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Direito da Família práticas

09 de março

HIPÓTESE
Joana, enfermeira, vive numa casa arrendada em Lisboa, desde 2015.
Em janeiro de 2017 João, o seu namorado, passou a residir consigo em Lisboa na casa
que esta habitava desde 2015.
Em novembro de 2018 nasce Maria, filha de Joana e João.
Hoje, Joana descobre que João é casado, embora esteja separado desde 2012. Devido a
tal facto, Joana decide que não pode continuar com a relação que tem com o João e pede
para este abandonar a casa onde ambos habitam. O que este recusa por entender que tem
igual direito a permanecer na mesma.
A) Pronuncie-se quanto à relação jurídica existente entre Joana e João e quais os seus
efeitos
B) Quem terá direito a permanecer na casa onde ambos residem?

A) A relação jurídica relevante aqui é a união de facto. Para ser a união de facto os
requisitos positivos são, viverem em condições análogas ás dos cônjuges e há mais de
dois anos. Já quanto aos requisitos negativos (que não se podem verificar), não podem
ter menos de 18 anos; não podem ter demência; não pode haver casamento não
dissolvido salvo se tiver sido executada a separação de pessoas e bens;
que tipos de separações existem: separação decorrente da união de facto; separação
judicial de pessoas e bens (as pessoas estão casadas, mas ainda estão indecisas se
querem divorciar ou não, então separam-se judicialmente [artigo 1795 a)]).
Não tendo informação suficiente para saber que tipo de separação é, teríamos de
concluir que à partida esta relação de união facto não produz relações jurídicas.
No entanto se supusermos que era uma separação judicial de pessoas e bens, aí sim a
união de facto poderia produzir efeitos.
(o artigo 1672 diz quais os deveres dos cônjuges, e o 1795 que diz que a separação
judicial de pessoas e bens extingue os deveres de coabitação e assistência, mantendo o
de respeito cooperação e fidelidade. Agora, acham que ele estando numa união de facto
se possa respeitar o dever de fidelidade? Logo, ou não há uma verdadeira união de
facto, ou então não se está a respeitar a separação judicial de pessoas e bens, no entanto
a lei permite que exista união de facto mesmo numa separação judicial de pessoas e
bens, o que é um contrassenso que não se entende)

B) se respondemos na A) que não há efeitos jurídicos, então é a Joana que tem o direito
em permanecer na casa. Quando há uma união de facto e as pessoas vivem numa casa o
nome jurídico dessa casa é ‘’casa de morada’’. Aqui, se não há união de facto não há
casa de morada logo só pode ter direito em ficar na casa a Joana.
Ou, respondendo na A) que há união de facto, a alternativa era, por força do artigo 4, o
1105. (1105 – casa arrendada por um ou pelos dois / 1793 – casa é propriedade de um
ou dos dois). Poderia nos termos do 1105, sem acordo, o João ficar com a casa? Teria de
ser o tribunal a decidir, consoante as necessidades da criança e as necessidades de cada
um- 1105 n2)
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23 de março

HIPÓTESE
Em 1985 António contraiu casamento com sua cunhada Bárbara, viúva desde 1983.
Do casamento de António e Bárbara nasceu Diamantina no dia 10.10.2001.
Em abril de 2018 Diamantina casou com Francisco.
No dia 2 de abril de 2019 Diamantina e Francisco separam-se. Em janeiro de 2020
Diana casou civilmente com Gustavo sem convenção antenupcial.
Pronuncie-se quanto à validade dos casamentos celebrados:
1. Entre António e Bárbara.
2. Entre Diamantina e Francisco
3. Entre Diamantina e Guilherme

1)
Para resolvermos o casamento entre A e B, é preciso saber em primeiro lugar, se A e B
têm alguma relação jurídica familiar que os impeça de celebrar o casamento, e depois
saber naturalmente o que é isto de impedimentos do casamento (que tipo de significado
é que isto tem; que tipo é que impedimentos é que existem; e quais as consequências
desses mesmos impedimentos).
Em relação a A e B, sendo cunhados, há alguma relação jurídica familiar? De
parentesco não é (1578); mas temos sim, uma relação jurídica de afinidade (1584).
Temos agora de saber a contagem dos graus, para perceber qual é a linha e o grau que
une A e B. Temos então que, antes que casarem, a relação deles estava no segundo grau
da linha culatral de afinidade (fundamentar isso com auxílio dos artigos 1584 e 1585,
contagem das linhas- 1580 e 1581).
Será que esta relação (segundo grau da linha culatral de afinidade) obsta ao casamento?
Existem determinados artigos, que vêm aqui explicar o que são os impedimentos
matrimoniais! O 1600 diz logo, que têm capacidade para contrair matrimonio, todos
aqueles em quem se não verifique algum dos impedimentos matrimoniais previstos na
lei! E logo a seguir, no 1601, 1602 e 1604, vem dizer quais os impedimentos. Mas antes
disso, quando alguém se quer casar, tem que dar início a um processo para poder casar.
E nesse processo preliminar de casamento, vai ser aberto um processo, e será
averiguado se existe algum impedimento. E se não houver nada a obstar, será proferido
um despacho pelo funcionário do registo civil (1613), a especificar que autoriza o
casamento, e a partir daí, os nubentes têm 6 meses para celebrar o casamento.
Olhando para o 1601 (impedimentos dirimentes absolutos), vemos que nenhum se
relaciona com o nosso caso; depois, no 1602, (impedimentos dirimentes relativos),
também não se verifica. Agora basta ver os impedimentos impediente (1604), e mais
uma vez, não se verifica! Ou seja, este primeiro casamento é válido!
Tanto no absoluto como no relativo, a consequência, caso aconteça, é a anulabilidade
[(1631 a)].
2)
A única questão que se pode pôr neste casamento, é a questão da idade, pois D terá
entre 16 e 18 anos, é menor, e por isso, o impedimento que aqui existirá será um
impedimento impediente [(1604 a)], isto caso não tenha tido autorização, se a teve
ocorre tudo na normalidade.
1612 - Quanto à autorização para casamento;
Sem a autorização para casar, a lei prevê sanções especiais no artigo 1649!
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30 de março

