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NEGÓCIO JURÍDICO

Interpretação do negócio jurídico

- Interpretação: - Leis
- Contratos

•“Nas declarações de vontade se atenderá mais a intenção nela


consubstanciada do que o sentido literal da linguagem” – (art. 112
do CC/02)

•Teorias:

- Teoria da Declaração
- Teoria da Vontade

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Interpretação do negócio jurídico

•Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e


os usos do lugar de sua celebração – (art. 113 do CC/02)

Exemplo: expressão rapariga – Prostituta (no Nordeste)


– Moça bonita (no Sul)

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Interpretação do negócio jurídico


Art. 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua
celebração.
§ 1º A interpretação do negócio jurídico deve lhe atribuir o sentido que: (Incluído pela Lei nº
13.874, de 2019)
I - for confirmado pelo comportamento das partes posterior à celebração do negócio; (Incluído pela
Lei nº 13.874, de 2019)
II - corresponder aos usos, costumes e práticas do mercado relativas ao tipo de negócio; (Incluído
pela Lei nº 13.874, de 2019)
III - corresponder à boa-fé; (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
IV - for mais benéfico à parte que não redigiu o dispositivo, se identificável; e (Incluído pela Lei nº
13.874, de 2019)
V - corresponder a qual seria a razoável negociação das partes sobre a questão discutida, inferida das
demais disposições do negócio e da racionalidade econômica das partes, consideradas as
informações disponíveis no momento de sua celebração. (Incluído pela Lei nº 13.874, de 2019)
§ 2º As partes poderão livremente pactuar regras de interpretação, de preenchimento de lacunas e
de integração dos negócios jurídicos diversas daquelas previstas em lei. (Incluído pela Lei nº 13.874,
de 2019)
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Interpretação do negócio jurídico

•Os negócio jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se


estritamente (art. 114 do CC/02)

Exemplo de negócio jurídico benéfico: contrato de doação pura


(gratuita)

João faz uma doação do carro para Fabrício. Não quer dizer que
João também terá que pagar o IPVA (imposto do veículo), pois deve
ser interpretada a doação de modo restritivo.

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A tricotomia existência-validade-eficácia

-Veremos os planos de existência, de validade e de eficácia do


negócio jurídico;

-Na visão de Pontes de Miranda, o negócio jurídico é dividido em


três planos, o que gera um esquema que se parece com uma
escada com três degraus, denominada de Escada Ponteana;

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A tricotomia existência-validade-eficácia

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A tricotomia existência-validade-eficácia

-ELEMENTOS ESSENCIAIS – Plano de existência e de validade:


sujeitos, objeto, por exemplo;

-ELEMENTOS ACIDENTAIS – Plano de eficácia – condição


(suspensiva ou resolutiva), termo (inicial ou final) e encargo;

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A tricotomia existência-validade-eficácia

-O Plano da Existência é dos elementos que integram a essência de


uma coisa, sua composição. Neste plano específico, não se
pergunta pela validade ou eficácia de um negócio jurídico. Basta
somente a realidade de sua existência. Não é unânime entre os
doutrinadores quais são estes elementos que se situam no plano da
existência. Para Carlos Roberto Gonçalves os elementos são:
Declaração de vontade; Finalidade negocial, e Idoneidade do
objeto;
-A Declaração de vontade figura como elemento de existência
porque não pode haver negócio jurídico se a vontade não for
exteriorizada, conhecida.
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A tricotomia existência-validade-eficácia

-O plano da validade se situa no campo dos requisitos do negócio


jurídico, ou seja, das condições necessárias para o atingimento de
um determinado fim. O artigo 104 do Código Civil de 2002
estabelece que a validade do negócio jurídico requer: Agente
capaz; Objeto lícito, possível, determinado ou determinável; e
Forma prescrita ou não defesa em lei.
-Quanto ao agente capaz, fala-se da capacidade de fato ou de
exercício, que somente alguns detém. Esta é aquela que habilita o
agente a exercer direitos e obrigações na vida civil.

