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Penhora de bens ou direitos

57. Responsabilidade patrimonial


De acordo com o princípio segundo o qual o património do devedor é a garantia ge-
ral do credor, pelo cumprimento de uma obrigação respondem em regra, todos os
bens do devedor susceptíveis de penhora (art. 610º CC).
A responsabilidade patrimonial do devedor não atribui ao credor a direito de se
apropriar dos bens daquele ou de se substituir a ele na cobrança dos seus créditos
sobre terceiras, isto é, não lhe concede faculdade de se satisfazer directamente à custa
do património do devedor mediante a apropriação dos bens ou a exigência da
satisfaço dos créditos que pertencem a este sujeito. O que essa responsabilidade
patrimonial concede ao credor é (art. 817º CC) a faculdade de executar o património
do devedor, ou seja, de fazer penhorar bens e direitos deste titular passivo com vista à
sua posterior venda ou cobrança.
Em regra, os credores têm o direito de ser pagos proporcionalmente pelo preço dos
bens, casos estes, não cheguem para integral satisfação de todos os débitos (art.
604º/1 CC).
A garantia real é exercida na execução de dois modos distintos:
- Se a garantia beneficiar o exequente, é sobre os bens onerados que passa a
incidir a penhora (art. 835º CPC);
- Se a garantia beneficiar um outro credor, este pode reclamar o seu crédito na
execução em que o bem onerado for penhorado (arts. 864º/1-b e 865º/1 CPC).

58. Justificação da penhora


A penhora é a actividade prévia àquela venda ou à realização dessa prestação, que
consiste na apreensão pelo Tribunal de bens do executado ou na colocação à sua
ordem de créditos deste valor sobre terceiros e na sua afectação ao pagamento do
exequente.
A penhora destina-se a individualizar os bens e direitos que respondem pelo
cumprimento da obrigação pecuniária através da acção executiva. Isto significa que a
penhora só se justifica enquanto a obrigação exequenda substituir e a execução estiver
pendente

59. Âmbito da penhora


A penhora pode recair sobre bens imóveis (arts. 838º a 847º CPC) ou móveis (art.
848º a 850º CPC) e sobre direitos (arts. 856º a 863º CPC).
Esta tripartição legal corresponde, grosso modo, a uma distinção entre a penhora
que é acompanhada da apreensão do bem e a penhora que recai sobre direitos que
não implicam essa apreensão.
i) Bens imóveis
São coisas imóveis, entre outras, os prédios rústicos e urbanos (art. 204º/1 -a/2 CC)
e as respectivas partes integrantes (art. 204º/1-e/3 CC), bem como os direitos
inerentes àqueles prédios (art. 204º/1-d CC).
Desde que não sejam expressamente excluídas e nenhum privilégio exista sobre
elas, a penhora de um prédio abrange as respectivas partes integrantes (art. 842º/1
CPC), ou seja, as coisas móveis ligadas materialmente a ele com carácter de
permanência (art. 204º/3 CC).
O mesmo não pode ser dito das coisas acessórias (ou pertenças: art. 210º/1 CC) do
imóvel penhorado, porque, salvo declaração em contrário, os negócios jurídicos que
tem por objecto a coisa principal não abrangem as coisas acessórias (art. 210º/2 CC).
Desde que não sejam expressamente excluídos e não exista sobre eles qualquer ga-
rantia, vale, quanto à extensão da penhora, o mesmo regime para os frutos do prédio
(art. 842º/1 CPC).
ii) Bens móveis
As coisas móveis delimitam-se pela negativa perante os imóveis (art. 205º/1 CC). A
penhora incide sobre a coisa móvel considerada na sua função ou utilidade económica
típica. As universalidades de facto, ou coisas compostas (art. 206º/1 CC), podem ser o
objecto de uma única penhora.
iii) Direitos
A penhora de direitos (arts. 856º a 863º CPC) abrange igualmente, em regra os res-
pectivos frutos civis (arts. 863º e 842º/1 CPC).
iv) Redução
Quando a penhora tenha recaído sobre um imóvel divisível e o seu valor exceda ma-
nifestamente o da dívida exequenda e dos créditos reclamados pelos credores com ga-
rantia real sobre o prédio (arts. 864º/l-b; 865º/1 CPC), o executado pode requerer
autorização para proceder ao seu fraccionamento (art. 842º-A/1 CPC) se a autorização
for concedida, a penhora mantém-se sobre todo o prédio, excepto se, a requerimento
do executado e depois de ouvido, o exequente e os credores reclamantes, o juiz
autorizar o levantamento da penhora sobre algum dos imóveis resultantes da divisão,
com fundamento na manifesta suficiência do valor dos restantes para a satisfação dos
créditos (art. 842º-A/2 CPC).
v) Convolação
A convolação da penhora verifica-se quando ela incide sobre um objecto que substi-
tui o seu objecto inicial. Assim, se a coisa penhorada se perder, for expropriada ou so-
frer diminuição do valor e houver lugar a indemnização de terceiro, o exequente
conserva sobre os créditos respectivos ou as quantias pagas a título de indemnização o
direito que tinha sobre a coisa (art. 823º CC). A penhora convola-se numa penhora
sobre esses créditos ou sobre aquelas garantias.
A penhora também convola o móvel sobre o qual incidia, foi antecipadamente
vendido (art. 851º CPC): a penhora transfere-se para o quantitativo obtido com essa
venda.

