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EXCELENTÍSSIMO SENHOR, DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA COMARCA DE

UBERABA MG

Berenice, casada, profissão …, portadora do RG nº …, inscrita sob o CPF de nº …, com


endereço eletrônico …, residente e domiciliada no endereço …, e Matias, casado, profissão …,
portador do RG nº …, inscrito sob o CPF de nº …, com endereço eletrônico …, residente e
domiciliado no endereço …, vêm, respeitosamente, perante Vossa Excelência, por seu
advogado, com fulcro no art. 319 do CPC, ajuizar a presente

AÇÃO DE RESCISÃO DE CONTRATO E RESTITUIÇÃO DE DÉBITOS

em face de BELA CONSTRUÇÕES LTDA, sociedade empresária limitada inscrita sob


o CNPJ …, localizada no endereço …, pelas razões de fato e de direito que passa a expor.

1. PRELIMINARMENTE

1.1. DA JUSTIÇA GRATUITA

Os requerentes solicitam o benefício da gratuidade de justiça, nos moldes do art. 98 do


CPC, por serem hipossuficientes no sentido legal do termo - situação comprovada através da
declaração de hipossuficiência anexa -, incapazes de arcar com as custas judiciais sem prejuízo
do próprio sustento.

1.2. DA COMPETÊNCIA - RELAÇÃO DE CONSUMO

Muito embora o contrato firmado entre as partes tenha eleito o foro da cidade de Belo
Horizonte/MG para dirimir conflitos dele originados e que o futuro imóvel objeto do negócio
seja edificado em Uberaba/MG, nenhuma das localidades é competente para o julgamento do
presente feito.
Caracterizada a relação consumerista entre as partes, nos moldes dos arts. 2º e 3º,
especialmente no que concerne à hipossuficiência técnica, informacional e de recursos do
requerente, é facultado aos requerentes, enquanto consumidores, a eleição de foro diverso
daquele convencionado em cláusula contratual, quando este trouxer a eles dificuldade de acesso
à tutela jurisdicional, consoante disciplinam os arts. 6º, VIII, e 101, I, ambos do CDC.

Desta feita, facultada-lhes a escolha, os elegem como competente o foro de seu


domicílio, qual seja, o juízo da comarca de Uberaba/MG.

2. DOS FATOS

Os requerentes adquiriram da empresa BELA CONSTRUÇÕES LTDA um apartamento


na planta para residirem após o matrimônio, localizado na Cidade de Uberlândia/MG.

Considerando que o contrato previa a entrega da obra em janeiro de 2022, os noivos


marcaram o casamento para o mês de novembro do mesmo ano, justamente pensando no tempo
hábil para planejar e comprar os móveis e eletrônicos do apartamento e deixá-lo pronto para a
moradia do casal.

Contudo, a construtora não finalizou a obra na data estabelecida no contrato e não


apresentou nenhuma justificativa para Berenice e Matias acerca do atraso, nem mesmo
estipulou nova data para entrega do imóvel. Os noivos notificaram extrajudicialmente a
Construtora, a fim de que esta realizasse a entrega da unidade, sob risco de rescisão do contrato
e de multa contratual no valor de R$ 30.000,00 (trinta mil reais).

Porém, em resposta à notificação, a construtora informou que não seria possível a


entrega da obra em razão de ainda estar em fase de construção, uma vez que houve atraso na
entrega de materiais, não havendo expectativa de data para a entrega do imóvel aos
compradores.

Insta frisar que os requerentes já pagaram à requerida, até o presente momento,


importância de R$ 100.000,00 (cem mil reais).

Assim, infrutíferas as tentativas de resolução extrajudicial, resta aos autores a via


judicial para fazer valer seus direitos.
3. DO DIREITO
3.1. DA TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA ANTECIPADA

De acordo com o art. 300 e ss. do CPC, são requisitos para a concessão da tutela
provisória de urgência a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil
do processo.

A probabilidade do direito encontra respaldo na análise fática do caso concreto e


também nas provas documentais juntadas: os requerentes quitaram todos os boletos enviados
pela construtora até o momento, cumprindo sua parte do contrato, diferente da requerida.
Agindo de boa-fé estando adimplentes, é direito legítimo dos autores a rescisão contratual.

Já o perigo de dano encontra-se patente pela constatação de que o casal não possui mais
condições de pagar as parcelas do imóvel que sequer foi entregue na data acordada por
responsabilidade única da construtora. Portanto, ao deixar de pagar os valores que continuam
sendo cobrados mesmo sem receberem o imóvel, os autores correm o risco de terem seus nomes
negativados por inadimplência, mesmo tendo cumprido com suas obrigações, diferente da parte
ré.

Por tais razões, a concessão da tutela provisória de urgência antecipada em caráter


antecedente é medida que se impõe, para que se suspenda o pagamento dos boletos vincendos
que seguem sendo cobrados.

