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Revisão de Sucessões

06/11

A sucessão testamentária está regulamentada no art. 1857 do CC.


Advém do elemento vontade, enquanto a sucessão legítima advém da lei. Para que ela
ocorra depende do elemento vontade. O elemento volitivo é mais importante e
determinante para o acontecimento da sucessão testamentária.

Logo, sucessão testamentária ocorre quando o autor da herança quer dispor. É uma
vontade totalmente espontânea e não pode estar vinculada a qualquer outra finalidade ou
escopo. Eu quero dispor daqueles bens porque quero agraciar aquelas pessoas.

Para além disso, nós temos a possibilidade da sucessão testamentária ser feita de maneira
integral ou de parte dela acontecer de forma vinculada.

Herdeiros necessários (Cônjuge), ascendente e descendente)Havendo apenas um herdeiro


necessário, nós deveremos respeitar a chamada legítima. O professor sinaliza que nem
deveríamos chamar essa porção garantida aos herdeiros necessários de legítima, sendo
melhor ser chamada de necessária, pois existem herdeiros que são legítimos, mas que não
são necessários – (ex: colaterais). Havendo um herdeiro colateral, mas não havendo
nenhum herdeiro necessário o autor da herança pode dispor da totalidade de seus bens.

Ex: A possui 2 milhões de reais de patrimônio ( tem um irmão, os pais já faleceram, não tem
filhos, não é casado e nem em união estável). Ele está livre para dispor seus bens. Se o
autor quiser pode ou NÃO contemplar o irmão. O irmão é colateral, o primo, o tio, o sobrinho
são herdeiros colaterais. Logo, eles são legítimos, mas não são necessários, e não sendo
necessários eles não possuem essa garantia dos 50% da metade do patrimônio que tem
que ser destinada.

A legítima constitui 50% do patrimônio destinado aos herdeiros necessários.

§ 1º do art. 1857 – A legítima dos herdeiros necessários não poderá constar em testamento,
devendo ser retirada. Sempre que estivermos falando de testamento, estamos tratando de
patrimônio disponível. Uma coisa é a legítima e outra é o patrimônio disponível.

§2º do art. 1857 – O testamento é um ato de vontade, mas pode não ter características
patrimoniais, como por exemplo atestar o reconhecimento de filho em testamento. Ex: Pelé
por meio do testamento, reconheceu a existência de uma outra filha. Além disso, pode-se
ainda tratar sobre a figura da deserdação. Também o exemplo do testamento espiritual (carta
de intenções). Que a família se reúna todos os natais.

Art. 1858 – CARACTERÍSTICAS DO TESTAMENTO


1)- O testamento é ato personalíssimo, podendo ser mudado a qualquer tempo (revogável).
Ele é personalíssimo pois diz respeito a única e exclusiva vontade do autor da herança. Não
se pode fazer nada que venha macular o escopo do testamento. Não se pode contemplar
no testamento interesses de terceiros. O interesse é total do testador (ele quer).
2)- O testamento é revogável, ou seja, vale a última disposição. A fez 5 testamentos. Em 4
deles B foi contemplado. O testador assegurou B que iria passar para ele um carro raríssimo
de altíssimo valor monetário falando nos 4 testamentos, porém no último testamento muda
de ideia. Vale esse último. Da mesma forma se a pessoa fizer um testamento aos 18 anos e
permanece até os 80.
3)- O testamento deve ser feito quando há uma plena capacidade ainda que relativa
(maiores de 16 anos) com auxílio dos representantes. Não é aconselhável que se tenha
testamento de pessoas muito jovens, todavia não impede que seja feito.
4) – O testamento é um ato solene. Solenidade diz respeito a características de forma, ou
seja, a formalidade do ato. No caso do testamento é uma disposição de patrimônios
adquiridos durante toda uma vida, e isso requer um maior grau de formalidade. Essa
solenidade é vinculada, não sou eu que escolho essa formalidade. Eu escolho nas opções
que me são dadas (Art. 1862 - testamento público, particular e cerrado).
5) – o testamento é literal. O testamento origina-se de ato volitivo e unilateral e por isso
requer sempre uma interpretação, e essa tem que ser benéfica a quem o fez, buscando
sempre a vontade ou intenção do testador, e não o sentido literal da linguagem.