60. Pressupostos processuais


A penhora é ordenada pelo Tribunal de execução (arts. 838º/1; 855º; 863º CPC),
que possui igualmente competência para converter o arresto em penhora (art. 846º
CPC). A esse tribunal compete ainda ordenar o levantamento da penhora, seja por
falta de impulso do exequente no andamento da execução (art. 874º CPC), seja pela
procedência de oposição à penhora pelo executado (art. 863º-B/4 CPC) ou por terceiro
(art. 351º/1 CPC).
Compete ao tribunal da execução resolver se a penhora deve ser mantida quando
no acto da sua efectivação, o executado, ou alguém em seu nome, declarar que os
bens visados pertencem a terceiro (art. 832º CPC), nomear, remover e substituir o
depositário dos bens penhorados (arts. 839º/1, 1ª parte; 845º/1 e 848º/4 CPC) e
ordenar o arresto de bens do depositário que não apresente os bens depositados (art.
854º/2 CPC).
A penhora rege-se pelo princípio da proporcionalidade, pelo que não devem ser pe-
nhorados mais bens do que aqueles que forem suficientes para a satisfação do
exequente (arts. 828º/5; 833º/1; 836º/2-a; 842º-A CPC). A nomeação excessiva dos
bens pelo exequente implica a falta do interesse processual desta parte, dado que ela
utiliza um meio desproporcionado para obter a tutela dos seus interesses.
Perante uma nomeação excessiva de bens, o tribunal, ao ordenar a penhora (arts.
838º/1; 855º e 863º CPC), deve restringi-la aos bens suficientes para assegurar a
satisfação do crédito do exequente. Se o não fizer, o executado pode opor-se à
penhora com fundamento nesse excesso (art. 863º-A-a CPC).

61. Levantamento da penhora


A penhora termina normalmente com a venda ou adjudicação do bem penhorado,
mas, verificadas certas condições pode ser levantada antes de ocorrer essa alienação;
como causas do levantamento da penhora, antes dessa alienação:
a) O não andamento da execução durante mais de seis meses por negligencia do
requerente (art. 8470/1 CPC);
b) A desistência da penhora pelo exequente;
c) A substituição da penhora por iniciativa do exequente (arts. 836º/2-b), c), d)/3;
871º/3 CPC); ou do executado (arts. 827º/2 e 3; 926º/2 CPC);
d) A procedência de oposição à penhora deduzida pelo executado (art. 863º-A
CPC) ou por terceiro (art. 351º/1 CPC);
e) A não atribuição, em processo de inventario, do bem penhorado ao cônjuge
executado (art. 825º/3 CPC);
f) O perecimento da coisa penhorada, se não houver convolação da penhora
para a indemnização para ou devida por terceiro (art. 823º CPC);
g) A atribuição ao exequente da consignação judicial de rendimentos sobre outros
bens (art. 881º/1 CPC).
O levantamento da penhora é realizado por despacho do juiz da execução, porque
foi por despacho que ela foi ordenada (arts. 838º/1; 855º; 863º CPC). Se a penhora
estiver registada, o respectivo registo deve ser cancelado.

