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DTO.

DAS SUCESSÕES E
PROCESSO DE INVENTÁRIO
Prof. Nuno Mendes Claro

IPL - ESTG
Solicitadoria 2.º ano – 2.º semestre
Dto. das Sucessões e Processo de Inventário

SUCESSÃO

Etimologicamente
Juridicamente
Deriva do latim successio, que
Substituição ou subingresso de uma
deriva por sua vez do verbo
pessoa em determinada posição que
sucedere (tomar o lugar de, vir
outra ocupava, posição que se
depois de, vir em seguida
mantém à mesma apesar da
mdificação subjetiva operada

Sucessão ≠ Aquisição originária –--> o dto. que se adquire não depende da existência ou extensão de um
dto. anterior que pode não existir, ou, existindo, o dto. não se adquiriu por causa do titular anterior mas
apesar dele (ex.: arts. 1287.º e ss. – usucapião; arts. 1318.º e ss. – ocupação)

Sucessão ≠ Aquisição derivada constitutiva ---> o dto. que se adquire funda-se num dto. mais amplo do
anterior titular, limitando-se este (ex.: art. 1439.º CC – constituição do usufruto; dto. legal de preferência;
dto. legal de servidão de passagem; hipoteca)

Sucessão ≠ Aquisição derivada restituiva ---> o titular do dto. limitado vê regressar a si a titularidade
dos poderes que o seu dto. lhe confira (ex.: art. 1476.º/1 – extinção do usufruto; art. 1569.º/1/d) – extinção
das servidões)
NOTA: na aquisição derivada translativa adquire-se e transmite-se, por transferência, um dto. já
constituído e preexistente na titularidade de outra pessoa, dto. que mantém a sua identidade apesar da
mudança de sujeito.
Para que se aplique o regime jurídico das sucessões mortis causa, é necessário que:
1. Ocorra o fenómeno da morte susceptível de repercussões jurídicas nas relações jurídicas a regular
2. Que a morte seja a causa (ou a concausa) para que no âmbito do legislador ou do autor da sucessão,
se opere post mortem uma devolução de bens ou uma mudança na titularidade de dtos. e deveres
sobre tais bens (isto porque há situações diferencuadas, por ex.: a venda com reserva da
propriedade vitalícia)
Espécies de sucessão mortis causa

Sucessão legítima
Art. 2131.º e ss. CC

Sucessão legal
Art. 2027.º CC
Sucessão legitimária
Art. 2156.º e ss. CC
Critério das fontes da
vocação sucessória
Art. 2026.º CC Sucessão contratual
Art. 2028.º CC

Sucessão voluntária

Sucessão testamentária
Art. 2179.º CC

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Dto. das Sucessões e Processo de Inventário

SUCESSÃO LEGÍTIMA
Resulta da leitura dos arts. 2026.º, 2027.º, 2131.º e ss. que a sucessão legítima decorre de
disposições legais supletivas, respeitante à quota disponível do autor da sucessão ou a toda a herança,
caso não haja lugar à sucessão legitimária, mas só tendo lugar quando o de cuius não exerceu o seu poder
de disposição mortis causa por testamento ou por doação, nos casos em que esta excepcionalmente é
admitida.
Entenda-se por quota disponível como a porção de bens em que o autor da sucessão pode dispor e
que é a quota restante, no caso de ter herdeiros legitimários, ou que é toda a herança, no caso de os não
haver.

Quota 1. Sucessão contratual


Sucessão Quota
legitimária indisponível 2. Sucessão testamentária
disponível
3. Sucessão legítima

SUCESSÃO LEGITIMÁRIA
Resulta dos arts. 2026.º, 2027.º e 2156.º e ss. que a sucessão legitimária é aquela que nãoo pode
ser afastada pela vontade do de cuis e que respeita à porção de bens de que o autor da sucessão não pode
dispor por ser legalmente destinada aos herdeiros legitimários. Está-se, pois, perante a quota indisponível,
também designada por legítima (≠ sucessão legítima)

Q.I – 60.000€ Q.D – 30.000€ 1/3


Sucessão Sucessão 2/3
Quota Quota
legitimária legítima
indisponível disponível
B 20.000€ 10.000€ 30.000€
C 20.000€ 10.000€ 30.000€ 60.000€ 30.000€
D 20.000€ 10.000€ 30.000€

A B

C D

SUCESSÃO CONTRATUAL
Regra geral, é proibida e nula, por 2 razões:
1. Pretende-se que o autor da sucessão conserve até ao fim da sua vida e liberdade de diposição por
morte dos seus bens
2. Por motivos éticos de respeito pelo autor da sucessão.
Contudo, existem casos excepcionais em que as doações por morte são admitidas, estando esses
casos ligados ao casamento e, direta ou indiretamente, à ideia de o favorecer – favor matrimonii.
São 3 os tipos de contratos sucessórios admitidos:
• A favor dos noivos por um terceiro
• Os noivos doarem entre si
• Os noivos doarem a terceiro (arts. 1700.º/1/b) e 1705.º)
SUCESSÃO TESTAMENTÁRIA
Pode ter lugar relativamente à quota disponível do autor da sucessão, sempre que haja herdeiros
legitimários, e a toda a herança, caso os não haja, desde que, em ambos os casos, não incide sobre o
objeto de doações mortis causa, nos casos em que são admitidas.

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Dto. das Sucessões e Processo de Inventário

Características:
1) Carácter unilateral – produz os seus efeitos mediante apenas uma declaração de vontade
2) Carácter revogável
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Hierarquia:
1. Sucessão Legitimária
2. Sucessão Contratual
3. Sucessão Testamentária
4. Sucessão Legítima
Quando alguém dispõe sobre os mesmos bens do testamento, o contrato revoga aquele
independentemente de ter sido feito num momento anterior ou posterior ao do testamento, pelo que se
revoga este. Isto sucede por força do art. 406.º (pacta sunt servanda) e em virtude de o testamento,
segundo o previsto no art. 2179.º, ser unilateralmente revogável, ao contrário do que acontece com um
contrato.
Refira-se, em tom conclusivo, que podem coexistir diversas espécies de sucessão, ou seja, podem ser
chamados à sucessão diversas pessoas cada uma por título diferente, assim como a vocação de uma mesma
pessoa pode operar-se por vários títulos.
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Caso prático 1:
1. Suponha que A, casado com B, faleceu no início do mês, sobrevivendo-lhe o ônjuge B e os filhos
C e D.
2/3 1/3
A herança de A é de 90.000€ Quota Quota
Arts. 2156.º, 2157.º, 2159.º/1 – 2/3 da herança indisponível disponível
60.000€ 30.000€
Q.I – 60.000€ Q.D – 30.000€
Sucessão Sucessão
legitimária legítima
B 20.000€ 10.000€ 30.000€ Art. 2133.º/1/a) --> 2139.º/1
C 20.000€ 10.000€ 30.000€
D 20.000€ 10.000€ 30.000€

2. Suponha agora que A fez testamento em que deixa metade da sua quota disponível a um primo
X.
Arts. 2179.º e ss.

Q.I Q.D
B 20.000 ------------- 5.000 25.000
C 20.000 -------------- 5.000 25.000
D 20.000 --------------- 5.000 25.000
X -------------- 15.000 -------------- 15.000

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Dto. das Sucessões e Processo de Inventário

3. Suponha que A deixou toda a quota disponível ao primo X

Q.I Q.D
B 20.000 ------------- --------------- 20.000
C 20.000 -------------- --------------- 20.000
D 20.000 --------------- --------------- 20.000
X -------------- 30.000 30.000

4. Suponha que os filhos são afinal C, D, K e Y


Ora a herança teria de ser divisível por 5, pela mulher e os 4 filhos. Contudo o código diz-nos que o cônjuge
tem de ter pelo menos ¼ da herança.
2139.º in fine
60.000/4 = 15.000€ - o que o cônjuge vai receber da Q.I
60.000 - 15.000 = 45.000€
45.000/4 = 11.250€ - o que cada um dos filhos vai receber da Q.I
30.000/4 = 7.500€ - o que o cônjuge vai receber da Q.D
30.000 – 7.500 = 22.500€
22.500/4 = 5.625€ - o que cada um dos filhos vai receber da Q.D

Q.I Q.D
B 15.000 7.500 22.500
C 11.250 5.625 16.875
D 11.250 5.625 16.875
K 11.250 5.625 16.875
Y 11.250 5.625 16.875

Caso prático 2:
Imagine A, divorciado de X, do qual têm um filho C. A casou-se depois com B do qual resultaram os
filhos D, E e F. A e B faleceram. A herança deixada foi de 50.000€. Proceda à divisão.
Art. 2131.º, 2133.º/1/c), 2145.º e ss.
Irmão germanos – D e F – têm direito a 2/5 da herança
Irmãos consaguíneos – E – tem direito a 1/5 da herança
Segundo o art. 2146.º, por cada parte que C recebe, D e F recebem o dobro.
50.000€ - 20.000€ para o D
20.000€ para o F
10.000€ para o C

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Critério do objeto da sucessão (art. 2030.º)

Sucessão universal Sucessão singular


(ou em forma de herança) (ou em forma de legado)
• Herdeiros legitimários • Legatários contratuais
Art. 2157.º Art. 1700.º/1/a) e b)
• Herdeiros contratuais • Legatários testamentários (+ comuns)
Art. 1700.º Arts. 2179.º e 2249.º e ss.
• Herdeiros testamentários • Legado legal
Art. 2179.º/1 Art. 2103.º-A
• Herdeiros legítimos
Art. 2133.º/1

