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Grupo I
1. António e Bento convencionaram que aquele poderia resolver o contrato caso Bento
faltasse ao pagamento de uma das prestações devidas a título de preço. Bento não pagou
a vigésima nona prestação. Quid juris?
Grupo II
Em janeiro de 2019, Daniel contratou o conhecido informático Edgar para criar um algoritmo
5.000,00.
Convencionaram ainda que o prazo de execução dos trabalhos era de 3 meses.
No fim de março, Daniel recusa-se a pagar o preço a Edgar. Afinal, o algoritmo criado não
funciona e, para mais, Edgar não adicionou uma funcionalidade ao programa pedida por Daniel
em meados de fevereiro, via e-mail, tendo Edgar
me dá ordens. Essa funciona
Em abril, Fernando contacta Daniel reclamando o pagamento dos serviços de programação que
lhe foram encomendados por Edgar. Fernando afirma que nunca foi pago pelos seus serviços,
acrescentando que Edgar não programou uma única linha de código.
Quid iuris?
Cotação: 9 (nove) valores
Qualificação do contrato celebrado entre Daniel (D) e Edgar (E) como um contrato de
empreitada (1207.º CC): elementos essenciais. O contrato não se encontra sujeita a forma
especial (219.º CC);
Discussão e tomada de posição fundamentada sobre o conceito de obra (1207.º CC): se abrange
tanto bens corpóreos (em sentido material), como bens incorpóreos (obras de cariz intelectual).
No caso, tratava-se da criação de uma obra intelectual (algoritmo informático);
Enquadramento da faculdade de fiscalização da obra, nos termos do artigo 1209.º CC: limitação
do exercício do direito de denúncia dos defeitos perante vícios conhecidos pelo dono de obra, e
ignorados pelo empreiteiro, aquando da execução da obra, consubstanciando abuso de direito
(334.º CC);
Discussão acerca da aplicabilidade das normas de risco aos materiais fornecidos pelo dono de
obra (1212.º/1 CC), e respetiva inclusão do conceito de obra antes da sua incorporação, nos
termos do artigo 1228.º CC. Enquadramento da responsabilidade de E à luz do contrato de
depósito, quando os materiais são fornecidos pelo dono de obra, em prejuízo das regras referidas
relativas ao risco;
Direitos do dono de obra perante a obra defeituosa, posteriormente à verificação, no momento
da entrega (1218.º e ss CC). Enquadramento do dever do empreiteiro executar a obra, nos termos
do artigo 1208.º CC, de acordo com o convencionado. Inexistência de poder de direção do dono
de obra modificando o conteúdo acordado da prestação do empreiteiro e articulação com o
regime de alterações (designadamente, da iniciativa do dono de obra 1216.º CC);
A contratação de Fernando (F) consubstancia a celebração de um contrato de subempreitada
(1213.º CC), sem o consentimento de D, o que é permitido ( 1213/2 e 264.º/1, parte final CC).
Valorização do enquadramento da divergência quanto à presente possibilidade e suas
consequências (responsabilidade contratual posição da Regência). Enquadramento da
admissibilidade do subempreiteiro exigir o preço diretamente ao dono de obra, como uma
exceção ao princípio da relatividade dos contratos.
Grupo I
Em Novembro de 2017, Abel vendeu a Bernardo um colar de ouro branco com diamantes
Abel reservado para si a propriedade do colar até
ao integral pagamento do preço. O preço do colar devia ser pago em oito prestações mensais
Em Dezembro de 2017, Bernardo decide vender e entregar o colar a Carlos que o queria
oferecer de presente à sua noiva Eliana. Abel fica furioso ao descobrir este negócio de
Bernardo e decide, por isso, vender o mesmo colar a Daniel (ex-namorado de Eliana), que
agora o pretende reivindicar a Carlos. Entretanto, Bernardo não pagou a prestação de
Janeiro no dia acordado e Abel quer aproveitar essa situação para lhe exigir o pagamento de
todas as prestações devidas até Junho. Quid iuris?
a) Imagine agora que Bernardo não beneficiou da entrega da coisa e Abel quer resolver
o contrato celebrado com Bernardo ou, em alternativa, exigir antecipadamente todas
as restantes prestações. Quid iuris?
b) Suponha agora, para efeitos desta alínea b), que Bernardo era o pleno proprietário
do bem quando o decidiu vender a Carlos. Carlos, tendo previamente usado todas as
suas poupanças para comprar livros de Direito para estudar para os exames, decide
pedir um empréstimo ao Banco Facilitador para comprar o colar. O Banco
Facilitador aceita financiar Carlos mas pretende reservar a propriedade do bem para
si até ao pagamento integral do mútuo. Quid iuris?
Qualificação do negócio jurídico celebrado entre Abel (A) e Bernardo (B) como uma compra
e venda (874.º), não sujeita a exigências de forma (arts. 875.º e 219.º). Identificação dos
elementos essenciais do contrato.
O efeito real do contrato (879.º, a) não se produziu com a mera celebração do contrato,
porquanto A reservou a propriedade do colar até ao integral pagamento do preço (art.º
409.º/1).
O preço do colar, repartido em oito prestações mensais, qualifica o contrato como uma
venda a prestações (art.º 932.º e ss).
Discussão sobre a oponibilidade da cláusula de reserva de propriedade a terceiros,
incidente sobre bens móveis não sujeitos a registo (cfr. art.º 409.º/2) e posições da doutrina.
A venda de B a Carlos (C), qualifica-se como uma venda de bens alheios (892.º), porquanto
B não é proprietário do bem.
A venda de A a Daniel (D) qualifica-se como uma venda de bens alheios, por analogia (892.º),
porquanto o direito de propriedade de A encontra-se limitado para efeitos de garantia do
pagamento do preço. A pretensão de D não será procedente.
A falta de pagamento da prestação de Janeiro faz incorrer B em mora (805.º/2 a)). Não
permite, todavia, exigir o pagamento das demais prestações. A exigibilidade antecipada das
restantes prestações depende de a prestação em falta exceder um oitavo (1/8) do preço
(havendo entrega da coisa), o que não sucede
art.º 934.º, contra o disposto no art.º 781.º. Resta a A exigir judicialmente a prestação em
causa, acrescida de juros de mora (art.º 817.º e 806.º), ou aguardar pelo incumprimento de
uma segunda prestação, quando poderá exigir judicialmente as demais prestações ou
resolver o contrato (convertendo a mora das prestações em falta em incumprimento
definitivo).
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a) Discussão sobre os pressupostos de aplicação do art.º 934.º, designadamente se é
exigida a entrega da coisa para não importar a perda do benefício do prazo ou a
resolução do contrato na falta de pagamento de uma só prestação que não excede
1/8 de preço, como era o caso. Dar nota da distinção entre a resolução e a perda de
benefício do prazo que é feita pela doutrina nestes casos, designadamente da
posição da regência: não há nenhum obstáculo em aplicar também a restrição
imposta pelo art. 934.º no respeitante ao vencimento antecipado aos casos em que
não se assistiu à tradição da coisa.
b) C celebrou um contrato de mútuo com o Banco Facilitador (BF). Discussão sobre a
possibilidade de reserva de propriedade inicial a favor de terceiro - à luz do
princípio da tipicidade dos direitos reais (arts. 409.º e 1306.º) e da proibição do
pacto comissório, entre outros argumentos com indicações de doutrina contra e a
favor. Referência à transmissibilidade da reserva de propriedade e posições
divergentes na doutrina sobre esta possibilidade, dando nota da posição favorável
da regência.
Grupo II
Gertrudes, uma mulher de negócios no mercado imobiliário, animada com o estado atual do
mercado em Lisboa, contratou Hugo, empreiteiro, para fazer obras num apartamento velho
que comprou previamente à Imobiliária Ideal
vender por preço superior. Na escritura de compra e venda constava que o imóvel tinha 150m2
mas, ao preparar o projeto para as obras, Gertrudes descobriu que afinal o apartamento
tinha apenas 145m2.
Hugo
substituição total do chão em taco de madeira por soalho flutuante; e (ii) a remodelação total
da casa de banho, incluindo a resolução do atual problema de infiltrações de água na parede
junto à banheira. Hugo estava empenhado em cumprir integralmente o projeto de obra mas,
na sua opinião, não fazia sentido substituir os atuais tacos de boa madeira por soalho
flutuante. Bastaria afagá-los e envernizá-los para o chão ficar como novo por um preço
significativamente inferior e é precisamente isso que se propunha fazer.
Imagine ainda que a obra tinha sido entregue no dia 3 de janeiro de 2013 e que Gertrudes
ainda não tinha vendido a casa quando, no dia 31 de Dezembro de 2017, apercebe-se que
existia água a escorrer junto à parede da banheira. Descobriu então que o problema das
infiltrações na casa de banho não tinha sido resolvido por Hugo, pois este tinha simplesmente
Hugo sem sucesso e, em resposta
Hugo se encontra de férias e incontactável até dia 6 de janeiro de 2018. Gertrudes fica em
pânico, pois a água já estava a danificar o chão do seu apartamento e Gertrudes não sabe se
Qualificação do contrato celebrado entre Gertrudes (G) e Hugo (H), como um contrato de
empreitada por referência aos elementos essenciais do tipo contratual (1207.º).
Qualificação do contrato de compra e venda celebrado entre G e Imobiliária Ideal (IH) como
uma compra e venda (art.º 874.º) atendendo aos seus elementos essenciais. Referência à
forma deste contrato. Aplicabilidade do artigo 888.º quanto à diferença real de metros
quadrados do apartamento relativamente à escritura, com a consequência de exclusão do
direito à redução do preço.
Alteração de Hugo (H) qualificada como uma alteração da iniciativa do empreiteiro
(1214.º/1). Só com autorização do dono da obra pode o empreiteiro fazer tais alterações e,
para isso, o empreiteiro deve fazer proposta ao dono da obra (406.º/1). Sem autorização do
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dono de obra G, existe cumprimento defeituoso (art.º 1214.º/2). Tutela do dono de obra em
sede de defeitos (arts. 1218.º e ss).
Qualificação das infiltrações como defeitos ocultos (art.º 1224.º/2). Tutela de G ao abrigo
do art.º 1225.º, cujo prazo de caducidade de cinco anos se conta a partir da entrega (n.º1 do
preceito). Discussão sobre a forma de exercício da denúncia (art.º 1225.º/3 e 1220.º), se
receptícia ou não e sobre a necessidade de solicitar previamente ao empreiteiro a sua
eliminação (art.º 1221.º/1). Com base no art.º 336.º, uma vez que a urgência do pedido não
é compatível com a disponibilidade de H, G poderia proceder à reparação e exigir o
reembolso das despesas a H.
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Direito dos Contratos I (TN) | Exame Escrito (1.ª Época)
17 de Janeiro de 2019 | Duração: 90 minutos
Grupo I
[9 valores]
No dia 31 de dezembro de 2018, Abel recebeu em sua casa a sua amiga Beatriz, que ficou muito
bem impressionada com os azulejos italianos que decoravam a sua sala de estar. Beatriz propôs
comprá- , a pagar em 25 1.000,00 cada. Abel
aceitou, tendo combinado a entrega dos azulejos na casa de Beatriz uma semana depois.
1) Classificação completa e fundada do contrato como compra e venda (art. 874.º); Referência
ao princípio da consensualidade ao momento da transmissão da propriedade: estamos perante
partes integrantes (202.º e 204.º/3), pelo que a transmissão da propriedade fica diferida para
o momento da separação (408.º, n.º 2).
A destruição dos azulejos e da parede onde se encontravam provoca a impossibilidade do
cumprimento da obrigação de entrega, por causa não imputável ao devedor (A); o efeito real
não se logrou a produzir com a mera celebração do contrato (408.º/2), nem ocorreu a
necessária entrega dos bens.
Não há lugar à aplicação das regras do risco (796.º), porquanto não houve nem transferência
de domínio nem a constituição ou transferência de direitos reais sobre os azulejos.
Resta a aplicação das regras relativas à impossibilidade de cumprimento (795.º/1). B fica
desobrigado da contraprestação (de pagamento do preço) e tem o direito de exigir a sua
restituição, nos termos prescritos para o enriquecimento sem causa, se já a tiver totalmente
ou parcialmente realizado.
2) B não paga duas das prestações do preço, podendo A exigir antecipadamente as restantes
prestações (934.º, segunda parte); ao não pagar duas prestações, torna-se irrelevante apurar
se a falta de pagamento excede uma oitava parte do preço.
