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Universidade Estadual da Bahia

Departamento de Ciências Humanas


Curso Direito
Docente: Ana Paola
Discentes: Joseane Carla Oliveira Santos, Jailson A.F Moraes, Ana Luiza L.
Brandão, Laís de Araújo C. Pereira e Sabrina Souza Arruda.

Os elementos condicionados sobre condição, termo e encargo, previsto no código


civil brasileiro são essenciais, para garantir a eficácia perfeita do negócio; são
estipulações em que as partes podem facultativamente elencar esses elementos no negócio
jurídico de maneira opcionais, a saber o negócio jurídico é a manifestação da vontade que
produz efeitos desejados pelas partes.

CONDIÇÃO

O artigo 121 do Código Civil diz “Considera-se condição a cláusula que, derivando
exclusivamente da vontade das partes, subordina o efeito do negócio jurídico a evento
futuro ou incerto”. Ou seja, a condição é um dos elementos acidentais do negócio jurídico
que está relacionado à subordinação da eficácia ou ineficácia do ato ou negócio jurídico
a um evento futuro ou incerto.

Um exemplo prático da condição é o seguinte: “Doarei um carro a você se você passar


na prova. As características da condição são voluntariedade, acessoriedade, incerteza e
futuridade. A voluntariedade está ligada à vontade das partes, seja de ambas ou apenas
uma delas, se for o caso de determinação legal, não existe condição e sim conditio iuris.
A acessoriedade diz respeito aos fatores da eficácia não integrarem o negócio jurídico,
apenas sendo projetados seus efeitos. Os efeitos do negócio jurídico dependem de eventos
que podem ou não acontecer, isso caracteriza a incerteza e o evento deve acontecer no
futuro o que se relaciona a futuridade.

As formas de classificação da condição são quanto à licitude, quanto à afetação da


eficácia, quanto ao estado e quanto à possibilidade. No que se diz respeito à licitude, o
Código Civil afirma que condições ilícitas geram nulidade e/ou invalidam o negócio
jurídico, logo são proibidas: condições contrárias à lei, a ordem pública e aos bons
costumes, ou seja está vedada a condição que está relacionada a prática de um crime para
sua efetivação; ademais, é ilícito condições perplexas, onde a própria condição é
incoerente e contraditória de tal forma que impeça o efeito do negócio jurídico e por fim
também são proibidas condições puramente potestativas, que derivam do exclusivo
arbítrio de uma das partes.

Sobre a afetação da eficácia, a condição pode ser suspensiva ou resolutiva. Na condição


resolutiva enquanto não se verificar a condição, o negócio jurídico não produzirá efeitos,
exemplo: lhe darei uma casa se você se casar; ainda nesta condição, existem as condições
novas, onde se dispuser de uma coisa sob condição suspensiva e, ainda não verificada a
condição, a pessoa fizer quanto à coisa novas disposições, as novas disposições valerão
apenas se forem compatíveis com a condição inicialmente prevista. Na condição
resolutiva, enquanto não for verificada a situação, os efeitos do negócio jurídico serão
produzidos, exemplo: doarei mensalmente a você uma quantia em dinheiro enquanto você
estiver morando em Minas Gerais.

Se tratando do estado da condição pode ser pendente, implementa ou frustrada. A


condição pendente é aquela cuja ainda não foi verificado o evento, a condição implementa
é aquela que o evento já foi efetivado e a frustrada é aquela que o evento não tem mais
possibilidade de ser implementado. No que diz respeito às possibilidades, as condições
impossíveis são aquelas que não podem ser cumpridas, e, portanto, são condições nulas,
essas podem ser impossíveis fisicamente ou impossíveis juridicamente. As condições
fisicamente impossíveis são aquelas que são irrealizáveis para o ser humano e as
impossíveis juridicamente ferem a moral e a lei.
TERMO ART. 131 DO CC

O termo é uma cláusula que subordina a eficácia do negócio jurídico a um evento


futuro e certo, sendo futuro porque ainda não ocorreu e certo porque temos a certeza de
que irá ocorrer. Podendo ser identificando quando sabemos que vai ocorrer de Termo
Certo e quando sabemos que vai ocorrer, mas não sabemos com precisão quando irá
ocorrer de Termo Incerto. O termo ainda tem seu início e fim, sendo termo inicial a
eficácia do negócio jurídico e o final o momento que põe fim a eficácia do negócio
jurídico.

