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AO JUÍZO DE UMA DAS VARAS DE CONSUMO DO SISTEMA DE JUIZADOS ESPECIAIS DA

COMARCA DE LAURO DE FREITAS – BAHIA.

GABRIELA SANTOS VILAS BOAS, brasileira, solteira, advogada, RG nº 14.516.289-35,


CPF nº 052.921.795-31, residente e domiciliada na Avenida Professor Theócrito Batista, n.º 37,
Condomínio Parque Sun Valley, Bloco 01, apartamento 403, Caji – Lauro de Freitas – Ba, CEP:
42.721-810, atuando em causa própria, nos termos do art. 103, parágrafo único do CPC, razão
pela qual dispensa-se a apresentação de procuração, vêm à presença de Vossa Excelência, com
fundamento no artigo 319 do CPC e na Lei 9.099/95, propor

AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS E DANOS MORAIS

em face de TOP MOVEIS FRANQUIA E COMERCIO DE MOVEIS LTDA, pessoa jurídica de direito
privado, devidamente inscrita no CNPJ sob número 34.129.391/0002-41, com sede na R. José
Ernesto dos Santos, 242 - Centro, Lauro de Freitas - BA, 42702-630, e-mail:
sac@topmoveisonline.com.br, telefones para contato:( (71) 3512-9097 / (71) 99938-1252 / (71)
99631-0564 / (71) 99734-1244/ (71) 3105-7275 / 99938-1252 / 99631-0564 / 99734-1244, pelas
razões de fato e de direito a seguir expostas.

PRELIMINARMENTE

DA GRATUIDADE DA JUSTIÇA

Requer a Autora o benefício da gratuidade de justiça, nos termos da Legislação Pátria,


inclusive para efeito de possível recurso, tendo em vista ser a Autora impossibilitada de arcar com
as despesas processuais sem prejuízo próprio e de sua família, conforme artigo 4º e seguintes da
lei 1.060/50 e artigo 5º LXXIV da Constituição Federal/98.

DO JUÍZO 100% DIGITAL

A Parte Autora manifesta interesse pela adesão ao “Juízo 100% Digital”, conforme
Resolução nº 345, de 09 de outubro de 2020 do CNJ e Art. 2º, § 1º do Ato Normativo Conjunto nº
32, de 14 de dezembro de 2020 do TJBA.

DA AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO

A parte autora manifesta-se no sentido de concordar com a realização da audiência de


conciliação, nos termos da lei 9.099/95.

DO COMPROVANTE DE ENDEREÇO

Cumpre informar que, apesar do comprovante de endereço não estar em seu nome, a
Requerente possui a posse e propriedade do imóvel nesta localidade, tendo em vista que adquiriu
este por meio de contrato de compra e venda em março de 2022, conforme documento acostado
aos autos.

Sendo assim, faz jus a tramitação da presente demanda nesta comarca, cumprindo com os
requisitos do Código de Processo Civil para fins de competência territorial.

DOS FATOS

No dia 06 de março de 2023, o Autora se dirigiu até a loja de móveis da empresa Ré,
localizada no centro de Lauro de Freitas - Ba, com nome fantasia TOP MAGAZINE. Na
oportunidade, foi adquirido conjunto de cozinha (1 Balcão Valdemóveis Itália 1200 C/ Tampo
Cinamomo/Off White, 1 Armário Aéreo Valdemóveis Itália 2P 800 Cinamomo/Off White, 1
Balcão Valdemóveis Itália 2P 800 Cinamomo/Off White, 1 Armário Aéreo Valdemóveis Itália
3P C/ Vidro Cinamomo/Off White, 1 Armário Geladeira Valdemóveis Itália Cinamomo/Off
White), no valor de R$ 2.754,00 (dois mil setecentos e cinquenta e quatro reais).

Durante a negociação de compra, foi prometido pelo vendedor, Sr. Leanderson, serviço de
montagem grátis, o que foi prontamente aceito e concebido um dia após a compra.

