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Pontificia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP

Direito Civil II

Prof.ª Dr.ª Rosa Maria de Andrade Nery

Alunos:

Giovanna Battaglia - RA00299179

Manuela Mazzucchelli - RA00299575

Pedro Henrique Pires Gaspar - RA00302896

Turma: MF-02

Seminário V (18/10/2021)

Responda, de maneira fundamentada, às questões abaixo.

01) O que são negócios jurídicos modais?

Negócios jurídicos convencionais são aqueles que possuem os elementos presentes no art.
104 do Código Civil: agente capaz, objeto lícito, possível, determinado ou determinável e forma
prescrita ou não defesa em lei. Já os negócios jurídicos modais, além de apresentarem os elencados
elementos estruturais e essenciais de um negócio comum, que constituem requisitos de existência
e validade do negócio jurídico, possuem um ou mais dos chamados elementos acidentais. De
acordo com o professor Carlos Roberto Gonçalves, tais elementos são introduzidos
facultativamente pela vontade das partes, e não são necessários à sua existência. No entanto, “uma
vez convencionados, têm o mesmo valor dos elementos estruturais e essenciais, pois passam a
integrá-lo de forma indissociável”1, nas palavras do professor.

02) Quais as modalidades do negócio jurídico? Por que tais elementos são considerados acidentais?

As modalidades do negócio jurídico tratam-se do Encargo, Condição, e Termo, sendo estes


elementos que o direito concebe como acidentais, podendo ou não estarem contidos dentro do
negócio jurídico. Estes se encontram no plano da eficácia do negócio, sendo dispensáveis para sua
formação. Portanto, a acidentalidade refere-se à prescindibilidade desses elementos para a
qualificação do tipo negocial, ou seja, não são essenciais, e sim opcionais às partes, como preceito
no capítulo III do Código Civil.

03) Em relação ao termo:

a) apresente seu conceito.

O termo trata-se de um elemento acidental do ato ou negócio jurídico, que subordina sua
eficácia à ocorrência de evento futuro e certo, de modo que o acontecimento que o termo fixa deve
certamente ocorrer. Tendo isso em vista, este elemento é o que vincula aos efeitos do ato ou negócio
data pra começar, termo inicial, e data para se extinguir, termo final.

b) diferencie o termo a quo do termo ad quem.

O termo inicial onde o prazo processual se inicia é denominado de dies a quo, enquanto o
termo final, onde o prazo termina, é denominado dies ad quem. O primeiro é suspensivo pois a
partir da data estabelecida, fixa-se o momento em que a eficácia do negócio deve iniciar,
postergando o exercício do direito. Já o segundo é resolutivo, pois determina a data em que se
encerra os efeitos do ato negocial, extinguindo as obrigações que haviam sido estabelecidas.

1
Gonçalves, Carlos R. Esquematizado - Direito civil 1: parte geral - obrigações - contratos. (10th
edição). Editora Saraiva, 2019.
c) defina prazo e apresente sua distinção em relação ao termo.

Embora os conceitos de termo e prazo se cruzem no âmbito jurídico, estes não se tratam de
sinônimos, e sim de formas distintas de modalizar um negócio jurídico, e por essa razão não se
confundem. O termo é o elemento que se conecta aos efeitos do negócio jurídico, determinando a
data em que se iniciam os efeitos do negócio, termo inicial, e data em que terminam os efeitos do
negócio, termo final. Deste modo, o prazo é o intervalo entre o dia que começa, e o dia em que
termina, ou seja, o tempo que medeia o termo inicial e o termo final.

04) Sobre a condição:

a) apresente seu conceito.

De acordo com o professor Carlos Roberto Gonçalves, "a condição é o evento futuro e
incerto de que depende a eficácia do negócio jurídico. Da sua ocorrência depende o nascimento ou
a extinção de um direito”.2 Assim sendo, Gonçalves pontua que na perspectiva formal, a condição
apresenta‐se inserida nas disposições escritas do negócio jurídico, uma vez que, em muitos casos,
se define como a cláusula que subordina o efeito do ato jurídico a evento futuro e incerto. Nesse
sentido, o art. 121 do Código Civil dispõe: “Considera-se condição a cláusula que, derivando
exclusivamente da vontade das partes, subordina o efeito do negócio jurídico a evento futuro e
incerto.”

b) diferencie a condição suspensiva da condição resolutiva

A condição suspensiva diz respeito à condição em que os efeitos do negócio jurídico se


produziram desde o início, isto é, corresponde à a condição que suspende os efeitos do ato jurídico
durante o período de tempo em que determinado evento não ocorre. Desse modo, compreende-se
que enquanto ela não ocorrer, o negócio não possui efeitos. Assim sendo, o art. 125 do Código
Civil denota: “subordinando-se a eficácia do negócio jurídico à condição suspensiva, enquanto esta
se não verificar, não se terá adquirido o direito, a que ele visa."