HERDEIRO ≠ LEGATÁRIO

O que sucede na totalidade Sucede em bens ou valores


ou numa quota do objeto da determinados
sucessão

Importância da distinção:
1) Responsabilidade pelos encargos da herança
Apenas os herdeiros respondem pelas dívidas da herança, tal o articulado no art. 2068.º (ver
também o art. 2071.º)
No que respeita aos legatários, estes, em princípio, não responderão pelos encargos da
herança.
Mas, no caso de a herança ser toda atribuída em legados, rege o art. 2277.º
NOTA: caso especial – o usufrutuário – apesar do art. 2030.º/4, há que atentar ao art. 2072.º
2) Em matéria de partilha de herança
Apenas os herdeiros podem exigir a partilha, por aplicação do art. 2101.º/1.
Já os legatários não podem exigir a partilha judicial ou extrajudicial, uma vez que sucedem em
bens certos e determinados e têm tão-somente que receber esses mesmos bens.
Ver arts. 1327.º/1/a) e n.º2; 1340.º/2/b); 1388.º; 1389.º CPC
3) Em matéria da aponibilidade de termo (ver art. 278.º)
De acordo com o art. 2243.º/2, não é possível instituir um herdeiro a termo, quer suspensivo
(termo quanto ao começo), quer resolutivo (termo quanto à cessação dos efeitos), uma vez que os
herdeiros ou o são sempre ou nunca o são.
Porém, o autor da sucessão pode nomear um legatário a termo inicial (art. 2243.º/1) e pode
também, embora excepcionalmente, nomear um legatário sujeito a um termo final (art. 2243.º/2)
4) Em matéria de direito de acrescer
Há direito de acrescer, em geral, quando, nos termos dos arts. 2137.º/2, 2301.º e 2302.º,
sendo chamados vários sucessíveis, um deles não queira ou não possa aceitar a sucessão pelo que
o objeto sucessório acresce a outros sucessíveis.
Os herdeiros têm um direito de acrescer bastante amplo: art. 2137.º/2 e art. 2301.º/1.
No concernente aos legatários, estes só têm direito de acrescer relativamente à coisa que é
objeto do próprio legado (art. 2032.º/1).
Ver também o art. 2034.º que nos indica os casos em que o direito de acrescer não tem lugar

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Dto. das Sucessões e Processo de Inventário

5) Direito de preferência na venda do objeto sucessório a terceiros (v. Arts. 416.º, 418.º e 1409.º e
ss.)
Quando haja vários herdeiros e um deles pretenda vender ou dar em cumprimento o seu
quinhão hereditário a terceiro e um deles pretenda vender ou dar em cumprimento de preferir, nos
termos do extrapolado no art. 2130.º/1. Contudo, tal direito não pode ser exercido no que respeita
à venda ou doação em cumprimento de legados.
Já os legitimários, para além de não poderem preferir na venda ou doação em cumprimento
do quinhão hereditário, também não poderão fazê-lo relativamente à venda ou doação em
cumprimento de outros objetos de legados.
6) Outros efeitos
• Quanto à sonegação de bens (art. 2096.º)
(Sonegar = ocultar; atividade ilícita)
• Quanto aos dtos. de personalidade de pessoa falecida e sua proteção (art. 71.º/2)
• Quanto à ordem da redução das liberdades (art. 2171.º)
Formas de habitação como sucessor
1) Habilitação notarial (arts. 80.º e ss. do Cód. Notariado) – consiste numa escritura pública que é
feita pelo notário a pedido do cabeça de casal que deve indicar a data da morte, quais os bens e
quem são os herdeiros
2) Habilitação judicial – é feita no próprio processo
• Processo Comum de Declaração (de simples apreciação)
Quando haja litígios entre pretensos sucessores acerca da efetiva qualidade de sucessor de
certa pessoa, poderá pedir-se que se declare a existência ou inexistência da qualidade de
herdeiro ou legatário através deste processo comum de declração (arts. 460.º e ss. e 467.º
e ss. CPC).
• Processo de inventário (arts. 1331.º, 1332.º e 1343.º CPC)
O art. 1343.º CPC diz-nos que os interessados diretos na partilha ou o MP podem indicar
outros sucessores, para além dos referidos pelo cabeça de casal.
Porém, admite-se nos termos do art. 1331.º CPC que qualquer interessado possa intervir no
inventário, deduzindo o respeito incidente.
Por seu turno, o art. 1332.º CPC, vem referir que se faecer algum dos interessados diretos
na partilha, a habilitação dos sucessores deve ser promovida pelo cabeça de casal ou pelos
próprios sucessores.
• Incidente Processual de Habilitação de Sucessores (arts. 371.º e ss. CPC)
No caso de acções pendentes e de uma das partes falecer, o art. 371.º CPC permite a
“habilitação dos sucessores da parte falecida na pendência da causa, para com eles
prosseguirem os termos da demanda”.
De referir que o incidente decorre com a instância principal suspensa, nos termos do art.
276.º/1/c) CPC.
A sucessão das pessoas coletivas
Sucessão das Pessoas Coletivas e Sucessão mortis causa
O art. 2024.o diz-nos que a sucessão é “o chamamento de uma ou mais pessoas”, não distinguindo
entre pessoas singulares e pessoas colectivas, pelo que se depreende que as pessoas colectivas podem ser
chamadas à sucessão nos bens de pessoas singulares falecidas.
Apesar de na sucessão legitimária não haver lugar ao chamamento de pessoas colectivas (art.
2157.º, ad contrario), a sucessão legítima, no seu art. 2133.º, n.o 1/e, prevê a chamada do Estado. Além
disso, o art. 2033.º, n.º 2/b estipula que “na sucessão testamentária ou contratual têm ainda capacidade:
as pessoas colectivas e as sociedades”.
Nas doações mortis causa, é mais rara a vocação de pessoas colectivas. Pode, contudo, suceder que
um ou ambos os esposados na convenção antenupcial, nos termos do art. 1700.º, n.o 1/b, instituam
herdeira ou nomeiem legatária uma pessoa colectiva, com a aceitação desta.

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Dto. das Sucessões e Processo de Inventário

Sucessão nos bens das pessoas coletivas


As pessoas colectivas não podem dar de herdação visto não morrerem. De facto, elas extinguem-
se: art. 182.º, relativamente às associações que não tenham por fim o lucro económico dos associados, e
art. 192.º, quanto às fundações de interesse social (ver também art. 166.º).
Já as sociedades liquidam-se: ver arts. 130.º e ss, 141.º e 142.º CSC e art. 1122.º CPC.
Tipologia dos sistemas sucessórios e conexões fundamentais do direito
Sistema individual/capitalista – Propriedade

→ Os bens sucessíveis são, em princípio, todos os de apropriação privada


→ Os poderes de disposição testamentários mantê-se intocados
→ A sucessão testamentária prevalece plenamente sobre a sucessão legítima
Sistema Familiar – Família

→ A sucessão legitimária tem autonomia substancial face à sucessão legítima e, sobretudo, face à
sucessão testamentária
Sistema Socialista – Estado

→ Equiparação dos parentes (filhos) nascidos fora do casamento aos nascidos dentro do casamento
→ Valorização da posição sucessõria do cônjuge sobrevivo
→ Encurtamento do leque sucessório legítimo, na linha colateral, até ao 4.º grau
Princípios constitucionais do dto. sucessório português:
- direito à transmissão por morte dos bens de propriedade privada (art. 62.º, n.º1)
- Princípio da Sucessão Familiar (art. 67.º, n.º 1)
- Princípio da Liberdade Testamentária (art. 62.º)
- Princípio da Igualdade do Parentesco (art. 36.º, n.º 4)
Momentos do Fenómeno Sucessório
Momentos essenciais:

→ Abertura da sucessão (art. 2031.º)


→ Vocação sucessória/chamamento (art. 2032.º)
→ Aquisição sucessória
Mas, podem ainda existir momentos eventuais:

→ petição da herança (arts. 2075.º e ss) poder atribuído aos herdeiros de, perante terceiros, pedirem
os bens que se encontram na posse destes
→ alienação da herança (arts. 2124.º e ss)
→ administração da herança (arts. 2079.º e ss) enquanto não houver partilhas, fica a cargo do cabeça-
de-casal
→ liquidação da herança (art. 2097.º)
→ partilha (arts. 2101.º e ss) se houver um único herdeiro apenas, a partilha é um momento eventual
Abertura da Sucessão
A morte como pressuposto
Nos termos dos arts. 2031.o, a morte é pressuposto e momento inicial do fenómeno sucessório.
A questão que se coloca é a de saber de que morte se trata, isto é, para estes efeitos, o que se deverá
entender por morte. Pois, nos termos do art. 68.º, n.º 1, estamos a falar de morte natural ou física.

