causa no requerimento executivo (A.305º3 CPC), falta de qualquer outro requisito legal do
requerimento executivo (irregularidade para efeitos dos A.590º3, A.726º4 e A.734ºCPC);
● O meio próprio será o simples requerimento, ao abrigo do A.723º1/d) CPC. Na verdade, ele garante ao
mesmo tempo o exercício do contraditório sem que o seu objeto apresente complexidade que exija um
procedimento de tipo sumário, como o da oposição à execução;
● Quando estiver em causa qualquer fundamento que esteja nos A.729º e A.731ºCPC e que seja de
conhecimento oficioso, valerá a pena vir abrir oposição à execução? REGENTE afirma que o princípio
da adequação formal pode determinar que, quando se trate de facto extintivo da obrigação que já conste
dos autos, não é necessário abrir oposição à execução (o que consta dos autos é de conhecimento
oficioso). Tirando estes casos isolados em que são factos de conhecimento oficioso cuja prova consta

PEDRO FERREIRA RIBEIRO | 41

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dos autos, ou cujos fundamentos não constem dos A.729º, A.730º e A.731ºCPC, o REGENTE entende
que não parece que em geral se possa opor à execução por simples requerimento, porque isso viola a
regra de que a atuação processual deve ser aquela expressamente determinada, sob pena de erro no
meio processual que determina a nulidade (A.193ºCPC).

PROCEDIMENTO DA OPOSIÇÃO À EXECUÇÃO


PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS
● Executado deve assegurar-se da verificação de todos os pressupostos processuais como em qualquer
outra causa (A.723º1/b CPC);
● O tribunal competente para conhecer dos embargos é o tribunal da execução (A.91º1 e A.723º1/b CPC),
e o julgamento faz-se em tribunal singular (A.599º, ex vi A.732º2 CPC);
● As partes devem apresentar personalidade, capacidade e legitimidade, sendo o executado e o exequente,
respetivamente, o autor e réu da causa (A.728º1 e A.732º2 CPC). O cônjuge também goza de
legitimidade ativa, mesmo não sendo executado (A.741º2 in fine e A.787º1 CPC);
● A oposição à execução é um processo declarativo comum (A.732º2 CPC), embora com algumas
especificidades (A.728º, A.732º e A.733ºCPC). Sendo um procedimento apenso, temos de ter atenção
aos A.293º e A.294ºCPC.

LITISCONSÓRCIO INICIAL E SUPERVENIENTE


● Em sede de oposição à execução pode haver intervenção de terceiros? REGENTE defende que não
porque pressupõe uma extensão da sentença executiva o que acabaria por ir além da pronúncia admitida
em sede de execução (logo, não se admite o litisconsórcio superveniente);
● Quais os limites subjetivos da decisão dos embargos? A pergunta faz sentido porque o caso julgado só
abrange quem esteve na ação:
➢ REGENTE e LF (contra MTS) defendem que:
1. Litisconsórcio Necessário de vários exequentes, a sentença aplica-se a todos;
2. Litisconsórcio Voluntário de vários exequentes, e o executado só colocou os
embargos contra um deles, os embargos procedentes só produzem efeitos quanto ao
credor-embargado, embora os embargos improcedentes aproveitem aos demais
credores (princípio do favor creditoris);
3. Litisconsórcio Necessário de vários executados, a sentença aplica-se a todos;
4. Litisconsórcio Voluntário de vários executados, a sentença só aproveita ao devedor
que os deduziu.

➢ MTS → Se houver litisconsórcio necessário aplicamos o A.634º1 CPC, sendo que a decisão
aproveita aos demais litisconsortes. Já no caso de haver litisconsórcio voluntário, a decisão
pode aproveitar aos demais pela aplicação analógica do A.634º2 CPC se se verificar:
1. Fundamento comum (ex: inexequibilidade do título);
2. Se o executado não-oponente for titular de um interesse dependente do interesse do
oponente (ex: por ser o terceiro garante do A.54º2 CPC → Como era o caso);
3. Se o executado não-oponente for um devedor solidário.

PEDRO FERREIRA RIBEIRO | 42

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IMPULSO PROCESSUAL
● O prazo para deduzir oposição à execução é de 20 dias (A.728º1 CPC) e, a estrutura da PI é
normalíssima, tendo de respeitar os requisitos do A.552ºCPC;
● Com a PI devem ser arroladas as testemunhas e requeridos os demais meios de prova (A.293ºCPC) e o
executado deve, querendo, requerer a substituição da penhora pelo pagamento de caução idónea que
garanta os fins da execução42 (A.751º7 CPC);
● O valor da oposição é o valor da execução (materialmente é uma contestação ao pedido executório -
tenta-se impugnar e invocar exceções -, mas formalmente é uma PI);
● Há determinados aspetos que diferem a oposição à execução de uma “normal” PI:
➢ O executado não entra em revelia se não se opuser à execução e não vale a presunção de
confissão dos factos (A.515ºCPC);
➢ Vale o princípio da concentração da defesa - Tudo o que tiver para deduzir tem de ser feito em
sede de oposição. Mas o oponente não pode trazer impugnações ou exceções que ele não tenha
feito anteriormente (A.563º2 CPC a contrario);
➢ O prazo para cada embargo é individual (A.728º3 CPC).

CONTESTAÇÃO
● Se o exequente não contestar a oposição à execução? O A.732º3 CPC consagrou que se aplica o regime
da revelia, mas com uma exceção: não se consideram confessados os factos que estejam em oposição
com aqueles alegados expressamente no requerimento executivo43;
● REGENTE defende que não há um ónus de contestação dos embargos, mas há uma conveniência:
evita-se o “empate” que levaria sempre à necessidade de produção de prova.

SENTENÇA
● A oposição “cria” uma ação declarativa acessória da ação executiva, que apenas tem 3 articulados: a
oposição (que vale como PI), a contestação aos embargos (articulado eventual), e segue-se logo para a
fase de saneamento, julgamento e sentença (A.732º2 CPC)44;
● A sentença deve ser proferida no prazo máximo de 3 meses, a contar do recebimento dos embargos
(A.723º1/b CPC). Esta sentença está sujeita a recurso, nos termos gerais.
➢ Pode ser uma sentença de forma, isto é, o tribunal decidiu não conhecer dos embargos
deduzidos (ex: por extemporaneidade ou falta de pressupostos processuais), absolvendo-se o
exequente da instância dos embargos;
➢ Pode ser uma sentença de mérito, que julga os embargos, que considera que estes são ou não
procedentes: se os considerar improcedentes, o exequente será absolvido do pedido dos
embargos; se os considerar procedentes, será o embargante absolvido da instância executiva
(se os fundamentos do embargo forem formais), ou do pedido executivo (se os fundamentos
do embargo versarem sobre a existência/determinabilidade/exigência/liquidez da obrigação);
➢ A sentença dos embargos faz apenas caso julgado formal e extingue a execução (A.732º4 e
A.620ºCPC), exceto se houver pronúncia quanto à existência, determinabilidade, exigência ou
liquidez da obrigação exequenda, caso em que fará caso julgado material, para evitar que se
volte a discutir o mesmo assunto numa posterior ação judicial (A.732º6 e A.621ºCPC).

42
Atenção que esta caução é diferente da prestada para a suspensão da execução (A.733ºCPC)! Neste caso, pretende-se
apenas o levantamento da penhora.
43
REGENTE → Se o exequente se limitou a juntar título executivo e não esgrimir nenhum facto, então a exceção não se
pode aplicar. Mas se o exequente já expôs os factos constitutivos do seu direito no requerimento, não fazia sentido ter de os
repetir em sede de contestação à oposição. No entanto, de certeza que o exequente nada disse, no requerimento, sobre os
factos extintivos, modificativos ou impeditivos, pelo que, quanto a estes, terá de contestar, sob pena de os confessar.
44
REGENTE defende que não faz sentido nenhum enxertar uma ação declarativa tão complexa numa ação executiva: alarga
muito mais os prazos, pelo que devia ser, ao invés, logo a fase de julgamento.

