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FUNDAMENTOS E PRINCÍPIOS
Qual a definição de ação executiva? (A.10º4 CPC). A regência adota a seguinte noção:
➢ Ação executiva é uma ação em que o autor requer as providências necessárias à realização coativa de
um direito ou à realização de um poder de uma prestação, enunciado num título legalmente competente
(noção do REGENTE);
➢ Alguns autores distinguem entre ação executiva em sentido próprio e em sentido impróprio. A ação
executiva em sentido próprio significa que foi violado um direito de crédito ou direito real, que foi
devidamente declarado, e que precisa, agora, de ser executado. A ação executiva em sentido impróprio
está pensada para os casos de cancelamento do registo por nulidade, por exemplo. A regência discorda
desta distinção, na medida em que as ações em sentido impróprio não são verdadeiras, não é o
cancelamento que as torna executivas.
A execução específica de contrato de promessa (A.830ºCC) é uma ação constitutiva, em que a sentença,
só por si, cria efeitos na ordem jurídica – ela própria tem efeitos executivos. Em sentido material, não deixa de
ser ação executiva - o credor fica satisfeito, contra a vontade do devedor, por força da própria sentença, que serve
como se fosse uma declaração emitida pelo próprio devedor. Não se trata de uma ação em sentido impróprio,
porque faz parte do objeto do Direito Executivo – há atos materiais que satisfazem coativamente a vontade do
credor. Imaginando que não existe ação de execução específica, se existe um direito de tutela jurisdicional
(A.20ºCRP), como resolveríamos o problema? A resposta seria uma ação condenatória, mas isso significa que
nada obrigaria o réu a cumprir, pelo que teríamos de ir para o processo executivo. Este aspeto demonstra que a
execução específica de contrato de promessa é, de facto, uma forma de execução, pertence ao seu objeto e
procura satisfazer a tutela da confiança depositada pelo fiel promitente.
PROCEDIMENTO EXECUTIVO:
● Aquele que visa realizar coativamente a prestação;
● Ação declarativa → Fase dos articulados + condensação + instrução + sentença;
● Se o título executivo é a sentença, o direito existe: não é um repetir da ação, mas a sua execução;
● Fases Ordinárias da Ação Executiva 1:
1. Requerimento Executivo (= PI);
2. Despacho de Recebimento e Citação do Executado;
3. Prazo de Defesa do Executado (podem haver factos novos, havendo sempre fundamento de
nova defesa - ex: já paguei o que devia);
4. Oposição à Execução (= Contestação) → Ação declarativa de embargo;
5. Processo é distribuído a um agente de execução (entidade privada);
6. Fase da Penhora;
7. Fase da reclamação de créditos (concurso de credores)2;
8. Fase da venda judicial dos bens penhorados;
9. Fase do pagamento da dívida com a receita da venda judicial dos bens penhorados.
PRINCÍPIOS ESTRUTURANTES:
1. Princípio do Contraditório → O Processo executivo desenvolve participação entre exequente e
executado, valendo este princípio também para aqui (decorre, inclusive, da própria CRP);
2. Princípio da Igualdade (A.4ºCPC) → As partes são tratadas da mesma forma perante a mesma ação;
➢ Na ação declarativa não sabemos quem tem razão até à sentença, existindo igualdade formal
entre as partes. Mas na ação executiva já sabemos quem tem razão, pelo que encontramos
instrumentos que favorecem o credor em detrimento do devedor;
➢ Assim, reina o princípio do favor creditoris → Limitação à igualdade substancial das partes
(violaria a CRP tratar as partes de forma estritamente igual, tendo uma delas um direito já
confirmado por sentença declarativa).
PRINCÍPIOS INSTRUMENTAIS:
1. Princípio da Disponibilidade das Partes → Impulso processual cabe às partes, assim como a extinção
do processo. O avanço do processo, em alguns aspetos, depende das partes, assim como estas podem
celebrar negócios processuais;
2. Princípio da Oficiosidade → Alguns factos são de conhecimento oficioso;
3. Princípio da Oficialidade → Certos atos processuais podem ser praticados sem que as partes o peçam (o
processo executivo avança por impulso do juiz ou do agente de execução - direção do processo);
4. Princípio da Legalidade do Procedimento → A sequência dos atos processuais está fixada na lei, sem
prejuízo do princípio da adequação formal;
5. Princípio da Cooperação entre as partes (A.7ºCPC).
1
Ação Executiva Sumária → Penhora-se os bens primeiro e avisa-se depois.
2
Se for penhorado um bem sobre o qual incida uma garantia real, tem de existir citação do garantido (ex: se o imóvel está
hipotecado, tem de ser citado também o banco) → Concurso de Credores.
PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS:
1. Favor Creditoris → Regente defende que não é um verdadeiro princípio, mas um conjunto de exceções
ao princípio geral da igualdade entre as partes (só pode operar como exceção);
2. Princípio da Patrimonialidade (A.817ºCC) → Os atos executivos têm como objeto situações jurídicas
ativas que integram o património do executado (o objeto do processo executivo são sempre bens);
3. Princípio da Proporcionalidade (A.751º2 e 735º3 CPC) → Se vamos atacar o património do executado,
a proporcionalidade é o limite (estrita medida do necessário para satisfazer a obrigação exequenda);
4. Princípio da Formalização → Não há execução viável sem título executivo (A.10º5 CPC).
CAUSA DE PEDIR
● Se podemos pedir ao tribunal que através do agente de execução proceda à realização coativa da
prestação, qual é a causa de pedir dessa solicitação? De que factos jurídicos procede a minha pretensão
de pagamento?
● Em termos gerais, a causa de pedir são os factos jurídicos de onde sucede o efeito jurídico pretendido
pelo autor (Causa de pedir → Atos de onde procede a pretensão alegada pelo autor);
● Na ação declarativa são os factos constitutivos do direito do autor, são alegados e provados. Desses
factos retiram-se efeitos jurídicos. Na ação executiva o facto de onde se retira o direito alegado está
contido no título executivo;
● O título executivo não é a causa de pedir, mas demonstra-a. É um meio de demonstração, de
justificação da causa de pedir, não é um meio de prova;
● O REGENTE e LF 4 têm defendido que a causa de pedir é composta por:
1) Factos principais: Ex: contrato de compra e venda;
2) Factos complementares: Ex: data do vencimento do pagamento.
● Os factos necessários à procedência da ação são os factos principais e complementares, e por isso
ambos devem integrar a causa de pedir (segundo o REGENTE);
● Em princípio, o título executivo vai indicar tanto os factos principais como os factos complementares
(embora possa apenas conter os factos principais);
3
A mais importante e usada é a execução para pagamento de quantia certa.
4
Contra MTS, que considera que os factos complementares não integram a causa de pedir.
● Causa de pedir na Ação Executiva → Pode ser definida como os factos de aquisição de um direito ou
de um dever a uma prestação exigível;
● Alguns consideram que a causa de pedir é o não cumprimento da prestação devida, ou que o
incumprimento é pelo menos parte da causa de pedir (A.817ºCC);
● Segundo o REGENTE, o incumprimento não integra a causa de pedir, porque a causa de pedir é
integrada por factos demonstráveis (apenas se tem de demonstrar que o direito existe e é exigível). O
incumprimento está implicitamente enunciado, não tendo de ser alegado (mas apenas a exigibilidade da
prestação) e, por isso, o incumprimento não integra a causa de pedir;
● Nos títulos de crédito ou declarações de dívida (títulos executivos), a causa de pedir vai ser exatamente
a causa contratual ou doação que não está enunciada na declaração de dívida;
● Mesmo quando há confissão de dívida, a causa de pedir é a relação subjacente a essa dívida;
● Também os títulos de crédito, que não são confissões de dívida, são fontes de dívida. Num cheque, por
exemplo, a causa de pedir autónoma é o facto da emissão do próprio título.
1) JUIZ
● Os juízes tratam de todo o processo executivo e não apenas da execução;
● Poder geral de controlo passivo (A.723º1 CPC):
➢ Típico → Competência expressamente atribuída pela Lei;
➢ Provocado → Ex: requerimentos; atos postulativos…
➢ Oficioso → Sempre que o processo chega às mãos do juiz, este conhece oficiosamente os
pressupostos processuais e as nulidades que lhe cumpre conhecer (estado do processo).
● Tem competências declarativas e competências executivas. O tribunal de execução não pode solicitar o
processo para ver as ilegalidades, apenas a propósito das suas competências processuais – controlo
passivo e não ativo:
➢ Competências Declarativas → Conhecer da reclamação dos atos do agente de execução,
conhecer das questões levantadas pelas partes, julgar processos declarativos acessórios, julgar
os incidentes. Tudo o que seja do foro jurisdicional.
➢ Competência Executiva → Residual;
➢ Competência Genérica (A.719ºCPC) → Incumbe à secretaria exercer as funções que lhe são
cometidas pelo A.157ºCPC, na fase liminar e nos procedimentos ou incidentes de natureza
declarativa. A secretaria não faz citações, isso cabe ao agente de execução.
2) AGENTE DE EXECUÇÃO5
● Foi criado um modelo em que o tribunal trabalha com uma entidade privada que trata apenas da
execução, o agente de execução. É uma inspiração do modelo francês;
● O processo continua a ser da competência do tribunal, mas o poder de direção do processo, a prática
dos atos materiais e das citações, é do agente de execução;
● É um auxiliar de justiça: profissional liberal designado6 pelo exequente, que atua em nome do Estado, a
favor do exequente, apesar de não haver nenhum contrato. Residualmente, o juiz mantém um poder
geral de controlo;
● Quem pode ser agente de execução? Primordialmente está feito para que o agente de execução seja um
auxiliar de justiça: profissional liberal que pratica atos de autoridade em nome do Estado. No entanto,
em certos casos, o agente de execução pode não ser o auxiliar de justiça, mas antes um oficial de justiça
(A.722ºCPC - elenca as situações em que isto acontece). São situações residuais, a diferença é que o
oficial de justiça não é privado;
● O agente de execução não é mandatário do exequente. Em caso de responsabilidade civil quem
responde pelo agente de execução é o Estado.
● As despesas que o exequente tem com o agente de execução, depois exige-as ao executado, assim como
os honorários gastos com o advogado (A.533º2/c CPC e A.25º Reg. Custas Processuais);
● Se o executado não pagar as custas ao exequente, este pode executar o executado noutra ação pelas
custas processuais (o título executivo é a nota discriminatória dos honorários do agente de execução);
● O exequente pode impugnar a nota discriminativa do agente de execução, mas aquando do caso
julgado, o agente de execução pode usá-la como título executivo contra o próprio exequente;
● Como se processa o pagamento ao agente de execução?
1. Parte Fixa → Honorários que o agente de execução deve sempre receber ao longo do avanço
do processo (tabela na PORTARIA n.º 282/2013). Está dividida em 4 partes correspondentes
às partes do processo executivo (exequente paga antecipadamente para que o agente avançe
para a seguinte fase [A.721º2 CPC] → Condição do impulso processual)7 8;
2. Parte Variável → Honorário suplementar que depende do sucesso da ação e do seu valor;
● O agente de execução ganha uma percentagem sobre o valor da quantia executada (prémio). Calcula-se
em termos percentuais sobre o valor recuperado, variando ainda consoante o tempo de recuperação;
● O agente de execução recupera o valor, através de:
1. Pagamento Voluntário;
2. Acordo de pagamento;
3. Penhora (percentagem do valor obtido com a venda).
● Agente de execução está sujeito a fiscalização, inspeção e sancionacionação pela 1) Ordem dos
Solicitadores e Agentes de Execução e pela 2) Comissão para o Cumprimento da Atividade de Justiça
(a segunda regulada pela Lei n.º 77/2013);
● Natureza jurídica do Agente de Execução → Auxiliar de justiça, isto é, mandatário do Estado que
exerce os seus poderes de autoridade para cobrar dívidas privadas (A.162º Estatuto dos AE).
