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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA VARA CÍVEL DA CIDADE

FULANA DE TAL, solteira, comerciária, residente e domiciliada


na Rua da X, nº. 0000, CEP 44555-666, na Cidade, possuidora do CPF(MF) nº.
111.222.333-44, com endereço eletrônico ficto@ficticio.com.br, ora intermediado por seu
mandatário ao final firmado – instrumento procuratório acostado –, esse com endereço
eletrônico e profissional inserto na referida procuração, o qual, em obediência à diretriz
fixada no art. 106, inc. I c/c art. 287, ambos do CPC, indica-o para as intimações que se
fizerem necessárias, vem, com o devido respeito à presença de Vossa Excelência, com
suporte no art. 413 c/c art. 473, ambos do Código Civil e, ainda, art. 51, inc. II e IV c/c art. 53,
caput, todos do CDC, ajuizar a presente

AÇÃO DE RESCISÃO CONTRATUAL


C/C
( pedido de repetição de parcelas pagas)

1
contra ( 01 ) SOCIEDADE XISTA EMPREENDIMENTOS IMOBILIÁRIOS LTDA, pessoa
jurídica de direito privado, estabelecida na Rua Delta, nº. 000, na Cidade, inscrita no
CNPJ(MF) sob o nº. 00.111.333/0001-55, com endereço eletrônico xista@xista.com.br, em
decorrência das justificativas de ordem fática e de direito abaixo delineadas.

INTROITO

( a ) Benefícios da justiça gratuita (CPC, art. 98, caput)

A Autora não tem condições de arcar com as despesas do


processo, uma vez que são insuficientes seus recursos financeiros para pagar todas as
despesas processuais, inclusive o recolhimento das custas iniciais.

Destarte, a Demandante ora formula pleito de gratuidade da


justiça, o que faz por declaração de seu patrono, sob a égide do art. 99, § 4º c/c 105, in fine,
ambos do CPC, quando tal prerrogativa se encontra inserta no instrumento procuratório
acostado.

( b ) Quanto à audiência de conciliação (CPC, art. 319, inc. VII)

A Promovente opta pela realização de audiência conciliatória


(CPC, art. 319, inc. VII), razão qual requer a citação da Promovida, por carta (CPC, art. 247,
caput) para comparecer à audiência designada para essa finalidade ( CPC, art. 334, caput
c/c § 5º).

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(1) – SÍNTESE DOS FATOS

A Autora firmara com a Ré, na data de 00 de março de 0000, um


Contrato Particular de Promessa e Compra e Venda de Imóvel. (doc. 01) O propósito
contratual era a aquisição do imóvel sito na Rua das Tantas, nº. 000, Apto. 1303, nesta
Cidade além da respectiva garagem de nº. 122. No tocante ao preço do bem, ajustou-se o
pagamento de R$ 000.000,00 ( .x.x.x. ), a ser adimplido da seguinte forma:

(i) R$ 00.000, 00 ( .x.x.x. ) , a título de sinal e princípio de pagamento;

( ii ) R$ 00.000,00 ( .x.x.x. ) em 25 parcelas mensais e sucessivas de R$ 000,00


( .x.x.x. ), vencendo-se a primeira em 00/11/2222;

( iii ) R$ 000.000,00 ( .x.x.x.) em uma única parcela, essa a ser paga por
intermédio de financiamento bancário com vencimento na data de 00/11/3333;

( iv ) R$ 00.000,00 ( .x.x.x.) em parcela única, vencendo-se na data de emissão do


termo de habite-se.

Todavia – e esse é o âmago desta pretensão --, a Autora não


tem mais condições de continuar com o pagamento das parcelas ( docs. 02/13) e, por isso,
pretende recebê-las imediatamente, com o desconto, a título de cláusula penal, de, no
máximo, 10%(dez por cento).

Ainda que acertada expressamente a possibilidade da


restituição dos valores, a Autora, por pura cautela, notificou a Demandada almejando obter
informação nesse sentido. Além disso, tal ato indicou o não interesse em continuar com a
relação contratual em espécie. (doc. 30). Nada foi respondido.

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Desse modo, a Promovida encontra-se inadimplente com a
Autora, uma vez que na data do ajuizamento da presente ação, ainda não recebera os
valores pagos anteriormente.

