Você está na página 1de 9

CONDIÇÃO, TERMO E ENCARGO

Condição (CC, art. 121) – “Considera-se condição a cláusula que,


derivando exclusivamente da vontade das partes, subordina o efeito do
negócio jurídico a evento futuro e incerto”.

- Condição é uma cláusula incidental que é inserida no negócio jurídico pela


vontade das partes, e que sujeita a eficácia do negócio jurídico (ou parte dele)
a um evento futuro e incerto.

Elementos da condição:

1. Vontade das partes – as partes voluntariamente inserem no negócio


jurídico uma condição. Por esse motivo a condição é considerada um
elemento acidental do negócio jurídico, pois ela não é essencial a
sua validade.
Como a condição deve derivar exclusivamente da vontade das
partes, as exigências da lei não são consideradas condições
voluntárias, mas sim condições legais.
2. Evento futuro – a condição tem que estar relacionada a um evento
futuro como, por exemplo, a possível aprovação de um financiamento
na Caixa Econômica Federal ou a possível promoção no emprego
etc.
3. Evento incerto – a condição tem que estar relacionada a um evento
incerto como, por exemplo, ser aprovado no exame da OAB.

Exemplos de condição:

1. Promessa de compra e venda de um imóvel se for aprovado o


financiamento da Caixa Econômica Federal.
2. Promessa de promoção no emprego caso o empregado seja
aprovado no exame da OAB.
3. Contrato de bolsa de estudos condicionada ao desempenho escolar
do aluno por ela beneficiado.
- (CC, art. 130): “Ao titular do direito eventual1, nos casos de condição
suspensiva ou resolutiva, é permitido praticar os atos destinados a conservá-
lo”, ou seja, a pessoa que é titular de um direito eventual pode tomar as
medidas necessárias para conservar esse direito.

Exemplo: Tício firmou contrato firmou contrato de promessa de compra e


venda do imóvel de José, que somente se concretizará se for aprovado
o financiamento no banco. Tício não tem um direito adquirido sobre o
imóvel de José, pois o negócio está aguardando a ocorrência da
condição. Tício tem apenas um direito eventual sobre o imóvel de José.
Enquanto Tício aguardava a aprovação do financiamento, o imóvel de
José foi invadido. Mesmo não tendo direito adquirido, Tício pode praticar
atos destinados a conservar o seu direito como, por exemplo, ajuizando
uma ação de reintegração de posse.

Condição suspensiva (CC, art. 125) – “Subordinando-se a eficácia do


negócio jurídico à condição suspensiva, enquanto esta se não verificar,
não se terá adquirido o direito, a que ele visa”.

- Na condição suspensiva, enquanto não se realizar a condição, não haverá a


aquisição do direito, e o negócio jurídico (ou parte dele) não surtirá efeitos.

Exemplos de condição suspensiva:

1. Um contrato de trabalho em que foi imposta uma condição


suspensiva a qual o empregado terá direito de ser promovido a
assessor jurídico da empresa caso seja aprovado no exame da OAB.
2. Uma promessa de compra e venda de imóvel caso seja aprovado o
financiamento na Caixa Econômica Federal.
3. Em um acordo de uma ação de divórcio, o casal determina que
dividirá o valor da venda de um imóvel assim que este for vendido.

- Se alguém fizer novas disposições sobre a coisa que estava sob condição
suspensiva, as novas disposições não terão valor caso se realizem e a

1
É o direito incompleto, que ainda não se consumou porque depende de um evento futuro para se
concretizar.
condição for incompatível com as novas disposições (CC, art. 126). Exemplo:
João firmou com José um proposta de compra e venda de imóvel sob condição
suspensiva; mas, na pendência da condição, João hipotecou o imóvel para o
Banco. Como a proposta de compra e venda estava devidamente registrada no
cartório e a nova disposição (hipoteca) realizada por João era incompatível
com a condição, a hipoteca não terá efeito.

Condição resolutiva (CC, arts. 127 e 128)2

- A condição resolutiva é aquela que termina a eficácia do negócio jurídico. Na


condição resolutiva, enquanto não se realizar a condição, o negócio jurídico (ou
parte dele) produzirá efeitos, podendo-se exercer os direito provenientes do
negócio. Assim que implementada a condição, o negócio (ou parte dele)
deixará de surtir efeitos e cessarão os direitos provenientes do negócio.