Limites objectivos

62. Limites intrínsecos


O património abrange todas as coisas e direitos susceptíveis de avaliação
pecuniária, ou seja, coisas móveis e imóveis, direitos de crédito, direitos de
participação social e outras situações jurídicas. Podem ser penhorados todos os
direitos com um valor patrimonial próprio.
O património também é constituído por direitos sobre bens materiais, quando eles
possam participar no comércio jurídico.
Dado que, em regra, os bens penhorados se destinariam a ser vendidos (art., 889º/1
CPC), não podem ser penhorados bens que estejam fora do comércio (art. 202º/2 CC).
Certos bens ou direitos só podem ser alienados ou onerados pelo seu titular com o
consentimento de terceiros. É o que sucede em relação a certos bens próprios de um
dos cônjuges (art. 1682º-A CC).
No caso dos bens próprios do cônjuge executado que só podem ser alienados com o
consentimento de outro cônjuge, a solução é a seguinte: nada impede a penhora do
bem próprio do cônjuge executado (art. 1696º/1 CC), mas o seu cônjuge deve ser
citado para a execução (art. 864º/1-a, 1ª parte CPC).
Também a disposição de certos direitos respeitantes a participações sociais requer
o consentimento de terceiros, nomeadamente da própria sociedade (art. 995º CC; arts.
182º/1; 496º/1 CSC).
Determinados direitos são inseparáveis de outros direitos e, por isso, não têm
autonomia perante estes. Consequentemente, eles só podem ser alienados (e
portanto, penhorados) em conjunto com estes últimos direitos.