2
Gonçalves, Carlos R. Esquematizado - Direito civil 1: parte geral - obrigações - contratos. (10th
edição). Editora Saraiva, 2019.
Por sua vez, a condição resolutiva, como consta em seu próprio nome, resolve o negócio
jurídico no momento em que produz seus efeitos, uma vez que acarreta na extinção do contrato
quando verificado determinado fato. Nesse sentido, o art. 127 do Código afirma que “se for
resolutiva a condição, enquanto esta se não realizar, vigorará o negócio jurídico, podendo exercer-
se desde a conclusão deste o direito por ele estabelecido.”

Assim sendo, compreende-se a diferença entre os dois tipos de condição; enquanto a


condição suspensiva gera expectativa de direito, em virtude de suspender tanto a aquisição como
o exercício do direito, a condição resolutiva segunda põe fim aos efeitos do negócio jurídico. Em
outras palavras, se até à verificação de determinado evento o negócio jurídico não produzir seus
efeitos, fala-se em condição suspensiva; caso a ocorrência do evento faça cessar os efeitos do
negócio, a condição é denominada resolutiva.

c) o que diferencia a condição suspensiva do termo inicial?

Em virtude de suspender a aquisição do direito, a condição suspensiva assemelha-se ao


termo inicial, que também produz tal efeito. No entanto, de acordo com o professor Carlos Roberto
Gonçalves, tais conceitos diferem uma vez que a condição suspensiva, além de suspender o
exercício do direito, suspende também a sua aquisição, e por sua vez, o termo não suspende a
aquisição do direito, todavia, antes, protela o seu exercício. Nesse sentido, o art. 131 do Código
consta: “O termo inicial suspende o exercício, mas não a aquisição do direito.”

Outra diferença a ser pontuada é que, na condição suspensiva o evento do qual depende a
eficácia do negócio é incerto, enquanto no termo o tempo é futuro e certo o acontecimento que o
termo firma irá acontecer, sendo a única incerteza do termo quando este virá a ocorrer. Por
exemplo, tem-se que quando um indivíduo falecer, o negócio jurídico será resolvido; é certo que
ele morrerá, mas não se sabe quando.

d) o que diferencia a condição resolutiva do termo final?

Apesar de serem empregados em contextos similares, os termos condição resolutiva e termo


final possuem conceitos diferentes. Podemos definir a condição resolutiva, como a extinção de
direitos, após o acontecimento de determinado evento futuro incerto, assim extinguindo as
garantias anteriormente firmadas, como a suspensão do seguro desemprego após conseguido o
emprego. Por outro lado, o termo final quer significar o dia exato que se extingue o negócio
jurídico, determinado o fim de sua eficácia, assim postula o professor Humberto Theodoro Júnior
“O termo final opera em sentido contrário, já que sua função é determinar a extinção de um direito,
de uma situação jurídica ou da faculdade de exercer um direito ou uma pretensão”3

e) Em quais hipóteses a condição é vedada pelo ordenamento jurídico?

A condição pode ser definida, segundo o Código Civil brasileiro, como “a cláusula que,
derivando exclusivamente da vontade das partes, subordina o efeito do negócio jurídico a evento
futuro e incerto”4. Entretanto, vale se ressaltar que existem casos em que a condição é considerada
ilícita pelo ordenamento jurídico, rezam os artigos 122 e 123 do CC:

“Art. 122. São lícitas, em geral, todas as condições não contrárias à lei, à ordem pública
ou aos bons costumes; entre as condições defesas se incluem as que privarem de todo
efeito o negócio jurídico, ou o sujeitarem ao puro arbítrio de uma das partes.

Art. 123. Invalidam os negócios jurídicos que lhes são subordinados:

I - as condições física ou juridicamente impossíveis, quando suspensivas;

II - as condições ilícitas, ou de fazer coisa ilícita;

III - as condições incompreensíveis ou contraditórias”5

3
JÚNIOR, Humberto Theodoro. Ensaio sobre Decadência, Prazo, Termo Final e Extinção de Eficácia do Negócio
Jurídico. GENJURÍDICO, 11 de Dezembro de 2011. Disponível em <http://genjuridico.com.br/2014/12/11/ensaio-
sobre-decadencia-prazo-termo-final-e-extincao-de-eficacia-do-negocio-juridico/>. Acesso em: 01 de Novembro de
2021.
4
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil.
5
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil.
Deste modo, os artigos supracitados expõem as hipóteses em que a condição é vedada pelo
ordenamento jurídico, sujeitando os negócios firmados à nulidade em caso de condição ilícita
estabelecida.

f) O que são condições puramente potestativas? Responda com base nos Acórdãos proferidos pelo
STJ nos seguintes julgamentos (i) REsp 1284179-RJ, 3ª Turma, rel. Min. Nancy Andrighi, j.
04/10/2011, DJe 17/10/2011; e (ii) REsp 970143-SC, 4ª Turma, rel. Min. Maria Isabel Gallotti, j.
15/02/2011, DJe 22/02/2011.

As condições puramente potestativas, são as condições estabelecidas que dependem


exclusivamente de somente uma das partes, sendo uma condição unilateral, porém como estabelece
o art. 122 do Código Civil:

“Art. 122. São lícitas, em geral, todas as condições não contrárias à lei, à ordem pública
ou aos bons costumes; entre as condições defesas se incluem as que privarem de todo
efeito o negócio jurídico, ou o sujeitarem ao puro arbítrio de uma das partes”6

Assim, como a condição potestativa sujeita o puro arbítrio a uma das partes, essa condição
é considerada ilícita.