Articulação dos artigos 886.º e 934.º, primeira parte; discussão e tomada de posição
fundamentada acerca da questão de saber se perante uma venda a prestações sem reserva de
propriedade se deverá aplicar a primeira parte do artigo 934.º: aplicando-se o preceito, a
possibilidade de resolução do contrato ficaria dependente de o incumprimento de B exceder
1/8 do preço; porém, B incumpriu duas prestações, devendo discutir-se se a possibilidade de
resolução do contrato fica dependente da gravidade do incumprimento, tal como previsto no
artigo 802.º/2.
3) A venda celebrada entre A e B qualifica-se como uma venda de bens alheios, por falta de
legitimidade de A, tratando-se de uma venda como própria de uma coisa alheia específica e
presente, fora do âmbito das relações comerciais (892.º e ss.). A venda é, como tal, nula
(nulidade atípica). A compra e venda entre A e B é ineficaz perante Carlos (C), que poderá
reivindicar a coisa perante quem a tenha em seu poder (1311.º).
B, estando de boa fé, poderá invocar a nulidade da compra e venda perante A, que se encontra
de má fé (presumivelmente), mas não o inverso (892.º). Quanto aos efeitos, sendo nula a
venda realizada (pressupondo-se a não convalidação do contrato), B ficará obrigado a restituir
a coisa (289.º) a C, que a reivindica, e tem direito à restituição integral do preço que
eventualmente tenha pago, por se encontrar de boa fé (894.º/1, in fine).
B tem ainda direito a ser indemnizado por A, nos termos do artigo 897.º, caso este tenha
procedido com dolo (253.º) ou, alternativamente, nos termos do art.º 899.º; esta indemnização
poderá ser cumulada com a indemnização pela não convalidação do contrato (897.º/1, in fine),
se compatível, nos termos do artigo 900.º.
B terá direito à restituição das benfeitorias realizadas nos azulejos, nos termos dos artigos
901.º e 1273.º, podendo reter a coisa (754.º) até ao seu pagamento por C, quer B, devedores
solidários.
Grupo II
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[9 valores]
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CRITÉRIOS DE CORREÇÃO
Direito dos Contratos I TAN
Regência: Professor Doutor Pedro de Albuquerque
Época de Coincidência 27/01/2017
GRUPO I
TAN (RECURSO)
II
Qualificação do contrato como empreitada. Renúncia ao poder de fiscalização pelo dono
da obra: admissibilidade, com apelo aos contributos da doutrina e da jurisprudência.
Alterações necessárias ou alterações do empreiteiro? Tomada de posição, atendendo aos
dados do caso prático. Consequências legais (artigos 1214.º e 1215.º CC).
Admissibilidade da subempreitada, ainda que sem autorização do dono da obra.
Discussão doutrinária. Tomada de posição fundamentada. A acção directa do
subempreiteiro contra o dono da obra: admissibilidade. Defeitos aparentes e defeitos
ocultos: diferença e consequências práticas. Possibilidade de Xavier denunciar o defeito
(artigos 1218.º,1219.º e 1220.º CC). Discussão sobre a admissibilidade legal de o
subempreiteiro exercer direito de retenção sobre a obra para garantia do seu crédito
contra o empreiteiro e o dono da obra: explicitação do problema e enunciação das
posições doutrinárias estudadas. Tomada de posição fundamentada.
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Grupo I
No dia 24 de Dezembro de 2017, Ana propôs que Bento, amante de música, ficasse com o seu
gira-discos antigo e com o seu único disco de vinil de Gary B.B. Coleman, pelo preço total de
Para grande desagrado de Carlos, colega de Bento, Bento aceitou imediatamente a proposta
de Ana. Combinaram ainda que no dia de Natal Bento iria receber o gira-discos e o disco de
vinil em causa. No entanto, e pese embora a revolta de Bento, Ana recusou-se a entregar o
certificado de autenticidade do equipamento, pretendendo que Bento
documento. Nessa mesma noite, de véspera de Natal, Carlos, num acesso de fúria, dirigiu-se ao
escritório de Ana, e partiu o único disco de vinil de Gary B.B. Coleman.
Bento descobre ainda que o gira-discos se encontrava na loja de Zacarias, comerciante que
havia procedido ao seu restauro. Zacarias recusa-se a devolver o equipamento sem que
primeiro lhe paguem o valor das reparações. No dia 26 de Dezembro, Ana, revoltada com a
ingratidão de Bento, pretende resolver o negócio por falta de pagamento do preço.
acrescentou ainda ser alheia aos problemas que o equipamento apresentava após a venda, uma
vez que o equipamento se encontrava a funcionar naquela data e por Carlos ter optado por não
aderir ao seguro proposto.
A destruição do único disco de vinil de Gary B.B. Coleman por C, no dia 24 de Dezembro, provoca
a impossibilidade do cumprimento da obrigação de entrega de A do presente objeto do negócio.
Todavia, o efeito real da compra e venda (art.º 879.º, a), efeito real quoad effectum, produziu-se
com a mera celebração do contrato (art.º 408.º/1). As regras sobre o risco prejudicam, no caso,
as regras relativas à impossibilidade de cumprimento: nos termos do art.º 796.º/2, o risco recai
sobre A, vendedor, pelo perecimento da coisa por causa não lhe imputável (no presente contrato
que transfere um direito real sobre a coisa) porquanto o Disco continuou em seu poder por termo
constituído a seu favor (prazo de entrega no dia 25 de Dezembro). Será valorizada a discussão
quanto aos efeitos do risco, entendido ou não, como um caso de risco na contraprestação,
desobrigando B ao pagamento do preço. C é civilmente responsável perante B, proprietário do
Disco (art.º 483.º).
Zacarias (Z) havia procedido ao restauro do equipamento (gira-discos). A sua recusa na entrega
do equipamento consubstancia o exercício do direito de retenção (754.º). O direito de retenção
(independentemente da sua qualificação como direito de real de garantia), assume-se uma
posição jurídica se revela eficaz relativamente ao comprador (B), ignorada ao tempo da compra
(posição da Regência). O contrato de compra e venda, relativamente ao gira-discos, qualifica-se
como uma compra e venda de bens onerados (art.º 905.º). B poderá resolver (posição da
Regência) o contrato, ou anular o negócio (art.º 905.º, 247, 251.º, cumulável com a indemnização
por erro ou dolo consoante o enquadramento realizado, na falta de elementos, cfr. arts. 908.º,
909.º conjugado com o art.º 910.º), sem prejuízo do pedido principal à eliminação dos defeitos
(art.º 907.º), quer à redução do preço (911.º). Seria valorizado o enquadramento do restauro de
Z, como tendo sido realizado no âmbito de um contrato de empreitada (art.º 1207.º).
No dia 26 de Dezembro, B estaria em mora quanto à sua obrigação de pagamento do preço do
gira-discos (279.º, c), 804.º, 805.º/2, a) e art.º 806.º). Por aplicação do art.º 886.º, dada a falta de
entrega do bem por parte de A (art.º 428.º, pela natureza sinalagmática das obrigações), a
vendedora poderia resolver o contrato de compra e venda, devendo converter a mora em
incumprimento definitivo (art.º 801.º/2) sem prejuízo da negação da presente possibilidade
na decorrência de nos encontrarmos perante uma venda de bens onerados (art.º 905.º e ss).
C celebra um contrato de compra e venda, regulada nos termos do DL n.º 67/2003, de 08 de Abril
(Venda de bens de consumo e das garantias a ela relativas), uma vez que se encontra verificado
o âmbito de aplicação do diploma (art.º 1.º-A/1 e 1.º B, a), b) e c)), com aplicação preferencial
relativamente às normas do CC (arts. 913.º e ss). B poderá, em alternativa, exercer os direitos
previstos no n.º 1 do art.º 4.º, no prazo de 2 anos a contar da data da venda e nos 2 meses
posteriores à data de deteção da desconformidade (art.º 5.º/1 e 5.º-A/2), pela existência de uma
falta desconformidade, presumidamente existente no momento da entrega do bem (art.º 3.º e
art.º 2.º/1,a)), contra o vendedor, ou diretamente contra o produtor (art.º 6.º). Será valorizado a
aplicação, em alternativa, do regime previsto nos arts. 913.º ss do CC, a respeito da possibilidade
legal de tutela dos defeitos supervenientes do bem (arts. 913.º, e 918.º, devidamente
interpretado) entendendo-se que o equipamento se destinava a uso profissional (art.º 1.º-B, a) e
art.º 1-A/1 do DL mencionado).
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Grupo II
Daniel, estudante de Direito, pretende encomendar ao seu amigo Ernesto, Disco-Jóquei, dez
músicas da sua autoria para uma festa que irá realizar em sua casa. Combinou que as músicas
seriam entregues no espaço de duas semanas, numa pen-usb que Ernesto forneceria, pelo preço
Daniel pretende celebrar o presente contrato por escrito, mas não sabe qualificá-lo.
Em Janeiro de 2018, Ernesto combinou com Francisco a substituição do telhado de tijolo de
zo de 30 dias. Aquando da reparação do telhado,
Francisco descobriu ser necessária a instalação de um lona impermeabilizadora. Francisco
informou Ernesto desta necessidade, e este nela consentiu. Todavia, e sem avisar Ernesto,
Francisco contratou Xavier para a instalação da lona.
Concluída a reparação do telhado, Ernesto recusa-
que Francisco -se que,
decorrente de uma má instalação da lona, existem infiltrações no teto.
Ernesto pretende, hoje, resolver o negócio e que Xavier o indemnize pelos danos causados na
sua mobília em virtude da infiltração.
O contrato celebrado entre Daniel (D) e Ernesto (E) qualifica-se como um contrato de empreitada
(art.º 1207.º) locatio condutio, modalidade típica do contrato de prestação de serviços (art.º
1155.º): constitui para os contraentes, enquanto elementos essenciais para a sua qualificação,
uma obrigação de resultado do empreiteiro (E), de realizar uma obra; sinalagmática da obrigação
do dono da obra (D) pagar o preço convencionado . O contrato não se encontra sujeito
a forma especial (art.º 219.º).
No que respeita ao conceito de obra, para efeitos de qualificação do negócio jurídico celebrado,
de deve-se entender que abrange tanto bens corpóreos (em sentido material), como bens
incorpóreos (obras de cariz intelectual). No caso, tratava-se da criação de uma obra intelectual
(criação de dez músicas). Este entendimento foi perfilhado pelo STJ, no ac. de 03.11.1983 (SANTOS
SILVEIRA), considerando que a materialização da obra no seu suporte físico é suficiente para a
qualificação do negócio enquanto um contrato de empreitada. A posição da regência é mais
exigente. Requere a verificação cumulativa dos requisitos de 1) exteriorização do resultado
numa coisa concreta, suscetível de entrega e aceitação; 2) existência de um resultado específico
e concreto; e 3) o resultado foi concebido e alcançado em conformidade com um projecto. E
sobretudo exige que a obra se possa autonomizar totalmente do seu autor. Portanto, nesta
hipótese é duvidoso se à luz desta orientação o contrato de empreitada se pode qualificar, ou
não, como empreitada. Parece que não. Ainda assim, ela diverge da opinião dos Professores
ANTUNES VARELA, MENEZES LEITÃO e ROMANO MARTINEZ, A. que consideram que o conceito de obra se
restringe a obras corpóreas, pelo enquadramento sistemático do regime deste contrato
(fiscalização, transferência da propriedade, alterações e defeitos de obra), incompatível com o
tratamento devido às obras intelectuais.
O contrato celebrado entre Ernesto (E) e Francisco (F) também se qualifica como um contrato de
empreitada (art.º 1207.º): constitui para os contraentes, enquanto elementos essenciais para a
sua qualificação, uma obrigação de resultado do empreiteiro (F), de reparar o telhado;
sinalagmática da obrigação do dono da obra (E) pagar o preço convencionado 0, cfr.
arts. 1211.º e 883.º). O contrato não se encontra sujeita a forma especial (art.º 219.º).
Aquando da execução do contrato, o empreiteiro (F), em cumprimento da sua obrigação principal
(1208.º) de realização da obra, sem vícios que excluam ou reduzam o seu valor, ou a aptidão para
o uso ordinário ou previsto no contrato (um telhado sem infiltrações), avisa (cumprimento
concomitante do dever de informação, acessório de conduta posição da Regência) o dono de
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obra (E) e sugere alterações ao plano convencionado (alterações necessário, cfr. art.º 1215.º). As
presentes alterações foram consentidas pelo dono de obra (F), e têm influência na alteração do
preço global devido por E (art.º 1215/2). Na falta de acordo, caberá ao tribunal fixar a
modificação quanto ao preço devido (1215.º/1, parte final).