PEDRO FERREIRA RIBEIRO | 43

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PROCEDIMENTO CRONOLÓGICO
1. Não havendo recusa de admissão da oposição à execução por parte da secretaria, é remetido ao juiz,
que pode indeferir liminarmente (pedido manifestamente improcedente, exceções dilatórias insupríveis
de conhecimento oficioso ou extemporaneidade dos embargos - A.732º1 CPC);
2. Pode haver despacho de aperfeiçoamento ou despacho de saneamento;
3. Se não houver indeferimento, o juiz cita o exequente para este contestar a oposição à execução
(A.732º2 CPC), e não suspende a marcha da execução (A.733º1 CPC a contrario);
4. Se for requerida a suspensão da execução, nos termos do A.733ºCPC (não são fundamentos
cumulativos, basta que se verifique um!), não se admite mais atos processuais (venda e pagamento),
mas não afeta a validade dos atos já praticados (ex: penhoras já executadas);
5. Se a oposição for liminarmente recusada, pode ainda assim haver a suspensão da execução pelos
fundamentos do A.733ºCPC? REGENTE defende que não, porque a suspensão só pode ser decretada
depois do recebimento dos embargos;
6. A execução suspensa volta a prosseguir se a oposição estiver parada por 30 dias por motivos de
negligência do exequente;
7. Se o juiz não decretar a suspensão da execução, então a marcha continua e passamos para a fase de
venda e pagamento. Mas há alguns direitos do A.733ºCPC que aproveitam ao executado que não obteve
a suspensão (ex: nenhum credor pode ser pago enquanto estiverem pendentes os embargos).

➢ Pode haver suspensão da oposição à execução por prejudicialidade (ex: está a discutir-se a existência da
obrigação exequenda numa outra ação)? A doutrina maioritária defende que não.

OPOSIÇÃO À EXECUÇÃO NA FORMA SUMÁRIA


● Há uma diferença quanto ao tempo de dedução: ao invés de ser antes da fase de penhora, na forma
sumária os embargos devem ser deduzidos após a primeira penhora, sendo o executado citado para o
fazer (A.857ºCPC);
● Aplica-se o mesmo prazo de 20 dias do A.728º1: há uma complexidade acrescida para o executado, que
deve, no mesmo prazo, deduzir oposição à execução e oposição à penhora;
● O que acontece se o executado ganhar os embargos depois de já ter sido realizada a penhora?45 Neste
caso há um abuso do direito de executar o devedor sem citação prévia, pelo que existe uma cominação
no A.858ºCPC: “Se a oposição à execução vier a proceder, o exequente, sem prejuízo da eventual
responsabilidade criminal, responde pelos danos culposamente causados ao executado, se não tiver
atuado com a prudência normal, e incorre em multa correspondente a 10 % do valor da execução, ou da
parte dela que tenha sido objeto de oposição, mas não inferior a 10 UC, nem superior ao dobro do
máximo da taxa de justiça.”
➢ REGENTE defende que o credor atua com abuso do direito de execução, porque não atuou
com a prudência necessária;
➢ O A.858º prevê responsabilidade civil, criminal e multa - Cada um com os seus pressupostos
específicos, havendo pressupostos comuns e específicos;
➢ Pressupostos Comuns:
1. Tem de haver oposição à execução ganhadora, seja qual for o motivo de procedência
(posição do REGENTE);
2. Não pode ter existido citação prévia (processos sumários, ou ordinários pelo A.727º).

45
Também pode acontecer na forma ordinária, se for utilizado o mecanismo do A.727ºCPC.

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➢ Pressupostos Específicos da Responsabilidade Civil e Criminal:


1. Culpa (não ter atuado com a prudência normal);
2. Ato danoso (temos de considerar os danos que advieram da falta de citação46, os que
advieram da penhora e os reputacionais);
3. Nexo de causalidade;
1. Danos patrimoniais ou não-patrimoniais, lucros cessantes e danos futuros previsíveis.

➢ REGENTE defende que o A.858º se aplica mesmo que não haja penhora, uma vez que há
danos que advêm logo da citação para a execução, sendo, no fundo, a consagração de
responsabilidade por abuso de execução (e não, apenas, abuso de penhora).

● Este pedido de indemnização deduz-se na própria ação ou em ação autónoma? A Lei não consagra uma
solução, pelo que o REGENTE defende que:
1. Se os embargos foram totalmente procedentes, extinguiram a instância executiva, pelo que
neste caso tem de ser colocada uma ação condenatória autónoma;
2. Se os embargos foram parcialmente procedentes, então a instância executiva prossegue, pelo
que neste caso podemos admitir a dedução do pedido indemnizatório na própria ação.

§4 - FASE DA PENHORA

OBJETO DA PENHORA
● É uma fase processual que só existe na execução para pagamento de quantia certa. Mas note-se que,
tanto a execução para entrega de coisa certa como para prestação de facto podem, a dada altura, ser
convoladas em execução para pagamento de quantia certa (A.867º e A.869ºCPC);
● O termo penhora tanto designa um ato processual como uma fase:
1. A penhora é o ato processual pelo qual o Estado retira ao executado os poderes de
aproveitamento e disposição de um direito patrimonial que está na sua titularidade, podendo
fazê-lo, desde logo por via do A.817ºCC, e porque a lei admite restrições razoáveis ao direito
de propriedade. Repare-se que o ato de penhora não cumpre uma função sancionatória, mas
sim uma função instrumental: a execução não termina com a penhora, ela salvaguarda a
utilidade final do direito de execução do credor. No fundo, a penhora é instrumental da venda
judicial porque, se não houvesse penhora, os bens poderiam desaparecer;
2. A fase da penhora é um conjunto-sequência de atos processuais de preparação, realização e
impugnação do ato de penhora.

● Frequentemente falamos de penhora de bens, mas esta incide sobre bens ou sobre direitos? A penhora
incide sobre direitos que, por sua vez, incidem sobre bens. Como a penhora é instrumental em relação à
venda executiva e como o objeto da venda executiva é a transmissão de direitos, tal significa que a
penhora incide imediatamente sobre direitos e só mediatamente sobre bens, através da sua apreensão;
● Assim, quando a lei faz a distinção entre penhora de bens imóveis, móveis e de direitos, a distinção está
a ser feita em função dos bens que são objeto do direito penhorado; mas toda a penhora é sempre
penhora de direitos.