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A tricotomia existência-validade-eficácia

-Segundo Carlos Roberto Gonçalves, objeto lícito é aquele que não


atenta contra a lei, a moral ou os bons costumes. Assim, se o objeto
do contrato é imoral, não é raro os tribunais aplicarem o princípio
de que, ninguém pode se valer da própria torpeza, ou então, se
ambas as partes agiram com torpeza, malandragem, nenhuma
delas pode exigir, por exemplo, em um contrato, a devolução da
importância que pagou.
-Objeto impossível: física ou jurídica;
-Impossibilidade física: “pretendo doar o sol”;
-impossibilidade jurídica ocorre quando o próprio ordenamento
jurídico expressamente veda a realização de um negócio jurídico,
com relação a determinado bem – herança de pessoa viva.
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A tricotomia existência-validade-eficácia

-Objeto que deve ser determinado ou determinável - venda de


coisa incerta? Gênero e quantidade.

-A regra é de que a forma é livre. Podem as partes escolher se


celebram um negócio jurídico por instrumento público, particular
ou verbalmente. Com exceção dos casos em que a lei determina
uma forma específica como sendo essencial para validade do
negócio, como ordena o artigo 107 do Código Civil de 2002.

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A tricotomia existência-validade-eficácia

- De acordo com o Professor Antônio Junqueira de Azevedo, é o


plano da eficácia, o último plano do negócio jurídico a ser
examinado pelo estudioso.
-Não é qualquer eficácia – deve ser eficácia jurídica. Especialmente,
da eficácia dos direitos manifestados como desejados (própria).
-O plano da eficácia é tratado como seus elementos acidentais do
negócio jurídico, que são basicamente: Termo; Condição, e Modo
ou encargo.

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A tricotomia existência-validade-eficácia

- Elementos acidentais, segundo Carlos Roberto Gonçalves, são


aqueles que se acrescentam à figura típica do ato para mudar-lhes
os respectivos efeitos.

- Para Maria Helena Diniz, os elementos acidentais são aqueles em


“que as partes podem adicionar em seus negócios para modificar
uma ou algumas de suas consequências naturais”

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A tricotomia existência-validade-eficácia

-A condição é prevista no Código Civil de 2002, em seu artigo 121,


como a cláusula que subordina o efeito do ato jurídico a evento
FUTURO e INCERTO. Ela se estabelece exclusivamente por vontade
das partes, jamais por imposição da lei.

“Art. 121. Considera-se condição a cláusula que, derivando


exclusivamente da vontade das partes, subordina o efeito do
negócio jurídico a evento futuro e incerto.”

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A tricotomia existência-validade-eficácia

-Condições suspensivas são aquelas que, enquanto não se


verificarem, impedem que o negócio jurídico gere efeitos. Exemplo:
o pai que promete dar um carro a seu filho se ele passar no
vestibular.

-Condições resolutivas verificam-se quando o direito transferido


pelo negócio jurídico é resolvido, extinto, diante da ocorrência de
um evento futuro e incerto. Exemplo: um pai que combina com o
filho que vai lhe dar uma mesada até que ele se case. Neste caso, o
filho já está gozando da mesada, que será extinta caso ele venha a
se casar.
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A tricotomia existência-validade-eficácia

- A condição pode ser ainda, voluntária ou legal.


A) Condição voluntária “conditio facti”: É estabelecida pelas partes
como requisito de eficácia do negócio jurídico.
B) Condição legal “conditio iuris”: É pressuposto do negócio
jurídico e não verdadeira condição, mesmo quando as partes lhe
façam referência expressa. Essa condição não é elemento acidental
e, consequentemente, não está inserida no 3º degrau da escada
ponteana.