Exemplos de condição resolutiva:

1. Contrato de bolsa de estudos condicionada ao desempenho escolar


do aluno por ela beneficiado (notas acima de 7 (sete) no bimestre).
2. Acordo no processo de divórcio: João pagará pensão alimentícia
para Maria até que ela contraia novas núpcias.

- Nos negócios jurídicos de execução continuada, o implemento da condição


não gera efeitos retroativos, salvo se estiver disposto o contrário no negócio
jurídico.

Fases da condição

 Pendência – a condição está pendente, ou seja, ainda não ocorreu;


 Implemento – a condição foi realizada;
o Implemento malicioso da condição:

2
“Art. 127. Se for resolutiva a condição, enquanto esta se não realizar, vigorará o negócio jurídico,
podendo exercer-se desde a conclusão deste o direito por ele estabelecido.

Art. 128. Sobrevindo a condição resolutiva, extingue-se, para todos os efeitos, o direito a que ela se
opõe; mas, se aposta a um negócio de execução continuada ou periódica, a sua realização, salvo
disposição em contrário, não tem eficácia quanto aos atos já praticados, desde que compatíveis com a
natureza da condição pendente e conforme aos ditames de boa-fé”.
 O que ocorre se a pessoa agir de má-fé para impedir (não
implementar) a realização da condição? O juiz irá considerar
como verificada a condição, como se esta tivesse ocorrido.
Exemplo: João é vendedor de veículos e ganharia um carro
no final do ano caso vendesse 100 (cem) carros naquele ano.
No final do mês de dezembro, João vendeu o centésimo
carro, mas seu patrão tirou a nota fiscal do veículo somente
em janeiro do ano seguinte para não ter que pagar o prêmio a
João. Sendo assim, o patrão de João impediu maliciosamente
o implemento da condição. Provada a má-fé do patrão de
João, o juiz irá considerar verificada a condição.
 O que ocorre se a pessoa agir de má-fé para implementar a
condição? Quando isso ocorrer, o juiz irá considerar como
não verificada a condição, como se ela não tivesse
acontecido. Exemplo: a escola de inglês Delta tem um
convênio com uma escola agrária americana. O convênio
prevê que quando a escola Delta atingir mil alunos, receberá
uma verba mensal a título de investimento. Para receber essa
verba, a escola Delta, de má-fé elabora um planilha falsa
contendo o nome de mais de mil alunos. Sendo assim, a
empresa Delta agiu de má-fé para implementar a condição.
Provada a má-fé da escola Delta, o juiz irá considerar como
não verificada a condição.
 Frustração – a condição não se realizou.

Condição ilícita

(CC, art. 122) – “São lícitas, em geral, todas as condições não contrárias à lei,
à ordem pública ou aos bons costumes; entre as condições defesas se incluem
as que privarem de todo efeito o negócio jurídico, ou o sujeitarem ao puro
arbítrio de uma das partes”.

- São ilícitas (e proibidas) as condições:

a) Contrárias à lei;
b) Contrárias à ordem pública. Ex.: a empresa Delta Ltda. Pagará
manifestantes para fazerem arruaça em frente ao seu concorrente;

c) Contrárias aos bons costumes. Ex.: João alugará um imóvel a Maria


caso ela se prostitua;

d) Privarem de todo efeito o negócio jurídico: é a condição que impede


que o negócio jurídico produza efeitos, pois é uma condição
contraditória, incompreensível. A condição que priva de todo efeito o
negócio jurídico chama-se condição perplexa. Ex.: vou alugar meu
imóvel, que fica em São Paulo, para outra pessoa morar assim que este
indivíduo seja transferido para o Japão;

e) Sujeitarem ao puro arbítrio de uma das partes (condição puramente


protestativa). Ex.: condição em um contrato de compra e venda que
condiciona o pagamento ao dia em que o comprador puder.