3)
O que a hipótese nos diz é que D se tinha separado de F em abril de 2019, e em janeiro
de 2020, D, acaba por celebrar casamento com G. E a questão que se colocava era saber
se havia algum impedimento, ou se era invalido o casamento.
O que temos aqui são duas informações, uma delas é relevante, e a outra deixou de o
ser.
Quando se fala aqui de D e G, refere-se que D se separou de F em 2019. A expressão
separou, não significa necessariamente divorcio, ou seja, não significa que extinguiu o
matrimónio que tinha com o F, logo, se não extinguiu o matrimonio, e apenas se
separou, mesmo que eventualmente seja uma separação judicial.
Por isso, para todos os efeitos, a mera separação, seja factual seja judicial, NÃO
EXTINGUE O MATRIMÓNIO.
Claro que vai depender da interpretação feita. Pode ser levantada a sub-hipótese de que
a separação terá sido como divórcio.
Vamos analisar as duas perspetivas.
Mera separação factual ou judicial – mantém-se o vínculo matrimonial entre D e F.
logo se esse se mantém, temos de analisar se isso determina ou não a existência de
algum impedimento matrimonial. – Artigo 1600 e seguintes.
Pra resolver esta parte, teríamos de começar por referir o 1600, que indica a regra geral
de quem pode contrair matrimónio. E de seguida ver os impedimentos (1601, 1602 e
1604), para averiguar se algo obstaria para que esse acontecesse.
Pelo artigo 1601 c), o casamento não poderia acontecer. (o que diferencia os
impedimentos dirimentes absolutos dos relativos, é que, quanto aos absolutos, a pessoa
fica impedida de casar com qualquer outra pessoa, enquanto que os relativos impedem a
pessoa de casar apenas com as pessoas lá referidas).
Portanto, quem tem um casamento anterior não dissolvido, não pode casar com quem
quer que seja, e é isso que acontece na nossa hipótese [1601 c)].
Para ainda complementar a nossa resposta:
Este impedimento tem algumas especificidades que os outros não têm, e elas vêm
previstas mais adiante, nomeadamente no artigo 1633 e depois no que diz respeito à
legitimidade e prazo, mas começando pelo 1633 – diz desde logo ‘’validação do
casamento’’ e diz que se considera sanada a anulabilidade e valido o casamento desde o
momento da celebração, se antes de transitar em julgado a sentença de anulação, ocorrer
algum dos seguintes factos, e no nosso caso é a alínea c), ‘’ser declarado nulo ou
anulado o primeiro casamento do bígamo’’. Ou seja, se, suponhamos, tinha o casamento
anterior não dissolvido, e depois D celebra com G, se eventualmente antes de ser
declarada a anulação do casamento do segundo D e G, com fundamento que a D ainda
não tinha dissolvido o casamento com F, se na pendencia dessa ação, por acaso já estava
por decidir, também a anulação entre D e F, e se esse vier a ser anulado ou nulo, se isso
acontecer antes da declaração de nulidade de D e G, significa que vai prevalecer o
casamento de D com G, pois vai-se validar esse casamento por força da anulação do
primeiro casamento, e isso é uma especificidade deste impedimento.
Quanto ao prazo e legitimidade? (1639)
Têm legitimidade para intentar, os previstos no nº1 do 1639. E para além desses, podem
ainda intentar os previstos no nº2. No nosso caso, estaríamos a falar do caso de bigamia,
previsto nesse número 2.
Quanto aos prazos, teríamos de olhar pro 1643, [no nosso caso alínea c)], que refere que
a ação deve ser intentada dentro dos 6 meses depois da dissolução do casamento. Podem
achar estranho o seguinte: ‘’ se o casamento está dissolvido, que sentido faz depois de
estar dissolvido, ser possível ainda ter prazo para anular?’’, faz sentido pois, se por EX:
o casamento era anulável mas não o chegou a ser, e entretanto um dos cônjuges
inclusivamente até faleceu, e veio-se a descobrir que apenas depois do falecimento, que
ou já se sabia mas não se fez nada, que havia fundamento para anular o casamento, e
portanto, pretende-se apesar de ele já ter sido extinto por morte, declarar a anulabilidade
do casamento (até 6 meses). Aqui faz sentido por uma razão muito simples, porque com
a morte, isso implica que o cônjuge sobrevivo tenha permanecido como herdeiro do
cônjuge que faleceu, e, portanto, receba o património que era dele por herança. Ora, se
esse cônjuge, (vamos partir do principio que era D), estava de má-fé pois sabia
perfeitamente que quando casou não podia, estando ele de má-fé, pode efetivamente
depois ser afetado pela anulabilidade do casamento precisamente pelo facto de que,
estava em prazo e, estava de má-fé, logo deixaria de ser herdeiro e aquilo que recebeu
teria de ser restituído ao património. Este é um dos efeitos práticos em que fará sentido
anular-se o casamento, mesmo depois de ele ter sido extinto por morte de um dos
cônjuges. Teremos também de ter em atenção o 1643 nº.
HIPÓTESE
Antónia grávida de 7 meses, foi informada, após uma consulta médica, de que poderá a
qualquer momento entrar em trabalho de parto.
Ao receber esta informação Antónia afirma a Josefino, pretenso pai do nascituro, que se
não casar consigo antes de dar à luz abandonará a criança.
Josefino decide, por essa razão, casar de imediato com Antónia.
O casamento foi celebrado com dispensa do processo preliminar.
Sucede que, Josefino é filho adotivo de Manuela e Pedro e, por essa razão, desconhece
que é irmão biológico de Antónia.
Diga se o casamento celebrado entre A e J é valido? Justifique.
Refere-se a um casamento entre A e J, sendo que A estava grávida de 7 meses, e poderia
qualquer momento entrar em trabalho de parte, e por essa razão ameaçou J de que se
não casasse com ela de imediato, antes da criança nascer, que A abandonaria a criança.
Por causa dessa razão J casou de imediato. E o casamento foi celebrado com dispensa
do processo preliminar, e veio-se a descobri que J é filho adotivo de Manuela e Pedro, e
por essa razão desconhece que é irmão biológico de A.
A questão é saber se o casamento entre A e J é válido.
R:
Há um impedimento dirimente, relativo, que é o parentesco na linha colateral, e ele
mantém-se independentemente de haver uma adoção, e por essa razão não saberem que
são irmãos.
Pois, pra já tal como resulta do regime da adoção e na sua relação jurídica familiar,
quem é adotado integra-se na família dos adotantes como se fosse um parente. Mas
questão aqui nem é nessa perspetiva, pois ele não quer casar com a irmã adotiva, mas
sim com a biológica, e à partida quando é adotado extingue-se o vínculo jurídico que
existia com a família biológica, no entanto, por razões de ordem médica mantém-se os
impedimentos quanto à contração de casamento com os parentes da família biológica! E
isso não resulta do 1602 alínea c), mas sim do 1986.
No entanto isto tem outras nuances: o casamento foi celebrado sem processo preliminar!
E isso pode acontecer em casos de casamentos urgentes, por eminência de morte, ou de
gravidez etc etc, o que é o presente no nosso caso!
E o casamento tem um regime diferente, com muito menos formalidades, mas que
depois carece de homologação pelo registo civil. E quais sãos as formalidades, assim?
São as previstas no art. 156 no código de registo civil. E depois de uma ata feita quanto
às formalidades, ele é enviado para a conservatória do registo civil, e ao ser enviada,
será averiguado se estão presentes causas justificativas da celebração de casamento
urgente, e se deve ou não ser homologado! Se o for, produz os seus efeitos, e esses
efeitos retroagem à data em que foi elaborada a ata, pois o processo preliminar demora
algum tempo. No entanto, só vai homologar se se verificarem determinados requisitos -
1622 (casamentos urgentes) 1623 (homologação) 1624 (causas justificativas da não
homologação) – no nosso caso temos uma causa justificativa de não homologação, a
existência de impedimento dirimente! E a consequência da não homologação do
casamento é a inexistência [1628 b)].
A grande diferença é que aqui o casamento não seria anulável pelo impedimento
dirimente, no entanto, quando o casamento é urgente se eventualmente há um
impedimento dirimente, se o conservador no momento da homologação aperceber que
há esse impedimento dirimente, não vai homologar o casamento! E se não homologa, o
casamento não é anulável, mas sim inexistente (art. 1630).