46
Ex: os custos com honorários do advogado.

PEDRO FERREIRA RIBEIRO | 45

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SUJEITOS DA PENHORA
● No plano subjetivo, a regra coincide com a regra dos A.817ºCC e A.53ºCPC: apenas podem ser
penhorados os bens do devedor. Mas atenção: a lei, nomeadamente no A.735º2, admite que, em certos
casos especiais, possam ser penhorados bens de terceiros à dívida;
● Quando podemos executar terceiros e, por isso, penhorar bens de terceiros?
➢ Casos em que haja garantia real sobre bem de terceiro (A.54º2 CPC e A.818ºCC) e que,
quanto ao terceiro, foi obtida sentença de impugnação pauliana (A.616º1 e A.818ºCC);
➢ Ou seja, só se podem penhorar bens do executado, seja ele devedor ou terceiro;
➢ Para estes efeitos, os devedores subsidiários não são terceiros à dívida: fiador e sócio de
sociedade de responsabilidade ilimitada, entre outros, estão sujeitos à penhora nos termos dos
A.735º1 e A.53º1 CPC, enquanto devedores;
➢ A.747º1 CPC → Embora nunca se possa prejudicar terceiros sem que estejam a ser
executados, pode acontecer que os terceiros que estejam na posse ou tenham direitos reais
menores sobre o bem possam ser prejudicados, tendo a penhora efeitos sobre a esfera jurídica
de não executados (ex: pode penhorar-se um automóvel, mesmo que esteja a ser retido, em
direito de retenção, na oficina. Estes são terceiros que, indiretamente, sofrem alguns efeitos da
penhora). Neste caso o objeto da penhora não é o direito do terceiro mas, ainda assim, a
penhora irá restringir a sua posse ou detenção sobre os bens, garantindo a Lei, no entanto, que
esses terceiros possam lançar mão de meios de defesa (embargos de terceiro);
➢ Coloca-se ainda a questão: poder-se-ão penhorar bens de terceiro fora destes limites, se este
consentir? Se há a possibilidade de a prestação ser feita por terceiro, bem como a possibilidade
de a execução cessar por pagamento de terceiro, então é lícita a indicação pelo executado de
bens de terceiro, desde que o titular desses bens indicados não se oponha à penhora (Ac. TRP
de 25/06/1996 e REGENTE).

QUE DIREITOS PODEM SER PENHORADOS?


● O A.817ºCC dispõe que o credor tem o direito a executar o património do devedor – o objeto máximo
ou potencial da penhora é o património do devedor;
● Mas REGENTE afirma que não é todo: o objeto da penhora é todo o património do devedor que possa
ser penhorável – há bens do devedor que não são passíveis de penhora;
● REGENTE: o ato de penhora tem por objeto toda e qualquer situação jurídica ativa, disponível, de
natureza patrimonial, integrante da esfera jurídica do executado, cuja titularidade possa ser transmitida
forçadamente (alienável) nos termos da lei substantiva;
● Para sabermos o objeto efetivo de uma penhora, temos de ter em conta:
1. Limites da Lei substantiva, tanto quanto à responsabilidade por dívidas47 como quanto à
transmissibilidade dos direitos;
2. Impenhorabilidades Legais (exclusões legais de penhora);
3. Princípio da Proporcionalidade;
4. Princípio da Adequação.

47
A regra, tanto para as pessoas singulares como para as pessoas coletivas, é a da responsabilidade universal e imediata
(A.601º e A.817ºCC): pelo cumprimento da obrigação respondem todos os bens do devedor suscetíveis de penhora, sem
prejuízo dos regimes estabelecidos em consequência da separação de patrimónios. Podem, no entanto, existir limitações
legais (ex: sócios de uma SA) e convencionais (A.602º e A.603ºCC) à responsabilidade patrimonial que afastam a
universalidade, nuns casos, ou a imediação da responsabilidade noutros.

PEDRO FERREIRA RIBEIRO | 46

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RESPONSABILIDADE SUBSIDIÁRIA PELAS DÍVIDAS48

→ DÍVIDA COM GARANTIA PESSOAL: (FIADOR)


● O fiador é um devedor subsidiário, que goza do benefício da excussão prévia: na execução da obrigação
afiançada, é-lhe lícito recusar o cumprimento enquanto não tiverem sido esgotados/excutidos todos os
bens do devedor principal (A.638º1 CC);
● Esta é a regra, mas nem todos os fiadores beneficiam disto – é o caso da fiança mercantil, da fiança
comercial e, sobretudo, quando o fiador tenha renunciado ao beneficio da excussão prévia (podendo
essa renúncia ser convencional – assinou o contrato com essa cláusula expressa – ou, tendo sido citado
para a ação declarativa, tenha sido condenado sem ter alegado esse benefício – A.640º e A.641º2 CC).
Nestes casos, o fiador não é um devedor subsidiário, mas um devedor principal solidário (ao mesmo
nível do devedor que contraiu a dívida);
● Existem 4 Cenários Possíveis:
1. Exequente pode intentar a ação executiva conjuntamente contra o devedor subsidiário (com ou
sem renúncia) e o devedor principal;
2. Exequente pode intentar a ação executiva apenas contra o devedor principal que será
executado e, na insuficiência de património, pode o exequente citar o fiador no mesmo
processo para pagar o remanescente (A.745º3 CPC);
3. Exequente pode intentar a ação executiva apenas contra o devedor subsidiário, com alegação
de renúncia ao benefício da excussão prévia;
4. Exequente pode intentar a ação executiva apenas contra o devedor subsidiário, que não haja
renunciado ao benefício da excussão prévia:
➢ Este pode alegar fundamentadamente o benefício da excussão prévia , no prazo de 20
dias, como objeção preventiva à penhora, em requerimento próprio (A.745º1). Se o
requerimento for deferido, fica suspensa a execução contra o fiador49 e o exequente
ou não faz nada, extinguindo-se a execução, ou faz um requerimento a pedir que a
execução seja dirigida contra o devedor principal, o qual será citado (A.745º2 CPC);
➢ Se o fiador não alegar o benefício de excussão, então a penhora incidirá sobre os seus
bens, não podendo mais tarde fazer nada quanto a isso.

● O Título Executivo pode ser uma sentença condenatória, uma injunção ou um documento particular
autenticado (ex: contrato de fiança ou cláusula de fiança num contrato);
● A existência de uma fiança pode determinar a forma do processo: Se a ação for proposta apenas contra
o fiador, e este não tiver renunciado ao benefício da excussão prévia, a execução corre sempre na forma
ordinária (A.550º3/d CPC). Em qualquer outra circunstância, aplica-se a forma sumária (nº2);
● É necessário que o procedimento garanta uma forma do fiador invocar o benefício da excussão prévia:
➢ Se a execução do fiador se fizer na forma ordinária, poderá invocar o benefício da excussão
prévia no prazo para a oposição à execução (20 dias), em requerimento avulso (A.745º1 CPC).
Se for procedente, suspense-se o processo contra o fiador e provoca-se a intervenção do
devedor principal, por citação, e passa-se para a penhora dos seus bens (A.745º2 CPC);
➢ Se a execução correr na forma sumária, e o fiador for executado, penhoram-se primeiro os
bens e cita-se depois (A.856ºCPC). Neste caso, só poderá invocar o benefício da excussão
prévia após à penhora, aqui já em sede de oposição à penhora (A.784º1/d CPC), e não em
requerimento avulso. Se a oposição à penhora for procedente, suspende-se o processo contra o
fiador e provoca-se a intervenção do devedor principal, por citação, passando-se para a
penhora dos seus bens.

48
Pode ser objetiva (excussão real - garantias reais) ou subjetiva (excussão prévia - garantias pessoais).
49
O credor-exequente pode ser condenado por litigância de má-fé quando, tratando-se de execução singular do devedor
subsidiário, a alegação de que o devedor renunciara à excussão prévia se subsumir a alguma das alíneas do A.542º2 CP.

