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2- Direito de representação
3- Direito de acr4scer
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Pode A dizer que quer que seus bens sejam para B, mas se B não puder ou não
quiser aceitar então sucederão C, D e E. Mas também pode dizer o contrário: pode dizer
“Eu deixo os meus bens a C, D e E, mas se algum deles não puder ou não quiser aceitar,
então será B o contemplado”.
Portanto, admitem-se estas várias modalidades de substituição direta. E admite-se
que a substituição direta funcione sem limitação de grau, ao contrário do que se verifica na
substituição fideicomissária.
Há que ter também em conta a norma constante do n.º 2 artigo 2281º que é importante pelo
seguinte: o pressuposto geral de vocação indirecta é o sucessivel instituido em 1º lugar não
puder ou não querer aceitar. O nº 2 artigo 2281º vem dizer que se o testador previr apenas
um dos casos, portanto, previr só a situação do sucessível não puder aceitar ou só a situação
de não querer aceitar, entende-se, salvo declaração em contrário, que quis abranger as duas
situações.
Se A disser "Deixo os meus bens ao meu amigo Bento mas se ele não poder aceitar
os bens irão para o meu amigo Carlos", só foi prevista a situação de não poder aceitar. Se
o Bento repudiar, temos uma situação que não é de não poder aceitar mas sim de não querer.
Nesse caso, por força deste nº 2 entende-se que a substituição produz efeitos na mesma.
Vamos atribuir o direito de suceder a Carlos. Só se o testador tivesse dito expressamente
"só no caso de Bento não poder aceitar é que os meus bens passam para C" é que, se
houvesse uma situação de repúdio, a substituição ficaria sem efeito.
É uma norma muito importante porque por vezes o testador só prevê uma situação e nem
sempre utiliza a expressão não poder ou não querer. Diz por exemplo: "se já tiver morrido
quando eu morrer". Se for, portanto, prevista só uma das situações estão abrangidas todas
as situações de não poder e de não querer, salvo declaração em contrário.
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Miguel aceitar está a ser contemplado como sucessível legal ou como
sucessível testamentário?
Parece-nos possível esta situação, ou seja, nada obsta a que se preveja que, se os sucessíveis
legais não quiserem aceitar, a sua parte seja transferida para outrem: haverá aqui uma
substituição direta.
Agora, o que julgamos é que tacitamente se estará a instituir o sucessível legal
através do testamento. Aquele que era sucessível legal passa a ser sucessível testamentário,
tendo a sua deixa como objeto aquilo a que teria direito quando sucessível legitimo. Só
assim se pode determinar o montante que é atribuído ao substituto.
Vamos supor que A tem dois irmãos, B e C, e diz: “Se algum dos meus irmãos não
quiser aceitar, a sua parte será para D”. Neste caso, haverá a instituição testamentária de B
e C no montante a que teriam direito como sucessíveis legítimos.
Vamos agora ver quando é que se verifica esta situação; quais são as situações de não querer
ou não poder que determinam o direito de representação e em que modalidades de sucessão
se verifica o direito de representação.
O artigo 2040º diz-nos que a representação tanto se dá na sucessão legal como na sucessão
testamentária. Mas, para além da sucessão legal e da sucessão testamentária, também se
verifica o direito de representação na sucessão contratual.
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DIREITO DE REPRESENTAÇÃO NA SUCESSÃO CONTRATUAL
Não há nenhum artigo na sucessão contratual que tenha por epígrafe “Direito de
representação na sucessão contratual”.
O que vamos encontrar é o artigo 1703º que estabelece o seguinte regime, no seu n.º 1: em
princípio, se o donatário falecer antes do doador a instituição contratual caduca. Mas diz o
n.º 2 que, se a doação por morte tiver sido feita por um terceiro a um ou ambos os
esposados, a instituição não caduca se sobreviverem descendentes nascidos desse
casamento, em vista do qual foi feita a doação.
Logo, temos aqui uma situação que embora não seja referida expressamente é um caso de
direito de representação. Porquê? Porque neste caso, os descendentes do donatário vão no
fundo ocupar a posição que tinha o seu ascendente. Neste caso, vai haver uma limitação
quanto à previsão do direito de representação. O único caso que se admite é a não
sobrevivência ao autor da sucessão. O repúdio já não é possível porque já houve aceitação.