Com esse proceder, a Autora sofre prejuízo de ordem material


e, mais ainda, danos morais, esses motivados pelo atraso na restituição dos valores, o que
motivou, a propósito, o ajuizamento da presente ação judicial.
HOC IPSUM EST.
EST.

(2) – NO MÉRITO

(2.1.) – RELAÇÃO DE CONSUMO CONFIGURADA

Inicialmente convém destacar que entre a Autora e a Ré emerge


uma inegável relação de consumo.

Tratando-se de compra e venda de imóvel, cujo destinatário final


é o tomador, no caso a Autora, há relação de consumo, nos precisos termos do que reza o
Código de Defesa do Consumidor:

Art. 2º Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produtos
ou serviço como destinatário final.

Art. 3° Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou


estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de
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produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação,
distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.
§ 1° (...)
§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante
remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e
securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.

Por esse ângulo, a relação contratual é de consumo e obedece,


por isso, ao quanto fixado na Súmula 543 do STJ.

(2.2.) – RESCISÃO UNILATERAL PELO PROMITENTE COMPRADOR


DEVOLUÇÃO IMEDIATA DAS PARCELAS PAGAS

[ Causa de pedir ]

É inquestionável que a Autora não cumprira sua obrigação legal


e contratual de pagar todas as parcelas avençadas. Indiscutível, igualmente, que a mesma,
por isso, deva arcar com o pagamento correspondente por quebra contratual. (Cláusula 17)

Todavia, o percentual imposto como cláusula penal é


demasiadamente elevado e, por essa razão, será alvo de debate em capítulo específico
nesta peça vestibular.

Com efeito, a hipótese em estudo traduz a quebra contratual por


uma das partes (Autora), possibilitando, desse modo, que a parte lesada (Ré) se utilize de
cláusulas expressas para essa situação.
23
A Promovida, no contrato espécie, estipulara que a devolução
dos valores pagos pelo rescindente somente serão devolvidos com término da obra.
(cláusula 19) Obviamente que se trata de uma imposição incontestável de afronta aos
ditames do Código de Defesa do Consumidor.

Referida cláusula sem sombra de dúvidas converge para o que


rege o CDC, ad litteram:

CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

Art. 51 - São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas contratuais relativas
ao fornecimento de produtos e serviços que:
(...)
II - subtraiam ao consumidor a opção de reembolso da quantia já paga, nos casos
previstos neste código;
(...)
IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas, abusivas, que coloquem o
consumidor em desvantagem exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou
a eqüidade;
Art. 53 - Nos contratos de compra e venda de móveis ou imóveis mediante
pagamento em prestações, bem como nas alienações fiduciárias em garantia,
consideram-se nulas de pleno direito as cláusulas que estabeleçam a perda total
das prestações pagas em benefício do credor que, em razão do inadimplemento,
pleitear a resolução do contrato e a retomada do produto alienado.
23
Essa controvérsia já tinha sido alvo de resolução de demandas
repetitivas no REsp 1300418/SC, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, 2ª Seção, j. 13/11/13.

Posteriormente, como se vê, o tema fora sumulado pelo mesmo


STJ com a seguinte redação:

Súmula 543, STJ: Na hipótese de resolução de contrato de promessa de compra e


venda de imóvel submetido ao Código de Defesa do Consumidor, deve ocorrer a
imediata restituição das parcelas pagas pelo promitente comprador -
integralmente, em caso de culpa exclusiva do promitente vendedor/construtor, ou
parcialmente, caso tenha sido o comprador quem deu causa ao desfazimento.

Nesse compasso, quanto à devolução imediata dos valores


pagos, a questão é pacífica. Assim, a aludida cláusula em sentido adverso deve ser anulada.
(cláusula 19)

(2.3.) – CULPA DO COMPRADOR: DEVOLUÇÃO PARCIAL


ABUSIVIDADE DA CLÁUSULA PENAL

23
No contrato em espécie, como afirmado alhures, há cláusula
penal para os casos de desistência unilateral do promitente comprador, nominada pela Ré
de “cláusula de retenção”. (Cláusula 17)

Porém, desavisadamente a Promovida estipulara, a guisa de


multa, o gritante percentual de 85%(oitenta e cinco por cento) sobre os valores a restituir.
Chega a ser ofensiva aos olhos de qualquer um.