PEDRO FERREIRA RIBEIRO | 47

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→ DÍVIDA COM GARANTIA REAL:


● Os A.697ºCC e A.54º3 CPC prevêm o benefício da excussão real: o devedor, se for o proprietário da
coisa hipotecada, tem o direito de se opor não só a que outros bens sejam penhorados na execução
enquanto não se reconhecer a insuficiência da garantia, mas ainda a que, relativamente aos bens
onerados, a execução se estenda além do necessário à satisfação do direito do credor;
● Imaginemos que A empresta dinheiro a B, e B constitui uma hipoteca sobre a sua própria casa para
pagar essa dívida: enuncia-se uma regra de responsabilidade subsidiária objetiva, pelo que os bens não
onerados só devem ser penhorados na falta ou insuficiência dos bens onerados;
● Diversamente, caso o devedor não seja dono da coisa hipotecada ou, por outro modo, dada em garantia
real, mas sim um terceiro, já não há responsabilidade subsidiária (A.697ºCC a contrario): o devedor
não tem direito a que a penhora se inicie pelos bens alheios. Por essa razão, o A.54º2 CPC admite que o
credor possa executar logo o terceiro, sem que daí advenha a ilegitimidade singular do terceiro, ou
então ambos – devedor e terceiro – em litisconsórcio voluntário;
● O benefício da excussão real tem expressão A.752º1 CPC, que se aplica não só à hipoteca, mas a
qualquer garantia real: O AE tem o dever de promover primariamente a penhora dos bens sobre os
quais incida a garantia do exequente e, só na falta ou insuficiência dos bens dados em garantia pelo
devedor, poderá ser promovida a penhora de outros bens do devedor;
● Se for violado o benefício da excussão real, o executado poderá, invocando a violação dos A.752º1
CPC e A.697ºCC, deduzir oposição à penhora, ao abrigo do A.784º1/b CPC.

→ DÍVIDA COM GARANTIA REAL E GARANTIA PESSOAL:


● O fiador, quando não tenha renunciado ao benefício da excussão prévia ou quando a lei não lhe retire
esse benefício, tem direito a uma certa ordem de penhora: primeiro penhoram-se os bens do devedor
afiançado e, só quando esgotados os bens do seu património, se começam a executar os bens do fiador;
● E se a mesma dívida tiver uma garantia pessoal (A.638ºCC) e uma garantia real (A.697ºCC)?
1) Se os bens do afiançado têm uma hipoteca → É irrelevante para o fiador, que pode invocar o
benefício da excussão prévia, determinando que se penhorem primeiro os bens do devedor
principal. Se houver garantia real que incida sobre bem do devedor principal, é este quem,
quando vir os seus bens a ser penhorados, caberá invocar o benefício da excussão real,
determinando que sejam primeiro penhorados os bens dados em garantia;
2) Se o fiador for também garante real → Primeiro executa-se o devedor principal (benefício da
excussão prévia), e depois, quando se for executar o devedor subsidiário, este pode exigir que
se comece pelo bem sobre o qual recai a garantia real (benefício da excussão real);
3) Se a garantia real foi constituída sobre bem de terceiro → Neste caso, temos de saber se a
hipoteca é anterior, contemporânea ou posterior à fiança (A.639º1 CC):
➢ Se a hipoteca for anterior à fiança → O fiador tem direito a exigir que se execute
primeiro a garantia dada por terceiro (tem benefício da excussão real) e os bens do
devedor principal (tem também benefício da excussão prévia);
➢ Se a hipoteca for contemporânea50 à fiança → O fiador tem direito a exigir que se
execute primeiro a garantia dada por terceiro (tem benefício da excussão real) e os
bens do devedor principal (tem também benefício da excussão prévia) - A.639º1 CC;
➢ Se a hipoteca for posterior à fiança → O fiador continua a ter o benefício da excussão
prévia, mas já não tem direito ao benefício da excussão real. Neste caso, sendo a
hipoteca posterior, já não pode o fiador exigir que se execute esta em primeiro lugar.

50
A hipoteca é contemporânea da fiança se, apenas por motivos imprevisíveis, se constituiu já em data posterior a esta, (ex:
houve um problema com a escritura da hipoteca e a data da hipoteca ficou posterior à data da fiança). Trata-se de situações
em que a fiança foi prestada na condição de haver uma garantia real pré-existente.

PEDRO FERREIRA RIBEIRO | 48

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DISPONIBILIDADE E TRANSMISSIBILIDADE
● Só podem responder por dívidas (ser objeto de penhora) as situações jurídicas ativas de natureza
patrimonial, que estejam na disponibilidade do titular, e cuja titularidade possa ser transmitida
forçadamente nos termos da lei substantiva;
● Assim, não são penhoráveis direitos indisponíveis, como sejam as coisas fora do comércio (A.202º2
CC - ex: bens do domínio público do Estado e das restantes pessoas coletivas públicas - A.736º/b CC),
ou coisas que, pela sua natureza, não são suscetíveis de apropriação individual (ex: direito aos
alimentos);
● Há, ainda, direitos que embora disponíveis, são intransmissíveis, ou seja, que o próprio titular pode
renunciar a eles, mas não os pode transmitir a outrem. Podemos distinguir entre:
➢ Intransmissibilidade Objetiva → Direitos disponíveis, mas que são intransmissíveis em razão
do seu objeto. À luz do A.736º/a CPC, são absolutamente impenhoráveis as coisas ou direitos
inalienáveis, ou seja, intransmissíveis (ex: direito de uso e habitação - A.1488ºCC, a servidão
predial - A.1545º1 CC, direito à locação desde que seja para fim habitacional - A.1038º/f CC,
direitos contratualmente intransmissíveis, ou quando a alienação for nula por lei - A.280ºCC);
➢ Intransmissibilidade Subjetiva → A transmissão do direito disponível e alienável está
dependente da autorização de alguém51 ou só pode ser feita por alguém. Na primeira situação,
resulta que, embora o direito seja do executado, só com a autorização de terceiro é que pode o
direito ser transmitido (ex: o lojista apenas pode ceder a sua posição contratual com o
consentimento dos donos da loja). Quanto à segunda situação, o executado, que é o titular do
direito, nem sequer tem a faculdade de dispor dele (ex: maiores acompanhados).

IMPENHORABILIDADES

→ IMPENHORABILIDADES ABSOLUTAS (A.736ºCPC)


● Bens que em nenhuma circunstância podem ser penhorados;
● Há impenhorabilidades absolutas que estão previstas fora do CPC, como é o caso do Código do
Trabalho, no A.453º1, mas o grosso das impenhorabilidades absolutas está sedeado no CPC;
● Os bens absolutamente impenhoráveis podem ser agrupados em três grupos:
1. Bens cuja apreensão constituiria uma ofensa dos bons costumes52 53(al. c) → Bens destinados
ao culto público (al. d), túmulos (al. e), instrumentos e objetos indispensáveis aos deficientes e
ao tratamento de doentes (al. f), animais de companhia (al. g) e quaisquer outros cuja
apreensão viole aquela cláusula geral (ex: aliança de casamento ou roupa interior);
2. Bens cuja apreensão careça de justificação económica, pelo seu diminuto valor venal (al. c) →
Bens que não têm valor económico nenhum ou muito residual. Esta é uma manifestação do
princípio da economia processual, da proibição de atos processuais inúteis (A.130ºCPC) e do
princípio da adequação da penhora (A.751º1);
3. Bens isentos de penhora por disposição especial (ex: bens das associações sindicais ou de
empregadores - A.453º1 CT).

51
Essa autorização pode ser imposta pela Lei ou pode decorrer de uma convenção.
52
REGENTE entende que a ideia de “bons costumes”, acaba por ter um papel reduzido, na medida em que todos estes casos
poderiam ser lidos à luz da CRP: bastaria dizer que são impenhoráveis os bens cuja penhora constitua uma ofensa excessiva
ao direito de propriedade (A.18º2 CRP) ou viole a dignidade do executado (A.1ºCRP). Ou seja, o sistema do A.736º remete
para valores normativos que hoje em dia precisam ser atualizados.
53
REGENTE entende que existem outros bens absolutamente impenhoráveis, não previstos no A.736ºCPC, mas que
decorrem dos limites constitucional que se sobrepõe a todos os outros – a dignidade da pessoa humana e a proporcionalidade
das restrições aos direitos fundamentais do executado. Assim, a CRP constitui uma verdadeira cláusula geral de
impenhorabilidade absoluta.

