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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIEITO DA 00ª UNIDADE

DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DA CIDADE (PP) – LJE, art. 4º, inc. I

[ FORMULA-SE PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA PROVISÓRIA


DE URGÊNCIA ]

FULANO DE TAL, divorciado, comerciário, residente e


domiciliado na Av. Xista, nº. 0000, em Cidade (PP), inscrito no CPF(MF) sob o
nº. 111.222.333.44, com endereço eletrônico fulano@fulano.com.br,
intermediado por seu advogado, que ao final assina, o qual, em obediência à
diretriz fixada no art. 77, inc. V c/c art. 287, caput, um e outro do CPC, indica-o
para as intimações que se fizerem necessárias, vem, com o devido respeito à
presença de Vossa Excelência, apoiada no art. 186 c/c art. 927, um e outro do
Código Civil Brasileiro; art. 14 c/c art. 42 do Código de Defesa do Consumidor,
ajuizar a presente

AÇÃO DECLARATÓRIA DE NULIDADE DE


COMPRA E VENDA
c/c REPARAÇÃO DE DANOS MORAIS e MATERIAIS

contra XLO SERVIÇOS DE INTERNET LTDA, sociedade empresária de


direito privado, estabelecida na Av. Delta, nº. 0000, em Cidade (PP), inscrita no
CNPJ(MF) sob o nº. 22.333.444/0001-55, endereço eletrônico desconhecido,
assim como CICRANO DAS QUANTAS, qualificação desconhecida, em razão
das justificativas de ordem fática e de direito, abaixo delineadas.

- EM LINHAS INAUGURAIS
a) gratuidade da justiça

O Autor não tem condições de arcar com as despesas


do processo, uma vez que são insuficientes seus recursos financeiros para pagar
todas as despesas processuais.

Dessarte, formula pleito de gratuidade da justiça, o que faz


por declaração de seu patrono, sob a égide do art. 99, § 4º c/c 105, in fine,
ambos do CPC, quando tal prerrogativa se encontra inserta no instrumento
procuratório acostado.

b) qualificação da parte

O Promovente não detém elementos suficientes para


qualificar a parte Ré (segundo demandado), mormente seu domicílio, razão qual
necessária a cooperação para alcançar-se esse desiderato[1].

Ademais, em se tratando de demanda que, a princípio,


busca-se a real identidade de estelionatário, mostra-se ainda mais viável esse
pleito de diligências.

Relembre-se o que consta da cátedra de Renato Montans


de Sá:

b) diligência – em atenção ao princípio da cooperação (art. 6º do CPC/2015),


caso o autor não possua todos os dados necessários à qualificação do réu,
poderá requerer ao órgão jurisdicional diligências necessárias para a
obtenção. Consiste, em verdade, na positivação do que já vinha se autorizando
na prática forense. É comum ver o Poder Judiciário expedir certidões a órgãos
públicos a fim de aferir informações para a localização do réu. Ademais,
assevera o § 3º do art. 319 do CPC/2015 que, se a obtenção de tais informações
for excessivamente onerosa ou impossível o acesso à justiça, o magistrado não
indeferirá a petição inicial. [ ... ]

A esse propósito, note-se este aresto de julgado:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE COBRANÇA. DECISÃO QUE


INDEFERIU O ENVIO DE OFÍCIOS PARA TELEFÔNICA S.A, UOL,
VIVO, CLARO, TIM, OI, TRE (TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL),
COMGÁS, ELETROPAULO, SABESP, IG, YAHOO, GMAIL, HOTMAIL,
GLOBO. COM, PICPAY, IFOOD, MERCADO LIVRE, OLX, PORTO
SEGURO SEGURADORA, MARÍTIMA SEGUROS, ITAÚ SEGUROS,
BRADESCO SEGUROS, AZUL SEGURO, LIBERTY SEGUROS,
SULAMÉRICA SEGUROS, MAFRE SEGUROS, AMIL,
TRASMONTANO SAÚDE, GREEN LINE SAÚDE, EDITORA ABRIL,
ALLIANZ SEGUROS, HDI SEGUROS, PREVENT SÊNIOR, ZURICH
SEGUROS, TÓKIO MARINE SEGURADORA, USEBENS
SEGURADORA, MET LIFE SEGUROS, MITSUI SUMITOMO
SEGUROS, INDIANA SEGUROS, NOTRE DAME SAÚDE, GOLDEN
CROSS SAÚDE, SSP/SP (SECRETARIA DA SEGURANÇA PÚBLICA
DE SÃO PAULO), A FIM DE LOCALIZAR OS REQUERIDOS.

