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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE ANGOLA

FACULDADE DE DIREITO

4º Ano/ Pós-Laboral Ano Lectivo: 2020/21


1º Semestre Duração: 3H00’

Exame de Direito Processual Civil II - (Grelha de Correcção)


Iº Grupo

- Responda de forma clara, sucinta e fundamentada:

1- Resposta: (3 valores)
- Título executivo é um documento que oferece, em si mesmo, a segurança necessária quanto à
existência do direito de crédito que se pretende executar. Tem a função de servir de base à
acção executiva, só podendo nascer a instância executiva, se existir um título executivo e
determina o fim e os limites da acção executiva – art.º 45º, n.º 1, CPC, sendo também o título
executivo que confina o âmbito subjectivo da execução, nos termos do art.º 55º, n.º 1 do CPC.
Dada a função de relevo que lhe foi apontada, o título executivo é um pressuposto processual
específico de carácter formal da acção executiva, sendo-lhe também reconhecida a função de
causa de pedir na execução e, por essa razão, a sua falta é sancionada pela lei com a ineptidão
do requerimento inicial.
Perante as espécies de título executivo enumeradas taxativamente no art.º 46º CPC,
encontramos, ao lado das sentenças condenatórias, que constituem os títulos judiciais, uma lista
de outros documentos, os denominados títulos extrajudiciais, susceptíveis de servirem de base à
execução, tendo em comum a circunstância de os credores se verem dispensados de recorrer ao
processo de declaração, podendo ser elencadas em três grupos: Títulos Judiciais, Títulos
Extrajudiciais e Títulos executivos por força de disposição especial.

2- Resposta:- (3 valores)
- A penhora é um acto de desapossamento de bens do devedor, que ficam na posse do tribunal
para a realização dos fins da acção executiva. A função deste acto é a de especificação ou
delimitação certos e determinados bens, normalmente do património do executado e, nalguns
casos, até de terceiros, operando-se, por meio dela, a transferência forçada da posse e a sua
afectação ao fim da acção executiva que é a satisfação do crédito exequendo. Quanto ao seu
objecto, a penhora incide sobre o património do executado, aliás, este é a garantia geral das
obrigações do devedor. art.º 601º, 817º, 818º do CC e 821º do CPC).
Relativamente aos efeitos, à penhora são apontados os três efeitos a seguir: 1- a penhora
especifica os bens e os torna materialmente indisponíveis, ficando conservados em nome e à
ordem do tribunal - art.ºs 838º n.º 2 e 848º CPC; 2- A penhora limita a disponibilidade
jurídica dos bens, gerando ineficácia relativamente aos actos de disposição ou de oneração dos
bens penhorados - art.º 819º e 820º do CC; 3- A penhora gera a favor do exequente uma
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espécie de direito real de garantia, segundo o qual ele adquire preferência sobre os bens
penhorados - art.º 822º do CC.

IIº Grupo
- Desenvolva o enunciado:

Resposta: - (4 valores)
- Os embargos de executado constituem um meio de oposição à execução à disposição do
executado. São deduzidos mediante um articulado chamado petição de embargos de executado
e deve ser oferecido, consoante a forma de execução, no prazo legal, depois da citação na acção
executiva, nos termos gerais do art.º 812º, 924º n.º 2; 927º nºs 3 e 4, do CPC.
Os embargos de executado têm a função de impugnar a pretensão do exequente, não se
restringindo, no entanto, a uma simples peça processual e sim um processo formado por
diversas peças, que é autuado por apenso ao processo de execução propriamente dito.
Uma vez admitidos, o processo de embargos de executado é instruído e julgado como qualquer
acção declarativa, conforme art.º 817º, nº 1 e 2 do CPC, o regime da forma de processo
declarativo equivalente à forma do processo executivo a que aquela acção respeita, começando
por uma petição inicial, que serve de contestação à petição da acção executiva, cujo pedido a
formular consistirá em pugnar pela improcedência total ou parcial da pretensão do exequente.
Quanto aos fundamentos dos embargos de executado, causa de pedir, são distintos e de
diferente amplitude, consoante se refiram à execução baseada em sentença judicial, em decisão
arbitral ou em execução baseada em título diferente de sentença judicial ou decisão arbitral,
nos termos dos art.ºs 813º, 814º e 815º, todos do CPC, fazendo a doutrina referência a dois
sistemas, que se distinguem pela amplitude dos fundamentos admitidos, sendo: - um sistema
restritivo, nos termos do qual à execução só pode ter por fundamento o estabelecido no art.º
813º do CPC, sistema aplicável para a acção executiva que tiver como título executivo uma
sentença, ou seja, um título judicial (próprio); e - um sistema não restritivo que admite a
alegação de todos os fundamentos do art.º 815º do CPC, além dos fundamentos do art.º 813º
do CPC, aplicando-se às execuções baseadas em outros títulos executivos, designadamente, os
judiciais impróprios, os negociais ou administrativos.
Relativamente aos efeitos, são distintos os efeitos do recebimento dos embargos dos efeitos que
decorrem da sua procedência. São efeitos do recebimento dos embargos: a não suspensão do
andamento da execução, salvo se o embargante/executado prestar caução; sendo parciais os
embargos, a execução prossegue na parte não embargada; a execução prossegue se o processo
de embargos estiver parado durante mais de 30 dias por negligência do embargante, depois de
prestada caução; se a suspensão da execução for decretada depois de citados os credores, não
abrange o apenso da verificação e graduação de créditos; e, prosseguindo a execução, ninguém
pode obter pagamento dos seus créditos sem prestar caução enquanto os embargos estiverem
pendentes, tudo conforme art.ºs 818º e 819º e 864º, todos do CPC.
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Por sua vez, a procedência dos embargos tem como efeitos a declaração de extinção da
execução; a ordem de levantamento da penhora e o cancelamento do seu registo, se registo
houver sido feito; e dá por sem efeito a venda executiva.