PEDRO FERREIRA RIBEIRO | 49

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→ IMPENHORABILIDADES RELATIVAS (A.737ºCPC)


● Bens que, apenas sob determinadas condições, podem ser penhorados;
● São bens relativamente impenhoráveis:
1. Bens do domínio privado do Estado e similares, desde que estejam especialmente afetos à
realização de fins de utilidade pública (ex: computadores da FDL, enquanto estiverem afetos
ao ensino), salvo tratando-se de execução para pagamento de dívida com garantia real (737º1);
2. Instrumentos de trabalho e objetos indispensáveis ao exercício da atividade ou formação
profissional do executado54, salvo se o próprio executado os indicar à penhora, ou se o que se
estiver a executar for o preço da compra ou da reparação dos próprios bens, ou se forem
executados como elementos corpóreos de um estabelecimento comercial (A.737º2 CPC);
3. Bens imprescindíveis a qualquer economia doméstica55 que se encontrem na casa de habitação
efetiva do executado, salvo quando se trate de execução destinada ao pagamento do preço da
respetiva aquisição ou do custo da sua reparação (A.737º3 CPC).
➢ Esta limitação à penhora só funciona para os bens móveis situados na casa de
habitação efetiva do executado – assim, já não valerá para os bens que se encontrem,
por exemplo, na casa de férias do executado;
➢ Também não funciona apenas numa casa inteira (ex: se o executado viver num quarto
arrendado, este é, para todos os efeitos, a casa de habitação efetiva do executado;
➢ O bem, para ser impenhorável, não pode ter valor manifestamente elevado (ex: tv de
2000€) e ser desnecessário à economia doméstica (ex: existem 2 frigoríficos em casa)

→ IMPENHORABILIDADES PARCIAIS (A.738º e A.739ºCPC)


● Bens que podem ser penhorados, mas apenas em parte (tem de se tratar, naturalmente, de bem
divisível). Tem por objeto a penhora de direitos de crédito;
● Estamos perante créditos pecuniários (prémio, um vencimento, um subsídio de natal, um seguro, uma
indemnização…). Para já, estes são penhoráveis porque integram o património do executado e porque
são também penhoráveis nos termos específicos dos A.773ºss CPC.
● O A.738º1 CPC, atualmente, na sequência de uma grande evolução jurisprudencial, determina como
regra geral que são impenhoráveis 2/3 dos créditos pecuniários que cumpram a função de sustento de
uma pessoa singular (vencimentos, salários, prestações periódicas pagas a título de aposentação ou de
qualquer outra regalia social, seguro, indemnização por acidente, renda vitalícia…). Esta proibição de
penhora de 2/3 tem um limite mínimo e um limite máximo (A.738º3):
➢ Limite Mínimo → Para cada rendimento, fazemos os descontos legalmente obrigatórios: se o
que ficar for inferior ao salário mínimo nacional, não se pode penhorar nada; se o que sobrar
for ligeiramente superior ao salário mínimo nacional, deixa-se este valor mínimo (705€) e
penhora-se o que ultrapassar (mínimo de dignidade do executado)56;
➢ Limite Máximo → Em tudo o que fique acima de 3x o salário mínimo já se pode penhorar,
isto é, retira-se o ⅓ e pode ainda retirar-se tudo o que fique acima de 2,115€ (3 x 705€)57.

54
Jurisprudência tem interpretação muito restritiva: o bem tem de ser completamente imprescindível para que o executado
desenvolva a sua atividade (ex: instrumentos de médico liberal não cabem, porque ele pode trabalhar por conta doutrem).
55
O que são bens imprescindíveis a qualquer economia doméstica? REGENTE entende que qualquer economia doméstica
aponta para um padrão de mínimo de dignidade social do agregado familiar residente na casa de habitação efetiva do
executado, sendo que este mínimo não se afere por um padrão médio, mas por aquilo que seja necessário para assegurar os
direitos pessoais mínimos (padrão mínimo): alimentação, saúde, proteção e comunicação básica. Ou seja, são indispensáveis
os bens que, sendo retirados ao executado, o deixarão numa situação indigna ou marginal.
56
Ex: Se alguém auferir 900€ mensais líquidos, vai retirar-se ⅓, sobrando 600€. Como o que sobra, depois de retirado ⅓, é
inferior ao salário mínimo nacional, tem de se baixar a penhora; Já se alguém auferir 1.200€ líquidos, se retirarmos ⅓,
sobram 800€. Como esses 800€ estão acima do salário mínimo nacional, não há problema
57
Ex: Se alguém auferir 6,000€ líquidos, se retirarmos 1/3 sobram 4,000€, que é superior a 3x o salário mínimo (2,115€).
Assim, pode ser penhorado também a diferença entre o que sobra e os 2,115€.

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● O A.739ºCPC determina que são impenhoráveis a quantia em dinheiro ou o depósito bancário


resultantes da satisfação de crédito impenhorável, nos mesmos termos em que o era o crédito
originariamente existente. Temos de distinguir:
➢ Se o executado ainda não recebeu o salário, estamos perante uma penhora de vencimento e a
entidade patronal será notificada para, quando pagar o salário, descontar 1/3 para o agente de
execução (A.779º1 CPC). Se estas quantias do A.738ºCPC ainda não tiverem sido recebidas, o
terceiro devedor (entidade que paga) já sabe que quando pagar terá de fazer o desconto;
➢ Se o executado já recebeu a totalidade da prestação, determina o A.739ºCPC que a quantia em
dinheiro ou o depósito bancário em seu nome estão sujeitos à mesma impenhorabilidade:
apenas 1/3 pode ser penhorado. Assim, o agente de execução irá ver o que está em casa, em
termos de dinheiro vivo, e o que está no banco e, se for claro que aquele valor proveio de um
crédito salarial, já sabe que apenas poderá penhorar ⅓ do montante total58.

PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE DA PENHORA:


● Decorre do direito de propriedade privada (A.62ºCRP), estando enunciado no A.735º3 CPC: a penhora
limita-se aos bens necessários ao pagamento da dívida exequenda e das despesas previsíveis da
execução (custas judiciais, remuneração e outros pagamentos do AE…). Este princípio fixa, assim, a
extensão concreta do objeto da penhora;
● A medida dos bens necessários para os vários pagamentos é apreciada logo no momento da apreensão e
não após a venda dos mesmos. Assim, é ilegal, porquanto violadora daqueles limites, uma penhora
cautelar ou preventiva: uma espécie de apreensão prévia – no essencial, com o mesmo cariz ofensivo da
propriedade – feita apenas com o intuito de criar uma reserva de património para a execução, de modo
a prevenir uma eventual frustração da venda dos bens penhorados;
● Este princípio é muito importante porque se tivermos um bem que responde pela dívida, que é
transmissível, disponível e penhorável, pode ainda assim ser invocada a violação do princípio da
proporcionalidade (ex: se estiver em causa uma dívida de 7,500€, e se se penhorar um automóvel que
ascenda a 40,000€, é evidente que é violado o princípio da proporcionalidade).
● A violação deste princípio pode ser alegada em sede de oposição à penhora, tal como se fosse violada
uma regra de impenhorabilidade (A.784º1/a CPC).