63. Limites extrínsecos


Os limites extrínsecos à penhora são aqueles que são impostos por motivos estra-
nhos ao bem e à sua disponibilidade pelo titular. Estes limites podem ser estabelecidos
pela lei ou pela vontade das partes.
A lei considera três limitações à penhorabilidade dos bens:
1) Bens absolutamente impenhoráveis (art. 822º CPC);
2) Bens relativamente penhoráveis (art. 823º CPC);
3) Bens parcialmente penhoráveis (art. 824º CPC).
Salvo quando se trate de matéria subtraída à disponibilidade das partes, é possível,
por convenção entre elas, limitar a responsabilidade patrimonial do devedor a alguns
dos seus bens (art. 602º CC). Isto significa que as partes podem limitar a responsabili-
dade patrimonial do devedor, excepto quando esta sirva de garantia a uma obrigação
indisponível.
A cessão de bens ao credores verifica-se quando estes, ou alguns deles são encar-
regados pelo devedor de liquidar o património deste, ou parte dele, e repartir entre si
o respectivo produto, para satisfação dos seus créditos (art. 831º CC). A cessão não
impede que os bens cedidos sejam executados pelos credores que dela não
participaram, enquanto aqueles não tiverem sido alienados pelos credores
cessionários (art. 833º, 1ª parte CC).
a) Impenhorabilidade absoluta: são impenhoráveis os bens cuja apreensão
careça de justificação económica, dado o seu diminuto valor venal (art. 822º-c
CPC).
b) Penhorabilidade relativa: é aquela que só é admitida em certas circunstâncias.
Esta penhorabilidade pode classificar-se, atendendo ao motivo que a justifica,
em penhorabilidade adstrita, voluntária e subsidiária:
- Penhorabilidade relativa adstrita: é aquela que permite a penhora de um
bem que só responde pelo pagamento de certas dividas, ou seja, de bens que
estão adstritos ao pagamento de certas dividas, abrange dois casos:
a) Aquele em que os bens são em regra, impenhoráveis e se tornam
penhoráveis pela sua afectação a uma determinada execução;
b) Aquele em que a uma execução ficam apenas adstritos determinados
bens.
- Penhorabilidade relativa conjunta: é aquela em que o bem ou o direito só é
penhorável em conjunto com outros bens ou direitos;
- Penhorabilidade relativa voluntária: alguns bens impenhoráveis podem ser
penhorados se forem nomeados à penhora pelo executado (ex. art. 823º/2-a
CPC);
- Penhorabilidade relativa subsidiária: é aquela que só é admissível na falta ou
insuficiência de outros bens penhoráveis (art. 828º/5 CPC)
Dívidas conjugais podem ser próprias ou comuns:
· As próprias, são aquelas que apenas responsabilizam o cônjuge que as
contraiu (art. 1692º e 1696º/1 CC);
· As comuns, são aquelas que, mesmo quando contraídas por um único dos
cônjuges, responsabilizam ambos (art. 1691º/1 e 1695º/1 CC).
Dividas próprias, podem ser nomeados à penhora bens próprios do cônjuge execu-
tado e, se estes não forem suficientes, a sua meação nos bens comuns (art. 1696º/1
CC).
Note-se que o regime definido no art. 825º CC, não é aplicável quando, como é
permitido no disposto no art. 1696º/1 CC, o exequente nomeia à penhora a meação
dos bens comuns, porque ela é um bem próprio do cônjuge executado. A penhora
incide, nesse caso, sobre um direito a bens indivisos (art. 862º/1 CPC), cujo titular é o
cônjuge executado.
Dividas comuns
Se a divida for comum e se ambos os cônjuges tiverem sido demandados na acção
executiva por existir título executivo contra ambos (art. 55º/1 CPC), a penhora
acompanha, o regime estabelecido para a responsabilidade patrimonial. Assim, pela
divida comum, respondem, em primeira linha, os bens comuns do casal e, na
insuficiência deles, os bens próprios de qualquer dos cônjuges (art. 1695º/1 CC)
c) Penhorabilidade parcial: é aquela que é admitida apenas sobre uma parte ou
parcela de um bem (art. 824º/1-a) b) CPC).

64. Principio geral


A penhora não pode incidir sobre bens ou direitos de alguém que não é demandado
na acção executiva (art. 821º/2 in fine CPC). Ninguém pode ser afectado nos seus direi-
tos ou interesses sem que seja demandado nessa acção, pois que a presença na
execução é sempre uma condição de penhorabilidade do respectivo património.
Se forem penhorados bens de sujeitos que não serão demandados na acção
executiva, estes podem reagir contra a penhora. Podem-no fazer através de um meio
especial que são os embargos de terceiro (art. 351º/1 CPC), mas também podem
utilizar a acção de reivindicação (arts. 1311º/1 e 1315º CC), como se prevê
expressamente nos arts. 910º e 911º CPC.

65. Bens do devedor


Em regra a execução é instaurada contra o devedor e, por isso, igualmente em
regra, são penhorados bens do devedor. Nesta situação, na falta de qualquer garantia
real sobre os bens do devedor, o património deste cumpre a sua função de garantia
real das suas obrigações (art. 601º CC).

