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RELATÓRIO
Por sua vez, MRV Engenharia e Participações Ltda. e Parque Piazza Navona
Incorporações, rés na ação originária, apontam, preliminarmente, ofensa ao art. 1.022, I e
II, do CPC/2015, por negativa de prestação jurisdicional; e, em relação aos temas de
fundo, aos arts. 186, 402, 403, 421, 884 e 944 do CC/2002, pelos motivos a seguir
expostos:
É o relatório.
VOTO
Logo, o fato de o Tribunal de origem ter decidido o IRDR, apenas para fixar
as teses que foram aprovadas, sem a existência de um recurso pendente (causa piloto), é
irrelevante para o julgamento dos apelos excepcionais ora em exame, tendo em vista que,
em nenhum deles, foi suscitada a discussão atinente ao próprio cabimento do IRDR, por
ofensa ao art. 976, I e II, do CPC/2015, estando a questão, por esse motivo, preclusa.
Por sua vez, a seleção dos beneficiários é realizada pelo Poder Público,
mediante cadastro das famílias pelas prefeituras ou por entidades organizadoras
previamente habilitadas pelo Executivo federal, sendo os imóveis destinados aos
interessados por meio de sorteio, após a realização do processo de seleção.
Cabe ressaltar que, por toda a situação peculiar que envolve a faixa 1 de
renda, inclusive por se tratar de beneficiário que, pelos motivos expostos, não está
submetido às regras consumeristas, as teses fixadas no julgamento destes recursos
serão aplicadas apenas aos contratos firmados para as faixas de renda 1,5, 2 e 3.
Tese n. 2 do TJSP:
5) ENTREGA DO IMÓVEL:
Entrega: 04/2013 (abril de 2013) O(A) PROMITENTE COMPRADOR
(A) declara ter conhecimento de que a data de entrega de chaves
retro mencionada é estimativa e que poderá variar de acordo com a
data de assinatura do contrato de financiamento junto à Caixa
Econômica Federal. Prevalecerá como data de entrega de chaves,
para quaisquer fins de direito, 24 (vinte e quatro) meses após a
assinatura do referido contrato junto ao agente financeiro.
Não obstante, todo acordo de vontades tem sempre por objetivo a realização
do interesse das partes, para o qual não basta a existência do objeto da prestação, sendo
fundamental a presença de outros dados relevantes, que possam contribuir para
assegurar liberdade na escolha e garantia de segurança jurídica, entre os quais se insere,
para contratos como o ora analisado, o prazo de entrega da unidade.
Outro ponto a ser destacado é que, para iniciar a negociação dos imóveis, a
incorporadora necessita, em regra, apenas do registro da incorporação em cartório (Lei n.
4.591/1964, art. 32), sendo que, nesse ato, se for do seu interesse, poderá o alienante,
inclusive, estipular cláusula com prazo de carência de 180 (cento e oitenta) dias, dentro do
qual lhe será lícito desistir do empreendimento, caso se convença da inviabilidade
comercial do projeto (art. 34). Nesse aspecto, aliás, não há incompatibilidade entre a Lei n.
4.591/1964 e o PMCMV, seja em relação às obrigações impostas às incorporadoras, seja
no tocante aos direitos que lhes são resguardados.
Nessa mesma linha, o art. 51, IV, do CDC, considera nula de pleno direito,
entre outras, a cláusula contratual que estabeleça obrigação que coloque o consumidor
em situação de desvantagem exagerada, assim considerada, segundo o § 1º, II e III, aquela
que "restringe direitos ou obrigações fundamentais inerentes à natureza do contrato, de tal
modo a ameaçar seu objeto ou o equilíbrio contratual", ou que se mostre "excessivamente
onerosa para o consumidor, considerando-se a natureza e conteúdo do contrato, o
interesse das partes e outras circunstâncias peculiares ao caso".
A propósito:
Embora a regra geral, prevista no art. 402 do CC, disponha que o dano não
pode ser presumido, existem situações excepcionais, tanto nas relações contratuais
quanto nas extracontratuais, em que tal presunção é admitida por este Tribunal. É o que se
verifica, por exemplo, na hipótese de inclusão indevida do nome do devedor em órgãos de
restrição do crédito, de insucesso em procedimentos cirúrgicos de resultado, de assédio
moral ou sexual, e, ao que interessa ao presente julgamento, no caso de atraso na entrega
de imóvel em contrato de promessa de compra e venda, já considerado o decurso do
prazo de tolerância.
Aliás, para as faixas de renda 1,5 (renda até R$ 2.600,00), 2 (renda até R$
Mutatis mutandis, asseverou o Ministro Luis Felipe Salomão, "o art. 413 do
CC, na linha da iterativa jurisprudência do STJ [...], impõe o poder-dever do magistrado de
modificar equitativamente, até mesmo de ofício, a cláusula penal avençada para manter a
indenização na extensão do dano verificado, no caso em que a obrigação principal tenha
se cumprido em parte ou que o montante da penalidade se mostre manifestamente
excessivo, tendo em vista a natureza e a finalidade do negócio".
A esse respeito:
Também, no ponto, deve ser prestigiado o aresto combatido, que deu correta
solução à controvérsia, alinhando-se com o entendimento pacífico desta Corte sobre a
matéria.
É o voto.