1º teste
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20 de abril

HIPÓTESE
No Dia 20 de janeiro de 2014 Diamantino casou-se com Adélia.
Não foi celebrada qualquer convenção antenupcial.
A 06 de Maio de 2019 Diamantino, de forma a comprar o seu carro de sonho, um
Ferrari f40, decidiu vender um imóvel que lhe havia sido doado pela sua avó, no dia 15
de março de 2014.
Mais tarde, para fazer face a dívidas de jogo que havia contraído, Diamantino vendeu
um anel de diamantes que Adélia havia comprado antes da celebração do casamento.
a) Diga qual o regime de bens do casamento acima referido.
b) Adélia tomou hoje conhecimento da venda do imóvel e do seu anel e pretende agir
legalmente com vista a invalidar esses atos. Pode fazê-lo? Justifique.

A)
Para responder de forma completa, à matéria da Administração dos bens, têm que
previamente saber qual o regime de bens do casamento que vigora, pois isso vai afetar
os atos de administração praticados.
Temos 3 regimes típicos, e para além disso, pode ser feito um regime de bens atípico,
que seria criado pelos nubentes.
Existem 3 regimes de bens tipificados – comunhão de adquiridos, comunhão geral,
separação de bens.
Quanto a esta matéria, é importante termos em consideração os artigos que vigoram
para as convenções antenupciais (acordo que estipula os cônjuges para fixação do
regime de bens, essencialmente), e os artigos que vigoram para a matéria dos regimes de
bens. E essa matéria vem prevista nos artigos 1698º (convenções antenupciais) e 1717º
(regime de bens).
Pelo 1717º, na falta de convenção antenupcial, há partida, será o regime da comunhão
de adquiridos.
Pode também ser um regime da separação de bens nos casos previstos 1720º.
B)
Quanto à venda do imóvel. A mesma será válida?
Não, pois pelo 1678, mais concretamente 1682 A, a alienação ou oneração de imóveis e
de estabelecimento comercias, que diz que, carece do consentimento de ambos os
cônjuges, salvo se entre eles vigorar o regime de separação de bens.
Portanto, precisava de consentimento para a venda da casa, e a consequência disso é o
previsto 1687, anulabilidade. E tínhamos de ver também se está dentro do prazo (6
meses a seguir à data em que teve conhecimento, mas nunca 3 anos depois da
celebração do negócio), e sim, estaria dentro do prazo (1687 nº2).
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27 de abril