De acordo ao art,131 do Código Civil o termo inicial suspende o exercício, mas não a
aquisição do direito que passa a valer desde a conclusão do negócio.

Analisaremos situação hipotética a seguir, em um contrato de aluguel assinado que tem


como objeto casa de veraneio para 31 de maio de 2024.
Termo inicial: 31 de maio de 2024.
Evento futuro e certo: 31 de maio
Aquisição do direito: no dia da assinatura do contrato
Exercício do direito: somente se inicia em 31 de maio de 2024.

Neste caso temos o negócio jurídico cuja a eficácia, o exercício do direito está suspenso,
mas a não o direito, esperando a ocorrência do Termo, chegada à data de 31 de maio de
2024 a partir desta o negócio jurídico produzirá efeitos e terá eficácia.
No entanto, o termo final ou também nomeado como Termo Resolutivo é o momento que
o negócio jurídico deixa de surtir efeitos. Um contrato de prestação de serviço até 03 julho
de 2023. Termo final: 03 julho de 2023.

A doutrina ressalta ainda a importância de não confundir Termo com Prazo, pois o prazo
é o lapso temporal que contempla o início e o final do termo.
O Termo tem três espécie:

O termo convencional é aquele que as partes de livres e espontânea vontade inserem em


um negócio jurídico, dependendo exclusivamente da vontade das partes. Como exemplo
de termo convencional “o pagamento do aluguel ocorrerá no dia 15 de cada mês”, “pagará
o imóvel no prazo de 30 dias”, “poderá permanecer com automóvel por 1 ano”.

O termo de direito é o termo que é definido pela lei (termo legal) ou determinado pelo
juiz (termo judicial). Tendo como exemplo de termo de Direito uma sentença de pensão
alimentícia onde o juiz determina a data de depósito mensal.

O termo de graça é aquele conferido pelo Juiz ao devedor para aumentar o prazo de
pagamento ou parcelamento de uma dívida. Como exemplo, o Juiz permite ao devedor
parcelar uma dívida em 4 (quatro) meses.

O termo também pode ser essencial e não essencial:


Termo Essencial: é quando o termo é fundamental para eficácia do negócio jurídico, ou
seja, se o negócio for realizado fora do momento determinado (podendo ser antes ou
depois) ele não terá mais efeito ou utilidade. Exemplo: Contratação de buffet para festa
de formatura. Não faz sentido a realização de um buffet antes ou até mesmo depois da
data do evento, somente na data efetiva.
Termo Não Essencial: é aquele em que o termo não é essencial para o negócio, ou seja,
se o negócio for realizado fora do momento determinado ele continuará surtindo efeitos.
Exemplo: O pagamento de aluguel dia 10 de cada mês, no entanto se for pago na data
posterior o contrato de locação continuará surtindo efeitos., não sendo fundamental para
o negócio jurídico.

Jurisprudência
VOTO Nº 84133 AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº 2272034-
23.2021.8.26.0000 COMARCA: MOGI DAS CRUZES JUIZ / JUÍZA DE 1ª
INSTÂNCIA: ANA CARMEM DE SOUZA SILVA AGRAVANTE: M. DE
C. F. AGRAVADOS: L. DE O. F. , S. DE O. F. E A. DE O. F.
INTERESSADO: J. DE O. F
Alimentos fixados, intuitu familiae, no percentual de 33% dos rendimentos
líquidos do genitor para as 04 filhas até que a caçula atingisse a maioridade.
Obrigação a termo (art. 131 CC). Prescindibilidade da expressa concordância
das demais filhas ou suas respectivas citações para integrarem o feito. O
acontecimento futuro e certo foi atingido, sendo de rigor a declaração da
extinção a obrigação e, consequentemente do processo (art. 487, I, CPC).
Provimento.