Nesse ponto o STJ, na mesma Súmula 543, essa Corte entende


como razoável a punição ao desistente, até mesmo para cobrir despesas como publicidade,
promoção das vendas etc.

Nada obstante, ressalva-se que esse montante é insensato,


descomedido e, à vista disso, demanda sua redução, equitativamente, com apoio no que
dispõe a Legislação Substantiva Civil, verbo ad verbum:

Art. 413 - A penalidade deve ser reduzida equitativamente pelo juiz se a obrigação
principal tiver sido cumprida em parte, ou se o montante da penalidade for
manifestamente excessivo, tendo-se em vista a natureza e a finalidade do
negócio.

(2.4.) – HÁ PRECEDENTES QUANTO AO PERCENTUAL A SER APLICADO

23
Reiteradamente os Tribunais pátrios têm decidido que, na
hipótese ora enfrentada, o percentual oscila entre 10%(dez por cento) a 20%(vinte por cento)
de dedução como forma compensatória pela rescisão, prevalescendo aquele.

É altamente ilustrativo transcrever precedentes de


jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça:

AGRAVO REGIMENTAL. DIREITO CIVIL. CONTRATO DE PROMESSA DE COMPRA E


VENDA DE IMÓVEL. RESOLUÇÃO. RETENÇÃO DE PARTE DO VALOR PAGO.
POSSIBILIDADE. PERCENTUAL. 10% A 25% SOBRE AS PARCELAS APORTADAS.
INCIDÊNCIA DA SÚMULA 7. AGRAVO QUE NÃO IMPUGNA O FUNDAMENTO
CENTRAL DA DECISÃO AGRAVADA. INCIDÊNCIA DA SÚMULA N. 182/STJ.
1. omissis.
2. Esta Corte Superior, à luz de precedentes firmados pela Segunda Seção,
entende que "o compromissário comprador que deixa de cumprir o contrato em
face da insuportabilidade da obrigação assumida tem o direito de promover ação
a fim de receber a restituição das importâncias pagas" (EREsp 59870/SP, Rel.
Ministro BARROS MONTEIRO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 10/04/2002, DJ
09/12/2002 p. 281).
3. Porém, o percentual a ser retido pelo vendedor, bem como o valor da
indenização a ser paga como contraprestação pelo uso do imóvel, são fixados à luz
das particularidades do caso concreto, razão pela qual se mostra inviável a via do
recurso especial ao desiderato de rever o quantum fixado nas instâncias
inaugurais de jurisdição (Súmula 07).

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4. Tendo em vista que o valor de retenção determinado pelo Tribunal a quo (10%
das parcelas pagas) não se distancia do fixado em diversas ocasiões por esta Corte
Superior (que entende possível o valor retido flutuar entre 10% a 25%), o recurso
especial não prospera.
5. Recurso não provido.
(AgRg no REsp 1110810/DF, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA,
julgado em 03/09/2013, DJe 06/09/2013)

AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO DE INSTRUMENTO. DIREITO CIVIL.


PROMESSA DE COMPRA E VENDA. RESILIÇÃO PLEITEADA PELO PROMISSÁRIO
COMPRADOR. DEVOLUÇÃO DAS PARCELAS PAGAS. PERCENTUAL QUE DEVE
REFLETIR AS PECULIARIDADES DO CASO CONCRETO. AGRAVO IMPROVIDO.
(...)
3. Tendo em vista que o valor de retenção determinado pelo Tribunal a quo (10%
das parcelas pagas) não se distancia do fixado em diversas ocasiões por esta Corte
Superior, a decisão ora agravada deve ser mantida.
4. Agravo regimental improvido.
(AgRg no Ag 1100908/RO, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA,
julgado em 18/08/2009, DJe 02/09/2009)

AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL. RESCISÃO DE CONTRATO DE


PROMESSA DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL. DEVOLUÇÃO DE IMPORTÂNCIAS
PAGAS. RETENÇÃO. PERCENTUAL. REVISÃO DE PROVAS. SÚMULA N. 7/STJ.