O único caso que pode aqui dar lugar ao direito de representação é a pré-morte, que abrange
também as situações de comoriência e ausência. Uma situação que o artigo 1703º/2 chama
de predecesso e que equivale à pré-morte.
A resposta deve ser negativa porque não interessa que o sucessível contratual tenha outros
descendentes nascidos dentro ou fora do casamento. Não é o facto de ser nascido dentro do
casamento ou fora que cria aqui um regime diverso. É pura e simplesmente o facto de a
doação ter sido feita na convenção antenupcial tendo em vista aquele casamento e,
portanto, só os filhos, ou outros descendentes, nascidos deste casamento é que vão
beneficiar do direito de representação.
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Caso os filhos sejam filhos do casal mas tenham nascido antes do casamento crê-se que,
atendendo à ratio legis, também deverão beneficiar do direito de representação porque se
pretendeu beneficiar os filhos daquele casal.
Conclusão:
Neste caso, como vemos, não está prevista a situação de incapacidade sucessória, portanto,
a indignidade não é pressuposto do direito de representação na sucessão
testamentária. Isto, que resultava já do artigo 2041º, é reforçado pelo artigo 2037º, n.º 2,
interpretado a contrario. Este artigo estabelece que, na sucessão legal, a incapacidade do
indigno não prejudica o direito de representação dos seus descendentes. Ora, se não
prejudica na sucessão legal, a contrario prejudica na sucessão voluntária. Portanto, na
sucessão testamentária a indignidade não é pressuposto do direito de representação. Só têm
direito de representação os descendentes do sucessível que não sobreviveu ao autor da
sucessão ou que repudiou.
Diz-se na alínea a) que não há direito de representação se tiver sido designado substituto
ao herdeiro ou legatário.
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Temos aqui um caso que acabamos de ver a propósito da substituição direta. Se A deixou
bens a B e disse que, se B não quisesse ou não pudesse aceitar, os bens seriam atribuídos a
C, é evidente que, se B não quiser ou não puder e tiver um filho, este descendente não goza
do direito de representação, sendo chamado o substituto.
É o que diz a alínea a) do n.º 2 do artigo 2041º. Neste caso não há direito de representação,
o que significa que a substituição direta é uma vocação mais forte que o direito de
representação.
Também não haverá direito de representação nos termos da alínea c) do n.º 2 do artigo
2041º. Se tiver sido deixado o legado de usufruto ou de outro direito pessoal, por exemplo,
o legado de alimentos ou uma pensão vitalícia, ou seja, algo que se prenda com a pessoa
do destinatário. Nesse caso, não faz sentido atribuir a outra pessoa, a saber, aos
descendentes, um direito que tinha sido deixado tendo em conta aquela pessoa em
particular. E sendo assim também não haverá direito de representação.
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Quanto aos pressupostos, estes vão variar consoante estejamos perante sucessão legitimária
ou sucessão legítima.
Então diz-se que, na linha reta, o direito de representação vai ter lugar sempre a favor dos
descendentes do filho, independentemente do grau.
Não interessa que seja neto, que seja bisneto, que seja trineto do autor da sucessão. Não
podendo o filho aceitar, passa-se aos netos, bisnetos e por aí fora, sem limitação de grau.
Na linha colateral, vai existir direito de representação a favor dos descendentes do irmão e
também sem limitação de grau.
Esquematicamente:
+A I
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direito de representação.
Esquematicamente:
Se A for casado com B e este tiver um filho C, neste caso C é enteado/a de A. A morre, B
repudia, nunca há direito de representação na sucessão legal a favor do descendente do
cônjuge. É evidente que pode haver na sucessão testamentária. Se A fizer testamento a
favor do seu cônjuge B, nesse caso, na qualidade de herdeiro ou legatário testamentário, já
pode perfeitamente ocorrer o direito de representação. Não ocorre é na sucessão legal.
+A
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C D
Há uma regra muito importante que consta do artigo 2043º que diz o seguinte: os
representantes ocupam o lugar do representado na sucessão do seu ascendente. E é
indiferente que tenham aceite ou não a sucessão de B ou que sejam incapazes em relação
a B.
Exemplo: B morreu em 1980 e o A , seu pai, só vem a morrer em 2019. Em 1980, por
hipótese, C e D (filhos de B) repudiaram a sucessão de B. Isso não tem relevância nenhuma
face à sucessão de A. Não interessa qual tenha sido a posição deles face a sucessão de B.