Art. 1881 – O codicilo é uma pequena disposição de menor monta (ex: a pessoa que quer
ser velada no Domingo e a missa na Igreja Nossa Senhora de Fátima). O codicilo como
próprio artigo diz possui características de menor repercussão econômica. Menor grau de
solenidade. O código nem dispõe sobre eventual descumprimento de cláusula de codicilo.

O foco da prova é: Disposições testamentárias e legados e seus efeitos.

Testamento diz respeito a legado.

Conceito de legado: é um bem específico. É um celular, um automóvel, um apartamento,


um conjunto de ações. Não são bens apenas corpóreos, mas devemos ampliar a nossa ideia
de bens. Caracteriza-se legado a coisa certa e determinada deixada para alguém (chamado
de legatário), através de um testamento ou codicilo.

As disposições testamentárias estão intimamente ligadas a legado.

Art. 1897 – TIPOS DE NOMEAÇÃO (nomeação do herdeiro ou legatário).


A nomeação ou disposição pode se dar diferentes maneiras:

Nomeação pura e simples – A destina a B um automóvel. O legado (bem específico) tem


de ser especificado. O ideal é que eu faça essa disposição de modo individualizado. Ex:
Carro marca tal, cor tal, com valor atual de mercado X, chassi nº tal. Especifiquei e falei qual
é o bem não o fazendo de forma genérica. Na nomeação pura e simples eu instituo o
legatário ou o herdeiro e indico qual bem ele vai receber.

Nomeação sob condição (Suspensiva ou Resolutiva) – Condição suspensiva é


aquela em que uma disposição temporal (tempo) ela impede o aproveitamento do bem de
forma imediata. Condição suspensiva: evento futuro e incerto. Ex: lego um bem (um
automóvel) placa tal e todas as disposições para André desde quando ele complete 18
anos. Logo, eu estou suspendendo os efeitos da posse e da propriedade inclusive até que
ele complete 18 anos. Ex: até que ele passe no vestibular. Suspende o aproveitamento
imediato daquele bem. Já a condição Resolutiva, é aquela que resolve. Resolver em
direito, principalmente em Direito privado significa dizer que se extingue. Evento futuro e
incerto. Ex: tenho um tio próximo e tem uma doença grave. Seu tratamento é caríssimo,
logo eu coloco que quero que todos os meses sejam depositados R$ 5.000,00 na conta
bancária desse meu tio, para fins do tratamento dessa doença que ele possui até o fim da
sua vida. Quando é que ele vai falecer? Não sei. Quando a condição resolutiva chegar, vai
resolver o negócio. Nesse caso é a morte. Quando se chega ao efeito resolutivo, é
colocado fim ao negócio jurídico.

Termo(futuro e certo) e Encargo (ligado ao cumprimento de um dever) – O termo é um


efeito temporal, mas que não está condicionado a nada. O termo não se confunde com a
condição, pois não está designado a qualquer questão material. Já o encargo diz respeito a
necessidade do cumprimento de uma obrigação para que aquela disposição testamentária
possa produzir efeitos. Ex: Digamos que eu passe um determinado imóvel para alguém,
porém, você só vai ter direito a ele se você pagar o encargo. Há prestações de alienação
fiduciária para serem pagas, há um débito tributário, não pagamento de IPTU, condomínio.
Há uma série de encargos para que a disposição seja efetivada. Te interessa ou não? O
encargo tem mais a ver com o cumprimento de uma obrigação para se haver o
aproveitamento maior dessa disposição.

Art. 1899 – Este artigo conecta-se com o 1903. Uma outra característica que falamos
anteriormente é que o testamento é literal. Nós vamos aproveitar ao máximo a vontade do
testador. Ex: Um testador que testa um documento que seja permeado de erros do ponto de
vista da língua portuguesa. Se aquelas disposições forem possíveis de serem cumpridas
(exequíveis), o testamento terá validade. O fato de conhecimento da língua portuguesa não
é um requisito para fazer uma discriminação daqueles que conhecem mais ou menos da
gramática da LP. Esse artigo 1899 é importante na medida em que as interpretações (o
testamento) ele deve ser interpretado por ele mesmo. Posso utilizar de outros meios para
saber qual foi a vontade daquele testador? Poder até pode. Ex: diário para direcionar a
disposição, não há problema. Todavia o ideal é que o testamento seja interpretado por ele
mesmo. Assegurar a melhor vontade do testador.