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A tricotomia existência-validade-eficácia

• O artigo 122 trata das condições que privam de todo o efeito o


negócio jurídico e são chamadas de perplexas ou contraditórias,
como exemplo, “te dou o carro se você se matar”.

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A tricotomia existência-validade-eficácia

• Termo: é o dia ou momento em que começa ou extingue a


eficácia do negócio jurídico, podendo ter como unidade de medida
o dia, o mês, o ano ou a hora.

O termo convencional é cláusula que subordina a eficácia do


negócio a evento FUTURO E CERTO.
Por exemplo: “te dou o carro no natal deste ano”.

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A tricotomia existência-validade-eficácia

• Termo
“Art. 131. O termo inicial suspende o exercício, mas não a aquisição
do direito”.
O termo não suspende a aquisição do direito por ser evento futuro,
mas dotado de certeza, sendo assim, inexiste estado de pendência,
podendo o titular, com maior razão, exercer atos de conservação.

Pode ainda ocorrer conjugação de termo e condição num mesmo


negócio jurídico – “te dou um carro se você se formar em direito até
30 anos de idade”.

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A tricotomia existência-validade-eficácia

• Termo
Reflexão: A morte no contrato de seguro é condição ou termo???

Atenção: Não são todos os negócios jurídicos que admite o termo.


Não admite termo: aceitação ou renúncia à herança; adoção;
emancipação; casamento; reconhecimento de filho.

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A tricotomia existência-validade-eficácia

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A tricotomia existência-validade-eficácia

• Encargo ou modo
É cláusula acessória às liberalidades, como por exemplo, doações,
testamentos, pela qual se impõe uma obrigação ao beneficiário.
Pode estipular tal cláusula também em declarações unilaterais da
vontade, a promessa de recompensa.
Não pode ser utilizada em negócio a título oneroso, pois seria o
mesmo que uma contraprestação.
Por exemplo, “te dou minha casa para que você institua uma
creche”.
Em regra, é identificada pelas expressões “para que”, “a fim de
que”, “com a obrigação de”.
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A tricotomia existência-validade-eficácia

• Encargo ou modo

Questão: “Fulano vendeu a casa para Rose e subordinou à


transferência da casa a construção de uma igreja” – Encargo?

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A tricotomia existência-validade-eficácia

• Encargo ou modo
-Quanto aos efeitos: “Art. 136. O encargo não suspende a aquisição
nem o exercício do direito, salvo quando expressamente imposto no
negócio jurídico, pelo disponente, como condição suspensiva”.

-Por isso é que se o beneficiário morre antes, a liberalidade


prevalece, mesmo se instituída causa mortis. Se o encargo não for
cumprido, a liberalidade poderá ser revogada.

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A tricotomia existência-validade-eficácia

• Encargo ou modo
- Encargo ILÍCITO ou IMPOSSÍVEL: tem-se como cláusula não escrita
(art. 137 do CC/02)

“Art. 137. Considera-se não escrito o encargo ilícito ou impossível,


salvo se constituir o motivo determinante da liberalidade, caso em
que se invalida o negócio jurídico.”

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A tricotomia existência-validade-eficácia

Condição suspensiva Condição resolutiva Encargo


- Suspende a - Opera-se de pleno - Não suspende a
aquisição direito, resolvendo aquisição
e o exercício do automaticamente o nem o exercício do
direito. direito a direito.
- É suspensiva, mas que ela se opõe, a - É coercitivo, e não
não coercitiva, pois sentença é suspensivo.
ninguém simplesmente - Não conduz em si a
pode ser obrigado a declaratória. revogação do ato. O
cumprir instituidor poderá
uma condição. ajuizar ou não ação
revocatória, cuja
sentença será
desconstitutiva, não
tendo efeito
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Defeitos dos Negócios Jurídicos

A declaração de vontade é elemento essencial, do plano de


existência, do negócio jurídico.