Com efeito, começam agora os inúmeros problemas enfrentados por esta consumidora que
vos escreve:
No dia seguinte, 07 de março de 2023, o montador de nome Jhosefer procedeu com a
montagem dos móveis e, desde já, constatou que TODAS as portas do armário possuíam avarias,
além da ausência de alguns puxadores. Uma frustração tamanha!

Segue:
Indagado sobre como procederia com as trocas dos produtos avariados, o montador informou
que abriria um chamado de troca e em até 15 dias úteis, a loja, ora Ré, procederia com o
recolhimento das peças defeituosas e montagem das peças sem defeito:

Ocorre, Excelência, que a troca só foi realizada 03 de maio de 2023, ou seja, 57 dias após o
pedido de troca! Isso após INÚMERAS tentativas de cobrança com o vendedor! Seguem prints
das conversas como provas do alegado:
Mas como diria o ditado popular: “Nada é tão ruim que não possa piorar!”, mesmo após 57
dias de espera para realizar a troca das peças avariadas, eis que os produtos trocados
TAMBÉM ESTAVAM AVARIADOS! A tratativa com o vendedor e com o SAC da loja já se faziam
exaustivas. Nem o próprio vendedor sabia mais como proceder. A loja respondia quando queria.
E esta causídica tirava paciência - de onde não se tinha mais! - para resolver a questão de forma
pacífica:
Como prova do alegado, a Autora acosta anexo o vídeo do recebimento das peças com
avarias pela segunda vez.

Superadas as tratativas de resolução do caso, foi-se solicitada pela TERCEIRA VEZ a troca das
peças avariadas. Pois bem.

Antes de tecer informações sobre a terceira experiência de troca, é importante esclarecer que a
Ré tentará sustentar que esta causídica deu causa ao atraso na entrega dos produtos, conforme
algumas tentativas de entrega frustradas, embora esta não seja a verdade.

Como é de conhecimento público, o exercício da advocacia se dá pela escuta do proeminente


Cliente, pelo atendimento humanizado e, sobretudo, pela prestação de serviço de qualidade. Em
razão disso, esta causídica que vos escreve NÃO tem o costume de atender chamadas
telefônicas, pois zela pela atuação e entrega integral nos seus atendimentos, razão pela qual
solicitou a Ré, desde o momento da compra, que todo e qualquer contato fosse feito por meio da
plataforma Whatsapp.

Além disso, solicitou também que as entregas fossem convencionadas e informadas com
antecedência, haja vista que a autora atende presencialmente nos municípios de Salvador – Ba,
Lauro de Freitas – Ba e Terra Nova – Ba, donde mantém três domicílios profissionais distintos –
conforme rodapé desta. Também informou que por ser advogada militante no direito criminal, é
bastante requisitada em caráter de urgência em horários comerciais e não comerciais, o que
ensejaria a sua ausência em seu domicílio, e, consequentemente, o prejuízo da entrega dos
produtos aqui debatidos. Suplicou, várias vezes, que fosse avisada com antecedência quando das
entregas, mas, obviamente, todos esses detalhes e pedidos foram desconsiderados!
E como a palavra “absurdo” ainda é elogio para adjetivar o comportamento desta empresa Ré, a
própria fez questão de mandar um montador DESMONTAR a cozinha sem o consentimento desta
Autora:

Pois bem. Voltemos à terceira tentativa de troca das peças avariadas, que foi realizada em 08 de
agosto de 2023 e para surpresa de ninguém, eis que as peças vieram NOVAMENTE
AVARIADAS! Isso mesmo, Excelência! A RÉ ENVIOU PEÇAS AVARIADAS PARA A TROCA,
PELA TERCEIRA VEZ!