Encaminhamento cabível. Diligência que somente pode ser realizada mediante


requisição judicial. Recurso da autora provido. [ ... ]

Assim, requer-se sejam expedidos ofícios de sorte a


obterem-se dados necessários à citação/qualificação do Réu a:

a) telefônica s.a, uol, vivo, claro, tim, oi, tre (tribunal regional eleitoral),
comgás, eletropaulo, sabesp, ig, yahoo, gmail, hotmail, globo.com, picpay,
ifood, mercado livre, olx, porto seguro seguradora, marítima seguros, itaú
seguros, bradesco seguros, azul seguro, liberty seguros, sulamérica seguros,
mafre seguros, amil, trasmontano saúde, green line saúde, editora abril,
allianz seguros, hdi seguros, prevent sênior, zurich seguros, tókio marine
seguradora, usebens seguradora, met life seguros, mitsui sumitomo seguros,
indiana seguros, notre dame saúde, golden cross saúde, ssp/sp (secretaria da
segurança pública do Estado/PP).

I – QUADRO FÁTICO

O Autor, na data de 00 de fevereiro do presente ano, por


volta das 14:30h, quando em busca de um veículo usado para aquisição,
deparou-se com um anúncio no site de vendas XLO.

Tratava-se do veículo marca Ford, ano 0000, cor branca,


de placas XXX-0000. Naquela ocasião, o anunciante ofertava esse bem pelo
valor de R$ 00.000,00 (.x.x.).

O anúncio estava hospedado no seguinte endereço:


www.xlo.com.br/anuncio-1234. Isso, a propósito, pode ser confirmado à luz da
correspondente ata notarial. (doc. 01)

O valor do automóvel estava cerca de 15% (quinze por


cento) abaixo do mencionado na Tabela FIPE. (doc. 02)
Diante disso, o Promovente passou a manter contato com o
vendedor, de nome Fulano de Tal, cuja descrição, no anúncio detinha o número
de telefone 00 – 111-222-3333. (doc. 03)

Outros 5 (cinco) contatos foram feitos, inclusive via


Whatsapp, com a mesma pessoa. (docs. 04/09).

No dia 00 de março de 0000, acertaram o valor de R$


00.000,00 (.x.x.x) para aquisição do veículo, que deveria ser pago em duas
parcelas: uma como sinal, no valor de R$ 00.000,00; o restante, no ato da
entrega da transferência. (doc. 10)

Naquele momento, o vendedor forneceu seu endereço,


além do cartório de notas e títulos, onde a transação seria finalizada. (docs.
11/12)

Acertaram que o depósito do valor inicial deveria ser feito


na conta corrente nº. 0000-0, da Ag. 1111, do Banco Xista S/A, de titularidade
do vendedor, o que fora devidamente realizado em 00 de março de 0000. (doc.
13)

Feito o depósito da quantia inicial, ao tentar-se contatar o


vendedor, esse já não mais o respondia.

Viu-se, então, tratar-se de golpe.

A propósito, outro anúncio similar foi encontrado no mesmo


site, porém o vendedor se chamava Beltrano das Quantas, cujo anúncio está
hospedado no seguinte endereço: www.xlo.com.br/anuncio-3214. (doc.
14)

Assim, da replicação do mesmo anúncio, com as


mesmíssimas características.