A e B casaram em 2012, sob o regime da separação de bens. Na convenção antenupcial


o casal estipulou que na eventualidade de terem filhos o regime de bens passaria a ser o
da comunhão de adquiridos.
Em 2014, A adquiriu um veículo por 35000. Para a aquisição desse veículo, A pagou
20000 com o produto da venda do seu antigo automóvel que havia adquirido em 2008 e
15000 com poupanças.
B em 2016 com as rendas de uma moradia que tinha herdado quando era criança decide
comprar um apartamento em Espanha.
Em 2016 o casal tem um filho
QUID IURIS?
R:
Primeiro temos de analisar os regimes de bens. Temos um que é o da separação de bens,
e depois temos outro, que estipularam que iria vigorar caso viesse a nascer um filho. E a
primeira questão que se põe é: isto é lícito?
Em primeiro lugar, temos de ir aos artigos que regulam as convenções antenupciais
(1698º). Vamos olhar agora para o 1714º, imutabilidade das convenções antenupciais e
dos regimes de bens ‘’ Fora dos casos previstos na lei, não é permitido alterar, depois da
celebração do casamento, nem as convenções antenupciais nem os regimes de bens
legalmente fixados.’’, e o 1713º ‘’é válida a convenção sob condição ou a termo.’’.
temos de ter em atenção que estes artigos não se contradizem, o que o primeiro quer
dizer, é que depois do casamento, não podem vir a fazer nova convenção antenupcial e
adotar novo regime. No entanto, por condição é legal. Podemos depois complementar a
resposta, dizendo se tinham capacidade para fazer convenção (1708cc), se o casamento
tinha a forma prevista (1710º).
Vamos agora analisar os bens que são referidos. Serão eles comuns, ou próprios? Serão
então próprios, porque estamos perante uma separação de bens, na separação de bens
não há bens comuns. No limite, se o bem for comprado pelos dois, o bem é qualificado
como compropriedade. (1735º e 1736º)
Agora, tendo em conta que nasceu um filho, estamos agora no regime da comunhão de
adquiridos, a questão que se coloca, é se isso produzirá efeitos naqueles atos que eles
praticaram antes e que estão descritos na hipótese. E a resposta é que, pelo 1713º nº2,
em relação ás partes iria sim ter efeitos retroativos, só quanto a terceiros é que não .
Regime da comunhão de adquiridos (1722º e segs):
Quanto ao automóvel – temos a compra de um veículo de 35000, e para o comprar,
pagou 20000 da venda do antigo automóvel. Esse automóvel, era um bem próprio
[1722º a)]. À partida, os bens comprados na constância do matrimónio são bens
comuns, no entanto, temos de ver os contextos. Em primeiro lugar, o carro que ele tinha
e vende (não troca), pelo 1723º b), explicamos que o dinheiro que recebe do carro que
vendeu, é bem próprio. Agora, quanto as poupanças, ou ele já as tinha antes do
casamento, e então as poupanças são bens próprios [1722º a)], ou as poupanças são
economizadas depois do casamento 1724º a) (essas já seriam bem comum), mas, e
tendo em conta o caso em questão, pelo 1726º nº1, os bens adquiridos com parte própria
e parte comum, revestem a natureza da mais valiosa. Logo, se o dinheiro do carro é
dinheiro próprio e as poupanças também, sabemos logo que o carro só podia ser bem
próprio [1723º c)]. Caso as poupanças fossem bem comuns, teríamos de usar o 1726
nº1, e tendo em conta que o bem próprio era a mais valiosa que o bem comum, este
carro seria bem próprio.
Agora, quanto à moradia que tinha herdado, o bem é próprio, pois, pelo 1722º, os bens
que cada um tiver antes do casamento, ou que tenha durante o casamento por sucessão,
ou doação são bens próprios. Neste caso seria o 1722º a).
Já quanto ás rendas, pelo 1728º, consideram-se próprios os bens adquiridos por virtude
da titularidade de bens próprios que não possam ser considerados frutos destes, sem
prejuízo da compensação eventualmente devida ao património comum, isto é, aquilo
que se consideram frutos de bens próprios, são bens comuns! Significa então, tudo o
que é frutos de bens próprios, é bem comum, logo, aqui, as rendas são bens comuns.
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4 de maio