Para o negócio seja válido é necessário que a vontade seja


manifestada livre e espontaneamente. Entretanto, pode acontecer
que ocorra algum defeito na formação da vontade ou na sua
declaração, o que causa prejuízo ao próprio declarante, ao terceiro
ou à ordem pública.

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Defeitos dos Negócios Jurídicos

O Código Civil estipula as hipóteses em que a vontade manifestada


com algum vício tornará o negócio jurídico ANULÁVEL. São seis
defeitos previstos na lei civil:
•Erro
•Dolo
•Coação
•Estado de Perigo
•Lesão
•Fraude Contra Credores

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Defeitos do Negócio Jurídico

“Art. 171. Além dos casos expressamente declarados na lei, é


anulável o negócio jurídico:
I - por incapacidade relativa do agente;
II - por vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo,
lesão ou fraude contra credores.”

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Defeitos do Negócio Jurídico


Os defeitos de coação, lesão, dolo, erro e estado de perigo são
chamados de vícios do consentimento porque provocam uma
manifestação de vontade que não corresponde com o íntimo e verdadeiro
querer do agente. Ocorre um conflito entre a vontade manifestada e a
real intenção de quem a exteriorizou com exceção do defeito relativo à
fraude contra credores.

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Defeitos do Negócio Jurídico

A fraude contra credores não conduz a um descompasso entre o íntimo


querer do agente e a sua declaração, já que a vontade é exteriorizada
com a intenção de prejudicar terceiros. Portanto, não é considerada como
vício do consentimento, mas sim um considerada vício social.
OBS: A simulação também é chamada de vício social, porque objetiva
iludir terceiros ou violar a lei. O novo Código Civil trouxe uma relevante
alteração estabelecendo que a simulação é causa de NULIDADE (Art. 167
do CC) e não anulabilidade.

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Defeitos do Negócio Jurídico

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I) DO ERRO OU IGNORÂNCIA

1. Conceito
-Autoengano, ideia falsa da realidade
-Deve ser substancial e não meramente acidental (art. 138 do
CC/02)

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Defeitos do Negócio Jurídico

I) DO ERRO OU IGNORÂNCIA
“COMPREI GATO POR LEBRE”

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Defeitos do Negócio Jurídico

I) DO ERRO OU IGNORÂNCIA
O que é essencial? Da substância do ato

Segundo FRANCISCO AMARAL, erro essencial, também dito


substancial, “é aquele de tal importância que, sem ele, o ato não se
realizaria. Se o agente conhecesse a verdade, não manifestaria
vontade de concluir o negócio jurídico. Diz-se, por isso, essencial,
porque tem para o agente importância determinante, isto é, se não
existisse, não se praticaria o ato”.
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I) DO ERRO OU IGNORÂNCIA

NÃO CABE ERRO ACIDENTAL (menor importância) – Exemplo: Erro de


Cálculo (art. 143 do CC); risco no carro;

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I) DO ERRO OU IGNORÂNCIA

- Erro escusável é o erro justificável, desculpável, exatamente o


contrário de erro grosseiro ou inescusável, de erro decorrente do
não emprego da diligência ordinária.
CC/02: “Art. 138. São anuláveis os negócios jurídicos, quando as
declarações de vontade emanarem de erro substancial que poderia
ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das
circunstâncias do negócio”.
HOMEM MÉDIO - comparação a conduta do agente com a da média
das pessoas
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I) DO ERRO OU IGNORÂNCIA
-Discussão doutrinária - para a configuração do erro, a Cognoscibilidade e
não a Escusabilidade - Enunciado n. 12 da Jornada de Direito Civil,
promovida pelo Centro de Estudos Judiciários do Conselho de Justiça
Federal (CJF): “Na sistemática do art. 138, é irrelevante ser ou não
escusável o erro, porque o dispositivo adota o princípio da confiança” –
entendem que vale a análise do comportamento da outra parte, se
conhecia que o outro estava em erro.

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STJ - EMENTA: DIREITO CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. ANULAÇÃO DE NEGÓCIO JURÍDICO.


