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DIREITO DE FAMÍLIA

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DIREITO DE FAMÍLIA

MÓDULO IV

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MÓDULO IV

Apresentação

Acumulando os conteúdos estudados nos módulos anteriores, agora será


mais prático observar as circunstâncias e os procedimentos para o término da
sociedade conjugal. Fique atento e procure associar esses conteúdos!

Neste módulo estudaremos:

Introdução.
Previsão legal.
Término da sociedade conjugal.
O falecimento de um dos cônjuges.
A nulidade do casamento.
A anulação do casamento.
Separação.
Separação extrajudicial.
Separação consensual judicial.
Separação litigiosa.
Medida Cautelar de Separação de Corpos.
Partilha de bens.
Reconciliação.
Divórcio.
Divórcio direto.
Divórcio conversão.
Divórcio consensual.
Divórcio litigioso.

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13 INTRODUÇÃO

Quatro são as circunstâncias de término da sociedade conjugal. Duas delas


nós estudamos parcialmente nos módulos anteriores. As outras duas estudaremos
detalhadamente a partir de agora, bem como analisaremos, caso a caso, os
procedimentos judiciais e extrajudiciais possíveis.

14 PREVISÃO LEGAL

O Artigo 1.571 do Código Civil estabelece que a sociedade conjugal é


considerada finalizada pela morte de um dos cônjuges, pela nulidade ou anulação
do casamento, separação judicial ou pelo divórcio.

14.1 MORTE DE UM DOS CÔNJUGES

O término da pessoa natural está previsto nos Artigos 6º e 7º do Código Civil


e ocorre com a morte da pessoa, sendo esta presumida quanto aos ausentes nos
casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva.

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O Código Civil estabelece que a morte é presumida quando:

For extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida.


Alguém, em campanha ou por prisão, ficar desaparecido por até dois
anos após o término da guerra.

Nesses casos, não é necessário requerer a declaração de ausência, mas


sim a declaração de morte presumida, devendo a sentença estabelecer a data
provável do óbito.

14.2 NULIDADE OU ANULAÇÃO DO CASAMENTO

Os casos de nulidade do casamento estão previstos no Artigo 1.548 do


Código Civil. Conforme já estudamos, é nulo o casamento contraído por enfermo
mental e quando os impedimentos para o casamento não são observados. Os casos
de anulação do casamento, por sua vez, estão previstos no Artigo 1550 do Código
Civil.

14.3 SEPARAÇÃO

Os Artigos do Código Civil concernentes à separação são: 980, 1.027, 1.572


e 1.578. No Código de Processo Civil, a separação está prevista nos Artigos 1.120 e
seguintes. Além disso, as leis 6.515, de 1977, e 11.441, de 2007, tratam deste
assunto.

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14.4 DIVÓRCIO

O divórcio está previsto nos Artigos 1579 a 1582 do Código Civil, bem como
nas Leis 6.515 de 1997; 11.441 de 2007 e a Emenda Constitucional nº 66 de 2010.

Recapitulando, a sociedade conjugal termina em quatro circunstâncias:

pela morte de um dos cônjuges;


pela nulidade ou anulação do casamento;
pela separação judicial;
pelo divórcio.

O falecimento de um dos cônjuges é a causa natural de extinção da vida


conjunta. As causas de nulidade, por sua vez, estão estabelecidas no Código Civil e
constituem uma proibição ao casamento. Já as cláusulas de anulação do casamento
são aquelas que informam quem não deve casar. Além disso, a sociedade conjugal
termina com a separação judicial e com o divórcio, como veremos a seguir.

Importante

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A dissolução da sociedade conjugal não se confunde com a dissolução do
casamento. Quando a sociedade conjugal é dissolvida, as partes deixam de ter os
deveres de coabitação e fidelidade, mas preservam vínculos jurídicos. Por esse
motivo é que as pessoas separadas não podem casar novamente.

