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VI – FASES DO

PROCESSO
Processo de Inventário
1. Cabeça-de-casal
•Assume um papel relevante no Processo de Inventário.

•É designado pelo juiz (artigos 1100º nº 1 b) e 2 a) e b) CPC).

•Compete-lhes cumprir no inventário os deveres que a lei lhe impuser, sob pena de remoção do
cargo (artigo 2086º nº 1 c) CC).

•Incidentes: substituição, escusa e remoção do cabeça-de-casal (artigos 2084º a 2086º CC e 1103º


CPC), e impugnação da competência do cabeça-de-casal por preterição da ordem de deferimento
do cargo (artigos 2080º CC, e 1104º nº 1 c) e 1103º nº 3 CPC).
2. Requerimento inicial
• O processo inicia-se com a entrada em juízo do requerimento inicial – logo que seja recebido na secretaria
(artigo 259º CPC).

• Dá-se, assim, início à fase dos articulados.

• Legitimidade para requerer o Processo de Inventário (artigo 1085º nº 1 CPC):

1) Interessados diretos ma partilha e cônjuge meeiro ou, no caso do artigo 1082º b) CPC, os
interessados na elaboração da relação de bens.

2) M.P., quando a herança seja deferida a menores, maiores acompanhados ou ausentes em parte incerta.
2. Requerimento inicial
Requerimento inicial apresentado pelo cabeça-de-casal (artigo 1097º CPC):

• Deve:

1) Identificar o autor da herança, o lugar do seu último domicílio e a data e o lugar em que haja falecido.

2) Justificar a qualidade de cabeça-de-casal.

3) Identificar os interessados diretos na partilha, os respetivos cônjuges e o regime de bens do casamento,


os legatários e, ainda, havendo herdeiros legitimários, os donatários (legítimos para intervir).
2. Requerimento inicial
Requerimento inicial apresentado pelo cabeça-de-casal (artigo 1097º CPC):

• Deve ser junto ao requerimento inicial:

1) Certidão de óbito do autor da sucessão e documentos que comprovem a sua legitimidade e dos interessados na partilha
(certidões de nascimento).

2) Testamentos, convenções antenupciais e escrituras de doação.

3) Relação de todos os bens sujeitos a inventário, acompanhada de documentos comprovativos.

4) Relação dos créditos e das dívidas da herança, acompanhada das provas.

5) Compromisso de honra do fiel exercício das funções de cabeça-de-casal.


2. Requerimento inicial
Requerimento inicial apresentado por outro interessado (artigo 1099º CPC): quando ao requerente não competir
o exercício de funções de cabeça-de-casal, deve o mesmo, no requerimento inicial:

1) Identificar o autor da herança, o lugar da sua última residência habitual e a data e o lugar em que haja
falecido.

2) Indicar quem deve exercer o cargo de cabeça-de-casal.

3) Na medida do seu conhecimento, relação dos bens sujeitos a inventário e de créditos ou dívidas da herança.

4) Juntar os documentos comprovativos dos factos alegados.


3. Relação de bens (artigo 1098º CPC)
O cabeça-de-casal deve juntar ao requerimento inicial a relação de todos os bens sujeitos a inventário,
ainda que a sua administração não lhe pertença, acompanhada dos documentos comprovativos da sua
situação no respetivo registo e, se for caso, da matriz (artigo 1097º nº 3 c) CPC).

Cabe-lhe relacionar:

1) Os bens que ele próprio administra diretamente.

2) Os bens que se encontrem em poder de co-herdeiros ou de terceiros.

3) Os bens doados, no caso de existirem herdeiros legitimários (artigo 2087º nº 2 CPC).


3. Relação de bens (artigo 1098º CPC)
•Na relação de bens, o cabeça-de-casal indica o valor que atribui a cada um dos bens,
de acordo com as regras fixadas no artigo 1098º nº 1 CPC.

•O valor do inventário é a soma de todos os valores indicados (artigo 302º nº 2


CPC).

•Os bens que integram a herança são especificados na relação por meio de verbas,
sujeitas a uma só numeração, pela ordem estabelecida no artigo 1098º nº 2 CPC.
3. Relação de bens (artigo 1098º CPC)
•Os créditos e as dívidas são relacionados em separado, sujeitos a numeração própria,
e com identificação dos respetivos devedores e credores (artigo 1097º nº 3 d) CPC).

•A menção dos bens é acompanhada dos elementos necessários à sua identificação e


ao apuramento da sua situação jurídica.

•Se não houver inconveniente para a partilha, podem ser agrupados, na mesma verba,
bens móveis, ainda que de natureza diferente, que se destinem a um fim unitário.
3. Relação de bens (artigo 1098º CPC)
• As benfeitorias efetuadas por terceiros em prédio da herança são descritas como dívidas, quando não possam, sem
detrimento, ser levantadas por quem as realizou, sendo que, não podendo ser levantadas, entram na relação de
bens e o terceiro deve ser indicado como credor da herança (artigo 1098º nº 6 e 7 CPC).

• As benfeitorias realizadas pelo donatário do bem doado merece um regime especial: o donatário não é terceiro e,
quanto às benfeitorias, é considerado possuidor de boa-fé (artigos 2115º, 1273º e ss CC).

• O cabeça-de-casal deve descrever essas benfeitorias e atribuir-lhe um valor (para efeitos de eventual redução de
doações por inoficiosidade e também de preenchimento de quota hereditária quando o donatário seja também
herdeiro), devendo o valor fixado ser descontado no valor do bem doado a que pertencem.
3. Relação de bens (artigo 1098º CPC)
Impossibilidade de relacionar algum bem por não se encontrar em poder do requerente (artigo 1101º CPC):

• O terceiro é notificado para, no prazo designado pelo juiz, facultar o acesso a tais bens e fornecer os elementos
necessários à respetiva inclusão na relação de bens.

• Se o notificado alegar que os bens não existem ou não têm de ser relacionados, são notificados os restantes
interessados para se pronunciarem no prazo de 20 dias, após o qual o juiz decide sobre a sua inclusão na relação
de bens.

• Se o notificado não cumprir com o dever de colaboração que lhe incumbe, o juiz pode ordenar as diligências
necessárias, incluindo a apreensão dos bens pelo tempo indispensável à sua inclusão na relação de bens.
4. Despacho liminar e citação (artigo
1100º CPC)
Despacho liminar para, em especial quanto ao Inventário:

1) Verificar a existência de qualquer deficiência do requerimento, devendo seguir-


se o respetivo convite ao aperfeiçoamento.

2) Confirmar ou designar o cabeça-de-casal.


4. Despacho liminar e citação (artigo
1100º CPC)
Se o processo prosseguir e o juiz verificar que o exercício das funções de cabeça-de-casal cabe ao requerente e que este prestou
compromisso de honra válido:

1) Procede à sua designação (confirma).

2) Ordena a citação dos interessados diretos, bem como demais interessados (artigos 1085º, 1088º nº 2 e 1104º CPC).