ENCARGO

Essa disposição adicional é comumente encontrada em contratos que envolvem atos


de generosidade, como doações. É uma cláusula imposta pelo doador, que estabelece
limitações sobre como o beneficiário pode usar o bem ou valor doado. O encargo também
pode ser aplicado em declarações unilaterais de vontade.
Em geral, o encargo não impede o beneficiário de adquirir ou exercer seus direitos, a
menos que haja uma exceção específica no contrato. No entanto, se a cláusula contratual
não for cumprida, o doador pode revogar a generosidade por meio de uma ação de
revogação. Portanto, o encargo tem natureza coercitiva e não resulta na suspensão dos
direitos previamente concedidos.
Portanto, trazemos como exemplo uma jurisprudência de uma apelação cível proposta
pelo município de Pouso Alegre referente a uma doação de bem público e o
descumprimento do seu encargo. O apelado havia recebido um imóvel como doação, com
o encargo de somente utilizar o espaço para microempresas. Contudo, o imóvel foi
alienado, e após a alienação, o município alegou que esse encargo havia sido
descumprido, pedindo então, a revogação da doação. Verificou-se, então, que o donatário
tinha autorização de vender o imóvel desde que não houvesse desvio de finalidade da
destinação exclusiva para a instalação de uma microempresa, e comprovando-se que o
adquirente também se tratava de uma microempresa, portanto não havendo desvio de
finalidade e sendo julgado improcedente o pedido de revogação da doação solicitada pelo
município, além disso, o município foi determinado a arcar com as custas processuais.

Inteiro Teor

EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - DOAÇÃO DE BEM PÚBLICO -


DESCUMPRIMENTO DO ENCARGO - PROVA - AUSÊNCIA -
REVERSÃO - IMPOSSIBILIDADE. A doação de bem público feita com
encargo objetiva a vinculação do bem doado ao fim de interesse público
justificador de sua concessão. Não havendo comprovação de descumprimento
do encargo imposto ao donatário, não há que se falar em revogação da doação
ou reversão do bem ao patrimônio público.

v.v. EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE REVOGAÇÃO DE


DOAÇÃO C/C PEDIDO DE REVERSÃO - ADMINISTRATIVO - CIVIL -
PROCESSUAL CIVIL - CONHECIMENTO DO PROCESSO EM
REEXAME NECESSÁRIO -ADQUIRENTE DO IMÓVEL DOADO -
CONSTITUIÇÃO EM MORA - AUSÊNCIA - ART. 562 DO CÓDIGO
CIVIL - FALTA DE INTERESSE PROCESSUAL EM RELAÇÃO A ELA -
DONATÁRIO DO IMÓVEL - CUMPRIMENTO DO ENCARGO FIXADO
NA ESCRITURA PÚBLICA DE DOAÇÃO - IMPROCEDÊNCIA DO
PEDIDO.

1. Se o Município autor foi vencido na causa, impositivo o conhecimento


do processo em reexame necessário, nos termos do art. 475, inc. I, do CPC.

2. A teor do art. 562 do Código Civil, a revogação da doação onerosa por


inexecução do encargo pressupõe a constituição em mora da parte contrária,
razão pela qual se a adquirente do imóvel não foi notificada para dar
cumprimento ao ônus fixado na doação, evidencia-se a falta de interesse
processual do Município autor de propor a demanda em face dela.

3. Verificado que o donatário, após explorar atividade comercial no imóvel


doado, promoveu-lhe a alienação à corré, de cujo instrumento se fez constar
como condição a necessidade de a adquirente cumprir o encargo da doação,
conclui-se que ele se desincumbiu do ônus imposto pelo doador, assim
impositiva a improcedência do pedido inicial.