Como prova do alegado, a autora faz juntada de link de acesso aos vídeos probatórios das duas
entregas com produtos avariados:

https://drive.google.com/drive/folders/1ES9FnbbsQVx3J1S3EUnWFZWZKAJ4eOJ4?usp=drive_li
nk
Cumpre salientar, que em meados de abril, a Autora, por meio de contato telefônico, conseguiu
falar com o gerente/supervisor (não há lembrança exata) da empresa Requerida e sugeriu o
abatimento do valor do produto para fins de compensação pelos danos sofridos – conforme dispõe
o art. art. 18, § 1º, incisos I, II e III, do CDC – o que foi amplamente negado.

Recentemente, como contraproposta, a empresa sugeriu a troca da cozinha por outra da mesma
marca e modelo, com prazo de entrega de até 20 dias úteis, sem a instalação na parede e sem a
adaptação da pia e do aparelho cooktop, procedimentos estes que no ato da primeira
entrega/montagem, foram custeados pela Autora, no montante de R$250,00 (duzentos e cinquenta
reais) ao próprio montador da Top Magazine (Jhosefer), em caráter extraordinário.

Ou, alternativamente, que a Autora fosse até a loja e escolhesse um modelo de cozinha do mesmo
valor ou, se mais caro, completasse com o valor faltante.

Todas as propostas descabidas foram prontamente negadas! Primeiro, porque a autora não confia
mais na empresa e na qualidade do produto ofertado. Segundo que, não se vê mais esperando 1
dia sequer para receber um produto que, por questões óbvias, pode vir avariado novamente. E
terceiro, porque haveriam custos adicionais de instalação e adaptação que a Autora não tem
condições de custear novamente. Não é justo que após 5 meses de dores de cabeça, a parte
autora ainda tenha que pagar pra ter o mínimo que tem direito!

Como exaustivamente relatado, a Autora vem requerer o cancelamento da compra com a


devolução do valor pago corrigido monetariamente, incidindo juros legais desde a data do
desembolso, bem como a justa reparação pelos danos morais sofridos, uma vez ultrapassando o
mero aborrecimento, pois a Autora tem a necessidade de utilizar o produto pago em perfeitas
condições, mas o que a Ré lhe faz é gerar transtornos, angústia, estresse constante e abalo de
ordem psíquica, afetando e muito a sua saúde mental que já vem fragilizada por patologias mentais
das quais faz tratamento contínuo, conforme laudo anexo.

DO DIREITO

DA VIOLAÇÃO À CONSTITUIÇÃO FEDERAL

O Primeiro fundamento jurídico para a propositura desta ação encontra-se fulcro na Carta da
Republica, onde prevê expressamente em seu artigo 5º, XXXV:

“a lei não poderá excluir da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.”

Em seguida, a dignidade da pessoa humana é um dos corolários mais importante a ser


resguardado.
“Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união
indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal,
constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como
fundamentos:

III - a dignidade da pessoa humana;”

Ocorre que a Ré, negligenciou os direitos da autora em viabilizar, o acesso a um produto de


qualidade em tempo hábil!

DA VIOLAÇÃO AO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Fica nítida a relação de consumo no caso em tela, haja vista, a Autora ser a destinatária final,
ficando, portanto, nos moldes do disposto nos artigos 2º e 3º, § 2º, do CDC, fato pelo qual deve
ser utilizado o Código de Defesa do Consumidor:

“Art. 2º Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire


ou utiliza produto ou serviço como destinatário final.

Art. 3º Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou


privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes
despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção,
montagem, criação, construção, transformação, importação,
exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou
prestação de serviços.

§ 2º Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de


consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza
bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes
das relações de caráter trabalhista.”