3) Ordena a notificação do cabeça-de-casal quanto ao despacho que ordena aquelas citações e de que podem, no prazo de
30 dias, exercer as faculdades previstas no artigo 1104º nº 1 CPC (artigo 1104º nº 2 CPC).

4) Ordena a citação do M.P. (sempre que se justifique a sua intervenção (representação de incapazes / Fazenda Pública).
4. Despacho liminar e citação (artigo
1100º CPC)
Se o processo prosseguir e o juiz verificar que o exercício das funções de cabeça-de-casal compete a outrem que não o
requerente:

1) Designa o cabeça-de-casal.

2) Ordena a sua citação, com a advertência de que, no prazo de 30 dias, deve cumprir o disposto do artigo 1102º
CPC, com a possibilidade de prorrogação do prazo (artigo 1102º nº 2 CPC): pode confirmar, corrigir ou
completar o que consta do requerimento inicial e juntar os documentos necessários (artigo 1097º CPC),
apresentar ou completar a relação de bens (artigos 1097º nº 3 c) e 1098º CPC) e de créditos e dívidas da herança
(artigo 1097º nº 3 d) CPC), e apresentar o compromisso de honra (artigo 1097º nº 3 e) e 4 CPC).

3) Ordena a citação do M.P. (sempre que se justifique a sua intervenção (representação de incapazes / Fazenda
Pública).
4. Despacho liminar e citação (artigo
1100º CPC)
•É também neste prazo de 30 dias a contar da sua citação que o cabeça-de-casal pode
exercer as faculdades previstas no artigo 1104º nº 1 CPC (artigo 1104º nº 2 CPC).

•As citações dos interessados e a notificação do requerente só são ordenadas depois de


o cabeça-de-casal carrear para o processo os elementos referidos no artigo 1102º nº 1
CPC.
5. Oposição, impugnação e
reclamação (artigos 1104º e 1105º
CPC)
Os interessados diretos na partilha e o M.P. (intervenção principal) podem, no prazo de 30 dias a contar da sua
citação / notificação:

1) Deduzir oposição ao inventário: extinguir a instância.

2) Impugnar a legitimidade dos interessados citados e alegação da existência de outros.

3) Impugnar a competência do cabeça-de-casal ou as indicações constantes das suas declarações.

4) Reclamar contra a relação de bens: acusar fala de bens, requerer a exclusão de bens ou arguir
inexatidões na descrição dos bens.

5) Impugnar os créditos e as dívidas da herança.


5. Oposição, impugnação e
reclamação (artigos 1104º e 1105º
CPC)
•Quando houver herdeiros legitimários, os legatários e donatários são admitidos a deduzir
impugnação relativamente às questões que possam afetar os seus direitos.

•Os credores da herança também podem impugnar as questões que possam afetar os seus direitos
(artigo 1085º nº 2 b) CPC).

•Adota-se um princípio de concentração na invocação de todos os meios de defesa idêntico ao que


vigora no artigo 573º CPC, estabilizando a instância, pois toda a defesa deve ser deduzida no
prazo de que todos os interessados dispõem para a oposição.
5. Oposição, impugnação e
reclamação (artigos 1104º e 1105º
CPC)
Tramitação subsequente (artigo 1105º CPC):

• Se for deduzida oposição, impugnação ou reclamação, são notificados os interessados, podendo responder, em 30
dias, aquelas que tenham legitimidade para se pronunciar sobre a questão suscitada.

• As provas são indicadas com os requerimentos e respostas.

• A questão é decidida depois de efetuadas as diligências probatórias necessárias, requeridas pelos interessados ou
determinadas pelo juiz, sem prejuízo da possibilidade de suspensão da instância (artigos 1092º e 1093º CPC).

• A decisão do juiz pode ser tomada autonomamente ou na fase de saneamento do processo (artigo 1110º nº 1 a) CPC).
5. Oposição, impugnação e
reclamação (artigos 1104º e 1105º
CPC)
•No caso do incidente de reclamação contra a relação de bens com fundamento na falta de
bens relacionados pode ser alegada a sonegação de bens (artigo 2096º CC).

•Se um terceiro apresenta requerimento em que se arroga titular de bens relacionados, a


tramitação subsequente é a do artigo 1105º nº 1 a 3 CPC (por analogia com o incidente da
reclamação contra a relação de bens). Se os interessados tiverem sido remetidos para os
meios comuns (artigo 1093º nº 1 CPC), o processo prossegue quanto aos demais bens (só
suspende quanto ao bem, prosseguindo sobre os demais – artigo 1093º nº 2 CPC).
5. Oposição, impugnação e
reclamação (artigos 1104º e 1105º
CPC)
•Se nos meios comuns se apurar que o bem pertence à herança, a partilha entretanto realizada não
é nula, antes se procede à partilha adicional (artigos 2112º CC e 1129º nº 1 CPC).

•Quanto aos créditos da herança (relacionados pelo cabeça-de-casal ou invocados por qualquer
interessado), estes podem ser negados pelo pretenso devedor, no prazo de 30 dias a contar da sua
citação (se for interessado) ou da notificação da relação de créditos (se for terceiro).

•Se houve negação, observa-se os trâmites subsequentes do artigo 1105º nº 1 a 3 CPC.


5. Oposição, impugnação e
reclamação (artigos 1104º e 1105º
CPC)
•Consoante a decisão do juiz, aplica-se o disposto no artigo 1105º nº 6 ou 7 CPC (em
qualquer dos casos, se o devedor for demandado pelos interessados nos meios
competentes, pode opor-se ao pagamento e discutir a existência da dívida, podendo
ser numa ação declarativa).

•Se reconhecer o crédito, será estipulado na sentença de inventário.


6. Dívidas da herança
•Há um dever do cabeça-de-casal, quando é o requerente, a relacionar os créditos e as
dívidas da herança (artigo 1097º nº 3 d) CPC) ou, se for outro requerente, deve este
indicar na medida do seu conhecimento (artigo 1099º c) CPC), podendo os interessados
diretos impugnar no prazo de 30 dias a contar da sua citação (artigo 1104º nº 1 e) CPC).

•Quanto às dívidas da herança, havendo impugnação (artigo 1104º nº 1 e) CPC), segue-


se a tramitação prevista no artigo 1105º nº 1 a 3 CPC.
6. Dívidas da herança
Podem pronunciar-se sobre o passivo da herança os interessados diretos na partilha (artigo 1085º nº 1 CPC):

1) Os herdeiros (artigos 2068º, 2097º e 2098º CC).

2) Existindo herdeiros incapazes e ausentes, os respetivos representantes legais e o M.P. (artigo 1106º nº 2
CPC).

3) O usufrutuário da totalidade ou de uma quota do património hereditário (artigo 2072º CC).

4) Os legatários, para deliberar sobre o passivo e a forma do seu pagamento (artigos 1085º nº 2 a) e 1107º
nº 1 CPC).

