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Ao Juízo do ____ Juizado Especial Cível da Circunscrição Judiciária da XXXX.

XXXXXX, nacionalidade, estado civil, profissão, RG, CPF, e-mail eletrônico, telefone,
residente e domiciliada, CEP nº xxxxxxx, atuando em causa própria, vem à presença
de Vossa Excelência, propor:

AÇÃO DE RESTITUIÇÃO C/C DANOS MORAIS

em desfavor de xxxx, sociedade empresária limitada, inscrita no CNP nº xxxxxx,


telefone: xxxx e (xx) xxxxx, com sede xxxxx, pelas razões de fato e de direito que
passa a expor:

SÍNTESE PROCESSUAL

Em síntese, as partes celebraram contrato de locação com o meio de garantia através


do pagamento de caução no valor originário de R$ R$ 3.900,00 (três mil e novecentos
reais) no dia 16 de outubro de 2019, conforme documento de recibo de caução (doc.
02), e após o término do contrato e a entrega das chaves, a ré se recusou a devolver o
valor integral pago a título de caução, sendo restituído apenas o valor de 2 (dois)
cauções.

Em 10 de outubro de 2019, as partes firmaram contrato de locação residencial, tendo


como objeto o imóvel situado à xxxxx, com valor inicial de R$ 1.300,00 (mil e trezentos
reais), pelo período de 12 (doze) meses, conforme contrato de locação anexo
(doc.01).

No ato da assinatura do contrato de locação foi feito o pagamento de 3 (três) cauções,


no valor total de R$ 3.900,00 (três mil e novecentos reais), conforme recibo de
pagamento emitido pela imobiliária (doc. 02).

Durante o período de locação foram feitas duas renovações do contrato de locação


com as devidas atualizações no valor do aluguel, conforme documentos anexos (docs.
03 e 04).

A autora comunicou por e-mail a imobiliária a sua intenção de não ter mais o seu
contrato de locação renovado. Após isso foi informada pela própria imobiliária que
deveria realizar os concertos necessários no apartamento bem como a pintura, e após
as benfeitorias feitas foi agendado a vistoria de saída no imóvel, que gerou o laudo
final atestado as boas condições do imóvel, conforme se verifica no termo de
conferência feita pelo vistoriador (doc. 05).

Mais uma vez ficou atestado no laudo final que o imóvel não precisaria de nenhum
concerto por parte da imobiliária, estando em conformidade com o laudo da vistoria de
entrada no imóvel.

A rescisão contratual foi assinada no dia 23 de novembro de 2022.


No momento da entrega das chaves e da assinatura da rescisão a autora foi informada
pela imobiliária que apenas seriam devolvidos 2 (dois) cauções e sem as devidas
correções pela poupança, ou seja, somente o valor de R$ 2.600,00 (dois mil e
seiscentos reais), vejamos (doc. 06):

Conforme se verifica no comprovante de pagamento a transferência do valor da


caução foi feita via PIX para a conta da autora já tendo sido descontando o valor da
taxa da 2ª vistoria de R$ 170,00 (cento e setenta reais), totalizando assim a restituição
de R$ 2.430,00 (dois mil quatrocentos e trinta reais) (doc. 07).

Após a parte ré se mostrar irredutível a parte autora não viu outra solução a não ser
procurar o judiciário para reaver a totalidade do valor pago à título de caução com a
devida correção.

Posto isto, busca-se um amparo jurídico para resolver essa celeuma.

DO DIREITO

DA RESTITUIÇÃO INTEGRAL DA CAUÇÃO

Conforme demonstrado no recibo emitido pela imobiliária, a autora pagou a título de


caução locatícia o valor equivalente a 3 (três) alugueis totalizando o valor de R$
3.900,00 (três mil e novecentos reais), valor este que deveria ser atualizado conforme
previsto em contrato de locação pela caderneta de poupança.

Importa frisar que, a Autora sempre cumpriu com o estipulado em contrato e nunca
fora inadimplente com o pagamento dos alugueis, nada ficando devendo ao réu.

Como se comprova por meio do termo de vistoria final realizado pela imobiliária o
imóvel foi entregue em ótimas condições, tendo sido cumprido todas as exigências
solicitadas pela imobiliária para ser entregue da mesma forma que foi locado a autora.
Além disso o termo de distrato e de devolução das chaves não teriam sido emitidos e
assinados pela imobiliária se o imóvel estivesse pendente de benfeitorias.

Há diversas formas de garantir um contrato de locação, dentre elas, a caução,


conforme estabelece o art. 37, I, da Lei nº 8.245, de 1991, vejamos:

Art. 37. No contrato de locação, pode o locador exigir do locatário as seguintes


modalidades de garantia:

I - caução;

A caução serve como uma garantia para que o locador não tenha prejuízos no caso de
inadimplência do locatário. Também serve para dar segurança ao dono do imóvel para
o caso de quaisquer prejuízos causados pela pessoa que locou o imóvel, possa ser
reparado.
Sendo assim, a autora tem que ser restituída integralmente dos valores que pagou à
título de caução já que não houve prejuízo causado a ré, e tal pouco consertos para
ser feito no imóvel.