Contudo, a Ré violou os Princípios que regem as relações de consumo, constantes do art. 4º, I, III
e IV do CDC, quais sejam a Boa-fé, Equidade, o Equilíbrio Contratual e o da Informação:

“Art. 4º A Política Nacional das Relações de Consumo tem por


objetivo o atendimento das necessidades dos
consumidores, o respeito à sua dignidade, saúde e segurança,
a proteção de seus interesses econômicos, a melhoria da sua
qualidade de vida, bem como a transparência e harmonia das
relações de consumo, atendidos os seguintes princípios:
(Redação dada pela Lei nº 9.008, de 21.3.1995).” (grifamos).
“III - harmonização dos interesses dos participantes das
relações de consumo e compatibilização da proteção do
consumidor com a necessidade de desenvolvimento econômico
e tecnológico, de modo a viabilizar os princípios nos quais se
funda a ordem econômica (art. 170, da Constituição Federal),
sempre com base na boa-fé e equilíbrio nas relações entre
consumidores e fornecedores; (grifamos).

Nesse giro, tem-se a falha na prestação de serviços da Ré, além da violação clara na forma do
art. 18, § 1º, incisos I, II e III, do CDC, uma vez que a Autora se manifestou expressamente sua
vontade em abater proporcionalmente o valor do produto:

“Art. 18. (...)

§ 1º Não sendo o vício sanado no prazo máximo de trinta dias,


pode o consumidor exigir, alternativamente e à sua escolha:

I - a substituição do produto por outro da mesma espécie, em


perfeitas condições de uso;

II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente


atualizada, sem prejuízo de eventuais perdas e danos;

III - o abatimento proporcional do preço.” (grifamos)

DA FALHA NA PRESTAÇÃO DO SERVIÇO E DA RESPONSABILIDADE CIVIL

Dessa sorte não restam dúvidas que a situação em tela gera transtornos a Autora que ultrapassam
o mero aborrecimento, quando não há boa fé por parte da empresa Ré (art. 4º da lei 8.078/90)
devendo ser aplicado o disposto no art. 6º, VI, do CDC., que prevê como direito básico do
consumidor, a prevenção e a efetiva reparação pelos danos morais sofridos, sendo a
responsabilidade civil nas relações de consumo OBJETIVA, desse modo, basta apenas a
existência do dano e do nexo causal.

“Art. 6º São direitos básicos do consumidor: (...)

VI - a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais e


morais, individuais, coletivos e difusos; “

O código de Defesa do Consumidor no seu art. 20, protege a integridade dos consumidores:
“Art. 20. O fornecedor de serviços responde pelos vícios de
qualidade que os tornem impróprios ao consumo ou lhes
diminuam o valor, assim como por aqueles decorrentes da
disparidade com as indicações constantes da oferta ou
mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir,
alternativamente e à sua escolha:

§ 2º São impróprios os serviços que se mostrem inadequados


para os fins que razoavelmente deles se esperam, bem como
aqueles que não atendam as normas regulamentares de
prestabilidade.”

A Constituição Federal, no seu art. 37, § 6º, levante o Princípio da Responsabilidade Objetiva, pelo
qual o dever de indenizar encontra amparo no risco que o exercício da atividade do agente causa
a terceiros, em função do proveito econômico daí resultante, senão vejamos:

“Art. 37, § 6º. As pessoas jurídicas de direito público e as de


direitos privado prestadoras de serviços públicos responderão
pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a
terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável
nos casos de dolo ou culpa.”

Neste sentido, estabelece o art. 14 do Código de Defesa do Consumidor que:

“Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente


da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos
consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços,
bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre
sua fruição e riscos.”

Assim, é insofismável que a Ré feriu os direitos da Autora, ao agir com total descaso, desrespeito
e negligência, configurando má prestação de serviços, o que causou danos de ordem domiciliar,
social e profissional. Deste modo, amparada pela lei, doutrina e jurisprudência pátria, a Autora,
deverá ser indenizada pelos danos que lhe forem causados.