3.2. DA RESCISÃO CONTRATUAL

A rescisão contratual tem fundamento tanto na legislação civil quanto consumerista. No


caso em tela, ambos os ordenamentos convergem para a mesma direção, apontando que os
autores têm o direito à rescisão do contrato, recebimento de valor da multa contratual e
devolução dos valores já pagos, bem como indenização por danos morais.

O art. 51 do CDC elenca cláusulas contratuais relativas ao fornecimento de produtos e


serviços que podem sofrer nulidade, dentre as quais estão aquelas que “estabeleçam obrigações
consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem exagerada, ou
sejam incompatíveis com a boa-fé ou a eqüidade;” (inc. IV).
Ao continuar cobrando os valores do imóvel não entregue no prazo estipulado e não
oferecer alternativa ou ao menos a suspensão do contrato, a requerente tornou tal cláusula de
pagamento abusiva aos requerentes, fato corroborado pelo § 1º do art. supra:

“§ 1º Presume-se exagerada, entre outros casos, a vantagem que:

“I - ofende os princípios fundamentais do sistema jurídico a que pertence;”


“III - se mostra excessivamente onerosa para o consumidor, considerando-se a natureza
e conteúdo do contrato, o interesse das partes e outras circunstâncias peculiares ao caso.”

Tem-se claramente que a requerida fere o princípio da boa-fé dos contratos, insculpido,
entre outros, no art. 422 do ordenamento civil:

“Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato,


como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé.”

Mais objetivamente, a situação em tela ressoa com o disposto no art. 475 do CC,
segundo o qual “A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do contrato, se não
preferir exigir-lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos, indenização por perdas e
danos.”

A rescisão do contrato, repisa-se, enseja a devolução de todos os valores já pagos, visto


que ocorre por culpa exclusiva da parte vendedora devido à seu inadimplemento, por dicção da
Súmula 543 do STJ, in verbis:

“Na hipótese de resolução de contrato de promessa de compra e venda de imóvel


submetido ao Código de Defesa do Consumidor, deve ocorrer a imediata restituição das
parcelas pagas pelo promitente comprador - integralmente, em caso de culpa exclusiva do
promitente vendedor/construtor, ou parcialmente, caso tenha sido o comprador quem deu causa
ao desfazimento”
Em conclusão, resta comprovado o direito da parte requerente em ter o contrato
rescindido e os valores pagos devolvidos, bem como receber a importância relativa à multa
contratual pela parte requerida.

3.3. DO DANO MORAL

O presente caso exige reparação pelo prejuízo moral, diante da violação de direito por
parte da requerida ao não cumprir sua obrigação disposta em contrato, o que causou dano aos
requerentes, conforme os arts. 186 e 187 do CC:

“Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência,
violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito.”

“ Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede
manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos
bons costumes.”

O inadimplemento da construtora ultrapassou o mero dissabor ou aborrecimento dos


requerentes, vez que adquiriram o imóvel para nele residirem juntos logo após seu casamento,
com o intuito de ter uma vida a dois, plano que restou frustrado.

Via de consequência, a reparação do dano, através da indenização moral, mostra-se


latente, também amparada pelo codex civil:

“Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo.”

Por isso, requer também a indenização pelo dano moral causado.


3.4. DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

Uma vez comprovada a relação de consumo entre as partes, dado que a construtora
requerida agiu como fornecedor perante os requerentes - porquanto, consumidores - ao oferecer
o imóvel como seu produto (arts. 3º e 2º do CDC), pleiteiam os autores a inversão do ônus da
prova, embasados no art. 6º, VIII, da lei consumerista, pois hipossuficientes perante a
fornecedora em aspectos técnicos e informacionais.

4. DOS PEDIDOS

Por todo o exposto, requer:

4.1. O recebimento da presente exordial;

4.2. Seja deferido o pedido de gratuidade de justiça;

4.3. Seja deferido o pedido de inversão do ônus da prova;

4.4. Seja marcada audiência de conciliação, citando-se a parte ré para


comparecimento, visto que os autores têm interesse em resolver o litígio por
meio da autocomposição, nos termos do art. 319, VII, e 334, do CPC;

4.5. A concessão da tutela provisória de urgência antecipada em caráter antecedente,


para que se suspenda a exigência de pagar os boletos vincendos do imóvel;

4.6. Em não havendo acordo na audiência de conciliação, requer a confirmação da


tutela provisória e a PROCEDÊNCIA da presente demanda, para condenar a
requerida a:

4.6.1. restituir os valores já pagos, atualmente R$ 100.000,00 (cem mil reais);


4.6.2. pagar aos autores o valor da multa contratual no importe de 30.000,00
(trinta mil reais);

4.6.3. indenizar os autores pelo dano moral causado, na quantia de


R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais);

4.6.4. pagar os honorários advocatícios do causídico representante do polo


ativo, nos termos do art. 85 do CPC, em porcentagem a ser atribuída por
este juízo sobre o valor da causa.

Protesta provar o alegado por todos os meios em direito admitidos.

Dá-se à causa o valor de R$…..

Nestes termos,

em que pede deferimento.

Local data.

Advogado,

OAB.

Aluno : José Leandro Garrido Gonçalves

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