A primeira Ré, nada obstante a frequência com que isso


ocorre, uma vez instada a devolver, afirmou não participar das negociações,
motivo não ser responsabilizada. (doc. 15)

De todo modo, entende-se haver profunda negligência


dessa, omissa no trato dos anúncios, razão qual deve ser condenada a pagar a
quantia despendida, solidariamente com o segundo Réu.

II – NO ÂMAGO

2.1. Responsabilidade solidária


É certo que a situação em espécie é regida pela Legislação
Consumerista.

São, em face disso, ambos os Réus, solidariamente


responsáveis. (CDC, art. 2º, art. 3º c/c art. 18)

Portanto, deve ser afastada qualquer pretensão de arguir-


se ilegitimidade passiva. Nos termos do art. 18, do CDC, tocante aos vícios nos
préstimos, é solidária a responsabilidade de todos os que intervieram na cadeia
de fornecimento do produto.

Comentando tal dispositivo, ensina Orlando da Silva


Neto, in verbis:

Responsabilidade dos fornecedores do produto ou serviço viciado no caso de


fornecimento complexo

Uma questão importante, embora muitas vezes mal interpretada pelos


Tribunais, é que, apesar de todos os fornecedores serem solidariamente
responsáveis pelo vício do produto, ainda que não tenham participado de seus
processos econômicos de produção ou importação (em outras palavras, ao
contrário do que ocorre com o defeito, o comerciante ou o distribuidor também
respondem pelo vício), essa responsabilidade deriva da existência de vício no
produto ou serviço, e não pode ser estendida a outros fornecedores que não
tenham participação direta na comercialização do produto ou prestação do
serviço. [ ... ]

De outro bordo, ainda sob a égide do Código de Defesa do


Consumidor, verifica-se que:

CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Art. 7º - Os direitos previstos neste Código não excluem outros decorrentes de


tratados ou convenções internacionais de que o Brasil seja signatário, da
legislação interna ordinária, de regulamentos expedidos pelas autoridades
administrativas competentes, bem como dos que derivem dos princípios gerais
do direito, analogia, costumes e equidade.

Parágrafo único - Tendo mais de um autor a ofensa, todos responderão


solidariamente pela reparação dos danos previstos nas normas de consumo.
Art. 25 - É vedada a estipulação contratual de cláusula que impossibilite,
exonere ou atenue a obrigação de indenizar prevista nesta e nas Seções
anteriores.

§ 1º - Havendo mais de um responsável pela causação do dano, todos


responderão solidariamente pela reparação prevista nesta e nas Seções
anteriores.

Art. 34 – O fornecedor do produto ou serviço é solidariamente responsável pelos


atos de seus prepostos ou representantes autônomos.

No plano do Código Civil, note-se:

Art. 942. Os bens do responsável pela ofensa ou violação do direito de outrem


ficam sujeitos à reparação do dano causado; e, se a ofensa tiver mais de um
autor, todos responderão solidariamente pela reparação.

Parágrafo único. São solidariamente responsáveis com os autores os co-autores


e as pessoas designadas no art. 932.

Portanto, sendo o enlace decorrente uma relação de


consumo, o site de hospedagem do anúncio, primeiro réu, é, tal-qualmente,
responsável pela venda do produto em destaque. Nesse passo, responde pelos
danos advindos de defeitos na prestação de serviços, ainda que tenha sido
prestado por pessoas distintas.

Se há solidariedade, cabe ao consumidor escolher a quem


dirigir a ação. Assim, repisamos, quaisquer considerações acerca da
ilegitimidade passiva, eventualmente levantada, deverão ser rejeitadas.

Nesse rumo:

APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO INDENIZATÓRIA POR DANOS MORAIS


C/C REPETIÇÃO DE INDÉBITO. CARTÃO DE CRÉDITO.