DO DANO MORAL

A Autora cumpriu com a sua obrigação, qual seja, pagar pelo produto e aguardar a data da entrega
e montagem, contudo, mesmo após 5 meses da compra, está sem poder gozar inteiramente do
produto adquirido, haja vista as inúmeras avarias que o mesmo apresenta, mesmo após
sucessivas trocas. Não se pode aceitar que a má prestação dos serviços de forma contínua seja
um mero aborrecimento do cotidiano coma a Ré tende a argumentar. A realidade é que a situação
apresentada na presente ação, já transcendeu esta barreira, razão pela qual a parte autora busca
uma devida reparação por todos os danos, aborrecimentos, transtornos causados pela Ré, que
age com total descaso com seus clientes.

A caracterização do nexo de causalidade e a conduta ilícita da Ré se mostra plausível, eis que,


disponibiliza produto avariado, impróprio para consumo. Diante dos fatos acima relatados, mostra-
se patente a configuração dos danos morais sofridos pela Autora, no qual está sendo privada de
usufruir do produto adquirido perante a Ré, apesar de completamente pago. Somado ao gasto
extra que teve, ao se ver obrigada a instalar e adaptar o produto em sua residência.

A Constituição Federal em seu art. 5º, consagra a tutela do direito à indenização por dano material
ou moral decorrente da violação de direitos fundamentais, tais como a intimidade, a vida privada
e a honra das pessoas:

“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer


natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros
residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade,
à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:

V - e assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo,


além da indenização por dano material, moral ou à imagem;

X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a


imagem das pessoas, assegurado o direito a indenização pelo
dano material ou moral decorrente de sua violação;”

Outrossim, o art. 186 e o art. 927, do Código Civil de 2002, assim estabelecem:

“Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária,


negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem,
ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano
a outrem, fica obrigado a repará-lo.” (grifamos)

Também, o Código de Defesa do Consumidor, no seu art. 6º, protege a integridade moral dos
consumidores:

“Art. 6º - São direitos básicos do consumidor: (...)

VI – a efetiva prevenção e reparação de danos patrimoniais


e morais, individuais, coletivos e difusos.”
Assim sendo, a Autora é o consumidora final da efetiva relação, dada a sua natureza ser de
consumo. A Ré responde objetivamente pelo risco, devendo arcar como os danos morais
causados a Autora, que teve o dissabor de experimentar problemas e falhas na prestação de
serviços da Ré.

DA TEORIA DO DESVIO DOS RECURSOS PRODUTIVOS DO CONSUMIDOR

A teoria do desvio dos recursos produtivos do consumidor deixa claro que o consumidor, por ficar
absolutamente vulnerável e tendo em vista as práticas abusivas por parte das fornecedoras de
produtos e serviços, evidencia que a autora sofreu com a PERDA DE SEU TEMPO PRODUTIVO,
ou seja, o tempo que a mesma teria para outras atividades (seja descansar ou trabalhar) não foi
utilizado para o seu devido fim, por um problema ocasionado NÃO por sua culpa, mas por culpa
da empresa.

A responsabilidade é objetiva nas relações de consumo, sendo assim, não é necessário a


demonstração de culpa.

A doutrina e jurisprudência já entendem pela aplicação da teoria, uma vez que o tempo produtivo
do consumidor não pode ser retirado por um problema causado pela empresa ré. A empresa deve
ser punida por este fato. Mesmo entendendo que não há no Brasil o dano punitivo (punitive
damage), o entendimento é que o dano moral, através da aplicação do desvio produtivo –
referente, também ao dano existencial – seja aplicado.