A contratação de Xavier (X) consubstancia a celebração de um contrato de subempreitada
(1213.º), para a instalação da lona impermeabilizadora, sem o consentimento de E, o que é
permitido (arts. 1213/2 e 264.º/1, parte final). Será valorizado o enquadramento da divergência
quanto à presente possibilidade e suas consequências (responsabilidade contratual posição da
Regência).
A recusa de E em aceitar a obra, aquando da verificação (1218.º/1 e 3), deverá ser seguida de
denúncia dos defeitos, no prazo de 1 ano após o seu conhecimento (1225.º/2 e 3) cujo prazo
de caducidade de exercício dos direitos será de 1 ano após a denúncia (1225.º/2 e 3)-, e nunca
após o decurso do prazo de 5 anos (admitindo-se que o prazo de 5 anos seja considerando mero
prazo de manifestação de defeitos - posição da Regência). Estamos perante um imóvel destinado,
por sua natureza, a longa duração (a expectativa de duração do imóvel em causa é superior ao
prazo de responsabilidade do empreiteiro, de 5 anos cfr. art.º 1225.º - posição da Regência). O
exercício dos direitos reconhecidos a E, não permitem que o mesmo opte pela resolução do
contrato (1222.º e art.º 884.º), sem antes requerer a eliminação dos defeitos (1221.º e art.º
1221.º e 1222.º/1, in fine); sem prejuízo do direito à indemnização (1223.º - que aquando da
resolução do contrato se limita ao interesse contratual negativo).
A responsabilidade pelo defeito da obra é de F (800.º/1), com direito de regresso sobre X
(1226.º), nos quais se inclui a responsabilidade pelos danos provocados na mobília (1223.º), no
âmbito deste cumprimento defeituoso; embora seja possível que o dono da obra exija
diretamente ao subempreiteiro a reparação dos defeitos de obra, via ação direta (posição da
Regência).
Direito dos Contratos I
Tópicos de Correção
Exame de Recurso - 20 de Julho de 2017 | Duração 1h30m
I
Entre o Editor António e a Livraria Bem Precioso foi ajustado um contrato nos termos do qual
António vendia à Livraria Bem Precioso trinta exemplares das últimas dez publicações de uma revista
literária (identificando-se cada uma destas dez publicações) pelo preço de 6000 mil euros, podendo a
Livraria devolver os exemplares que não tivesse vendido nos seis meses seguintes, com direito ao
reembolso do respetivo valor. O preço seria pago em três prestações de 2000 mil euros, a primeira
na data da celebração do contrato, a segunda três meses após a entrega dos livros e a terceira
decorridos os seis meses de entrega.
a) Como qualifica completa e fundadamente o contrato em apreço e, em particular, a cláusula
de devolução inserta neste contrato?
Qualificação completa e fundada do contrato de compra e venda e da respetiva cláusula de devolução como
figura próxima da venda a contento, mas atípica estipulada ao abrigo da autonomia privada. Admitir ainda a sua
qualificação como próximo da condição, mas uma vez que existe alguma arbitrariedade deixada nas mãos do
comprador, parecer ser de afastar a qualificação como condição, já que as condições arbitrárias não são
verdadeiras condições.
Referência ao respetivo regime jurídico e suas possíveis implicações no caso concreto.
b) Se, em razão de um incêndio ocorrido três meses depois da entrega dos livros, tiverem ficado
destruídos todos os exemplares ainda não vendidos, a Livraria Bem Precioso tem direito ao
reembolso do respetivo valor?
Problema do risco na compra e venda e em especial na venda especificamente acordada e com a aposição da
cláusula de devolução inserta pelas partes, suas implicações e consequências. Se já existir contrato, como parece,
uma vez que a concessão ao comprador da faculdade de devolução dos exemplares não vendidos e direito ao
reembolso do respetivo valor não impede que a propriedade se transmita (art. 408.º, n.º 1 do CC), parece que
correrá por sua conta o risco de perda ou deterioração da coisa, verificada durante esse prazo (art. 796.º, n.º 1 do
CC). Como a coisa perece, o comprador deixa de a poder restituir ao vendedor, pelo que perde o direito de
resolver o contrato (art. 432.º, n.º 2 do CC).
Referir ainda eventual aplicação analógica do disposto no na primeira parte do n.º 3 do art. 796.º do CC no que
respeita condição resolutiva.
c) No caso de a Livraria Bem Precisos não ter pago a segunda prestação, que direitos assistem
a António?
Referência à compra e venda a prestações e análise completa e fundada do disposto no art. 934.º do CC,
seus requisitos, e implicações e referência à viabilidade da resolução do contrato no caso de falta de
cumprimento de uma só prestação (superior a 1/8 do preço): art. 934.º do CC.
Referência ao disposto no art. 886.º do CC e seus requisitos e sua aplicação fundada ao caso concreto na
hipótese de não funcionamento da tutela do art. 934.º do CC quanto à resolução por não verificação
cumulativa de todos os seus requisitos.
Referência ao disposto no art. 781.º do CC e sua aplicação fundada ao caso concreto na hipótese de não
funcionamento da tutela do art. 934.º do CC quanto à perda do benefício do prazo por não verificação
cumulativa de todos os seus requisitos ou afastamento atendendo em concreto ao estipulado pelas partes
designadamente no que respeita à devolução e reembolso do respetivo valor.
II
Carlos arrendou um apartamento junto à praia, todos os meses de Agosto, durante dez anos, por
1000 euros por mês.
a) Este ano, como Carlos não terá férias em Agosto, «emprestou» a casa a Duarte, mediante o
pagamento de 1500 euros. Quid iuris?
Qualificação completa e fundada do contrato de arrendamento e sua caraterização no caso concreto.
Qualificação completa e fundada do contrato celebrado entre C e D mediante o pagamento de 1500 euros
e aferição da sua validade e eficácia e problema de saber se Carlos violou os seus deveres como arrendatário
(cfr. artigos 1038.º al.f) e g) e 1088.º do CC);
Referência ao disposto nos artigos 1088.º e ss do CC ( e sua articulação com o disposto nos artigos 1060 e
ss do CC)
Referência ao disposto no artigo 1083.º do CC em caso de cobrança de renda superior.
b) No ano passado, a praia esteve impraticável devido a uma descarga de petróleo e Carlos
exigiu uma redução de 50% da renda. Quid iuris?
Referência ao disposto no art. 1075.º do CC
Referência do disposto no art. 1040.º, n.º 2 do CC e discussão sobre a sua eventual aplicação ou afastamento
no caso concreto.
c) O senhorio, antes do decurso do prazo de dez anos, denunciou o contrato. Quid iuris?
Referência aos arrendamentos com prazo certo aos arrendamentos de duração indeterminada. Suas implicações.
Referência e distinção entre a figura da oposição à renovação e à denúncia (1095 e ss e 1099.º e ss do CC),
respetivos regimes jurídicos e sua aplicação ao caso concreto.
III
Fernando, construtor civil, proprietário do terreno X celebrou um contrato com Guilherme, nos
termos do qual, mediante o pagamento de 480 mil euros pagos em 24 prestações mensais de 20 mil
euros, se obrigava a construir uma casa para Guilherme, segundo um projeto por este apresentado,
transmitindo-lhe a propriedade do terreno e da casa nele construída no termo da obra.
a) Qualifique completa e fundadamente o contrato em apreço e diga em que momento se
transmite a propriedade sobre o terreno e a casa.
Qualificação completa e fundada do contrato de empreitada e discussão da questão da qualificação da empreitada
em terreno próprio do empreiteiro. Face à lacuna do disposto no art. 1212.º do CC, este negócio suscita dúvidas
de qualificação e tanto pode ser considerado uma empreitada como uma compra e venda de bens futuros. Se
considerado como uma empreitada a transferência da propriedade com a aceitação da obra só é de admitir se a
aceitação da obra revestir a forma necessária à transmissão dos imóveis, também do lado do empreiteiro. Pode
ainda considerar-se que ao lado da empreitada há uma promessa de venda do solo ou da superfície para o dono
da obra, em união de contratos ou contrato misto, verificando-se a transmissão da propriedade com a celebração
da compra e venda, antes ou após a realização da obra. Nesta hipótese, os materiais vão sendo adquiridos pelo
empreiteiro à medida que vão sendo incorporados no solo, só passando para o dono da obra após a definitiva
aquisição do imóvel construído.
b) Dois anos após a execução do contrato, Guilherme vendeu o imóvel a Helena, tendo esta,
no ano seguinte, verificado que a casa apresentava defeitos graves, que permitiam a infiltração
de águas pluviais. Helena pode exigir que Fernando repare o defeito? Se sim, em que termos?
Referência ao regime da empreitada de consumo instituído pelo DL 67/2003, alterado e republicado pelo
DL 84/2008, de 21 de Maio essencial é que esteja em causa uma relação de consumo, o que ocorre
sempre que o empreiteiro seja um profissional e o dono de obra um consumidor, visando a obra para fins
não profissionais (cfr. arts. 1.º A, n.º 1, 1.º B, alínea a), DL 67/2003, na redação do DL 84/2008, e art. 2.º
n.º 1 da Lei 24/96, de 31 de Julho).
Referência ao momento relevante para a averiguação da falta de conformidade;
Referência à noção de desconformidade e aplicação ao caso concreto;
Referência aos direitos do consumidor e à questão de saber se há ou não uma hierarquia ao abrigo do
disposto no art. 4.º, n.º 1 do DL 67/2003;
Referência aos prazos de garantia, de denúncia e exercício de direitos;
Referência ao disposto no n.º 6 do artigo 6.º do DL 67/2003 (Os direitos atribuídos pelo artigo 4.º
transmitem-se a terceiro adquirente do bem)
Referência ao disposto no art. 1225.º do CC que estabelece uma garantia suplementar no caso de
empreitadas destinadas a longa duração.
Referência ainda ao disposto no art. 12.º da Lei de defesa do Consumidor.
venda;
- Acção adequada para tutela do direito de Letícia seria a acção de cumprimento
para entrega de coisa certa (artigo 827.º do CC);
- Risco pelo perecimento da coisa: Artigo 796.º, n.º 2 CC. Havendo mora da
devedora-vendedora, por virtude da sua declaração de não cumprimento, aplica-
se o artigo 807.º , n.º 1 do CC.
Grupo II
- Qualificação completa e fundada do contrato de empreitada, por preço global
(fracionado em prestações);
- Realização da obra em terreno pertencente ao empreiteiro: consequências quanto
à forma de transmissão da propriedade da obra (1212.º, n.º 2);
- Contrato de subempreitada e respetiva admissibilidade (1213.º);
- Regime quanto a defeitos e prazo para exercício de direitos (1218.º e ss).
Aplicação do art. 1225.º (que consagra uma exceção ao princípio da relatividade
dos contratos na parte final do n.º1, legitimando o terceiro adquirente a agir
contra o empreiteiro) e qualificação do prazo de 5 anos como de manifestação de
defeitos;
- Discussão sobre a aplicação do regime constante do Decreto-Lei n.º 67/2003
(empreitada de consumo) e sua articulação com o regime do Código Civil;
- Discussão relativa à admissibilidade de autorizações implícitas de
subempreitada , com arrimo na doutrina e jurisprudência relevantes. Tomada de
posição fundamentada;
- Discussão acerca da existência de relações diretas entre dono da obra e
subempreiteiro (em especial quanto à eliminação de defeitos);
- Discussão acerca da possibilidade de o subempreiteiro exigir ao dono da obra o
que lhe é devido a título de preço pelo empreiteiro;
- Desenvolvimento da questão relativa à admissibilidade de recurso a terceiros
(para além das situações de urgência apesar de parecer se esse o caso e em
caso de incumprimento definitivo da obrigação de eliminar defeitos) para a
eliminação de defeitos e possibilidade de exigir ao empreiteiro o valor pago pela
intervenção deste terceiro, sendo apenas mais um dano indemnizável, nos
termos gerais.
Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa - Direito dos Contratos I
Exame Final Coincidências Turma A 27 de Janeiro de 2017
Tópicos de Correção
1. Quid Iuris?
Qualificação completa e fundada do contrato de compra e venda entre dois
profissionais;
Aplicação do regime da compra e venda de coisa defeituosas arts. 913.º e ss
do Código C ;
Explicação dos direitos do comprador;
Referência aos prazos art. 916.º, n.º 2 do CC e art. 921.º do CC;
Referência à indeminização, sua qualificação e aplicação ao caso concreto.
2. A resposta seria a mesma se António tivesse comprado a televisão para sua Casa
e devido à avaria tivesse assistido aos jogos em casa de um vizinho?
