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AO 7º JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA COMARCA DE NATAL/RN

Processo nº 0811541-85.2023.8.20.5004

Márcio Ramos da Silva, devidamente qualificado nos autos, por intermédio de seu
patrono, que a esta subscreve, vem à presença deste Juízo, apresentar réplica à contestação, o
que faz tempestivamente pelas razões de fato e de direito a seguir expostas.

I – DA TEMPESTIVIDADE
A presente réplica é tempestiva haja vista a suspensão dos prazos processuais no
âmbito da primeira e da segunda instância, em razão da implantação da nova versão do
PJe1. A suspensão iniciou-se às 00h01 do dia 26.08.23 e encerrou-se às 23h59 do dia 10.09.23.
Entretanto, o prazo findou em 10.09.23 (domingo), prorrogando-se para o primeiro
dia útil seguinte, ou seja, dia 11.09.23 (segunda-feira), sendo tempestiva a presente réplica.

II – DA SÍNTESE DA CONTESTAÇÃO
Inicialmente, a parte Ré informou que a parte Autora contratou seus serviços no dia
24.02.2033, realizando o pagamento de R$ 750,00 no seu cartão de crédito.
A previsão de entrega do produto seria no dia 24.03.2023.
Argumentou, a parte ré, que o Autor assinou contrato de prestação de serviço
estabelecendo um prazo de 30 dias úteis para a entrega do serviço, ainda como tolerância em
caso de possíveis imprevistos, no caso, a parte Ré teria até o dia 02.05.2023 para a referida
entrega.
Sustentou que a parte Autora solicitou o cancelamento da compra e requereu a
devolução do valor pago de R$ 750,00, no dia 24.04.2023, antes do prazo final de entrega,
ensejando a rescisão contratual pelo próprio Autor, não havendo que se falar em danos
materiais.
Defendeu ainda que o Autor tenta enriquecer ilicitamente com a indenização por
danos morais, sustentando que não houve transtornos, visto que o Autor solicitou o
cancelamento do produto antes do prazo previsto.
Por último, apresentou pedido contraposto requerendo o pagamento do restante do
serviço, no valor de R$ 750,00, bem como a declaração de quitação do valor pago a título de
entrada, no valor de R$ 750,00.

1 Portaria Conjunta nº 41 de 25 de agosto de 2023,do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte.


No fim, pugnou todos os fatos articulados na petição inicial e requereu a total
improcedência da ação.

III– DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS


Inicialmente, douto Juízo, impugna-se todos os argumentos suscitados na contestação
por não revelar a verdade dos fatos. De forma genérica, a parte Ré sustenta que toda a
avença entre as partes se deu por culpa exclusiva do Autor que solicitou o cancelamento
antes do prazo.
Ademais, alega que o Autor juntou conversas com consigo mesmo, inexistindo
participação da parte Ré e que não juntou quaisquer provas de que a parte Ré, de fato,
atrasou a entrega do produto.
Na oportunidade, junta-se a conversa do Whatsapp com todos os áudios, desde o dia
da compra até o dia em que o Autor desistiu de solucionar o problema de forma amigável, o
que derrubam todas as teses levantadas na contestação.