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Morte física - facto jurídico (todo o acto ou acontecimento natural juridicamente relevante) involuntário,
na medida em que resulta de causas de ordem natural ou em que a sua eventual voluntariedade não tem
relevância jurídica (pelo menos no que toca aos efeitos próprios da morte em matéria sucessória)
NOTA: embora o acto homicida voluntário (suicídio) deva ser qualificado como acto jurídico por
desencadear consequências jurídicas que atendem a essa voluntariedade, nomeadamente indignidade
sucessória (art. 2034.º/a), já como tal não deve ser considerado o facto jurídico da morte que foi efeito
de tal acto homicida
A morte é um facto...
... constitutivo de novas relações jurídicas (ex.: dto. ao pagamento de seguro de vida)
... modificativo das relações jurídicas do falecido (ex.: devolução sucessória dos bens)
... extintivo de relações jurídicas do falecido (ex.: as relações jurídicas que, nos termos do art. 2025.º,
se extinguem por morte do titular) e da sua própria personalidade jurídica (art. 68.º/1).
NOTAS:

→ ver o art. 2.º da Lei n.º 141/99, de 28 de agosto, que nos vem dizer que a morte corresponde à
cessação irreversível das funções do tronco cerebral” – morte cerebral”
→ a morte presumida também tem efeitos sucessórios (ver arts, 114.º e ss.)
Face às importantes consequências jurídicas do facto da morte, o direito interessa-se pelo facto em si
mesmo da morte, determinando o seu registo obrigatório (arts. 1.º/2 e 192.º e ss. do CRC). Assim, e de
acordo com os arts. 3.º e 4.º do mesmo diploma, a morte não pode ser invocada pelos herdeiros do de
cuius ou por terceiros enquanto não for lavrado o respetivo registo.
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Caso prático 2:
A e B têm, cada um, uma herança no valor de 1.500€. A deixou aos pais C e D e era casado com X,
mãe de B.
C D
(1500€)A X
B (1500€)
1.ª hipótese – pré-morte de B
Os herdeiros de A, tendo B morrido primeiramente, são C, D e X, nos termos do arts. 2133.º/1/b) e
2142.º/1. Este predito artigo vem-nos dizer que 2/3 da herança de A (1000€) são pertença de X, ao passo
que 500€ pertencem a C e D, quantia esta correspondente a 1/3 da herança do de cuius.
Ao momento da morte de B, os seus herdeiros seriam, segundo o art. 2142.º/2, A, que sucederia
em ½ (750€), e X, que sucederia, igualmente, em ½ (750€), segundo as regras dos arts. 2135.º e 2136.º.
isto significa que depois de os 750€ em que A sucederia terem entrado na sua esfera jurídica, visto ele,
logo de seguida, ter falecido, os mesmos seriam distribuídos nas mesmas proporções e segundo as mesmas
regras indicadas anteriormente. Assim, pelo art. 2058.º, C e D teriam ainda direito a 250€ e X a 500€.
Concluindo, no total C e D ficariam herdeiros de 750€ da herança, enquanto que X herdou 2250€.
NOTA: existem regras a seguir da classe de sucessíveis (art. 2133.º), preferência de graus de parentesco
(art. 2135.º) e sucessão por cabeça (art. 2136.º).

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2.ª hipótese – pré-morte de A


Morrendo primeiramente A e tendo-lhe sobrevivido, quanto mais não seja por escassos segundos,
B, os seus herdeiros seriam C, D, X e B. Contudo, X e B afastariam os dois primeiros em virtude de
preferirem àqueles. Isto significa que os 1.500€ de A seriam repartidos por X e por B, segundo as regras do
art. 2139.º. Deste modo, X teria direito a 1/2 (750€) e B teria, também ele, direito a 1/2 (750€), pelos
arts. 2139.º, n.º 1 e 2135.º. Tendo B falecido posteriormente, importa saber qual o destino da sua herança.

Conclui-se que toda a sua herança reverterá para X, que herda o total de 3.000€.

NOTA: apesar de C e D serem também herdeiros de B, porque são seus ascendentes, eles não herdam por
aplicação da regra da preferência de grau de parentesco, prevista no art. 2135.º
3.ª hipótese – comoriência
Tendo morrido A e B ao mesmo tempo, nem A herda de B, e vice-versa (ver art. 68.º/2).
Os herdeiros de A serão, segundo os arts. 2133.º/1/b) e 2142.º/1, C e D em 1/3 (500€) e X em 2/3 (1000€).
Por seu turno, o herdeiro de B será, única e exclusivamente, X que herdará os 1500€ (arts. 2133.º/1/a) e
2135.º).
Assim sendo, C e D herdarão, no total, 500€, e X herdará, no total, 2500€.
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Caso prático 3:
A testa a favor de B. Acontece que mrrem os dois num mesmo acidente. Refira-se, além do
mais, que não são parentes e que B era casado com X, tendo deixado um descendente, seu filho, C.
1.ª hipótese – pré-morte de A
Por força do art. 2058.º, o direito, tendo entrado na esfera jurídica de B e tendo este, logo de
seguida, morrido, transmite-se aos seus herdeiros.
2.ª hipótese – pré-morte de B
À partida, e segundo o art. 2317.º/a), o testamento caduca. Contudo, é feita uma excepção: “salvo
se havendo representação sucessória”. Assim, isto conduz-nos ao art. 2041.º assim como ao art. 2039.º, o
que significa que C é representante de B.
Se, por ora, B não tivesse deixado quaisquer descendentes, X nunca poderia ser representante
sucessório de B, por aplicação dos artigos supra mencionados.
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A abertura da sucessão
É o início jurídico do processo complexo tendente à devolução sucessória das relações jurídicas
trasmissíveis do de cuius.
Tem como causas determinantes a morte do seu autor e a existência efetiva de relações jurídicas
transmissíveis sucessoriamente (com a existência de um mínimo).
Momento da abertura da sucessão:
O momento da abertura da sucessão é o da morte – art. 2031.º
A importância da fixação do momento é que dele dependem consequências jurídicas importantes:
1) a vocação sucessória/chamamento, tem lugar no momento da abertura da sucessão – art. 2032.º/1

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2) todos os pressupostos da vocação são aferidos nesse momento (prevalência da designação


sucessória; existência ou personalidade jurídica do chamado; capacidade sucessória)
3) a verificação da retroatividade, na aceitação da herança – art. 2050.º/1 + 2249.º
4) igual verificação nos casos de repúdio – art. 2062.º + 2249.º
5) retroatividade da partilha – art. 2119.º
6) quanto à proibição dos pactos sucessórios (ou seja, após a abertura já é possível alienar, repudiar,
etc.) – arts. 2124.º ss. + 2249.º ss
7) quanto ao valor dos bens para cálculo da legítima – art. 2162.º
8) quanto ao valor dos bens doados, para efeitos de colação – art. 2109.º/1
Lugar da abertura da sucessão
Nos termos do art. 2031.º, 2.ª parte, o lugar da abertura da sucessão é o lugar do último domicílio
do autor da sucessão (ver arts. 82.º e ss.). É portanto, diferente do lugar da morte.
Importância da sua fixação:
1) competência territorial dos Tribunais nos processos de inventário e habilitação judicial – art. 77.º/1
CPC
2) competência para o processo cominatório de aceitação ou repúdio da herança – art. 2049.º + 1467.º
CPC
3) lugar da entrega do legado de coisa genérica ou dinheiro – art. 2270.º
4) liquidação (se aplicável) do IMSISD (art. 58.º) ou do Imposto de Selo, ou seja, na Repartição de
Finanças do Concelho ou Bairro Fiscal do domicílio do de cuius
Vocação Sucessória
Vocação Sucessória – é o chamamento de herdeiros ou legatários (feito pela Lei ou pelo de cuius) à
titularidade das relações jurídicas transmissíeis do falecido, no momento da morte.


Designação Sucessória – é a indicação de um sucessível feita antes da morte do de cuius, feita pela própria
Lei ou por um negócio jurídico praticado de harmonia com ela (testamento; doações mortis causa).
Hierarquia das designações sucessórias:
1. Herdeiros Legitimários - arts. 2157.º + 2133.º
2. Herdeiros ou Legatários contratuais – arts. 1701.º + 1705.º/3 + 1759.º/3 + 2311.º + 2313.º
3. Herdeiros ou Legatários testamentários
4. Herdeiros Legítimos – art. 2132.º + 2133.º
Tendo em conta esta hierarquia,a s questões que se colocam são: terá designado, em vida do autor da
sucessão, um direito subjetivo aos bens (sobre os bens hereditários)? Ou terá uma expectativa jurídica de
os vir a receber? Ou terá uma expectativa não jurídica (de facto), uma simples esperança, de que os bens,
um dia, serão seus?
Depende...
... na sucessão testamentária e legítima – expectativa não jurídica, simples esperança (ver art. 104.º que
respeita à curadoria definitiva e que nos surge como uma excepção neste tipo de sucessões
... na sucessão legitimária – expectativa jurídica (ver art. 242.º)
... na sucessão contratual – direito subjetivo
Conteúdo da Vocação Sucessória:
1. Direito de aceitar ou repudiar a herança (ou legado) – arts. 2050.º ss. + 2062.º ss. + 2249.º

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Dto. das Sucessões e Processo de Inventário