Neste caso estaríamos perante um contrato de compra e venda entre um
profissional e um consumidor ao abrigo do disposto no DL 67/2003, com as
alterações entretanto sofridas;
Referência à noção de desconformidade e aplicação ao caso concreto;
Referência aos direitos do consumidor e à questão de saber se há ou não uma
hierarquia ao abrigo do disposto no art. 4.º, n.º 1 do DL 67/2003;
Referência aos prazos de garantia, de denúncia e exercício de direitos;
Referência ainda ao disposto no art. 12.º da Lei de defesa do Consumidor.
II
semanas após a celebração e 2.000,00 com a entrega das t-shirts, a qual deveria ocorrer um mês
após a celebração do contrato. As t-shirts destinavam-se a serem comercializadas pela Rock in Lx,
num evento musical por ela organizado.
II
I.
a) Contrato atípico que serve de cobertura à realização de outros contratos (compra e
venda, prestação de serviços e empreitada), tendo subjacente um mandato para a
compra e venda do terreno e uma prestação de serviços complexa de concepção
construção de uma obra, que pode enquadrar uma empreitada.
b) A Imobiliária estava obrigada a comprar para Alberto um terreno apto a
determinado fim: construção de uma moradia. Se o referido fim foi indicado na
compra e venda, a mesma é defeituosa ou desconforme (caso se aplique o regime de
compra e venda de consumo). Se a Imobiliária não transmitiu ao vendedor qual o
propósito da aquisição do terreno, há responsabilidade daquela na execução do
contrato perante Alberto.
c) A relação contratual de construção da casa (empreitada) estabeleceu-se entre a
Imobiliária – como dono de obra – e o construtor – como empreiteiro. O facto de o
terreno pertencer a Alberto, por efeito da venda, não obsta a que o dono da obra seja
a Imobiliária, que contratou, em seu nome, o construtor. Alberto, não sendo parte no
contrato de empreitada, não pode impor alterações ao construtor. Tendo o
empreiteiro realizado as alterações, a obra é havida como defeituosa e não pode ser
reclamado o correspondente aumento de preço; a dúvida reside em saber se, em tal
caso, não se justificaria exigir o valor de enriquecimento sem causa.
d) Referir e tomar posição na discussão relativa à existência de um direito de retenção
do empreiteiro (e do subempreiteiro) nos artigos 754,º e ss. do CC. O direito de
retenção pode ser feito valer contra o proprietário do bem, ainda que não seja parte
no contrato, por se tratar de uma garantia real.
II.
a) O regime legal do arrendamento para habitação só prevê que o arrendamento seja
acordado com prazo certo (art. 1094.º do CC) e, no caso, trata-se de um prazo incerto.
Sendo o contrato de duração indeterminada, poderia haver denúncia para habitação
do senhorio ou denúncia livre com aviso prévio, mas o regime legal não se coaduna
com o prazo contratual indicado. Pode, porém, questionar-se se, podendo o contrato
de arrendamento ser celebrado pelo prazo p. ex de 30 dias e podendo ser acordada a
não sujeição do contrato a renovação automática (art. 1096.º do CC), por que motivo
seria inválida a cláusula em apreço.
b) A obrigação de informar o senhorio não respeita só a vícios que afectem o gozo do
prédio. Não sendo a locatária parte no contrato com o empreiteiro e não beneficiando
da extensão constante do art. 1225.º do CC, aplicável a terceiros adquirentes, só
poderia recorrer ao regime das reparações urgentes (art. 1036.º do CC). Sendo
discutível que, para tais reparações, pudesse por via das acções possessórias (art.
1037.º, n.º 2, do CC) sub-rogar-se ao locador e exigir a reparação do empreiteiro.
Direito dos Contratos I
Duração 1h30m
A sociedade Regas, Lda. tem por objeto a realização de projetos de sistemas de rega, a
venda de equipamentos de rega (representa, em Portugal, uma conhecida marca estrangeira),
e a instalação dos equipamentos. A sociedade Herdade do Monte Alto, Lda., que se dedica à
comercialização e produção de frutas, encomendou à primeira a elaboração de um projeto de
instalação de um sistema de rega numa das suas propriedades, assim como a aquisição e
instalação dos equipamentos necessários à execução de tal projeto. Segundo o acordo firmado
entre as partes, o preço seria pago em várias prestações, sendo a última um ano após a
conclusão da instalação do equipamento.
b) O projeto de sistema de rega foi mal elaborado pela Regas, Lda., não tendo sido
prevista a instalação de rega numa parte significativa da herdade. A Herdade do Monte Alto,
Lda. só se apercebeu disso depois de estarem instalados todos os equipamentos adquiridos e
pretende saber o que pode fazer. Que conselhos lhe daria?
II
b) O que pode António fazer se Bárbara não pagar a renda no final do primeiro ano de
contrato (conforme acordado)?
Cotações: 3 valores em cada uma das questões, a que acrescem 2 valores de apreciação geral.
Tópicos de correção
II. b) Validade da estipulação de prazo. Possível aplicação do art. 1041.º (mesmo que a
renda não corresponda aos meses do calendário gregoriano) e, em alternativa, do art.
1083.º, n.º 3 (mesmo que a renda não corresponda aos meses do calendário
gregoriano).
15 de fevereiro de 2019 | Duração: 90 minutos
Regência: Professor Doutor Pedro de Albuquerque
Critérios de Correção
Grupo I
[9 valores]
António vendeu a Berta
Berta.
António exigiu, porém, a consagração de uma cláusula de reserva de propriedade no contrato de
compra e venda celebrado.
Berta, considerando ter liquidado o valor do quadro, e ser sua legítima proprietária e possuidora,
decidiu vendê-lo a Carlos
sabia dos termos do negócio anteriormente celebrado entre António e Berta.
Sabendo de tal alienação, António pretende que o quadro lhe seja devolvido, solicitando parecer
junto do seu advogado, sobre a melhor forma de fazer valer os seus direitos.
Entretanto, em 02 de fevereiro de 2019 deflagrou um incêndio na casa de Carlos, onde se
encontrava o quadro, destruindo por completo o seu recheio.
António vem agora exigir a Carlos o valor do quadro.
Referência ao princípio da consensualidade resultante do artigo 408.º/1 do CC. Regra geral, a constituição
e transferência de direitos reais, na ordem jurídica portuguesa, dá-se por mero efeito do contrato (sistema
do título).
Discussão sobre a natureza da cláusula de reserva de propriedade enquanto mero desvio ou verdadeira
exceção ao princípio da consensualidade, à luz do artigo 409.º/1 do CC.
É possível a celebração de cláusula de reserva de propriedade relativa a coisas móveis não sujeitas a registo,
como era o caso do quadro, com o pagamento integral do preço pelo comprador, apesar de não ser comum
no tráfego.
Esta cláusula de reserva de propriedade estava sujeita a liberdade de forma (artigo 219.º do CC).
Problema de não se ter sido definido, como impõe o artigo 409.º/1, o momento da transmissão da
propriedade para o comprador. Inadmissibilidade da existência de cláusulas de reserva de propriedade
perpétuas, em face do princípio da tipicidade dos Direito Reais.
Berta, tendo apenas uma expetativa real de aquisição, não poderia alienar o quadro a Carlos, razão pela qual
não tinha legitimidade para a celebração de tal negócio jurídico, pelo que estamos perante um contrato de
compra e venda de bens alheios, nos termos do disposto no artigo 892.º do CC, não se aplicando, atendendo
aos dados da hipótese, o regime do artigo 893.º do CC.
Discussão da oponibilidade da cláusula de reserva de propriedade em relação a coisas móveis não sujeitas
a registo. Referência ao entendimento do Professor Romano Martinez de que nas coisas não sujeitas a
registo, a cláusula de reserva de propriedade tem eficácia meramente obrigacional. Invocação das críticas
elencadas pelo Professor Pedro de Albuquerque ao entendimento do Professor Romano Martinez. Tomada
de posição fundamentada.
Discutir fundamentadamente a transferência do risco nos contratos de compra e venda com reserva de
propriedade, fazendo referência ao regime do artigo 796.º do CC, e argumentando se o risco do perecimento
do quadro se mantém na esfera jurídica de António, na qualidade de alienante ou se se transfere para a
esfera jurídica de Berta, na qualidade de adquirente, ou de Carlos, enquanto sub-adquirente atendendo aos
argumentos apresentados pela doutrina.
Carlos, estando de boa fé, teria direito à restituição integral do preço, nos termos do disposto no artigo 894.º
do CC e à convalidação do negócio, ao abrigo do artigo 897.º, caso o quadro não tivesse sido destruído.
Carlos teria também direito a ser indemnizado, nos termos do disposto no artigo 896.º, pela circunstância
de Berta ter agido dolosamente.
O quadro, em virtude do incêndio, destruiu-se, deixando de existir direito real de propriedade, por
inexistência de objeto.
António não poderia exigir o valor do quadro a Carlos, podendo apenas hipoteticamente intentar uma ação
real de reivindicação da propriedade, nos termos do disposto no artigo 1311.º do Código Civil, caso o
quadro não tivesse sido destruído.
Grupo II
A empresa de Carlota decide contratar Dário para a colocação das telhas no telhado.
Bento, apercebendo-se de tal situação, recusa que Dário execute tais trabalhos, alegando que não
o tinha contratado para a reparação do telhado, mas sim à empresa de Carlota.
Aplicação do regime da compra e venda de coisa defeituosa, enquanto perturbação típica da compra e
venda, nos termos do disposto nos artigos 913.º e ss. do CC.
Inaplicabilidade do regime do Decreto-Lei n.º 67/2003, de 08 de abril, atendendo à natureza dos dois
contraentes.
O imóvel padecia de um defeito estrutural oculto, que era do conhecimento de Abel, o qual agiu
dolosamente, não procedendo a sua argumentação.
Bento teria direito à reparação do imóvel, nos termos do disposto no artigo 914.º do CC, tendo denunciado
tempestivamente o defeito, nos termos do disposto no artigo 916.º/3 do CC.
Teria Bento ainda direito a uma indemnização ao abrigo do artigo 908.º do CC, aplicado ex vi artigo 913.º
do CC.
Qualificação do contrato celebrado entre Bento e Carlota como empreitada, nos termos do disposto nos
artigos 1207.º e ss. do CC.
Atendendo à circunstância de ser a empresa de Berta a responsável pela empreitada, enquanto sociedade
comercial, discussão sobre a aplicabilidade da empreitada de bens de consumo Decreto-Lei nº 67/2003,
de 08 de abril (cfr. Diretiva 1999/44/CE relativa aos contratos de compra e venda de consumo, que também
pode ser aplicada a certos contratos de empreitada (artigo 1º/4 da Diretiva), por se tratar de empreitada de
reparação do telhado (e não de uma obra nova).
Referência às três posições doutrinárias a este respeito (não aplicação; aplicação apenas quanto aos bens
incorporados pelo empreiteiro no objeto reparado; aplicação).
Carlota, na qualidade de empreiteira, poderia subempreitar livremente a obra, de acordo com uma leitura
adaptada do artigo 264.º do CC ex vi n.º 2 do artigo 1213.º do CC, em virtude na natureza fungível da
prestação. Assim, Bento não podia recusar a execução da obra pela empresa de Dário.
Apesar de a empresa de Berta ter recorrido à empresa de Dário, tal circunstância não a exonera da
responsabilidade de execução da empreitada assumida perante Bento, permanecendo inteiramente
responsável perante este último, por todos os defeitos da prestação, ainda que decorram de culpa do
subempreiteiro, como permite o disposto no artigo 800.º/1, do CC.
DIREITO DOS CONTRATOS I
3.º Ano - 2017/2018
Exame (Época Normal)
Duração: 120 minutos
Regência: Professora Doutora Maria de Lurdes Pereira
Enunciado
Em janeiro/2013, a Build, S.A. construiu e vendeu a António, famoso arquiteto, uma moradia,
que este destinava a casa de férias. Passados 15 dias sobre a data da escritura, António
visitou a sua nova moradia, tendo então descoberto que a mesma estava habitada por Carlos.
Mais estupefacto ficou quando Carlos exibiu um contrato de arrendamento com três anos de
duração celebrado com a Build, S.A.
(a) De que modo pode António reagir à descoberta de que o imóvel que comprou se
encontrava arrendado, caso a data do contrato de arrendamento fosse 15 de dezembro/2012?