Compra parcelada que foi cancelada junto à loja em que efetivada a venda.
Comunicação do fato ao banco réu que, todavia, realizou a cobrança das
referidas parcelas nas faturas do autor. Sentença de parcial procedência
condenando o réu na devolução simples dos valores cobrados e efetivamente
pagos e na reparação pelos danos morais daí decorrentes, no montante de R$
1.000,00 (mil reais). Inconformismo do réu que não merece prosperar. Relação
de consumo. Responsabilidade objetiva. Arts. 2º, 3º e 14 do CDC. Preliminar de
ilegitimidade passiva ad causam que se afasta. Firme entendimento do eg. STJ
no sentido da solidariedade de todos os integrantes da cadeia de consumo. No
mais, deferida a inversão do ônus da prova, caberia ao réu elidir a presunção de
verossimilhança das alegações apresentadas pelo autor, assim como infirmar as
provas por ele apresentadas, ônus do qual não se desincumbiu. De outro giro, se
a loja do fornecedor em que efetuada e posteriormente cancelada a compra
concorreu para a indevida cobrança das compras não reconhecidas pelo autor,
não se pode aceitar que se transfira ao consumidor a lesão advinda de tal fato.
Sendo informado que a compra não se aperfeiçoou, caberia ao réu verificar o
cancelamento noticiado pelo consumidor junto ao fornecedor que solicitou os
descontos. Por outro lado, a providência de estorno dos valores cobrados, na
forma solicitada pelo autor, poderia ser facilmente efetivada pelo banco.
Outrossim, eventual participação do comerciante no evento danoso não
afastaria, por si só, a responsabilidade da instituição financeira em suportar
eventuais prejuízos decorrentes de sua atividade empresarial, notadamente
segundo a teoria do risco do empreendimento, consagrada no art. 927,
parágrafo único, do Código Civil. Dano moral que exsurge na hipótese dos autos
à luz da teoria do desvio produtivo do consumidor. Verba indenizatória
moderadamente fixada, em observância aos princípios da razoabilidade e
proporcionalidade. Recurso desprovido. [ ... ]

2.2. Legitimidade passiva da XLO

É notório que a primeira Ré (XLO) obtém pagamento


indireto, sobremodo porque promove a divulgação de publicidade de terceiros
que a remuneram, daí enquadrar-se no contexto de fornecedor de serviços.

No ponto, sábias são as lições de Cláudia de Lima


Marques, quando, com maestria, leciona o que seja a mens legis da expressão
“mediante remuneração”, contida no § 2º, do art. 3º, do Código de Defesa do
Consumidor:

Frise-se, assim, que a expressão utilizada pelo art. 3º do CDC para incluir
todos os serviços de consumo é “mediante remuneração”. O que significaria
esta troca entre a tradicional classificação dos negócios como “onerosos” e
gratuitos por remunerados e não-remunerados? Parece-me que a opção pela
expressão “remunerado” significa uma importante abertura para incluir os
serviços de consumo remunerados indiretamente, isto é, quando não é o
consumidor individual que paga, mas a coletividade (facilidade diluído no
preço de todos) ou quando ele paga indiretamente o “benefício gratuito” que
está recebendo. A expressão “remuneração” permite incluir todos aqueles
contratos em que for possível identificar, no sinalagma escondido
(contraprestação escondida), uma remuneração indireta do serviço de
consumo.

Como a oferta e o marketing da atividade de consumo “gratuitas” estão a


aumentar no mercado de consumo brasileiro (transporte de passageiros
idosos gratuito, viagens-prêmio, coquetéis gratuitos, lavagens de carro como
brinde, etc.), importante frisar que o art. 3º, §2º, do CDC refere-se à
remuneração dos serviços e não a sua gratuidade. “Remuneração” (direta ou
indireta_ dignifica um ganho direito ou indireto para o fornecedor.
“Gratuidade” significa que o consumidor não “paga”, logo não sofre um minus
em seu patrimônio. “Oneroso” é o serviço que onera o patrimônio do
consumidor. O serviço de consumo (por exemplo, transporte) é que deve ser
“remunerado”; não se exige que o consumidor (por exemplo, o idoso
destinatário final do transporte – art. 230, §2º, da CF/1988) o tenha
remunerado diretamente, isto é, que para ele seja “oneroso” o serviço; também
não importe se o serviço (o transporte_ é gratuito para o consumidor, pois
nunca será “desinteressado” ou de “mera cortesia” se prestado no mercado de
consumo pelos fornecedores que são remunerados (indiretamente) por este
serviço. [ ... ]