DAÇÃO EM PAGAMENTO. IMÓVEL. LOCALIZAÇÃO. INSTITUIÇÃO FINANCEIRA DE SÓLIDA
POSIÇÃO NO MERCADO. ERRO INESCUSÁVEL. 1. Não se há falar em omissão em acórdão
que deixa de analisar o segundo pedido do autor, cujo acolhimento depende da
procedência do primeiro (cumulação de pedidos própria sucessiva). 2. O erro que enseja a
anulação de negócio jurídico, além de essencial, deve ser inescusável, decorrente da falsa
representação da realidade própria do homem mediano, perdoável, no mais das vezes,
pelo desconhecimento natural das circunstâncias e particularidades do negócio jurídico.
Vale dizer, para ser escusável o erro deve ser de tal monta que qualquer pessoa de
inteligência mediana o cometeria. 3. No caso, não é crível que o autor, instituição financeira
de sólida posição no mercado, tenha descurado-se das cautelas ordinárias à celebração de
negócio jurídico absolutamente corriqueiro, como a dação de imóvel rural em pagamento,
substituindo dívidas contraídas e recebendo imóvel cuja área encontrava-se deslocada
topograficamente daquela constante em sua matrícula. Em realidade, se houve vício de
vontade, este constituiu erro grosseiro, incapaz de anular o negócio jurídico, porquanto
revela culpa imperdoável do próprio autor, dadas as peculiaridades da atividade
desenvolvida. 4. Diante da improcedência dos pedidos deduzidos na exordial - inexistindo,
por consequência, condenação -, mostra-se de rigor a incidência do § 4º do art. 20 do CPC,
que permite o arbitramento por por equidade. Provimento do recurso especial apenas
nesse ponto. 5. Recurso especial parcialmente provido. (STJ - REsp: 744311 MT
2005/0064667-5, Relator: Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, Data de Julgamento: 19/08/2010,
T4 - QUARTA TURMA, Data de Publicação: DJe 09/09/2010) –GRIFO NOSSO 14
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I) DO ERRO OU IGNORÂNCIA

• Erro deve ser REAL: quer dizer efetivo causador de prejuízo, dano.

Exemplo: Erro quanto ao ano de fabricação do veículo adquirido


(2005, em vez de 2009) é substancial e real, porque, se o adquirente
tivesse conhecimento da realidade, não o teria comprado. Tendo-o
adquirido, sofreu grande prejuízo.
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Defeitos do Negócio Jurídico

A) NATUREZA DO NEGÓCIO (“ERROR IN NEGÁTIO”) –


Doação por compra e venda;
B) OBJETO (“ERROR IN CORPORE”) – incide sobre a
identidade do objeto - da pessoa que adquire um
ERRO SUBSTANCIAL quadro de um aprendiz, supondo tratar-se de tela de
um pintor famoso;
C) QUALIDADE ESSENCIAL (“ERROR IN SUBSTANTIA”) –
pessoa que adquire candelabros prateados, mas de
material inferior, julgando serem de prata
(Justiniano);
D) QUANTO À PESSOA (“ERROR IN PERSONA”) –
testamento/casamento;
E) DE DIREITO (“ERROR IN IURIS”) – contrato que não se
sabia ser ilegal;

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I)DO ERRO OU IGNORÂNCIA

“Art. 139. O erro é substancial quando:


I - interessa à natureza do negócio, ao objeto principal da
declaração, ou a alguma das qualidades a ele essenciais;
II - concerne à identidade ou à qualidade essencial da pessoa a
quem se refira a declaração de vontade, desde que tenha influído
nesta de modo relevante;
III - sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei, for
o motivo único ou principal do negócio jurídico.”