(4 valores)
(b) No final de novembro/2017, António constatou que as paredes das divisões viradas para
o mar evidenciavam humidade. Pediu parecer a um engenheiro, que identificou na
impermeabilização deficiente das paredes a causa da humidade. Tendo andado muito indeciso
sobre o que fazer, António acabou escrevendo à Build, S.A. apenas em maio/2018, dando
conta dos problemas de humidade e exigindo o reembolso do preço pago. Aprecie a pretensão
de António e clarifique se e dentro de que prazo pode António propor ação judicial para
realizá-la. (4 valores)
(c) Em maio/2013, António descobriu que, além de Carlos, a moradia era habitada por mais
três amigos deste, que tinham chave de casa e usavam em exclusividade três dos quatro
quartos, sendo que cada um deles entregava a Carlos €100/mês para as despesas da casa.
Quid iuris? (4 valores)
(d) Passado um ano após a compra da casa, António descobriu e obteve prova de que, afinal, o
contrato de arrendamento ao abrigo do qual Carlos habitava o imóvel tinha sido celebrado
com a Build, S.A. no dia seguinte àquele em que António havia comprado o imóvel. De que
modo pode António reagir? (4 valores)
(e) Recentemente, António decidiu fazer algumas remodelações na sua moradia. Gizou e
elaborou um projeto, que entregou a Dário, empreiteiro de profissão, para execução. Durante
a obra, António visitou frequentemente a moradia para acompanhar os trabalhos. Tendo a
obra sido finalizada, António recusou a entrega, argumentando que as portas e as janelas não
estavam de acordo com o projeto. Por conseguinte, exigiu a Dário que as substituísse. Dário
ficou muito revoltado e recusou proceder à substituição, pois entendia que a desconformidade
era pouco relevante e que António devia tê-lo alertado antes. Quem terá razão? (4 valores)
1
DIREITO DOS CONTRATOS I
3.º Ano - 2017/2018
Exame (Época Normal)
Duração: 120 minutos
Regência: Professora Doutora Maria de Lurdes Pereira
Tópicos de Correção
(a) Atendendo ao disposto no artigo 1057.º CC, depois da compra e venda o A passou a ser o
locador, sucedendo nas obrigações e direitos do B.
Posto isto, cumpre decidir se o contrato de arrendamento celebrado entre B e C afeta, e em
que termos, o contrato de compra e venda celebrado entre A e B. Sendo a resposta positiva,
importaria mencionar que esse impacto decorre de o A (comprador) desconhecer a relação
arrendatícia no momento em que celebrou o contrato de compra e venda.
Cumpriria discutir se o arrendamento pode ser, neste contexto, qualificado como ónus do bem
vendido, fazendo em consequência intervir a tutela do comprador prevista nos artigos 905.º e
ss. CC. Neste caso, caberia descrever as vias de reação ao dispor do comprador tal como
configuradas nos mencionados preceitos (anulação — para alguns, resolução — do contrato,
redução do preço e obrigação de fazer convalescer o contrato de B mediante expurgação do
ónus, todas cumuláveis com indemnização).
Não se entendendo que o arrendamento devesse ser considerado um ónus do bem vendido,
cumpriria gizar formas alternativas de tutela do comprador: inter alia, regime do erro,
violação dos deveres de informação.
Uma vez que A se torna locador de C, cumpriria discutir se A poderia fazer cessar o contrato
de arrendamento, em particular, opondo-se à renovação do contrato, nos termos legais
(forma, antecedência mínima, etc.). Tem ainda direito, enquanto senhorio, de exigir a C o
pagamento das rendas.
(b) Por referência à distinção entre compra e venda e empreitada, qualificar o contrato
celebrado entre A e B, tendo presente que B havia construído a casa. Em qualquer caso, ao
contrato celebrado entre A e B é aplicável o regime da venda de bens de consumo, tal como
previsto no Decreto-Lei n.º 67/2003, 08.04 (especial referência aos artigos 1.º-A e 1.º B deste
diploma).
Neste contexto, caberia decidir justificadamente se a impermeabilização deficiente das
paredes deveria ser considerada uma falta de conformidade do bem, nos termos do artigo 2.º
Decreto-Lei n.º 67/2003. A aplicação da presunção prevista no artigo 3.º/2 Decreto-Lei n.º
67/2003 seria, neste caso, redundante, dado que se trata de um vício de construção.
Assente que se trata de uma falta de conformidade, caberia debater quais são os remédios ao
dispor do consumidor-comprador, bem como a (in)existência de hierarquia entre eles (artigo
4.º/1 Decreto-Lei n.º 67/2003). Mesmo sufragando a inexistência de hierarquia, no presente
caso, à pretensão de resolução pareceria ser oponível a cláusula geral prevista no artigo 4.º/5
Decreto-Lei n.º 67/2003.
No respeitante aos prazos, cumpriria notar que a falta de conformidade se manifestou dentro
do prazo (de garantia) de cinco anos previsto no artigo 5.º/1 Decreto-Lei n.º 67/2003. Depois
de o defeito se manifestar, o comprador dispõe de um prazo de um ano para denunciar o
defeito ao vendedor (artigo 5.º-A/2 Decreto-Lei n.º 67/2003); A observou o prazo para a
denúncia. Posto isto, A poderia propor ação em tribunal pedindo o reconhecimento do seu
direito (reparação, redução do preço ou resolução do contrato) no prazo de 3 anos após a
denúncia (artigo 5.º-A/3 Decreto-Lei n.º 67/2003), ou seja, até maio de 2021.
(c) Nesta questão, cumpria discutir se a relação jurídica entre C e os seus amigos poderia ser
configurada como um contrato de subarrendamento (v. artigo 1060.º CC e artigos 1088.º e ss.)
2
DIREITO DOS CONTRATOS I
3.º Ano - 2017/2018
Exame (Época Normal)
Duração: 120 minutos
Regência: Professora Doutora Maria de Lurdes Pereira
ou antes se os amigos de C deveriam ser considerados seus hóspedes (v. artigo 1093.º/3 CC).
Importa, pois, definir e distinguir as duas figuras.
Independentemente da resposta para esta pergunta, caberia debater as consequências de
ambas as qualificações hipotisadas. Ao passo que a hospedagem até 3 pessoas é permitida,
salvo se for proibida pelo contrato [artigo 1093.º/1, b) CC], o subarrendamento é proibido,
salvo se for permitido pelo contrato ou, posteriormente à celebração do contrato, autorizado
por escrito pelo senhorio [artigos 1308.º, f) e 1088.º CC].
As consequências da qualificação da relação jurídica entre o C e os seus amigos para a posição
do A são divergentes. Tratando de hospedagem, o A deve tolerá-la, pois é lícita. Tratando-se
de subarrendamento, supondo a sua ilicitude (o direito não consta do contrato de
arrendamento nem foi posteriormente autorizado pelo A), assiste ao A o direito de resolver o
contrato [artigo 1083.º/2, e) CC] ou de ratificar o subarrendamento (art. 1088.º, n.º 2).
(d) Tendo o contrato sido celebrado pela B quando já não era proprietária do imóvel, caberia
notar que a B havia arrendado um bem alheio, não sendo titular de qualquer direito que lhe
conferisse a faculdade de ceder o gozo do imóvel.
O contrato seria, pois, ineficaz relativamente a A, podendo este propor ação com o propósito
de defender o seu direito de propriedade (v. artigos 1311.º e ss.). Caberia ainda discutir se A
poderia propor alguma ação de defesa da posse (artigos 1276.º e ss.), o que implicaria debater
se, e em que casos, o comprador adquire a posse no momento em que compra.
Seria valorizado o paralelo entre a posição do proprietário na compra e venda de bens alheios
e no arrendamento de bens alheios.
Quanto à validade do contrato de arrendamento celebrado entre B e C, este é válido, embora
se considere não cumprido (cf. o art. 1034.º, n.º 1, al. b)), a menos que A não impedisse gozo
de C, caso em que o contrato de arrendamento se consideraria cumprido (art. 1034.º, n.º 2).
Referir ainda o art. 1035.º.
(e) Nesta hipótese, cumpriria debater o regime legal aplicável: o CC ou o Decreto-Lei n.º
67/2003 (v. artigo 1.º-A/2)? Independentemente da solução a dar a este problema, a resposta
à questão colocada pela hipótese não parece variar.
Quanto ao primeiro argumento do D (irrelevância do vício), deveria o mesmo ser considerado
improcedente, dado que o regime legal não faz depender os direitos do dono de obra da
relevância do vício (v. artigo 1221.º CC e artigos 2.º e ss. Decreto-Lei n.º 67/2003).
Quanto ao segundo argumento, caberia encetar por classificar a figura da fiscalização na
empreitada: é um dever, um ónus ou um direito (uma faculdade)? Atendendo ao regime
positivado (em particular o disposto no artigo 1209.º/2 CC), a melhor solução parece ser a
terceira. Assim sendo, o argumento de D não deve, numa primeira análise, proceder: A
poderia, de facto, tê-lo avisado, mas não estava obrigado a fazê-lo, nem a circunstância de o
não ter feito implica a preclusão de qualquer direito. Todavia, atendendo a que A projetou a
obra, era arquiteto e, efetivamente, fiscalizou a obra, poderia discutir-se se o princípio da boa-
fé poderá, nestas circunstâncias, intervir corretivamente conferindo tutela à pretensão de D.
Seria valorizada a demonstração do conhecimento do debate doutrinário a este respeito.
3
DIREITO DOS CONTRATOS I
3.º Ano - 2017/2018
Exame (Época de Coincidência)
Duração: 120 minutos
Regência: Professor Doutor Pedro de Albuquerque
I
Em agosto/2016, Afonso, proprietário de um terreno composto por laranjeiras, vendeu as laranjas que
se colhessem naquele ano a Beatriz, proprietária de uma mercearia. Em outubro/2016, Afonso vendeu
a Carlos, agricultor, o mencionado terreno. Do contrato de compra e venda ficou a constar que o
terreno tinha uma área de 1000 m2.
(b) Em novembro/2017, Carlos começou a vangloria-se na aldeia de que o terreno comprado a Afonso
tem 1500 m2, de modo que havia feito um excelente negócio, pois pagou 1 e levou 1 e ½. Afonso,
surpreendido por esta informação, quer saber se, e como, pode reagir. (2 valores)
(c) Em junho/2017, Carlos comprou à Deer, S.A. um trator agrícola por €10.000, o qual lhe foi
entregue de imediato. Carlos obrigou-se a pagar o preço em 10 prestações mensais de igual valor. A
Deer, S.A. não reservou para si a propriedade. No contrato de compra e venda, foi estipulado que o
incumprimento de uma prestação conferia ao vendedor o direito a resolver o contrato. Aprecie a
validade desta cláusula. (4 valores)
(d) O trator comprado por Carlos avariou 6 vezes nos primeiros 8 meses. A vendedora tem-se
prontificado a repará-lo em todas essas ocasiões. Todavia, Carlos, aborrecido com o transtorno,
pretende que o veículo seja definitivamente substituído por um novo. Tem esse direito? (3 valores)
.
II
A Wood, S.A., que comercializa móveis usados, contratou com Alberto, carpinteiro, a restauração de
duas cómodas antigas. As cómodas foram devolvidas por Alberto, já restauradas, em 15 de
janeiro/2016.
(b) A Wood, SA nunca chegou a pagar o preço dos serviços prestados por Alberto. Em 19 de
janeiro/2018, Alberto ganhou coragem e interpelou a Wood, SA, através de carta, para pagar. Em
resposta, a Wood, SA informou que nada deve, dado que o crédito de Alberto já prescreveu. Considera
este argumento procedente? (4 valores)
DIREITO DOS CONTRATOS I
3.º Ano - 2017/2018
Exame (Época de Coincidência)
Duração: 120 minutos
Regência: Professor Doutor Pedro de Albuquerque
Tópicos de Correção
(a) Cumpriria debater se a transferência da propriedade sobre o terreno para Carlos havia afetado o
direito de Beatriz.
Nos termos do artigo 408.º/2 CC, quanto aos frutos pendentes, apesar da dilação temporal entre a data
da celebração da compra e venda e o efeito real, a causa deste é o contrato, e não a separação da árvore.
Consequentemente, logo que os frutos se separassem da árvore (porque eram colhidos ou porque
haviam caído) a propriedade sobre os mesmos transferir-se-ia para Beatriz, que, em consequência,
poderia reivindicá-los de Carlos. Este poderia agir contra Afonso, designadamente com fundamento em
dolo, pedindo a anulação do contrato e/ou uma indemnização. Importaria ainda mencionar o artigo
880.º CC, nos termos do qual o vendedor fica obrigado a realizar as diligências necessárias para que o
comprador "adquira" os bens vendidos. Se o termo "adquira" puder ser entendido como "obter a
detenção material sobre a coisa vendida", então seria de sustentar que Beatriz poderia exigir a Afonso
que diligenciasse junto de Carlos no sentido de as laranjas lhe serem entregues.