5) Os donatários, para aprovar as dívidas, sempre que se verifique probabilidade séria de delas resultar a
redução de liberalidades.
6. Dívidas da herança
•O juiz decide a questão autonomamente (num despacho autónomo) ou na fase de saneamento do processo
(artigo 1110º nº 1 a) CPC).

•A deliberação sobre a forma de cumprimento dos encargos reconhecidos ou verificados terá lugar na
conferência de interessados (artigo 1111º nº 3 CPC).

•Contudo, a situação prevista no artigo 1088º nº 1 CPC pode justificar que os interessados se pronunciem
na conferência de interessados sobre o passivo quando pretendam impugnar um crédito que tenha sido
reclamado pelo credor “nas vésperas da conferência de interessados” e, portanto, sem que aqueles tenham
tido a oportunidade de se pronunciarem sobre o crédito reclamado.
6. Dívidas da herança
Verificação do passivo propriamente dito (artigo 1106º nº 1 a 4 CPC):

•As dívidas relacionadas que não hajam sido impugnadas consideram-se reconhecidas (reconhecimento vinculante), não
operando nas dívidas provadas documentalmente, devendo a sentença condenar no respetivo pagamento.

•Se houver interessados incapazes, o M.P. pode opor-se ao reconhecimento vinculante.

•Se todos se opuserem, o juiz deve apreciar a sua existência e montante quando a questão puder ser resolvida com segurança
pelo exame dos documentos apresentados.

•Se houver divergência entre interessados acerca do reconhecimento da dívida, aplica-se o artigo 1106º nº 1 e 2 CPC (os que
não impugnaram, devem proceder ao pagamento) e relativamente à quota-parte dos interessados que não a impugnem e
quanto à parte restante observa-se o disposto no artigo 1105º CPC.
6. Dívidas da herança
Forma do pagamento do passivo (artigo 1106º nº 5 a 7 CPC):

•As dívidas vencidas, que hajam sido reconhecidas por todos os interessados ou pelo tribunal, devem ser pagas
imediatamente se o credor exigir o pagamento.

•Se não houver na herança dinheiro suficiente e se os interessados não acordarem noutra forma de pagamento
imediato, procede-se à venda dos bens para esse efeito, designando o juiz os que hão de ser vendidos, quando
não haja acordo entre os interessados.

•Se o credor quiser receber em pagamento os bens indicados para a venda, são-lhe os mesmos adjudicados pelo
preço que se ajustar (dação em cumprimento).
6. Dívidas da herança
•Se a dívida que dá causa à redução não for reconhecida nem por todos os herdeiros,
donatários e legatários, nem pelo tribunal, não pode ser tomada em conta para a
redução (artigo 1107º nº 3 CPC).
6. Dívidas da herança
Insolvência da herança (artigo 1108º CPC):

•A herança como património autónomo pode ser objeto de Processo de Insolvência (artigo 2º nº 1 h) CIRE).

•A situação de insolvência da herança resulta do reconhecimento do passivo por todos os interessados ou pelo
juiz, em que o valor das dívidas exceda o valor do ativo da herança (só depois das dívidas reconhecidas).

•Verificando-se que a herança se encontra em situação de insolvência, o juiz, a requerimento de algum


interessado direto ou de algum credor, extingue a instância (inutilidade superveniente da lide – artigo 277º e)
CPC) e remete os interessados para o Processo de Insolvência.
7. Audiência prévia de interessados
(artigo 1109º CPC)
•A convocação da audiência prévia (na conferência de interessados) depende da ponderação do juiz acerca
da respetiva necessidade ou utilidade, realizada no exercício dos sues poderes de gestão processual (artigo
6º nº 1 CPC).

•A audiência tem, genericamente, uma função preparatória do despacho de saneamento do processo, no


qual, além do mais, cumpre solucionar todas as questões suscetíveis de influir na partilha e na
determinação dos bens a partilhar (artigo 1110º nº 1 a) CPC).

•Funções: obtenção de acordo sobre a partilha ou de questões controvertidas e audição pessoal dos
interessados sobre alguma questão.
7. Audiência prévia de interessados
(artigo 1109º CPC)
•Ao designar a audiência prévia, cabe ao juiz indicar, em consonância com o princípio
da cooperação e da transparência, o objetivo da audiência e as matérias a tratar nela.

•Frustrando-se o acordo dos interessados, o juiz determina a realização das diligências


instrutórias necessárias para dirimir as questões controvertidas, cabendo-lhes, de
seguida, resolvê-las no despacho de saneamento do processo, ao abrigo do artigo
1110º nº 1 a) CPC.
8. Saneamento do processo e marcação da
conferência de interessados (artigo 1110º CPC)
Nesta fase, após a realização das diligências instrutórias que forem necessárias (artigos 1105º nº 3
e 1109º nº 3 CPC), o juiz profere despacho em que:

1) Resolve todas as questões suscetíveis de influir na partilha e na determinação dos bens a


partilhar.

2) Ordena a notificação dos interessados diretos e do M.P. que tenham intervenção principal
para, no prazo de 20 dias, apresentarem propostas da forma da partilha (como deve ser
procedida a partilha em termos abstratos, nos termos da lei substantiva).
8. Saneamento do processo e marcação da
conferência de interessados (artigo 1110º CPC)
•Decorrido o referido prazo de 20 dias, o juiz profere despacho sobre o modo como,
em abstrato, será organizada a partilha, definindo as quotas ideias de cada
interessado, em função das normas substantivas aplicáveis (não é obrigatório aos
interessados apresentar as propostas de forma da partilha).

•Nesta ocasião, o juiz designa dia para a realização da conferência de interessados.


8. Saneamento do processo e marcação da
conferência de interessados (artigo 1110º CPC)
• Devem ser convocados para a conferência de interessados:

1) Interessados da partilha.

2) Cônjuges dos interessados diretos da partilha:

a) Casados sob o regime de comunhão geral de bens.

b) Casados sob o regime de comunhão de adquiridos, no caso de a herança integrar bens imóveis ou
estabelecimento comercial (artigo 1682º-A nº 1 CC).

c) Casados sob o regime de separação de bens se, nos bens a partilhar, constar a casa de morada de família
(artigo 1682º-A nº 2 CC).
8. Saneamento do processo e marcação da
conferência de interessados (artigo 1110º CPC)
•O eventual acordo, por unanimidade e com a concordância do M.P. que tenha intervenção principal,
quanto à composição dos quinhões (artigo 1111º nº 2 CPC) fica dependente do consentimento do
cônjuge do interessado direto (artigo 1682º-A CC).

•Na notificação das pessoas convocadas deve fazer-se menção do objeto da conferência, sob pena de
nulidade (artigo 195º nº 1 CPC).