Atender à doutrina da aquisição mediante aceitação (≠ ipso iure). De facto, se as pessoas


quiserem aceitar a herança têm que o fazer de forma expressa ou tácita, segundo articula o art.
2056.º/1.
2. Poderes de administração – arts. 2047.º/1 + 2056.º
A pessoa chamada à herança pode, desde logo, começar a administrá-la, por forma a manter
a herança, conservar os bens.
Isto pode ser feito provisoriamente, mesmo antes da aceitação. Não é pelo facto de se
administrar a herança que significa que está a aceitá-la tacitamente.
3. Poder de requerer (como interessado na herança) a nomeaçãoo de curador à herança jacente
– arts. 2048.º/1 e 2 + 89.º ss. + 94.º
4. Direito à informação e à apresentação de coisas ou documentos – arts. 573.º ss. + 1476.º ss. CPC
Trata-se de o direito de pedir à contraparte a apresentação de documentos ou coisas que se
encontram na sua posse.
Objeto da Devolução Sucessória:
Quais os direitos hereditáveis e quais os inereditáveis?
O princípio geral vem consagrado no art. 2025.º. Ora, através da leitura deste preceito concluímos
que existem três fontes de inereditabilidade (ou intransmissibilidade sucessória):
1) Inereditabilidade natural – a que resulta da extinção de direito em razão da sua própria natureza,
por morte do respetivo titular (visam-se os direitos pessoais)
Ex.: dtos. de personalidade, relações de maternidade e paternidade, deveres conjugais, poder
paternal
2) Inereditabilidade legal – a que resulta diretamente de uma imposição legal
Ex.: usufruto (art. 1476.º), direito de uso e habitação (arts. 1485.º e 1490.º), direito de preferência
convencional (art. 420.º), renda vitalícia (art. 1238.º), divórcio (art. 2133.º, n.º 3) obrigação de
alimentos (art. 2013.º, n.º 1/a, mas vide art. 2018.º que respeita ao apanágio), cabeçalato
(administração da herança pelo cabeça-de-casal – art. 2095.º), testamentaria (arts. 2320.º e ss, em
especial o art. 2334.º)
3) Inereditabilidade negocial – a que resulta da vontade do autor da sucessão, a quem é permitido
dispor que determinados direitos de que era titular venham a extinguir-se à sua morte, o que
pressupõe, antes de mais, a renunciabilidade dos direitos
Ex.: renúncia por testamento do direito de servidão (art. 159.º/1/d))
Mas no âmbito da sucessão não se basta com as relações jurídicas do de cuius, pelo que a lei estabelece
certos desvios:
1. Direitos constituídos ex novo
Ex.: - instituição testamentária de usufruto (arts. 2030.º/4, 2072.º e 2258.º)
- legado de alimentos ou legado de pensão (art. 2073.º)
- constituição de novos direitos de crédito sobre o herdeiro (art. 2251.º/2)
- direitos dos sucessores aos bens previstos no art. 2069.º
2. Situações que a lei liga à sucessão mas que não constituíam relações jurídicas do falecido
Ex.: despesas com o funeral, etc. (art. 2068.º)
3. Regimes especiais para certos casos de aquisição por morte
Ex.: - aquisição do valor do seguro de vida do de cuius pelo beneficiário
- transmissão por morte do direito ao arrendamento (art. 57.º NRAU e art. 23.º RAR)
Ora, posto isto, o problema específico da hereditibilidade que se levanta respeita ao Direito de
Indemnização. Como tal, há que atentar nos arts. 483.º, 562.º e 566.º.
Por danos diferentes da morte? (ex.: destruição de 1 muro, no valor de 50.000€. O dono do muro morre
uns dias depois)
a) Por danos patrimoniais (art. 2024.º) – são os normais herdeiros a receber

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Dto. das Sucessões e Processo de Inventário

b) Por danos não patrimoniais (arts. 496.º/1 e 3; 566.º) – é igualmente, admitida a hereditabildade
do direito de indemnização destes danos visto serem susceptíveis de compensação.

Por lesão de que proveio a morte?


a) Danos patrimoniais ou não patrimoniais sofridos diretamente por certos terceiros que não o lesado
(art. 495.º)
Ex.: indemnização por alimentos perdidos prestados pelo lesado
b) Danos patrimoniais ou não patrimonais sofridos pelo lesado – aplica-se o regime geral respeitante
aos danos patrimonais
As dúvidas colocam-se quanto aos danos não patrimoniais. Mas porque é que esta questão
levanta tantas dúvidas? Porque há quem considere que indemnizáveis são apenas os danos não
patrimoniais sofridos entre o momento da agressão e o da morte (ex.: dores, sofrimento, medo da
morte, etc.)
Ora, tal situação significaria que o “dano da perda da vida em si mesmo” não seria
indemnizável e que em caso de morte instantânea, não haveria lugar a indemnização por danos não
patrimoniais.
Todavia, é predominante a doutrina e a jurisprudência que consideram indemnizável o “dano
não patrimonial da perda da vida” pois se assim não fosse tal situação constituiria um benefício aos
lesantes mais eficazes.
Admitida a possibilidade, quem serão os titulares ativos desse direito de indemnização?
1.ª posição: tais dtos. caberiam ao de cuius e depois transmitir-se-iam, sucessoriamente, aos herdeiros
legais (arts. 2133.º e 2157.º) ou testamentários (art. 2179.º)
2.ª posição: tais dtos., após terem cabido ao de cuius, transmitir-se-iam sucessoriamente às pessoas
mencionadas no art. 496.º/2
3.ª posição: tais dtos. são adquiridos, direta e originariamente, pelas pessoas indicadas no art. 496.º/2,
não havendo, portanto, transmissão sucessória. Assim sendo, conclui-se que se está perante um dto.
próprio (iure proprio ≠ iure hereditatis)
A opção por alguma destas posições é relevante? Sim, porque:

→ Os dtos. de indemnização em causa respondem pelos encargos da herança (arts. 2068.º a 2071.º)
→ Diferente titularidade do dto.
Qual é, então, o critério?
Teremos que recorrer ao art. 496.º/2 e perceber que tipos de danos se querem indemnizar.
Posteriormente, teremos que atender aos seguintes argumentos:

→ Histórico – a redação do art. 496.º/2 é a originária (e, como tal, data de 1996), ao invés do art.
2133.º que data de 1977
→ Letra da lei – “onde a lei não faz distinção, o intérprete não deve fazer”. Assim, se o art. 496.º/2
fala apenas em danos não patrimoniais abrange ambas as situações (danos sofridos pela vítima da
morte e os danos sofridos pelas pessoas com direito a indemnização, nos termos do art. 496.º/2)
pois não faz restrições.
→ Espírito da norma
Conclusão: os herdeiros da indemnização são os do art. 496.º/2 por dto. próprio e não por dto. sucessório,
o que significa que o direito de indemnização pelo dano da morte não deve responder pelos encargos da
herança.
Pressupostos da Vocação Sucessória
- art. 2032.º

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Dto. das Sucessões e Processo de Inventário

Titularidade da designação sucessória prevalecente (ex.: os filhos prevalecem aos netos, os pais
aos avós, etc.) uma vez que não são chamados todos os designados como sucessíveis mas apenas aqueles
que gozam de “prioridade na hierarquia dos sucessíveis”.
Existência do chamado (existência ≠ personalidade)

→ Nascituros concebidos – esta vocação sucessória fica dependente da condição legal suspensiva do
seu nascimento (art. 66.º/2)
→ Não concebidos (concepturos) – só é admissível na sucessão testamentária e na sucessão contratual
Em matéria de determinação do momento da concepção teremos que atender a uma pluralidade de
artigos. Primeiramente, o art. 1798.º fixa, como regra geral, o momento da concepção do filho, o que vale
como presunção legal (art. 350.º/1), presunção esta que é iuris tantum, ou seja, que admite prova em
contrário, a qual, contudo, só poderá ter lugar na situação contemplada no art. 1800.º/1.
Ver art. 1855.º e também o art. 1853.º que nos diz que a perfilhação pode ser feita por testamento.
A questão da ausência:
O ausente é chamado? Sim, nos casos de curadoria provisória e definitiva (arts. 94.º e 120.º e ss.)
E na morte presumida? Não (arts. 114.º, 115.º e 120.º)
Capacidade sucessória (é mais ampla do que a capacidade de exercício) – é a idoneidade para ser chamado
a suceder como herdeiro ou como legatário
Princípio geral: o mesmo vigora na matéria da capacidade judiciária, ou seja, a capacidade é a regra e a
incapacidade a exceção, daí o facto de os menores, os interditos, os inabilitados e, em geral, os incapazes
de celebrar negócios jurídicos terem capacidade para a vocação sucessória.
Momento de referência para a fixação da capacidade: é o da abertura da sucessão. A capacidade deve
existir nesse momento e só nele. Contudo, existem algumas exceções:

• Nascituros ainda não concebidos e pessoas coletivas ainda não reconhecidas


• Instituição de herdeiro ou legatário com condição suspensiva (“só serão herdeiros ou legatários
se...”) – ver art. 2229.º
• Na situação de indignidade (art. 2034.º/d))
As incapacidades sucessórias podem resultar:
1) Das particulares relações existentes entre o de cuius e certas pessoas (arts. 2192.º a 2195.º; 2197.º
e 2198.º)
2) Da colisão com interesses legalmente protegidos de terceiras pessoas (art. 2196.º)
3) Das situações de casamento, legalmente desfavorecidos (art. 1650.º/2)
4) Por indignidade (resultante do comportamento face ao de cuius, e de acordo com a vontade
presumida deste)
O comportamento indigno pode resultar (art. 2034.º):

• De atentado contra a vida do autor da sucessão ou seus familiares


• De atentado contra a honra do autor da sucessão ou seus familiares (quando se faz queixa de alguém
e se sabe que tal não corresponde à verdade)
• De atentado contra a liberdade do testador
• De atentado contra o próprio testamento
Declaração de indignidade
Será exigida uma ação judicial tendente à declaração de indignidade? A doutrina divide-se:
1.º Pereira Coelho – defende que as incapacidades não operam automaticamente, sendo sempre
necessária a ação judicial que declare a indignidade

13
Dto. das Sucessões e Processo de Inventário

2.º Oliveira Ascensão – propugna que a indignidade, como incapacidade, produz efeitos
independentemente de declaração judicial
3.º Jurisprudência (STJ) – decidiu que a ação só será necessária quando o indigno se encontrar na posse
dos bens
Portanto, o destinatário da vocação é o titular da designação sucessória prevalecente no momento
da morte do de cuius, contanto que, nesse momento, exista (para que se possa abarcar aqui os nascituros)
e tenha capacidade sucessória.
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Caso prático 4:
A e B, namorados, morreram ambos no mesmo acidente de viação. Mas B, grávida de 32 semanas,
ainda dá à luz de X, falecendo 30 minutos depois do predito acidente. Sabe-se que A testou a favor do
filho de B, toda a quota disponível. Refira-se que A deixou bens no valor de 20.000€ e B no valor de
30.000€. Assuma ainda que 1 e 2 são pais de A, e 3 e 4 são pais de B.
Quid iuris?
A primeira questão que se coloca é a de saber quem são os potenciais herdeiros de A. À partida
apenas 1 e 2 são herdeiros de A uma vez que, neste caso em concreto, não podemos aplicar a presunção
de paternidade do art. 1826.º visto ele nem sequer ser casado com B. Contudo, pode resumir-se que X é
filho de B pelo art. 1871.º/1/c) dado que não é dito à quando tempo eles namoram. De qualquer forma X
seria sempre herdeiro testamentário de A. Na última das hipóteses poderia considerar-se A pai de X por
averiguação oficiosa do art. 1864.º.
X, sendo assim herdeiro de A, vai excluir os avós por aplicação da regra do art. 2135.º, pelo que
será o único herdeiro legitimário. Isto porque o art. 2157.º remete para a ordem e regras dos arts. 2131.º
e ss., em especial o art. 2133.º onde se estabelece que a primeira ordem é a do cônjuge e descendentes.
Ora, não tendo A deixando cônjuge, toda a legítima irá para X.