Não interessa que tenham sido deserdados por B, não interessa que tenham repudiado a
sucessão de B, porque eles agora estão a suceder a A.
Exemplo 1: A e B faleceu num acidente de viação e não se consegue provar quem faleceu
em primeiro lugar. Quando se chega ao local do acidente estão ambos mortos e as autópsias
não revelam quem faleceu primeiro lugar. Haverá neste caso uma situação de direito de
representação ou uma situação de transmissão do direito de suceder?
De acordo com o artigo 68.º, n.º 2, estabelece-se uma presunção de comoriência, ou seja,
estabelece-se que B não sobreviveu a A. Como B não sobreviveu a A, não adquire na sua
esfera jurídica nenhum direito a suceder a A. Logo, não podia transmitir nada. Então vai
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haver direito de representação em relação a C e D (filhos de B) que partilhariam aquilo que
cabia a B. Logo, neste caso temos uma situação de direito de representação porque, não se
provando a sobrevivência, há uma situação de não poder aceitar.
Exemplo 2: Agora vamos supor que, quando A morre, o B estava já numa fase terminal da
sua vida com uma doença incurável, estava no hospital e veio a falecer 2 dias depois de A,
sem ter recuperado a consciência. Neste caso há direito de representação ou transmissão
do direito suceder?
Apesar de haver aqui um não poder físico porque o sucessível está inconsciente, o que é
certo é que sobrevive ao autor da sucessão. E desde que se prove que ele sobrevive, nem
que seja 1 minuto, já adquire na sua esfera jurídica o direito de suceder. Neste caso,
transmite aos seus herdeiros esse direito de aceitar ou repudiar. Enquanto o direito de
representação só beneficia descendentes, na transmissão do direito de suceder são
beneficiados os herdeiros, aqueles que aceitarem a sucessão de B.
Esquematicamente:
+A
75 J 75 L
Vamos supor, nesta situação, que C faleceu antes de A e que D foi deserdado por A. Quer
num caso, quer noutro vai funcionar o direito de representação. Ao contrário do que vimos
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para a sucessão testamentária, a incapacidade sucessória não afeta o direito de
representação na sucessão legal. Logo, mesmo sendo D deserdado, os respetivos
descendentes vão suceder a A representando D.
A estirpe é constituída pelos descendentes daquele que não pode ou não quis aceitar. Neste
caso, funcionando o direito de representação por estirpes, a cada estirpe vai caber aquilo
que caberia ao ascendente respetivo.
Logo, vamos supor que neste caso cabia a cada filho 300 mil euros. Verificando-se que C
já tinha morrido e que D foi deserdado, a parte que caberia a cada um deles vai ser atribuída
aos descendentes respetivos. E ficará com 150 mil e F com 150 mil, enquanto G. H e I
ficarão com 100 mil cada um.
Não vamos dividir os bens da herança por quantas pessoas quantos os herdeiros, mas vamos
fazer a partilha por estirpes: cada estirpe, portanto, os descendentes daquele que não pode
ou não quis aceitar recebem aquilo a que teria direito o seu ascendente.
Outra regra que foi afastada neste exemplo foi a regra de preferência de grau de
parentesco.
Como veem, não vamos chamar apenas o parente com o grau de parentesco mais próximo,
neste caso o filho B, que é parente de A no 1º grau da linha reta. Chamamos também os
netos, que são parentes do 2º grau da linha reta, e ainda bisnetos. Se funcionasse a regra da
preferência de grau, só chamávamos o filho. Portanto, outra regra a fixar é a de que o direito
de representação pode afastar também a regra da preferência de grau.
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Diz-nos ainda a lei (artigo 2045.º) que o direito de representação opera mesmo que exista
uma única estirpe.
Esquematicamente:
+A
Se existir apenas um descendente do autor da sucessão e esse descendente tiver, por sua
vez, apenas um descendente, diz o artigo 2045º que mesmo assim funciona o direito de
representação. Vamos perceber melhor porquê quando estudarmos os mecanismos da
sucessão legitimária em que vamos estudar 2 institutos importantes: colação e imputação.