58
Cabe ao executado demonstrar a origem do dinheiro ou do depósito bancário para efeitos da invocação do A.739ºCPC e,
através dele, do A.738º1 CPC, em sede de oposição à penhora (A.784º1/a CPC). Mas, se não se souber de onde veio aquele
dinheiro, penhorar-se-á tudo o que se encontrar, exceto o valor do salário mínimo ou, tratando-se de obrigação de alimentos,
o valor correspondente à pensão social (A.738º5 CPC).

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PRINCÍPIO DA ADEQUAÇÃO DA PENHORA:


● O objeto da penhora deve ser aquele que é adequado à realização em tempo útil do direito à execução
(A.751º1 CPC). O agente de execução deverá penhorar os bens que apresentem maior probabilidade de
realizarem uma quantia pecuniária em menor tempo. Ou seja, deve procurar evitar penhorar bens
dificilmente vendáveis ou de pouca valia económica;
● É o agente de execução que tem, caso a caso, de verificar se o bem é adequado ou a lei tem algum
critério de preferência? No A.751ºCPC encontramos um gradus executionis mas muito moderado: o
agente de execução deve respeitar as indicações do exequente sobre os bens que pretende ver
prioritariamente penhorados, salvo se a ordem indicada pelo exequente violar norma legal imperativa,
ofender o princípio da proporcionalidade ou infringir manifestamente a regra da adequação (nº2)59;
● Se a dívida exequenda tiver uma garantia real, para além de ter de cumprir as indicações dadas pelo
exequente (A.751º2 CPC), o agente de execução deve começar necessariamente pelo(s) bem(ns)
onerado(s) com a garantia real (A.752º1 CPC);
● Ainda que não se adeque, por excesso, ao montante do crédito exequendo, é admissível a penhora de
bens imóveis que não sejam a habitação própria permanente do executado, ou de estabelecimento
comercial, desde que a penhora de outros bens presumivelmente não permita a satisfação integral do
credor no prazo de seis meses (A.751º3 CPC - Exceção ao Princípio da Adequação).

ATOS PREPARATÓRIOS DA PENHORA


● Forma Sumária (A.855º3 CPC) → O agente de execução inicia as consultas e diligências prévias à
penhora imediatamente após receber o requerimento executivo, se o processo for para prosseguir60.
● Forma Ordinária (A.748º1 CPC) → A fase da penhora só começa depois de a secretaria notificar o
agente de execução para que ele comece a penhora, o que acontece num destes momentos:
1. Depois de proferir despacho que dispense a citação prévia do executado (A.727ºCPC);
2. Decorrido o prazo de oposição à execução sem que esta tenha sido deduzida (A.728º1 CPC);
3. Apresentação de oposição à execução que não suspenda a execução (A.733º1 CPC);
4. Tendo havido oposição à execução com efeito suspensivo, a sentença que a tenha julgado
improcedente (A.733º1 CPC).

● Os atos preparatórios são todos aqueles necessários para que se realize o ato de penhora. O ato de
penhora é, em sentido amplo, o ato de apreensão de um bem para efeitos executivos; mas para que se
penhore um bem, é necessário preparar a penhora: saber que bens existem, se estão em nome do
executado, onde estão, qual o seu valor, como se identificam, se há direitos de terceiro...
● Esses atos prévios são a indicação de bens, a consulta do registo informático de execuções, a
localização e identificação dos bens penhoráveis, normalmente por consulta das bases de dados. Nem
todos têm de ocorrer em concreto, salvo a consulta do registo informático de execuções.

59
Fora destes casos, penhora feita em desrespeito da nomeação dos bens do exequente é nula, e por isso objeto de arguição
junto do juiz (A.195º1 CPC). Trata-se de uma violação grave do princípio do dispositivo, pois a nomeação de bens é um ato
processual eficaz, com efeito excludente de outras penhoras.
60
A.855º5 → Nas execuções sumárias instauradas ao abrigo do A.550º2/d) CPC, referente a execução de título extrajudicial
de obrigação pecuniária vencida cujo valor não exceda o dobro da alçada da 1ª instância, a penhora de bens imóveis,
estabelecimento comercial, direito real menor que sobre eles incida ou de quinhão em património que os inclua só pode
realizar-se depois da citação do executado, mediante conclusão do processo ao juiz para despacho nos termos do A.726ºCPC.

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1) INDICAÇÃO DOS BENS À PENHORA


● É um ato dispensável, i.e., nem sempre são indicados bens à penhora;
● A indicação de bens é um ato voluntário de uma parte executiva de individualização dos concretos bens
a penhorar, no que parece ser um misto de princípio da cooperação com princípio do dispositivo;
● Regra geral, quem indica bens à penhora é o exequente, podendo fazê-lo em 2 momentos:
➢ Num momento inicial, no requerimento executivo, o exequente pode indicar bens para a
penhora, incluindo a indicação dos ónus e encargos respetivos, fornecendo os elementos e
documentos de que disponha e que contribuam para a sua exata identificação, especificação e
localização, bem como para o acesso aos respetivos registos (A.724º2 CPC);
➢ O exequente pode também indicar bens à penhora em momento sucessivo, em 2 situações:
1. Quando não tenham sido inicialmente encontrados bens penhoráveis que permitam o
arranque dos aos executivos, caso em que o agente de execução notificará o
exequente para especificar os bens que pretende ver penhorados na execução, no
prazo de 10 dias (A.750º1 CPC). Se o exequente não indicar bens penhoráveis, nem o
executado o fizer, extingue-se a execução (A.750º2 CPC);
2. Quando o exequente quiser reforçar ou substituir a penhora (A.751º4 CPC): se o
agente de execução o pode fazer oficiosamente, também o exequente o pode requerer.

● Sendo a indicação de bens pelo exequente uma faculdade, a sua falta não determina nenhuma
cominação ao exequente no plano da realização da penhora, pois esta não deixa de ser feita por esse
facto. Contudo, quando feita, assume a maior das importâncias:
➢ No plano prático, traz a vantagem de permitir ao agente de execução aligeirar as diligências
prévias à penhora e direcionar o objeto da penhora;
➢ No plano formal, a indicação de bens pelo exequente não constitui uma simples informação
de bens, mas uma nomeação dos bens que devem ser penhorados antes de todos os restantes.
Assim, o agente de execução fica vinculado, sob pena de nulidade, a penhorar esses bens.

● Já o executado, atualmente, não tem de indicar bens à penhora, sendo apenas chamado à ação para
“pagar ou opor-se à execução” (A.726º6 CPC)61. Contudo, este não está impedido de o fazer62;
● Há apenas uma situação em que o executado é notificado para indicar bens à penhora – no caso em que,
no prazo de três meses a contar da notificação feita pela secretaria ao agente de execução para início
das diligências de penhora, não se encontrem bens penhoráveis (A.750ºCPC). Neste caso, o agente de
execução notifica, em simultâneo, o exequente para especificar os bens que pretende ver penhorados na
execução e o executado para indicar bens à penhora. Assim, se o executado:
1. Em vez de indicar bens, efetuar o pagamento voluntário da dívida exequenda e das custas do
processo (A.846º e A.847ºCPC), a execução extinguir-se-á (A.849º1/a) e b) CPC);
2. Indicar bens suficientes para a satisfação da obrigação (crédito exequendo e custas – A.735º3),
para o que dispõe de um prazo de 10 dias (A.750º2 CPC);
3. Não indicar bens à penhora e também não pagar, extingue-se a execução (A.750º2), mas com a
cominação de que sendo a indicação um dever processual, a omissão ou falsa declaração de
bens pelo executado, importa a sujeição a sanção pecuniária compulsória (A.850º5 e A.750º1).