No caso dos acórdãos proferidos, pode-se observar em ambos a possibilidade de firmada


uma condição puramente potestativa. No caso julgado pela relatora Min. Nancy Andrighi, como
foi estabelecido que o vencimento da obrigação se via de acordo entre ambas as partes, configurou-
se uma condição puramente potestativa. Deste modo, foi postulado pela relatora que em

6
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil.
decorrência da condição estabelecida, ter sido puramente potestativa, a disposição que regulava o
vencimento da dívida era inexistente, portanto a cobrança da dívida passível de ser exigida à vista.

Já no caso julgado pela ministra Maria Isabel Gallotti, a condição puramente potestativa
não foi caracterizada, uma vez que o acordo de separação consensual do caso, não estabelecia uma
decisão unilateral, assim não configurando a condição ilícita.

05) Conceitue encargo em poucas palavras. Dê um exemplo de negócio jurídico cuja eficácia esteja
subordinada ao cumprimento de um encargo.

Compreende-se, por encargo, um elemento acidental que se agrega legitimamente a um


negócio jurídico de liberalidade, isto é, aquele que é gratuito, no entanto, possui um detalhe que o
onera, mas não economicamente. Portanto, o encargo gera uma situação de desvantagem mínima,
não apresentando tanta gravidade quanto a obrigação ou o dever. À vista disso, um exemplo de
negócio jurídico cuja eficácia esteja subordinada ao cumprimento de um encargo é a doação de um
apartamento com o encargo do indivíduo que o recebe sempre convidar a vizinha, uma senhora
idosa, todos os dias para lhe fazer companhia e tomar chá. A pessoa não é obrigada a aceitar o
apartamento, mas se aceita, tem um ônus. Dessa forma, essa doação é modal, ou, também pode-se
dizer que apresenta liberalidade sub modo. Assim, entende-se que o indivíduo para quem receberá
a doação do lote está sujeito a um encargo, e esse encargo é um ônus, que pesará levemente em sua
vida.

06) Indique a modalidade presente nos negócios jurídicos abaixo:

a) Tício cede em comodato sua casa de Maresias ao amigo Caio, que nela poderá ingressar dia 26
de dezembro de 2.021 e deverá desocupá-la até 15 de janeiro de 2.022. TERMO

b) Tício vende em outubro sua casa de Maresias ao amigo Caio, que nela poderá ingressar a partir
do primeiro dia chuvoso do mês de dezembro de 2.021. CONDIÇÃO SUSPENSIVA
c) Tício cede em comodato sua casa de Maresias ao amigo Caio, que nela poderá ingressar
imediatamente e deverá desocupá-la no primeiro dia de chuva do mês de janeiro de 2.022.
CONDIÇÃO RESOLUTIVA

d) Tício cede em comodato sua casa de Maresias ao amigo Caio durante o mês de janeiro de 2.022,
com a ressalva de que o comodatário deve realizar a limpeza da piscina e aparar a grama do jardim
ao sair. ENCARGO

e) Tício doa sua casa de Maresias ao filho mais velho Caio, que deve utilizar o aluguel para pagar
a mensalidade da faculdade de sua irmã mais nova até que ela conclua a graduação. ENCARGO

07) Jonas não poderá comparecer à Assembleia Extraordinária designada para o dia 25 de
outubro de 2.021, a ser realizada no salão de festas do condomínio, edifício onde é domiciliado. A
convenção condominial estabelece que os condôminos podem ser representados por terceiros,
munidos de procuração com firma reconhecida. Jonas não outorga procuração a seu filho Bruno,
mas incumbe o filho de descer ao salão de festas na data da assembleia e pedir a palavra para dizer
aos presentes que seu pai não concorda com o orçamento de R$ 1 milhão de reais para a realização
de obra na fachada do prédio, pois tomou conhecimento de que no prédio vizinho outra pessoa
jurídica prestou o mesmo serviço pela cifra de R$ 750 mil reais.

Pergunta: Bruno deve ser considerado representante de Jonas?

Resposta:

A partir da análise do exposto, pode-se afirmar que Bruno não poderá ser considerado
representante de seu pai Jonas, uma vez que o representado, Jonas, não outorgou procuração ao
suposto representante, Bruno, que se faz necessária no art. 118 do Código Civil:
“Art. 118. O representante é obrigado a provar às pessoas, com quem tratar em nome do
representado, a sua qualidade e a extensão de seus poderes, sob pena de, não o fazendo,
responder pelos atos que a estes excederem”7.

O artigo supracitado expõe a necessidade da procuração, para que se possa provar que o
representado, Jonas, está dando poderes ao representante, seu filho Bruno. Isto é, visto que a
convenção condominial estabelece que os condôminos podem ser representados por terceiros mas
munidos de procuração com firma reconhecida, Bruno não poderá representar seu pai, em virtude
de não ter apresentado procuração.

7
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil.

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