Art. 1900 e 1901 – Trazem questões referentes a nulidade e validade das disposições
testamentárias. Também o 1903 e 1909 – artigos que merecem um maior grau de atenção.

NULIDADES DA DISPOSIÇÃO:
Art. 1900 – inciso I (Condição captatória) – quer dizer a chamada troca de interesses. É
aquela em que há o favorecimento de alguém e esta favoreça uma outra pessoa. Ex: Coloco
o filho de A no meu testamento, visando o cargo de tal empresa. Com isso eu estou viciando,
maculando o testamento. O testamento não se presta a isso, sem vincular a interesses. As
condições captatórias são nulas.

Inciso II – Eu digo no testamento que é o Felipe. (Vamos a partir do art. 1899 saber quem é
esse Felipe. Será que é alguém que ele conheceu? Não se consegue identificar no
testamento, nem em outros documentos quem é esse Felipe, nem no trabalho, na
vizinhança). Logo esse Felipe se torna pessoa incerta. Essa disposição será decretada nula.
Logo aquele legado ou quinhão hereditário do qual havia sido anteriormente destinado vai
para os herdeiros necessários e caso não haja, para os herdeiros colaterais, e caso não haja
nenhum para jacência e vacância.

Atenção: O testamento deve ser sempre mais claro e preciso.

Inciso III – quem deve fazer a disposição? O testador. Ele é que em via de regra faz a
determinação de um legado ou quinhão hereditário. Ex: Eu quero que a Carolina determine
um determinado legado aquela pessoa da padaria que todos os dias me cumprimenta. Essa
disposição não faz o menor sentido. Eu estou atribuindo um ato personalíssimo a um ato de
terceiro (clausula incerta).

Inciso IV – Ex: Carolina. Diga quanto Gustavo deve receber(fixar valor). Quem deve fazer a
disposição é o testador.

Inciso V – pessoas do 1801 e 1802 (quem escreveu o testamento, tabelião, etc). Pessoas
que tiveram acesso ao conteúdo do testamento. Logo, tiveram informações privilegiadas. A
posição dessas pessoas deve ser de neutralidade, imparcialidade inclusive se abstendo de
recomendar ou influenciar a vontade do testador, ou seja, no conteúdo.

VALIDADE DA DISPOSIÇÃO:
Art. 1901
Inciso I – Pessoas incertas e legados atribuídos por terceiros. Digamos que eu frequente
determinada Igreja todos os domingos. Encontro com a família Silva e todas as vezes que
eu estou ali, eles estão lá. Eles são incertos, mas certos. Nesse caso, é possível que o
terceiro o faça. São pessoas incertas, mas determináveis.

Inciso II – Sujeito que faleceu de câncer e foi tratado no fim da vida por um determinado
corpo médico. Esse corpo médico fez todo esforço possível, foi atencioso, generoso e
carinhoso com aquela pessoa. Infelizmente foi impossível reverter o quadro clínico, todavia,
aquela pessoa estava tão agradecida com o corpo médico que ela queria que alguma coisa
ficasse para eles. Nesse caso, ela poderia passar a atribuição para um terceiro para
determinar o legado.

1903 -1899 – Leitura conjunta

1899 – No testamento deve se buscar a melhor interpretação para assim fazer a vontade do
testador.

1903 – João Sousa com S e o João Souza com Z. Não é um erro que impede que saibamos
que é o melhor amigo do testador, colega de trabalho. Exemplo 2: Inversão de sobrenome
Campos Silva ou Silva Campos. Conviveu a vida inteira com esse sujeito. Há diários,
conversa de Whats que demonstram isso. O erro por si só não pode ter o condão de anular
a disposição em observância ao artigo 1899.
Atenção: O testamento só não será cumprido quando for impossível aquela disposição ser
entregue a sua finalidade. Vamos sempre pensar a nulidade em caráter excepcional.
Devemos averiguar se a cláusula pode ser cumprida e nada que venha macular por completo
a cláusula testamentária.

SÃO ANULÁVEIS:
Art. 1909
Erro, dolo e coação são atos anuláveis. Se em 4 anos eu não buscar em juízo a anulabilidade
daquela disposição testamentária, ela será considerada válida. É diferente de uma
disposição nula do art. 1900 que dali nada se aproveita.