61
O A.726º6 CPC foi alterado na reforma de 2013: o executado era chamado para “pagar ou indicar bens à penhora”.
62
REGENTE defende que o exequente pode pedir a colaboração do executado (A.7º1 CPC) para identificar bens penhoráveis
(não no requerimento executivo, mas, por exemplo, em reforço ou substituição de bens (A.751º4 CPC) e de que o executado
deverá responder ativamente com boa fé processual (A.8ºCPC).

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● A indicação de bens é um ato processual que nada determina quanto ao reconhecimento da própria
dívida exequenda por parte do executado (não é confissão da dívida ou do pedido). Por isso, o
cumprimento do dever de indicação é compatível com a dedução de oposição à execução.

2) CONSULTA DO REGISTO INFORMÁTICO DE EXECUÇÕES (A.749ºCPC)


[...]

3) IDENTIFICAÇÃO E LOCALIZAÇÃO DOS BENS PENHORÁVEIS (A.749ºCPC)


● Posteriormente à consulta prévia do registo informático de execuções, o agente de execução tem de, em
concreto, identificar e localizar os bens penhoráveis (A.749º1 CPC). Recorde-se, contudo, que se o
exequente nomeou bens à penhora, esta tem de ser observada pelo agente de execução (A.751º2 CPC),
o que o dispensa de proceder às tarefas de identificação e localização dos bens (A.748º3 a contrario);
● A lei fixa um prazo máximo de 20 dias para a conclusão destas diligências (A.749º1 CPC);
● Sem prejuízo da competência para pedir informações ao exequente ou ao executado, o agente de
execução pode consultar junto de terceiras entidades (ex: BP, AT, SS, conservatórias…) bases de dados,
elementos sujeitos a sigilo fiscal, elementos sujeitos a sigilo bancário e outros elementos;
● O acesso, em especial, aos elementos sujeitos a sigilo fiscal ou outro regime de confidencialidade, está
dependente de despacho do juiz de autorização (A.749º7 CPC), estando a autorização judicial apenas
dispensada para efeitos de penhora de depósitos bancários (nº6);
● Se houver documentos, informações, pareceres, plantas, fotografias… em poder de terceiro, relevantes
para a descoberta de bens a penhorar, o agente de execução pode requerer ao juiz que o terceiro seja
notificado para os entregar (A.432º e A.436ºCPC), sendo a recusa sancionada (A.437ºCPC).

ATO DA PENHORA
● A lei dedica os A.755º a A.783º ao ato de penhora de bens imóveis, móveis e de direitos;
● O que distingue estes três tipos de penhora é o regime do procedimento de apreensão dos bens sobre
que incidem os direitos penhorados
● Assim temos de distinguir:
1) A penhora de imóveis e de móveis é uma penhora dos direitos reais de gozo em titularidade e
posse exclusivas que incidam sobre aqueles bens, podendo-se penhorar tanto a propriedade,
como o usufruto, superfície ou outro direito real menor de gozo;
2) Se a penhora tiver por objeto direitos reais de gozo em contitularidade (ex: compropriedade ou
co-usufruto), os atos de penhora seguem o regime da penhora de direitos indivisos (A.781ºC);
3) Se o objeto da penhora forem direitos reais de gozo em titularidade exclusiva (maxime,
propriedade), mas onerados com sobreposição de posses (i.e., onerados por direitos de gozo
menores), a penhora faz-se como penhora de imóveis, mas com notificação ao titular do direito
menor e sem desapossamento (A.781º5 CPC).

● Se penhorarmos um direito apenas em termos singulares, trata-se da penhora de um bem móvel ou


imóvel; mas a partir do momento em que coexistem outros direitos, estamos perante uma penhora de
direitos. Assim, a penhora de direitos abrange todas as situações em que não se penhora um direito real
de gozo que esteja em titularidade singular e em posse exclusiva, abrange as situações de
compropriedade, de co-usufruto, de propriedade oneradas por direitos reais menores, penhora de
direitos de créditos... → A penhora de direitos acaba por uma categoria residual perante as outras.

PEDRO FERREIRA RIBEIRO | 54

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PENHORA DE BENS IMÓVEIS: (A.755ºss CPC)


● O regime da penhora de bens imóveis é um regime unitário que aponta para a penhora da propriedade
singular ou para a penhora de qualquer direito de gozo singular;
● Como princípio, a penhora de imóveis abrange, em regra, o prédio em todas as suas dimensões, isto é,
as suas partes integrantes e os frutos naturais ou civis (A.758ºCPC). Assim, por exemplo, a penhora de
uma moradia inclui a penhora do sistema de videovigilância e a penhora de um andar que o executado
deu de arrendamento abrange também o seu crédito de rendas.
● A penhora do imóvel já não abrange as coisas acessórias, salvo os documentos de titularidade do bem,
como a caderneta predial – o princípio de que o acessório não abrange a coisa principal assim o dita
(A.210º2 CC). Quando a essas coisas, ter-se-á de fazer penhoras autónomas de coisa móvel não sujeita
a registo (A.764º1 CPC).
● Se for penhorado um imóvel que seja divisível e o valor deste exceder largamente o valor dos créditos
exequentes e dos créditos reclamados, o executado pode requerer autorização para proceder ao seu
fracionamento (A.759ºCPC);
● A penhora de bens imóveis realiza-se por comunicação eletrónica do AE ao serviço de registo
competente, a qual vale como pedido de registo, ou com a apresentação naquele serviço de declaração
por ele subscrita (A.755º1 CPC). O título que fundamenta o registo de uma penhora é o requerimento
executivo. O registo predial é, assim, constitutivo da penhora: sem registo não se pode entender que
haja penhora, sendo por isso nula, ainda que já haja entrega do bem a um depositário.
● Depois de inscrita a penhora, é enviado ou disponibilizado por via eletrónica ao AE a certidão dos
registos em vigor sobre os prédios penhorados;
● Seguidamente, o AE lavrará o auto de penhora e procederá à afixação, na porta ou noutro local visível
do imóvel penhorado, de um edital, de modelo constante do Anexo IV da Portaria n.o 282/2013;
● O AE deverá designar um depositário judicial dos bens imóveis penhorados, que em regra será o
próprio AE ou, nas execuções cujas diligências estejam distribuídas, o oficial de justiça, ou pessoa
designada por este (A.756º1 CPC). No entanto, poderá ser o próprio executado se este solicitar e o
exequente consentir (A.726º1 2ªparte) ou quando o imóvel penhorado seja a casa de habitação efetiva
do executado (A.756º1/a CPC). Regras Especiais:
➢ Se o bem estiver arrendado, o depositário pode ser o próprio arrendatário (A.756º1/b CPC);
➢ Se houver um direito de retenção judicialmente reconhecido numa sentença, fica o retentor
como depositário (A.756º1/c CPC);
➢ O depositário pode ainda ser um terceiro designado pelo agente de execução, com o
consentimento do exequente;
➢ Na pluralidade de penhoras (A.794ºCPC), o depositário é aquele que já está nessa função em
sede da primeira penhora.

● O depositário é o administrador por conta do Estado e, assim, está investido de deveres especiais,
constantes do A.760º1 CPC e ainda de deveres gerais do depositário dos A.1187º e A.1190ºCC;
● No essencial, a função do depositário consiste em substituir o executado nos poderes, materiais e
jurídicos, que lhe terão sido subtraídos pela penhora e exercê-los em conformidade com a finalidade de
conservação. Assim, é dever do depositário praticar atos de administração corrente (ex: pagar contas,
condomínio, rendas, impostos ou taxas).
● Quanto aos atos de administração extraordinária (ex: exploração dos bens penhorados, nomeadamente
por meio de arrendamento, alienações e onerações), estes apenas podem ser praticados após acordo
entre o exequente e o executado ou, na sua falta, mediante decisão judicial após audição do depositário
e feitas as diligências necessárias (A.760º2 CPC).