Outrossim, a devolução da caução deve ser feita de forma integral, já que a inquilina
não deixou de arcar com suas obrigações, não causou nenhum dano ao imóvel
ficando pendente e não deixou nenhum aluguel atrasado, dessa forma resta evidente
a obrigação da ré em restituição a caução de forma integral.

A Lei nº 8.245, de 1991, no seu art. 38, § 2º, prevê que o locatário deposite o valor
correspondente a três meses de aluguel em uma caderneta de poupança, vejamos:

Art. 38. A caução poderá ser em bens móveis ou imóveis. § 2º A caução em dinheiro,
que não poderá exceder o equivalente a três meses de aluguel, será depositada em
caderneta de poupança, autorizada, pelo Poder Público e por ele regulamentada,
revertendo em benefício do locatário todas as vantagens dela decorrentes por ocasião
do levantamento da soma respectiva. (g.n.)

Destarte, cumprido o contrato, desocupado o imóvel com entrega das chaves,


levantado e pago todos os débitos, faz jus o inquilino a restituição integral do valor
caucionado, devidamente atualizado exatamente como se o mesmo tivesse sido
depositado em caderneta de poupança.

Portanto, havendo a total regularidade no procedimento de desocupação do imóvel,


que foi o caso da Autora, esta faz jus ao recebimento integral do valor dado em
caução no início do contrato, devendo esta quantia ser devidamente corrigido de
acordo com índices da caderneta de poupança, que deve ser contada a partir do
depósito no início do contrato conforme recebido de pagamento emitido pela
imobiliária.

Dessa forma, requer que condenação da ré ao pagamento integral do valor da caução


devido atualizado pela caderneta de poupança, além de juros e correção monetária.

DA RESTITUIÇÃO EM DOBRO

Reza um conhecido brocardo jurídico que onde existe a mesma razão deve haver o
mesmo direito. O parágrafo único do artigo 42 do CDC impõe que “O consumidor
cobrado em quantia indevida tem direito à repetição do indébito, por valor igual ao
dobro do que pagou em excesso, acrescido de correção monetária e juros legais,
salvo hipótese de engano justificável”.

A caução tem natureza de garantia e, no caso posto, serve para cobrir eventuais
danos materiais causados à demandada pelo consumidor. Na situação ora em testilha,
o imóvel foi entregue em perfeito estado.

Então, mutatis mutandis, ao reter o valor referente a 1 (um) caução no valor de R$


1.300,00 (mil e trezentos reais), a ré age como se estivesse cobrando indevidamente
da autora algum prejuízo, ensejando a restituição em dobro prevista pelo CDC.
Em tempo, impende ressaltar que aqui não há que se falar em erro justificável. A
autora tem os documentos emitido pela ré que o imóvel foi entregue em ótimas
condições. Além disso conforme documento de recebido de pagamento da caução
emitido pela a ré ela reconhece que a autora realizou o pagamento de 3 (três) cauções
no valor de R$ 3.900,00 reais.

Logo, requer condenação do réu à devolução em dobro da quantia paga à título de


caução totalizando o valor de R$ 2.600,00 (dois mil e seiscentos reais), com juros e
correção monetária.

DO DANO MORAL

O valor da indenização por danos morais deve corresponder a uma quantia razoável,
proporcional à relevância do evento danoso causado à vítima. A instituidora todas as
vezes que foi procurada não deu nenhuma satisfação a autora, nem suporte algum
para solucionar a situação, deixando a parte autora totalmente desamparado, sendo a
ré que detém de poderes para fazer não mostrou nenhuma consideração ou
preocupação em resolver a situação.

Não são necessários grandes esforços a fim de que se demonstrem os danos desta
natureza, na medida em que o só fato da Ré, não ter restituído o valor integral da
caução dada em garantia pela Autora no contrato de locação, bem como quanto a
todo transtorno sofrido, que vai muito além do mero dissabor.

Portanto, cabível a indenização por danos morais, e nesse sentido, a indenização por
dano moral deve representar para a vítima uma satisfação capaz de amenizar de
alguma forma o abalo sofrido e de infligir ao causador sanção e alerta para que não
volte a repetir o ato, uma vez que fica evidenciado completo descaso aos transtornos
causados.

Conforme disposto nos fatos iniciais, o Consumidor teve que desperdiçar seu tempo
útil para solucionar problemas que foram causados pela empresa Ré que não
demonstrou qualquer intenção na solução do problema, obrigando o ingresso da
presente ação.

Este transtorno involuntário é o que a doutrina denomina de dano pela perda do tempo
útil, pois afeta diretamente a rotina do consumidor gerando um desvio produtivo
involuntário, que obviamente causam angústia e stress.