23
RESPONSABILIDADE CONTRATUAL. JUROS DE MORA. INCIDÊNCIA A PARTIR DO
TRÂNSITO EM JULGADO. INEXISTÊNCIA DE MORA DA PARTE RÉ.
1. Em caso de extinção de contrato de promessa de compra e venda em que o
promitente comprador não ocupou bem imóvel, é razoável que a devolução do
valor pelo promitente vendedor ocorra com retenção 10% a 20% das prestações
pagas a título de indenização pelas despesas decorrentes do próprio negócio.
2. Incide a Súmula n. 7 do STJ quando a tese versada no recurso especial reclama a
análise dos elementos probatórios produzidos ao longo da demanda.
3. Na hipótese em que a rescisão contratual deu-se por iniciativa do comprador,
por não mais suportar o pagamento das parcelas, e em que se busca a restituição
de valores superiores aos fixados na apelação, o termo inicial dos juros moratórios
deve ser o trânsito em julgado, pois inexiste mora anterior da ré.
4. Agravo regimental provido.
(AgRg no REsp 1013249/PE, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, QUARTA
TURMA, DJe 08/06/2010)

Há, igualmente, decisões similares de diversos Tribunais de


Justiça:

DIREITO CIVIL. DIREITO DO CONSUMIDOR. APELAÇÃO CÍVEL. AÇÃO DE


RESCISÃO CONTRATUAL. INOVAÇÃO RECURSAL. INOCORRÊNCIA. RESCISÃO DE
CONTRATO DE PROMESSA DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL EM CONSTRUÇÃO.
AUSÊNCIA DE CULPA DA CONSTRUTORA. CLÁUSULA PENAL REDUZIDA.

23
RETENÇÃO DAS ARRAS. IMPOSSIBILIDADE. JUROS DE MORA. TERMO INICIAL.
TRÂNSITO EM JULGADO DA SENTENÇA. CORREÇÃO MONETÁRIA. INCIDÊNCIA A
PARTIR DO DESEMBOLSO.
1. Uma vez demonstrado que o pedido deduzido nas razões recursais foi objeto de
análise no juízo a quo, bem como foi devidamente submetido ao contraditório,
não há que se falar em inovação recursal. 2. Em observância à teoria do
adimplemento substancial, o atraso de menos de dois meses na entrega da
unidade imobiliária não enseja justa causa para a rescisão do contrato por culpa
da construtora. 3. Se o promitente comprador deu causa à rescisão contratual,
este faz jus à restituição das parcelas efetivamente pagas, sendo permitida a
retenção de parte em favor da promitente vendedora. 4. Na linha dos
precedentes deste Tribunal, é permitida a redução de cláusula penal abusiva para
10% (dez por cento) dos valores pagos pelo promitente comprador à época da
resolução do contrato, montante suficiente para ressarcir o vendedor pelos
prejuízos decorrentes da inexecução do contrato. 5. Aretenção das arras
cumulada com a cláusula penal configura bis in idem e, por consequência,
enriquecimento ilícito do promitente vendedor, pois ambas ostentam natureza
indenizatória. 6. Nos casos de rescisão do contrato de promessa de compra e
venda de imóvel por iniciativa do promitente comprador com pedido de
restituição do valor pago de forma diversa da prevista no contrato, a
jurisprudência do TJDFT, seguindo orientação do colendo STJ, tem se posicionado
no sentido de que os juros de mora incidirão a partir do trânsito em julgado da
sentença. 7. Acorreção monetária tem por finalidade preservar o valor aquisitivo
da moeda, de modo que deve incidir a partir do desembolso da quantia, conforme

23
enunciado da Súmula nº 43 do STJ. 8. Recurso da Ré conhecido e parcialmente
provido. Recurso do Autor conhecido e parcialmente provido. Preliminar
rejeitada. Unânime. (TJDF; Rec 2014.01.1.180947-8; Ac. 927.270; Terceira Turma
Cível; Relª Desª Fátima Rafael; DJDFTE 21/03/2016; Pág. 237)