Sucessão Legitimária Sucessão Testamentária


(10.000€, pelo art. 2159.º) (10.000€)
X 10.000€ 10.000€
1 ---------------------------------------- ----------------------------------------
2 ---------------------------------------- ----------------------------------------

E se X não for filho de A?


Continuam a existir herdeiros legitimários, que são 1 e 2, pelos arts. 2157.º e 2133.º/1/b). A
legítima dos ascendentes é, segundo o art. 2161.º/2, de metade, ou seja, de 10.000€. E é metade para
cada um deles, por aplicação do art. 2142.º/3.

Sucessão Legitimária Sucessão Testamentária


(10.000€, pelo art. 2161.º) (10.000€)
X 10.000€
1 5000€ ----------------------------------------
2 5000€ ----------------------------------------

Posteriormente, teremos que ver quem são os potenciais herdeiros de B. São eles X, 3 e C. Neste
conflito prevalece, segundo dispõe o art. 2135.º, X, afastando 3 e C.

Sucessão Legitimária Sucessão Legítima


(15.000€) (10.000€)
X 15.000€ 15.000€
(pelo art. 2133.º/1/a))
3 ---------------------------------------- ----------------------------------------

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Dto. das Sucessões e Processo de Inventário

C ---------------------------------------- ----------------------------------------

E se X tivesse falecido isto é, se nem sequer tivesse nascido?


Os herdeiros de A seriam unicamente 1 e 2. Quanto ao testamento feito a favor de X, este não
caducaria uma vez que deixou de fazer sentido (art. 66.º/2). Como não há testamento, o destino a dar à
quota disponível é feito através da sucessão legítima.

Sucessão Legitimária Sucessão Legítima


(10.000€) (10.000€)
1 5.000€ 5.000€
2 5.000€ 5.000€

No que respeita a B, os seus herdeiros seriam 3 e C, mas, como aquele prefere a este, que é irmã,
os 30.000€ iriam na sua totalidade para o pai de B, 3.
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Modos de Vocação Sucessória
- art. 2032.º
1. Vocação originária vs. subsequente
2. Vocação pura vs. condicional ou a termo
3. Vocação simples vs. modal
4. Vocação direta vs. indireta
1. Vocação Originária vs. Vocação Subsequente
Originária – verifica-se no próprio momento da abertura da sucessão (art. 2032.º/2)
Vocação subsequente – opera em momento posterior ao da abertura da sucessão (arts. 2028.º e
2062.º) ex.: repúdio se o primeiro da classe de sucessíveis repudiar, chama-se o segundo
2. Vocação Pura vs. Vocação Condicional ou a Termo
Vocação Pura – surge quando os sucessíveis são chamados a suceder sem que os efeitos dessa
vocação estejam dependentes de qualquer facto futuro e certo (termo) ou futuro e incerto
(condição), suspensivo ou resolutivo
Vocação a termo

Instituição de Herdeiro Nomeação de Legatário


Termo Inicial ou Suspensivo Impossível (art. 2243.º/2) Possível (art. 2243.º/1)
Impossível (art. 2243.º/2),
mas já é possível se se
Termo Final ou Resolutivo Impossível (art. 2243.º/2) verificar um direito
temporário (usufruto – art.
2030.º/4)

Vocação Condicional (ver arts. 270.º e 2229.º)

Instituição de Herdeiro Nomeação de Legatário


Possível, estando sujeita a Possível, estando sujeita a
uma caução eventual de modo uma caução eventual de modo
a garantir os direitos dos bens a garantir os direitos dos bens
Condição Resolutiva
da herança que o herdeiro da herança que o legatário
possa herdar se a condição se possa receber se a condição
verificar (art. 2236.º/6) se verificar (art. 2236.º/3)

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Dto. das Sucessões e Processo de Inventário

Possível (art. 2237.º/1; ver Possível (art. 2236.º/2; ver


Condição Suspensiva
também o art. 2238.º/1) também o art. 2238.º/2)

Quanto à admissibilidade das condições deveremos atender aos arts. 2230.º e ss.
NOTA: o facto de a condição impor que se termine, por exemplo, o curso de Solicitadoria, não
torna a condição contrária a lei, segundo o art. 2232.º, mas sim se impuser que tire o curso, tendo-
se, neste caso, a condição por não escrita, por aplicação do artigo supra, bem como do art.
2230.º/2.
Vocação Simples vs. Vocação Modal
Vocação Simples – quando o sucessível é chamado sem que o autor da sucessão lhe possa impor
quaisquer encargos ou cláusulas acessórias modais, apenas estando sujeito aos deveres legais e
gerais
Vocação Modal – o sucessível é chamado à sucessão mas a sua posição jurídica encontra-se afetada
por encargos especiais resultantes de manifestações de vontade do autor da sucessão (art. 2244.º)
Vocação Direta vs. Vocação Indireta
Vocação Direta – quando a vocação é feita a favor do sucessível originalmente prioritário
Vocação Indireta – quando a vocação é feia a favor de um sucessível que é chamado em vez do
sucessível com prioridade original, por este não ter podido, ou não ter querido (repúdio), aceitar a
sucessão
Ex.: - direito de representação
- substituição direta ou vulgar
- direito de acrescer
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Caso Prático 5:
A, marido, e B, mulher, casaram em julho de 2001. A, do seu primeiro casamento com X, tinha
um filho, 1, e tinha também um outro filho, 2, concebido (havia nascido a 15 de novembro de 2002),
fruto de uma relação com Y.
Em 1 de janeiro de 2002 A morre, tendo deixado testamento a favor de Y de ¾ da herança.
Refira-se que o património comum de A e B é de 180.000€.
Quid iuris?
A primeira questão que se coloca é a de saber quais os potenciais herdeiros de A. Ora, segundo o
art. 2157.º, os seus herdeiros são B, cônjuge, 1 e 2, seus descendentes, e C e D, seus ascendentes. Mas,
como o artigo supra faz remissão para a ordem e regras da sucessão legítima, os herdeiros de B são, em
princípio, B e seus filhos 1 e 2, pelo art. 2133.º/1/a).
Porém, surge-nos uma dúvida: será 2 seu herdeiro? Vamos presumir que é filho dele.
Quanto à sucessão legitimária, diz-nos o art. 2159.º/2 que a legítima é de 2/3, pelo que B, 1 e 2
receberão, cada um, 20.000€, por aplicação da regra do art. 2136.º, segundo a qual “os parentes de cada
classe sucedem por cabeça”.
No concernente à sucessão testamentária, à partida os ¾ da quota disponível iriam para Y, contudo,
A não pode testar a favor daquela porque havia cometido com ela adultério, pelo que a cláusula é nula,
pelo art. 2196.º. Assim sendo, o valor que seria destinado, por testamento, a Y reverterá para os herdeiros
legitimários.

16
Dto. das Sucessões e Processo de Inventário

Refira-se que C e D não serão herdeiros, por aplicação da regra do art. 2134.º, e X também não
poderá ser herdeira de A em virtude de, segundo o articulado no art. 2133.º/3, o cônjuge não ser “chamado
à herança se à data da morte do autor da sucessão se encontrar divorciado”. Ora, se A e B se encontravam
casados significa que o primeiro casamento estava dissolvido, pelo que X não seria sucessível de A.