➢ É um profissional liberal e não um funcionário público do Estado.
➢ Assim, não representa as partes, mas sim o próprio Estado, não havendo contrato de mandato
entre ele e o exequente (A.163º Estatuto dos AE);
5
Regulados pela Lei n.º 154/2015 e PORTARIA n.º 282/2013.
6
Em França é contratado, em Portugal é designado.
7
Não se considera instaurada a ação executiva, mesmo que recebida pela secretaria, até à data de pagamento ao agente de
execução (A.724º6 CPC) → Limitação razoável ao Direito de Ação (REGENTE).
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E se não se der o pagamento da seguinte fase? A execução fica suspensa e passados 30 dias da citação do exequente para
pagar, a ação executiva extingue-se (A.721º2 e 3 CPC).
● O agente de execução é designado pelo exequente no requerimento executivo, a partir de uma lista
oficial de agentes de execução (A.720º e A.724/1/c CPC). Pode ser qualquer um, não tendo de ser da
comarca (mas, neste caso, o exequente tem de pagar as custas de deslocação);
● Recebido o requerimento executivo pela secretaria, esta envia-o para o agente de execução, e este tem
sempre 5 dias para decidir o chamamento. Em caso de recusa, notifica-se o exequente que terá de
designar outro agente de execução. Se o exequente não designar novo agente de execução, será
substituído na designação pela secretaria (A.720º2 e 3 CPC);
● O agente de execução pode ser substituído e pode ser destituído (substituição que resulta de intervenção
de terceiro → A competência para destituição é do exequente e não do tribunal10 - A.720º4 CPC). A
destituição pode também resultar de processo disciplinar;
● Atos do agente de execução: (A.719ºCPC)
➢ “Cabe ao agente de execução efetuar todas as diligências do processo executivo que não
estejam atribuídas à secretaria ou sejam da competência do juiz” (nº1);
➢ Poder de direção da ação executiva (juiz só intervém residualmente) → Ao contrário da ação
declarativa, nas ações executivas o juiz só tem poderes passivos;
➢ Como se impugnam os atos deste?
❖ O juiz pode julgar, sem possibilidade de recurso, as reclamações dos atos praticados
pelo agente de execução, no prazo de 10 dias (A.723º1/c);
❖ O pedido é que seja revogado o ato processual do agente de execução e a causa de
pedir prende-se com ilegalidades materiais/processuais ou erros de facto;
❖ Impugnado o ato, quem pratica novo ato? REGENTE defende que não pode ser o
tribunal por falta de competência, tendo o ato de ser re-praticado pelo agente de
execução segundo as diretivas emanadas pelo juiz;
❖ E se houver nulidade da penhora ou da citação? A Lei prevê um conjunto de meios de
ataque a atos ilegais e penhoras ilegais (ex: oposição à penhora e embargos de
terceiro). Mas a reclamação está em concurso com estes, só se aplicando a
reclamação quando outros meios de defesa não forem aplicados (REGENTE);
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Mas REGENTE defende que é possível responsabilizar também o exequente, uma vez que foi este que escolheu o agente de
execução. Se o agente escolhido já tiver sido sujeito várias vezes a responsabilidade civil e se provar que era provável que o
voltasse a fazer, pode-se considerar a responsabilidade do exequente por culpa in eligendo.
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Mesmo que a pedido do executado. REGENTE defende que esta solução viola o Princípio da Igualdade, uma vez que não
há qualquer razão para não se permitir a destituição por impulso do executado.
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REGENTE → No plano material, o processo executivo é judicial porque se passa no tribunal, mas funcionalmente é
administrativo porque não se diz o direito. Assim, podemos dizer que, no sentido amplo, a função jurisdicional também
congrega o processo executivo, uma vez que os atos administrativos são instrumentais de atos judiciais (da sentença).
CONDIÇÕES DE EXEQUIBILIDADE
TITULO EXECUTIVO:
● As ações executivas são aquelas em que o credor requer as providências adequadas à realização coativa
de uma obrigação que lhe é devida (A.10º4 CPC);
● O A.10º5 CPC exige um título executivo para a ação executiva, pelo que na falta ou insuficiência deste
pode haver lugar a:
1. Recusa de recebimento pela secretaria (nos processos ordinários - A.725º1/d CPC) ou pelo
agente de execução (nos processos sumários - A.855º2/a CPC);
2. Indeferimento liminar (A.726º2/a CPC);
3. Extinção superveniente da execução (A.734º1 CPC);
4. Oposição à execução (A.729º/a e /e CPC).
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MTS → Título executivo é o documento do qual resulta a exequibilidade de uma pretensão e, portanto, a possibilidade da
realização coativa da correspondente prestação através de uma ação executiva. Incorpora o direito de execução - direito do
credor a executar o património do devedor ou de um terceiro para obter a satisfação efetiva do seu direito à prestação.
2. FUNÇÃO DELIMITADORA
● Enunciada no A.10º5 CPC: É através do título que se determina o objeto (âmbito objetivo) e
os sujeitos (âmbito subjetivo) da execução;
● Indiretamente o título executivo determina também os pressupostos processuais.
3. FUNÇÃO CONSTITUTIVA
● O título executivo constitui o direito à realização coativa da prestação (A.10º4 e 5 CPC);
● MTS → O título executivo atribui exequibilidade a uma pretensão, possibilitando que a
correspondente prestação seja realizada através das medidas coativas impostas ao executado
pelo tribunal. Falamos aqui em exequibilidade extrínseca e intrínseca;
● Enquanto na ação declarativa o juiz tem de responder à pergunta “o direito existe na esfera do
autor?”, na ação executiva a pergunta é a de se “a execução apresenta as condições suficientes
para a realização coativa da prestação?”. Portanto, o tribunal da execução não certifica o
direito exequendo, antes o impõe, porque o título executivo já o certifica.
● REGENTE diz que as exigências de título executivo e de exigibilidade/determinação da
obrigação constituem requisitos de tipo diferentes dos pressupostos processuais, na medida em
que estes são condições de conhecimento do pedido executivo, respeitantes à relação
processual, ao passo que os primeiros respeitam à relação material e, por isso, determinam se
o tribunal pode ou não satisfazer o pedido do credor de realização coativa da prestação, ou
seja, a procedência do pedido executivo. Assim, entende que o título executivo e a obrigação
com determinadas qualidades não são pressupostos processuais, mas sim condições de ação.
● Pelo contrário, estão normalmente excluídas pela doutrina e jurisprudência as sentenças de simples
apreciação (sem parte condenatória), porque não impõem um comando de atuação, e as sentenças
constitutivas porque não carecem de colaboração ulterior do réu quanto ao efeito que produzem;
● No plano da competência, estas sentenças podem provir de todos os tribunais com competência em
Portugal, incluindo os tribunais arbitrais (A.705º2 CPC e A.42º7 LAV).
● No plano da legitimação, a sentença condenatória pode ser normal, ou seja, proferida após o
julgamento, mas pode também ser uma sentença condenatória homologatória: esta não decorre de um
julgamento (da matéria de facto e de direito); o que houve foi a homologação de um negócio, como
uma transação entre autor e réu ou a confissão do réu. Decorrem, portanto, de uma adesão a um
negócio processual que tenha eficácia condenatória (confissão ou transação)13;
● No plano da eficácia formal, as providências cautelares que tenham teor condenatório também são
abrangidas no conceito de sentença condenatória, pois têm força executiva (REGENTE14 faz, assim,
interpretação extensiva). Trata-se aqui de uma verdadeira sentença, embora com um caso julgado
material provisório, sem prejuízo da possibilidade de consolidação pelo mecanismo da inversão do
contencioso (A.369º e A.371º1 e 2 CPC);
● No plano formal são equiparadas às sentenças condenatórias os despachos e quaisquer outras decisões
ou atos da autoridade judicial que condenem no cumprimento de uma obrigação (A.705º1 CPC). É o
que sucede com a decisão, autonomizada em despacho ou integrante da sentença, que imponha o
pagamento das custas processuais (A.527º1 e A.529º1 CPC) ou a condenação no pagamento de multa
e/ou de indemnização por litigância de má-fé (A.542º1 CPC).
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O título executivo é a própria sentença e não o negócio subjacente.
14
Diferentemente, MTS inclui a decisão cautelar no A.705º1 CPC, como se fosse uma mera decisão acessória da questão de
mérito, com fundamento processual, como sucede com a condenação de custas, multa ou indemnização.
● REGENTE defende que não podem existir títulos executivos sobre condenações implícitas15, porque:
➢ O Princípio do Dispositivo - segundo o qual o objeto da ação é aquilo que se pede, o objeto da
instrução são os factos que sustentam esse pedido, e o objeto da sentença é aquilo que foi
pedido - impõe que o caso julgado apenas abranja o que foi decidido (e apenas foi decidido o
que foi pedido). Assim, não pode existir caso julgado implícito;
➢ Admitir condenações implícitas é violar o princípio da nulidade de sentenças que condenem
em mais do que aquilo que foi pedido: estaríamos a violar o A.609º1 CPC, o que ditaria a
nulidade da sentença (A.615ºCPC) e nulidade geral por impossibilidade de contraditório do
réu sobre essa “condenação” (A.195º1 e A.3º3 CPC);
➢ Se o autor tem necessidade de pedir mais (ex: não só as rendas em atraso, mas também o
despejo), então peça na PI. Estas seriam obrigações futuras que só podem ser deduzidas se
couberem no elenco taxativo do A.557ºCPC (apenas nestes casos se pode condenar in
futurum). Assim, admitir as condenações implícitas é também violar o A.557ºCPC:
Obrigações futuras à data da sentença condenatória que se admitem como exequendas;
➢ Mas onde está o fundamento para afirmar que o juiz está a condenar? Não há nenhum ato
voluntário do tribunal a condenar. A Lei estabelece que apenas as sentenças condenatórias têm
força executiva, porque apenas estas verificam o incumprimento (ao contrário das de mera
apreciação e das declarativas). Nas condenações implícitas o juiz também não verifica o
incumprimento, porque nem sequer lhe foi pedido que o fizesse.
15
No entanto, o REGENTE admite que existem certas sentenças, constitutivas e de simples apreciação, que têm um efeito
constitutivo não expresso [implícito], derivado da procedência do pedido constitutivo ou de simples apreciação. Assim,
importam a constituição de obrigações que não existiam antes da prolação da sentença, só se constituindo na sequência desta.
É o caso da sentença de execução específica, que importa ex lege a constituição da obrigação de entregar o imóvel vendido
(A.830ºCC) e de pagar o preço; e da sentença de declaração de nulidade do contrato, que importa ex lege a constituição da
obrigação de devolver as prestações já efetuadas (A.289º1 CC).
SENTENÇAS ESTRANGEIRAS
● A.706ºCPC prevê que as sentenças estrangeiras podem ser executadas junto dos tribunais nacionais,
desde que sejam revistas e confirmadas em portugal (nº1);
● É competente para a revisão e confirmação da sentença o Tribunal da Relação da área em que esteja
domiciliada a pessoa contra quem se pretende fazer valer essa sentença (A.979ºCPC e A.59º1/h LAV);
● Abrange quer as sentenças, quer os documentos não-judiciais exarados no estrangeiro (documentos
autênticos ou particulares autenticados);
● Ressalvam-se as normas de DIP e de Instrumentos Europeus (Reg. 1215/201216 e Convenção de
Lugano de 30 Out. 2007);
● As sentenças que provenham de um EM podem ser executadas nos tribunais de outro EM sem
necessidade do processo especial de revisão e confirmação (simples procedimento de exequibilidade da
UE - livre circulação de sentenças - A.36º1 e A.39º Reg. 1215/2012).