Sendo que, neste caso, aquele que poderá ter importância é o da imputação. Neste caso,
mesmo perante esta situação em que B por hipótese já morreu, diz a lei que C é chamado
por direito de representação. Não é chamado diretamente, mesmo assim, há uma vocação
indireta. Isto pode ter importância se eventualmente B tiver recebido doações em vida do
seu pai, depois há que saber onde vamos imputá-las e se C tem a posição que tinha B, tudo
se vai passar como se a doação tivesse sido feita a C. Se não houvesse este mecanismo do
direito de representação, era indiferente que B tivesse ou não recebido doações em vida.
Suponhamos que A fez testamento no qual diz o seguinte: “ Se algum dos meus filhos não
quiser ou não puder aceitar, quero que a sua parte seja atribuída ao meu amigo Francisco”.
Vamos supor que A tinha 3 filhos B, C e D e faz o testamento contemplando o amigo
Francisco mas só no caso de algum dos filhos não poder ou não querer aceitar.
E agora, temos um problema que é articular esta vontade do autor da sucessão com as
regras da sucessão legitimária. B por hipótese tem 2 filhos (E e L) e verifica-se que B é,
por hipótese, deserdado. O que vai acontecer? Vai prevalecer o direito de representação,
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tendo E e L direito àquilo que o pai (B) tinha na sucessão de A ou prevalece a substituição
direta, atendendo-se à vontade do autor da sucessão portanto aquilo que seria de B é
entregue a F? Serão os filhos que beneficiam do direito de representação ou será o amigo
que fica com os bens que caberiam ao B?
Esquematicamente:
(deserdado)B C D
E L
Temos que fazer uma distinção entre a quota disponível e a quota indisponível.
Dentro da quota indisponível, a vontade do autor da sucessão não prevalece. Neste caso,
vamos supor que tínhamos uma quota indisponível de 600 e uma disponível de 300, o que
significa que a cada um dos filhos caberia 200 de legítima subjetiva e 100 de quota
disponível. Logo, no que diz respeito à legítima, a parte que caberia a B seria
necessariamente para os seus descendentes por direito de representação. Já a parte que
caberia a B dentro da quota disponível, não havendo já limites à liberdade de dispor por
parte do autor da sucessão, poderia ser atribuída ao amigo Francisco.
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afastado B por deserdação, a parte que caberia a B também não seria para o amigo
Francisco porque, dado o princípio da intangibilidade da legítima e da unidade da legítima,
seria atribuída aos seus irmãos.
É evidente que se B não tivesse irmãos, uma vez que ele não quer aceitar ou é afastado da
sucessão, passa a ser tudo disponível e então aí já poderia ir tudo para o amigo Francisco.
O direito de acrescer também se vai verificar quer na sucessão legal, quer na sucessão
testamentária. E aliás é a propósito da sucessão testamentária que esta figura está regulada
com mais pormenor a partir do artigo 2301º e ss. No entanto, também está previsto na
sucessão legal no artigo 2137º/2 e a sucessão legitimária remete para as regras da sucessão
legítima e logo remete também para o artigo 2137º/2.
Haveria uma situação de não decrescer quando por hipótese tendo A 3 filhos, cada um deles
tivesse a sua situação comprimida pela existência de outros herdeiros e, a partir do
momento em que os outros herdeiros são afastados, há como que uma expansão do título
abrangendo a totalidade da sucessão. Ou seja, no direito de não decrescer em rigor não
haveria uma vocação indireta porque não há sequer uma nova vocação. Quem fala em
filhos pode falar em irmãos. Alguém tem 3 irmãos que são chamados como sucessíveis
legais e a existência de um é comprimida pela existência dos outros: uma vez que um deles
seja afastado há como que uma expansão automática abrangendo a parte que caberia àquele
que é afastado da sucessão.
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Quando é que então haveria direito de acrescer em sentido técnico ou específico?
Apenas numa situação em que existindo encargos apostos a uma deixa, portanto, só no
âmbito da sucessão testamentária, se verificasse que o sucessível não quer ou não pode
aceitar e há outros sucessíveis instituídos. Supondo que A faz testamento onde diz o
seguinte: “Deixo 1/3 da minha herança a B com o encargo de pagar uma renda vitalícia a
M; deixo outro 1/3 a C e outro 1/3 a D”. Neste caso, havendo este encargo, uma vez que se
verifique que B não pode ou não quer aceitar, C e D têm de se pronunciar para dizer se
querem ou não aceitar aquela parte que tem encargos.