(b) Nesta hipótese, seria valorizado o debate sobre o direito de Afonso à correção do preço.
Uma vez que a diferença entre a medida real do terreno e a declarada no contrato equivalia a ½, tem-se
por preenchido o requisito de relevância previsto no artigo 888.º/2 CC. Neste contexto, poderia
discutir-se se a correção proporcional do preço visaria a totalidade da diferença ou apenas a parte da
diferença que excedia 1/20. Justificar-se-ia ainda mencionar o direito de resolver o contrato pelo
comprador previsto no artigo 891.º/1 CC.
O direito de Afonso receber a diferença teria, todavia, caducado 1 ano após a entrega (artigo 890.º/1
CC), ou seja, antes de novembro/2017, data em que Afonso tomou conhecimento da discrepância.
(c) Nesta hipótese, depois de ser esclarecido se o artigo 934.º CC contém ou não uma norma
imperativa, caberia debater se, apesar de o preceito não ser aplicável, ao menos diretamente, dado que
não tinha havido reserva de propriedade, se justificaria estender o seu regime ao caso em apreço, com a
consequência de tornar a cláusula em causa inválida. Seria sobretudo valorizada a demonstração do
conhecimento deste debate na doutrina.
(d) Caberia debater se o legislador propôs uma hierarquia para os direitos que confere ao comprador de
bem defeituoso contra o vendedor (artigo 914.º CC). Resolvido esse debate no sentido positivo,
interessaria notar que essa hierarquia é, numa certa perspetiva, constituída a favor do vendedor, que
desse modo passa a ter o direito de escolher reparar em vez de substituir, o que será em princípio
menos oneroso. Caberia então colocar e responder às perguntas seguintes: (i) Se o vendedor, apesar de
se prestar a reparar os defeitos da coisa, evidencia incapacidade para realizar uma reparação eficaz, uma
que permita ao comprador utilizar o bem sem limitações, pode o comprador recusar a reparação e
exigir a substituição? (ii) As sucessivas reparações ineficazes tornam a substituição necessária?
Uma solução poderá passar por considerar que as reparações sucessivas e ineficazes demonstram a
incapacidade do vendedor para reparar o defeito, devendo, na sequência, ser a coisa substituída, o que
pode ser exigido pelo comprador. De acordo com este entendimento, Carlos teria direito à substituição.
II
(a) Nesta hipótese, está em causa decidir se a Wood é titular dos previstos nos artigos 1221.º-1223.º CC
contra Alberto.
DIREITO DOS CONTRATOS I
3.º Ano - 2017/2018
Exame (Época de Coincidência)
Duração: 120 minutos
Regência: Professor Doutor Pedro de Albuquerque
Neste sentido, e assentando que Wood não conhecia o defeito quando aceitou a obra, interessaria
começar por discutir se o defeito em causa deveria ser considerado oculto ou aparente. Seria valorizada
a distinção fundada entre estes dois conceitos.
Sendo o defeito oculto, a Wood não só havia cumprido o prazo de 30 dias para denunciar o defeito
(artigo 1220.º CC), como poderia propor ação para fazer valer os seus direitos até ao dia 14 de janeiro
de 2018.
Sendo o defeito considerado aparente, e tendo a obra sido aceite sem reservas, a Wood teria de ilidir a
presunção prevista no artigo 1219.º/2 CC, caso pretendesse exercer os seus direitos. Se não fosse bem-
-sucedida nesta diligência, não só estaríamos perante um caso de irresponsabilidade do empreiteiro
(artigo 1219.º/1 CC), como o prazo para denunciar o defeito já teria caducado (artigo 1220.º/1 CC).
(b) Na presente hipótese, interessaria debater se a presunção de cumprimento prevista no artigo 317.º,
b) CC aproveita ao dono de obra.
Depois de compreendido que a Wood não poderia alegar a prescrição, mas o cumprimento, dado que o
artigo 317.º CC não prevê qualquer efeito prescritivo, caberia debater se este regime é ou não aplicável
à empreitada, mobilizando as considerações doutrinárias e jurisprudenciais que se afigurassem
convenientes.
Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
Direito dos Contratos I turma A
Exame de Recurso
Senhor Professor Doutor Pedro de Albuquerque
19 de Janeiro de 2018
Tópicos de Correção
Em Junho de 2016, Dinis vendeu a Edilberto (conhecido ator, a residir em Los Angeles) uma
da marca Austin Martin que acabara de chegar ao stand de automóveis usados de que Dinis
é proprietário
A moradia foi paga integralmente na mesma data. Quanto ao automóvel, Dinis reservou para
si a propriedade do mesmo até integral pagamento do preço. A cláusula de reserva de
propriedade foi registada.
b) O preço do Austin Martin deveria ser pago em duas prestações de igual valor, vencendo-
se a primeira no último dia de Outubro de 2016 e, a segunda no último dia de Março de
2017. Edilberto passou de imediato a conduzir o automóvel. Após o pagamento da
primeira prestação, Edilberto vendeu e entregou o automóvel a um colega de profissão
americano, Francis. Dinis, ao tomar conhecimento de tal facto, acha que Edilberto não
foi leal consigo e decide vender o automóvel a Gaspar, inimigo de longa data de
Edilberto, que o pretende reivindicar a Francis. Quid Juris? (3,5 valores)
- Explicação completa e fundada do sentido, função e natureza da cláusula de reserva de
propriedade. Implicações daqui resultantes para o caso em apreço. Em princípio, não se trata
de uma exceção ao princípio da transmissão da propriedade por efeito do contrato, mas
apenas de uma dilação dessa transmissão para momento posterior.
- Pode alienar-se a posição jurídica do comprador com reserva de propriedade (que era
relevante qualificar), que tem conteúdo patrimonial e não está abrangida por qualquer
proibição de disposição pelo seu titular. Pode também tratar-se o bem como bem
relativamente futuro (artigo 893.º do CC). Fora desses casos, parece que há venda de bens
alheios (artigo 892.º CC).
- Assim, in casu, depois da venda a Edilberto, Dinis não mantém a plenitude dos poderes
de um normal proprietário, nomeadamente os poderes de alienação. A reserva de
propriedade cumpre uma função de garantia, pelo que se deve entender que Dinis não tem
legitimidade para alienar a coisa. Consequentemente, tal hipótese deverá ser equiparada à
venda de coisa alheia como própria, sancionando-se tal venda com a nulidade.
c) Aquando da compra do Austin Martin, o Stand de que Dinis é proprietário fez saber a
Edilberto dilberto
II
global;
- Regime jurídico aplicável: âmbito de aplicação objetiva e subjetiva do Decreto-Lei n.º
67/2003, de 8 de Abril, com as alterações entretanto introduzidas artigo 1.º-A, n.º 1 e 1.º
B, n.º 2. Exclusão deste regime e aplicação do regime comum do CC;
- Qualificação completa e fundada do contrato entre Bernardo e Casimiro como
contrato de subempreitada (artigo 1213.º do CC);
- Aferição da validade do contrato de subempreitada (artigo 264.º ex vi artigo 1213.º, n.º
2 do CC);
- Referência ao regime da verificação da obra (artigo 1218.º do CC), aferindo da
relevância da aceitação efetuada por António (artigo 1219.º do CC);
- Referência à existência de defeitos ao abrigo do contrato de empreitada (artigo 1225.º
do CC), com referência ao regime da responsabilidade de Casimiro enquanto subempreiteiro
(artigo 1226.º do CC), referindo o regime dos artigos 1221.º a 1223.º do CC.
TÓPICOS DE CORREÇÃO
Grupo I
3) Uma semana após a celebração do negócio entre Anabela e Beatriz, o automóvel apresenta graves
problemas mecânicos. Beatriz recusa-se a liquidar as prestações em falta enquanto Anabela não
custear a reparação do automóvel. Quid iuris?
Qualificação do negócio como uma venda de coisa defeituosa (art.º 913.º). Enquadramento da
tutela de B perante o desconhecimento sem culpa por A do vício do automóvel (arts. 914.º e 915.º).
Garantia do bom funcionamento (921.º). Procedência da exceção de não cumprimento (432.º) da
obrigação de pagamento do preço perante o cumprimento defeituoso da obrigação de entrega da
coisa, se o vício for imputável ao vendedor. Caso contrário, estaremos perante um problema de
risco (796.º/1), que recai sobre B.
Grupo II
Em agosto de 2018, Alberto acordou com Bruno, mecânico, que este lhe repararia o automóvel que aquele
adquiriu a Carlos, sob reserva de propriedade, no início do presente ano. A reserva de propriedade foi
devidamente registada e o preço fracionado em 40 prestações iguais e sucessivas.
1) Não foi fixado qualquer preço. Pode o mesmo ser determinado por David, amigo comum de
ambos? E pode, pura e simplesmente, não ser fixado qualquer preço?
O preço, sendo elemento essencial do contrato de empreitada, não tem que estar necessariamente
determinado (arts. 1211.º/2 e 883.º). A determinação pode ser feita por terceiro, nos termos do
art. 400.º. O preço é elemento essencial do contrato, pelo que na falta de estipulação de preço, ,
haverá um contrato atípico (que poderá ser, por exemplo, uma prestação de serviço gratuita).
2) Alberto decidiu que, para ter mais conforto, queria que o mecânico colocasse novos estofos no seu
automóvel. Bruno, que não tinha conhecimentos técnicos para o efeito, decidiu contratar Ernesto,
especialista na arte. Bruno não pagou a Ernesto o preço combinado. Poderá Ernesto exigir o
pagamento a Alberto?
Identificação do regime das alterações exigidas pelo dono da obra (art. 1216.º) e dos respetivos
limites quantitativo e qualitativo. Discussão em torno da admissibilidade da subempreitada
(artigo 1213.º) e da existência de relações diretas entre subempreiteiro e dono da obra quanto ao
pagamento do preço. Tomada de posição fundamentada.
3) Bruno falece deixando um filho Francisco sobrevivo. Francisco, advogado, não sabe o que
fazer com o automóvel de Alberto. Esclareça-o.
4) Alberto não pagou a Bruno nem a Carlos. Bruno pretende, por isso, reter a coisa até ser pago.
Carlos opõe-se, afirmando que o automóvel lhe pertence e que nada tem a ver com o contrato
celebrado. Quem tem razão?
(10 valores)
DIREITO DOS CONTRATOS I
3.º Ano - 2017/2018
Exame (Época Normal)
Duração: 120 minutos
Regência: Professor Doutor Pedro de Albuquerque
I
Ana, reformada e assídua espetadora de um programa de vendas na TV, encomenda um robot de
cozinha que é anunciado e explicado num desses programas pela BiTech, S.A.. O preço,
correspondente a €1.200, seria pago em vinte e quatro prestações mensais sem juros.
(a) Sete dias após ter recebido o robot de cozinha, não obstante o seu impecável funcionamento, Ana
acha que cometeu um excesso e pretende devolvê-lo. Quid iuris? (1 valores)
(b) Ana encontra-se em falta quanto ao pagamento de três prestações. Que direitos assistem à
vendedora, a BiTech, S.A.? (4 valores)
(c) Dois dias após a compra do robot à BiTech, S.A., Ana vendeu-o à sua vizinha Célia, por €1100, que
recebeu o bem, mas nunca chegou a pagar o preço. Supondo que a BiTech, S.A. reservou para si a
propriedade, que, 6 meses após a venda, resolveu validamente o negócio celebrado com Ana e que, na
sequência da resolução, lhe solicita a devolução do robot, de que modo pode Célia reagir quando Ana lhe
solicita a entrega do bem para devolvê-lo à BiTech, S.A.? (4 valores)
(d) A máquina tinha uma garantia de bom funcionamento de um ano. Ao cabo de oito meses, o motor
avariou. A BiTech, S.A. substituiu-o por um motor novo. Decorridos dois anos e três meses sobre a
compra, o motor do robot de cozinha avariou novamente. Que direitos assistem a Ana? (2 valores)
II
António contratou com Bento a construção de uma moradia, pelo valor de €150.000, num terreno que
pertencia a António. Acordaram que a construção teria de estar concluída no prazo de 12 meses e que o
preço seria pago da seguinte forma: €70.000 no prazo de 6 meses contados desde a celebração do
contrato e o valor remanescente aquando da aceitação da obra.
