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VII – PARTILHA DE

BENS EM CASOS
ESPECIAIS
Processo de Inventário
1. Partilha de bens em casos especiais
Casos especiais:

1) Inventário para partilha de bens em consequência da justificação de ausência.

2) Inventário em consequência de separação, divórcio, declaração de nulidade ou


anulação de casamento.

3) Separação de bens em casos especiais.


1. Partilha de bens em casos especiais
Estes inventários regulam-se pelas disposições que lhes são próprias e, em tudo o que
não estiver especificamente regulado, pelo regime definido para o inventário
destinado a fazer cessar a comunhão hereditária, com as devidas adaptações (artigo
1084º nº 2 CPC).
2. Inventário para partilha de bens em
consequência da justificação da ausência (artigos
1131º e 1132º CPC)
• Este inventário é subsequente e corre na dependência (artigos 206º nº 2 e 1083º nº 1 b) CPC) do processo especial
regulado nos artigos 881º e ss CPC, no qual tenha sido proferida decisão de justificação da ausência (artigos 883º nº 2
CPC, 99º e ss CC) ou de declaração de morte presumida (artigos 886º CPC, 114º e ss CC):

1) Justificação de ausência (artigo 99º CC): decorridos 2 anos sem se saber do ausente (se este não tiver deixado
representante legal nem procurador bastante) ou 5 anos (no caso contrário), pode o M.P. ou algum dos interessados
requerer a justificação da ausência.

2) Morte presumida (artigo 114º CC): decorridos 10 anos sobre a data das últimas notícias ou passados 5 anos se
entretanto o ausente houver completado 80 anos de idade, podem os interessados requerer a declaração de morte
presumida.
2. Inventário para partilha de bens em
consequência da justificação da ausência (artigos
1131º e 1132º CPC)
•Com base em tais pressupostos, cuida-se da curadoria definitiva e da entrega dos
bens do ausente.

•A entrega dos bens aos herdeiros do ausente à data das últimas notícias ou aos
herdeiros dos que depois tiverem falecido depende da realização da partilha (artigos
103º e 117º CC).
2. Inventário para partilha de bens em
consequência da justificação da ausência (artigos
1131º e 1132º CPC)
Justificação de ausência (artigo 1131º CPC):

• Para deferimento da curadoria e entrega dos bens do ausente devem ser citados e podem intervir o cônjuge não
separado de pessoas e bens, os herdeiros do ausente e todos os que tiverem sobre os bens do ausente direito
dependente da condição da sua morte (Exemplo: legatários e doadores com cláusula de reversão).

• No prazo de 30 dias a contar da citação, qualquer dos citados pode deduzir oposição quanto à data da ausência ou
das últimas notícias do ausente constante no processo, indicando a que considere exata.

• Quem se julgue com direito à entrega de bens, independentemente da partilha, pode requerer a sua entrega
imediata.
2. Inventário para partilha de bens em
consequência da justificação da ausência (artigos
1131º e 1132º CPC)
Justificação de ausência (artigo 1131º CPC):

• A decisão que ordena a entrega imediata dos bens nomeia os interessados curadores definitivos quanto a esses
bens.

• A decisão de inventário defere, a quem compete, a curadoria definitiva dos bens que não tenham sido entregues
imediatos.

• Quando seja exigida caução a algum curador definitivo e este não a preste, é ordenada a entrega dos bens a outro
curador.
2. Inventário para partilha de bens em
consequência da justificação da ausência (artigos
1131º e 1132º CPC)
Novos interessados (artigo 1132º CPC):

•A partilha e as entregas feitas podem ser alteradas no próprio processo, a requerimento de herdeiro ou
interessado que mostre dever excluir algum dos curadores nomeados ou concorrer com eles à sucessão,
relativamente à data das últimas notícias do ausente.

•Os curadores e os interessados são notificados do requerimento para responder.

•Na falta de resposta, é ordenada a emenda, deferindo-se a curadoria de harmonia com ela.

•Se houver oposição, a questão é decidida pelo juiz.


3. Inventário em consequência de separação,
divórcio, declaração de nulidade ou anulação do
casamento (artigo 1133º CPC)
Causas, além do óbito, que determinam a cessação das relações patrimoniais entre os cônjuges com
consequente realização da partilha do património comum do casal (artigos 1688º, 1788º, 1795º-A e
1770º CC):

1) Divórcio.

2) Declaração de nulidade ou anulação do casamento.

3) Separação de pessoas e bens.

4) Simples separação judicial de bens.


3. Inventário em consequência de separação,
divórcio, declaração de nulidade ou anulação do
casamento (artigo 1133º CPC)
•Este inventário tem como pressuposto a falta de acordos dos cônjuges quanto ao
modo de efetuar a partilha.

•Para que exista património comum é essencial que o regime de bens do casamento
seja de comunhão geral ou de adquiridos.