•Os interessados diretos na partilha e respetivos cônjuges são notificados com a obrigação de
comparência pessoal ou de se fazerem representar, sob cominação de multa (artigos 27º e ss RCP).
8. Saneamento do processo e marcação da
conferência de interessados (artigo 1110º CPC)
•Os interessados e seus cônjuges podem fazer-se representar por mandatário com poderes especiais
(para transigir ou fazer acordo) ou confiar mandato a qualquer outro interessado.

•Há possibilidade de adiamento da conferência (excecionalmente), uma só vez, por determinação do


juiz e se reunidos dois requisitos:

1) Falta de algum dos convocados (nem representado por procurador com poderes especiais).

2) Haja razões para considerar viável o acordo sobre a composição dos quinhões com a presença
de todos os interessados (artigo 1111º nº 2 CPC) – realizar a partilha por acordo.
9. Conferência de interessados
(artigos 1111º a 1117º CPC)
• Na conferência, o juiz deve incentivar os interessados a procurar uma solução amigável para a partilha dos bens (ainda que
parcial, sensibilizando-os para as vantagens de uma autocomposição dos seus interesses (artigo 1111º nº 1 CPC), sem
prejuízo de ser aberta licitação na partilha (quem oferece mais).

• Os interessados podem acordar, por unanimidade (ninguém pode faltar nem 1 não concordar) e com a concordância do M.P.
que tenha intervenção principal, que a composição dos quinhões se realize por algum dos modos previstos no artigo 1111º
nº 2 CPC, de forma a obedecer ao princípio da intangibilidade qualitativa da legítima (artigo 2163º CC), pois nenhum
herdeiro pode designar bens que preencham a legítima contra a vontade do herdeiro.

• Quanto à venda de bens (artigo 1111º nº 2 c) CPC), são aplicáveis as disposições do regime da venda executiva, tendo
lugar também às citações dos credores de garantia real, nos termos do artigo 786º CPC (artigo 549º nº 2 CPC).
9. Conferência de interessados
(artigos 1111º a 1117º CPC)
Partilha parcial com exclusão de interessados (artigo 1112º CPC):

•Não abrange todos os bens da herança e mediante acordo de todos os interessados.

•Quando resulte o preenchimento do quinhão hereditário de qualquer dos herdeiros, o juiz homologa a partilha
parcial se considerar que não existem ou que estão devidamente salvaguardados os eventuais direitos de
terceiros afetados por essa partilha.

•A sentença homologatória determina a extinção da instância relativamente aos interessados cujo quinhão foi
reconhecido como preenchido, sem prejuízo da renovação da instância e da alteração da sentença com
fundamentos em factos supervenientes, salvaguardando-se os efeitos já produzidos.
9. Conferência de interessados
(artigos 1111º a 1117º CPC)
Partilha parcial com exclusão de interessados (artigo 1112º CPC):

•Na sentença homologatória, o juiz fixa, provisoriamente, o valor do Processo de


Inventário e a responsabilidade pelas custas dos interessados em relação aos quais se
tenha verificado a extinção da instância, na proporção do que tenham recebido.

•Só se sabe o valor da causa no final do inventário, visto que é a soma do valor de
adjudicação de todos os bens (artigo 302º nº 3 CPC).
9. Conferência de interessados
(artigos 1111º a 1117º CPC)
•Aos interessados compete, na conferência de interessados, ainda deliberar sobre o passivo e
forma do seu pagamento, bem como sobre a forma de cumprimento dos legados e demais
encargos da herança (artigo 1111º nº 3 CPC).

•A deliberação sobre o passivo apenas no caso de reclamação espontânea deduzida pelo credor
em momento posterior à fase dos articulados (artigo 1088º nº 1 CPC).

•As dívidas vencidas, reconhecidas por unanimidade ou por decisão judicial, devem ser pagas
de imediato caso o credor exija o pagamento (artigo 1106º nº 5 CPC).
9. Conferência de interessados
(artigos 1111º a 1117º CPC)
•A deliberação do passivo com a maioria dos interessados presentes ou representados vincula os que não
compareceram nem se fizeram representar, desde que tenham sido notificados com esta cominação (artigo
1111º nº 4 CPC).

•Se não houver dinheiro suficiente na herança, procede-se à venda dos bens (artigo 1106º nº 6 CPC) ou
possibilidade de adjudicação ao credor dos bens indicados para venda, pelo preço que se ajustar (artigo
1106º nº 7 CPC).

•O credor pode exigir o pagamento de dívida reconhecida através de ação executiva, pois a sentença
homologatória da partilha condena os interessados no pagamento, servindo a mesma de título executivo
(artigos 1096º nº 2 e 703º nº 1 a) CPC).
9. Conferência de interessados (artigos 1111º a
1117º CPC)
9.1. Licitações (artigo 1113º CPC)
•Na falta de acordo entre os interessados (ou se faz apenas partilha parcial), procede-
se, na própria conferência de interessados, à abertura de licitação entre eles.

•As licitações têm como finalidade a composição dos quinhões dos interessados com
bens da herança ou com dinheiro proveniente de tornas.

•Cada verba deve ser licitada separadamente, podendo ser formados lotes, com vista a
possibilitar uma repartição tendencionalmente igualitária do acervo hereditário.
9. Conferência de interessados (artigos 1111º a
1117º CPC)
9.1. Licitações (artigo 1113º CPC)
•A licitação tem a estrutura de uma arrematação (leilão).

•São apenas admitidos a licitar os interessados diretos na partilha (herdeiros, cônjuge


meeiro, cessionário de quota hereditária, credor sub-rogante e representante legal ou
o M.P.).

•Os interessados podem, por acordo, licitar a mesma verba ou lote para que lhes seja
adjudicado em comum na partilha (compropriedade do bem).
9. Conferência de interessados (artigos 1111º a
1117º CPC)
9.1. Licitações (artigo 1113º CPC)
•Bens submetidos a licitação: deixados pelo autor da sucessão (não incluindo os legados) e os doados e
legados (nos casos previstos na lei – inoficiosidade).

•Bens excluídos da licitação:

1) Bens que, por força da lei ou de negócio, não possam ser dela objeto (Exemplo: bens adjudicados no
âmbito de partilha parcial (artigo 1112º CPC), bens que só podem transmitir-se a certos herdeiros,
como quotas em sociedades cujos estatutos limitem a transmissibilidade delas).

2) Bens que devem ser preferencialmente atribuídos a certos interessados (Exemplo: por indicação do
testamento).

3) Bens que hajam sido objeto de pedido de adjudicação (artigo 1115º CPC).
9. Conferência de interessados (artigos 1111º a 1117º
CPC)
9.2. Avaliação dos bens (artigo 1114º CPC)
•Valor atribuído pelo cabeça-de-casal (artigo 1097º nº 3 c) CPC), de acordo com o
estipulado no artigo 1098º nº 1 CPC.

•Os bens são licitados, em princípio, pelo valor que consta da relação de bens.