III.I - DA NÃO ENTREGA DO PRODUTO


A parte Ré afirma, incessantemente, que o referido contrato possui uma cláusula de
tempo de tolerância, em casos de possíveis imprevistos, sendo esse prazo de 30 dias, e que
estava dentro do prazo de entrega, não havendo descumprimento.
Entretanto, como restará provado por meio de todo o arcabouço probatório, a parte
Ré, em nenhum momento, durante toda a negociação informa ao Autor a respeito de tal
cláusula de tolerância.
Em uma breve consulta ao PJe, do CNPJ da empresa, se percebeu que a falta de
compromisso com os clientes que acreditam e investem em um produto, esperando o
retorno certo, é uma prática contumaz.
A empresa conta, atualmente, com treze processos judiciais, todos a respeito da
mesma conduta - não entrega do produto e a falta de restituição do valor investido.
A empresa é representada pela pessoa de Lucas Melo, que realiza toda a tratativa de
venda e passa seu número do Whatsapp para comunicação a respeito do produto.
A princípio, a data acordada para a entrega era o dia 24.03.2023, mas o Sr. Lucas
combinou com a o Autor que poderia realizar a entrega um dia antes, ficando combinando
para o dia 23.03.2023 - áudio PTT-20230315-WA0013.
No dia 22.03.23, um dia antes da entrega, o Autor se dirigiu até a loja para ver como
estava o estofado e acertar um horário para entrega, chegando lá, foi informado que ainda não
estava pronto e que o Sr. Lucas entraria em contato para remarcar nova data.
No dia 29.03.23, as partes acordaram que a entrega seria realizada sem falta, no dia
06.04.23, pela manhã.
No dia 06.04.23, o Autor entrou em contato para acertar o horário da entrega, quando
foi informado pelo Sr. Lucas que o tecido ainda não havia chegado na loja, o que
impossibilitaria realizar a entrega naquele dia.
Ciente da demora, ofereceu o cancelamento ao Autor, mas pediu compreensão, haja
vista que o material já tinha sido comprado - PTT-20230406-WA0002. Apesar de chateado, o
Autor compreendeu a situação.
No áudio PTT-20230408-WA0001, o Sr. Lucas deu a certeza, dando a palavra “de
homem para homem” que entregaria o sofá no dia 18.04.23, sem mais falhas. O que foi
prontamente aceito pelo Autor.
No dia 18.04.23, data da entrega combinada, o Sr. Lucas mandou um áudio - PTT-
20230418-WA0003- informando que só seria possível entregar o sofá no dia 21.04.23.
No dia 21.04.23, sem qualquer satisfação do Sr. Lucas sobre a entrega, o Autor
solicitou o cancelamento e requereu o estorno da parcela paga a título de entrada, no valor
de R$ 750,00, e solicitou os juros em cima do valor, visto que o seu dinheiro ficou 2 (dois)
meses parados na conta da empresa.
O Sr. Lucas só respondeu no outro dia, informando que iria solicitar o estorno da
compra e faria um pix do valor dos juros. Informou ainda que o motivo de não ter entregado
o estofado se deu por ter duas produções, uma na loja do Alecrim e outra na Zona Norte.
Alegou que devido à alta demanda, remanejou a produção do estofado do Autor
para a loja da Zona Norte e o pessoal falhou, não entregando o produto. Para a grande
surpresa do Autor, o Sr. Lucas questionou se ainda existia a possibilidade de marcar uma
nova, pois iria separar todos os materiais e mandar produzir na sua loja - áudio PTT-
20230422-WA0000.
Ou seja, no dia 22.04.23, um mês depois da data prevista para a entrega, o estofado
ainda não havia sido produzido. Muito aborrecido com a falta de compromisso, o Autor
solicitou o cancelamento.
Impende salientar, douto Juízo, que estamos diante de uma situação que ultrapassa a
esfera do mero aborrecimento, desde o momento que o Autor fez a compra do seu tão sonhado
estofado retratil, se desfez do seu antigo para que pudesse abrir espaço em seu apartamento
que é pequeno, ficando meses sem conforto, precisando acomodar suas visitas em cadeiras
improvisadas.
Verifica-se a má-fé da parte Ré, pois, por diversas vezes remarcou a entrega do sofá,
que sequer fora produzido, frustrando todas as expectativas do Autor. A jurisprudência
entende pela existência de dano moral quando há falha na prestação de serviços.

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE REPETIÇÃO DE INDÉBITO C/C


INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. COMPRA DE PRODUTO NÃO
ENTREGUE. AUSÊNCIA DE DEVOLUÇÃO DO VALOR. FALHA NA
PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. DANO MATERIAL. RESTITUIÇÃO EM
DOBRO. POSSIBILIDADE. PARÁGRAFO ÚNICO DO ART. 42 DO CDC.
DANOS MORAIS CONFIGURADOS. VALOR. PRINCÍPIOS DA
RAZOABILIDADE E DA PROPORCIONALIDADE. HONORÁRIOS
ADVOCATÍCIOS. PRINCÍPIOS DA JUSTA REMUNERAÇÃO E
PROPORCIONALIDADE. MANUTENÇÃO. RECURSO PARCIALMENTE
PROVIDO.
(TJ-MG - AC: 10569180003497001 Sacramento, Relator: Aparecida Grossi,
Data de Julgamento: 22/06/2022, Câmaras Cíveis / 17ª CÂMARA CÍVEL, Data
de Publicação: 23/06/2022)