“Neste sentido, o advogado Marcos Dessaune desenvolveu a


tese do desvio produtivo do consumidor, que se evidencia
quando o consumidor, diante de uma situação de mau
atendimento (lato sensu), precisa desperdiçar o seu tempo e
desviar as suas competências - de uma atividade necessária ou
por ele preferida - para tentar resolver um problema criado pelo
fornecedor, a um custo de oportunidade indesejado, de natureza
irrecuperável. Em outra perspectiva, o desvio produtivo evidencia-
se quando o fornecedor, ao descumprir sua missão e praticar ato
ilícito, independentemente de culpa, impõe ao consumidor um
relevante ônus produtivo indesejado pelo último ou, em outras
palavras, onera indevidamente os recursos produtivos dele
(consumidor). (...) Considerando não ter havido abalos maiores
nos direitos de personalidade da autora, fixo a indenização por
dano moral em R$ 5.000,00 (cinco mil reais), quantia que
atende aos princípios norteadores da reparação por dano moral,
com juros de mora a partir da citação e correção monetária a partir
do arbitramento, conforme Súmula 362 do Superior Tribunal de
Justiça. Condeno a ré ainda, ao pagamento de custas e
honorários, que fixo em 20% (vinte por cento) sobre o valor da
condenação.” (grifo nosso - 2216384-69.2011.8.19.0021)

“0026400-23.2017.8.19.0205 – APELAÇÃO. 1ª Ementa. Des (a).


WILSON DO NASCIMENTO REIS - Julgamento: 01/11/2018 -

0040906-62.2012.8.19.0210 – APELAÇÃO. 1ª Ementa. Des (a).


DENISE LEVY TREDLER - Julgamento: 30/10/2018 - VIGÉSIMA
PRIMEIRA CÂMARA CÍVEL. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE
OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C REPETIÇÃO DE INDÉBITO E DE
CONDENAÇÃO AO PAGAMENTO DE INDENIZAÇÃO POR
DANOS MORAIS Controvérsia recursal relativa a ter restado
caracterizado o dano moral e o correspondente direito do autor à
indenização compensatória. Caracterizados os requisitos
necessários à configuração da responsabilidade civil da ré, vez
que inegável o abalo psicológico ocasionado ao autor, haja vista
que possuía produtos artesanais anunciados na internet e quando
os interessados de várias localidades do país ligavam para fazer
pedidos, recebiam a informação de que a linha não mais existia,
o que lhe causava constrangimentos. Assim, deve a ré ser
condenada a compensar-lhe o desgaste físico decorrente dos
transtornos ocasionados, haja vista que o consumidor ficou sem
o seu número de telefone fixo, após adesão ao plano de telefonia,
em razão de falha na prestação do serviço, causando angústia,
frustração e mal-estar ao demandante, um senhor de 70 anos de
idade, que em muito extrapolam o simples aborrecimento
cotidiano. Teoria do desvio produtivo do consumidor, segundo a
qual o fato de o consumidor ser exposto a perda de tempo na
tentativa de solucionar amigavelmente um problema causado
pelo fornecedor do serviço, e apenas posteriormente descobrir
que só obterá uma solução pela via judicial, é gerador da
obrigação de indenizar. Esta independe de prova relativa ao
prejuízo material, vez que se trata de dano in re ipsa, consoante
o disposto nos artigos 186 e 927, do Código Civil, c/c o inciso X,
do artigo 5º, da Constituição Federal. Verba compensatória dos
danos morais arbitrada em R$ 10.000,00 (dez mil reais). Fixação
dos honorários recursais. Inteligência do § 11, do art. 85, do CPC.
Recurso a que se dá provimento. Ementário: 00/0 - N. 0 - 31/12/0.”
(grifo nosso)

Conforme exposto acima, a teoria do desvio produtivo vem sendo aplicada de forma ampla no
judiciário brasileiro. O entendimento encontra-se base no fato, como salientado na explicação
anterior a jurisprudência, na perda do tempo útil do consumidor para dirimir problemas causados
pela fornecedora de produto ou serviço.