•Contudo, até à abertura das licitações, qualquer interessado (credor, legatário, donatário
e diretos) pode requerer a avaliação dos bens, indicando sobre os quais pretende que
recaia a avaliação e as razões da não aceitação do valor que lhes é atribuído.
9. Conferência de interessados (artigos 1111º a 1117º
CPC)
9.2. Avaliação dos bens (artigo 1114º CPC)
•O deferimento do requerimento de avaliação suspende as licitações até à fixação
definitiva do valor dos bens.

•Em regra, a avaliação é através de um único perito, podendo ser colegial (3 peritos)
nos casos indicados no artigo 1114º nº 3 CPC.

•O prazo para a realização da avaliação é de 30 dias, salvo se o juiz considerar


adequado prazo diverso (princípio da celeridade processual).
9. Conferência de interessados (artigos 1111º a 1117º
CPC)
9.3. Pedidos de adjudicação de bens (artigo 1115º
CPC)
•Estes pedidos são deduzidos na conferência de interessados.

•Estando relacionados bens indivisíveis de que algum dos interessados seja


comproprietário de, pelo menos, metade do respetivo valor, pode ser requerida por
esse interessado a adjudicação da parte relacionada, para que o bem lhe fique a
pertencer por inteiro.

•O objetivo da lei é fazer cessar a compropriedade.


9. Conferência de interessados (artigos 1111º a 1117º
CPC)
9.3. Pedidos de adjudicação de bens (artigo 1115º
CPC)
•Para isso, é necessário que o direito do interessado se funde:

1) Existindo herdeiros legitimários, em título que o exclua do inventário: em título


aquisitivo que não seja doação ou legado do autor da herança (mas somente
daquela herança).

2) Não existindo herdeiros legitimários, em doação ou legado do autor da herança


(vontade presumida do autor da sucessão para cessar a compropriedade).
9. Conferência de interessados (artigos 1111º a 1117º
CPC)
9.3. Pedidos de adjudicação de bens (artigo 1115º
CPC)
•Os bens pedidos de adjudicação são excluídos da licitação (artigo 1113º nº 4 CPC).

•O pedido de adjudicação também pode ter como objeto quaisquer bens fungíveis, títulos de crédito ou valores
mobiliários e demais instrumentos financeiros, na proporção da sua quota, salvo se a divisão em espécie puder
acarretar prejuízo considerável.

•Os restantes interessados presentes na conferência de interessados são ouvidos sobre as questões de
indivisibilidade ou do eventual prejuízo causado pela divisão, podendo qualquer dos interessados requerer que
se proceda à avaliação até à abertura das licitações (artigo 1114º CPC).

•Depois disso, o juiz decide o incidente.


9. Conferência de interessados (artigos 1111º a 1117º
CPC)
9.4. Oposição ao excesso de licitação (artigo 1116º
CPC)
•A oposição ao excesso de licitações, deduzindo na conferência de interessados, tem
as seguintes finalidades (visto que pode exceder os quinhões, sem prejuízo do
pagamento de tornas):

1) Garantir aos interessados cujos quinhões hereditários não estejam preenchidos.

2) Permitir a correção da licitação especialmente quando ela tem lugar entre


interessados com grande desigualdade económica.
9. Conferência de interessados (artigos 1111º a 1117º
CPC)
9.4. Oposição ao excesso de licitação (artigo 1116º
CPC)

Se algum interessado licita numa pluralidade de verbas ou lotes e o valor dessas verbas
ou lotes é, no seu conjunto, superior ao valor necessário para o preenchimento da sua
quota, qualquer dos outros interessados pode requerer a composição do respetivo
quinhão em bens.

•O interessado que pretende requerer a composição do seu quinhão em bens deverá opor-
se ao excesso de licitação, e requerer que as verbas em excesso ou alguma delas lhe
sejam adjudicadas.
9. Conferência de interessados (artigos 1111º a 1117º
CPC)
9.4. Oposição ao excesso de licitação (artigo 1116º
CPC)
•Regras aplicáveis:

1) O valor dos bens a adjudicar é o valor pelo qual foram licitados.

2) A adjudicação só pode realizar-se até ao limite do quinhão desse interessado (evitando uma
inversão de posições).

3) É o licitante que tem o direito de escolha, escolhendo, de entre as verbas ou lotes em que
licitou, as suficientes para o preenchimento da sua quota hereditária (a jurisprudência
entende como legítima a escolha de um único bem cujo valor exceda o do seu quinhão).
9. Conferência de interessados (artigos 1111º a 1117º
CPC)
9.4. Oposição ao excesso de licitação (artigo 1116º
CPC)
•A eventual indicação pelo requerente dos bens com os quais pretende preencher a sua quota não é
vinculativa para o licitante.

•Se o requerimento for feito por mais de um interessado e não houver acordo entre eles sobre a
adjudicação, o juiz decide, por forma a conseguir o maior equilíbrio dos lotes, podendo abrir
licitações entre esses interessados ou mandar proceder a sorteio.

•As atribuições preferenciais do cônjuge (artigos 2103º-A a 2103º-C CC) podem ser requeridas
no acordo amigável da partilha (artigo 1111º CPC) ou até à abertura das licitações.
9. Conferência de interessados (artigos 1111º a 1117º CPC)
9.5. Composição igualitária dos quinhões de não licitantes
(artigo 1117º CPC)
•O artigo 1117º CPC regula o procedimento a seguir para o inteiramento dos não
conferentes (interessados que não participam na conferência de interessados) ou não
licitantes, quando não seja alcançado acordo a esse respeito.

•Este procedimento tem um âmbito de aplicação residual, pois vale apenas para os bens
sobrantes: bens cujo destino não tenha resultado de acordo sobre a partilha (artigos 1111º e
1112º CPC), licitação (artigo 1113º CPC), pedido de adjudicação (artigo 1115º CPC)
nem oposição ao excesso de licitação (artigo 1116º CPC).
9. Conferência de interessados (artigos 1111º a 1117º CPC)
9.5. Composição igualitária dos quinhões de não licitantes
(artigo 1117º CPC)
•O juiz determina a formação de lotes que assegurem, quanto possível, que a todos os interessados são
atribuídos bens da mesma espécie e natureza dos bens doados e licitados, procedendo-se depois ao sorteio entre
os co-herdeiros.

•Se não existirem bens da mesma espécie e natureza dos doados ou licitados:

1) Os não conferentes ou não licitantes são inteirados, através de sorteio entre vários lotes constituídos pelo
juiz, que deverá procurar o maior equilíbrio possível entre os mesmos.

2) Os bens sobrantes são adjudicados em comum, pelo juiz, na proporção do valor que falta a esses
interessados para o preenchimento dos seus quinhões.
9. Conferência de interessados (artigos 1111º a 1117º CPC)
9.5. Composição igualitária dos quinhões de não licitantes
(artigo 1117º CPC)
•Os créditos que sejam litigiosos ou que não estejam suficientemente comprovados e
os bens que não tenham valor são distribuídos proporcionalmente pelos interessados
(nos casos do artigo 1105º nº 6 CPC), sendo que também se aplica em dinheiro
corrente deixado pelo autor da sucessão.
10. Incidente de inoficiosidade
(artigos 1118º e 1119º CPC)
•Quando existam herdeiros legitimários, pode colocar-se o problema da inoficiosidade das
liberalidades realizadas pelo autor da sucessão (artigos 2156º, 2157º, 2168º e ss CC).