Em rigor só nesse caso é que haverá vocação indireta porque só nesse caso é que há uma
nova vocação que é atribuída e moldada sobre a posição daquele que não pode ou não quis
aceitar e tendo exatamente os mesmos direitos e deveres que tinha esse sucessível. Assim,
só nesta situação é que se deveria falar em direito de acrescer. Simplesmente, como diz o
Professor Pamplona Corte Real isso seria reduzir a figura a uma situação muito específica
e portanto quando falamos em geral no direito de acrescer abrangemos quer a situação de
não decrescer, quer a situação de acrescer propriamente dito (em sentido restrito). De
futuro, quando falarmos em direito de acrescer abrangem-se tanto as situações em que pura
e simplesmente um dos sucessíveis não pode ou não quer aceitar e a sua parte acresce
automaticamente à dos outros, como as situações em que, não podendo ou não querendo
aceitar, é preciso que haja uma nova aceitação. Embora num sentido técnico e rigoroso só
neste 2º caso exista verdadeiramente uma vocação indireta.
DIREITO DE ACRESCER
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Acrescer entre herdeiros testamentários
A esta matéria referem-se, especificamente, o art. 2301º e também, em boa parte, o art.
2306º CC.
Como se estabelece no art. 2301º/2, o acrescer entre herdeiros testamentários ocorre na
proporção das quotas dos mesmos.
O art. 2306º diz-nos que “a aquisição da parte acrescida dá-se por força da lei, sem
necessidade de aceitação do beneficiário, que não pode repudiar separadamente essa parte.
Esta é a regra, exceto quando a deixa testamentária esteja onerada com encargos especiais.
Nos casos de deixa testamentária onerada com encargos especiais, é dada ao herdeiro a
hipótese de aceitar ou repudiar autonomamente essa deixa.
Refira-se ainda que, apesar do que vem disposto no art. 2139º/1/parte final (um mínimo
para o cônjuge de uma quarta parte da herança), numa situação de concurso entre cônjuge
e descendentes, levantam-se dúvidas quanto ao modo como o acrescer deve funcionar.
Vamos supor que há concurso de cônjuge com 5 descendentes e um deles repudia. Quem
vai beneficiar do acrescer?
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1.ª hipótese- Todos na proporção das quotas, funcionando a regra geral do acrescer;
2.ª hipótese: Todos mas em partes iguais;
3.ª hipótese: Só os descendentes uma vez que o cônjuge já tem assegurada a sua quarta
parte da herança.
Para o Prof Pamplona Corte-Real o acrescer opera por cabeça e não atendendo à
proporção superior do cônjuge imposta pelo art. 2139º/1.
Em nossa opinião, e uma vez que a regra geral é a da divisão por cabeça entre o cônjuge e
os descendentes, se o cônjuge já recebe mais do que os descendentes ao receber uma quarta
parte da herança não faz sentido aumentar a diferença entre as quotas pelo que se prefere a
3ª hipótese.
No que toca ao acrescer entre herdeiros legais, aplica-se plenamente a 1ª parte do art. 2306º
que fala da desnecessidade da aceitação e da aquisição da proporção acrescida de modo
automático.
Posição do Prof. Oliveira Ascensão: é uma posição que se inclina no sentido de considerar
possível o acrescer de herdeiros legítimos sobre testamentários.
Não é esta a posição do Prof. Pamplona Corte Real. Este entende que não é possível o
acrescer de herdeiros legais ou legítimos sobre herdeiros testamentários porque faltaria um
pressuposto do acrescer: a vocação conjunta.
E, portanto, nas situações em que os herdeiros legítimos aproveitam do não poder ou não
querer aceitar a herança por parte dos herdeiros testamentários, não há um acrescer mas
há o chamamento do sucessível subsequente, há um alargamento desse chamamento.
Concorda-se com esta última posição.
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Acrescer entre legatários – no âmbito da sucessão testamentária
Falando agora do acrescer entre legatários e retomando o acrescer no âmbito da sucessão
testamentária, obviamente, para essa matéria do acrescer entre legatários temos preceitos
específicos localizados na secção V que se refere ao direito a acrescer – art. 2302º, 2303º e
2305º.
• Art. 2302º: diz que há um direito de acrescer em relação a legatários que tenham
sido nomeados em relação ao mesmo objeto.