Já a dissolução do casamento extingue os vínculos jurídicos entre as partes,


e, por isso, elas se tornam aptas a contrair novo casamento. Somente a morte de
um dos cônjuges e o divórcio é que põem fim ao casamento. Assim, a lei permite
que o viúvo e o divorciado casem-se novamente. É bom frisar que o divórcio pode
ser obtido independentemente da prévia separação judicial ou extrajudicial, porque a
Emenda Constitucional n° 66/2010 expressamente dispõe: “O casamento civil pode
ser dissolvido pelo divórcio”.

15 O FALECIMENTO DE UM DOS CÔNJUGES

Com a morte de um dos cônjuges ocorre o término da sociedade conjugal,


bem como o fim do casamento; o casamento é extinto, passando a pessoa
sobrevivente ao estado civil de viúva.

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Nesse caso, deve-se fazer a averbação do falecimento na certidão de
casamento. Para tanto, é necessário levar a certidão de óbito ao Cartório de
Registro Civil que expediu a certidão de casamento, para que dela passe a constar o
local e data do falecimento do cônjuge.
Também é preciso fazer inventário para partilhar os bens do falecido entre
os herdeiros, especialmente se o cônjuge sobrevivente decidir casar-se novamente
porque, conforme já estudamos, enquanto não é feita a partilha, o regime de bens
em caso de novo casamento, obrigatoriamente, é o da separação de bens.

16 A NULIDADE DO CASAMENTO

Para a lei, o casamento é nulo quando:

Contraído pelo enfermo mental sem o necessário discernimento para os


atos da vida civil.

A lei proíbe o casamento com a finalidade de proteger os direitos


dessa pessoa e também porque ela não tem o discernimento para gerir seu
patrimônio e assumir obrigações.

Contraído sem observância dos impedimentos.

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Recordando o que estudamos no Módulo I, impedimentos,
previstos no Artigo 1521 do Código Civil são circunstâncias que proíbem a
realização do casamento ou acarretam a nulidade do casamento realizado em sua
presença.

17 OS IMPEDIMENTOS PARA O CASAMENTO

A união de pessoas da mesma família pode gerar problemas genéticos e


confusão patrimonial; por isso, o Direito impede alguns tipos de casamento. Algumas
outras proibições são feitas para a preservação da moral social.

Conforme sucintamente já estudamos nos módulos anteriores, a


lei informa que não podem casar:

Os ascendentes com os descendentes, ou seja, pais e filhos, avós e


netos, seja o parentesco natural ou civil, que é o caso da adoção.
Os parentes afins em linha reta, ou seja, a sogra com o genro, o enteado
com a madrasta.

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A pessoa que adota outra com quem foi casado com a pessoa adotada e
também o adotado com quem foi cônjuge da pessoa que o adotou.
A pessoa adotada com o filho da pessoa que o adotou, porque são, na
verdade, irmãos.
Os irmãos, sejam eles por parte de pai e mãe (bilaterais), ou só por parte
de pai ou por parte de mãe (unilaterais).
Os parentes colaterais, até o terceiro grau, ou seja, tios com sobrinhos.
As pessoas casadas, porque só se pode contrair um casamento de uma
vez. Enquanto não for dissolvido o casamento anterior, a lei não permite que se case
novamente.
O cônjuge sobrevivente com a pessoa que foi condenada por homicídio
doloso ou tentativa de homicídio contra o seu esposo(a).

18 A ANULAÇÃO DO CASAMENTO

Seis são as causas de anulação do casamento. De acordo com o Código


Civil, é anulável o casamento:

De quem não completou a idade mínima para casar: 18 anos.


Da pessoa maior de 16 anos e menor de 18, quando não autorizada pelos
pais.
Realizado por vício da vontade.
Do incapaz de consentir ou manifestar o consentimento.
Realizado por procurador, sem que ele ou o outro contraente soubesse da
revogação ou invalidade da procuração, e não sobrevindo coabitação entre os
cônjuges.

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Quando a autoridade que celebra o casamento não é competente.