➢ A força executiva das sentenças estrangeiras tem de ser apreciada à luz do direito nacional
desse EM (e não pelo A.703ºCPC).
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Também se aplica à Dinamarca, ainda que indiretamente.
17
Exceção quanto aos casos de despejo, em que o recurso tem sempre efeito suspensivo (A.647º3/b CPC).
● Este regime de exequibilidade imediata da sentença pendente de recurso com efeito meramente
devolutivo vale, por identidade de razão, para todas as situações em que a sentença exequenda não está
estabilizada na sua eficácia:
➢ Vale para as sentenças que nem sequer admitam recurso e estejam a aguardar o esgotamento
do prazo de 10 dias para se reclamar ou requerer reforma (A.615º1 e 3 e A.616º1 e 2 CPC);
➢ É ainda uma execução provisória a execução de sentença contra a qual tenha sido apresentado
recurso extraordinário de revisão de sentença, nos termos dos A.696ºss CPC;
➢ Em ambos os casos, o credor pode executar de imediato a sentença, seguindo os regimes de
prestação de caução, proteção do executado, modificabilidade da execução e ineficácia da
venda (A.704º2, 4 e 6 CPC e A.839º1/a e nº3 CPC).
● O A.47º3 e 4 LAV admite ainda que uma sentença arbitral possa ser executada ainda que tenha sido
impugnada mediante pedido de anulação apresentado de acordo com o A.46ºLAV. Esta impugnação
tem efeito meramente devolutivo, mas o impugnante pode requerer que ela tenha efeito suspensivo da
execução, oferecendo-se para prestar caução (A.733º3, A.648º e A.650ºCPC).
● Deve ainda incluir-se no âmbito do A.704º1 CPC a execução de providências cautelares. Sendo certo
que todas as providências cautelares têm efeitos constitutivos, algumas delas impõem deveres de prestar
aos requeridos, que são dotados de exequibilidade. O regime do A.704ºCPC deve vigorar para a
caducidade de uma providência cautelar por sentença posterior desconforme (A.373º1/c CPC), por ser
o mais adequado para lidar com os efeitos negativos que o requerido sofreu na sua execução;
● Por fim, ficam sujeitas ao A.704º1 CPC as execuções de sentenças e transações judiciais estrangeiras
que estejam pendentes de recurso no seu ordenamento de origem. No entanto, existindo regulamentos e
convenções da UE, estes prevalecem (A.44º e A.51º1 do Reg. 1215/2012).
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O perigo de prejuízo considerável deve ser justificado nos mesmos termos que valem para as providências cautelares
(A.368º1 CPC) ou para a dispensa de citação prévia (A.727º1 CPC): mediante a alegação e prova de factos dos quais decorra
ser verossímil essa ocorrência. Mas o tribunal deverá ainda fazer um balanceamento entre os interesses das partes (A.368º2).
● Com a entrada em vigor do novo CPC, em 2013, os documentos particulares simples perderam a força
executiva (que tinham pelo antigo CPC):
➢ O Acórdão do TC nº408/2015 declarou com força obrigatória geral que o A703ºCPC, aplicado
de forma retroativa, era inconstitucional por violação do princípio da segurança jurídica;
➢ Assim, os documentos particulares simples anteriores a esta data, mesmo sem termo de
autenticação, continuam a ter força executiva;
➢ Mas então são títulos executivos “forever”? Um título executivo é-o por si próprio, pelo que
não há nenhuma razão que justifique que perca a sua força executiva. A obrigação é que só
dura até que lhe seja oposta uma causa de extinção (ex: prescrição). Ou seja, uma coisa é a
extinção do título e outra coisa é a extinção da dívida. Assim, as dívidas tituladas pelos
documentos particulares simples anteriores a 2013 prescrevem, no máximo, em 20 anos.
● Além de um requisito formal, o A.703º1/b CPC consagra ainda um requisito material → É necessário
que estes documentos importem a constituição de uma obrigação ou que reconheçam uma obrigação já
existente (documentos constitutivos ou recognitivos de uma obrigação):
1) Um título executivo recognitivo apenas serve para executar as obrigações que reconhece (ex: o
reconhecimento, em documento autenticado, de uma dívida de pagamento do fornecimento de
mercadorias (A.458ºCC) constitui título executivo dessa dívida e de mais nenhuma);
2) Um título executivo constitutivo tem força executiva para todas as obrigações que enuncia
expressamente, bem como para todas as obrigações do tipo legal não enunciadas (ex: para
executar a prestação de entrega do imóvel vendido é suficiente o respetivo contrato de CV, que
tem por efeito a constituição dessa obrigação - A.879ºb CC -, mesmo que o contrato não
enuncie expressamente essa obrigação. O mesmo contrato de CV é ainda suficiente para
executar a cláusula pela qual o vendedor se obriga a mandar fazer obras no imóvel antes de o
entregar: A primeira é uma obrigação típica da compra e venda, a segunda não).
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Contrato através do qual uma entidade bancária se obriga a mutuar uma certa quantia ao cliente. Ainda não é um contrato
de mútuo, mas sim um contrato-promessa de mútuo: se o dinheiro for efetivamente entregue, na medida em que é quoad
constitutionem, nasce um novo contrato (o contrato de mútuo); se o contrato for incumprido, visto que o contrato-promessa é
o único documento que o banco tem, será este que servirá de título executivo.
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Note-se que o título executivo não é o documento complementar, ainda que revestido de força executiva própria, mas sim o
documento exarado ou autenticado. Portanto, o objeto e os sujeitos da execução e os pressupostos processuais aferir-se-ão
por este e não pelos documentos da prova complementar. Se a prova complementar é realizada mediante apresentação de
documento revestido de força executiva própria, cabe ao credor decidir se baseia a execução no contrato preparatório ou se a
baseia naquele (pondera qual dos dois documentos apresenta melhores garantias do crédito).
● Se estes requisitos não forem cumpridos, a doutrina maioritária entende que o documento não vale
como título executivo da obrigação cambiária, mas vale como confissão particular de dívida (título
executivo da obrigação subjacente), podendo ser executado enquanto documento particular – são os tais
quirógrafos (MTS, contra REGENTE 24);
● Para o “mero quirógrafo” valer como título executivo é necessário que:
1) Estejam satisfeitos os requisitos dos outros documentos particulares, ou seja, o documento tem
de estar assinado pelo devedor;
2) O título de crédito ou o requerimento executivo enuncie a concreta e determinada relação
causal ou subjacente de onde decorre a obrigação exequenda;
3) A relação subjacente não seja formal - o contrato subjacente não pode ter forma especial;
4) O título de crédito, quando chega à execução, esteja no domínio das relações imediatas, isto é,
não pode ter sido transmitido a terceiro/entrado em circulação (ex: A passa cheque a B e este
passa-o a C: o pagamento seria exigido a A, não por B, mas agora por C).
21
Estes são os mais conhecidos, mas há imensos (ex: passe do comboio é um título de crédito) - documento que constitui e
incorpora o direito de crédito a que se refere e que, se for destruído, extingue-se o título de crédito.
22
Lei Uniforme Relativa aos Cheques - DL n.º 23.721, de 29 de março de 2019.
23
Embora a doutrina maioritária defende que deixe de valer como título executivo, RP e MTS defendem que apenas há a
possibilidade de o cheque ser revogado (este só perde a força executiva com o decurso do prazo de 6 meses do A.52ºLUC).
24
REGENTE não concorda com este entendimento. Os títulos de crédito têm a natureza de negócios jurídicos que devem ser
interpretados à luz do direito especial que lhe é aplicável: as Leis Uniformes das letras, livranças e cheques. Ora, qualquer
devedor sabe que pode emitir um reconhecimento de dívida no quadro do A.458ºCC, pelo que se o devedor subscreve um
título de crédito, é porque quer vincular-se nos termos objetivos e temporais das Leis Uniformes, não se podendo atribuir
uma vontade negocial ao subscritor que de facto não existe: nada no título permite a afirmação expressa de uma vontade
negocial de reconhecimento da obrigação subjacente.
Assim, defende que o credor perde o título executivo e este, como não contém a causa da obrigação, nem sequer como
reconhecimento de dívida subjacente pode valer. O título prescrito não é sequer documento suficiente para provar por si só a
obrigação subjacente: com ele o autor apenas provará a sua emissão, cumprindo-lhe provar ainda, além da existência da
obrigação que a fez nascer, outros elementos.
Se o cheque perder a força executiva, o exequente tem de obter um outro título executivo (sentença condenatória ou
contrato autêntico).
TITULOS INJUNTÓRIOS
● Falamos aqui dos documentos avulsos do tipo injuntório – estes são, no plano prático, dos mais
modernos, na medida em que são soluções que visam evitar a produção de uma sentença;
● Têm várias características:
1. É um procedimento que pode ser judicial ou administrativo, consoante seja da competência de
um juiz ou de uma entidade administrativa;
2. Do lado do autor, a obtenção do título visa obter os resultados práticos do exercício do direito
de ação, embora não configure uma forma desse exercício, não formando caso julgado
material. Note-se que o autor pode sempre usar os meios judiciais (garantido pelo A.20ºCRP);
3. Do lado do réu, garante-se o efetivo conhecimento do procedimento de formação do título
através da citação, e o direito de defesa, imediato ou diferido;
4. Organicamente, o título incorpora um ato judicial ou um ato administrativo, com possibilidade
de recurso para um juiz;
5. Materialmente, o comando do cumprimento (injunção) ao réu é uma cominação por este ter
confessado expressa ou tacitamente (por falta de contestação) a obrigação;
6. Formalmente a injunção não é uma sentença, pois não declara direitos com valor de caso
julgado. Assim, qualquer das partes pode instaurar uma ação de simples apreciação ou uma
ação de condenação.
● Estes são então procedimentos que começam com um requerimento por parte do autor da substituição
do direito de ação. Depois, o tribunal ou a entidade administrativa notificam/citam o requerido e este é
provocado para reagir;
● No caso de haver uma omissão de contestação por parte do requerido, forma-se automaticamente um
título executivo contra ele. Não é uma sentença, mas a ideia é a de que aquele que não se defende está a
confessar-se como devedor → Assim, a revelia operante cria um título executivo;
● Então o que é este documento? Um título executivo injuntório é aquele que enuncia um comando de
cumprimento de uma obrigação ao requerido, o qual, sendo citado e não cumprindo, vê formar-se
contra si um título executivo;
● O uso da injunção para a produção de títulos executivos tem a sua expressão em:
1) Procedimentos Injuntórios Autónomos → Procedimento de injunção25 (A.7ºss do Anexo ao
DL nº269/98), procedimento especial de despejo (A.15º-B ss. Lei nº6/2006), processo especial
de prestação de contas do réu (A.944ºCPC);
2) Incidentes Injuntórios → No seio de uma ação declarativa ou executiva há uma solução nos
termos da qual, feita a notificação à parte passiva, a sua não defesa importa a constituição de
título executivo. Assim se passa na ação de despejo (A.14º4 e 6 Lei nº6/2006) e no incidente
de comunicação da dívida ao cônjuge (A.741º e A.742ºCPC);
3) Processos Injuncionais Transeuropeus (Regs. 805/2004 e 1896/2006).
25
Este DL tem um diploma preambular e um anexo. Nesse anexo, há duas realidades:
1) Ação declarativa sumaríssima – AECOP
2) Injunção (A.7ºss) – As obrigações a que se refere o art. são as referidas no A.1º do anexo: obrigações provenientes
de contrato (até 15.000€) e obrigações emergentes de transação comercial tal como definido no DL nº62/2013 (sem
limite de valor).
TÍTULOS PRIVADOS
1) Ata de Reunião de Condomínio (A.6º DL nº268/94)
● A ata que constitua ou reconheça uma obrigação do condómino que tenha a ver com a
conservação e fruição de parte comum ou com serviços de interesse comum, essa obrigação
pecuniária pode ser objeto de título executivo da própria ata.