Condição impossível

- Quanto à possibilidade, a condição pode ser:

a) Fisicamente possível – são aquelas que são possíveis pelas leis da


própria natureza. Não existe, nas leis da natureza e nas leis da física,
motivo que impeça a realização da condição;

b) Fisicamente impossível – são aquelas que não são possíveis pelas


leis da natureza ou pelas leis físicas;

c) Juridicamente possível – são aquelas que são possíveis, pois não


contrariam o ordenamento jurídico;

d) Juridicamente impossível – são aquelas que não são possíveis, pois


contrariam o ordenamento jurídico. A norma jurídica não permite que se
realizem.

(CC; art. 123; I) – condição física ou juridicamente impossível quando


suspensiva.

> Invalidam os negócios jurídicos que lhe são subordinados. Quando a


condição impossível for suspensiva, ela invalida o negócio jurídico.
(CC, art. 124) – condição física ou juridicamente impossível quando resolutiva.

> Quando a condição resolutiva for impossível, tem-se por inexistente a


condição e não invalida o negócio jurídico.

Termo

- Termo é o dia, ou momento, em que inicia ou extingue a eficácia do negócio


jurídico. Quando inicia, termo inicial. Quando extingue, termo final.

- Termo é um evento futuro e certo.

- O termo pode ser:

a) Certo – sabe-se que vai ocorrer e quando vai ocorrer;

b) Incerto – sabe-se que vai ocorrer, mas não se sabe quando vai
ocorrer.

> Termo inicial: quando um negócio jurídico está sujeito a um termo inicial,
somente poderá ser exercido após a ocorrência do termo.

(CC, art. 131) – “O termo inicial suspende o exercício, mas não a


aquisição do direito”, ou seja, o negócio jurídico submetido a termo inicial
gera direitos que só podem ser exercidos a partir da sua ocorrência.

> Termo final: também chamado de termo resolutivo, termo final é a data em
que o negócio jurídico deixará de surtir efeito.

Exemplo: João alugou uma casa de praia no dia 15 de janeiro a 15 de


fevereiro. Termo final: 15 de fevereiro.

Obs.: não se pode confundir termo com prazo. Prazo é o lapso de tempo
que vai do termo inicial ao termo final.

(CC, art. 135) – “Ao termo inicial e final aplicam-se, no que couber, as
disposições relativas à condição suspensiva e resolutiva”.

Prazo

- É o transcurso de tempo que vai do termo inicial ao termo final. Também pode
ser definido como o transcurso de tempo que vai da declaração de vontade ao
termo final.
(CC, art. 132) – Salvo disposição legal ou convencional em contrário,
computam-se os prazos, excluído o dia do começo, e incluído o do vencimento.

§ 1o Se o dia do vencimento cair em feriado, considerar-se-á prorrogado


o prazo até o seguinte dia útil.

§ 2o Meado considera-se, em qualquer mês, o seu décimo quinto dia.

§ 3o Os prazos de meses e anos expiram no dia de igual número do de


início, ou no imediato, se faltar exata correspondência.

§ 4o Os prazos fixados por hora contar-se-ão de minuto a minuto.

* Negócios jurídicos sem prazo: (CC, art. 134) – “Os negócios jurídicos entre
vivos, sem prazo, são exequíveis desde logo, salvo se a execução tiver de ser
feita em lugar diverso ou depender de tempo”, ou seja, os negócios jurídicos
realizados entre vivos sem prazo, devem ser cumpridos imediatamente.
Exemplo: João reside no Rio Grande do Sul e foi contratado para prestar
assessoria nos EUA.

* O prazo presume-se em favor do herdeiro e do devedor: (CC, art. 133) – “Nos


testamentos, presume-se o prazo em favor do herdeiro, e, nos contratos, em
proveito do devedor, salvo, quanto a esses, se do teor do instrumento, ou das
circunstâncias, resultar que se estabeleceu a benefício do credor, ou de ambos
os contratantes”.

> Nos testamentos = o prazo presume-se em favor do herdeiro.

> Nos contratos = o prazo presume-se em favor do devedor; exceto se,


pelo teor do instrumento ou das circunstâncias, resultar que o prazo se
estabeleceu a benefício do credor ou de ambos os contratantes.