Importante

O vício da vontade no casamento ocorre quando há erro essencial sobre a


pessoa do outro e no caso de coação. A lei considera haver erro essencial sobre a
pessoa em quatro hipóteses:

Quando uma determinada situação ou fato compromete a identidade,


honra e boa fama de um dos cônjuges. É o caso, por exemplo, de quem descobre,
após o casamento, que seu cônjuge sempre exerceu atividade de prostituição.
Quando o cônjuge não sabia, ao tempo do casamento, que o outro
praticou algum tipo de crime que torna insuportável a vida conjugal.
Quando antes do casamento o cônjuge desconhecia a existência de
defeito físico irremediável ou de doença grave e transmissível pelo contágio ou
herança genética, capaz de pôr em risco a saúde do outro cônjuge ou de seus filhos
comuns.
O desconhecimento, anterior ao casamento, de doença mental grave que,
por sua natureza, torne insuportável a vida em comum.

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19 COAÇÃO

A coação pode ser de coação física ou moral: a coação física ou moral


irresistível é mal injusto, grave e iminente que leva a vítima a praticar ato jurídico
diverso daquele que ela realizaria caso estivesse na plenitude de sua liberdade em
declarar a vontade.
A coação, por sua vez, ocorre quando o consentimento de um ou de ambos
os cônjuges for dado mediante fundado medo de mal considerável que ponha em
risco a vida, a saúde e a honra, sua e de seus familiares. É o caso, por exemplo, da
pessoa que casa sob a ameaça de morte de seu filho.

20 SEPARAÇÃO

A separação pode ocorrer por comum acordo do casal ou quando um dos


cônjuges viola os deveres do casamento, tornando a vida em comum insuportável. A
lei considera algumas causas que impossibilitam a vida em comum:

Adultério.
Tentativa de morte.
Maus tratos físicos e a ofensa moral grave.

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Abandono voluntário do lar conjugal durante um ano contínuo.
Conduta desonrosa.

Além dessas, o juiz pode reconhecer outros fatos que tornem impossível a
convivência marital.

20.1 O PROCESSO DE SEPARAÇÃO

O processo de separação pode ocorrer de diversas formas. Se for de


comum acordo das partes, pode ser extrajudicial, feito em Tabelionato de Notas, ou
pode ser judicial, por meio de ação de separação consensual. Se apenas uma das
partes quiser a separação, o procedimento é judicial litigioso.

No caso de uma das partes estar sofrendo violência física ou


moral ou grave ameaça, é possível uma medida judicial urgente de separação de
corpos.

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20.2 SEPARAÇÃO EXTRAJUDICIAL

Desde o ano de 2007 é possível fazer a separação diretamente no


Tabelionato de Notas, sem necessidade de ajuizar uma ação de separação. A Lei
11.441 de 2007 trata deste assunto.
A separação consensual extrajudicial, porém, só pode ser feita se os
cônjuges forem casados há mais de um ano, estiverem de acordo com os termos da
separação e desde que não possuam filhos menores ou incapazes.

Os cônjuges devem comparecer em um Tabelionato de Notas com os


seguintes documentos: RG, CPF, comprovante de residência atualizado, certidão de
casamento atualizada e escritura de pacto antenupcial, se houver. Se tiverem filhos
maiores, a certidão de nascimento ou casamento de cada um deles.

Os documentos serão verificados pelo escrevente e será agendada uma


data para fazer a escritura de separação. Nesta data, os cônjuges deverão
comparecer ao Tabelionato de Notas, juntamente com o advogado, para estabelecer

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a partilha de bens, o pagamento ou não de pensão alimentícia entre os cônjuges e a
alteração ou não do nome de casada. Feita a escritura, os cônjuges devem procurar
o Cartório de Registro Civil onde celebraram o casamento para fazer a averbação da
separação no registro do casamento.

Os documentos exigidos pelo cartório são: documentos pessoais e a


escritura pública de separação. Caso os cônjuges tenham partilhado bens imóveis, a
escritura de separação também deve ser levada ao Registro de Imóveis para
averbação.