● São condições dessa exequibilidade a ata: 1) Aprovar o montante daquelas despesas e valores,
2) estabelecer o prazo de vencimento e a quota-parte de cada condómino, e 3) identificar
devidamente o condómino-devedor;
● Note-se que o condómino devedor não tem de estar presente na respetiva assembleia, nem tem
de assinar a ata para que esta ganhe força executiva (sem prejuízo de ter de ser convocado para
a assembleia de condomínio e ter de receber a comunicação da deliberação em questão).
2) Extrato de conta emitido por sociedade sediada em Portugal, dedicada à concessão de crédito por
emissão e utilização de cartões de crédito, quanto ao saldo destes (A.1º DL nº45/79).
TÍTULOS ADMINISTRATIVOS
● As entidades administrativas, incluindo autarquias e pessoas coletivas públicas, e agentes
administrativos, beneficiam de um vasto leque de títulos avulsos de dívidas contraídas pela prática de
atos administrativos em face dos particulares;
● Fala-se, por exemplo, na certidão de dívida à segurança social.
2) EXEQUIBILIDADE INTRÍNSECA
1 - EXIGIBILIDADE DA OBRIGAÇÃO
● A obrigação tem de ser certa, líquida e exigível → Condição material de ação, que decorre dos A.713º,
A.724º1/h, A.725º1/c e A.728º/e CPC. Trata-se da própria configuração do direito à prestação que é
exigida para que esse possa consubstanciar objeto de execução;
● Aquela causa de pedir, que está certificada pelo título executivo, que consiste na aquisição de um
direito ou poder a uma prestação, tem de ser exigível, ou seja, deve corresponder a uma obrigação que
o executado deva cumprir ao tempo da citação;
● A exigibilidade é um facto complementar da ação executiva. Temos de distinguir consoante:
1. Causa de Pedir Simples → Caso em que o credor está dispensado da sua prova, competindo ao
executado demonstrar uma condição resolutiva ou a exceção do não cumprimento (ex: A
obriga-se a pagar a mercadoria a B no dia 31/04 – qualquer data de propositura da causa que
seja posterior a esse dia dispensa prova do vencimento da obrigação);
2. Causa de Pedir Complexa → Caso em que é exigida ao credor a prova sumária de um facto
cuja ocorrência não decorre do título executivo, nem constitui um facto notório (como, p.e., a
verificação da condição suspensiva da contraprestação (ex: A obriga-se a pagar a B no dia
31/04 o valor de mercadoria. Se até ao dia 15 do mesmo mês tiver recebido a mercadoria – A
tem de provar que B recebeu a mercadoria).
1. OBRIGAÇÕES COM PRAZO → São aquelas que só se vencem a partir de um determinado prazo,
pelo que a exigibilidade só se dá com esse vencimento (A.805º2/a CC). O prazo pode ser fixado pelas
partes ou judicialmente, e temos de ter atenção às situações em que o devedor perde o benefício do
prazo (A.780ºCC).
3. OBRIGAÇÕES PURAS → São aquelas obrigações sem prazo que só se vencem mediante interpelação.
Temos de distinguir duas situações:
➢ A interpelação é feita previamente à ação executiva – a obrigação venceu-se antes da ação
executiva e tornou-se exigível antes da ação executiva; assim, quando se coloca o
requerimento executivo, a obrigação já está vencida, o devedor já está em mora e, por isso,
podem pedir-se juros de mora vencidos desde a data de interpelação extrajudicial;
➢ A interpelação ainda não foi feita aquando da ação executiva – nestes casos, a citação para a
ação executiva vale como interpelação para cumprimento e, aí, só podem pedir-se juros de
mora a partir da data da interpelação. Mais, se o executado pagar no prazo de oposição à
execução, quem paga as custas é o requerente (A.535º1/b CPC).
2 - DETERMINAÇÃO DA OBRIGAÇÃO
O objeto da obrigação deve estar determinado: deve saber-se o que é (determinação qualitativa) e
quanto é (determinação quantitativa) → A lei refere-se à determinação qualitativa como certeza da obrigação
exequenda e à determinação quantitativa como liquidez da obrigação;
Se o objeto do pedido não se apresentar com a qualidade da determinação em face do título, o
exequente terá de realizar diligências preliminares de determinação do objeto da prestação (A.713ºCPC);
● Existem 2 categorias de obrigações que, embora estejam determinadas no seu objeto (sejam certas),
conhecem algumas especialidades:
1. Obrigações genéricas de quantidade:
➢ Nestes casos, a obrigação não é incerta: ela está determinada, sabe-se qual é o
conteúdo do objeto, mas falta escolher o objeto/exemplar concreto;
➢ O problema não é de liquidez, atenção, apenas falta concentrar a obrigação num
objeto concreto, cujas qualidades já se conhecem;
➢ Ex: enquanto nas obrigações genéricas de escolha o devedor se obriga a entregar uma
televisão, sendo necessário ainda determinar as características concretas dessa
televisão, nas obrigações genéricas de quantidade essas características já estão todas
definidas, faltando apenas determinar a televisão em concreto que vai ser entregue;
➢ A determinação do exemplar concreto é feita pelo agente de execução (A.861º2), e
deverá ter lugar mediante operações de individualização, pesagem ou medição;
➢ Este problema só se coloca nas ações executivas para entrega de coisa certa.
Como procedemos à liquidação da obrigação que não está quantificada em face do título?
1. Liquidação por simples cálculo aritmético (A.716º1 CPC) → Aquela que só depende de contas
aritméticas, porquanto não assenta nenhuma matéria de facto controvertida.
➢ Todos os dados necessários para a liquidação decorrem do título executivo, ou seja, estão
abrangidos pela segurança do título executivo ou são de conhecimento oficioso pelo tribunal
ou agente de execução (A.5º2/c, A.412ºCPC…);
➢ É o exemplo dos juros de mora, em que existe uma taxa legal, sendo apenas necessário aplicar
essa taxa, fazendo contas;
➢ A liquidação por simples cálculo aritmético deve ser feita pelo exequente no requerimento
executivo (A.724º1/h CPC). Esta é constituída por uma especificação no requerimento
executivo dos valores que o exequente considera compreendidos na prestação devida e pela
conclusão do requerimento executivo com um pedido líquido (A.716º1 CPC);
➢ O valor liquidado no requerimento pode ser impugnado em sede de oposição à execução.
PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS
RELATIVOS AO TRIBUNAL
COMPETÊNCIA
1) COMPETÊNCIA INTERNACIONAL
● Coloca-se um problema de competência internacional quando os sujeitos e/ou o objeto convocam a
aplicação de normas jurídicas que não apenas as portuguesas (execução plurilocalizada);
● O tribunais portugueses são internacionalmente competentes em 3 situações: (A.59ºCPC)
1. Em consequência do que estiver estabelecido em regulamentos europeus e outros instrumentos
internacionais;
2. Quando se verifique algum dos elementos de conexão dos A.62º e A.63ºCPC;
3. Quando as partes atribuem competência aos tribunais portugueses, por via convencional, nos
termos do A.94ºCPC.
INSTRUMENTOS INTERNACIONAIS
● Quando está em causa uma situação plurilocalizada, há que determinar se tem aplicação alguma
Convenção ou Regulamento da UE. Nesta sede, são importantes:
1) Regulamento 1215/2012;
2) Convenção de Lugano II.
● Ambos os Regulamentos dão força executiva a sentenças proferidas nos respetivos âmbitos;
● Estes Regulamentos têm normas de distribuição da jurisdição declarativa. E contêm normas de
distribuição da jurisdição executiva? REGENTE e MTS defendem que não, porque apesar de os A.24º5
Reg. 1215/2012 e A.22º5 Lugano II poderem dar essa ideia, estes artigos dizem apenas respeito ao
contencioso executivo (embargos de terceiro, oposição à execução, oposição à penhora), determinando
que as respetivas sentenças são executadas no lugar em que está a correr o processo principal.
● MTS refere que, nesses casos, haveria então que usar uma conexão suplementar para verificar se, em
concreto, a execução seria viável. Essa conexão suplementar é a do A.89º3 CPC: o domicílio do
executado em território português ou, pelo menos, a existência de bens penhoráveis em Portugal. E isto
porque, em regra, qualquer executado domiciliado em território português possui bens penhoráveis em
território nacional. Este último seria, afinal, o que verdadeiramente releva como fator atributivo da
competência internacional. Contudo, aquela prova da conexão relevante já não seria necessária quanto
às conexões estabelecidas para a execução do título diverso de sentença pelos nº1 e 2 do A.89º, pois
nesse caso todos os elementos de conexão que são relevantes para a aferição da competência territorial
apresentam uma ligação com o território português;
● Já o REGENTE entende que o A.62ºCPC se aplica à ação executiva, estando feito para otimizar a
relação entre a competência internacional e a localização dos bens. Segundo o REGENTE, a posição de
MTS postula uma interpretação restritiva do âmbito do A.62º sem correspondência na letra respetiva:
➢ Por um lado, o A.89º3 CPC in fine é objetivamente uma norma residual, lateral perante o
sistema e, sobretudo, feita a pensar na competência interna;
➢ Por outro lado, o uso do critério da dupla funcionalidade das normas de competência interna,
eventualmente com aquele outro do A.89º3 CPC, embora tecnicamente sofisticado,
dificilmente se poderá dizer que foi querido pelo legislador.
→ DECISÃO DO TRIBUNAL ARBITRAL → Para a execução de sentenças arbitrais que tenham tido lugar em
Portugal, é competente o tribunal do lugar da arbitragem (A.85º3 CPC → A.59º9 LAV).
→ OUTROS TÍTULOS
● Baseando-se a execução em título diverso de decisão judicial ou arbitral, temos de distinguir:
1. Se a execução for para entrega de coisa certa ou para pagamento de quantia certa com
garantia real, é competente o tribunal do lugar em que a coisa se encontre ou situe (A.89º2)27;
2. Se a execução for para pagamento de quantia certa sem garantia real ou de prestação de
facto, é competente o tribunal do lugar do domicílio do executado ou, em alternativa,
tratando-se de ação contra PC ou em que as partes tenham domicílio na área metropolitana de
Lisboa ou do Porto, o tribunal do lugar onde a obrigação devia ser cumprida (A.89º1 CPC).
26
Esta regra mantém-se em relação às condenações em custas, multas ou indemnizações (A.87º e A.88ºCPC).
27
LF → Se for devida prestação de uma pluralidade de coisas ou de uma coisa imóvel situada em mais do que um
circunscrição territorial, é competente o tribunal do lugar dos imóveis de maior valor matricial, se eles forem vários, ou,
subsidiariamente, qualquer dos tribunais da situação das coisas (A.70º3 CPC por analogia).
→ SENTENÇA ESTRANGEIRA
● As sentenças estrangeiras (proferidas por tribunal estrangeiro ou por árbitros no estrangeiro) revista e
confirmada pela Relação, segue o regime do A.86ºCPC (ex vi A.90ºCPC);
● Assim, é competente para a execução o tribunal de 1ªinstância do domicílio do executado, salvo o caso
especial do A.84ºCPC (ações em que seja parte o juiz, seu cônjuge ou certos parentes).
● Esta solução justifica-se porque enquanto não é confirmada, a sentença estrangeira não tem eficácia em
Portugal, carecendo de exequibilidade (A.706º1 CPC). Assim, a execução funda-se na sentença de
confirmação e não na sentença estrangeira confirmada (LF).