Humberto Theodoro Júnior leciona de forma simples e didática sobre o tema,


aplicando-se perfeitamente ao presente caso:

Entretanto, casos há em que a conduta delituosa do fornecedor provoca injusta perda


de tempo do consumidor, para solucionar problema de vício do produto ou serviço. (...)
O fornecedor, desta forma desvia o consumidor de suas atividades para “resolver um
problema criado” exclusivamente por aquele. Essa circunstância, por si só, configura
dano indenizável no campo do dano moral, na medida em ue ofende a dignidade da
pessoa humana e outros princípios modernos da teoria contratual, tais como a boa-fé
objetiva e a função social: (...) É de se convir que o tempo configura bem jurídico
valioso, reconhecido e protegido pelo ordenamento jurídico, razão pela qual, “a
conduta que irrazoavelmente o viole produzirá uma nova espécie de dano existencial,
qual seja, dano temporal” justificando a indenização. Esse tempo perdido, destarte,
quando viole um “padrão de razoabilidade suficientemente assentado na sociedade”
não pode ser enquandrado noção de mero aborrecimento ou dissabor. (THEODORO
JÚNIOR, Humberto. Direitos do consumidor. 9ª ed. Editora Forense, 2017. Versão
ebook, pos. 4016).

Bruno Miragem, no mesmo sentido destaca:

Por outro lado, vem se admitindo crescentemente, a partir de provocação doutrinária,


a concessão de indenização pelo dano decorrente do sacrifício do tempo do
consumidor em razão à necessidade de sucessivos e infrutíferos contatos com o
serviço de atendimento do fornecedor, e outras providências necessárias à
reclamação de vícios no produto ou n prestação de serviços. (MIRAGEM, Bruno.
Curso de Direito do Consumidor – Editora RT, 2016. Versão ebook,3.2.3.4.1)

O STJ, nessa linha de entendimento já reconheceu o direito do consumidor à


indenização pelo desvio produtivo diante do desperdício do tempo do consumidor para
solucionar um problema gerado pelo fornecedor, afastando a ideia do mero
aborrecimento, in verbis:

Adoção, no caso, da teoria do Desvio Produtivo do Consumidor, tendo em vista que a


autora foi privada de tempo relevante para dedicar-se ao exercício de atividades que
melhor lhe aprouvesse, submetendo-se, em função do episódio em cotejo, a
intermináveis percalços para a solução de problemas oriundos de má prestação do
serviço bancário. Danos morais indenizáveis configurados.

(...)

Ante o exposto, conheço do agravo para não conhecer do recurso especial. Nos
termos do art. 85, § 11, do CPC/2015, majoro os honorários em favor do advogado da
parte ora recorrida em 2% sobre o valor da condenação. Publique-se. Brasília-DF, 05
de abril de 2018.

(STJ - AREsp: XXXXX SP XXXXX/XXXXX-0, Relator: Ministro MARCO AURÉLIO


BELLIZZE, Data de Publicação: DJ 25/04/2018) (g.n)

Trata-se de notório desvio produtivo caracterizado pela perda do tempo que lhe seria
útil ao descanso, lazer ou de forma produtiva, acaba sendo destinado na solução de
problemas de causas alheias à sua responsabilidade e vontade.

A perda de tempo de vida útil do consumidor, em razão da falha da prestação do


serviço não constitui mero aborrecimento do cotidiano, mas verdadeiro impacto
negativo em sua vida, devendo ser indenizado em pecúnia.
Diante disso, requer condenação do réu ao pagamento de indenização a título de dano
moral no valor de R$ 10.000,00 (dez mil reais), com juros e correção monetária.

DOS PEDIDOS

Pelo joeirado, ínclito julgador, requer digne-se V. Exa., em RECEBER a presente


ação, julgando-a PROCEDENTE em seu pedido para efeitos de:

Condenar o réu a pagamento integral do valor da caução, no valor de R$ 1.300,00 (mil


e trezentos reais), com a devida atualização da caderneta de poupança, além de juros
e correção monetária;
Condenar o réu ao pagamento em dobro da quantia paga à título de caução
totalizando o valor de R$ 2.600,00 (dois mil e seiscentos reais), com juros e correção
monetária.
Condenar o réu ao pagamento de indenização pelos danos morais no importe de R$
10.000,00 (dez mil reais);
ordenar a CITAÇÃO do requerido inicialmente cotejado, para que, parente este. Juízo
apresentem defesa que tiver, dentro do prazo;
anunciar o interesse na AUTOCOMPOSIÇÃO, conforme art. 334, § 5ºdo CPC, e pela
opção de realização de AUDIÊNCIA DE CONCILIAÇÃO OU MEDIAÇÃO, conforme
disposto no art. 319, VII do CPC;
e, por fim, pela PRODUÇÃO DE TODAS AS PROVAS ADMISSÍVEIS EM DIREITO.
Dá-se a causa o valor de R$ 12.600,00 (doze mil e seiscentos reais).

São Paulo, xx de xxx de 2023.

xxxxx

OAB/XX nº xxxx

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