Sucessão Legitimária Sucessão Legítima


(60.000€) (30.000€)
B 20.000€ 10.000€
1 20.000€ 10.000€
2 20.000€ 10.000€
C ---------------------------------------- ----------------------------------------
D ---------------------------------------- ----------------------------------------
X ---------------------------------------- ----------------------------------------
Y ---------------------------------------- ----------------------------------------

---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Direito de Acrescer
Noção: é o direito sucessível, chamado simultaneamente cm outros, de adquirir o objeto sucessório que
outro (ou outros) dos sucessíveis não pôde ou não quis aceitar.
Este instituto funciona, designadamente, embora com pressupostos específicos, na preferência (art.
419.º), nas doações entre vivos (art. 994.º), na renda vitalícia (art. 1241.º), na acessão (arts. 1327.º e
1449.º), e no usufruto constituído não apenas por testamento (art. 2305.º) mas também por contrato (arts.
944.º/2 e 1442.º)
A nível sucessório, o dto. de acrescer vigora quer para a sucessão legal (arts. 2137.º/2; 2143.º e 2157.º),
quer para a sucessão testamentária (arts. 2301.º a 2307.º)
Para além de algumas particularidades em cada espécie de sucessão, para que o direito de acrescer se
verifique, é necessário ter em conta:

→ Pressupostos negativos (ou seja, a não verificação de circunstâncias que farão funcionar outros
institutos sucessórios)
i. Susbstituição direta – não é possível na sucessão legitimária mas já o é na sucessão legítima
ii. Vontade do autor da sucessão contrária ao acrescer – não é possível na sucessão legitimária
mas já o é na sucessão legítima bem como na sucessão testamentária
iii. Direito de representação – não se verifica o dto. de acrescer se no caso houver lugar a dto.
de representação (arts. 2138.º, 2157.º e 2034.º), caso em que serão chamados os
descendentes do que não pode ou não quis aceitar a sucessão
iv. Transmissão do direito de aceitação ou repúdio – não há dto. de acrescer se ocorrerrem os
pressupostos do instituto referido, caso em que serão chamados à sucessão os herdeiros
(arts. 2058.º e 2249.º). contudo, se todos os herdeiros do sucessível em causa repudiarem a
sucessão, pode então processar-se, na falta de outro instituto sucessório prevalente, o dto.
de acrescer a favor dos co-sucessíveis
v. Pessoalidade no legado
NOTAS:
• Na sucessão legitimária, os dois primeiros não são possíveis
• Na sucessão legítima e testamentária, são-no
→ Pressupostos positivos (ou seja, a necessária verificação de algumas circunstâncias)
i. A existência de uma quota vaga por falta de herdeiros legais, testamentários ou contratuais
ou de legatários da mesma natureza (testamentários ou contratuais)
ii. A existência de pluralidade de co-herdeiros ou de co-legatários. Porém, apesar de se exigir
um chamamento simultâneo de sucessíveis, é possível, na sucessão testamentária, uma
instituição conjunta ou não de herdeiros ou legatários testamentários (arts. 2301.º e 2302.º)
NOTAS:

17
Dto. das Sucessões e Processo de Inventário

• Na sucessão testamentária (cf. 2301.º + 2302.º), o dto. de acrescer funciona seja, ou não,
conjunta, a instituição

Herança Jacente
- art. 2046.º
Entre o exercício do dto. de aceitação ou repúdio e o momento da declaração de herança vaga para
o Estado pode decorrer um largo período de tempo. Surge, assim, a figura da herança jacente.
De facto, nos termos do artigo supra, a herança jacente é “a herança aberta, mas ainda não aceite
nem declarada vaga para o Estado”. Ou seja, nasce no momento da abertura da sucessão, aquando da
morte do de cuius (art. 2031.º) e finda quer no momento em que é aceite pelos herdeiros, quer no momento
em que, por falta ou repúdio dos demais sucessíveis, é declarada vaga para o Estado.
Nestas situações, a Lei consagra um conjunto de medidas que visam:
a) A administração dos bens destinada à sua conservação (2047.º + 2048.º)
b) Uma rápida cessação da situação de jacência, através de um mecanismo processual (o processo
cominatório de aceitação ou repúdio – 2049.º)
Aceitação e/ou Repúdio da herança
Caracteres gerais da aceitação e do repúdio

→ Atos jurídicos unilaterais não receptícios


→ Individuais (2051.º)
→ Livres (salvo a presunção do 2049.º/2) – porque não existe uma obrigação egal num sentido positivo
ou negativo
→ Puros e simples (2054.º/1; 2064.º/1) – ou seja, insusceptíveis de aponibilidade de condição ou
termo
→ Indivisíveis (2054.º/2; 2064.º/2 + 2249.º. Com excepção: 2055.º para herança e 2250.º para
legados) – uma vez que, conforme os arts. 2054.º/2, 2064.º e 2249.º, a herança e o legado não
podem ser aceites ou repudiados só em parte
→ Só têm lugar após a abertura da sucessão (2028.º; 2032.º)
→ Irrevogáveis (2061.º; 2066.º)
→ Retroagem ao momento da abertura da sucessão (2050.º/2; 2062.º)
Regime Particular da Aceitação
Espécies de aceitação (2052.º; 2071.º; 2102.º/2):
1) Pura e simples – o herdeiro aceita a herança independentemente de qualquer processo de
inventário. É rápida e célere, contudo o ónus da prova cabe ao herdeiro
2) A benefício de inventário (2053.º) – declaração de aceitação do herdeiro em que este reserva o
direito de só receber o saldo líquido da herança, depois de pagos os encargos desta. Assim, a
aceitação tem lugar no exato momento em que o herdeiro requer que se proceda a inventário.
Consegue-se uma inventariação dos bens, e uma separação clara do seu património pessoal
relativamente aos bens da herança
Modo de aceitação (2056.º):
1) Expressa (217.º/1) – quando feita por palavras, escrito ou em qualquer outro meio direto de
manifestação da vontade de aceitação da herança
2) Tácita – quando a vontade de aceitação se deduz de factos que, com toda a probabilidade, a
relevam. Contudo, ver o art. 2056.º/3
Efeitos da aceitação (2050.º):

18
Dto. das Sucessões e Processo de Inventário

1) Aquisição da herança
2) Domínio e posse – dos bens da herança, independentemente de o sucessível ter procedido ou não
à apreensão material de tais bens

Regime particular do Repúdio


Formas do repúdio (2063.º; 2126.º):
1) Herança com coisas imóveis – escritura pública
2) Herança apenas com coisas móveis – escrito particular
Regimes especiais de repúdio:
1) Sucessível casado (1683.º/2; 1687.º)
2) Menores/nascituros; interditos; inabilitados – está dependente de autorização do tribunal
Efeitos de repúdio (2062.º):
1) O sucessível é considerado como não chamado (2032.º/2) – salvo para efeitos de representação
2) Retroatividade dos efeitos do repúdio
Sub-rogação pelos credores do repudiante (606.º ss.; 2067.º; 1649.º CPC):
Esta sub-rogação está sujeita a um prazo de caducidade (2067.º/2) e não é absoluta, pois há efeitos
próprios do repúdio que se mantêm, uma vez que, nos termos do 2067.º/3, “pagos os credores do
repudiante o remanescente da herança não aproveita a esta mas aos herdeiros imediatos”.
Aceitação pelo Estado – desnecessidade de aceitação e impossibilidade de repúdio:
Na sucessão testamentária, o Estado pode repudiar ou aceitar, mas se surgir como herdeiro legítimo
não carece de aceitação, nos termos dos arts. 2154.º e 2155.º
A Petição da Herança
A ação de petição (2075.º) ≠ Aceitação
Legitimidade

→ Ativa (2078.º)
Tem legitimidade para intentar a ação de petição qualquer um dos herdeiros, não sendo
necessário ter a administração dos bens para intentar a ação, segundo o art. 2078.º/1
Porém, da restituição dos bens operada não se segue que o herdeiro reivindicante passe a
ter a administração e a disposição dos bens reivindicados mas apenas a integração de tais bens na
massa hereditária, com sujeição ao regime geral da administração da herança (2079.º ss.) e de
alienação da mesma (2097.º ss.)
→ Passiva (2075.º; 2076.º; 2077.º)
A ação de petição pode ser intentada contra os possuidores dos bens da herança (2075.º/1)
e as pessoas a favor das quais tais bens tenham sido alienados, gratuita ou onerosamente (2076.º)
Excepções: 2076.º/2
Forma e prazo da ação de petição
A ação de petição segue a forma do processo comum de declaração (467.º ss. CPC). No caso de o
possuidor não cumprir voluntariamente com a entrega dos bens, haverá uma ação executiva para entrega
de coisa certa.
Segundo o 2075.º/2, a ação pode ser intentada a todo o tempo, sem prejuízo da aplicação das
regras da usucapião (1287.º ss.) e da caducidade do direito de aceitação da herança, que é de 10 anos,
nos termos do 2059.º
Reivindicação da coisa legada (2279.º)