APELAÇÃO CÍVEL.
Ação declaratória de rescisão contratual c/c restituição de valores pagos c/c tutela
antecipada. Sentença de parcial procedência. Compromisso de compra e venda de
imóvel. Contrato de adesão. Rescisão por iniciativa do promitente comprador.
Cláusula penal. Retenção de 85% (oitenta e cinco por cento) sobre o valor pago.
Nulidade. O limite máximo de retenção deverá ser analisado de acordo com as
particularidades de cada demanda. Nulidade mantida. Reforma da sentença para
determinar que as requeridas restituam 90% aos demandantes das
contraprestações pagas - não comprovação de gastos com o imóvel. Retenção de
10% dos valores pagos pelos consumidores. Jurisprudência do STJ. Devolução em
parcela única, nos termos da Súmula nº 543 do STJ que diz: “na hipótese de
resolução de contrato de promessa de compra e venda de imóvel submetido ao
Código de Defesa do Consumidor, deve ocorrer a imediata restituição das parcelas
pagas pelo promitente comprador. Integralmente, em caso de culpa exclusiva do
promitente vendedor/construtor, ou parcialmente, caso tenha sido o comprador
quem deu causa ao desfazimento. ”. Reforma dos honorários advocatícios.
Considerando que houve condenação, estes deverão ser arbitrados entre 10% e
20% do valor da condenação, nos termos do art. 20, §3º do CPC. Honorários
advocatícios arbitrados em 10% do valor a ser restituído aos autores. Recursos

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conhecidos, para negar provimento ao das empresas requeridas e dar provimento
ao dos autores. Unânime. (TJSE; AC 201600804276; Ac. 3566/2016; Segunda
Câmara Cível; Relª Desª Áurea Corumba de Santana; Julg. 07/03/2016; DJSE
10/03/2016)

Foi cabalmente demonstrado a existência julgados reiterados,


de repetição homogênea, originários dos mais diversos Tribunais, os quais, sem dúvidas,
traz à tona o mesmo entendimento. Nesse sentido, de já a Autora adota-os como matéria
atrelada à sua causa de pedir.

Todavia, antes de tudo, mister tecer algumas considerações


acerca dos “precedentes” e da “jurisprudência”, situação processual adotada na Legislação
Adjetiva Civil (v.g., art. 489, inc. VI, art. 926, § 2º, art. 927, § 5º etc).

Com respeito a essa distinção, são precisos os dizeres de


Fredie Didier Jr quando professa ad litteram:

“À luz das circunstâncias específicas envolvidas na causa, interpretam-se os textos


legais (lato
(lato sensu),
sensu), identificando a normal geral do caso concreto, isto é, a ratio
decidiendi, que constitui o elemento nuclear do precedente. Um precedente,
quando reiteradamente aplicado, se transforma em jurisprudência, que, se
predominar em tribunal, pode dar ensejo à edição de um enunciado na súmula da
jurisprudência deste tribunal.

23
Assim, a súmula é o enunciado normativo (texto) da ratio decidiendi (norma geral)
de uma jurisprudência dominante, que a reiteração de um precedente.
Há, pois, uma evolução: precedente → jurisprudência → súmula. São noções
distintas, embora umbilicalmente ligadas. “ ( Didier Jr., Fredie. Curso de direito
processual civil: teoria da provas, ... 10ª Ed. Salvador: JusPodivm, vol. 2, 2015, p.
487)

Imperioso igualmente transcrever o magistério de Luiz


Guilherme Marinoni, quando, em obra específica acerca do tema, enfoca o dever de ater-se
às decisões do Superior Tribunal de Justiça, verbis:

“Atualmente, considerando-se a Constituição Federal, a função do Superior


Tribunal de Justiça, a coerência do direito, assim como a necessidade de tutela da
segurança jurídica e a igualdade perante o direito, não há como deixar de ver as
decisões do Superior Tribunal de Justiça como precedentes obrigatórios . “
(Marinoni, Luiz Guilherme. Precedentes obrigatórios. 4ª Ed. São Paulo: RT, 2016,
p. 317)
(negritamos e sublinhamos)

Com efeito, a parte Autora abriga-se na jurisprudência reiterada,


porquanto:

23
( a ) as razões de decidir são similares ( ratio decidendi): em se tratando de contrato de
compra e venda, submetido ao CDC, cabe ao promitente vendedor devolver as parcelas
pagas de imediato;

( b ) os fatos levados à efeito nas decisões se assemelham: existência de cláusula expressa


com percentuais exorbitantes a título de multa compensatória, colidindo, por isso, com
vários dispositivos do CDC;

( c ) idênticos efeitos em face da violação: é devida a retenção de valores pagos a título de


multa, porém não mais que 20% (vinte por cento), prevalecendo o percentual de 10% (dez
por cento) sobre as quantais pagas.