HIPÓTESE
Frederico e Margarida celebraram, no dia 09 de junho de 2014, casamento católico, sob
o regime de separação de bens.
Frederico é jogador profissional de futebol pelo “Futebol Clube Aves Raras” e Catarina
é modelo da “Superlook”.
No dia 23 de agosto de 2015 nasceu Catarina.
Com o nascimento de Catarina, o casal decidiu comprar, no dia 30 de setembro de 2015,
uma nova casa, pelo valor de € 600.000,00. Para o efeito, solicitaram um empréstimo de
€ 400.000,00 e o remanescente, no valor € 200.000,00, foi obtido através da venda da
casa onde residiam, propriedade de Frederico.
Em janeiro de 2016, Margarida decidiu iniciar a carreira de empresária na área da moda.
Neste contexto, constituiu uma empresa e contraiu um empréstimo no valor de €
125.000,00 para aquisição de equipamento e materiais necessários para a atividade.
Sucede que, já no início de 2016 o casal discutia frequentemente, de forma agressiva,
sobre questões totalmente fúteis.
No decorrer de uma dessas discussões, Margarida disse a Frederico que se pretendia
divorciar e que estava apaixonada por outra pessoa (Gustavo).
Margarida pretende obter as seguintes informações:
1. Terá fundamento e legitimidade para requerer o divórcio?
2. Na eventualidade de se divorciar, será responsável pelas dívidas contraídas na
constância do matrimónio?
3. Poderá ser considerada proprietária da casa morada de família e se,
independentemente de ser considerada proprietária, poderá ficar a residir na casa
morada de família?
Fundamente as respostas
R:
1)
Neste caso, como é a Margarida a pedir, estamos perante um divórcio litigioso/sem
consentimento de um dos cônjuges (a diferença entre este e o por mútuo consentimento,
é de que não há acordo), artigo 1773º.
Fundamentos para o divórcio por mútuo consentimento:
Partindo do princípio que o Frederico também estava aberto para divorcio, eles teriam
de ir à conservatória do registo civil, mediante requerimento assinado pelos cônjuges
acompanhado pelos documentos previstos no 1775º. No entanto, não seriam necessários
os documentos previstos na alínea a), visto que eles casaram no regime de separação de
bens. (ver as alíneas consoante o caso).
Se for sem consentimento de um dos cônjuges, a questão altera, mas ainda não foi dado.
2)
As dividas em questão são duas: 1º para compra da casa; 2º para desenvolvimento de
uma atividade por parte da Margarida.
Começando pelo empréstimo da casa - aqui, quem é responsável pelo pagamento desta
dívida no caso de divórcio? A casa é um bem em compropriedade. A responsabilidade
aqui, será de ambos os cônjuges [artigo 1691º a)]. Como é que isto se processava? Ou
estipulavam logo na escritura, que o Frederico tinha uma conta de compropriedade
superior (por ter investido com mais), e depois, quando fizesse as partilhas, ou
compraria a parte da mulher, ou, se o empréstimo fosse superior ao valor do bem
assumia apenas a responsabilidade pelo empréstimo e a margarida nada tinha a receber
mas também nada tinha a pagar ao banco. Ou, se o imóvel valesse mais que a divida,
(na parta que respeita à margarida), também era feita essa negociação (se fosse o
Frederico a ficar com a casa); ou, por outro lado, podia ser Margarida a ficar com a
casa, e caso assim fosse, tinham que negociar perante o banco ficar ela com o
empréstimo, com a responsabilidade do empréstimo.
Empréstimo para o desenvolvimento de uma atividade na área da moda – podemos ir
pelo 1691º d), ou seja, responsabilidade de ambos os cônjuges. No entanto, vigorando o
regime de separação de bens, e se foi para exercício do comerceio, e se o outro cônjuge
não deu consentimento, então, à partida, só vai ser responsabilizada a Margarida.
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11 de maio

HIPÓTESE
Frederico e Margarida celebraram, no dia 20 de julho de 2013, casamento sob o regime
de comunhão geral.
No dia 23 de agosto de 2015, após terem sido pais, o casal foi habitar para uma moradia
no Restelo, propriedade de um amigo do casal, George (de nacionalidade inglesa), o
qual decidiu ceder gratuitamente a sua utilização ao casal, pela ajuda que sempre lhe
proporcionaram durante o período que residiu em Portugal.
No decorrer do ano de 2016 Margarida recebeu uma herança do seu Pai, composta por
um terreno rústico e um apartamento sobre o qual incidia uma dívida hipotecária, a
favor do banco X, no valor de €350.000,00.
Margarida não cumpriu com o pagamento da dívida ao Banco X e por essa razão foi
instruído um processo executivo pelo Banco, por via do qual se ordenou e concretizou a
venda do respetivo apartamento pelo valor de € 300.000,00.
Em janeiro de 2020 o casal decide, por acordo, divorciar-se, mas não chegam a
entendimento quanto à atribuição da casa morada de família.
Responda às seguintes informações:
1. Quem será responsável pelo pagamento ao banco X do remanescente em dívida no
valor de € 50.000,00? Quais os bens que responderão pelo respetivo pagamento da
dívida? Justifique.
2. George tendo tomado conhecimento que o casal se está a divorciar e que não estão de
acordo quanto a atribuição da casa morada de família, pretende que a mesma lhe seja
restituída, para evitar tomar qualquer partido, em prejuízo de Frederico ou Margarida?
Terá legitimidade e fundamento para o fazer?
3. Imagine que Frederico falece hoje. Poderá o seu primo Afonso, a quem Margarida em
tempos confessará ter tido uma relação extraconjugal com outro homem (o provável pai
da criança) impugnar a paternidade estabelecida a favor da filha? Justifique. Admitindo
que Afonso não tem legitimidade, quem terá?

1)
De acordo com o regime de bens (comunhão geral), este bem será próprio ou comum?
Será comum, pelo artigo 1732º e 1733º, visto estarmos perante uma um regime de
comunhão geral, e o bem não ser nenhum dos previstos no 1733º. E pelo 1693º nº2,
sendo o bem comum, ambos serão responsabilizados. No entanto, frederico, ainda pelo
1693ºnº2, podia ‘’fugir’’ dessa responsabilidade, se o valor dos bens não for suficiente
para a satisfação dos encargos (o que foi o caso), no entanto, sendo um regime de
comunhão geral, de pouco ou nada serviria.
Responderiam aqui, os bens comuns do casal, ou por solidariedade os bens próprios de
qualquer uma, dependendo da falta ou insuficiência nos bens comuns (respondem
sempre primeiro os bens comuns). – Artigo 1695º. [Um à parte - Caso fossem usados
bens próprios, em possível separação, o cônjuge que dispôs dos bens próprios, podia no
momento da partilha, exigir uma compensação ao outro cônjuge pelo pagamento da
dívida, pelo menos na parte que excedeu a sua responsabilidade]
2)
Estamos perante um comodato (1129º) – é o contrato gratuito pelo qual uma das partes
entrega a outra certa coisa, para que se sirva dela com a obrigação de a restituir.
Quanto à devida restituição temos de olhar pro 1137º, em que, se os contraentes não
convencionaram prazo, devem restituir ao comodante logo que o uso se finde. Se não
foi estipulado prazo para a restituição, o comodatário é obrigado a restituí-la logo que
seja exigida. Ou seja, se estipularam um prazo ou um uso determinado, o comodante
tem de cumprir o prazo ou uso. Mas, se não foi convencionado um prazo, os
comodatários têm de restituir obrigatoriamente.
3)
Pode agora vir o primo do falecido frederico, impugnar a paternidade com fundamento
de que ele não é o pai? Neste nosso caso, como é que foi estabelecida? Foi por
presunção (1826º nº1 + 1798º). Pelo 1798, o período de conceção, tendo em conta que a
criança nasce em agosto, foi entre novembro de 2012, e fevereiro de 2013 (primeiros
120 dias).
Pode ou não, ser impugnada a paternidade, pelo primo? Não, pois o primo não tem
legitimidade tendo em conta os artigos 1838º e 1839º. Só poderiam impugnar, os
referidos no artigo 1839º e pelos prazos 1842º. Mesmo o pai tendo morrido, o primo não
poderia fazer pelo 1844º
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25 de maio