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● O depositário pode pedir escusa do cargo, ocorrendo motivo atendível (A.761º3 CPC). Admite-se ainda
a sua remoção quando, não sendo solicitador de execução, deixe de cumprir os deveres do seu cargo e
esta seja requerida por qualquer interessado ou oficiosamente pelo agente de execução (A.761º1 CPC);
● Ao depositário tem de ser feita a entrega efetiva do imóvel (A.757ºCPC). Sendo imóvel de domicílio do
executado, a diligência deve efetuar-se entre as 7 e as 21 horas, devendo entregar-se cópia do auto de
penhora a quem tem a disponibilidade do local;
● O executado ou o terceiro detentor estão legalmente obrigados a entregar o imóvel. Quando seja oposta
alguma resistência ao apossamento do imóvel – ou haja receio justificado de oposição de resistência
(A.757º1 CPC) – ou quando seja necessária entrada forçada em imóvel, o AE pode solicitar,
diretamente e sem despacho judicial, o auxílio das autoridades policiais (A.757º1 e 2 CPC). Do ato de
entrada forçada terá o agente de lavrar auto de ocorrência;
● Contudo, já carece de despacho judicial quando se trate de apossamento de imóvel que constitua
domicílio do executado (A.757º4 CPC). Domicílio é o lugar de intimidade pessoal da pessoa física ou o
centro da atividade da pessoa coletiva.

PENHORA DE BENS MÓVEIS: (A.764ºss CPC)


● “É aplicável, subsidiariamente, à penhora de bens móveis o disposto, na subsecção anterior, para a
penhora dos imóveis.” (A.772ºCPC);
● Temos de distinguir entre a penhora de bens móveis sujeitos a registo e não sujeitos a registo.

1) BENS MÓVEIS SUJEITOS A REGISTO (A.768ºCPC)


➢ Trata-se, aqui, da penhora de automóveis, navios e aeronaves, por exemplo;
➢ O A.768ºCPC dispõe que à penhora de coisas móveis sujeitas a registo aplica-se, com as
devidas adaptações, o disposto no A.755ºCPC, relativo à penhora de imóveis. Portanto, a
penhora efetiva-se por comunicação eletrónica à conservatória do registo de automóvel, ou
similar para os navios e aeronaves, que for competente;
➢ Contudo, é necessário fazer-se a apreensão da coisa móvel em termos diferentes do que seria a
mera entrega de um imóvel. A penhora de um automóvel, de um navio ou de uma aeronave,
faz-se por comunicação eletrónica, depois é necessário um ato complementar que já não é um
ato de penhora, mas antes um ato instrumental de salvaguarda da penhora, designado de ato de
apreensão de coisa móvel;
➢ A regra é a de que só se apreendem os móveis sujeitos a registo depois de se fazer o registo da
penhora, no entanto o A.768º2 CPC prescreve que a penhora de veículo automóvel pode ser
precedida de imobilização deste. Ou seja, atualmente autoriza-se que primeiro se apreenda o
automóvel e só depois se faça a penhora, desde que a comunicação eletrónica da penhora seja
realizada até ao termo do 1º dia útil seguinte63 (ex: a apreensão foi feita na quinta-feira, o mais
tardar até ao final de sexta-feira tem de se fazer a comunicação da penhora);
➢ Este mecanismo permite evitar que o automóvel seja destratado, e verificar o seu estado e o
seu valor comercial: contudo, não podemos esquecer que o princípio não é este, mas sim o de
que primeiro se faz a comunicação eletrónica da penhora, nos termos do A.768º1 CPC, e só
depois se procede à apreensão;
➢ Os atos seguintes à penhora e imobilização são a apreensão dos documentos de identificação
do veículo e a remoção. Contudo, se o AE entender que a remoção é desnecessária para a
salvaguarda do bem ou manifestamente onerosa em relação ao crédito exequendo, não a faz;
➢ Se o executado se recusar a abrir quaisquer portas ou móveis, ou se a casa estiver deserta e as
portas e móveis se encontrarem fechados, o AE instará pela apresentação das coisas ocultadas
e advertirá a pessoa da responsabilidade em que incorre com o facto da ocultação (A.767º3
63
Se a penhora não tiver lugar dentro deste prazo, a apreensão é nula, devendo ser levantada, havendo ainda lugar a
responsabilidade civil do agente de execução.

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CPC), e far-se-á acmpanhar por autoridade publica (A.757º2, ex vi A.767º1 CPC).

2) BENS MÓVEIS NÃO SUJEITOS A REGISTO


➢ Falamos aqui, por exemplo, da penhora de uma bicicleta ou de um computador;
➢ Esta penhora faz-se com a efetiva apreensão do bem e a sua imediata remoção para depósito,
assumindo o AE que realizou a diligência a qualidade de fiel depositário (A.764ºCPC);
➢ Depois da apreensão efetiva, os bens têm de ser guardados. Serão removidos para o depósito,
que pode ser privado (ex: armazém o garagem do exequente), público (qualquer local de
armazenagem de bens que tenha sido afeto, por despacho do diretor-geral da Administração da
Justiça, à remoção e depósito de bens penhorados no âmbito do processo executivo);
➢ O A.764º2 prevê os casos em que pode ser dispensada a remoção 64:
1. Se a natureza dos bens for incompatível com o depósito (ex: máquina industrial
muito pesada);
2. Se a remoção implicar uma desvalorização substancial dos bens (ex: coisas de vidro
em que há a possibilidade de se partirem) ou a sua inutilização;
3. Se o custo da remoção for superior ao valor dos bens.

➢ E quanto às partes integrantes e os frutos naturais e civis? Referimo-nos, por exemplo, a
árvores ou a animais. São penhoráveis nos termos do A.758ºCPC, que vale tanto para a
penhora de bens imóveis como para móveis (ex vi A.772ºCPC);
➢ Se o executado se recusar a abrir quaisquer portas ou móveis, ou se a casa estiver deserta e as
portas e móveis se encontrarem fechados, o AE instará pela apresentação das coisas ocultadas
e advertirá a pessoa da responsabilidade em que incorre com o facto da ocultação (A.767º3
CPC), e far-se-á acmpanhar por autoridade publica (A.757º2, ex vi A.767º1 CPC).

PENHORA DE DIREITOS: (A.773ºss CPC)


● Por penhora de direitos pretende o legislador referir-se à penhora de qualquer posição jurídica ativa que
não seja tratada em sede de penhora de bens imóveis ou em sede de penhora de bens móveis; é assim
uma categoria residual (Ex: uma herança, um estabelecimento comercial ou qualquer crédito);
● A penhora de créditos65 tem de lidar com 3 interesses diferentes:
1. Do exequente, na penhora e venda do direito;
2. Do terceiro-devedor, no cumprimento do contrato;
3. Do executado, enquanto credor, igualmente consubstanciado nos termos do contrato.

● A penhora de crédito faz-se por notificação ao devedor do executado (debitor debitoris) de que o
crédito fica à ordem do agente de execução (A.773º1 CPC), seguindo as formalidades da citação
pessoal e, por isso, ficando sujeita ao regime desta (A.228ºss e A.246º, ex vi A.773º1 CPC).
Consumada a notificação, o terceiro-devedor não poderá, com eficácia, concluir atos de extinção do
crédito (A.820ºCC).
● [...]

64
Aplica-se igualmente à penhora de bens móveis sujeitos a registo.
65
O direito-modelo em matéria de penhora de direitos é o direito de crédito. Assim, embora existam outros tipos de penhora
de direitos nos A.778º a A.782ºCPC, focamo-nos no modelo regra.

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