DO QUANTUM INDENIZATÓRIO

No que concerne ao quantum indenizatório, forma-se o entendimento jurisprudencial, mormente


em sede de dano moral, no sentido de que a indenização pecuniária não tem apenas cunho de
reparação de prejuízo, mas também caráter punitivo ou sancionatório, pedagógico,
preventivo e repressor: a indenização não apenas repara o dano, repondo o patrimônio abalado,
mas também como forma educativa ou pedagógica para o ofensor e a sociedade e intimidativa
para evitar perdas e danos futuros. Impende destacar ainda, que tendo em vista serem os direitos
atingidos muito mais valiosos que os bens e interesses econômicos, pois reportam à dignidade
humana, a intimidade, a intangibilidade dos direitos da personalidade, pois abrange toda e
qualquer proteção à pessoa, seja física, seja psicológica.

As situações de angústia, paz de espírito abalada, de mal estar e amargura devem somar-se nas
conclusões do juiz para que este saiba dosar com justiça a condenação do ofensor. Conforme se
constata, a obrigação de indenizar a partir do dano que a Autora sofreu no âmbito do seu convívio
domiciliar, social e profissional, encontra amparo na doutrina, legislação e jurisprudência de
nossos Tribunais, restando sem dúvidas à obrigação de indenizar da Promovida.

Assim sendo, deve-se verificar o grau de censurabilidade da conduta, a proporção entre o dano
moral e material e a média dessa condenação, cuidando-se para não se arbitrar tão pouco, para
que não se perca o caráter sancionador, ou muito, que caracterize o enriquecimento ilícito.

Portanto, diante do caráter disciplinar e desestimulador da indenização, do poderio econômico da


empresa promovida, das circunstancias do evento e da gravidade do dano causado a Autora,
mostra-se justo e razoável a condenação por danos morais da Ré num quantum indenizatório de
R$ 10.000,00 (dez mil reais).

DOS PEDIDOS

Diante do exposto, requer:

a) A citação da empresa Ré para, caso queira, apresentar resposta no prazo legal, sob pena
de sofrer os efeitos da revelia, sendo considerados verdadeiros os fatos narrados na
inicial;
b) O deferimento da justiça gratuita, inclusive para fins de possível recurso;

c) A tramitação da presente pelo juízo 100% digital;

d) A designação da audiência de conciliação;

e) Seja julgado procedente o pedido para compelir a empresa Ré a devolver a quantia paga
pelo produto avariado, qual seja, (1 Balcão Valdemóveis Itália 1200 C/ Tampo
Cinamomo/Off White, 1 Armário Aéreo Valdemóveis Itália 2P 800 Cinamomo/Off
White, 1 Balcão Valdemóveis Itália 2P 800 Cinamomo/Off White, 1 Armário Aéreo
Valdemóveis Itália 3P C/ Vidro Cinamomo/Off White, 1 Armário Geladeira
Valdemóveis Itália Cinamomo/Off White), no valor de R$ 2.754,00 (dois mil setecentos
e cinquenta e quatro reais), devendo o valor ser corrigido, sob pena de multa diária a ser
arbitrada por este juízo;

f) Condenar a empresa Ré a pagar a autora o valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), a título
de indenização por danos morais e compensação pela perda do tempo produtivo, face
aos transtornos experimentados, não somente em caráter punitivo, bem como, em caráter
preventivo-pedagógico;

g) A inversão do ônus da prova de acordo com o art. 6º, VIII da lei 8078/90;

h) Em caso de recurso, a condenação da empresa Ré ao pagamento das custas processuais


e honorários advocatícios, estes no montante de 20% sobre o valor da condenação.

Protesta provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos, em especial a prova
documental e testemunhal.

Dá-se à causa o valor de R$ 12.754,00 (doze mil setecentos e cinquenta e quatro reais).

São estes os termos.

Pede e aguarda deferimento.

Lauro de Freitas – Ba, 17 de agosto de 2023.

Gabriela Santos Vilas Boas


OAB/BA 62.526
LINK DOS VÍDEOS PROBATÓRIOS DAS DUAS TROCAS COM PRODUTOS AVARIADOS:

https://drive.google.com/drive/folders/1ES9FnbbsQVx3J1S3EUnWFZWZKAJ4eOJ4?usp=drive_li
nk

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