Com efeito, máxime sob a égide do art. 489, § 1º


1º, inc. VI, do
Código de Processo Civil, a Autora sustenta como precedentes de jurisprudência em sua
defesa os julgados abaixo indicados:

( i ) AgRg no REsp 1110810/DF, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado
em 03/09/2013, DJe 06/09/2013;

( ii ) AgRg no Ag 1100908/RO, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado
em 18/08/2009, DJe 02/09/2009;

( iii ) AgRg no REsp 1013249/PE, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, QUARTA TURMA,
DJe 08/06/2010;

( iv ) TJDF;
TJDF; Rec 2014.01.1.180947-8; Ac. 927.270; Terceira Turma Cível; Relª Desª Fátima Rafael;
DJDFTE 21/03/2016;

23
( v ) TJSE;
TJSE; AC 201600804276; Ac. 3566/2016; Segunda Câmara Cível; Relª Desª Áurea Corumba de
Santana; Julg. 07/03/2016; DJSE 10/03/2016;

( vi ) Súmula 543, do STJ.

Caso não seja esse o entendimento de Vossa Excelência, ad


argumentandum, pleiteia-se de já que este juízo indique, com precisão, por quais motivos se
adotou caminho de entendimento diverso. (CPC, art. 489, § 1º
1º, inc. VI)

(2.5.) – PEDIDO DE TUTELA ANTECIPADA DE URGÊNCIA

O Código de Processo Civil autoriza o Juiz conceder a tutela de


urgência quando “probabilidade do direito” e o “perigo de dano ou o risco ao resultado útil do
processo”:

Art. 300 - A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que
evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao
resultado útil do processo.

No presente caso, estão presentes os pressupostos para a


concessão da tutela requerida, existindo verossimilhança das alegações, além de fundado
receio de dano irreparável ou de difícil reparação.

O fumus boni juris se caracteriza pela redação das cláusulas


abusivas aludidas nesta peça processual, dos precedentes colacionados, máxime do STJ,

23
bem assim a notificação feita via Tabelionato indicando o não interesse em continuar com a
relação contrtual.

Evidenciado igualmente se encontra o periculum in mora, eis


que a demora na devolução dos valores pagos tem trazido sequelas financeiras à Autora. A
propósito, a rescisão do contrato foi justamente para obterem-se os valores pagos e sanar
vários débitos com outros credores. Nesse passo, a Promovente colaciona extrato bancário
demonstrando a utilização completa do cheque especial ( doc. 03), correspondências da
Serasa e do SPC (docs. 04/05) indicando a inclusão do nome da mesma, correspondência
da imobiliária cobrando os aluguere em atraso (doc. 06), receituário com remédios a serem
adquiridos (docs. 07/09), etc.

A reversibilidade da medida também é evidente, uma vez que a


requerida, se vencedora na lide, poderá ressarcir-se dos valores repetidos em ação própria.

Desse modo, à guisa de sumariedade de cognição, os


elementos indicativos de ilegalidades contido na prova ora imersa traz à tona circunstâncias
de que o direito muito provavelmente existe.

Acerca do tema do tema em espécie, é do magistério de José


Miguel Garcia Medina as seguintes linhas:

“. . . sob outro ponto de vista, contudo, essa probabilidade é vista como requisito,
no sentido de que a parte deve demonstrar, no mínimo,
mínimo, que o direito afirmado é
23
provável (e mais se exigirá, no sentido de se demonstrar que tal direito muito
provavelmente existe, quanto menor for o grau de periculum.
periculum. “ (MEDINA, José
Miguel Garcia. Novo código de processo civil comentado ... – São Paulo: RT, 2015,
p. 472)
(itálicos do texto original)

Com esse mesmo enfoque, sustenta Nélson Nery Júnior,


delimitando comparações acerca da “probabilidade de direito” e o “ fumus boni iuris”, esse
professa, in verbis:

“4. Requisitos para a concessão da tutela de urgência: fumus boni iuris: Também é
preciso que a parte comprove a existência da plausibilidade do direito por ela
afirmado (fumus
(fumus boni iuris). Assim, a tutela de urgência visa assegurar a eficácia
do processo de conhecimento ou do processo de execução...” (NERY JÚNIOR,
Nélson. Comentários ao código de processo civil. – São Paulo: RT, 2015, p. 857-
858)
(destaques do autor)