5) INCOMPETÊNCIA
● Se forem violadas as normas de competência internacional, haverá incompetência absoluta
(A.96ºCPC), que é uma exceção dilatória inominada insanável, de conhecimento oficioso:
1. Pelo juiz, no despacho liminar (A.726º2/a CPC);
2. Pelo agente de execução, remetendo o requerimento executivo para o juiz, para este proferir
despacho liminar – isto na forma sumária (A.855º2/b CPC). Ou então no despacho sucessivo
do A.734ºCPC, e conduz ao indeferimento liminar do requerimento executivo ou à absolvição
do executado da instância (A.97º1, A.99º e A.278º1/a CPC).
● Também a violação de um pacto privativo de jurisdição está sujeita a incompetência absoluta, mas aqui
já não é de conhecimento oficioso, como resulta dos A.97º e A.578ºCPC. Caberá ao executado invocar,
na oposição à execução, a violação do pacto privativo de jurisdição.
● Quanto à violação das normas de competência interna em razão da matéria (incluindo a violação das
regras de competência do juízo de execução - A.65ºCPC e A.81ºLOSJ) e da hierarquia haverá
incompetência absoluta (A.96ºCPC), que é de conhecimento oficioso;
● A violação das regras de competência em razão do território, do valor da causa ou violação de pacto de
competência gera incompetência relativa (A.102ºCPC) que é, regra geral, dependente de arguição pelo
executado em sede de oposição à execução (A.103ºCPC). Há, no entanto, situações em que a
incompetência relativa é de conhecimento oficioso no A.104ºCPC.
PRESSUPOSTOS PROCESSUAIS
RELATIVOS ÀS PARTES
● A falta destes pressupostos configura exceções dilatórias que podem servir de fundamento à oposição à
execução, ao abrigo do A.729º/c CPC e em remissão dos A.857º, A.730º e A.731ºCPC.
PATROCÍNIO JUDICIÁRIO
● A Lei é menos exigente quanto a este pressuposto em processo executivo do que em declarativo;
● Nas ações executivas cujo valor exceda a alçada da Relação ( + 30.000€), é obrigatória a constituição
de advogado (A.58º1 1ªparte CPC);
● Nas ações executivas cujo valor se contenha entre a alçada da Comarca e a da Relação (entre 5.000€ e
30.000€), o patrocínio é igualmente obrigatório, mas pode ser exercido por advogado,
advogado-estagiário ou solicitador (A.58º3 CPC);
● Quando tenha lugar uma ação ou incidente que corra por apenso ao processo executivo ou nele se
enxerta, mas siga os termos do processo declarativo (tramitação de natureza declarativa):
1. A constituição de advogado é obrigatória desde que o valor seja superior ao da alçada do
tribunal de 1ª instância (A.58º1 2ªparte CPC);
2. Se se tratar de ação de reclamação e verificação de créditos, a constituição de advogado é
obrigatória quanto à apreciação dos créditos cujo valor seja superior à alçada do tribunal de
Comarca (A.58º2 CPC).
→ LEGITIMIDADE SINGULAR
VISÃO GERAL
● Na ação declarativa, a legitimidade processual responde às perguntas de quem deve colocar a ação e
contra quem deve ser colocada a ação, considerando o objeto processual concreto;
● É preciso garantir que estejam no processo os mesmos sujeitos da relação subjetiva, uma vez que a
sentença terá efeito de caso julgado face a estes (relação entre o processo e o litígio subjacente) →
Relação de interesse direto (A.30º1 CPC);
● “O autor é parte legítima quando tem interesse direto em demandar; o réu é parte legítima quando tem
interesse direto em contradizer” (A.30º1 CPC);
● Quando o A.817ºCC estipula o direito de execução, afirma que o titular da pretensão executiva é o
credor e que essa pretensão executiva tem como polo passivo o devedor;
● O A.818ºCC determina situações em que a execução já pode ser dirigida não contra o devedor, mas
contra terceiros à dívida. Quando é isto possível? Quando estes tenham uma garantia real ou quando
tenha existido uma ação de impugnação pauliana (é formalmente terceiro, mas já não o é face aquela
dívida concreta);
● O A.606ºCC permite que, em certos casos, um credor se sub-roge ao seu devedor para executar os
devedores do devedor (ex: A é credor de B, que lhe deve 10€. B é credor de C no valor de 15€. A pode
executar C em nome de B, havendo negligência deste, no valor de 10€ [substituição processual]);
● Em sede executiva há 3 casos de legitimidade:
1) Legitimidade Literal (A.53ºCPC);
2) Legitimidade Sub Rogatória (A.54º1 CPC);
3) Legitimidade de Terceiros à Dívida (A.54º2, 3 e 4 CPC)
28
Prevista no A.627ºCC - Alguém fica como devedor de uma dívida alheia, ficando pessoalmente obrigado perante o credor.
A obrigação do fiador é acessória, na medida em que se extingue com a extinção da obrigação principal do devedor principal
(não está no mesmo plano do devedor principal, só respondendo em 2º lugar [benefício da excussão prévia], distinguindo-se
dos devedores subsidiários ou solidários) → Título executivo é o contrato de fiança ou a cláusula de fiança, desde que
autêntico ou autenticado (A.703º1/b CPC).
29
Aval é uma garantia própria das letras e livranças, previsto no A.32ºLULL, sendo o avalista um devedor solidário do
devedor principal, respondendo ao mesmo tempo que o segundo. O aval é uma garantia pessoal → Título executivo é o título
de crédito (A.703º1/c CPC).
30
Ex: Sucessão, cessão de créditos (A.577ºCC), assunção de dívida (A.595ºCC) ou endosso (A.14ºLULL e LUC).
31
Imagine-se que na ação declarativa 3 devedores foram condenados a pagar 10€, mas em sede executiva, a ação foi apenas
intentada contra um deles. A sentença que condena um devedor não pode ser oposta aos outros co-devedores (A.522ºCPC),
mas estes, se quiserem, podem invocá-la a seu favor (efeito secundum eventum litis). A.635ºCC estende o regime ao fiador;
32
Imagine-se que há vários credores, mas apenas um deles instaurou ação executiva contra o devedor. RP e MTS entendem
que, neste caso e ao abrigo do A.55ºCPC, a sentença condenatória aproveita a todos os credores, estando estes abrangidos
pelo caso julgado.
33
Ex: sub rogação na aceitação da herança, acautelando a transmissão de património para que o possa executar.
● O A.54º4 CPC admite que se possa colocar a execução não só contra o devedor, mas também contra o
terceiro que está na posse do bem do devedor (ex: arrendatário) – trata-se de um caso de legitimidade
passiva plural → REGENTE: ao contrário do que sucede em sede do A.54º2 CPC (onde o terceiro
garante tem legitimidade para ser executado sem o devedor), o terceiro possuidor não pode ser
executado sozinho: deve ser demandado juntamente com o devedor.
ILEGITIMIDADE SINGULAR
● A ilegitimidade singular é uma exceção dilatória insanável de conhecimento oficioso, que leva ao
indeferimento liminar do requerimento executivo (A.726º2/b CPC) ou, se conhecida mais tarde, ao
abrigo do A.734ºCPC, deve absolver o executado da instância e extinguir a execução.
● Na forma sumária cabe ao agente de execução suscitar a intervenção do juiz quando se lhe afigure
provável a ocorrência da ilegitimidade (A.855º2/b conjugado com o A.726º2/b CPC).
● A falta de legitimidade constitui uma exceção dilatória que pode ser fundamento à oposição à execução
pelo executado (A.729º/c CPC).
34
O título executivo é a própria sentença de impugnação pauliana.
→ LEGITIMIDADE PLURAL
LITISCONSÓRCIO NECESSÁRIO
Encontra-se consagrado no A.33ºCPC, que estabelece que o litisconsórcio é necessário na ação executiva
quando a realização coativa de um direito a uma prestação apenas por todos os credores ou contra todos os
devedores pode ter lugar, seja por lei, vontade das partes ou indivisibilidade material da própria prestação;
35
Se for penhorado bem próprio do executado que seja imóvel ou estabelecimento comercial, deve ser feita a citação do
cônjuge terceiro (A.786º1/a CPC), para que aceda ao estatuto processual previsto no A.787º1 CPC : será equiparado ao
executado em termos de poderes processuais.
Se for penhorado bem comum, o cônjuge terceiro é alheio à dívida, mas não é alheio ao bem. Assim, terá de ser citado para
que promova a separação da sua meação (A.786º1/a, A.740º e A.787º2 CPC).
- Ambos os cônjuges respondem pela dívida que se considere comum (A.1691º1/a CC). - Respondem os bens próprios dos executados, nos termos gerais;
TÍTULO EXECUTIVO - Respondem os bens comuns e, subsidiariamente, os bens próprios solidariamente (A.1695º1 CC). - Mantém-se a discussão do Litisconsórcio Necessário vs Voluntário.
CONTRA OS 2 CÔNJUGES
(Dívida Comum) - O exequente deve propor ação executiva contra ambos os cônjuges (REGENTE e MTS - litisconsórcio - Se ambos os cônjuges forem demandados, respondem todos os
necessário) OU pode escolher entre demandar ambos ou apenas um deles (LF - litisconsórcio voluntário). bens destes, como devedores parciários (A.1695º2 CC).
- Ambos os cônjuges respondem pela dívida comunicável (A.1691º + A.1693º2 + A.1694º1 CC). - O exequente apenas pode propor a ação contra o cônjuge que se
encontre obrigado pelo título executivo.
- Respondem os bens comuns e, subsidiariamente, os bens próprios solidariamente (A.1695º1 CC).
- Respondem os bens próprios do executado, nos termos gerais.
- TÍTULO JUDICIAL → O exequente apenas pode propor a ação executiva contra o cônjuge que se encontre
obrigado pelo título judicial, não existindo comunicabilidade da dívida na execução (A.741º1 a contrario). - TÍTULO EXTRAJUDICIAL → REGENTE defende a aplicação
analógica dos nº2 a 6 do A.741ºCPC, quanto aos mecanismos de
- TÍTULO EXTRAJUDICIAL → O exequente apenas pode propor a ação executiva contra o cônjuge que se comunicabilidade da dívida, de forma a estender a penhora aos bens
TÍTULO EXECUTIVO encontre obrigado pelo título executivo, mas o exequente ou o executado podem alegar a comunicabilidade próprios do cônjuge do executado.
CONTRA 1 CÔNJUGE da dívida ao cônjuge na ação executiva (A.741º + A.742ºCPC), tendo este de reagir à alegação de
(Dívida Comunicável) comunicabilidade no prazo de 20 dias:
1) Aceita → Dívida considera-se comum e respondem os bens comuns e, subsidiariamente, os bens
próprios de cada um dos cônjuges, solidariamente;
2) Não se Pronuncia → Dívida considera-se comum e respondem os bens comuns e,
subsidiariamente, os bens próprios de cada um dos cônjuges, solidariamente;
3) Não Aceita e Requer Separação → Dívida considera-se própria do executado e respondem apenas
os bens próprios deste e a sua meação nos bens comuns;
4) Não Aceita e Não Requer Separação → Dívida considera-se própria do executado, mas respondem,
além dos bens próprios deste, também todos os bens comuns do casal.
- Apenas responde o cônjuge que contraiu a dívida (A.1692ºCC). - Respondem os bens próprios do executado, devendo a ação
executiva ser proposta apenas contra este, nos termos gerais.
TÍTULO EXECUTIVO - Respondem apenas os bens próprios do executado e, subsidiariamente, os bens que integrem a meação deste
CONTRA 1 CÔNJUGE no património comum (A.1696º1 CC).
(Dívida própria)
- O exequente deve propor a ação executiva contra o cônjuge-devedor, sendo o outro citado para requerer a
separação de bens, de forma a proteger da penhora a sua meação nos bens comuns (A.740º1 CPC).