Diante do exposto, requer a total improcedência das alegações suscitadas, dado que
restou evidente a falha na prestação do serviço, produto não foi produzido e muito menos
entregue, tampouco a quantia paga foi restituída pela via extrajudicial.

III.II - DO ESTORNO
Não bastando todo o transtorno vivenciado pelo Autor com as inúmeras promessas
de entrega, ainda foi necessário passar por um novo problema com relação ao estorno.
O Autor realizou o pagamento da quantia de R$ 750,00, a título de entrada, via
cartão de crédito. Como o cancelamento foi feito pela não entrega do produto, a solicitação
de estorno fica a cargo da empresa.
Apesar de ser responsabilidade da empresa solicitar o cancelamento, no áudio PTT-
20230424-WA0020, o Sr. Lucas sugere que o Autor também entre em contato com a
administradora do cartão e solicite o “chargeback” para que o estorno seja realizado mais
rápido.
No total, foram realizados quatro termos de cancelamento/estorno pelo Sr. Lucas,
mas todos foram negados, sob a justificativa que a maquineta em que foi realizada a
compra estava em nome de Rubyana Deborah, terceira estranha à relação, logo, o termo de
cancelamento/estorno deveria ser realizado por ela.
O Autor informou a situação ao Sr. Lucas, que ficou de pegar a assinatura de Rubyana,
conforme o áudio PPT-20230519-WA0010, mas não o fez.
Já desacreditado que o estorno seria realizado através do cartão, procurou o Sr. Lucas
no dia 22.05.23 para tentar reaver seu dinheiro, ficando combinado que a devolução seria
realizada no dia 19.06.23.
Acontece que o Autor foi vítima de bandidos que clonaram seu cartão, ficando em
uma situação financeira extremamente delicada. Procurou o Sr. Lucas no dia 01.06.23,
contando o ocorrido - áudio PTT-20230601-WA0007.
Mesmo com toda dor de cabeça que já havia passado, o autor questionou o Sr. Lucas
sobre a possibilidade de devolver o dinheiro antes do dia combinado, apenas se fosse
possível, pois estava ciente que a data combinada era 19.06.23.
Lucas, por sua vez, aparentou ser solícito, informando que com certeza poderia adiar
o dinheiro. O autor ficou extremamente grato, aguardou receber o pix, o que não aconteceu.
Desacreditado, frustrado e desesperado pela situação financeira que vinha passando
procurou o Sr. Lucas, desta vez, na data combinada, dia 19.06.23, perguntando se daria certo
realizar o pix do valor, momento em que o Sr. Lucas sumiu e até a presente data não
realizou o estorno do dinheiro.
A jurisprudência é uníssona quanto à existência de dano moral, em relações de
consumo em que há a falha na prestação de serviços, como é o presente caso. O Autor não só
sofreu com a não entrega do produto, como também não teve seu dinheiro de volta!

RECURSO INOMINADO. AÇÃO DECLARATÓRIA DE INEXISTÊNCIA DE


DÉBITO C/C RESTITUIÇÃO DE IMPORTÂNCIAS PAGAS C/C
INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS. ILEGITIMIDADE PASSIVA.
PRELIMINAR AFASTADA. RELAÇÃO DE CONSUMO. FALHA NA
PRESTAÇÃO DE SERVIÇO. ESTORNO NÃO REALIZADO. DANOS
MORAIS CONFIGURADOS. SENTENÇA MANTIDA.
(TJ-GO - RI: 55225555020228090007 ANÁPOLIS, Relator: Dioran Jacobina
Rodrigues, Anápolis - 2º Juizado Especial Cível, Data de Publicação: (S/R) DJ)