20.3 SEPARAÇÃO CONSENSUAL JUDICIAL

A separação consensual judicial deve ser feita quando as partes, casadas há


mais de um ano, de comum acordo, não desejam manter o casamento. O
procedimento judicial é obrigatório se há filhos menores ou incapazes.

O casal deve chegar a um consenso quanto às condições da separação,


notadamente sobre: guarda, visitação e pensão alimentícia para os filhos, partilha de
bens, pensão alimentícia entre os cônjuges e manutenção ou não do nome de

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casada. Por meio de um advogado, devem propor ação de separação consensual
judicial. A audiência pode ser incluída na pauta de audiência do dia, conforme a
disponibilidade do juízo, caso haja urgência das partes. Não há nesta modalidade de
separação nenhum litígio a ser dirimido entre os cônjuges.

Os documentos necessários para esta ação são: RG, CPF, comprovante de


residência, certidão de casamento atualizada e escritura de pacto antenupcial, se
houver. Se tiverem filhos, a certidão de nascimento ou casamento deles.
Na audiência, o juiz perguntará às partes o motivo da separação e se elas
realmente a desejam. Sendo afirmativa e inequívoca a resposta, analisará as
condições da separação e ouvirá o Ministério Público, homologando a separação no
prazo de 5 dias.

Caso as partes hesitem ou apresentem dúvida sobre a separação, o juiz


marcará nova audiência, para que pensem melhor e voltem futuramente para
confirmar o pedido de separação.
Homologada a separação, o juiz emitirá um ofício que deverá ser levado ao
Cartório de Registro Civil onde foi celebrado o casamento, para que seja averbada a
separação judicial no verso da certidão de casamento. A recusa judicial da

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homologação poderá ser posteriormente suprida, mediante da alteração dos termos
integrantes da separação amigável.

Caso bens imóveis tenham sido partilhados, a averbação também deverá


ser feita no Cartório de Registro de Imóveis.

20.4 SEPARAÇÃO JUDICIAL LITIGIOSA

A separação judicial litigiosa ocorre quando as partes não entram em acordo


sobre a vontade de dissolver a sociedade conjugal ou quando ambas querem
terminar o relacionamento, mas não concordam sobre a guarda dos filhos, pensão,
partilha de bens e alteração do nome. Não se exige o período mínimo de um ano de
casamento para se propor a demanda que objetiva a separação contenciosa.

Nesse caso, o cônjuge interessado deve procurar um advogado e promover


a ação de separação. Os documentos necessários são: RG, CPF, comprovante de
residência, certidão de casamento atualizada e escritura de pacto antenupcial, se
houver. Caso existam filhos, a certidão de nascimento ou casamento deles.

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Na petição de separação deve estar especificado o motivo que causou a
insuportabilidade da vida em comum, bem como as intenções do cônjuge sobre a
guarda dos filhos e regime de visitação, pensão alimentícia para os filhos, pensão
alimentícia entre os cônjuges, partilha de bens e alteração do nome de casada.
Feito isso, o outro cônjuge será citado para que se defenda na ação,
apresentando a sua versão sobre os acontecimentos. Também nesta oportunidade,
deve fazer referência ao que concorda e discorda do outro cônjuge e informar quais
as suas pretensões sobre a guarda dos filhos e regime de visitação, pensão
alimentícia para os filhos e entre os cônjuges, partilha de bens e alteração do nome
de casada.

Logo após, o juiz marcará dia e hora para audiência, para que cada um dos
cônjuges compareça juntamente com seus advogados. Na oportunidade da
audiência, o juiz ouvirá separadamente cada uma das partes e, se achar necessário,
as reunirá para ouvi-las juntos. O juiz tentará a reconciliação do casal ou o acordo
quanto aos termos da separação. Não sendo possível, analisará as intenções de
cada um dos cônjuges e decidirá conforme seu convencimento, depois de ouvido o
Ministério Público.