• Art. 2305º: por outro lado, ainda há a acrescer nos termos do art. 2305º: acrescer
entre usufrutuários de quotas da herança que remete para o artigo 1442.º.
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É de perguntar, à luz deste art. 2303º, se ele se aplica apenas quando os legados sejam
encargos específicos, quando haja uma oneração específica de certos herdeiros com
legados ou em todas as situações em que um legado seja um encargo geral da herança.
Julga-se que o art. 2303º só se deve aplicar quando o legado seja um encargo
específico, isto é, quando onere especificamente a posição de um sucessível testamentário.
Então sim, deve aplicar-se o art. 2303º.
Por ex.: o autor da sucessão deixa por testamento a B uma quota de metade da herança e
estabelece que B deve entregar um automóvel a C.
Se C repudiar, parece que há então uma desoneração do encargo do cumprimento do
legado e funciona o art. 2303º plenamente.
Nas situações em que o encargo já não esteja associado especificamente, que não seja uma
incumbência específica dum determinado herdeiro – ex.: quando são designados herdeiros
e depois é feita uma nomeação de um legatário sem dizer a quem cabe o cumprimento do
legado – parece que o problema já será antes de caducidade do legado, havendo herdeiros
que aproveitam dessa caducidade. Nesta situação já não funciona o art. 2303º.
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• Depois coloca-se o problema da aceitação ou do repúdio de A. Se A repudiar a
porção acrescida, então C, o legatário, adquire a quota que originariamente fora
atribuída a B.
Isto é: para funcionar o art. 2306º, para haver um verdadeiro acrescer de legatário sobre
herdeiro, é preciso que:
Esta situação é tida como uma manifestação do direito de acrescer stricto sensu e uma das
únicas possíveis por contraposição às hipóteses de não decrescer.
Outro problema que se coloca relativamente ao art. 2306º é o que de saber como funciona
o mesmo quando, para além de herdeiros testamentários, existam herdeiros legítimos.
Isto é, quando exista concurso de herdeiros testamentários e herdeiros legítimos.
Vamos supor que o autor da sucessão deixa a A um quarto da herança com o encargo de
pagar uma pensão vitalícia de 500€ por mês a C, deixa um quarto da herança a B e nada
diz quanto à metade que resta. Portanto, aqui há um concurso de herdeiros testamentários
com um herdeiro legítimo ou vários.
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Pergunta-se: se o primeiro herdeiro testamentário onerado repudiar e se o segundo
herdeiro testamentário também repudiar a quem é diferida a porção acrescida?
è Beneficia desde logo o legatário (C)?
Ou
è Beneficiará antes o sucessível (ou os sucessíveis) legítimo(s)?
Há dúvidas.
O Prof. Oliveira Ascensão inclina-se para que não ocorra o benefício imediato a favor do
legatário. Haveria que se oferecer a porção acrescida, haveria que perguntar ao sucessível
legítimo se aceita ou se repudia a porção inicialmente atribuída a A, onerada com o legado
e, só depois, se se verificasse esse repúdio, é que o acrescer funcionaria em benefício do
sucessível que foi designado legatário.
O Prof. Pamplona Corte Real discorda e discorda por uma razão fundamental: é que o
acrescer deve operar dentro de cada título de vocação sucessória. Se estamos no âmbito da
sucessão testamentária, não se coloca o problema de diferir a porção acrescida ao
sucessível legítimo, deve-se antes atribuí-la ao legatário.
Concorda-se com esta posição.
Para terminar, importa definir qual é o lugar do acrescer na hierarquia das vocações
indiretas.
Lugar do acrescer na hierarquia das vocações indiretas
O lugar do acrescer na hierarquia das vocações indiretas resulta da articulação de vários
preceitos:
• Art. 2304º - para o acrescer na sucessão testamentária;
• Art. 2137º e 2138º - para a sucessão legítima;
• Art. 2137º e 2138º para a sucessão legitimária por força do art. 2157º.
Em conclusão:
O acrescer é a vocação indireta que está no fundo da hierarquia.
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Na âmbito da quota disponível está abaixo da substituição direta e do direito de
representação.
Direi
to
Substituiçã
o Direta de
Repr
esen
taçã
o
Direito de
Representação
Acrescer
Acrescer
22