No mesmo sentido seguem as linhas de entendimento de


Rizzatto Nunes:

O CDC define serviço como aquela atividade fornecida mediante


‘rumuneração’.

Antes de mais nada, consigne-se que praticamente nada é gratuito no mercado


de consumo. Tudo tem, na pior das hipóteses, um custo, e este acaba, direta ou
indiretamente, sendo repassado ao consumidor. Assim, se, por exemplo, um
restaurante não cobra pelo cafezinho, por certo seu custo já está embutido no
preço cobrado pelos demais produtos.

Logo, quando a lei fala em ‘remuneração’ não está necessariamente se


referindo a preço ou preço cobrado. Deve-se entender o aspecto ‘remuneração’
no estrito de absolutamente qualquer tipo de cobrança ou repasse, direto ou
indireto. “ [ ... ]

Nesse mesmo sentido caminha a jurisprudência:

APELAÇÃO CÍVEL. FRAUDE EM COMPRA DE VEÍCULO


ANUNCIADO EM PROVEDOR DE BUSCA. LEGITIMIDADE PASSIVA.
Provedor de busca fomentador de negociações entre usuários via internet.
Remuneração indireta. Legitimidade passiva. Corretagem. Causa de exclusão de
responsabilidade do dano material. Dano moral configurado e atribuído a
ambos os réus por fato próprio. No caso dos autos, trata-se de recurso de
apelação contra sentença que condenou o Detran ao pagamento de indenização
em decorrência de fraude em aquisição de veículo automotor anunciado no site
da olx. Os provedores de busca contribuem com a comercialização de produtos e
prestação de serviços e a eles se aplica o código do consumidor (V. Art. 7º, inciso
XIII, da Lei n. Lei nº 12.965/14 c/c art. 7º do CDC) no sentido de aproximar os
usuários a realizarem e concretizarem as negociações de seus interesses. Em
troca disso, recebe benefício com a remuneração advinda de publicidades e, a
depender do caso, com aquelas advindas de serviços pagos destinados a dar
maior visibilidade ao anúncio. Se da atividade econômica exercida colhe o
bônus, deve arcar também com o ônus, tendo em vista que a teoria do risco do
empreendimento foi consagrada no precitado código. Nos termos do art. 4º do
CDC, inserem-se dentro da política nacional das relações de consumo os
princípios do incentivo à criação pelos fornecedores de meios eficientes de
controle de qualidade e segurança de produtos e serviços (inciso V) e coibição e
repressão eficientes de todos os abusos praticados no mercado de consumo
(inciso VI). Agregado a isso que a atividade econômica exercida pela olx
apresenta traços de corretagem. Nos termos do art. 723, caput e parágrafo
único, do Código Civil em vigor, a ela detém o armazenamento de tais dado se
por eles devem ser responsável no sentido de fiscalizar quem e o que se
comercializa no mercado de consumo, e não simplesmente dela se exculpar,
com intuito de transferir a exclusividade da culpa por fato atribuído aos
usuários. O que se observa é a ação de terceiros estelionatários que agiu
eficientemente a ponto de burlar não só a olx como o Detran, razão pela qual
configura causa de exclusão de responsabilidade no que toca ao dano material
(ressarcimento do valor do veículo), e não pelo simples fato de ser apenas
intermediadora. Além disso, a transferência da propriedade de bem móvel, nos
termos do art. 1.267 do Código Civil, dá-se pela simples tradição, ocorrida no
momento da intervenção dos estelionatários. A atuação do Detran ocorreu em
momento posterior, mediante vistoria, atividade meramente administrativa,
quando já havia sido consumada a fraude. No que toca ao dano moral, insere-se
na função do Detran manter o sistema de registro e de licenciamento de veículos
e fiscalizar eventuais fraudes perpetradas por terceiros, razão pela qual subiste a
responsabilidade pelo dano moral causado ao autor, em virtude da ineficiência
da fiscalização. Entendo subsistir a responsabilidade também da olx, por fato
próprio independente da fraude praticada, de não ter prestado as informações
adequadas aos usuários que se servem da plataforma virtual. A frustração da
compra do veículo e a ineficiência do serviço de fiscalização contribuíram para o
desgaste emocional da apelante, pessoa idosa, na busca da melhor solução que
atendesse às legítimas expectativas sobreo negócio e as pessoas nele envolvidos,
além de ter sido submetida a procedimento policial para efeito de investigação
do ilícito praticado. No que toca ao quantum indenizatório, verifica-se que o
juízo de origem englobou no valor de r$110.000,00 os danos moral e material
sem fazer distinção entre eles. Considerando que o valor da transferência foi de
R$ 85.000,00 remanesce a quantia de r$25.000, insuficiente para compensar
os prejuízos suportados pela parte autora, motivo pelo qual majoro, considerada
a finalidade pedagógica da medida, para r$50.000,00, a serem pagos
solidariamente pelos réus. Em relação ao juros fixados, a correção da verba
indenizatória deve ser feita de acordo com a orientação estabelecida pelo
Superior Tribunal de Justiça, no julgamento do RESP nº 1.270.349, sendo
calculados com base no índice oficial de remuneração básica aplicados à
caderneta de poupança, nos termos da regra do art. 1º-f da Lei nº
9.494/97.provimento parcial a ambos os recursos. [ ... ]