Hipótese
Frequência de 2019
António e Benedita casaram-se no dia 10.09.2016, sem convenção antenupcial.
No dia 05.05.2017 Benedita decidiu adquirir à sua irmã, pelo montante de € 350.000,00,
a quota-parte de uma vivenda de que ambas eram comproprietárias, na proporção de
50% cada, desde 2001, tendo para o efeito solicitado um financiamento bancário.
Passado 2 meses, Benedita recebe uma proposta milionária pela vivenda, decidindo
então vendê-la pelo valor de € 1.050,000,00, sem consultar previamente o António.
Por sua vez, António explora uma oficina de carpintaria, onde desenvolve os seus
projetos de mobiliário. Para renovar algum equipamento, material de carpintaria e a
decoração do seu gabinete pessoal contraiu um empréstimo no valor de € 60.000,00.
a) Diga se a vivenda em Cascais era um bem próprio ou comum do casal e se
Benedita poderia ter procedido à sua venda nos termos em que procedeu.
De modo a apurar se a vivenda em Cascais era um bem próprio ou comum do casal e se
Benedita poderia ter procedido à sua venda sem consultar o António é necessário
previamente apurar qual o regime de bens aplicável ao matrimonio celebrado entre
António e Benedita.
Considerando que ambos celebraram matrimónio sem convenção antenupcial aplica-se,
nestes casos, o regime supletivo previsto no art. 1717.º do Código, do qual resulta que
vigora o regime de comunhão de adquiridos, sem prejuízo do disposto no art. 1720.º
(regime imperativo da separação de bens), não aplicável à presente hipótese.
Nos termos do regime da comunhão de adquiridos são considerados bens próprios os
bens de que cada cônjuge é proprietário à data da celebração do matrimónio (art. 1722.º,
n. º1, al. a). Por conseguinte, a quota parte de que Benedita era comproprietária à data
do matrimónio é um bem próprio seu. No que respeita à quota parte (50%) que a mesma
adquiriu na vigência do matrimónio, à sua irmã, considerando que estamos perante a
aquisição de um bem indiviso (na medida em que o seu fracionamento sem alteração da
sua substância, diminuição do valor ou prejuízo para o uso a que se destina, não se
configura possível – art. 209.º do CC a contrario) pelo cônjuge que dele era
comproprietário fora da comunhão (in casu, previamente à celebração do casamento,
conforme acima descrito), reverte a parte adquirida na constância do matrimónio
igualmente para o seu património próprio, de acordo com previsto no art. 1727.º do CC.
Atendendo à possibilidade e probabilidade de serem utilizados bens comuns (por força
do previsto no art. 1724.º do CC) para aquisição da parte indivisa na vigência do
matrimonio, estatui o mesmo artigo que, nesse caso, será devida uma compensação ao
património comum pelas somas prestadas para a respetiva aquisição. A qual, no entanto
só poderá ser exigida após ou simultaneamente com a cessação das relações
patrimoniais, nomeadamente através da extinção do matrimonio ou separação judicial
de bens (art. 1689.º do CC).
No que respeita à venda do imóvel sem consentimento de António, atento o disposto no
art. 1682.º- A, n.º 1, al. a) (e não obstante cada cônjuge, em regra, administrar os bens
próprios, art. 1798.º, n.º do CC), carece sempre de consentimento de ambos os cônjuges
a alienação de imóveis próprios ou comuns, salvo se entre eles vigorar o regime da
separação de bens.
Neste contexto, a venda realizada por Benedita é anulável a requerimento de António,
no prazo de 6 meses subsequentes à data em que teve conhecimento da sua realização,
mas nunca decorridos 3 anos após a respetiva venda (cfr. artigo 1687.º, n.º 1 e 2 do CC).
b) Diga se as dívidas acima descritas são comunicáveis a ambos os cônjuges.
O regime jurídico aplicável às dividas entre cônjuges encontra-se previsto nos artigos
1690.º a 1697.º do CC.
De acordo com o art. 1690.º do CC qualquer dos cônjuges pode contrair dívidas sem o
consentimento do outro cônjuge. Contudo, tal permissão não significa que apenas o
cônjuge que contraí a dívida é responsável perante o credor pelo seu pagamento,
conforme se pode concluir do disposto na alínea a) do art. 1692.º do CC, ao consagrar
que os casos indicados nas alíneas b) e c) do art. 1691.º do CC determinam a
comunicabilidade de dívidas ao cônjuge que não deu consentimento.
Posto isto, torna-se necessário apurar se alguma das dívidas acima descritas se enquadra
nas alíneas acima descritas, ou no regime excecional da alínea d) do art. 1691.º, do qual
resulta que se presume o proveito comum do casal e consequentemente a
comunicabilidade da dívida ao cônjuge que não deu consentimento.
No que respeita à dívida contraída por Benedita, não referindo a hipótese que António
deu consentimento (pois nesse caso seria o mesmo responsável independentemente do
proveito comum) é necessário apurar se o empréstimo contraído se poderá enquadrar em
alguma das alíneas do art. 1691.º do CC acima referidas. Cremos que será difícil de o
fazer, no entanto a admiti-lo será nos termos da alínea c) do art. 1691.º do CC, se
considerarmos que Benedita ao contrair o empréstimo o fez no âmbito dos seus poderes
de administração de um bem próprio com o propósito de beneficiar o casal, seja através
da utilização do imóvel por ambos seja para a rentabilização do imóvel em benefício do
casal (proveito comum)
Quanto à dívida contraída por António para renovação de equipamento, material de