FORMAS PROCEDIMENTAIS
● O processo comum para pagamento de quantia certa é ordinário ou sumário (A.550º1 CPC);
● A diferenciação entre as formas ordinária e sumária é apenas relativa à fase introdutória,
nomeadamente quanto à admissão liminar do requerimento e à essencialidade ou não do despacho
judicial liminar. Assim, a partir da fase de citação (A.786ºCPC ss), há apenas 1 sequência processual;
● A forma ordinária é aquela em que existe sempre despacho liminar e citação prévia à penhora, enquanto
a forma sumária é aquela em que não existe despacho liminar ou citação prévia à penhora:
➢ Ordinária (A.724ºss CPC) → A secretaria admite o requerimento, o juiz despacha-o
liminarmente e manda citar o executado para pagar ou se defender36 (fase introdutória para
contraditório);
➢ Sumária (A.855ºss CPC) → O agente de execução admite o requerimento, realiza a penhora e,
só depois, cita o executado37 (fase introdutória com contraditório diferido).
● O processo comum para pagamento de quantia certa só segue a forma sumária quando a Lei o impuser
expressamente (casos do A.550º2 e A.626º2 CPC), sendo um elenco taxativo;
● A execução para pagamento de quantia certa tem uma sequência procedimental base:
1. Fase Introdutória → Compreende o requerimento executivo, recebimento, apreciação judicial
liminar (por vezes eventual), citação do executado e oposição à execução (eventual);
2. Fase de Penhora → Compreende atos preparatórios, atos de penhora, notificação e oposição à
penhora do executado ou de terceiro;
3. Fase do Concurso de Credores;
4. Fase de Intervenção do Cônjuge do Executado (eventual);
5. Fase da Venda Judicial;
6. Fase do Pagamento.
36
Há exceções à citação prévia no A.727ºCPC → Quando o exequente alegar factos que justifiquem o receio de perda da
garantia patrimonial do seu crédito e oferecer de imediato prova, e o juiz assim o considere.
37
Há exceções à inexistência de despacho liminar o juiz no A.855º2/b CPC e exceções quanto à inexistência de citação
prévia (A.855º5 CPC → Quando a penhora versar sobre bens imóveis ou estabelecimento comercial em execução de título
extrajudicial de obrigação vencida de valor não superior ao dobro da alçada de 1ªinstância [10.000€]).
● Às execuções especiais, além das suas regras próprias (incluindo remissões para determinados regimes
da execução comum), aplicam-se subsidiariamente as normas do processo ordinário (A.551º4 CPC).
FORMA ORDINÁRIA
§1 - IMPULSO PROCESSUAL
REQUERIMENTO EXECUTIVO
● O requerimento executivo é o ato pelo qual o credor dá o impulso processual inicial à ação executiva,
numa clara expressão do princípio do dispositivo;
● A acompanhar o requerimento executivo tem de estar sempre o título executivo (A.724º4/a CPC);
● A falta de elementos comuns acarreta a recusa do seu recebimento pela secretaria ou pelo agente de
execução, consoante a forma seja ordinária ou sumária (A.725º1/b) e c) e A.855º2/a) CPC.
● [...]
§3 - OPOSIÇÃO À EXECUÇÃO
VISÃO GERAL
● Uma vez citado, o executado pode:
1) Pagar voluntariamente a responsabilidade processual: custas e divida (A.846º a A.849ºCPC);
2) Deduzir oposição à execução, no prazo de 20 dias a contar da citação (A.728ºss CPC);
3) Não fazer nada, continuando o processo normalmente sem existirem consequências
processuais (ao contrário do processo declarativo, não há revelia por falta de oposição).
● A oposição à execução é o meio processual pelo qual o executado exerce o seu direito de defesa perante
o pedido do exequente (princípio do contraditório);
● Processualmente, a defesa do executado não integra o procedimento de execução: trata-se de uma ação
declarativa – constituída por PI, eventual contestação, prova, julgamento e sentença final –, incidental à
execução, fisicamente correndo por apenso38.
● É uma ação autónoma na instância, mas acessória quanto à sua sobrevivência e funcionalidade ;
● Consequências de ser uma ação incidental → No plano formal é uma ação que goza de alguma
simplificação processual:
1. Não admite reconvenção → Nem o executado pode pedir a condenação do exequente, nem o
exequente pode pedir a condenação do executado noutra obrigação diferente;
2. Tem uma prova mais simples;
3. Deve ser julgada em 3 meses;
4. Só admite causas de pedir específicas admitidas nos A.729ºCPC (execução baseada em
sentença judicial), A.730ºCPC (execução baseada em sentença arbitral), A.731ºCPC
(execução baseada em título extrajudicial) e A.857ºCPC (execução baseada em injunção);
5. Não admite cumulação de objetos processuais → REGENTE: Mas pode-se pedir que seja
declarada a inexistência da dívida em cumulação com a extinção da execução (A.732º6 CPC).
● Efeitos da Procedência → Extingue a execução, fazendo caso julgado formal (A.732º4 + A.620ºCPC).
Mas há uma exceção: se for discutida a existência, validade ou exigibilidade da obrigação exequenda,
então a decisão faz caso julgado material quanto a esta matéria (A.732º6 + A.621ºCPC).
● Objeto Mediato da Oposição à Execução:
➢ Pedido → Pedido de extinção total ou parcial da execução (A.732º4 CPC). Mas se for
impugnada a existência ou a exigibilidade da obrigação exequenda, então é possível deduzir
um segundo pedido, em cumulação simples (REGENTE);
➢ Causa de Pedir → As causas de pedir não são livres, estando determinadas na Lei 39:
1. Sistema Restritivo da Causa de Pedir → Quando o título executivo for uma sentença,
só se podem deduzir como causa de pedir os fundamentos que a lei expressamente
elenca como tal no A.729º (sentenças judiciais) ou no A.730º (sentenças arbitrais);
2. Sistema Não Restritivo da Causa de Pedir → Quando o título executivo for diverso de
sentença, podem ser deduzidos todos os fundamentos que poderiam ser deduzidos na
contestação (A.571ºCPC - defesa por impugnação e defesa por exceção dilatória ou
perentória), além daqueles expostos no A.729ºCPC (ex vi A.731ºCPC);
3. Sistema Intermédio → Quando o título executivo for uma injunção, regra geral só se
podem deduzir os fundamentos que poderiam ser deduzidos contra uma sentença.
Mas há várias exceções a esta regra (A.857ºCPC).
38
Como afirma ANSELMO CASTRO, é uma contra-ação acessória à ação executiva: é uma ação que só vive no âmbito da
ação executiva, tanto que se se extinguir a ação executiva extingue-se a ação de oposição à execução.
39
REGENTE → A distinção justifica-se porque, quando o título for diverso de sentença, o executado ainda não teve
oportunidade de se defender em tribunal. Se o título é uma sentença, então não podem ser invocados fundamentos de
contestação pelo ónus da concentração da defesa na ação declarativa e pelo princípio do caso julgado da sentença.
● Quais os fundamentos gerais que posso deduzir contra qualquer título executivo?
➢ Fundamentos de forma → Exceções dilatórias; inexistência ou inexequibilidade do título
executivo; falsidade do processo; nulidade ou anulabilidade da confissão ou transação (nas
sentenças homologatórias);
➢ Fundamentos de Mérito → Incerta, inexigibilidade ou iliquidez da obrigação exequenda;
impugnação dos factos constitutivos da obrigação (apenas admissível nos títulos diversos de
sentença); exceções perentórias extintivas ou modificativas da obrigação, desde que esse facto
seja superveniente à ação declarativa40 (se o título for sentença).
40
Embora MTS defenda que cabem na alínea g) do A.729ºCPC tanto a superveniência objetiva (facto novo) como a subjetiva
(facto antigo mas que o executado só tem conhecimento agora), REGENTE só enquadra a superveniência objetiva. Assim, se
o executado quiser trazer factos “velhos”, tem de colocar uma ação de simples apreciação autónoma (revisão de sentença).
41
REGENTE defende que o momento relevante é o trânsito em julgado da sentença declarativa.
dos autos, ou cujos fundamentos não constem dos A.729º, A.730º e A.731ºCPC, o REGENTE entende
que não parece que em geral se possa opor à execução por simples requerimento, porque isso viola a
regra de que a atuação processual deve ser aquela expressamente determinada, sob pena de erro no
meio processual que determina a nulidade (A.193ºCPC).
➢ MTS → Se houver litisconsórcio necessário aplicamos o A.634º1 CPC, sendo que a decisão
aproveita aos demais litisconsortes. Já no caso de haver litisconsórcio voluntário, a decisão
pode aproveitar aos demais pela aplicação analógica do A.634º2 CPC se se verificar:
1. Fundamento comum (ex: inexequibilidade do título);
2. Se o executado não-oponente for titular de um interesse dependente do interesse do
oponente (ex: por ser o terceiro garante do A.54º2 CPC → Como era o caso);
3. Se o executado não-oponente for um devedor solidário.
IMPULSO PROCESSUAL
● O prazo para deduzir oposição à execução é de 20 dias (A.728º1 CPC) e, a estrutura da PI é
normalíssima, tendo de respeitar os requisitos do A.552ºCPC;
● Com a PI devem ser arroladas as testemunhas e requeridos os demais meios de prova (A.293ºCPC) e o
executado deve, querendo, requerer a substituição da penhora pelo pagamento de caução idónea que
garanta os fins da execução42 (A.751º7 CPC);
● O valor da oposição é o valor da execução (materialmente é uma contestação ao pedido executório -
tenta-se impugnar e invocar exceções -, mas formalmente é uma PI);
● Há determinados aspetos que diferem a oposição à execução de uma “normal” PI:
➢ O executado não entra em revelia se não se opuser à execução e não vale a presunção de
confissão dos factos (A.515ºCPC);
➢ Vale o princípio da concentração da defesa - Tudo o que tiver para deduzir tem de ser feito em
sede de oposição. Mas o oponente não pode trazer impugnações ou exceções que ele não tenha
feito anteriormente (A.563º2 CPC a contrario);
➢ O prazo para cada embargo é individual (A.728º3 CPC).
CONTESTAÇÃO
● Se o exequente não contestar a oposição à execução? O A.732º3 CPC consagrou que se aplica o regime
da revelia, mas com uma exceção: não se consideram confessados os factos que estejam em oposição
com aqueles alegados expressamente no requerimento executivo43;
● REGENTE defende que não há um ónus de contestação dos embargos, mas há uma conveniência:
evita-se o “empate” que levaria sempre à necessidade de produção de prova.
SENTENÇA
● A oposição “cria” uma ação declarativa acessória da ação executiva, que apenas tem 3 articulados: a
oposição (que vale como PI), a contestação aos embargos (articulado eventual), e segue-se logo para a
fase de saneamento, julgamento e sentença (A.732º2 CPC)44;
● A sentença deve ser proferida no prazo máximo de 3 meses, a contar do recebimento dos embargos
(A.723º1/b CPC). Esta sentença está sujeita a recurso, nos termos gerais.
➢ Pode ser uma sentença de forma, isto é, o tribunal decidiu não conhecer dos embargos
deduzidos (ex: por extemporaneidade ou falta de pressupostos processuais), absolvendo-se o
exequente da instância dos embargos;
➢ Pode ser uma sentença de mérito, que julga os embargos, que considera que estes são ou não
procedentes: se os considerar improcedentes, o exequente será absolvido do pedido dos
embargos; se os considerar procedentes, será o embargante absolvido da instância executiva
(se os fundamentos do embargo forem formais), ou do pedido executivo (se os fundamentos
do embargo versarem sobre a existência/determinabilidade/exigência/liquidez da obrigação);
➢ A sentença dos embargos faz apenas caso julgado formal e extingue a execução (A.732º4 e
A.620ºCPC), exceto se houver pronúncia quanto à existência, determinabilidade, exigência ou
liquidez da obrigação exequenda, caso em que fará caso julgado material, para evitar que se
volte a discutir o mesmo assunto numa posterior ação judicial (A.732º6 e A.621ºCPC).