LEGADOS E SEUS EFEITOS – coisa específicas (bens corpóreos e incorpóreos – créditos,


ações, plataformas digitais, patentes, etc)
Art. 1912 – traz a regra geral (eu posso legar aquilo que é meu/ato de vontade de disposição
de patrimônio próprio que eu tenho na abertura da sucessão)

Ex: Eu fiz a disposição de uma casa ao João Souza no testamento. Entre a realização do
testamento e a abertura da sucessão, houve uma mudança patrimonial de modo que a casa
se perdeu(não existe mais). O legado não poderá ser cumprido. A casa não me pertence
mais no momento da abertura da sucessão.

Art. 1913 Legado Modalou condicional (exceção) – É aquele legado que eu condiciono. Ex:
Fulano, eu vou te passar uma casa de praia na cidade de Cabo Frio(de frente para praia,
500m2) no valor de 1 milhão, desde que você passe o seu APT no Leblon para fulano de tal.
Legado modal serve para aquela ocasião em que eu quero favorecer duas pessoas, porém
eu não disponho de patrimônio para favorecer as duas ou eu não quero favorecer as duas
na mesma proporção. Aí o legatário, diz: Não quero. O efeito será de renúncia.

Art. 1914 Se eu tenho uma determino terreno e eu tenho direito a 50%, pois ele foi adquirido
no regime de comunhão parcial. Como eu estou falando de um patrimônio numa esfera
personalíssima, eu só vou passar 50%, pois diz respeito ao meu patrimônio e não ao
patrimônio do cônjuge. Portanto eu só vou passar 50% do lote.

Art. 1915 – Legado é um bem específico e para o seu melhor cumprimento, é que este bem
seja melhor individualizando. Ex: Um automóvel, placa tal, chassi tal.
Posso fazer uma disposição genérica: Um automóvel, uma obra de arte...

E aí eu vejo que o testador não tem o carro ou a obra de arte, pois foi genérica. Isso
possibilita que a cláusula seja cumprida. Caberá a testamenteiro fazer valer a vontade com
a compra do bem e passar a quem de direito. Porque o 1915 vale em contrapartida ao 1912?
Porque ele não está infringindo a regra geral do legado? Porque trata de uma disposição
genérica. Se fosse específico, não poderia cumprir caso não tivesse pois não faz parte do
patrimônio.
Art. 1916 – Eu leguei a determinada pessoas 3 cavalos. Porém no momento da abertura da
sucessão um morreu. Vai valer a disposição testamentária? Sim. Tá em quantidade inferior.
Legatário você teria direito a 3, mas agora você tem dois? Você quer? Ele pode renunciar
aqui também.

Art. 1917 – Exemplo da joia que está guardado em sala tal, do banco tal, todavia vou lá e
identifico que a joia não está lá. Se eu não encontrar a joia, perdeu-se o legado. Não vai
produzir efeito, a não ser que a joia esteja em reparação a título transitório para reparação.
Outro exemplo comum é com relação a sacas de café que foram transferidas da Fazenda A
para Fazenda B.

Art. 1918 – Eu era credor de Joaquim. Aqui há a transmissão do crédito em legado. (Valor
ao tempo da morte). Vale lembrar que esse valor é relativo ao valor ao tempo da morte do
testador.

Art. 1919 - Muito raro. Ex: Meu filho me pede 100 mil reais em vida. No meu testamento eu
deixo quitada esta dívida. Depois disso, ele me pede um novo empréstimo, porém essa
segunda dívida não entra na razão de quitação disposta no testamento referente a primeira.
Não se comunicam. As segunda será contabilizada na quota parte do herdeiro. Legado de
crédito é como qualquer outro tipo de legado.

Art. 1920 – Alimentos vai compreender uma série de coisas que compreendem a
subsistência. Típico exemplo de condição resolutiva. Legado de alimentos. Quando o
legatário falecer resolve o legado de alimentos.

Art. 1921 – Legato de Usufrutos. Deixei um determinado imóvel e esse imóvel tem uma
questão de aluguel. Se eu não dispuser nada em termos específicos de testamento dizendo
que esse legado terá o usufruto de 10 anos, 15 anos, qualquer for o tempo, se nada for dito
vai se presumir que é para a vida toda (Vitalícia).