66. Bens de terceiro


A execução pode incidir sobre bens de terceiro (art. 821º/2 CPC), isto é, de alguém
que não é devedor da obrigação exequenda. São dois os casos em que a penhora pode
recair sobre bens de terceiro: quando estes estejam vinculados à garantia do crédito
ou quando sejam objecto do acto praticado em juízo do credor, que este tenha
impugnado (art. 818º CC). A afectação dos bens de terceiro àquela garantia verifica-se
por seu turno, em duas situações: a constituição de uma garantia real sobre esses bens
(arts. 657º/2, 666º/1 e 686º/1 CC) e a prestação de fiança (art. 627º/1 CC) caso em que
o fiador responde com o seu património pela satisfação do crédito exequendo
a) Penhorabilidade irrestrita
Se a divida exequenda estiver assegurada por bens de um terceiro onerado com
uma garantia real, aquele pode ser demandado na acção executiva (art. 56º/2 CPC). A
demanda do terceiro permite a penhora, sem quaisquer restrições, desses mesmos
bens.
A impugnação pauliana é o meio de impugnação dos credores contra actos de
natureza não pessoal do devedor que afectem a garantia patrimonial. A sua finalidade
é a de assegurar a conservação da garantia patrimonial através da impugnação de
qualquer alienatário in fraudem creditorun e o seu fundamento último é o próprio
direito de execução (art. 817º CC).
A impugnação pauliana pode recair sobre quaisquer actos praticados pelo devedor,
desde que não tenham carácter pessoal.
A procedência da acção pauliana depende da verificação das condições
estabelecidas nos arts. 610º e 612º/1 CC.
b) Penhorabilidade subsidiária
Pode ser objectiva ou subjectiva: é objectiva quando se verifica entre bens ou direi-
tos do mesmo sujeito; é subjectiva quando se verifica entre bens ou direitos
pertencentes a sujeitos distintos.
A penhorabilidade subsidiária subjectiva pressupõe um devedor principal e um de-
vedor subsidiário e implica que os bens deste último só podem ser executados na falta
ou insuficiência de bens do devedor principal. Esta penhorabilidade assenta, em
concreto, nas seguintes regras:
a) O exequente só pode promover a penhora de bens que respondem
subsidiariamente pela dívida se demonstrar a insuficiência manifesta que por ela
deviam responder prioritariamente (art. 828º/5 CPC);
b) Na execução movida contra o devedor subsidiário não podem penhorar-se os
bens deste, enquanto não estiverem executidos todos os bens do devedor
principal, desde que aquele invoque fundadamente o beneficio da excussão
previa (art. 828º/1 CPC).

67. Limites temporais


a) Bens actuais: a penhora recai, salvo havendo alguma causa de
impenhorabilidade, sobre todos os bens que integram o património do
executado no momento em que a penhora é ordenada. A generalidade das
penhoras incide sobre estes bens.
b) Bens passados: a penhora pode incidir sobre bens que, embora já tivessem
deixado de pertencer ao património do devedor, respondem pela divida: é a
caso por ex., do imóvel hipotecado que o devedor transmitiu a um terceiro; este
adquirente pode ser demandado na acção executiva (art. 56º/2 CPC) e o imóvel
pode se penhorado nela.
c) Bens futuros: sobre bens que no momento em que a penhora é ordenada ainda
não pertencem ao executado (art. 211º CC). É o que sucede quando se
penhoram salários ou vencimentos do executado (arts. 824º/1-a, 861º/1 CPC).

B)

Função da penhora

Função individualizadora

68. Generalidades
A penhora não incide globalmente sobre bens ou direitos do executado, mas sobre
bens ou direitos determinados desta parte a nomeação de bens à penhora pelo
executado ou exequente deve incidir sobre certos bens ou direitos (art. 833º/1 CPC),
não podendo recair indistintamente sobre o património do devedor ou de uma fracção
deste. Isto significa que a penhora se destina a individualizar os bens ou direitos que
vão responder pelo pagamento da dívida.