Em face dessas circunstâncias jurídicas, faz-se necessária a


concessão da tutela de urgência antecipatória, o que também sustentamos à luz dos
ensinamentos de Tereza Arruda Alvim Wambier:

23
"O juízo de plausibilidade ou de probabilidade – que envolvem dose significativa
de subjetividade – ficam, ao nosso ver, num segundo plano, dependendo do
periculum evidenciado. Mesmo em situações que o magistrado não vislumbre
uma maior probabilidade do direito invocado, dependendo do bem em jogo e da
urgência demonstrada (princípio da proporcionalidade), deverá ser deferida a
tutela de urgência, mesmo que satisfativa. “ (Wambier, Teresa Arruda Alvim ... [et
tal]. – São Paulo: RT, 2015, p. 499)

Diante disso, a Autora vem pleitear, sem a oitiva prévia da parte


contrária (CPC, art. 9º, parágrafo único, inc. I c/c art. 300, § 2º e CDC art. 84, § 3º),
independente de caução (CPC, art. 300, § 1º), tutela de urgência antecipatória no sentido
de:

a) seja deferida tutela provisória de arresto (CPC, art. 301) de sorte a ordenar o
bloqueio dos valores a serem repetidos (planilha anexa), via Bacen-Jud,
correspondente à quantia de R$ 00.000,00 ( .x.x.x. ), para, assim, preservar o
cumprimento futuro da obrigação pecuniária em espécie;

b) não sendo esse o entendimento de Vossa Excelência, pleiteia-se a intimação da


Ré para que, no prazo de 10(dez) dias úteis, deposite em conta judicial o montante
acima descrito, sob pena de incidir em multa diária de R$ 300,00 (trezentos reais)
(CPC, art. 297).

(3) – P E D I D O S e R E Q U E R I M E N T O S

23
POSTO ISSO,
como últimos requerimentos desta Ação de Rescisão de Contrato, a Autora requer que
Vossa Excelência se digne de tomar as seguintes providências:

3.1. Requerimentos

a) A parte Autora opta pela realização de audiência conciliatória (CPC, art.


319, inc. VII), razão qual requer a citação da Promovida para comparecer à
audiência designada para essa finalidade, porém antes apreciando-se o
pedido de tutela de urgência (CPC, art. 334, caput);

b) requer, ademais, seja deferida a inversão do ônus da prova, maiormente


quando a hipótese em estudo é abrangida pelo CDC, bem assim a concessão
dos benefícios da Justiça Gratuita.

3.2. Pedidos

a) pede, mais, sejam JULGADOS PROCEDENTES OS PEDIDOS


FORMULADOS NESTA AÇÃO, para assim declarar rescindido o acerto
contratual em análise e, em conta disso:

( i ) Por ofender o que rege o art. 51, inc. I e II e art. 53, do CPC, declarar nulas
as cláusulas 17 e 19, as quais tratam do prazo e do montante a devolver em caso
de resolução do contrato unilateralmente.

23
( ii ) condenar a Ré à devolução imediata da quantia de R$ 00.000,00 ( .x.x.x. ),
correspondente aos valores pagos e já deduzidos o percentual de 10%(dez por
cento) a título de multa compensatória (reduzida equitativamente – CC, art. 413);

( iii ) pleiteia que seja definida, por sentença, a extensão da obrigação


condenatória, o índice de correção monetária e seu termo inicial, os juros
moratórios e seu prazo inicial;

b) por fim, seja a Ré condenada em custas e honorários advocatícios, esses


arbitrados em 20%(vinte por cento) sobre o valor da condenação (CPC, art. 82, § 2º,
art. 85 c/c art. 322, § 1º), além de outras eventuais despesas no processo (CPC, art.
84).

Com a inversão do ônus da prova, protesta prova o alegado por


todos os meios admissíveis em direito, assegurados pela Lei Fundamental (art. 5º, inciso LV,
da C.Fed.), em especial pelo depoimento do representante legal da Ré, perícia, oitiva de
testemunhas a serem arroladas oportunamente, tudo de logo requerido.

Concede-se à causa o valor de R$ 00.000,00 ( .x.x.x. ), em


conformidade aos ditames do art. 292, incs. V, do CPC.

Respeitosamente, pede deferimento.

Cidade, 00 de abril de 0000.

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Beltrano de tal
Advogado – OAB(CE) 112233

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