Dessarte, como antes afirmado, a ilicitude deve ser


averiguada à luz da Legislação Substantiva Civil, assim como ajoujado ao Código
de Defesa do Consumidor, imputando-se, inclusive, a responsabilidade do
provedor de internet.

2.3. Teoria do risco criado

Na hipótese, o emprego da teoria do risco criado é de rigor.

Um site de magnitude da Ré, no qual se captam milhões de


acessos diários, sem qualquer rigidez na apreciação do cadastro dos usuários,
sejam vendedores ou compradores, por certo os riscos são abruptamente
aumentados.

Mais do que isso, a Promovida é imprudente, omissa,


relapsa quanto à condução das relações contratuais ali ocorridas. São milhares
de ações contra essa, em quase todas as unidades judiciárias cíveis do País, de
regra sobre este mesmo tema (fraude na internet).

Esse fato, inclusivamente, independe de provas[2].

De mais a mais, cediço que a Legislação Substantiva Civil


traz à lume cláusula geral de responsabilidade objetiva ao determinar o
nascimento do dever de indenizar, independentemente de culpa, para além
daqueles ali mencionados, mas, tal-qualmente, “quando a atividade
normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco
para os direitos de outrem”[3].

Nada obstante a redação da norma se mostre, a princípio,


imprecisa, decerto o legislador buscou referir-se àquelas atividades que
denotem alto risco, maior que o normal, do cotidiano, que, de regra,
correspondem a uma maior taxa de lucros. Por isso, um sistema mais severo de
responsabilização.

( ... )
[1] CPC/2015

Art. 6º Todos os sujeitos do processo devem cooperar entre si para que se


obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito justa e efetiva.

[2] CPC/2015

Art. 374. Não dependem de prova os fatos:

I - notórios;

Art. 375. O juiz aplicará as regras de experiência comum subministradas pela


observação do que ordinariamente acontece e, ainda, as regras de experiência
técnica, ressalvado, quanto a estas, o exame pericial.

[3] Código Civil

Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo.

Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de


culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente
desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os
direitos de outrem.

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