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15/07/2021 Documento:310016292309

Poder Judiciário
JUSTIÇA ESTADUAL
Tribunal de Justiça do Estado de Santa Catarina
2ª Vara Cível da Comarca de Videira
Av. Manoel Roque, 268 - Bairro: Alvorada - CEP: 89562038 - Fone: (49)3521-8705 - Email:
videira.civel2@tjsc.jus.br

PROCEDIMENTO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL Nº 5004064-


47.2021.8.24.0079/SC
AUTOR: CLAUDIO MARCIO BALESTIERI
RÉU: TELEFONICA BRASIL S.A.

DESPACHO/DECISÃO

CLAUDIO MARCIO BALESTIERI ajuizou ação de declaratória


de inexistência de relação jurídica cumulada com indenização por danos morais,
materiais e tutela antecipada de urgência, sustentando, em síntese, ser titular do
plano familiar de telefonia móvel junto a ré, possuindo os números de
acessos (49)99914-2662, (49) 99900-2662 e (49) 99170-2662 mediante
contraprestação de R$ 319,99. Narrou ter constatado a divergência no valor
referente a fatura do mês de março de 2021. No mês seguinte, abril de
2021, constatou a alteração no valor do débito e ter havido a inclusão de número
de telefone não contratado pelo demandante (49)99949-2502). No dia seguinte,
ao acessar o portal eletrônico da Anatel para solução da irregularidade, verificou
que o número de acesso estava sendo usado por outra pessoa, a qual também
havia feito reclamação, porém em nome do autor. O terceiro fraudador indicou
para contato o e-mail dmoraeskolva@gmail.com e os telefones (49) 3566-4755,
(49) 99949-2502 e (49) 99184-6215. Aberta a reclamação pelo autor, a ré
orientou o demandante registrar a ocorrência perante a autoridade policial,
porém foi informado de que não poderia cancelar a linha de telefone sem o
pagamento de multa no valor de R$ 789,02 (setecentos e oitenta e nove reais e
dois centavos), referente à aquisição do aparelho Moto G9 Play. Ainda, em
06/05/2021 o plano telefônico foi alterado pelo terceiro. Narrou que ao consultar
o sítio eletrônico da ré, havia sido incluído ao plano mais uma linha telefônica,
desta vez o número (49) 99106-2455.

Mencionou que o chip com o novo número de


telefone, contratação de serviços e aparelho foram adquiridos em loja física da
ré, utilizando indevidamente os e bônus do autor.

Requereu a tutela antecipada de urgência para o fim de determinar


o cancelamento e a exclusão das linhas telefônicas (49)99949-2502 e (49)
99106-245, bem como a interrupção de dos servidos adicionais, em especial o
Plano Internet Promocional 10GB contratado sem nome do autor, sem exigência
de multa contratual, sob pena de multa pecuniária diária.

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É o relato.

DECIDO.

O artigo 300 do Código de Processo Civil, prevê os seguintes


requisitos para a tutela de urgência:

Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao
resultado útil do processo.

Em outras palavras, a parte que requer o provimento judicial


liminar deve trazer aos autos provas seguras capazes de convencer o magistrado
de que o quadro fático por ela invocado espelha fielmente a realidade. Ademais,
a pretensão deduzida daquele cenário descrito – e provado de plano – deve
encontrar abrigo no ordenamento jurídico.

Mas não é só.

É necessária a demonstração de que a medida pleiteada é a única


adequada e capaz de evitar lesão séria, concreta e irreversível (ou de difícil
reparação) ao seu (provável) direito caso somente deferida com a prolação da
sentença. É dizer, deve haver provas de que, além de verossímil, o direito
invocado está prestes a ser irremediavelmente maculado, o que tornaria o
provimento judicial definitivo inútil se concedido apenas após a concretização
do contraditório.

Ainda, o provimento pleiteado deve ser reversível, ou seja,


passível de ser desconstituído durante o procedimento se a parte adversa
comprovar que os fatos não são bem aqueles delineados na petição inicial, ou
que a pretensão deduzida, por alguma razão, não merece acolhimento. Trata-se
de uma garantia da parte contrária de que retornará ao estado de coisas anterior
caso a demanda seja julgada improcedente.

A liminar comporta acolhimento, adianto.

Não obstante o entendimento perfilhado por este Juízo no sentido


de ser insuficiente a alegação da inexistência de relação jurídica para fins da
probabilidade do direito invocado, as particularidades do caso permitem mitigar
o entendimento por mim adotado.

Haja vista que o autor nega ter havido a contratação, a prova


acerca do fato é negativa, de modo a tornar demasiadamente oneroso exigir
prova substancial em juízo sumário sobre algo que alega não ter ocorrido.