19
Dto. das Sucessões e Processo de Inventário

O legatário, após a aceitação da coisa legada e a sua entrega pelo herdeiro pode reivindicar ou
defender por meio de ação direta a coisa legada de que tem a propriedade.
Nos termos do 2279.º, a reivindicação de terceiros da coisa legada pode ter lugar antes da sua
entrega pelos herdeiros ou por quem esteja a isso obrigado. Mas tal só é possível relativamente a coisas
certas e determinadas.
A Administração da Herança
Ínicio e termo do cabeçalato
Entende-se que o cabeçalato tem início a partir do momento da abertura da sucessão.
Quanto ao termo do cabeçalato, este cessa, nos termos do 2079.º, com a liquidação e partilha da
herança, ou seja, com o trânsito em julgado da sentença homolgatória da partilha judicial, se tiver havido
inventário (2102.º CC e 1382.º CPC), ou com a realização da partilha extrajudicial, sujeita a ecritura
pública se houver bens imóveis (2102.º CC e 80.º/j) Cnot.)
No caso de haver um único herdeiro, o cabeçalato termina com a integral liquidação da herança.
Estrutura da administração:
1) Cabeça de casal (2080.º ss.) – o 2080.º tem uma natureza supletiva pois a lei não impede que os
herdeiros designem outra pessoa à sua escolha como cabeça de casal.
Acrescente-se que devido à natureza pessoal do cargo e às qualidades para tal exigidas, o
cargo do cabeça de casal, segundo estatui o 2095.º, não é transmissível em vida nem por morte.
Contudo, o cabeça de casal pode passar procuração para o exercício de atos específicos, procuração
essa que deverá ser feita com reserva, no caso de substabelecimento, o que significa que o cabeça
de casal mantém para si os poderes que possui
2) Exercício conjunto dos herdeiros (2091.º) – implica litisconsórcio necessário ativo ou passivo
3) Testamenteiro [eventual (2320.º ss.)] – é uma figura eventual pois só existe se o de cuius o tiver
determinado no testamento. Refira-se que a sua instituição só é possível se houver designação
testamentária.
Para que o testamenteiro entre no exercício das suas funções é preciso que ele aceite a
nomeação, expressa ou tacitamente, segundo o 2323.º. Porém, nos termos do 2324.º, o
testamenteiro designado pode recusar a testamentaria, desde que o faça por meio de declaração
perante o notário.
Uma vez aceite a nomeação, o testamenteiro só pode dela ser escusado nos casos do
2085.º/1 para o cabeça de casal (2330.º).
Acrescente-se que a testamentaria, segundo o 2334.º, não é transmissível.
Poderes e deveres dos órgãos de administração:
1) Do cabeça de casal (2087.º ss.)
O art. 2087.º refere, antes de mais, quais os bens que o cabeça de casal pode administrar.
Contudo, o 2087.º/2, excepciona da administração do cabeça de casal os bens doados em vida pelo
autor da sucessão, que continuam a ser administrados pelos donatários.
Diga-se ainda que ao cabeça de casal competem, para além dos definidos especialmenye,
poderes de administração ordinário, isto é, poderes para a prática de atos e negócios jurídicos, de
conservação e frutificação normal dos bens administrados. Assim, e nomeadamente, pode o cabeça
de casal dar de arrendamento bens da herança por prazo até 6 anos (1024.º/1), continuar negócios
do de cuius, como, por exemplo, movimentar os seus depósitos bancários
2) Dos herdeiros – vide art. 2091.º
Atos que só possam ser praticados conjuntamente por todos os herdeiros: generalidade
de atos e negócios jurídicos de frutificação anormal, de melhoramento do património hereditário
e disposição dos bens hereditários que envolvam a sua alienação ou oneração.
Só contra todos os herdeiros poderá, por exemplo: ser exigido judicialmente um crédito
da herança, reivindicada a propriedade de um bem tido como hereditário, constituída uma
servidão.

20
Dto. das Sucessões e Processo de Inventário

3) Do testamenteiro
O testador pode conferir a este, nos termos do 2325.º, as atribuições que entender, dentro
dos limites da lei (vide 2182.º/2 e 2183.º). Se o testador não especificar as atribuições do
testamenteiro, competirá a este o disposto no 2326.º, para além de que pode alienar certos bens
da herança quando tal se torne necessário para o exercício das suas tarefas (2326.º/a)/b) e 2328.º).
Sonegação de bens (2096.º)
Pode aplicar-se a qualquer herdeiro apesar de estar regulada na parte respeitante ao cabeça de
casal.
Qualquer que tenha sido o sonegador, este é considerado, segundo o 2096.º/2, mero detentor dos
bens que sonegou, pelo que não os poderá adquirir por usucapião, a não ser que inverta o título da posse
(1290.º e 1265.º) e como possuidor de má fé deverá restituir os frutos produzidos pelos bens sonegados até
ao termo da posse e responde pelo valor daqueles que um proprietário diligente poderia ter obtido
(1271.º).
A alienação da herança
- 2124.º ss.
O herdeiro pode transmitir a outrem o seu direito à herança ou ao quinhão hereditário, onerosa ou
gratuitamente.
Contudo, há que observar algumas regras especiais:

→ Quanto ao período em que é admissível – a alienação da herança só é admissível após a abertura


da sucessão e depois de o herdeiro ter aceite a herança. Por outro lado termina por impossibilidade
do objeto quando deixe de haver herança, quota da herança ou quinhão hereditário
→ Quanto aos modos de alienação – pode resultar de negócios jurídicos onerosos (ex.: dação em
cumprimento, compra e venda, troca, etc) ou de negócios jurídicos gratuitos (ex.: dação). Além
disso pode ainda resultar de negócios inter vivos como mortis causa (ex.: testamento)
Especificidades:

→ O objeto da alienação (2125.º)


→ A forma de alienação (2126.º) – se tiver bens imóveis far-se-á por escritura pública, caso contrário
será por escrito particular
→ Os efeitos da alienação – pela alienação da herança total ou de quota da herança partilhada
transmitem-se os direitos às respetivas universalidades e, por conseguinte, os direitos a cada uma
das coisas que as constituam. Pela alienação de quinhão hereditário indiviso transfere-se o direito
de quinhão em causa, que abrange direitos de gestão (2091.º), direitos à recepção de rendimentos
(2092.º) e direitos de exigir a partilha e de composição da quota (2101.º)
De acordo com o 2128.º, também se transmitem para os adquirentes os encargos da herança ou do
quinhão hereditário respetivos
→ Direito de preferência (2130.º)
Encargos da Herança e sua Liquidação
Encargos ordinários da herança (2068.º e 2070.º) ≠ Especiais
Os encargos ordinários da herança são:
1. As despesas com o funeral e sufrágios do autor da sucessão
2. Os encargos com a testamentaria, administração e liquidação do património hereditário
3. As dívidas do falecido
4. Os legados

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Dto. das Sucessões e Processo de Inventário

Estas prioridades só se mantêm “nos cinco anos subsequentes à abertura da sucessão ou à constituição de
dívida, se esta é posterior, ainda que a herança tenha sido partilhada” (2070.º/1/1.ªpt.)
Responsabilidade pelos encargos da herança
Nos termos dos arts. 2068.º e 2069.º, pelos encargos da herança é diretamente responsável a massa
patrimonial que constitui a herança.
NOTA: quanto aos dtos. e obrigações do herdeiro em relação à herança – 2074.º
Direitos e obrigações do herdeiro em relação à herança (2074.º)
Modos de liquidação da herança:

→ Herança indivisa deferida a vários herdeiros (2097.º) – pela satisfacção dos respetivos encargos
respondem todos e cada um dos bens da herança, como universalidade, desde que susceptíveis de
penhora.
De acrescentar que a liquidação da herança indivisa se poderá fazer em processo de
inventário ou fora dele, no caso de aquele não ser obrigatório (2102.º/1).
→ Herança indivisa deferida a um único herdeiro (2071.º) – esse herdeiro é o único responsável
subjetivo pelo cumprimento ds encargos da herança, mas verifica-se, à semelhança do anterior, a
separação do seu património pessoal do da herança por ela adquirida (2068.º e 2071.º), respondendo
a todos e cada um dos bens desta pelos respetivos encargos.
Neste caso, também a liquidação se poderá fazer em processo de inventário, ou fora dele, no caso
de aquele não ser obrigatório.
→ Herança partilhada (2098.º) – há que respeitar o pagamento conforme as proporções.
Os encargos da herança partilhada são cumpridos pelos herdeiros voluntariamente ou
mediante ação judicial.
Quando a herança se mostra deficitária?
É uma questão processual: há lugar à abertura do processo de insolvência da herança (arts. 10.º/a);
24.º/1/d); 43.º/3; 121.º/1/d) do Código de Insolvência).
Mesmo que a herança seja deficitária há vocação sucessória, nunca ficando aberta para os
sucessores.
Partilha da Herança
Direito de exigir partilha (2101.º) – “qualquer co-herdeiro ou cônjuge meeiro tem o direito de exigir
partilha quando lhe aprouver”.
Ou seja, é o dto. que cabe a qualquer dos herdeiros ou ao cônjuge meeiro de exigir a partilha e, segundo
articula o art. 2101.º/1, exercitável em qualquer momento, após a abertura da sucessão e sua aceitação.
Além disso, o dto. de partilhar é irrenunciável (2101.º/2, 1.ªpt.), sendo nula a convenção em contrário
(294.º)
Forma de partilha (2102.º) judicial
Extrajudicial
Colação (2104.º a 2118.º)

→ Noção (2104.º ss; 2110.º; 2162.º)


→ Sujeitos à colação (2105.º; 2106.º)
→ Doações a cônjuges (2107.º)
→ Valor dos bens doados (2109.º)
→ Imputação do valor das doações/conferência (2108.º vs. 2114.º)
→ A dispensa da colação (2113.º)

