Você está na página 1de 4

MD

HERANÇA JACENTE ART.º 2046.° CC


Nasce no momento da abertura da sucessão, aquando da morte do "de cuius", art.º
2031.°CC e finda quer no momento em que é aceite pelos herdeiros, quer no momento em
que, por falta ou repúdio dos demais sucessíveis, é declarada vaga para o Estado. Durante
esses períodos, a lei institui um regime tendente a assegurar apenas tomada de medidas
necessárias à conservação dos bens que constituem a herança, em vista dos interesses dos
sucessíveis, incluindo o Estado, e dos credores da herança, bem como diversos interesses
públicos.
Assim, qualquer um dos sucessíveis chamados à herança, sem terem exercido ainda
o seu direito de a aceitar ou não, podem nos termos do n.º 1 e 2 do art.º 2047.ºCC,
providenciar acerca da administração de bens "se do retardamento das providências
puderem resultar prejuízos" ou "se estiverem em causa actos urgentes de administração".
Este é um direito que os sucessíveis detêm a título próprio mesmo que haja um
cabeça-de-casal a exercer as funções de administração ordinária. Todavia, a prática de tais
actos administrativos não implica a aceitação tácita da herança, como sublinha o art.º
2056.º/3 CC.
Todavia, após a aceitação, por força do princípio da retroactividade dos seus efeitos,
art.º 2050.º CC, tudo se passa como se as relações jurídicas do falecido tivessem sido
assumidas desde a morte deste pelos seus sucessíveis chamados e aceitantes.

O PROCESSO COMINATÓRIO DE ACEITAÇÃO E REPÚDIO


Trata-se de instrumentos de aceitação ou repúdio e por outro lado, a nossa lei tem
interesse em tornar definitiva e estável a transmissão sucessória. o n.º 1 do art.º 2049.º CC,
permite então em clara excepção ao regime da caducidade do direito de aceitação previsto
no art.º 2059°. Assim, aplica-se o regime da aceitação da herança se o sucessível declara
aceitar, se nada declara ou se declara repudiar ou repudia mesmo, mas não junta o
documento legal dentro do prazo assinado.
Vigora o repúdio apenas quando o sucessível declara que repudia, apresentando o
documento legal do repúdio dentro do prazo fixado, art.º 2049.º/3 CC.

CARACTERÍSTICAS GERAIS DA ACEITAÇÃO E DO REPÚDIO


São actos jurídicos autónomos e não dependentes do reconhecimento jurídico por
terceiros da vocação sucessória.

1
MD

A aceitação e o repúdio são actos unilaterais não receptícios. Assim, por força do
art.º 2950.º CC, aplicam-se-Ihes as normas dos negócios jurídicos desse tipo, relativas à
perfeição das respectivas declarações, à capacidade das partes e aos vícios da vontade, em
tudo aquilo que não contrarie o disposto especialmente para a aceitação e o repúdio
sucessórios (em matéria de vícios da vontade os arts. 2060.ºCC e 2065.º estabelecem um
regime particular, determinando que tais actos são anuláveis "por dolo ou coacção, mas não
com fundamento em simples erro"). O simples erro é irrelevante.
São actos individuais (com autonomia de posições dos vários sucessíveis entre si,
mesmo que instituídos ou nomeados conjuntamente, art.º 2051.º CC), embora susceptíveis
de representação voluntária.
São actos livres (porque não existe uma obrigação legal num sentido positivo ou
negativo, sem prejuízo da presunção legal do art.º 2049.º/2 CC), embora de conteúdo puro e
simples (ou seja, insusceptíveis de aposição de condição ou termo de acordo com os arts.
2054.º/1 e 2064.º), e indivisível (uma vez que conforme os arts. 2054.º/2 e 2064.º e 2249.º,
a herança e o legado não podem ser aceites ou repudiados só em parte, sem prejuízo do
disposto nos arts.2055.º para a herança e 2250.° para o legado.
0.B.S: Também por este regime se diz que a aceitação e o repúdio são actos de
adesão, obrigando em princípio o sucessível a aceitar tudo ou a repudiar tudo a que é
chamado.
Por último, ambos os actos só podem ter lugar após a abertura da sucessão (art.º
2028.° e 2032.º), são irrevogáveis (art.º 2061.° e 2066.º), retroagem ao momento da
abertura da sucessão (art.º 2050.º/2 e 2062.º) e promanam ambos do direito de aceitar ou
repudiar a sucessão, direito esse que de acordo com o art.º 2058.° é hereditável, mas que
caduca ao fim de 10 anos, contados, em regra, desde que o sucessível teve conhecimento de
haver sido chamado à sucessão, art.º 2059°.