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I)DO ERRO OU IGNORÂNCIA


2. Outras questões:
•Falso motivo como vício quando expresso como razão determinante
do negócio (art. 140 do CC)
O motivo do negócio são as razões subjetivas, psicológicas, que
levam a pessoa a realizá-lo, não precisa ser mencionado pelas partes,
sem relevância para o negócio. Exemplo: Em uma compra e venda,
os motivos podem ser diversos: crise financeira, investimento,
moradia, etc.
Para serem considerados falso motivo, precisam ser declarados no
instrumento.
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I)DO ERRO OU IGNORÂNCIA


2. Outras questões:

CC/02: “Art. 140. O falso


motivo só vicia a declaração de
vontade quando expresso como
razão determinante.”

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I)DO ERRO OU IGNORÂNCIA


2. Outras questões:

Exemplo do Falso Herói: Se uma pessoa faz uma doação a outra


pessoa que lhe salvou a vida, e posteriormente descobre que não era
verdade (falso herói), a doação poderá ser anulada somente na
hipótese de o citado motivo tiver sido expressamente declarado
como razão determinante.

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Defeitos do Negócio Jurídico

I) DO ERRO OU IGNORÂNCIA
2. Outras questões:
• Erro à Transmissão Defeituosa da Vontade (art. 141 do CC)

Imagine que uma das partes não se encontra na presença da outra e


se vale de interposta pessoa (mensageiro) ou de um meio de
comunicação (fax, telégrafo, e-mail etc.) e na transmissão da vontade
acaba tendo divergência entre o querido e o que foi transmitido
erroneamente (mensagem truncada), caracterizando-se o vício de
consentimento capaz de anular o negócio. 21
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Defeitos do Negócio Jurídico

I)DO ERRO OU IGNORÂNCIA


2. Outras questões:

•Erro na indicação da pessoa ou coisa, não viciará a validade do


negócio quanto, pelas circunstâncias, se puder identificar a pessoa
ou a coisa cogitada (art. 142 do CC)

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I)DO ERRO OU IGNORÂNCIA


2. Outras questões:

• O erro não prejudicará a validade do negócio se a outra parte se


oferecer a executar o negócio de acordo com a vontade real do
manifestante (art. 144) – Afasta o prejuízo!
Aplicação do princípio da conservação dos atos e negócios jurídicos,
segundo o qual não há nulidade sem prejuízo (pas de nullité sans
grief).
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I)DO ERRO OU IGNORÂNCIA


2. Outras questões:

Exemplo: “João pensa que comprou o lote n. 2 da quadra A, quando, na


verdade, adquiriu o n. 2 da quadra B. Trata-se de erro substancial, mas
antes de anular o negócio o vendedor entrega-lhe o lote n. 2 da quadra A,
não havendo assim qualquer dano a João. O negócio será válido, pois foi
possível a sua execução de acordo com a vontade real. Se tal execução não
fosse possível, de nada adiantaria a boa vontade do vendedor” (MARIA
HELENA DINIZ)
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Defeitos do Negócio Jurídico

I)DO ERRO OU IGNORÂNCIA


2. Outras questões:

•A figura do INTERESSE NEGATIVO – Previsto no BGB (Código Civil


Alemão): A parte que não errou tendo que arcar com a sucumbência
do processo de anulação, o que seria injusto por essa teoria. O
Código Civil brasileiro não prevê tal hipótese expressamente, porém,
segundo Carlos Roberto Gonçalves, ela decorre dos princípios gerais
de direito como o da boa-fé.
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NEGÓCIO JURÍDICO

Defeitos do Negócio Jurídico

II) DO DOLO
1.Conceito
-É o artifício empregado para induzir alguém ao erro, isto é, induzir
alguém à prática de um ato que o prejudica, aproveitando o autor do
dolo ou a terceiro.

ERRO ≠ DOLO (semelhança vítima enganada)

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Defeitos do Negócio Jurídico

II) DO DOLO

1.Conceito

-DOLO CIVIL (é todo artifício empregado para enganar alguém) ≠ do


DOLO CRIMINAL (intenção de praticar Um ato que se sabe contrário
à lei, quando o agente quis o resultado ou assumiu o risco de
produzi-lo – art. 18, I do CP) – Carlos Roberto Gonçalves.