(a) Após o decurso de 7 meses de execução dos trabalhos, Bento apercebeu-se de que não conseguiria
concluir a obra no prazo acordado, pelo que contratou Carlos para proceder à instalação elétrica e das
canalizações no imóvel. A obra foi concluída dentro do prazo acordado e aceite por António sem
qualquer reserva. Sucede que, 2 meses após a aceitação, António comunicou a Bento que existia uma
infiltração na cozinha devido à deficiente colocação da canalização. Bento declinou qualquer
responsabilidade com o argumento de que havia sido Carlos a instalar as canalizações. Quid iuris? (5
valores)
(b) Na fase de acabamento, um sismo destruíra por completo a construção. António exige de Bento
nova construção; Bento recusa-se a reconstruir por tal estar completamente fora do que orçamentou
para a empreitada contratada. Quid iuris? (3 valores)
Tópicos de Correção
(a) Trata-se de um contrato celebrado a distância, supondo que Ana é consumidora e que a celebração
foi feita exclusivamente por uma técnica de comunicação a distância. (cf. artigo 3.º, n.º 1, al. f) do
Decreto-Lei n.º 24/2014 de 14.02). Ana tem direito à de livre resolução, dentro do prazo de 14 dias
subsequentes à entrega (artigo 10.º do Decreto-Lei n.º 24/2014 de 14.02). Seria valorizada a explicação
do fundamento e funcionamento deste direito.
(b) No pressuposto de que o equipamento já foi entregue, o vendedor não pode resolver (mediante
conversão da mora em incumprimento definitivo), porque não há reserva de propriedade nem cláusula
resolutiva (cf. artigo 886.º CC). A resolução seria todavia admissível se as partes tivessem
convencionado nesse sentido (cf. artigo 886.º CC).
Uma vez que estão em falta três prestações (artigo 934.º), o vendedor pode exigir a totalidade do preço
em falta: perda de benefício do prazo, discutindo-se se há vencimento antecipado ou exigibilidade
antecipada, sendo necessário, neste último caso, interpelação para que o comprador entre em mora
quanto à parte restante do preço.
Em alternativa, se se tratar de contrato de crédito ao consumo, aplicar-se-á o artigo 20.º do Decreto-Lei
n.º 133/2009 de 2.06. Todavia, de acordo com os dados da hipótese, e tendo em vista a exclusão
prevista no artigo 2.º/1, f) do referido diploma, este regime não seria aplicável.
(c) O problema colocado pela questão prende-se com o reconhecimento do direito de Célia recusar a
entrega do robot que Ana lhe solicita.
Afigura-se irrelevante a circunstância de Célia ainda não ter pago o preço, atenta a regra no artigo 886.º
CC. Mais pertinente é decidir se Ana transmitiu validamente a propriedade do bem a Célia, dado que a
BiTech, SA havia reservado para si a propriedade. Cumpria, neste contexto, discutir a eficácia da
cláusula de reserva de propriedade relativamente a terceiros. Seria valorizada a exposição detalhada do
debate doutrinário sobre este tema. O sentido da resposta à questão levantada pela hipótese estaria
assim dependente da posição assumida na querela sobre a eficácia da reserva de propriedade
relativamente a terceiros. Sendo ineficaz, então teria sido válida a venda do bem a Célia, esta ter-se-ia
tornado proprietária do mesmo, podendo por conseguinte recusar entregá-lo a Ana. Se a reserva de
propriedade fosse considerada eficaz relativamente a Célia, então caberia apreciar a validade da venda
celebrada entre esta e Ana. Seria, designadamente, ponderável aplicar o regime da venda de bens
alheios, diretamente ou por analogia, sendo por conseguinte a venda nula (artigo 892.º), com as
consequências previstas no artigo 289.º/1 CC. Todavia, caberia questionar se Ana poderia alegar a
nulidade do negócio contra Célia, atendendo às limitações previstas no artigo 892.º. Não estaria, porém,
a BiTech, S.A. impedida de pedir a Célia a restituição do bem, invocando a reserva de propriedade.
Outras soluções, desde que devidamente fundamentadas seriam ponderáveis.
(d) Tratando-se de uma venda a consumidor, era aplicável o DL n.º 67/2003, 08.04.
Poderia debater-se a diferença entre a garantia relativa a defeitos da coisa e a garantia de bom
funcionamento. Neste caso, porém, esta distinção conceptual não envolve consequências de regime
aplicável, atendendo ao disposto nos artigos 5.º/1 e 10.º do DL n.º 67/2003, 08.04.
A substituição do motor do robot oito meses depois da compra do mesmo era devida, nos termos dos
artigos 4.º/1 e 5.º/1 do DL n.º 67/2003, 08.04. O motor avariou novamente dois anos e 3 meses após a
DIREITO DOS CONTRATOS I
3.º Ano - 2017/2018
Exame (Época Normal)
Duração: 120 minutos
Regência: Professor Doutor Pedro de Albuquerque
compra, mas apenas 19 meses após ter sido substituído. Posto isto, importa discutir se, relativamente à
peça substituída, a garantia de dois anos (artigo 5.º/1 do DL n.º 67/2003, 08.04) se (re)iniciou na data
da substituição. A dúvida quanto à resposta a esta questão reside na redação do artigo 5.º/6 do DL n.º
67/2003, 08.04, que prescreve o reinício da garantia nos casos em que se verifique a substituição do
bem. Cumpre, então, questionar: no caso em apreço (e em hipóteses similares), releva a substituição do
motor do robot ou a reparação do robot através da substituição do motor? Seguindo o primeiro
entendimento, deve entender-se que, à data da segunda avaria, a garantia do motor subsistia; optando
pelo segundo, deve concluir-se que, na data da segunda avaria, a garantia do robot já havia expirado.
II
(a) Primeiramente, é necessário qualificar o contrato celebrado entre António e Bento como um
contrato de empreitada, nos termos do art. 1027.º do CC, e o contrato entre Bento e Carlos como um
contrato de subempreitada, de acordo com o art. 1213.º do CC.
A obra deve ser executada sem quaisquer vícios que excluam ou reduzam o seu valor (art. 1208.º do
CC), sendo que, antes da aceitação, o dono deve verificar se a obra corresponde ao convencionado com
o empreiteiro, não tendo qualquer defeito (art. 1218.º do CC). Neste âmbito, seria necessário qualificar
o tipo de defeito como oculto, não sendo conhecido pelo dono da obra aquando da aceitação, nem
tendo este a possibilidade de conhecer usando a diligência normal. Desta forma, não se aplica a
irresponsabilidade do empreiteiro, nos termos do art. 1219.º do CC.
O prazo de denúncia dos defeitos é de 30 dias após o descobrimento (art. 1220.º do CC), nos termos
gerais, sendo que no caso aplicar-se-ia o prazo de um ano (art. 1225.º, n.º 2 do CC), presumindo-se que
a comunicação dos defeitos pelo António a Bento foi realizada no prazo legal. Contudo, tratando-se de
um defeito relacionado com a execução da subempreitada, deve aplicar-se o disposto no art. 1226.º.
Denunciado o defeito, o dono da obra tem direito à sua eliminação, por ser possível (art. 1221.º do
CC). Caso os defeitos não sejam eliminados, o António teria direito à redução do preço ou à resolução
do contrato, no caso de os defeitos tornarem a obra inadequada ao fim a que o dono a pretende
destinar. A acrescer a estes direitos, o António pode ser indemnizado nos termos gerais (art. 1223.º do
CC).
Para o caso de imóvel destinado por sua natureza a longa duração, como no caso em apreço, o prazo
de garantia é de 5 anos, desde a entrega, sendo que os direitos devem ser exercidos no prazo de 1 ano
após a denúncia dos defeitos. Este contexto, seria importante referir a posição assumida pelo Prof.
Pedro de Albuquerque quanto ao designado “prazo de manifestação de defeitos”, e aos seus efeitos
práticos na contagem dos prazos.
O argumento do Bento é ineficaz, atendendo à eficácia interna das obrigações (artigo 406.º/2 CC). O
empreiteiro responde sempre perante o dono de obra pelos atos do subempreiteiro, designadamente
por via do artigo 800.º CC (v. também artigo 264.º/4 e 1213.º/2)
Concluir-se-ia que o Bento seria responsável perante o António quanto ao defeito denunciado, e o
Carlos poderia ter de assumir responsabilidade perante o Bento, nos termos do art. 1226.º do CC.
(direito de regresso de Bento contra Carlos).
Caso se considerasse que Bento era um profissional, tratar-se-ia de uma empreitada de consumo, sendo
aplicáveis os direitos e os prazos previstos nos artigos 4.º e ss. do DL 67/2003.
(b) No caso em apreço, a empreitada tinha como objeto um imóvel, cujo terreno pertencia a António,
dono da obra, razão pela qual aplica-se o art. 1212.º, n.º 2 do CC.
Atendendo a que o imóvel ficara totalmente destruído por caso fortuito, o sismo, e sendo António o
proprietário já do imóvel construído por se encontrarem incorporados os materiais fornecidos pelo
DIREITO DOS CONTRATOS I
3.º Ano - 2017/2018
Exame (Época Normal)
Duração: 120 minutos
Regência: Professor Doutor Pedro de Albuquerque
empreiteiro à medida que fora construindo a moradia, o risco corre por conta de António (artigo 1228.º
do CC).
Nesta medida, António terá de pagar o preço acordado a Bento, e caso queira nova construção, a
mesma constituirá nova empreitada, nos termos do art. 1207.º e seguintes do CC.
Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
Grupo I
Américo, comerciante do ramo imobiliário, celebrou com Bernardino um contrato de compra e venda de
um bem imóvel relativo a uma fracção autónoma de um prédio sito em Lisboa, declarando o primeiro que
. Bernardino, feliz pela sua compra e pelo facto poder abrir finalmente o seu
consultório médico, ficou surpreendido pelo facto de encontrar Carlos instalado no prédio. Este justificou-
se dizendo que o tinha arrendado anteriormente e que tinha todo o direito em estar ali.
Bernardino começou por ficar fulo com a situação. Ainda assim, após de dois dedos de conversa e um
café, percebeu que Carlos tinha todo o direito em estar ali. Apesar disso, Bernardino lamentou-se por ter
já adquirido um novo computador topo de gama, que apesar de lhe servir também para uso pessoal, tinha
sido adquirido a pensar no seu consultório. Chegaram então a acordo e Carlos acabou por comprar a
Bernardino o computador
que este tinha adquirido na Loja X, acabando por mitigar os efeitos nefastos desse investimento.
A entrega só aconteceria dali a 3 meses, sendo que Carlos deveria começar a pagar imediatamente.
Passados 3 meses Carlos, satisfeito com a sua nova compra e com o seu novo amigo, decidiu utilizar o
novo computador. Para seu espanto, o monitor tinha problemas de imagem. Ligou a Bernardino e
reportou-lhe a situação. Bernardino foi ter com Carlos para se explicar, mas este não ficou satisfeito e
quer ver a situação resolvida.
Nessa mesma oportunidade, Bernardino ficou impressionado com o automóvel de Carlos, que era igual ao
da nova coqueluche do Benfica e tinha a matrícula 19-04-CD (numa clara alusão histórica à sua paixão de
infância). Bernardino decidiu então fazer uma p . Carlos
aceitou de imediato. No entanto, acabaram por condicionar a produção de efeitos do contrato à
circunstância de a coisa vir a agradar a Bernardino. Para azar deste último, o automóvel foi destruído por
relâmpago numa noite de trovoada mesmo antes de o aceitar.
Grupo II
Alberto, conhecido adepto sportinguista, acordou com Berta que esta lhe faria um casaco novo, com dois
bolsos e um forro interior, exclusivamente com pele exterior de Leão. A pele seria adquirida por Berta,
sendo-lhe desde logo dito por Alberto que, atenta a sua mestria na costura, culinária e outras ciências
nem sequer preciso de experimentar o casaco! Tem é que mo entregar a tempo no próximo jogo
da equipa em Alvalade!
Grupo I
António, comerciante do ramo automóvel, celebrou um contrato-promessa de compra e venda com Bento,
advogado, relativo a uma fracção autónoma de um prédio sito em Lisboa. O mesmo contrato-promessa
veio ser incumprido por António, havendo Bento, a quem as chaves do imóvel tinham sido entregues por
António, exercido direito de retenção sobre a fracção.
Um mês mais tarde, António vendeu o imóvel a Carlos, que desconhecia a situação de Bento. Foi ainda
clausulado entre as partes que a fracção seria entregue a Carlos no estado físico em que se encontrava,
bem como que António poderia por termo ao contrato, por sua livre vontade, num prazo de dez anos,
deste que restituísse a Carlos o preço pago, acrescido da taxa de juro aplicável às operações civis.