APELAÇÃO CÍVEL Nº 1.0525.12.022043-5/001 - COMARCA DE


POUSO ALEGRE - APELANTE (S): MUNICÍPIO POUSO ALEGRE -
APELADO (A)(S): CARLOS AUGUSTO TIBURZIO REZENDE, PUCHETI
& SOUZA LTDA - ME REPRESENTADO (A)(S) POR DONIZETI
BALBINO PUCHETI

ACÓRDÃO

Vistos etc., acorda, em Turma, a 8ª CÂMARA CÍVEL do Tribunal de


Justiça do Estado de Minas Gerais, na conformidade da ata dos julgamentos,
em REJEITAR A PRELIMINAR E NO MÉRITO NEGAR PROVIMENTO
AO RECURSO, VENCIDO O REVISOR.

DESA. ÂNGELA DE LOURDES RODRIGUES

RELATORA.
A DESA. ÂNGELA DE LOURDES RODRIGUES (RELATORA)

VOTO

Trata-se de recurso de apelação interposto pelo Município de Pouso Alegre em face da


sentença proferida nos autos da "Ação de Revogação de Doação c/c Pedido de Reversão"
em trâmite na 2ª Vara Cível da Comarca de Pouso Alegre que julgou improcedente o
pedido inicial nos seguintes termos:
Verifica-se, portanto, que o donatário, ora primeiro réu, estava autorizado a vender o
imóvel, desde que não desviada a finalidade de destinação exclusiva para a instalação de
microempresa, o que não ocorreu, pois a empresa adquirente também se trata de uma
microempresa, restando atendida a condição resolutiva estabelecida na Lei Municipal que
autorizou a doação.
Desta forma, demonstrado o cumprimento, pelo donatário e adquirente do imóvel, do
encargo decorrente da aceitação da doação e da venda, os pedidos são improcedentes.
Posto isso, julgo improcedentes os pedidos formulados na inicial, condenando o autor ao
pagamento de honorários advocatícios, no equivalente a R$1.356,00 (um mil, trezentos e
cinquenta e seis reais), metade para cada, nos termos do artigo 20, § 4º, do CPC, estando
o autor isento do pagamento das custas processuais. (fl.123)

Por fim, o presente estudo buscou revisitar, em perspectiva funcional, alguns dos
principais aspectos da disciplina das condições, termo e encargo, registre-se que, a
despeito de serem reputadas como elementos acidentais, as condições apostas pelas partes
são tidas como essenciais para a concreta configuração do ajuste. A qualificação como
“acidentais” significa que não são imprescindíveis para a qualificação abstrata do tipo
contratual, sendo expressão genuína da autonomia privada.
Entretanto, uma vez inseridas pelas partes no contrato, tornam-se essenciais para a
compreensão do negócio jurídico.
Referência:

SOUZA, Vanessa. Condição termo e encargo. Destrinchando o direito, [S. l.], p. 1-15, 18
maio 2022. Disponível em: https://destrinchandoodireito.com/condicao-termo-e-
encargo-entenda-a-
diferenca/#:~:text=A%20condi%C3%A7%C3%A3o%2C%20o%20termo%20e,para%2
0modificar%20alguma%20consequ%C3%AAncia%20natural. Acesso em: 9 maio 2023.

BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Diário Oficial
da União: seção 1, Brasília, DF, ano 139, n. 8, p. 1-74, 11 jan. 2002.

JUSBRASIL. Jurisprudência. TJSP. 1409155490 - EMENTA: APELAÇÃO CÍVEL -


DOAÇÃO DE BEM PÚBLICO - DESCUMPRIMENTO DO ENCARGO - PROVA -
AUSÊNCIA - REVERSÃO – IMPOSSIBILIDADE. Disponível em:
https://www.jusbrasil.com.br/jurisprudencia/tj-sp/1409155490. Acesso em 09 de maio de
2023.

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