-Dolo civil também é diferente do DOLO PROCESSUAL (conduta


reprovável, contrária a boa-fé dentro do processo).
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NEGÓCIO JURÍDICO

Defeitos do Negócio Jurídico

II) DO DOLO
2. Espécies
A)Principal (essencial) - dolus causam dans contractui
-Tem o condão de anular o ato (art. 145 do CC)

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NEGÓCIO JURÍDICO

Defeitos do Negócio Jurídico


II) DO DOLO
2. Espécies
B) Acidental - dolus incidens
-Periférico
-O negócio apenas seria realizado de outro modo
-Dolo acidental não vicia o negócio - Perdas e Danos (art. 146 do CC)
Exemplo: Pessoa iria comprar o imóvel de qualquer jeito (interesse
próprio), mas pagou a maior por conta do comportamento malicioso
do vendedor. Ocorreu dolo acidental. Negócio não será anulado, mas
ela poderá pleitear a diferença entre o preço pago e o real valor do
bem.
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NEGÓCIO JURÍDICO

Defeitos do Negócio Jurídico


II) DO DOLO
Dolus Bunus x Dolus malus – Direito Romano

Dolus bonus “é o dolo tolerável, destituído de gravidade suficiente


para viciar a manifestação de vontade. É comum no comércio em
geral, onde é considerado normal, e até esperado, o fato de os
comerciantes exagerarem as qualidades das mercadorias que estão
vendendo.”
Dolus malus “é o revestido de gravidade, exercido com o propósito
de ludibriar e de prejudicar. É essa modalidade que se divide em dolo
principal e acidental. Pode consistir em atos, palavras e até mesmo
no silêncio maldoso”. (GONÇALVES, Carlos Roberto)
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NEGÓCIO JURÍDICO

Defeitos do Negócio Jurídico

II) DO DOLO
3. Dolo de Terceiro (art. 148)
-O que é?
-Se a parte a quem aproveita teve conhecimento – ANULAÇÃO
-Se a parte a quem aproveita não teve conhecimento - PERDAS E
DANOS contra o Terceiro;

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NEGÓCIO JURÍDICO

Defeitos do Negócio Jurídico

II) DO DOLO
3. Dolo de Terceiro (art. 148)

Exemplo: Compra de bem se o adquirente é convencido,


maldosamente, por um terceiro de que o relógio que está adquirindo
é de ouro, sem que tal afirmação tenha sido feita pelo vendedor, e
este ouve as palavras de induzimento utilizadas pelo terceiro e não
alerta o comprador, o negócio torna-se anulável.

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NEGÓCIO JURÍDICO

Defeitos do Negócio Jurídico

II) DO DOLO
4. Dolo por omissão (art. 147)
-Dolo negativo
-Silêncio proposital, sem o qual o negócio não teria sido realizado.
-Princípio da Boa-fé
Exemplo: Seguro de Vida – pessoa com depressão

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NEGÓCIO JURÍDICO

Defeitos do Negócio Jurídico

II) DO DOLO
5. Dolo por representação convencional (art. 149)
-Representação convencional: o representante e o representado
respondem por dolo (responsabilidade solidária), mesmo que o
representado não saiba.
6. Dolo bilateral (art. 150)
-Anulam-se reciprocamente.
-Uma parte contratante tenta enganar a outra, ambos pensam estar
tirando vantagem. Ninguém poderá se valer da própria torpeza.
Exemplo: Contrato de Permuta (troca de relógios)
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NEGÓCIO JURÍDICO