ESPÉCIES DE ACEITAÇÃO: PURA E SIMPLES E A BENEFÍCIO DE


INVENTÁRIO
A aceitação da herança, de acordo com o n.º1 do art.º 2052.ºCC pode ter lugar pura
e simplesmente ou a benefício de inventário. (Já os legados, mesmo que com encargos, têm
de ser aceites pura e simplesmente, uma vez que os legatários não têm legitimidade para
requerer inventário).
A aceitação a benefício de inventário consiste na declaração de aceitação do
herdeiro em que este se reserva o direito de só receber o saldo da herança, depois de pagos
os encargos desta e segundo o art.2053.º/2, faz-se requerendo inventário judicial nos termos
da lei de processo ou intervindo em inventário pendente.

2
MD

Deste modo, a aceitação tem lugar no exacto momento em que o herdeiro requer
que se proceda ao inventário.
Através deste processo, obtém o herdeiro, além da inventariação dos bens da
herança e de uma eventual liquidação e partilha da herança judicialmente fiscalizada,
também uma separação, face aos credores da herança, do seu património pessoal
relativamente aos bens da herança, uma vez que o n.º 1 do art.º 2071.°CC determina que,
nessa espécie de aceitação "só respondem pelos encargos respectivos os bens
inventariados, salvo se os credores e os legatários provarem a existência de outros bens".
0.B.S: O inventário podia ainda servir unicamente para a verificação da não
oficiosidade e inoficiosidade de liberalidades feitas pelo "de cuius".
Na aceitação pura ou simples, o herdeiro aceita sem mais a herança,
independentemente de qualquer processo de inventário, o que, se não o sujeita às
incomodidades de um processo judicial, lhe impõe, todavia, o ónus de "provar que na
herança não existem valores suficientes para o cumprimento dos encargos", embora
também nesse caso a sua responsabilidade não exceda o valor dos bens deixados, art.º
2071.°/2 CC.
0.B.S: O herdeiro, em princípio, tem o direito de optar entre esses dois tipos de
aceitação. Tanto assim que, o art.º 2052.º/2 estipula que "se têm como não escritas,
quaisquer cláusulas testamentárias em que o "de cuius", directa ou indirectamente, imponha
uma ou outra espécie de aceitação".
MODOS DE ACEITAÇÃO: EXPRESSA OU TÁCITA - ART.º 2056.°CC
A aceitação expressa deve constar de documento escrito. Porém, o assumir do
título de herdeiro dever ser acompanhado da intenção reconhecível de adquirir a herança.
O facto de não se vislumbrar sequer uma noção de aceitação tácita e os termos em
que está redigido o n.º l do art. 2056.°, levam-nos igualmente a concluir que as noções de
aceitação expressa e tácita se deverão retirar a partir da noções gerais do art.º 217.° CC.
FORMA DE REPÚDIO, ART.º 2063.° CC
O repúdio da herança ou do legado terá de ser feito por escritura pública se
existirem na herança coisas imóveis ou se ao legado respeitarem coisas móveis, poderão ser
repudiados mediante documento particular.
Em conclusão, o repúdio sucessório, ao invés da aceitação, é sempre um acto
formal, embora de maior ou menos exigência documental, em função do tipo de bens em
causa.
EFEITOS DO REPÚDIO
O herdeiro ou o legatário que tiver repudiado à sucessão, de acordo com a parte
final do art.º 2062.° é considerado como "não chamado", salvo para efeitos de

3
MD

representação, determinando o n.º 2 do art.º 2032.º que nesse caso, serão chamados os
sucessíveis subsequentes.
Deste modo, se não ocorrer uma substituição directa, por o "de cuius" não a ter
estipulado ou por ela não ser possível, há lugar, hierarquicamente ao direito de
representação a favor dos descendentes do sucessível, ao direito de acrescer para os outros
co-sucessíveis ou ao chamamento dos sucessíveis legais com prioridade de designação.

DECLARAÇÃO DE HERANÇA VAGA E AQUISIÇÃO DESTA PELO


ESTADO
O Estado como sucessor legítimo só é chamado à sucessão na falta ou repúdio de
todos os outros sucessores legais previsto na lei (art.º 2157.º e 2133.°) e na falta ou repúdio
de sucessores testamentários, cujas designações prevalecem sobre a do Estado, dado que
este não é sucessor legitimário, art.º 2154.º C.C

BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA

 DA SILVA, Manuel António Dias, “Direito das Sucessões – Sumários Desenvolvidos”,


Colecção Faculdade de Direito, Universidade Agostinho Neto;
 DE SOUSA, Rabindranath Capelo, Lições de Direito das Sucessões, Volume I (4
Edição) e II (3 Edição), Coimbra Editora.
 RODRIGUES, Eduarda, Partilha de Bens no Ordenamento Jurídico Angolano -
Aspectos práticos, Sociedade Poligráfica, SA.
 Constituição da República De Angola;
 Código Civil da República De Angola.

Você também pode gostar