Exemplo 1: João realizou um testamento. No testamento, João deixou


uma casa para seu único herdeiro, Pedro, porém estabeleceu que a
casa ficaria em usufruto para seu amigo Jose por termo certo. Ocorre
que houve um erro na confecção do testamento, pois em uma parte do
testamento constou que o usufruto seria pelo prazo de 15 (quinze) anos,
mas em outra parte do testamento constou que seria de 20 (vinte) anos.
Como há dúvida na contagem do prazo, ele deve ser contado em favor
do herdeiro. Sendo assim, o prazo deve ser contado em favor de Pedro,
que é o herdeiro de João. Portanto, o prazo do usufruto deverá ser de 15
(quinze) anos.

Exemplo 2: João comprou um trator. No contrato de compra e venda,


constava que João deveria pagar o trator em até 3 (três) meses
contados da assinatura do contrato. Ocorre que o contrato estava sem
data e não se sabe quando ele foi assinado. Como o contrato estava
sem data, o vendedor alega que o contrato foi assinado em 1º de
fevereiro e João alega que foi assinado em 1º de março. Como há
dúvida na contagem do prazo, ele deve ser contado em favor do
devedor. Sendo assim, o prazo deve ser contato em favor do João que é
o devedor. Portanto João deverá pagar o trator até o dia 1º de junho.

Encargo ou Modo

- Encargo é uma restrição imposta a uma liberalidade. O encargo impõe uma


obrigação ou um ônus ao beneficiário. O que é liberalidade? Diz-se liberalidade
aqueles negócios jurídicos gratuitos ou benéficos com, por exemplo, a doação,
o empréstimo gratuito (comodato), a promessa de recompensa, o usufruto etc.

Exemplo 1: João cedeu, em usufruto, um terreno para a escola de seu filho


pelo prazo de 10 (dez) anos e a escola assumiu a obrigação de construir no
terreno um parquinho de recreação. Encargo: construção de um parquinho de
recreação.

Exemplo 2: João emprestou, gratuitamente, um sítio para seu irmão Asdrúbal


morar. No entanto Asdrúbal teria que cuidar e manter os dois cachorros de
João que viviam no sítio. Encargo: cuidar e manter os dois cachorros.

Exemplo 3: João doou para o Hospital Municipal de sua cidade um aparelho de


Ultrassom, sendo que o hospital assumiu a obrigação de atender gratuitamente
20 (vinte) pacientes carentes por mês. Encargo: atender 20 (vinte) pacientes
carentes por mês.
> O encargo é obrigatório em um negócio jurídico? Não. O encargo é um
elemento acidental (acessório) no negócio jurídico, pois ele somente vai existir
pela vontade da parte que manifestou a liberalidade. O negócio jurídico poderia
perfeitamente existir sem o encargo.

> A pessoa é obrigada a aceitar a liberalidade e o encargo? Não. Ninguém é


obrigada a aceitar a liberalidade; mas, se aceitar uma liberalidade que esteja
gravada com um encargo, será obrigada a cumprir o encargo. Se a pessoa
assumiu um encargo, deverá cumprir o encargo.

(CC, art. 136) – “O encargo não suspende a aquisição nem o exercício do


direito, salvo quando expressamente imposto no negócio jurídico, pelo
disponente, como condição suspensiva”, ou seja, como o encargo não
suspende a aquisição nem o exercício do direito, o beneficiário da liberalidade
adquire o direito e já pode exercer esse direito desde o termo inicial da
liberalidade. Todavia, se o disponente determinar que o encargo foi imposto
como condição suspensiva; nesse caso, o beneficiário da liberalidade somente
irá adquirir o direito e exercer o direito após implementada a condição.

(CC, art. 137) – “Considera-se não escrito o encargo ilícito ou impossível, salvo
se constituir o motivo determinante da liberalidade, caso em que se invalida o
negócio jurídico”. O encargo ilícito é aquele contrário à norma jurídica (ex.:
distribuir produtos tóxicos proibidos por lei) e o encargo impossível é aquele
física ou juridicamente impossível. O encargo ilícito ou impossível não invalida
o negócio jurídico. Considera-se como se ele não existisse. Todavia, se estiver
expresso no negócio jurídico que o encargo é o motivo determinante da
liberalidade, o negócio será invalidado.

Você também pode gostar