•O incidente de redução de legados ou doações (e também de deixas testamentárias a título de


herança) pode ser deduzido até à abertura das licitações.

•Legitimidade: qualquer herdeiro legitimário (artigos 1118º nº 1 CPC e 2169º CC).

•Ordem de redução: 1º disposições testamentária a título de herança, 2º legados e, por


último, doações.
10. Incidente de inoficiosidade
(artigos 1118º e 1119º CPC)
Tramitação (artigo 1118º CPC):

• No requerimento, o interessado fundamenta a sua pretensão e especifica os valores, quer dos bens da herança, quer dos
doados ou legados, que justificam a redução pretendida e, de seguida, são ouvidos os restantes herdeiros legitimários e
o donatário ou legatário requerido (prazo de 10 dias – artigo 149º nº 1 CPC ex vi artigo 293º nº 1 CPC).

• Para a apreciação do incidente, pode proceder-se, oficiosamente ou a requerimento de qualquer das partes, à avaliação
dos bens da herança e dos bens doados ou legados, se a mesma já não tiver sido realizada no processo.

• A decisão incide sobre a existência ou inexistência de inoficiosidade e sobre a restituição dos bens, no todo ou em
parte, ao património hereditário.
10. Incidente de inoficiosidade
(artigos 1118º e 1119º CPC)
Fundamentos de oposição à redução:

1) Incorreção nos termos apresentados para demonstrar a existência de inoficiosidade.

2) Inobservância da ordem de redução (artigos 2171º a 2173º CC).

3) Oposição quanto ao valor de bens da herança, doados ou legados, requerendo-se a


avaliação de bens ainda não avaliados no processo.
10. Incidente de inoficiosidade
(artigos 1118º e 1119º CPC)
•Concluindo o juiz pela inexistência de inoficiosidade (artigo 2168º nº 1 a contrariu
CC), não haverá lugar a redução.

•Se a decisão judicial reconhecer a inoficiosidade, haverá lugar à redução em tanto


quanto for necessário para o preenchimento da legítima (artigo 2169º CC)

•As consequências da inoficiosidade resultam do artigo 1119º CPC conjugado com o


artigo 2174º CC.
10. Incidente de inoficiosidade
(artigos 1118º e 1119º CPC)
Estando em causa bem divisível:

•O requerido repõe em substância a parte que afetar a legítima.

•Se a inoficiosidade respeita a doação ou legado que incide sobre mais do que um bem, o requerido pode
escolher entre os bens doados ou legados os necessários para preencher o valor a que tenha direito (valor
que não é inoficioso).

•Sobre os bens restituídos à herança pode haver licitação entre os herdeiros legitimários, sendo o donatário
ou legatário excluído da licitação (salvo se também detiver a qualidade de herdeiro legitimário).
10. Incidente de inoficiosidade
(artigos 1118º e 1119º CPC)
Estando em causa bem indivisível:

•Se o valor da redução exceder metade do valor do bem, o donatário ou legatário deve
restituir a totalidade do bem, abrindo-se licitação sobre ele entre os herdeiros legitimários e
atribuindo-se ao requerido o valor pecuniário que tenha o direito de receber.

•Se o valor da redução não exceder metade do valor do bem, assiste ao legatário ou
donatário a faculdade de optar pela reposição do excesso em dinheiro.
10. Incidente de inoficiosidade
(artigos 1118º e 1119º CPC)
•Em qualquer caso, se o donatário ou legatário for herdeiro legitimário, repõe em
dinheiro e não em substância (de acordo com a interpretação de Pires de Lima e
Antunes Varela quanto ao disposto no artigo 2174º nº 3 CC).
11. Mapa da partilha (artigo 1120º
CPC)
•Findas as diligências que integram a conferência de interessados, os interessados e o
M.P. (intervenção principal) são notificados para apresentarem, no prazo de 20 dias,
proposta do mapa da partilha.

•Dessa proposta de mapa têm de constar os direitos de cada interessado e o


preenchimento dos seus quinhões, de acordo com o despacho determinativo da forma
da partilha e os elementos resultantes da conferência de interessados.
11. Mapa da partilha (artigo 1120º
CPC)
•Decorrido tal prazo, o juiz (cumulativamente):

1)Profere despacho a solucionar as divergências que existam entre as várias


propostas de mapa da partilha.

2)Determina a elaboração do mapa da partilha pela secretaria, seguindo as


indicações precisas daquele despacho.
11. Mapa da partilha (artigo 1120º
CPC)
Regras para a formação do mapa:

1) Apura-se a importância total do ativo (somatório do valor de todos os bens em resultado de acordo unânime,
licitações, avaliação dos bens e do valor atribuído pelo cabeça-de-casal na relação de bens, subtraindo-se
dívidas (aprovadas pelos interessados ou reconhecidas judicialmente), bem como o valor dos legados e
encargos que devam ser abatidos.

2) Determina-se o montante da quota de cada interessado e a parte que lhe cabe em cada espécie de bens.

3) Faz-se o preenchimento de cada quota com referência às verbas ou lotes dos bens relacionados (se forem
atribuídas aos co-herdeiros frações de verbas, deverá mencionar-se esse facto).
11. Mapa da partilha (artigo 1120º
CPC)
Regras no preenchimento dos quinhões:

1) No caso de acordo unânime (artigos 1111º nº 2 e 1112º CPC), as verbas são atribuídas nos termos desse acordo.

2) Adjudicação dos bens licitados ao respetivo licitante, mas sem prejuízo do disposto no artigo 1116º CPC.

3) Adjudicação dos bens doados ou legados ao respetivo donatário ou legatário, mas sem prejuízo do disposto no
artigo 1119º CPC.

4) A quota dos não conferentes ou não licitantes é integrada de acordo com o disposto no artigo 1117º CPC.
11. Mapa da partilha (artigo 1120º
CPC)
•O mapa da partilha é, no fundo, a estrutura da decisão final do processo, que a
sentença do juiz homologará (artigo 1122º nº 1 CPC) e dele se passa certidão para
efeitos de prova da partilha.

•Os interessados, após notificados do mapa da partilha, podem reclamar contra ele
com vista à correção de alguma irregularidade no prazo de 10 dias a contar da
notificação do mapa (artigo 149º nº 1 CPC ex vi artigo 549º nº 1 CPC).
12. Tornas (artigos 1121º e 1122º
CPC)
•Com vista à repartição igualitária da herança, se algum interessado receber bens em valor
superior ao respetivo quinhão hereditário, o interessado que menos recebe é notificado para
requerer a composição do seu quinhão por bens que não se mostrem adjudicados ou
reclamar o pagamento de tornas (no prazo de 10 dias – artigo 149º nº 1 CPC ex vi artigo
549º nº 1 CPC).