42
Atenção que esta caução é diferente da prestada para a suspensão da execução (A.733ºCPC)! Neste caso, pretende-se
apenas o levantamento da penhora.
43
REGENTE → Se o exequente se limitou a juntar título executivo e não esgrimir nenhum facto, então a exceção não se
pode aplicar. Mas se o exequente já expôs os factos constitutivos do seu direito no requerimento, não fazia sentido ter de os
repetir em sede de contestação à oposição. No entanto, de certeza que o exequente nada disse, no requerimento, sobre os
factos extintivos, modificativos ou impeditivos, pelo que, quanto a estes, terá de contestar, sob pena de os confessar.
44
REGENTE defende que não faz sentido nenhum enxertar uma ação declarativa tão complexa numa ação executiva: alarga
muito mais os prazos, pelo que devia ser, ao invés, logo a fase de julgamento.
PROCEDIMENTO CRONOLÓGICO
1. Não havendo recusa de admissão da oposição à execução por parte da secretaria, é remetido ao juiz,
que pode indeferir liminarmente (pedido manifestamente improcedente, exceções dilatórias insupríveis
de conhecimento oficioso ou extemporaneidade dos embargos - A.732º1 CPC);
2. Pode haver despacho de aperfeiçoamento ou despacho de saneamento;
3. Se não houver indeferimento, o juiz cita o exequente para este contestar a oposição à execução
(A.732º2 CPC), e não suspende a marcha da execução (A.733º1 CPC a contrario);
4. Se for requerida a suspensão da execução, nos termos do A.733ºCPC (não são fundamentos
cumulativos, basta que se verifique um!), não se admite mais atos processuais (venda e pagamento),
mas não afeta a validade dos atos já praticados (ex: penhoras já executadas);
5. Se a oposição for liminarmente recusada, pode ainda assim haver a suspensão da execução pelos
fundamentos do A.733ºCPC? REGENTE defende que não, porque a suspensão só pode ser decretada
depois do recebimento dos embargos;
6. A execução suspensa volta a prosseguir se a oposição estiver parada por 30 dias por motivos de
negligência do exequente;
7. Se o juiz não decretar a suspensão da execução, então a marcha continua e passamos para a fase de
venda e pagamento. Mas há alguns direitos do A.733ºCPC que aproveitam ao executado que não obteve
a suspensão (ex: nenhum credor pode ser pago enquanto estiverem pendentes os embargos).
➢ Pode haver suspensão da oposição à execução por prejudicialidade (ex: está a discutir-se a existência da
obrigação exequenda numa outra ação)? A doutrina maioritária defende que não.
45
Também pode acontecer na forma ordinária, se for utilizado o mecanismo do A.727ºCPC.
➢ REGENTE defende que o A.858º se aplica mesmo que não haja penhora, uma vez que há
danos que advêm logo da citação para a execução, sendo, no fundo, a consagração de
responsabilidade por abuso de execução (e não, apenas, abuso de penhora).
● Este pedido de indemnização deduz-se na própria ação ou em ação autónoma? A Lei não consagra uma
solução, pelo que o REGENTE defende que:
1. Se os embargos foram totalmente procedentes, extinguiram a instância executiva, pelo que
neste caso tem de ser colocada uma ação condenatória autónoma;
2. Se os embargos foram parcialmente procedentes, então a instância executiva prossegue, pelo
que neste caso podemos admitir a dedução do pedido indemnizatório na própria ação.
§4 - FASE DA PENHORA
OBJETO DA PENHORA
● É uma fase processual que só existe na execução para pagamento de quantia certa. Mas note-se que,
tanto a execução para entrega de coisa certa como para prestação de facto podem, a dada altura, ser
convoladas em execução para pagamento de quantia certa (A.867º e A.869ºCPC);
● O termo penhora tanto designa um ato processual como uma fase:
1. A penhora é o ato processual pelo qual o Estado retira ao executado os poderes de
aproveitamento e disposição de um direito patrimonial que está na sua titularidade, podendo
fazê-lo, desde logo por via do A.817ºCC, e porque a lei admite restrições razoáveis ao direito
de propriedade. Repare-se que o ato de penhora não cumpre uma função sancionatória, mas
sim uma função instrumental: a execução não termina com a penhora, ela salvaguarda a
utilidade final do direito de execução do credor. No fundo, a penhora é instrumental da venda
judicial porque, se não houvesse penhora, os bens poderiam desaparecer;
2. A fase da penhora é um conjunto-sequência de atos processuais de preparação, realização e
impugnação do ato de penhora.
● Frequentemente falamos de penhora de bens, mas esta incide sobre bens ou sobre direitos? A penhora
incide sobre direitos que, por sua vez, incidem sobre bens. Como a penhora é instrumental em relação à
venda executiva e como o objeto da venda executiva é a transmissão de direitos, tal significa que a
penhora incide imediatamente sobre direitos e só mediatamente sobre bens, através da sua apreensão;
● Assim, quando a lei faz a distinção entre penhora de bens imóveis, móveis e de direitos, a distinção está
a ser feita em função dos bens que são objeto do direito penhorado; mas toda a penhora é sempre
penhora de direitos.
46
Ex: os custos com honorários do advogado.
SUJEITOS DA PENHORA
● No plano subjetivo, a regra coincide com a regra dos A.817ºCC e A.53ºCPC: apenas podem ser
penhorados os bens do devedor. Mas atenção: a lei, nomeadamente no A.735º2, admite que, em certos
casos especiais, possam ser penhorados bens de terceiros à dívida;
● Quando podemos executar terceiros e, por isso, penhorar bens de terceiros?
➢ Casos em que haja garantia real sobre bem de terceiro (A.54º2 CPC e A.818ºCC) e que,
quanto ao terceiro, foi obtida sentença de impugnação pauliana (A.616º1 e A.818ºCC);
➢ Ou seja, só se podem penhorar bens do executado, seja ele devedor ou terceiro;
➢ Para estes efeitos, os devedores subsidiários não são terceiros à dívida: fiador e sócio de
sociedade de responsabilidade ilimitada, entre outros, estão sujeitos à penhora nos termos dos
A.735º1 e A.53º1 CPC, enquanto devedores;
➢ A.747º1 CPC → Embora nunca se possa prejudicar terceiros sem que estejam a ser
executados, pode acontecer que os terceiros que estejam na posse ou tenham direitos reais
menores sobre o bem possam ser prejudicados, tendo a penhora efeitos sobre a esfera jurídica
de não executados (ex: pode penhorar-se um automóvel, mesmo que esteja a ser retido, em
direito de retenção, na oficina. Estes são terceiros que, indiretamente, sofrem alguns efeitos da
penhora). Neste caso o objeto da penhora não é o direito do terceiro mas, ainda assim, a
penhora irá restringir a sua posse ou detenção sobre os bens, garantindo a Lei, no entanto, que
esses terceiros possam lançar mão de meios de defesa (embargos de terceiro);
➢ Coloca-se ainda a questão: poder-se-ão penhorar bens de terceiro fora destes limites, se este
consentir? Se há a possibilidade de a prestação ser feita por terceiro, bem como a possibilidade
de a execução cessar por pagamento de terceiro, então é lícita a indicação pelo executado de
bens de terceiro, desde que o titular desses bens indicados não se oponha à penhora (Ac. TRP
de 25/06/1996 e REGENTE).
47
A regra, tanto para as pessoas singulares como para as pessoas coletivas, é a da responsabilidade universal e imediata
(A.601º e A.817ºCC): pelo cumprimento da obrigação respondem todos os bens do devedor suscetíveis de penhora, sem
prejuízo dos regimes estabelecidos em consequência da separação de patrimónios. Podem, no entanto, existir limitações
legais (ex: sócios de uma SA) e convencionais (A.602º e A.603ºCC) à responsabilidade patrimonial que afastam a
universalidade, nuns casos, ou a imediação da responsabilidade noutros.
● O Título Executivo pode ser uma sentença condenatória, uma injunção ou um documento particular
autenticado (ex: contrato de fiança ou cláusula de fiança num contrato);
● A existência de uma fiança pode determinar a forma do processo: Se a ação for proposta apenas contra
o fiador, e este não tiver renunciado ao benefício da excussão prévia, a execução corre sempre na forma
ordinária (A.550º3/d CPC). Em qualquer outra circunstância, aplica-se a forma sumária (nº2);
● É necessário que o procedimento garanta uma forma do fiador invocar o benefício da excussão prévia:
➢ Se a execução do fiador se fizer na forma ordinária, poderá invocar o benefício da excussão
prévia no prazo para a oposição à execução (20 dias), em requerimento avulso (A.745º1 CPC).
Se for procedente, suspense-se o processo contra o fiador e provoca-se a intervenção do
devedor principal, por citação, e passa-se para a penhora dos seus bens (A.745º2 CPC);
➢ Se a execução correr na forma sumária, e o fiador for executado, penhoram-se primeiro os
bens e cita-se depois (A.856ºCPC). Neste caso, só poderá invocar o benefício da excussão
prévia após à penhora, aqui já em sede de oposição à penhora (A.784º1/d CPC), e não em
requerimento avulso. Se a oposição à penhora for procedente, suspende-se o processo contra o
fiador e provoca-se a intervenção do devedor principal, por citação, passando-se para a
penhora dos seus bens.
48
Pode ser objetiva (excussão real - garantias reais) ou subjetiva (excussão prévia - garantias pessoais).
49
O credor-exequente pode ser condenado por litigância de má-fé quando, tratando-se de execução singular do devedor
subsidiário, a alegação de que o devedor renunciara à excussão prévia se subsumir a alguma das alíneas do A.542º2 CP.
50
A hipoteca é contemporânea da fiança se, apenas por motivos imprevisíveis, se constituiu já em data posterior a esta, (ex:
houve um problema com a escritura da hipoteca e a data da hipoteca ficou posterior à data da fiança). Trata-se de situações
em que a fiança foi prestada na condição de haver uma garantia real pré-existente.
DISPONIBILIDADE E TRANSMISSIBILIDADE
● Só podem responder por dívidas (ser objeto de penhora) as situações jurídicas ativas de natureza
patrimonial, que estejam na disponibilidade do titular, e cuja titularidade possa ser transmitida
forçadamente nos termos da lei substantiva;
● Assim, não são penhoráveis direitos indisponíveis, como sejam as coisas fora do comércio (A.202º2
CC - ex: bens do domínio público do Estado e das restantes pessoas coletivas públicas - A.736º/b CC),
ou coisas que, pela sua natureza, não são suscetíveis de apropriação individual (ex: direito aos
alimentos);
● Há, ainda, direitos que embora disponíveis, são intransmissíveis, ou seja, que o próprio titular pode
renunciar a eles, mas não os pode transmitir a outrem. Podemos distinguir entre:
➢ Intransmissibilidade Objetiva → Direitos disponíveis, mas que são intransmissíveis em razão
do seu objeto. À luz do A.736º/a CPC, são absolutamente impenhoráveis as coisas ou direitos
inalienáveis, ou seja, intransmissíveis (ex: direito de uso e habitação - A.1488ºCC, a servidão
predial - A.1545º1 CC, direito à locação desde que seja para fim habitacional - A.1038º/f CC,
direitos contratualmente intransmissíveis, ou quando a alienação for nula por lei - A.280ºCC);
➢ Intransmissibilidade Subjetiva → A transmissão do direito disponível e alienável está
dependente da autorização de alguém51 ou só pode ser feita por alguém. Na primeira situação,
resulta que, embora o direito seja do executado, só com a autorização de terceiro é que pode o
direito ser transmitido (ex: o lojista apenas pode ceder a sua posição contratual com o
consentimento dos donos da loja). Quanto à segunda situação, o executado, que é o titular do
direito, nem sequer tem a faculdade de dispor dele (ex: maiores acompanhados).