Defeitos do Negócio Jurídico

III) COAÇÃO
1.Conceito
-Violência psicológica/ameaça/pressão

-Espécies – Absoluta – Física (“vis absoluta”) – ATO NULO


- Relativa – Moral (“vis compulsiva”) – ATO ANULÁVEL

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NEGÓCIO JURÍDICO

Defeitos do Negócio Jurídico


III) COAÇÃO
2. Requisitos (art. 151)
a)Deve ser a causa do ato
- Nexo de causalidade – Ex: assina o contrato ou compartilho suas
fotos nuas na internet. (diferente trauma de infância – pessoas
grandes)
b) Deve ser grave
-Fundado no temor/justo receio
-Critério do homem médio (padrão abstrato x caso concreto)
-Idade/condição/saúde/temperamento – art. 152
-O simples “temor reverencial” – não configura coação (respeito ao
seu avô - mandão) 36
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Defeitos do Negócio Jurídico


III) COAÇÃO
c) Deve ser injusta
- Ameaça de “exercício regular de um direito” (art. 153)

d) Deve ser atual/iminente

e) Deve ser dirigida a trazer malefício à pessoa, bens ou família da


vítima.
-Conceito de família?
-Pessoas que não são da família – ex. namorada? (art. 151, §único)
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NEGÓCIO JURÍDICO

Defeitos do Negócio Jurídico


III) COAÇÃO
3. Coação exercida por terceiro (art. 154)
-Se a parte conhecia – ANULAÇÃO
-Se a parte não conhecia – PERDAS E DANOS CONTRA O TERCEIRO
Exemplo: Caio diz dá R$ 10.000,00 para o Mário, senão eu te mato –
Mário sabia?

4. Teoria da Convalidação
-Se o ato jurídico praticado com coação, posteriormente, tornar-se
benéfico, poderá ser convalidado.
Exemplo: casamento

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NEGÓCIO JURÍDICO

Defeitos do Negócio Jurídico


IV) ESTADO DE PERIGO
1. Conceito
-Se alguém, premido de necessidade de salvar-se ou a pessoa de sua
família, assume obrigação excessiva (art. 156)

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NEGÓCIO JURÍDICO

Defeitos do Negócio Jurídico


IV) ESTADO DE PERIGO
1. Conceito

-PERIGO (já existe) ≠ COAÇÃO

- Pessoa que não pertence à família (art. 156, §único)

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Defeitos do Negócio Jurídico


IV) ESTADO DE PERIGO
2. Elementos

A)Objetivo – obrigação onerosa


B)Subjetivo – propósito de salvar-se ou alguém de sua família

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Defeitos do Negócio Jurídico


V) DA LESÃO
1. Conceito
- Alguém obtém lucro exagerado e a outra parte desvantagem
excessiva, por inexperiência do prejudicado (art. 157)

-Deve haver manifesta desproporção

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V) DA LESÃO

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NEGÓCIO JURÍDICO

Defeitos do Negócio Jurídico


V) DA LESÃO
2. Elementos
a)Objetivo - desproporção
b)Subjetivo - inexperiência

-Dolo de aproveitamento

-Não haverá a anulação se a parte beneficiada concordar em reduzir


o proveito (art. 157, §2º)

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Defeitos do Negócio Jurídico


VI) DA FRAUDE CONTRA CREDORES
01. Conceito
-Desfazimento do patrimônio causando a insolvência do devedor
-Prejuízo à penhora feita pelos credores
-Princípio da responsabilidade patrimonial
-Vicio social ou vício de consentimento?

Exemplo: Tenho dívida com 3 credores e não pretendo pagá-los.


Tenho uma casa na praia e simulo uma venda. Não tenho patrimônio
para penhorar (constrição judicial), continuo dando prejuízo aos
meus credores.

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NEGÓCIO JURÍDICO

Defeitos do Negócio Jurídico


VI) DA FRAUDE CONTRA CREDORES
02. Elementos

a)Objetivo – insolvência e “eventus damni”

a)Subjetivo – “consilium fraudis” (objetivo de fraudar)

- Ação Pauliana

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