Art. 1922 – Diz respeito se eu tenho um lote no tocante a 1000 metros quadrados, e como
passar do tempo fui adquirindo outros lotes contíguos. Se eu não fiz qualquer tipo de
disposição falando que o legado é referente ao lote de 1000m2 e das áreas contíguas, eu
não posso inferir que eu vou ter o legado como um todo. Eu vou ter o legado apenas de
1000m2.

EFEITOS DO LEGADO (Revisão Victor Hugo)


Art. 1923 – A propriedade vai obedecer o princípio Droit de Sansine. Vou ter a propriedade,
todavia não terei a posse.

ESPÉCIES DE LEGADO
a) Legado de coisa alheia (art. 1912 do CC). É ineficaz. Obsta o legado de coisa certa que
não pertença o testador.
b) Legado de coisa comum (art. 1914 do CC). Vale com relação a parte que pertencer ao
testador.
c) Legado de coisa genérica (art. 1915 do CC): Se o legado for de coisa que se determine
pelo gênero, será o mesmo cumprido. Obs: mesmo que tal coisa não exista entre os bens
deixados pelo testador.
d) Legado de coisa singular (art. 1916 do CC): Se o testador deixar coisa sua
(singularizando-a), o legado terá eficácia se ao tempo do óbito a coisa se achava entre os
bens da herança.
e) Legado de coisa localizada (art. 1917 do CC); O legado de coisa que deva se encontrar
em determinado lugar só terá eficácia se lá estiver (for achada), salvo removida a título
transitório.
f) Legado de crédito e de quitação de dívida (art. 1918 do CC); terá eficácia somente até
a importância desta ou daquele, ao tempo da morte do testador.
g) Legado de alimentos (art. 1920 do CC); Abrange o sustento, a cura, vestuário e a casa,
enquanto o legatário viver, além da educação, se ele for menor.
h) Legado de usufruto (art. 1921 do CC); Sendo realizado pelo testador, sem fixação de
tempo, entende-se como vitalício.

EFEITOS DO LEGADO (Vídeos Internet)