RECURSO INOMINADO. AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C


INDENIZATÓRIA. RESIDUAL. COMPRA DE APARELHO CELULAR
PELA INTERNET. PRODUTO NÃO ENTREGUE. PARCELAS QUE
CONTINUARAM A SER LANÇADAS NA FATURA DO CARTÃO DE
CRÉDITO DO AUTOR. ESTORNO NÃO REALIZADO. DANO MORAL
CONFIGURADO. SITUAÇÃO FÁTICA ESPECIAL. SENTENÇA
PARCIALMENTE REFORMADA. Recurso conhecido e provido.
(TJ-PR - RI: 00030140820218160075 Cornélio Procópio 0003014-
08.2021.8.16.0075 (Acórdão), Relator: Fernanda de Quadros Jorgensen
Geronasso, Data de Julgamento: 24/04/2023, 5ª Turma Recursal dos Juizados
Especiais, Data de Publicação: 24/04/2023)
Diante do exposto, ficou claro que a parte Ré agiu de extrema má-fé, sem qualquer
intenção de solucionar o problema, gerando somente expectativas e aborrecimentos ao Autor.

III.III - DO PEDIDO CONTRAPOSTO


O Código de Consumidor, em seu art. 14, §3º, I e II, aponta que existindo falha na
prestação do serviço, a responsabilidade do prestador é OBJETIVA, e somente pode ser
afastada quando o fornecedor provar, que tendo prestado o serviço, o defeito inexiste ou
provar que a culpa foi exclusiva do consumidor.
Como é possível verificar, o Réu em nenhum momento fez prova de que o estofado
ficou pronto apenas alega, vagamente, que está em loja. O que é nitidamente contraditório,
pois o próprio Réu, em 22.04.23, afirmou que o pessoal da “outra produção” não havia feito
o estofado.
Melhor dizendo, em 22.04.23, um mês depois do prazo previsto para entrega, o sofá
não tinha sido produzido, o que se prova pelas próprias palavras do Réu:

- Áudio PPT-20230422-WA0000 - diz, pela primeira vez, que terceirizou a produção do


estofado e questiona se o autor tem a confiança de esperar, pois vai mandar FAZER
na sua loja.
- Áudio PPT-20230424-WA0004 - afirma que cometeu o erro de mandar outra pessoa
fazer e assumiu a responsabilidade de resolver o problema.

Ora, douto Juízo, estamos diante da típica litigância de má-fé, o Réu,


intencionalmente, está tentando causar prejuízo ao autor, afirmando ter produzido o
estofado, mesmo depois de ter dito que não tinha sido feito, momento em que o autor
desistiu de esperar e solicitou o cancelamento.
Posto isso, como já amplamente explanado ao longo desta réplica, inexiste qualquer
documento hábil, que seja capaz de comprovar os argumentos trazidos na peça
contestatória, uma vez que o produto não foi produzido e muito menos entregue.
O pedido serve unicamente como meio protelatório, não possuindo qualquer
conteúdo probante que reforce suas alegações.
Diante do exposto, não assiste razão à parte Ré, devendo ser julgado totalmente
improcedente o pedido contraposto.
Requer ainda que seja aplicada multa de litigância de má-fé, pois a parte Ré tenta
ludibriar este Juízo com inverdades, com fulcro no art. 79 e art. 80, II, do CPC, devendo o
quantum ser arbitrado por este Juízo.
IV– DOS REQUERIMENTOS FINAIS
Ante o exposto, o Autor requer a este Juízo o regular prosseguimento do feito, a fim
de dar total procedência a ação, com a condenação da Ré, em todos os pedidos contidos na
exordial. Requer ainda a total improcedência do pedido contraposto, bem como a
desconsideração da peça contestatória apresentada, já que não possui argumentos sólidos
que impeçam a constituição do direito do Autor, bem como a aplicação da multa de
litigância de má-fé.

Nestes termos,
Pede deferimento.

Natal/RN, data da assinatura eletrônica.

Fladimyr Cunha Gomes de Melo


OAB/RN 17.671

Walter de Medeiros Azevedo


OAB/RN 10.543

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