•Os cônjuges participam por metade do ativo e do passivo da comunhão, sendo nula
qualquer estipulação em sentido diverso (artigos 1730º nº 1 e 1734º CC).
3. Inventário em consequência de separação,
divórcio, declaração de nulidade ou anulação do
casamento (artigo 1133º CPC)
•A partilha por divórcio ou separação de pessoas e bens em que o regime de bens seja
o da comunhão geral de bens tem de respeitar o disposto no artigo 1790º CC ex vi
artigo 1694º CC (nenhum dos cônjuges pode na partilha receber mais do que
receberia se o casamento tivesse sido celebrado segundo o regime da comunhão de
adquiridos).
3. Inventário em consequência de separação,
divórcio, declaração de nulidade ou anulação do
casamento (artigo 1133º CPC)
•Simples separação judicial de bens: quando existe má administração dos bens por um
dos cônjuges, cessando as relações patrimoniais dos cônjuges, passando a serem casados
no regime de separação de bens (artigo 1767º CC).

•Separação ou divórcio por decisão judicial ou anulação do casamento


(necessariamente por via judicial): competência exclusiva do tribunal e corre por apenso
ao processo de separação, divórcio ou anulação (artigos 206º nº 2 e 1083º nº 1 b) CPC).
3. Inventário em consequência de separação,
divórcio, declaração de nulidade ou anulação do
casamento (artigo 1133º CPC)
•Divórcio ou separação por mútuo consentimento decretado na Conservatória do Registo
Civil ou posterior declaração de nulidade do casamento decretada pelos tribunais
eclesiásticos (artigo 1625º CC): não tem de ser proposto no tribunal (não é dependente de
outro processo judicial.

•Inventário judicial: competência material do Juízo de Família e Menores (artigo 122º nº 2


LOSJ), sendo competente territorialmente o tribunal do domicílio do requerido (artigo 80º nº
1 CPC ex vi artigo 549º CPC).
3. Inventário em consequência de separação,
divórcio, declaração de nulidade ou anulação do
casamento (artigo 1133º CPC)
•O processo inicia-se com a apresentação do requerimento inicial por qualquer dos
cônjuges (o M.P. pode requerer e tem intervenção principal no caso do artigo 1085º
nº 1 b) CPC).

•No caso de inventário que não corre por apenso, terá de ser apresentada certidão da
decisão que determina a cessação das relações patrimoniais ou certidão de casamento
que já contenha o averbamento dessa decisão.
3. Inventário em consequência de separação,
divórcio, declaração de nulidade ou anulação do
casamento (artigo 1133º CPC)
•Como cabeça-de-casal deve ser indicado o cônjuge mais velho, incumbindo apresentar a relação dos bens
comum, assim como a relação dos créditos e dívidas do património conjugal (artigo 1097º nº 3 c) e d) CPC
ex vi artigo 1084º nº 2 CPC).

•Tem legitimidade para intervir os cônjuges e credores do património comum.

•O inventário destina-se a partilhar e liquidar o património comum do casal (artigo 1689º CC), devendo ser
relacionados os bens comuns e as dívidas da responsabilidade de ambos os cônjuges (podem ser reclamados
créditos entre os cônjuges, inclusive os compensatórios previstos nos artigos 1676º e 1697º nº 1 CC).
3. Inventário em consequência de separação,
divórcio, declaração de nulidade ou anulação do
casamento (artigo 1133º CPC)
•Os créditos de cada um dos cônjuges sobre o outro são pagos pela meação do
cônjuge devedor no património comum, respondendo, subsidiariamente, os bens
próprios do cônjuge devedor (artigo 1689º nº 3 CC).

•Sempre que, por dívidas da exclusiva responsabilidade de um só dos cônjuges


tenham respondido bens comuns, é a respetiva importância levada a crédito do
património comum no momento da partilha (artigo 1697º nº 2 CC).
3. Inventário em consequência de separação,
divórcio, declaração de nulidade ou anulação do
casamento (artigo 1133º CPC)
•Se houver dinheiro comum do casal, pode este responder direitos remíveis de terceiro, descontando-se o
valor desses direitos pelo interessado a quem os bens couberem (artigos 2099º e 2100º CC ex vi artigo
1788º CC).

•Se o credor hipotecário, que não exige o pagamento imediato, não consentir expressamente na
transmissão da dívida, não fixa vinculado pela adjudicação do bem onerado a um dos cônjuges (artigo
595º nº 2 CC), continuando a beneficiar da responsabilidade solidária de ambos (mesmo que os cônjuges
acordem quanto à adjudicação do imóvel a um deles e a assunção de pagamento do passivo pelo mesmo).
3. Inventário em consequência de separação,
divórcio, declaração de nulidade ou anulação do
casamento (artigo 1133º CPC)
•O juiz pode determinar, sempre que o entenda conveniente, a remessa do processo para
mediação, aplicando-se o disposto no artigo 273º CPC (em paralelismo com o que resulta
dos artigos 1774º e 1794 CC para os processos de divórcio e de separação de pessoas e
bens).