69. Execução ordinária


a) Nomeação pelo executado
Na execução ordinária para pagamento de quantia certa, a nomeação à penhora
dos bens e direitos pertence em regra ao executado, que tem a faculdade do nomear,
por requerimento ou termo, aqueles que sejam suficientes para o pagamento do
crédito exequente e das custas da execução (arts. 833º/1 e 837º/2, 1ª parte CPC).
Nesta execução, o prazo concedido ao executado para proceder a essa nomeação é de
vinte dias após a sua citação (art. 811º/1 CPC).
b) Nomeação pelo exequente
A faculdade de nomeação do bens devolve-se ao exequente quando o executado
não os nomeie e dentro do prazo legal (art. 836º/1-a CPC), quando esta parte não
respeite a gradus executionis, não apresente os títulos dos bens imóveis ou não
indique a sua proveniência (art. 836º/1-b CPC) e ainda quando não sejam encontrados
alguns dos bens nomeados pelo executado (art. 836º/1-c CPC).
O direito do exequente a nomear bens à penhora não está sujeito a qualquer prazo
(art. 874º/1 CPC), mas ele não deve demorar mais de seis meses a requerer essa
nomeação. Independentemente do levantamento de penhora decretada pelo tribunal
por inércia do exequente (art. 847º/1 CPC), a inactividade dessa parte pode ainda
originar a interrupção da instância executiva (art. 285º CPC) e, posteriormente, a sua
extinção por deserção (arts. 287º-c; 291º CPC).
70. Execução sumária
Na execução sumária para pagamento de quantia certa (art. 465º/2 CPC, art. 1º DL
274/97), o direito de nomear bens à penhora pertence exclusivamente ao exequente,
que as deve nomear no requerimento executivo, salvo se necessitar, para tal fim, da
colaboração do tribunal (art. 924º - art. 837º-A CPC), se a decisão executada ainda não
tiver transitado em julgado — ou seja, se o titulo executivo for uma sentença contra a
qual foi interposto recurso com efeito meramente devolutivo (art. 470º/1 CPC) o
executado pode requerer a substituição dos bens penhorados por outros de valor
suficiente (art. 926º/2 CPC).

71. Dispensa de nomeação


a) Garantia Real
Se a divida estiver assegurada par uma garantia real quo onere bens pertencentes
ao devedor, a penhora começa, independentemente do qualquer nomeação, pelos
bens onerados e só pode recair noutros quando se reconheça a sua insuficiência para
satisfazer o crédito exequente (art. 835º CPC).
b) Arresto
É o meio conservatório da garantia patrimonial do credor (art. 619º/1 CC; art. 406º
CPC), que só através da sua conversão em penhora (art. 846º CPC) atribui ao
exequente o direito de preferência sobre os outros credores do arresto (arts. 622º/2,
82º CC). Isso não impede, todavia, a aplicação dos bens arrestados do disposto do art.
835º CPC, que ao referir-se à garantia real, está realmente a aludir a qualquer situação
que pode atribuir uma preferência do credor exequente sobre o produto da venda dos
bens.

72. Segunda penhora


Os bens ou direitos penhorados podem voltar a ser penhorados numa outra acção
executiva (art. 871º CPC). O exequente da acção onde é ordenada a segunda penhora
pode ser o mesmo da execução onde é efectuada a primeira, mas a segunda penhora
dos mesmos bens ou direitos deve referir-se a uma divida distinta, pois que só nessa
hipótese aquela admissibilidade não colide com o regime da excepção de
litispendência (arts. 497º 498º, e 494º-i CPC).

Função conservatória

73. Generalidades
Além de determinar os bens ou direitos que correspondem pelo cumprimento da
obrigação, a penhora também realiza uma função conservatória. Como esses bens ou
direitos se destinam a ser vendidos ou adjudicados ou a ser exercidos ou cumpridos a
favor da execução, a penhora deve assegurar a sua subsistência até essa venda, adjudi-
cação, exercício ou cumprimento: é nisto que consiste a função conservatória.

74. Conservação material


1) Bens
Os imóveis penhorados são entregues a um depositário (art. 838º/3, 1ª parte CPC).
Os bens móveis penhorados são apreendidos e entregues a um depositário, salvo se
puderem ser removidos, sem prejuízo, para a secretaria judicial ou para qualquer
depósito público (art. 848º/1 CPC); o dinheiro, papéis de crédito e metais preciosos são
depositados à ordem do tribunal na Caixa Geral de Depósitos (arts. 848º/3 e 857º/1, 3
e 4 CPC).
2) Créditos
Relativamente aos créditos penhorados, não pode haver qualquer acto de
apreensão, mas logo que a divida se vença, o terceiro devedor é abrigado a depositar a
respectiva importância na Caixa Geral do Depósitos (art. 860º/1 CPC) ou, se o crédito
já estiver vencido ou adjudicado, a realizar a prestação ao respectivo adquirente (art.
860º/2 CPC).