Mas não é só. A prova coligida sumariamente pelo demandante


permite concluir pela verossimilhança das alegações quanto ao uso indevido dos
dados cadastrais, a demonstrar em juízo perfunctório que houve falha na
prestação dos serviços pela ré no ato da contratação.

Infere-se do Evento 1, FAT4 que o autor possuía plano pós pago,


vinculando três linhas de acesso. Todas elas com a mesma sequência de dígitos
finais: 049 99914-2662, 049 99900-2662 e 049 99170-2662.
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No mês de abril, foi incluída uma quarta linha: 49 99949-2502


(Evento 1, FAT5).

Sobre o número de acesso foi realizada reclamação perante a


Anatel, ocasião em que o consumidor, identificado como sendo Cláudio Marcio
Balestieri relatou ter recebido cobranças relativas ao número 99949-2502, com
as quais não concordava. Na ocasião, a empresa responsável pela resposta ao
solicitante informou que as contas relativas aos serviços prestados aos aos
números 99949-2502, 99914-2662 e 99170-2662 seriam lançadas para cobrança
conjunta, como de fato foram, porém, vinculadas ao CPF do demandante.

Ao realizar a reclamação perante a ré, o auto foi orientado a


realizar Boletim de Ocorrência, levado a efeito pelo demandante, porém a ré
recusou o cancelamento da linha 99949-2502 pelo fato de existir multa referente
à aquisição do aparelho.

Ocorre, contudo, que o consta dos autos a aquisição do aparelho e


adesão aos serviços vinculados ao número de acesso 99949-2502 ocorreu por
pessoa diversa do demandante, que usou indevidamente os dados pessoais do
autor ou diz respeito a homônimo, e a ré indevidamente vinculou a contratação
ao cadastro de pessoa física do autor.

Corrobora com a demonstração da irregularidade na contratação o


fato de o contraente ter se identificado como residente na cidade de Caçador, e o
autor residir na cidade de Videira. Os dados fornecidos para contato do terceiro
são diferentes daqueles que o auto é titular. Ainda, o terceiro alega ter recebido a
cobrança relativa ao mês de fevereiro de 2021, no valor de R$ 162,50, contudo a
cobrança foi direcionada ao autor, no domicílio na cidade de Videira (Evento 1,
FAT 5).

Entendo, pois, presente a probabilidade do direito invocado.

O periculum in mora também se faz presente pois o autor está a


suportar débitos pelos quais não contraiu, ao passo que a ré condiciona o
cancelamento dos serviços ao pagamento da respectiva multa contratual (Evento
1, APRESDOC10).

Além disso, há notícia da alteração do plano por terceiros (Evento


1, APRESDOC12) a evidenciar um risco de agravamento do dano.

Os efeitos da decisão são, outrossim, reversíveis porquanto quando


do julgamento do mérito, se verificada a improcedência do pedido autoral, a ré
poderá exigir o montante indevidamente inexigido do consumidor e restabelecer
o plano de telefonia.

Ante o exposto, DEFIRO a liminar para o fim de determinar que a


ré proceda no prazo de 10 (dez) dias, a contar da intimação certificada nos
autos: a) a suspensão dos serviços relativos aos números de acessos (49)99949-
2502 e (49) 99106-2455 vinculados ao nome do autor; b) abstenha-se de exigir a
multa contratual pela aquisição do aparelho Moto G9 Play e de qualquer débito

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superveniente relativo aos números de acesso (49)99949-2502 e (49) 99106-


245); c) proceda ao bloqueio do IMEI do aparelho Moto G9 Play adquirido no
ato da contratação do serviço vinculado ao número (49)99949-2502.

Para o caso de descumprimento, fixo multa pecuniária diária de R$


200,00, limitada a R$ 10.000,00. (dez mil reais).

Intime-se a parte autora da presente decisão.

Intime-se a ré com urgência.

Autos à Secretaria do Juizado Especial para designação de


audiência de conciliação.

Cumpra-se.

Documento eletrônico assinado por PEDRO RIOS CARNEIRO, Juiz de Direito, na forma do artigo
1º, inciso III, da Lei 11.419, de 19 de dezembro de 2006. A conferência da autenticidade do documento
está disponível no endereço eletrônico https://eproc1g.tjsc.jus.br/eproc/externo_controlador.php?
acao=consulta_autenticidade_documentos, mediante o preenchimento do código verificador
310016292309v15 e do código CRC 2812e8dd.

Informações adicionais da assinatura:


Signatário (a): PEDRO RIOS CARNEIRO
Data e Hora: 6/7/2021, às 17:49:8

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