carpintaria e a decoração do seu gabinete pessoal, podemos considerar que sendo a
atividade de carpintaria uma atividade que o mesmo exerce comercialmente, a respetiva
dívida é contraída nesse mesmo âmbito o que, consequentemente, determina a
constituição de uma presunção de proveito.
Contudo, poderia sempre Benedita, não tendo consentido com o pedido de empréstimo e
demonstrando que a finalidade do mesmo não era o proveito comum do casal,
designadamente ao invocar que António nunca aplicou os rendimentos da sua atividade
comercial na vida em comum (neste aspeto é importante distinguir entre, por um lado,
alcançar-se o proveito comum e, por outro, ter essa intenção, a doutrina e jurisprudência
bastam-se com a intenção resultante do cônjuge ao contrair a dívida e não com o
resultado que a mesma tenha proporcionado) para afastar a comunicabilidade da mesma,
o que poderia verificar-se com maior facilidade no que respeita à remodelação do
gabinete pessoal, porquanto, numa primeira análise, não se vislumbra como poderá a
remodelação do gabinete pessoal consubstanciar um proveito comum do casal.
Situação oposta será o caso da renovação do equipamento, pois poderá o mesmo
permitir a angariação de mais serviços e consequentemente maiores rendimentos para
António que aplicando-os na vida do casal teriam como consequência a existência de
um proveito comum e, deste modo, a comunicabilidade da dívida.
Admitir-se à também a comunicabilidade da dívida nos termos da alínea c) do art.
1691.º do CC, recaindo neste caso o ónus de prova sobre quem invocar o proveito
comum da dívida.
Por fim, sendo as dívidas comunicáveis responderão primeiro os bens comuns e
mediante a insuficiência ou inexistência dos mesmos solidariamente os bens próprios
dos cônjuges, podendo haver nesse caso lugar a compensações entre o casal pelo
pagamento de dívidas comuns através de bens próprios de um só cônjuge ou
maioritariamente de um cônjuge (art. 1695.º e 1697.º do CC).
Na eventualidade da dívida ser própria responderão primeiro os bens próprios e
mediante a insuficiência ou inexistência dos mesmos a sua meação nos bens comuns
(art. 1696.º do CC).
c) Imagine que António e Benedita (casados) não estão de acordo quanto à escolha
de estabelecimento de ensino do seu filho Pedro de 10 anos, como poderão
ultrapassar este diferendo?
Na constância do matrimónio o exercício das responsabilidades parentais pertence a
ambos os cônjuges, fazendo parte das mesmas a direção da educação do menor,
conforme consagrado nos artigos 1878.º, n. º1 e 1901.º ambos do CC.
Não estando os progenitores de acordo quanto ao estabelecimento de ensino do filho
menor de ambos poderão os mesmo recorrer ao tribunal com o objetivo de ser alcançada
uma conciliação, atendendo que poderemos enquadrar, perante o conceito
indeterminado e abrangente de “questões de particular importância”, a escolha do
mesmo nos termos do disposto no n.º 2 do art. 1901.º do CC.
Consagra, ainda, a mesma disposição legal que, persistindo o desacordo, decidirá o
tribunal em função do superior interesse do menor.
Perante este enquadramento, o tribunal ouvirá o menor antes de decidir, salvo se
concluir que no caso concreto a sua audição implicará prejuízos superiores aos
benefícios que da mesma poderão advir, nomeadamente devido ao trauma, ansiedade e
conflituosidade que a sua audição lhe poderão infligir, em virtude de, muito
provavelmente, estar perante o constrangimento de agradar um progenitor em prejuízo
do outro.
Hipótese II
Ana e Bernardo casaram civilmente em 2015, no regime da separação de bens, passando
ambos a residir num apartamento arrendado a Bernardo.
Em 2016, quando Ana termina a sua licenciatura em Gestão, Bernardo oferece-lhe um
valioso colar de diamantes que havia herdado por morte da mãe.
Em 2017, Ana, após um tratamento para a infertilidade de Bernardo, dá à luz gémeos.
Bernardo, quando procede ao registo de nascimento dos gémeos, declara que são filhos
de Ana, mas que desconhece quem seja o pai, uma vez que é infértil.
Ana quer saber:
a) Se a paternidade dos seus filhos se encontra estabelecida a favor de Bernardo.
A paternidade de uma criança nascida na pendência do matrimónio estabelece-se por
presunção legal, conferida a favor do marido da mãe, conforme previsto no art. 1826º
do CC.
Consagra, igualmente, o art. 1835.º do CC que a paternidade presumida constará
obrigatoriamente do registo de nascimento, com exceção do previsto nos artigos 1828.º
e 1832.º do CC.
Na sequência da análise dos artigos acima mencionados constata-se que não são
aplicáveis à presente hipótese, designadamente por não estarmos perante uma conceção
anterior à celebração do casamento (i.e. nascimento de criança em período igual ou
inferior a 180 após a celebração do matrimónio – 1798.º do CC) (1828.º CC), e,
igualmente, por não ter sido a mãe a declarar perante o funcionário do registo civil que
o filho não é do marido. Não prevendo a lei que tal declaração possa ser efetuada pelo
marido da mãe.
Por conseguinte a paternidade encontra-se estabelecida a favor de Bernardo, restando a
Bernardo a possibilidade de proceder à sua impugnação nos termos dos artigos 1838.º e
seguintes do Código Civil.
b) Se tem fundamento para requerer a extinção do casamento, uma vez que
Bernardo recusou assumir a paternidade dos gémeos.