22
Dto. das Sucessões e Processo de Inventário

A colação revela para efeitos de determinação do valor da herança com finalidade de calcular a
legítima (2162.º).
NOTA: quando o 2104.º fala em “restituição” à massa da herança, essa restituição é um valor ficcionado
que será substraído à quota dos descendentes sujeitos à colação.
Pressupostos da colação
Que o autor da sucessão tenha doado em vida coisas, direitos ou outros bens jurídicos ou efetuado
em vida despesas gratuitas (2104.º/2 e 2110.º) em favor de um, ou de todos os descendentes que à data
da doação ou da despesa fossem presuntivos herdeiros legitimários do doador (2104.º/2 e 2105.º).
Porém, não estão sujeitos à colação:
▪ Donativos conformes aos usos sociais e a renúncia a direitos ou o repúdio da herança ou legado e
todos os demais atos que juridicamente não constituam doação (vide 940.º/2; 2057.º/1 e 2249.º)
▪ Despesas com o casamento, alimentos, estabelecimento e colocação dos descendentes, na medida
em que se harmonizem com os usos e a condição social e económica do falecido (2110.º/2)
▪ As doações e despesas feitas gratuitamente a favor do cônjuge do presuntivo herdeiro legitimário
(2107.º/1) ou a favor de descendentes que à data da doação não eram presuntivos herdeiros
legitimários (2105.º ad contrario)
Que o autor da sucessão não tenha dispensado da colação o donatário ou o beneficiário das despesas
gratuitas (2113.º)
Como pode ser dispensada a colação?
▪ Declaração, expressa ou tácita, do de cuius nesse sentido, no próprio ato dessas liberalidades ou
até posteriormente (2113.º/1)
▪ Presume-se, igualmente, dispensada a colação nas doações manuais (ou seja, nas doações verbais
de coisas móveis acompanhadas da traditio da coisa – 947.º/2 e nas doações remuneratórias de
serviços recebidos pelo doador, que não tenham a natureza de dívida exigível, sem admissão de
prova em contrário
Estas doações dispensadas da colação vão ser imputadas na quota disponível do autor da sucessão
(2114.º/1) e só podem ser “atacadas” no caso de inoficiosidade (2168.º ss.).
Sendo, então, dispensadas da colação, essas doações serão imputadas a Q.D do autor da sucessão.
Porém, se a doação dispensada de colação ou por conta da Q.D exceder a Q.D do doado, haverá redução
por inoficiosidade (2168.º ss.).
Quanto à forma de dispensa da colação voluntária de doações da colação, vigora o Princípio da
Equivalência face à forma usada para a doação (2113.º/2).
Que se tenha aberto uma sucessão hereditária em que concorram diversos descendentes, capazes e
aceitantes, nomeadamente, descendentes beneficiados com as liberalidades, ou seus representantes.
No caso de repúdio da herança por donatário sujeito à colação em que este não tenha descendentes
que o representem, o 2114.º/2 manda que a doação em causa seja imputada na Q.I. Mas, se o donatário
tiver descendentes que o representem e estes aceitem a sucessão, serão obrigados à colação ainda que
não tenham beneficiado da liberalidade (2106.º).
De referir que se um incapaz tiver descendentes que aceitem a herança do doador, verificar-se-á,
igualmente, o dto. de representação.
NOTA: vide o 2118.º - os bens móveis ou imóveis respondem especificamente, por eventual redução,
mesmo que posteriormente venham a ser transmitifos, gratuita ou onerosamente a outrem.
Importância do art. 2108.º
Há que distinguir as seguintes hipóteses:

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Dto. das Sucessões e Processo de Inventário

▪ Se houver remanescente da herança e se esse remanescente contiver bens suficientes para igualar
todos os descendentes partilhantes, o(s) donatário(s) conservarão para si as doações e os
descendentes não beneficiados ou menos beneficiados são igualados com bens do remanescente
da herança até ao valor das doações do herdeiro único donatário ou do herdeiro donatário mais
beneficiado em vida.
Se, após essa igualação, houver ainda algum remanecente da herança, será este dividido por todos
os herdeiros, indistintamente.
▪ Se houver remanescente da herança mas este não chegar para igualar todos os descendentes, o(s)
donatário(s) conservarão os bens doados e os descendentes não beneficiados em vida
sãocontemplados com os bens do remanescente, por conta da Q.D do de cuius
▪ No caso de não haver remanescente mas haver bens deixados, os descendentes donatários
conservarão as doações em vida, que serão imputadas na Q.I subjetiva do(s) donatário(s) e, quando
a excedam, na Q.D. Por sua vez, os descendentes não beneficiados apenas terão direito à sua quota
legitimária
▪ No caso de não haver remanescente nem bens deixados que permitem preencher a legítima dos
herdeiros legitimários, de acordo com as regras gerais da redução por inoficiosidade e na medida
do necessário, serão reduzidas as doações em vida dos descendentes sujeitos à colação, na parte
em que excedam as suas quotas legitimárias
Cálculo da legítima:
Massa da herança = valor dos bens deixados – dívidas + doações + despesas sujeitas à colação
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Caso prático:
A morre já viúvo, e deixa os 2 filhos, B e C.
Forma de resolução para todos os casos: art.º 2162º. Cálculo da massa da herança = bens deixados +
despesas sujeitas à colação + doações – dividas
A deixa bens no valor de 130.000€. Houve doação feita ao B de um apartamento avaliado em 50.000€

Q.I Q.D Totais


120.000€ 60.000€
B 60.000€ 30.000€ 40.000€
(-50.000€) 2108.º
10.000€ à data da
morte
C 60.000€ 30.000€ 90.000€
130.000€

A deixa bens no valor de 120.000€. houve uma doação feita ao B de um apartamento avaliado em
60.000€

Q.I Q.D Totais


120.000€ 60.000€
B (-60.000€) 2108.º 30.000€ 30.000€

C 60.000€ 30.000€ 90.000€


120.000€

24
Dto. das Sucessões e Processo de Inventário

A deixa bens no valor de 100.000€. Houve uma doação feita ao B de um apartamento avaliado em
80.000€

Q.I. Q.D. Totais


120 000.00€ 60 000.00€
B (-60 000.00€) 2108º 30 000.00€ 10 000.00€
(-20 000.00€)
10 000.00€
C 60 000.00€ 30 000.00€ 90 000.00€
100 000.00€

Q.I. Q.D. Totais


120 000.00€ 60 000.00€
Suc. Legitimaria Doações Supletiva
B (-60 000.00€) 30 000.00€ 10 000€ 90 000.00€
2108º (-20 000.00€)
10 000.00€
C 60 000.00€ +20 000.00€ 10 000€ 90 000.00€
2108º/2
180 000.00€

A deixa bens no valor de 120 000,00€. Houve uma doação feita ao B de um apartamento avaliado em
60 000,00€. Ao contrário do que acontece na hipótese 2, nesta hipótese a doação foi feita com
dispensa da colação. Ou seja, intencionalmente é favorecido o C.

Q.I. Q.D. Totais


120 000.00€ 60 000.00€
B 60 000.00€ 60 000.00€ 120 000.00€
2143º/1 + 2114º/1
C 60 000.00€ 60 000.00€

180 000.00€

A deixa bens no valor de 150 000,00€. Houve uma doação feita ao B de um apartamento avaliado em
30 000,00€, feita com dispensa da colação.
M.H. = 180 000.00€
Q.I. Q.D. Totais
150 000.00€ 60 000.00€
B 75 000.00€ 30 000.00€ 120 000.00€
2143º/1 + 2114º/1
C 75 000.00€ 30 000.00€ 60 000.00€

180 000.00€

Q.I. Q.D. Totais


120 000.00€ 60 000.00€
Suc. Legitimaria Doações Legitima
B 60 000.00€ 30 000.00€ 15 000€ 105 000.00€
2113º + 2114º/1

C 60 000.00€ 15 000€ 75 000.00€

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Dto. das Sucessões e Processo de Inventário

180 000.00€
---------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------------
Sucessão testamentária
Noção – nos termos do 2179.º, testamento é o ato unilateral e revogável pelo qual uma pessoa dispõe, para
depois da morte, de todos os seus bens ou de parte deles.
Características:

→ É o mais puro negócio mortis causa, na medida em que só produz efeitos após a morte do testador
→ É um negócio jurídico unilateral
→ É um negócio unilateral não recetício, ou seja, a declaração testamentária vale a partir do
momento em que é emitida
→ É um negócio pessoal, de auto-feitura (2182.º/1)
→ É um negócio individual, singular e unipessoal, isto é, o seu autor só pode ser uma pessoa e não
duas ou mais pessoas, daí o 2181.º proibir o testamento de mão comum (ver também 2182.º)
→ É um negócio formal uma vez que tem de revestir uma das formas testamentárias típicas previstas
na lei
→ É um negócio de orientação subjetivista: prevalece a vontade do testador – 2187.º, 2199.º e 2103.º
Interpretação do testamento
Há que atentar no 2187.º (≠ 236.º) que dá prioridade à perspetiva do que estaria a pensar o testador.
Assim sendo, na intepretação das disposições testamentárias, observar-se-à o que parecer mais ajustado
com a vontade do testador, conforme o contexto do testamento.
Requisitos de fundo do testamento
Capacidade testamentária

→ Capacidade ativa
Regra: capacidaade testamentária ativa, ou seja, “podem testar todos os indivíduos que a lei não
declare incapazes de o fazer” – 2188.º
Excepção: incapazes, sendo que apenas são incapazes de testar aqueles que a lei,
exececionalmente e taxativamente determine
A sanção para o testamento feito por incapaz é a nulidade, por aplicação do 2190.º
→ Capacidade passiva
Regra: capacidade testamentária passiva – 2033.º/2
Excepção: 2034.º
Casos de indisponibilidade relativa (2192.º ss.)
O consentimento testamentário - consentimento do testador deve ser perfeito, sem haver quaisquer vícios
na sua declaração de vontade.
Falta e vícios da vontade – 2199.º ss.
1) Incapacidade acidental – 2199.º
2) Simulação – 2200.º
3) Erro, dolo e coação – 2201.º
4) Erro sobre os motivos
5) Erro na indicação das pessoas ou dos bens
Forma do testamento

→ Formas comuns – são as que são utilizadas em circunstâncias normais e, por isso, constituem a
grande maioria dos casos
• Testamento público – 2025.º
• Testamento cerrado – 2206.º

26
Dto. das Sucessões e Processo de Inventário

→ Formas especiais – as que resultam das especiais circunstâncias em que determinada pessoa se
encontra
• Testamento militar – 2210.º e ss
▪ Público – 2211.º
▪ Cerrado – 2212.º
• Testamento marítimo – 2214.º ss
• Testamento feito a bordo de aeronave – 2219.º
• Testamento feito em caso de calamidade pública – 2220.º
Ver art. 2222.º quanto ao prazo de eficácia
NOTA: vide o 2223.º que tem por epígrafe “testamento feito por português em país estrangeiro”
Português no estrangeiro – 65.º; 2223.º
Condições – 2229.º ss.
Caducidade da ação de nulidade ou anulabilidade - 2308.º
Revogação - 2311.º ss.
Processo de Inventário

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