IMPENHORABILIDADES
51
Essa autorização pode ser imposta pela Lei ou pode decorrer de uma convenção.
52
REGENTE entende que a ideia de “bons costumes”, acaba por ter um papel reduzido, na medida em que todos estes casos
poderiam ser lidos à luz da CRP: bastaria dizer que são impenhoráveis os bens cuja penhora constitua uma ofensa excessiva
ao direito de propriedade (A.18º2 CRP) ou viole a dignidade do executado (A.1ºCRP). Ou seja, o sistema do A.736º remete
para valores normativos que hoje em dia precisam ser atualizados.
53
REGENTE entende que existem outros bens absolutamente impenhoráveis, não previstos no A.736ºCPC, mas que
decorrem dos limites constitucional que se sobrepõe a todos os outros – a dignidade da pessoa humana e a proporcionalidade
das restrições aos direitos fundamentais do executado. Assim, a CRP constitui uma verdadeira cláusula geral de
impenhorabilidade absoluta.
54
Jurisprudência tem interpretação muito restritiva: o bem tem de ser completamente imprescindível para que o executado
desenvolva a sua atividade (ex: instrumentos de médico liberal não cabem, porque ele pode trabalhar por conta doutrem).
55
O que são bens imprescindíveis a qualquer economia doméstica? REGENTE entende que qualquer economia doméstica
aponta para um padrão de mínimo de dignidade social do agregado familiar residente na casa de habitação efetiva do
executado, sendo que este mínimo não se afere por um padrão médio, mas por aquilo que seja necessário para assegurar os
direitos pessoais mínimos (padrão mínimo): alimentação, saúde, proteção e comunicação básica. Ou seja, são indispensáveis
os bens que, sendo retirados ao executado, o deixarão numa situação indigna ou marginal.
56
Ex: Se alguém auferir 900€ mensais líquidos, vai retirar-se ⅓, sobrando 600€. Como o que sobra, depois de retirado ⅓, é
inferior ao salário mínimo nacional, tem de se baixar a penhora; Já se alguém auferir 1.200€ líquidos, se retirarmos ⅓,
sobram 800€. Como esses 800€ estão acima do salário mínimo nacional, não há problema
57
Ex: Se alguém auferir 6,000€ líquidos, se retirarmos 1/3 sobram 4,000€, que é superior a 3x o salário mínimo (2,115€).
Assim, pode ser penhorado também a diferença entre o que sobra e os 2,115€.
58
Cabe ao executado demonstrar a origem do dinheiro ou do depósito bancário para efeitos da invocação do A.739ºCPC e,
através dele, do A.738º1 CPC, em sede de oposição à penhora (A.784º1/a CPC). Mas, se não se souber de onde veio aquele
dinheiro, penhorar-se-á tudo o que se encontrar, exceto o valor do salário mínimo ou, tratando-se de obrigação de alimentos,
o valor correspondente à pensão social (A.738º5 CPC).
● Os atos preparatórios são todos aqueles necessários para que se realize o ato de penhora. O ato de
penhora é, em sentido amplo, o ato de apreensão de um bem para efeitos executivos; mas para que se
penhore um bem, é necessário preparar a penhora: saber que bens existem, se estão em nome do
executado, onde estão, qual o seu valor, como se identificam, se há direitos de terceiro...
● Esses atos prévios são a indicação de bens, a consulta do registo informático de execuções, a
localização e identificação dos bens penhoráveis, normalmente por consulta das bases de dados. Nem
todos têm de ocorrer em concreto, salvo a consulta do registo informático de execuções.
59
Fora destes casos, penhora feita em desrespeito da nomeação dos bens do exequente é nula, e por isso objeto de arguição
junto do juiz (A.195º1 CPC). Trata-se de uma violação grave do princípio do dispositivo, pois a nomeação de bens é um ato
processual eficaz, com efeito excludente de outras penhoras.
60
A.855º5 → Nas execuções sumárias instauradas ao abrigo do A.550º2/d) CPC, referente a execução de título extrajudicial
de obrigação pecuniária vencida cujo valor não exceda o dobro da alçada da 1ª instância, a penhora de bens imóveis,
estabelecimento comercial, direito real menor que sobre eles incida ou de quinhão em património que os inclua só pode
realizar-se depois da citação do executado, mediante conclusão do processo ao juiz para despacho nos termos do A.726ºCPC.
● Sendo a indicação de bens pelo exequente uma faculdade, a sua falta não determina nenhuma
cominação ao exequente no plano da realização da penhora, pois esta não deixa de ser feita por esse
facto. Contudo, quando feita, assume a maior das importâncias:
➢ No plano prático, traz a vantagem de permitir ao agente de execução aligeirar as diligências
prévias à penhora e direcionar o objeto da penhora;
➢ No plano formal, a indicação de bens pelo exequente não constitui uma simples informação
de bens, mas uma nomeação dos bens que devem ser penhorados antes de todos os restantes.
Assim, o agente de execução fica vinculado, sob pena de nulidade, a penhorar esses bens.
● Já o executado, atualmente, não tem de indicar bens à penhora, sendo apenas chamado à ação para
“pagar ou opor-se à execução” (A.726º6 CPC)61. Contudo, este não está impedido de o fazer62;
● Há apenas uma situação em que o executado é notificado para indicar bens à penhora – no caso em que,
no prazo de três meses a contar da notificação feita pela secretaria ao agente de execução para início
das diligências de penhora, não se encontrem bens penhoráveis (A.750ºCPC). Neste caso, o agente de
execução notifica, em simultâneo, o exequente para especificar os bens que pretende ver penhorados na
execução e o executado para indicar bens à penhora. Assim, se o executado:
1. Em vez de indicar bens, efetuar o pagamento voluntário da dívida exequenda e das custas do
processo (A.846º e A.847ºCPC), a execução extinguir-se-á (A.849º1/a) e b) CPC);
2. Indicar bens suficientes para a satisfação da obrigação (crédito exequendo e custas – A.735º3),
para o que dispõe de um prazo de 10 dias (A.750º2 CPC);
3. Não indicar bens à penhora e também não pagar, extingue-se a execução (A.750º2), mas com a
cominação de que sendo a indicação um dever processual, a omissão ou falsa declaração de
bens pelo executado, importa a sujeição a sanção pecuniária compulsória (A.850º5 e A.750º1).
61
O A.726º6 CPC foi alterado na reforma de 2013: o executado era chamado para “pagar ou indicar bens à penhora”.
62
REGENTE defende que o exequente pode pedir a colaboração do executado (A.7º1 CPC) para identificar bens penhoráveis
(não no requerimento executivo, mas, por exemplo, em reforço ou substituição de bens (A.751º4 CPC) e de que o executado
deverá responder ativamente com boa fé processual (A.8ºCPC).
● A indicação de bens é um ato processual que nada determina quanto ao reconhecimento da própria
dívida exequenda por parte do executado (não é confissão da dívida ou do pedido). Por isso, o
cumprimento do dever de indicação é compatível com a dedução de oposição à execução.
ATO DA PENHORA
● A lei dedica os A.755º a A.783º ao ato de penhora de bens imóveis, móveis e de direitos;
● O que distingue estes três tipos de penhora é o regime do procedimento de apreensão dos bens sobre
que incidem os direitos penhorados
● Assim temos de distinguir:
1) A penhora de imóveis e de móveis é uma penhora dos direitos reais de gozo em titularidade e
posse exclusivas que incidam sobre aqueles bens, podendo-se penhorar tanto a propriedade,
como o usufruto, superfície ou outro direito real menor de gozo;
2) Se a penhora tiver por objeto direitos reais de gozo em contitularidade (ex: compropriedade ou
co-usufruto), os atos de penhora seguem o regime da penhora de direitos indivisos (A.781ºC);
3) Se o objeto da penhora forem direitos reais de gozo em titularidade exclusiva (maxime,
propriedade), mas onerados com sobreposição de posses (i.e., onerados por direitos de gozo
menores), a penhora faz-se como penhora de imóveis, mas com notificação ao titular do direito
menor e sem desapossamento (A.781º5 CPC).
● O depositário é o administrador por conta do Estado e, assim, está investido de deveres especiais,
constantes do A.760º1 CPC e ainda de deveres gerais do depositário dos A.1187º e A.1190ºCC;
● No essencial, a função do depositário consiste em substituir o executado nos poderes, materiais e
jurídicos, que lhe terão sido subtraídos pela penhora e exercê-los em conformidade com a finalidade de
conservação. Assim, é dever do depositário praticar atos de administração corrente (ex: pagar contas,
condomínio, rendas, impostos ou taxas).
● Quanto aos atos de administração extraordinária (ex: exploração dos bens penhorados, nomeadamente
por meio de arrendamento, alienações e onerações), estes apenas podem ser praticados após acordo
entre o exequente e o executado ou, na sua falta, mediante decisão judicial após audição do depositário
e feitas as diligências necessárias (A.760º2 CPC).
● O depositário pode pedir escusa do cargo, ocorrendo motivo atendível (A.761º3 CPC). Admite-se ainda
a sua remoção quando, não sendo solicitador de execução, deixe de cumprir os deveres do seu cargo e
esta seja requerida por qualquer interessado ou oficiosamente pelo agente de execução (A.761º1 CPC);
● Ao depositário tem de ser feita a entrega efetiva do imóvel (A.757ºCPC). Sendo imóvel de domicílio do
executado, a diligência deve efetuar-se entre as 7 e as 21 horas, devendo entregar-se cópia do auto de
penhora a quem tem a disponibilidade do local;
● O executado ou o terceiro detentor estão legalmente obrigados a entregar o imóvel. Quando seja oposta
alguma resistência ao apossamento do imóvel – ou haja receio justificado de oposição de resistência
(A.757º1 CPC) – ou quando seja necessária entrada forçada em imóvel, o AE pode solicitar,
diretamente e sem despacho judicial, o auxílio das autoridades policiais (A.757º1 e 2 CPC). Do ato de
entrada forçada terá o agente de lavrar auto de ocorrência;
● Contudo, já carece de despacho judicial quando se trate de apossamento de imóvel que constitua
domicílio do executado (A.757º4 CPC). Domicílio é o lugar de intimidade pessoal da pessoa física ou o
centro da atividade da pessoa coletiva.
➢ E quanto às partes integrantes e os frutos naturais e civis? Referimo-nos, por exemplo, a
árvores ou a animais. São penhoráveis nos termos do A.758ºCPC, que vale tanto para a
penhora de bens imóveis como para móveis (ex vi A.772ºCPC);
➢ Se o executado se recusar a abrir quaisquer portas ou móveis, ou se a casa estiver deserta e as
portas e móveis se encontrarem fechados, o AE instará pela apresentação das coisas ocultadas
e advertirá a pessoa da responsabilidade em que incorre com o facto da ocultação (A.767º3
CPC), e far-se-á acmpanhar por autoridade publica (A.757º2, ex vi A.767º1 CPC).
● A penhora de crédito faz-se por notificação ao devedor do executado (debitor debitoris) de que o
crédito fica à ordem do agente de execução (A.773º1 CPC), seguindo as formalidades da citação
pessoal e, por isso, ficando sujeita ao regime desta (A.228ºss e A.246º, ex vi A.773º1 CPC).
Consumada a notificação, o terceiro-devedor não poderá, com eficácia, concluir atos de extinção do
crédito (A.820ºCC).
● [...]
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Aplica-se igualmente à penhora de bens móveis sujeitos a registo.
65
O direito-modelo em matéria de penhora de direitos é o direito de crédito. Assim, embora existam outros tipos de penhora
de direitos nos A.778º a A.782ºCPC, focamo-nos no modelo regra.