•Responsabilidade pelas custas (artigo 1134º CPC): a taxa de justiça e os encargos inerentes
ao inventário são da responsabilidade de ambos os interessados, na proporção de metade por
cada um.
3. Inventário em consequência de separação,
divórcio, declaração de nulidade ou anulação do
casamento (artigo 1133º CPC)
Tramitação (ex vi artigo 1084º nº 2 CPC):

1) Requerimento (artigos 1097º e 1099º CPC).

2) Despacho liminar pelo juiz (artigo 1100º CPC).

3) Citações e possibilidade de impugnação, oposição e reclamação (artigo 1104º CPC).

4) Verificação do passivo (artigo 1106º CPC).

5) Conferência de interessados (artigos 1110º e ss CPC).

6) Os artigos 1127º e 1128º CPC aplica-se no caso em que um dos cônjuges já faleceu, sendo
inventário proposto por ou contra os herdeiros.
4. Separação de bens em casos
especiais (artigo 1135º CPC)
Casos especiais:

1) Casos de penhora de bens comuns do casal (artigos 740º a 742º CPC).

2) Insolvência de um dos cônjuges.

3) Quando respondem subsidiariamente a meação de bens comuns quando a dívida é


exclusiva de um dos cônjuges (artigo 1696º nº 1 CC).
4. Separação de bens em casos
especiais (artigo 1135º CPC)
Legitimidade para promover o Inventário e o seu andamento:

•Nos casos de penhora, o cônjuge do executado (artigos 740º nº 1, 741º nº 6 e 742º


CPC) ou credor exequente (artigo 1135º nº 2 CPC).

•Nos casos de Insolvência, o cônjuge do insolvente (artigo 141º nº 1 b) CIRE), qualquer


dos credores (artigo 1135º nº 2 CPC) e a separação pode ainda ser ordenada pelo juiz a
requerimento do Administrador de Insolvência (artigo 141º nº 1 b) e 3 CIRE).
4. Separação de bens em casos
especiais (artigo 1135º CPC)
•O Processo de Inventário corre por apenso ao Processo de Execução ou de
Insolvência, do qual constitui dependência (artigos 1083º nº 1 b) e 206º nº 2 CPC).

•A Execução / Insolvência fica suspensa até à partilha (artigos 740º nº 2 CPC e 17º
CIRE), onde os bens que na partilha couberem ao cônjuge executado ou insolvente
respondem pelos créditos reclamados, ficando salvaguardados na titularidade do
outro cônjuge os bens que lhe forem adjudicados.
4. Separação de bens em casos
especiais (artigo 1135º CPC)
•A este Inventário são aplicáveis, com as devidas adaptações, as normas do Inventário
para partilha de herança e do Inventário em consequência de separação, divórcio,
declaração de nulidade ou anulação do casamento, com as especificidades previstas
no artigo 1135º nº 2 a 8 CPC.

•O exequente / credor pode promover o Inventário e o seu andamento.


4. Separação de bens em casos
especiais (artigo 1135º CPC)
•Só podem ser aprovadas dívidas que estejam devidamente documentadas (diferente
do Processo do Inventário para cessar a comunhão hereditária, que apenas é
necessário o reconhecimento (artigo 1106º CPC)), para que não sejam prejudicados
os interesses dos credores (assim não são reclamadas dívidas inexistentes).

•O cônjuge do executado / insolvente pode escolher os bens com que deve ser
formada a sua meação.
4. Separação de bens em casos
especiais (artigo 1135º CPC)
•Se usar a faculdade, são os credores notificados da escolha, podendo reclamar
fundamentadamente contra ela (se acharem que estão mal avaliados os bens).

•Se o juiz julgar atendível a reclamação, ordena a avaliação dos bens que lhe pareçam mal
avaliados.

•Se a avaliação modificar o valor dos bens escolhidos pelo cônjuge do executado / insolvente, este
cônjuge pode declarar que desiste da escolha, caso em que as meações são adjudicadas por meio
de sorteio.
4. Separação de bens em casos
especiais (artigo 1135º CPC)
•As meações são igualmente adjudicadas por meio de sorteio se o cônjuge do executado
/ insolvente não tiver usado a faculdade de escolha dos bens que comporem a meação.

•O cabecelato pertence ao cônjuge mais velho (artigo 1133º nº 2 CPC ex vi artigo


1135º nº 1 2ª parte CPC).

•Na hipótese de o cônjuge mais velho ser o insolvente, é o Administrador de Insolvência


que exerce esse cargo (artigo 81º nº 1 CIRE).
EXERCÍCIO 1

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