Art. 1923 – Condição suspensiva = evento futuro e incerto.
Apesar da transmissão da propriedade, a posse não é transmitida de imediato. Vai
depender do processo judicial ou de entrega voluntária do próprio herdeiro. Ex: Se o
falecido morrer insolvente, por exemplo, o bem legado deverá ser antes partilhado entre os
seus credores. Dessa maneira deve o legatário aguardar a partilha para que a posse seja
transferida.
Art. 1924 – o legatário é dono do bem desde a morte (Principio Droit de Sainsine). A
propriedade o legatário tem, mas a posse somente com o término da partilha (finalização
do processo de inventário).
E se o vício de uma cláusula do testamento for nulo (apenas uma cláusula). O legatário
ficará impedido de receber o bem? Não. Se a discussão versar de uma cláusula apenas
como reconhecimento de um filho, a regra não se aplica pois o vício de uma cláusula não
contamina o todo.
Art. 1925 – A problemática deste artigo é a de que o legado em dinheiro não produzirá
frutos. E como se tivesse numa conta e não rendesse nada. Por óbvio vai pender a
correção monetária.
Art. 1926 – Começa a contar da morte do testador, a não ser que outro prazo tenha sido
estipulado.
Art. 1927 - Se o legado determinar o pagamento a cada 30 dias, logo a 1ª prestação
vencerá 30 dias após a morte do testador. Tem um termo inicial.
Art. 1928 – A grosso modo, as prestações vêm a ser exigidas no final daquele mês. No
último dia daquele trimestre, por exemplo. Exemplo 2: Uma vez por ano = 31/12(da morte
do testador um ano). Ex: Se o testador legar a importância mensal de 5.000,00 reais
mensais e morrer no dia 31/12/2019, no dia 1º de janeiro de 2020 o legatário já terá direito
ao valor integral que só é exigível em 01/02/2020. Quando o legado se tratar de prestações
alimentícias, aí inverte-se (recebe-se no início de cada período) – caráter de subsistência.
Art. 1929 – Fala do legado de coisa genérica. Disposição genérica - Deixei um dos carros.
Quem vai escolher? Quem está recebendo. O legado será de coisa incerta se o testador
legar 100 bois nelores do sue lote que contém 500 animais dessa raça. Vai ter que
escolher 100! O herdeiro considerado devedor terá o direito de escolher quais bens deve
entregar ao legatário, não podendo entregar os de melhor qualidade e nem de pior
qualidade, prezando pelo meio termo.
Art 1930 – No exemplo que deixou um dos 100 carros que o testador tinha. Quem escolhe?
Quem está recebendo. Isso dá muita briga, por questões emocionais. Por uma questão
emocional há uma questão emocional e todos querem aquele carro. Por outro lado, “quando
a escolha for deixada a arbítrio de terceiro; e, se este não a quiser ou não a puder exercer,
ao juiz competirá fazê-la, guardado o disposto na última parte do artigo antecedente”, como
estabelecido pelo art. 1.930.
Art. 1931 – E a “quebra de lógica” é perfeitamente defensável. De fato, se o testador
expressamente autorizou a escolha pelo legatário, o que não estava obrigado a fazer,
atribuiu a ele, com efeito, uma prerrogativa diferenciada, facultando-lhe a escolha da melhor
coisa. Tratando-se não de legado de coisa incerta, mas sim de legado alternativo (obrigação
única com pluralidade de objetos e dever de escolha de apenas um deles), a “adaptação” do
Direito das Obrigações à disciplina das Sucessões é fielmente seguida, presumindo-se
deixada ao herdeiro a opção (art. 1.932). Por fim, saliente-se que, independentemente de
quem seja o titular do direito de escolha (herdeiro ou legatário), o sistema codificado
reconhece a sua transmissibilidade causa mortis.
Art. 1932 – Fulano fica com isso ou aquilo. O herdeiro decide. Legado alternativo
Art. 1933 – O legatário recebe o legado a partir da morte do testador. Suponhamos que o
testador tenha morrido às 19h o legatário já tem a propriedade, todavia passa por questões
burocráticas. Contudo, se ele morrer às 18h59 os filhos do legatário não terão direito
porque ele não tinha a propriedade quando ainda vivo. O poder nesse caso não é passado
aos herdeiros.
Art. 1934 – Problemática que pode ser resolvida. O testador pode trazer uma pessoa de
confiança (planejamento sucessório) para executar o legado, que poder ser um dos
herdeiros, legatários ou terceiros que possa executar o legado. A ideia é evitar confusões,
para não gerar brigas.
O cumprimento dos legados pelos herdeiros e, não os havendo, aos legatários, na
proporção do que herdaram.
Art. 1935 – Exemplo: Razão do testamento João 60%, José 30% e Lucas 10%. Além disso
deixou Maria como legatária de R$ 10.000,00. Se o testador deixar que João cumpra o
legado, somente ele será responsável por pagar os R$ 10.000,00 a Maria, contudo após
pagá-la poderá cobrar regressivamente de José R$ 3 mil e de Lucas 1 mil reais
proporcionalmente as suas cotas. Se o testador nada determinar quem cumprirá o legado,
todos herdeiros serão responsáveis pelo pagamento e não pela maneira solidária, mas de
acordo com o quinhão recebido.
Art. 1936 – Ex: Foi deixado um carro para mim. Esse carro está guardado num galpão, bem
guardado protegido. Galpão da cidade X. A obrigação de ir buscar é minha, a não ser que