IIIº Grupo
Hipótese prática
1- Resposta: - (7 valores)
- Na hipótese, é evidente que JORGINA terá usado um dos meios de oposição à penhora
que tem a sua disposição, como executa, no caso, o protesto imediato, previsto nos termos do
n.º 1 do art.º 832º do CPC, que consiste no facto de no acto da penhora o executado ou
alguém em seu nome declarar que determinado bem pertence a terceiro.
Ora, presume-se que pertencem ao executado todos os bens que forem encontrados em seu
poder, nos termos do art.º 1268º, n.º 1 do CC e, por isso, em regra, devem ser penhorados
todos eles.
No entanto, seria violento e injusto obrigar JOSÉ, que é um terceiro, a incómodos e
despesas no caso de se revelar que os bens, embora em poder do executado, não pertencem a
este.
Pelo cumprimento da obrigação respondem todos os bens do devedor susceptíveis de
penhora, nos termos do art.º 601º, 1ª parte, do CC e, como regra, são os bens que
constituem e existem no património do devedor que respondem pelo cumprimento da
obrigação, sendo aquele uma garantia geral, que se torna efectiva por meio da execução.
Não sendo a obrigação voluntariamente cumprida, como ocorre na hipótese, tem o credor o
direito de exigir judicialmente o seu cumprimento e de executar o património do devedor,
de acordo com as leis de processo.
Em presença está, portanto, a esfera jurídica patrimonial do sujeito adstrito à realização
de uma prestação debitória, para com o seu credor - entendida aquela como o conjunto de
direitos, avaliáveis em dinheiro, pertencentes ao sujeito titular. Decorrente da «função
externa» dessa esfera patrimonial, os credores, se o devedor não pagar a sua dívida, podem
através dos tribunais fazer retirar bens do património do devedor, pelo facto de ser este a
garantia comum dos credores.
Ora, pelos factos e documentos, tudo o indica que ocorreu uma venda dos bens. A venda
tem, por um dos seus efeitos essenciais, a transmissão da propriedade da coisa ou da
titularidade do direito, nos termos do art.º 879º al. a) do CC.
A compra e venda é um negócio consensual, sem qualquer exigência de forma, nos termos
dos art.ºs 219º e 875º do CC e havendo indícios de uma venda dos bens nomeados a um
terceiro, o inerente direito de propriedade ter-se-á transferido da esfera da ora executada,
JORGINA, para a do adquirente, JOSÉ, passando a integram o património deste último,
que por sinal é alguém alheio à execução em causa.
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Apesar de o exequente, JÚLIO, pugnar pela sua pretensão de manutenção da penhora do


recheio em causa, constata-se em face do documento que atesta a venda, com assinaturas da
vendedora e comprador reconhecidas por notário, ocorreu em data anterior a sua
indicação e determinação da sua penhora.
Desta feita, não se tratando de bens da titularidade da executada na hipótese, não se
poderá efectuar a penhora sobre os bens que constituem o recheio da residência da
Executada, nomeados pelo exequente, por serem bens pertencentes à JOSÉ e, portanto, não
sujeitos à execução, por força do disposto no art.º 821º do CPC e art.º 601º do CC.

2- Resposta: - (3 valores)
Na hipótese, JOSÉ, titular do recheio da casa de JORGINA, esta que é simples detentora
do mesmo, apercebe-se do despacho do tribunal que ordenou (determinou) a penhora do
recheio em causa, mas antes da diligência destinada a efectivá-la.
Na execução que corre seus termos, em que é Exequente JÚLIO, JORGINA é a parte
passiva, executada, e, JOSÉ, que não é parte no referido processo, é titular e possuidor dos
bens cuja penhora já foi ordenada pelo Tribunal, embora não tenha ainda sido efectivada.

Ora, sendo a penhora um acto de desapossamento de bens do devedor, que ficam adstritos à
realização dos fins da acção executiva e, considerando que no processo de execução movido
por JÚLIO não é chamado a intervir JOSÉ, que por isso não é parte no mesmo, será
JOSÉ um terceiro, nos termos do n.º 2 do art.º 1037º do CPC e a penhora dos seus bens
afigura-se subjectivamente ilegal, porque contrária ao disposto nos art.ºs 821º do CPC e
601º do CC.
Como terceiro e titular do recheio da casa de JORGINA, detido por essa mas em nome de
JOSÉ, seu possuidor, pode JOSÉ requerer Embargos de Terceiro, que são o meio de
oposição ou impugnação de uma penhora ilegal a sua disposição, nos termos do n.º 1 do
art.º 1037º do CPC.
Portanto, JOSÉ, terceiro, titular do recheio da casa de JORGINA, cuja posse está na
eminência de ser ofendida por uma diligência judicial já ordenada mas ainda não
efectivada, pode com os fundamentos apresentados e nos termos do art.º 1037º, n.º 1 e
1043º, n.º 1, ambos do CPC, opor-se à penhora requerendo embargos de terceiro com
função preventiva, pedindo a manutenção da sua posse.

BOA PROVA!

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