•Se há pluralidade de requerentes da composição do quinhão com bens que não se mostrem
adjudicados, aplica-se o artigo 1116º nº 3 CPC.
12. Tornas (artigos 1121º e 1122º
CPC)
Se for reclamado o pagamento das tornas:

•O devedor de tornas é notificado para as depositar (no prazo fixado pelo juiz no
despacho que ordena o depósito das tornas).

•Vencem-se juros à taxa legal desde o fim do prazo para o depósito (ou pagamento) no
caso do devedor de tornas se encontre em situação de incumprimento.
12. Tornas (artigos 1121º e 1122º
CPC)
Se não for reclamado o seu pagamento (o credor dispensou o depósito das tornas, mas o crédito das
tornas subsiste):

•As tornas vencem juros legais desde a data da sentença homologatória da partilha e os credores beneficiam de
hipoteca legal sobre os bens adjudicados ao devedor (artigos 704º e 705º e) CC).

•A hipoteca, cujo registo é constitutivo, é oponível a um eventual terceiro que adquira o bem ao devedor de
tornas.

•Se essa garantia se mostrar insuficiente, o credor pode requerer que sejam tomadas, quanto aos bens móveis, as
cautelas previstas no artigo 1124º CPC (com exclusão a da alínea a).
12. Tornas (artigos 1121º e 1122º
CPC)
•Em qualquer dos casos, para obter o pagamento coercivo das tornas e dos respetivos
juros, o credor de tornas pode, logo que a sentença homologatória da partilha transite
em julgado, usar o meio executivo especial do artigo 1122º nº 2 CPC ou propor
processo executivo (artigos 1096º e 703º nº 1 a) CPC).
13. Sentença homologatória da
partilha (artigo 1122º nº 1 CPC)
•Depois de decididas todas as questões, o juiz profere sentença homologatória da partilha
constante do mapa.

•A sentença constitui o ato pelo qual o juiz decide a causa principal (artigo 152º nº 2 CPC),
no caso o PI.

•Transitada em julgado a sentença homologatória da partilha, cada um dos herdeiros é


considerado, desde a abertura da sucessão, sucessor único dos bens que lhe foram atribuídos,
sem prejuízo do disposto quanto a frutos (artigo 2119º CC).
14. Regime dos recursos (artigo 1123º
CPC)
•São aplicáveis aos recursos a interpor no âmbito do PI as disposições gerais do processo de
declaração sobre a admissibilidade, os efeitos, a tramitação e o julgamento dos recursos
(artigos 627º e ss CPC).

•Admissibilidade de recurso ordinário (artigo 629º CPC): quando a causa tenha valor
superior à alçada do tribunal de que se recorre e a decisão impugnada seja desfavorável ao
recorrente em valor superior a metade da alçada desse tribunal, atendo-se, em caso de
fundada dúvida acerca do valor da sucumbência, somente ao valor da causa.
14. Regime dos recursos (artigo 1123º
CPC)
• Decisões interlocutórias: decisões proferidas ao longo do processo.

• Regime especial de recursos de decisões interlocutórias: nos casos previstos no artigo 644º nº 1 e 2 CPC, o
recurso é interposto autonomamente, sendo que entre os “demais casos especialmente previstos na lei” (artigo
644º nº 2 i) CPC), contam-se os casos elencados no artigo 1123º nº 2 CPC:

1) Da decisão sobre a competência, a nomeação ou a remoção do cabeça-de-casal (inclui a escusa).

2) Das decisões de saneamento do processo e de terminação dos bens a partilhar e da forma da partilha
(decididas no despacho saneador).

3) Da sentença homologatória da partilha.


14. Regime dos recursos (artigo 1123º
CPC)
Regime geral de recursos de decisões interlocutórias (artigo 1123º nº 4 e 5 CPC):

• São interpostos conjuntamente com a apelação das decisões de saneamento do processo e de determinação dos bens a
partilha e a forma da partilha (artigo 1123º nº 2 b) CPC) os recursos em que se pretendam impugnar decisões
proferidas até esse momento, subindo todas elas em conjunto ao tribunal superior, em separado dos autos principais
(decisões proferidas até à fase de saneamento do processo, tal como a reclamação da relação de bens).

• São interpostos conjuntamente com a apelação a interpor da sentença homologatória da partilha (artigo 1123º nº 2 c)
CPC) os recursos em que se impugnem decisões posteriores à decisão de saneamento do processo (decisões proferidas
após a fase de saneamento, como reclamação do mapa da partilha ou decisão do incidente de inoficiosidade).
14. Regime dos recursos (artigo 1123º
CPC)
•Quanto ao efeito do recurso, aplica-se o regime geral, no qual o efeito devolutivo constitui regra (artigo
647º CPC ex vi artigo 1123º nº 1 CPC).

•Disposição especial do artigo 1123º nº 3 CPC: o juiz pode atribuir efeito suspensivo do processo ao
recurso das decisões de saneamento do processo e de determinação dos bens a partilhar e da forma da
partilha, se a questão a ser apreciada puder afetar a utilidade prática das diligências que devem ser realizadas
na conferência de interessados.

•Prazo de recurso: é aplicável o regime geral prescrito no artigo 638º nº 1 CPC (ex vi artigo 1123º nº 1
CPC), a contar da notificação da sentença homologatória ou da decisão interlocutória: 15 dias para as
decisões interlocutórias mencionadas no artigo 644º nº 2 CPC e 30 dias para as restantes decisões.
15. Entrega de bens antes do trânsito
em julgado (artigo 1124º CPC)
•Por regra, antes do trânsito em julgado da decisão homologatória da partilha, os bens não são entregues aos
interessados, continuando na administração do cabeça-de-casal.

•No artigo 1124º CPC estão previstas medidas cautelares para a entrega dos bens aos interessados antes do
trânsito em julgado da sentença homologatória do bem (que mostrem interesse atendível).

•O artigo 1124º nº 1 d) CPC abrange as tornas depositadas (consideram-se bens recebidos por causa da
partilha) e os bens móveis.

•O registo só se converte em definitivo com despacho judicial a indicar que o trânsito em julgado se
extinguiu.
16. Nova partilha (artigo 1125º CPC)
•Caso se proceda a nova partilha por efeito de decisão proferida em recurso, o cabeça-de-
casal entra imediatamente na posse dos bens que deixaram de pertencer ao interessado que
os recebeu antecipadamente (artigo 1124º nº 1 CPC), no caso em que o recurso não
suspendeu e foi procedente quanto à relação de algum bem.