O casamento civil pode ser extinto através do divórcio, morte e anulabilidade.
No âmbito do instituto do divórcio deparamos com as modalidades de mútuo
consentimento e sem consentimento de um dos cônjuges (art. 1773.º CC).
O divórcio por mútuo consentimento terá se ser proposto na Conservatória do Registo
Civil, mediante requerimento assinado pelos cônjuges e acompanhado dos documentos
mencionados no n.º 1 do art. 1775.º do CC, sem necessidade de ser invocado qualquer
fundamento para que seja decretado. Posteriormente é realizada uma conferência com
vista ao eventual decretamento do divórcio (art. 1776.º CC). Não se vislumbra, contudo,
ser o caso da presente hipótese.
O divórcio sem consentimento de um dos cônjuges é requerido no Tribunal, por um dos
cônjuges contra o outro (n.º 2, art. 1773.º CC). Os fundamentos para a sua propositura
estão previstos no art. 1781.º CC. De entre os fundamentos previstos, verifica-se a
existência de um conceito indeterminado, na alínea d) do art. 1781.º CC, que permite
aos cônjuges invocar diversas situações que justificarão o decretamento do divórcio
nesses termos.
Perante tal conceito indeterminado, configura-se, na presente hipótese, admissível a
obtenção do divórcio desde que demonstrado por Ana que com a conduta de Bernardo a
vida em comunhão se tornou insustentável, designadamente em virtude da violação dos
deveres conjugais perpetrados por Bernardo, como o de respeito para com Ana, ao
“acusá-la” de adultério.
Por outro lado, será ainda de considerar a possibilidade de anulabilidade do casamento
com fundamento em erro que vicia a vontade, previsto no art. 1636.º do CC. Para esse
efeito, teria a Ana de demonstrar que o mesmo recaiu sobre as qualidades essenciais de
Bernardo (honestidade, solidariedade…), em concreto ao rejeitar assumir a paternidade
dos filhos, provenientes de relações sexuais entre ambos, e, simultaneamente, assumir a
existência de adultério por parte de Ana. No entanto seria ainda necessário que o erro
fosse (i) desculpável, i.e., um homem médio (bonus pater familias) teria cometido
naquelas condições o mesmo erro e (ii) se mostre que sem ele razoavelmente não o teria
celebrado.
c) Se, na eventualidade da extinção do casamento, pode continuar a residir na casa
de morada de família e conservar o colar de diamantes.
Concebendo a hipótese de o casamento ser extinto por divórcio, no que respeita à
atribuição da casa morada de família teremos de tomar em consideração a circunstância
da mesma se encontrar arrendada exclusivamente a Bernardo.
Por conseguinte, teremos de conjugar o disposto no art. 1793.º com o art. 1105.º ambos
do CC. Aplicando-se o art. 1793.º, n.º 1 a situações em que a casa morada de família é
um bem próprio ou comum dos cônjuges e em que consequentemente poderá um deles
vir a ser arrendatário do outro. Por sua vez, a situação prevista no art. 1105.º CC,
aplicável, in casu, quando o arrendamento se transmitir de um cônjuge para o outro,
mantendo-se, no entanto, o mesmo senhorio (terceiro perante a relação conjugal).
Neste caso, conforme consagrado no n.º 2 do art. 1105.º do CC, perante a falta de
acordo entre os cônjuges caberá ao tribunal decidir tendo em consideração, entre outros
aspetos, as necessidades de cada cônjuge, o interesse dos filhos do casal, o estado de
saúde dos cônjuges, os seus rendimentos e património.
Pelo que, poderá, mediante prova da verificação de alguns dos requisitos acima
descritos, a realizar por Ana, permanecer na casa morada de família, pese embora a
transmissão seja, por natureza, de caráter excecional.
A respeito da doação do colar de diamantes de Bernardo a Ana, é importante
previamente mencionar que o colar à data da realização da doação era um bem próprio
de Bernardo, nos termos do disposto no art.1735.º do CC.
Não obstante estarmos perante o regime de separação de bens, não tendo o mesmo
caráter imperativo, a doação é válida, desde que conste de documento escrito (art.
1763.º do CC).
Acresce que, a doação é livremente revogável pelo doador a todo o tempo (procurando-
se, assim, evitar-se a subjugação de um cônjuge sobre o outro e seu consequente
aproveitamento patrimonial - razão pela qual o contrato de compra e venda entre
cônjuges está vedado, por não ser suscetível de revogação). Contudo, poder-se-á
questionar se a revogação poderá ser efetuada após o divórcio, ou apenas na pendência
do matrimónio (art.1765.º CC), situação que parece encontrar-se esclarecida no artigo
1791.º do CC, ao descrever que o cônjuge perde todos os benefícios recebidos do outro
cônjuge em vista do casamento ou do estado de casado. Admitindo-se que a doação
realizada, neste contexto, se enquadra na letra e espírito da presente norma.
Conclui-se, assim, que, a doação do colar apenas se poderia manter na eventualidade de
Bernardo assim o pretender, não estando, por isso, ao alcance de Ana decidir se
permaneceria ou não proprietária do colar.
Por fim, se considerarmos que o casamento teria sido extinto em virtude da sua
declaração de anulabilidade teríamos de ponderar a boa-fé de Ana para aferir da
produção dos efeitos jurídicos acima descritos, ao abrigo das regras consagradas para o
casamento putativo, conforme artigos 1647 e 1648.º, em especial no que respeita à
utilização da casa morada de família.
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