Por sua vez, beneficiando de um erro registal, Bento vendeu a fração autónoma a Daniel, proprietário de
uma empresa de produtos informáticos, que para esta se pretende mudar na próxima semana. Em
simultâneo, Daniel vendeu a Bento um computador topo de gama, que lhe deverá ser entregue no final do
mês de Janeiro.
a) Pode Carlos anular o contrato de compra e venda celebrado com António, sete meses após tomar
conhecimento da retenção da fração por parte de Bento? (2 valores)
Retenção do promitente-comprador ex vi o disposto no art. 755.º, n.º 1, al. f). Enquadramento da
situação enquanto venda de bem onerado, nos termos do disposto no art. 905.º. Prazo de
anulação apurado ex vi o disposto no art. 287.º, n.º 1, com exclusão do disposto no art. 916.º, n.º
2.
b) Não o fazendo, e vindo a tomar conhecimento, depois, de graves infiltrações na fracção
autónoma, pode Carlos solicitar a António o respectivo arranjo e limpeza de tectos e paredes? (2
valores)
Exclusão de venda de bem de consumo e da aplicação do disposto no DL 67/2003 cfr. art. 1.º-
B, alíneas a) e c). Venda puramente civil, com aplicação do disposto nos arts. 913.º e 914.º a
respeito dos defeitos da coisa. Exclusão da reparação da coisa por vontade das partes (cláusula
de não garantia).
c) Pode António resolver o contrato celebrado com Carlos três anos volvidos, recusando-se a pagar
a este qualquer quantia? (3 valores).
Enquadramento da situação enquanto venda a retro. Nulidade de duas cláusulas, com redução e
conversão legal: 928.º, n.º 1, 929.º, n.ºs 1 e 2. Possibilidade de resolução nos termos do disposto
nos arts. 927.º e 930.º, com devolução do preço recebido (e despesas que não juros).
d) Daniel é proprietário do imóvel? Que direitos pode este exercer contra Bento? (3 valores).
Venda de bem alheio ex vi o disposto no art. 892.º. Situação jurídica plúrima: direito à
restituição do preço, à convalidação do contrato (com indemnização por não convalidação) e a
indemnização nos termos gerais cfr. arts. 893.º, 897.º e 900.º e 898.º.
e) O computador vendido por Daniel a Bento não possui quatro teclas, o que foi descoberto por este
logo após a sua entrega. Pode Daniel solicitar a Bento a restituição do preço pago pelo aparelho?
(2 valores)
Venda de bem de consumo. Resolução do contrato como uma dos direitos hipotéticos do
comprador ex vi o art. 4.º do DL 67/2003, e nos moldes dos arts. 432.º e ss. do CC. Questão do
abuso de direito na petição imediata da resolução (que a excluirá).
Grupo II
Alberto celebrou com Bernardo um contrato, nos termos do qual este se obrigava a construir uma moradia
Apesar de estar muito empenhado na realização da obra e no cumprimento integral do plano, Bernardo
discordava da colocação de soalho no piso superior da moradia. Segundo ele, não se justificava por duas
razões: i) o revestimento a azulejo ficava muito mais em conta; e ii) não tinha competências técnicas para
a colocação do soalho (o que o levaria a ter que contratar mão-de-obra especializada para o efeito).
este fize
efeito. Bernardo não pagou.
A obra foi entregue no dia 27 de Dezembro de 2010. No dia 24 de Dezembro de 2015, quando Alberto
desfrutava da sua bela ceia de Natal com a família, o insólito aconteceu: parte do telhado ruiu. Por sorte a
noite não estava chuvosa, mas não se livraram do frio que se propagou por toda a casa. No dia 25 de
Dezembro, Alberto ligou a Bernardo exigindo que Bernardo fosse eliminar o defeito. Bernardo, indignado
com o tom de Alberto em plena quadra natalícia, riu- -me. E não te
ligar a Dinis, seu advogado, vendo a sua tentativa frustrada. Decidiu mandar um email, obtendo resposta
erto ficou
desesperado e sem saber o que fazer.
a) Pode Bernardo colocar azulejo em vez de soalho? Em que termos e quais as consequências
(designadamente no que respeita ao pagamento do preço)? (3 valores)
Identificação no caso de alterações da iniciativa do empreiteiro (em princípio, vedadas
(1214.º/1)). Só com autorização do dono da obra pode o empreiteiro fazer tais alterações: o
empreiteiro deve efectuar proposta nesse sentido ao dono da obra (406.º/1). Identificação do
carácter excepcional das exigências de forma do artigo 1214.º/3 (para que o dono da obra tenha
direito à redução do preço, não é necessário que conste da autorização por escrito a indicação
da redução do preço, podendo ser verbal).
c) O que diria a Alberto relativamente aos defeitos que se manifestaram na data de 24 de Dezembro
de 2015? Seria ainda possível fazer valer os seus direitos face a Bernardo? (3 valores)
Desenvolvimento do regime da responsabilidade do empreiteiro por defeitos da obra (1219.º e
ss.). Aplicação do artigo 1225.º e crítica à communis opinio que vê no prazo de 5 anos fixado no
artigo 1225.º um prazo de exercício de direitos e não um prazo de manifestação de defeitos.
Estamos perante uma situação de cumprimento defeituoso de um contrato, revelando-se esse
cumprimento defeituoso antes do final do período estabelecido no artigo 1225.º. O prazo de
denúncia dos defeitos é de um ano (1225.º/2 e 3), sendo o momento determinante para o início
da contagem do prazo de denúncia o do conhecimento do defeito pelo dono da obra (1220.º). O
prazo de caducidade do direito de acção é de um ano a contar da denúncia (1225.º/2 e 3).
Assim, pode o direito de acção ser exercido mesmo passados 5 anos sobre a entrega da obra.
Faculdade de Direito da Universidade de lisboa
Grupo I
Alberto, estudante da FDL, é comproprietário com Bernardo de um manual de Direito das Obrigações,
decidindo vender o mesmo a Carlos, em virtude da sua débil situação económica.
10,00, sendo o livro entregue de imediato a Carlos, e o preço pago. As partes estabeleceram ainda que
Alberto poderia readquirir o livro na eventualidade de Carlos o pretender vender nos próximos 10 (dez)
anos, tendo denominado tal acordo como
estava muito seguro).
Grupo II
Alberto acordou com Bernardino a construção de uma nova moradia num terreno em Azeitão. Como
sabia que Bernardino tinha um belo terreno em Azeitão, Alberto questionou se a obra poderia ser feita no
a) A partir de que momento é que Alberto se torna proprietário do prédio? Imaginando que o preço
seria pago em prestações, seria lícito convencionar-se que Alberto só se tornava proprietário
quando pagasse a totalidade do preço? (2 valores)
Qualificação deste contrato como contrato miso (obrigação de realizar a obra e promessa de
venda), sendo o momento relevante para a transmissão da propriedade da obra o ca celebração
do contrato prometido, isto é, a propriedade da obra só se transmite com a transmissão da
propriedade do solo. Até esse momento, a obra pertence ao empreiteiro. A estipulação de uma
cláusula de reserva de propriedade é perfeitamente admissível (409.º).
b) A meio da obra Alberto entendeu que afinal queria também uma piscina. Bernardino achou que
Grupo I
Alberto, estudante da FDL de escassas posses, ama profundamente a sua namorada Francisca.
Pretendendo surpreende-la no dia de São Valentim, adquiriu na Telemóvel Ideal, Lda., um
telemóvel em formato de coração, em segunda mão, com garantia de 6 (seis) meses, ficando
acordado entre as partes que, se o mesmo não satisfizesse a sua namorada, o contrato deixaria de
levando este o telemóvel consigo, que ofereceu a Francisca como culminar do seu jantar
romântico do último Domingo.
Grupo II
António, proprietário de uma bela herdade com inestimável valor histórico, decidiu fazer
reparações na capela que se encontrava um pouco degradada. Em especial, nos arcos ogivais
estavam em condições bastante degradadas. Nesse sentido, contratou Bento, empreiteiro (e o
maior especialista em arquitectura histórica em Portugal), para efectuar a reparação. Finda a
obra, António nada disse.
i) Afinal Bento não tinha em dia as suas lições de história da arquitectura. Confundiu
o estilo gótico com o estilo românico e em vez de arcos ogivais alterou a estrutura
para arcos de meia circunferência. António só se apercebeu um mês depois, quando
voltou à sua herdade. Quid juris? (3 valores)
Falta de verificação e de aceitação da obra. Art. 1218.º/5 e valor declarativo do
silêncio (importa a aceitação). Funcionamento do art. 1218.º/5 apenas com o
incumprimento definitivo do ónus material de verificar e de comunicar o resultado
dessa verificação. Consideração da obra como defeituosa e consequências.
ii) Como Bento era um especialista em arquitectura histórica disse a António que só
aceitava realizar a obra se ele estivesse afastado da mesma, não podendo fiscalizar o
seu trabalho. Podem fazê-lo? Quais as consequências? (2 valores)
Possibilidade de afastamento do poder de fiscalização da obra. Entendimento
maioritário no sentido de que a fiscalização respeita ao conteúdo essencial do
contrato de empreitada, sem o qual este fica descaracterizado. Apesar de poder ser
regulada a forma como esta fiscalização é feita, a fiscalização é um elemento
tipológico caracterizador do contrato. As partes podem afastá-la, mas nessa
medida teremos um contrato atípico, ao qual se aplicaria o regime da empreitada.
iii) Bento não estava com paciência para fazer os acabamentos e decidiu contratar
Carlos para o fazer. Como Bento não pagou, Carlos exige o pagamento do preço a
António. António diz que nada deve. Quem tem razão? (3 valores)
Explicação dos termos em que é admitida a subempreitada, que é impedida pelo
caracter infungível desta empreitada. Admissibilidade de uma eventual acção
directa do subempreiteiro relativamente ao dono da obra, que é afastada pela
inoponibilidade em relação ao dono da obra da subempreitada. Responsabilidade
do empreiteiro pela realização de qualquer parte da obra pelo subempreiteiro.
Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
Grupo I
limites norm
do regime da venda de bens onerados. Discussão e tomada de posição
fundamentada em relação à questão de saber qual a consequência
(anulabilidade ou resolução do negócio jurídico) e identificação coerente do
regime aplicável; possível convalescença do contrato (906.º) e possível
indemnização em caso de não cumprimento da obrigação de fazer convalescer o
contrato (910.º) à qual acresce indemnização nos termos do artigo 908.º.
Salvaguarda da opção entre a indemnização dos lucros cessantes pela
celebração do contrato que veio a ser resolvido (ou anulado) e dos lucros
cessantes pelo facto de não ser sanado o vício (910.º, n.º 2); referência à possível
redução do preço (feita nos termos do artigo 884.º) e consequente manutenção
do contrato (911.º, n.º 1).
Grupo II
Carlos e Dinis acordaram que este construiria àquele uma moradia de três andares e uma
bela piscina pelo valor de 1.000. .
b) Dinis contratou Felisberto para a instalação das janelas. Após a aceitação da obra,
Carlos descobriu que as janelas tinham sido deficientemente colocadas e ainda
que Dinis tinha recorrido a Felisberto para o fazer. Exige agora que Felisberto as
repare. Pode fazê-lo? (4 valores)
Grupo I
[12 valores]
Em 15 de novembro de 2018, Antónia soube que um conhecido stand de automóveis estava a
vender os carros que tinha em exposição com um grande desconto. Nesse mesmo dia, dirigiu-se
ao stand e comprou um dos carros em exposição, . Uma vez que se tratava do único
exemplar do modelo pretendido por Antónia em exposição, esta teve de se contentar com o facto
de ser azul. O contrato com o stand foi assinado com uma cláusula de reserva de propriedade a
favor do Banco B, que financiou a aquisição do veículo, tendo ficado combinada a sua entrega
para um mês depois.
Grupo II
[6 valores]
Em 10 de janeiro de 2019, Carlos comprou a Daniela
Uma semana depois da compra, Carlos apercebe-se de que o imóvel se encontra arrendado a
Eduardo
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Aplicação articulada dos artigos 908.º ou 909.º (consoante Daniela tivesse ou não
conhecimento da existência do arrendamento) e 910.º CC. Partindo do princípio de que
havia dolo de Daniela, aplica-se o art.º 910, n.º 2, que permite a indemnização pelo
interesse contratual positivo, como pretendido por Carlos. Tomada de posição
fundamentada sobre se a aplicação do art.º 910.º, n.º 2 implica que haja violação culposa
do dever de convalescença (como decorreria do n.º 1).
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