•O inventário é apenas reformado na parte estritamente necessário para que a decisão seja
cumprida, subsistindo sempre a avaliação e a descrição, ainda que se verifique a completa
substituição dos herdeiros (não se procede a uma nova partilha).
16. Nova partilha (artigo 1125º CPC)
•Haja ou não nova partilha, o juiz na sentença homologatória ou no seu despacho, ordena o
cancelamento dos registos ou averbamentos que devam caducar.

•Se o interessado não restituir os bens móveis que recebeu, é executado, nos próprios autos,
para a sua entrega e para o pagamento dos rendimentos que deva restituir, prestando contas
como se fosse cabeça-de-casal.

•O mesmo sucede em relação aos rendimentos que o interessado deva restituir, ficando
obrigado a prestar contas como se fosse cabeça-de-casal.
17. Incidentes posteriores à sentença
homologatória
1) Emenda da partilha (artigo 1126º CPC).

2) Anulação da partilha (artigo 1127º CPC).

3) Composição do quinhão ao herdeiro preterido (artigo 1128º CPC).

4) Partilha adicional (artigo 1129º CPC).


17. Incidentes posteriores à sentença homologatória
17.1. Emenda da partilha (artigo 1126º CPC)
•A partilha pode ser emendada depois de a decisão homologatória da partilha ter transitado em
julgado ou depois de essa decisão ter sido proferida, mas antes do seu trânsito em julgado.

•A emenda visa uma retificação à partilha, à qual deve ser mantido ou conservada na medida do
possível dos atos a emendar.

•Tem por fundamento a existência de erro de facto na descrição ou qualificação dos bens ou
qualquer outro erro suscetível de viciar a vontade das partes (Exemplo: na relação de bens tem
um prédio omisso, mas afinal está registado).
17. Incidentes posteriores à sentença homologatória
17.1. Emenda da partilha (artigo 1126º CPC)
•A emenda da partilha pode ter lugar por um de dois meios: por acordo de todos os interessados ou, na falta de
acordo, na sequência da apresentação de requerimento no qual o interessado alega e demonstra os factos que a
justificam.

•Em qualquer dos casos, a emenda realiza-se no próprio PI.

•Na falta de acordo, tem de ser requerido no prazo máximo de 1 ano a contar do conhecimento do erro, tendo
este de ser posterior à decisão homologatória da partilha.

•À tramitação deste incidente processual aplica-se o regime geral dos incidentes da instância (artigo 1091º
CPC).
17. Incidentes posteriores à sentença homologatória
17.2. Anulação da partilha (artigo 1127º CPC)
•Para além dos casos em que é admitido o recurso extraordinário de revisão da
sentença (artigo 696º CPC), admite-se o pedido de anulação da partilha após o
trânsito em julgado da respetiva sentença homologatória, desde que cumpram os
pressupostos cumulativos do artigo 1127º nº 1 CPC.

•A anulação da partilha pode ser pedida independentemente do decurso de qualquer


prazo.
17. Incidentes posteriores à sentença homologatória
17.2. Anulação da partilha (artigo 1127º CPC)
•Pressupostos cumulativos:

1) Preterição (o interessado já o era no início do PI) ou falta de intervenção


(reconhecimento na pendência do PI) em algum dos co-herdeiros.

2) Que os outros interessados hajam procedido com dolo ou má-fé, seja quanto à
preterição, seja quanto ao modo como a partilha foi preparada (o dolo e a má-fé
significam essencialmente a consciência de causar prejuízo ao interessado que devia
intervir na partilha – artigo 253º CC).
17. Incidentes posteriores à sentença homologatória
17.2. Anulação da partilha (artigo 1127º CPC)
•O pedido de anulação constitui incidente do Processo de Inventário, ao qual se
aplicam as regras gerais dos incidentes da instância, onde o ónus da prova cabe ao
herdeiro que requereu a anulação (artigo 342º nº 1 CC).
17. Incidentes posteriores à sentença homologatória
17.3. Composição do quinhão ao herdeiro preterido
(artigo 1128º CPC)
• Quando não tenha sido verificado o dolo ou a má-fé ou se o herdeiro preterido preferir que o seu quinhão seja
composto por dinheiro, este pode requerer a conferência de interessados para determinar o montante do seu
quinhão.

• Se os interessados não chegarem a acordo, observam-se as regras do artigo 1128º nº 2 CPC.

• A organização do novo mapa da partilha deve ser homologado pelo juiz.

• Feita a composição do quinhão, o herdeiro pode requerer que os devedores sejam notificados para realizar
pagamento, sob pena de ficarem obrigados a compor-lhe em bens a parte respetiva, sem prejuízo das alienações
já efetuadas desses bens (num Pexec, já consegue penhorar o património pessoal do herdeiro).
17. Incidentes posteriores à sentença
homologatória
17.4. Partilha adicional (artigo 1129º CPC)
•Quando se reconheça, depois de feita a partilha, que houve omissão de alguns bens, procede-
se à partilha adicional no mesmo processo (não determina a nulidade da partilha – artigo
2122º CC).

•A partilha segue a tramitação do PI em geral, mas restrita à partilha dos bens omitidos.

•Situação oposta é se efetuar a partilha de bens que não pertenciam à herança do inventariado,
esta já é nula, sendo que o herdeiro que recebeu esses bens deve ser indemnizado em
dinheiro pelos co-herdeiros (artigo 2123º CC).
17. Incidentes posteriores à sentença
homologatória
17.4. Partilha adicional (artigo 1129º CPC)
•No inventário do cônjuge supérstite (quando os 2 cônjuges já faleceram) podem ser
descritos e partilhados os bens omitidos no inventário do cônjuge predefunto, quando
a omissão só venha a descobrir-se por ocasião daquele inventário.

•Se houver herdeiros do cônjuge predefunto que não sejam do cônjuge supérstite são
também chamados a intervir no inventário deste (ficando, porém, a sua intervenção
limitada aos atos relativos aos bens que integram a herança de que são beneficiários).
18. Responsabilidade pelas custas
(artigo 1130º CPC)
•A taxa de justiça e os encargos do inventário são pagos pelos herdeiros na proporção
do que tenham recebido, respondendo os legatários subsidiariamente.

•Se a herança for toda distribuída em legados, as custas são pagas pelos legatários na
mesma proporção.

•A taxa de justiça paga pelo requerente do inventário é considerada encargo.


18. Responsabilidade pelas custas
(artigo 1130º CPC)
•Às custas dos incidentes e dos recursos são aplicáveis, com as necessárias
adaptações, as regras sobre o valor da causa e sobre as custas e a taxa de justiça, bem
como as constantes do RCP.

•No caso de remessa do inventário proposto em cartório notarial para o tribunal


(Exemplo: artigos 12º Lei nº 117/2019, e 1083º nº 3 CPC), as custas são pagas ao
notário devem ser descontadas naquelas que sejam devidas pelo interessado.
Exercício 1
Exercício 2
Exercício 3
Exercício 4
Exercício 5
Exercício
6
Exercício
7
Exercício
8

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