isso venha estipulado.
Tudo questão de ordem privada – as partes podem dispor contrariamente.
Art. 1937 – O carro que estava no galpão na cidade X. Descubro que vale a pena ir buscar,
todavia descubro ainda que nunca foi pago IPVA, que há prestações a serem quitadas, etc.
se o testador não colocou que encargos seriam dele, a responsabilidade com tais encargos
é minha. Tenho que arcar com esse ônus.
A coisa deve ser entregue ao legatário devendo ser acompanhada dos frutos, benfeitorias,
mas também dos ônus, pois pende uma obrigação propter rem, ou seja em relação a coisa.
Exemplo: IPTU
Art. 1938 – Legado com encargo. Ex: O testador deixou um valor X, desde que pague a
mensalidade do meu filho. Recebi e não estou pagando a faculdade. O meu filho poderá
regressar contra mim pedindo faça o pagamento em X dias sob pena multa. O direito dele é
regresso contra mim. A responsabilidade é minha, pois recebi o legado com encargo.
Caberia aqui o legado com encargo. Encargo é um ônus e não contraprestação. Ex: Deixo
para Laura uma Fazenda de tantos alqueires e ela tem o encargo de manter os empregados
nessa Fazenda. Contraprestação seria uma condição. Se eu não cumprir o encargo poderia
se revogar.
CADUCIDADE DO LEGADO
O legado decorre de uma disposição testamentária. Logo, como cláusula de um negócio
jurídico, ainda que unilateral, está submetida aos planos de existência, validade e eficácia.
Existente a cláusula, ela, por certo, pode ser declarada nula ou anulável, caso viole alguma
regra de validade.
Considerada válida, seu destino é o cumprimento, o que tratamos no tópico anterior. Pode,
por outro lado, o testador, a qualquer tempo revogá-la, excluindo-a do testamento.
Abstraídas, porém, as situações de invalidade e revogação, um legado poderá sofrer os
efeitos da caducidade. E o que significa isso? Simplesmente a perda da eficácia, decorrente
de circunstância posterior à sua estipulação. Essa ineficácia superveniente pode ser total ou
parcial, a depender do alcance do fato limitador e/ou do número de legados estabelecidos.
Art. 1939 – Rol taxativo
A matéria é disciplinada pelo art. 1.939 da vigente codificação civil brasileira, que manteve,
mutatis mutandis, as razões outrora previstas no art. 1.708 do Código Civil brasileiro de 1916.
As hipóteses, todas elencadas no referido dispositivo, podem ter natureza objetiva, na
medida em que se refiram ao objeto do legado, ou índole subjetiva, quando se relacionarem
à figura do legatário.
As causas objetivas são:
a) Modificação de forma da coisa: se, depois do testamento, o testador modificar a coisa
legada, ao ponto de já não ter a forma nem lhe caber a denominação que possuía (inciso I).
Ex: transformação da casa em prédio comercial.
Nessa situação, o que se tem é a impossibilidade de individualização da coisa, na forma
como estabelecida na disposição legatária.
b) Alienação total ou parcial da coisa: se o testador, por qualquer título, alienar no todo ou
em parte a coisa legada, caducará o legado até onde a coisa deixou de pertencer ao testador
(inciso II).
Ex: eu tenho uma casa e vendi a casa.
Conforme já vimos, o normalmente esperado é que o bem legado integre o patrimônio do
testador (embora haja a previsão da situação excepcional de legado de coisa alheia — art.
1.913).
Nesse contexto, se vier a alienar o bem — vender ou doar, por exemplo —, o legado quedar-
se-á ineficaz nos limites do patrimônio de que se dispôs.
c) Perecimento ou evicção da coisa: se a coisa perecer ou for evicta (perda pelo
reconhecimento, judicial ou administrativo, do direito anterior de terceiro sobre o bem), vivo
ou morto o testador, sem culpa do herdeiro ou legatário incumbido do seu cumprimento
(inciso III).
Ex: caducou.
A hipótese é autoexplicativa, haja vista que é lógico que a perda do objeto constitui situação
de ineficácia do legado.
Já as causas subjetivas, por sua vez, são:
a) Exclusão da sucessão: se o legatário for excluído da sucessão, nos termos do art. 1.815
(inciso IV). O tema da exclusão da sucessão já foi tratado por nós em capítulo anterior. E a
ideia é simples: se o indivíduo foi excluído da sucessão, nos termos do art. 1.815, perderá a
condição de legatário. Assim, a previsão do legado, embora existente e válida, torna-se
ineficaz por falta de beneficiário legitimado.
b) Premoriência: se o legatário falecer antes do testador (inciso V). O falecimento do
legatário, por óbvio, faz cessar a sua personalidade jurídica.
Se esta ocorrer antes da abertura da sucessão, qualquer disposição testamentária que a
ele se referir será absolutamente ineficaz.
Em sentido contrário, se vier a falecer posteriormente à abertura da sucessão, já terá
adquirido o direito ao legado, e, por consequência, os seus herdeiros habilitar-se-ão para
receber a coisa legada.
Compreendida a disciplina jurídica dos legados, convidamos você, amigo leitor, a seguir
conosco, no interessante estudo do direito de acrescer e da redução das disposições
testamentárias.

Art. 1940 -Ex: Deixei 10 carros, 9 estragaram. Eu terei direito a 1.

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