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A aceitação e o repúdio são actos unilaterais não receptícios. Assim, por força do
art.º 2950.º CC, aplicam-se-Ihes as normas dos negócios jurídicos desse tipo, relativas à
perfeição das respectivas declarações, à capacidade das partes e aos vícios da vontade, em
tudo aquilo que não contrarie o disposto especialmente para a aceitação e o repúdio
sucessórios (em matéria de vícios da vontade os arts. 2060.ºCC e 2065.º estabelecem um
regime particular, determinando que tais actos são anuláveis "por dolo ou coacção, mas não
com fundamento em simples erro"). O simples erro é irrelevante.
São actos individuais (com autonomia de posições dos vários sucessíveis entre si,
mesmo que instituídos ou nomeados conjuntamente, art.º 2051.º CC), embora susceptíveis
de representação voluntária.
São actos livres (porque não existe uma obrigação legal num sentido positivo ou
negativo, sem prejuízo da presunção legal do art.º 2049.º/2 CC), embora de conteúdo puro e
simples (ou seja, insusceptíveis de aposição de condição ou termo de acordo com os arts.
2054.º/1 e 2064.º), e indivisível (uma vez que conforme os arts. 2054.º/2 e 2064.º e 2249.º,
a herança e o legado não podem ser aceites ou repudiados só em parte, sem prejuízo do
disposto nos arts.2055.º para a herança e 2250.° para o legado.
0.B.S: Também por este regime se diz que a aceitação e o repúdio são actos de
adesão, obrigando em princípio o sucessível a aceitar tudo ou a repudiar tudo a que é
chamado.
Por último, ambos os actos só podem ter lugar após a abertura da sucessão (art.º
2028.° e 2032.º), são irrevogáveis (art.º 2061.° e 2066.º), retroagem ao momento da
abertura da sucessão (art.º 2050.º/2 e 2062.º) e promanam ambos do direito de aceitar ou
repudiar a sucessão, direito esse que de acordo com o art.º 2058.° é hereditável, mas que
caduca ao fim de 10 anos, contados, em regra, desde que o sucessível teve conhecimento de
haver sido chamado à sucessão, art.º 2059°.
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Deste modo, a aceitação tem lugar no exacto momento em que o herdeiro requer
que se proceda ao inventário.
Através deste processo, obtém o herdeiro, além da inventariação dos bens da
herança e de uma eventual liquidação e partilha da herança judicialmente fiscalizada,
também uma separação, face aos credores da herança, do seu património pessoal
relativamente aos bens da herança, uma vez que o n.º 1 do art.º 2071.°CC determina que,
nessa espécie de aceitação "só respondem pelos encargos respectivos os bens
inventariados, salvo se os credores e os legatários provarem a existência de outros bens".
0.B.S: O inventário podia ainda servir unicamente para a verificação da não
oficiosidade e inoficiosidade de liberalidades feitas pelo "de cuius".
Na aceitação pura ou simples, o herdeiro aceita sem mais a herança,
independentemente de qualquer processo de inventário, o que, se não o sujeita às
incomodidades de um processo judicial, lhe impõe, todavia, o ónus de "provar que na
herança não existem valores suficientes para o cumprimento dos encargos", embora
também nesse caso a sua responsabilidade não exceda o valor dos bens deixados, art.º
2071.°/2 CC.
0.B.S: O herdeiro, em princípio, tem o direito de optar entre esses dois tipos de
aceitação. Tanto assim que, o art.º 2052.º/2 estipula que "se têm como não escritas,
quaisquer cláusulas testamentárias em que o "de cuius", directa ou indirectamente, imponha
uma ou outra espécie de aceitação".
MODOS DE ACEITAÇÃO: EXPRESSA OU TÁCITA - ART.º 2056.°CC
A aceitação expressa deve constar de documento escrito. Porém, o assumir do
título de herdeiro dever ser acompanhado da intenção reconhecível de adquirir a herança.
O facto de não se vislumbrar sequer uma noção de aceitação tácita e os termos em
que está redigido o n.º l do art. 2056.°, levam-nos igualmente a concluir que as noções de
aceitação expressa e tácita se deverão retirar a partir da noções gerais do art.º 217.° CC.
FORMA DE REPÚDIO, ART.º 2063.° CC
O repúdio da herança ou do legado terá de ser feito por escritura pública se
existirem na herança coisas imóveis ou se ao legado respeitarem coisas móveis, poderão ser
repudiados mediante documento particular.
Em conclusão, o repúdio sucessório, ao invés da aceitação, é sempre um acto
formal, embora de maior ou menos exigência documental, em função do tipo de bens em
causa.
EFEITOS DO REPÚDIO
O herdeiro ou o legatário que tiver repudiado à sucessão, de acordo com a parte
final do art.º 2062.° é considerado como "não chamado", salvo para efeitos de
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representação, determinando o n.º 2 do art.º 2032.º que nesse caso, serão chamados os
sucessíveis subsequentes.
Deste modo, se não ocorrer uma substituição directa, por o "de cuius" não a ter
estipulado ou por ela não ser possível, há lugar, hierarquicamente ao direito de
representação a favor dos descendentes do sucessível, ao direito de acrescer para os outros
co-sucessíveis ou ao chamamento dos sucessíveis legais com prioridade de designação.
BIBLIOGRAFIA RECOMENDADA