75. Conservação jurídica


Durante a pendência de uma acção declarativa, é admissível a transmissão, por
qualquer das partes, da coisa ou direito litigioso: esta circunstância opera uma
transformação na legitimidade do transmitente ou cedente — que passa a actuar
como substituto processual do adquirente ou cessionária (art. 271º/1 CPC) — e
permite a habilitação deste ultimo na acção pendente (arts. 271º/1 e 376º CPC). Quer
isto dizer que, na acção declarativa, não há qualquer obstáculo à transmissão ou
cessão da res litgiosa, a qual só implica a alteração da legitimidade processual do
transmitente ou cedente e a eventual intervenção na acção do adquirente ou
cessionário.
Segundo a disposto no art. 819º CC, são ineficazes em relação ao exequente os
actos de disposição ou oneração dos bens penhorados, e, de acordo com o
estabelecido no art. 820º CC, é igualmente ineficaz a extinção do crédito penhorada
por causa dependente da vontade do executado ou do terceiro devedor.
Esta inoponibilidade relativa pode mesmo atingir actos realizados antes da penhora.
É o que sucede quanto A liberação ou cessão, efectuada antes da penhora de rendas e
alugueres respeitantes a períodos de tempo posteriores a esta (art. 821º CC).
A inoponibilidade relativa dos actos praticados pelo executado sobre os bens
penhorados justifica-se apenas na exacta medida em que ela seja necessária à
prossecução dos fins da execução, isto é, à satisfação do crédito do exequente. Desta
verificação resulta uma consequência importante: a inoponibilidade dos actos de
disposição ou oneração praticados pelo executado só vale quanta aos efeitos
incompatíveis com a realização do interesse do exequente e não se estende a outros
efeitos que não contendem com a satisfação desse interesse.
A inoponibilidade relativa dos actos de disposição ou oneração de bens penhorados
que foram realizados pelo executado restringem-se ao âmbito da responsabilidade pa-
trimonial desta parte e só legítima o exequente a manter a penhora sobre esses bens.
A oponibilidade à execução dos actos praticados pelo executado não se coloca
quanto àqueles que podem beneficiar o exequente ou os credores reclamantes. O art.
856º/5 CPC, permite expressamente que o executado pratique os actos que se
afigurem necessários à conservação do crédito penhorado.

Função de garantia

76. Regra da prioridade


O património do devedor responde pelo cumprimento das suas obrigações (art.
601º CC), mas certos credores possuem causas legítimas de preferência na satisfação
dos seus créditos.
A penhora não é um direito real de garantia, mas é fonte de uma preferência sobre
o produto da venda dos bens penhorados, dado que o exequente adquire por ela o
direito de ser pago com preferência a qualquer outro credor que não tenha garantia
real anterior (art. 822º/1 CC).
O art. 822º/1 CC, utiliza, na hierarquização dos vários credores concorrentes, um
princípio do prioridade ou da preferência: a penhora prevalece quer sobre as garantias
reais posteriores, quer sobre a segunda penhora.

77. Aferição da prioridade


A penhora prevalece sobre as garantias reais posteriores e sobre a segunda penhora
dos mesmos bens (art. 822º/1 CPC). A prioridade da penhora assenta num critério
temporal. Para determinar a data da penhora, há que distinguir entre aquela que está
sujeita a registo e aquela que deve ser registada.
Se a penhora deve ser registada, a sua eficácia em relação a terceiros coincide com
a data desse registo (arts. 838º/4, 1ª parte, 855º e 863º CPC). Assim, a penhora
registada prevalece sobre as garantias reais com registo posterior e é considerada
como segunda penhora aquela que for registada depois da primeira (art. 871º/1 fine
CPC).
Se a penhora resultar da conversão do arresto (art. 846º CPC), a sua anterioridade
reporta-se à data do arresto (art. 822º/2 CC). Se o arresto recair sobre bens imóveis ou
sobre bens móveis sujeitos a registo e, por isso, deve ser registado, a retroactividade
da penhora depende desse registo.
1. PENHORA EM CASO DE COMUNHÃO E COMPROPRIEDADE
Penho

2. CASOS ESPECIAIS DE PENHORA


Conceito e Função de Penhora

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