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Homologada a separação, o juiz emitirá um ofício que deverá ser levado ao
Cartório de Registro Civil onde foi celebrado o casamento, para que seja averbada a
separação judicial no verso da certidão de casamento. Caso bens imóveis tenham
sido partilhados, a averbação também deverá ser feita no Cartório de Registro de
Imóveis.

20.5 MEDIDA CAUTELAR DE SEPARAÇÃO DE CORPOS

Nos casos em que um dos cônjuges passa a ter conduta desregrada ou


ofensiva é possível ajuizar uma medida de urgência denominada cautelar de
separação de corpos. Assim, podendo ser requerida cautelarmente, como forma de
saída autorizada do lar conjugal e de liberação dos deveres matrimoniais.

Por meio de um advogado, o cônjuge interessado pedirá ao juiz que, em


caráter de urgência, retire o outro cônjuge do lar conjugal. Nesse caso, será
necessário comprovar a existência da conduta desregrada ou ofensiva do outro
cônjuge para que o juiz conceda a separação provisória de corpus.

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Se o juiz estiver convencido de que a permanência do outro cônjuge no lar
conjugal poderá expor a vida e a moral dos membros da família, promoverá a
separação provisória de corpus, ordenando que o culpado retire-se do lar conjugal.
O cônjuge obrigado a se retirar do lar deve procurar um advogado para se defender.

No prazo de 30 dias, o advogado entrará com nova ação requerendo a


separação efetiva dos cônjuges. Nesta fase, o procedimento é igual ao da
separação judicial litigiosa.

Passados os 30 dias, caso a nova ação não seja promovida, a medida


cautelar perde o efeito.

21 PARTILHA DE BENS

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Em regra, entende-se como partilha de bens a transação que tem por
finalidade a divisão de herança em partes iguais entre todos os herdeiros do “de
cujus”. As partes não precisam fazer a partilha de bens durante o processo de
separação. De acordo com a lei, ela pode ser feita posteriormente; todavia, a
conversão da separação em divórcio só será permitida após a homologação da
partilha.
A partilha dos bens observará o critério fixado pela lei para a dissolução da
sociedade conjugal submetida ao regime de comunhão parcial de bens. Assim, em
princípio serão partilhados os bens que se sujeitaram à comunicação de aquestos
decorrentes do reconhecimento judicial da união estável.
Como qualquer outra relação amorosa, a união estável pode também ter o
seu término final e, de forma pacífica e madura, de marcar-se consensualmente
sobre todos os pontos da separação, como bens, guarda/visita de filhos (convivência
familiar), alimentos.

Não se comunicam na união estável, a menos que eventual contrato escrito


estabeleça regra diversa:
a) os bens adquiridos por subcessão a título individual, por meio de doação
ou de sucessão, bem como os sub-rogados em seu lugar;
b) os bens adquiridos com valores próprios em sub-rogação de bens
particulares;
c) os bens excluídos da comunhão universal;
d) as dívidas em geral, anteriores ao início da união, bem como as
provenientes de ato ilícito, ressalvada a reversão em favor do casal;
e) as pensões, utensílios profissionais, bens de uso pessoal, os livros e os
proventos do trabalho pessoal de cada convivente;
f) os bens cuja aquisição se deve a uma causa anterior ao casamento;
g) os bens adquiridos em negócios condicionais cujo implemento se verifique
após o casamento;
h) os rendimentos de bens dos filhos precedentes ao casamento, porque se
trata de direito percebido a partir de patrimônio distinto do patrimônio de qualquer
um dos cônjuges.

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A união estável é uma situação que existe de fato entre duas pessoas
(heteroafetivo ou homoafetivo), situação esta que a Lei outorgou praticamente as
mesmas qualidades do casamento civil, celebrado sob o regime da comunhão
parcial de bens. Essa tem sido a decisão majoritária dos tribunais. Destacando o
julgamento da ADPF 132-RJ, na qual o Supremo Tribunal Federal, decidiu, com
efeito vinculante, afastar qualquer interpretação discriminatória da união estável
entre parceiros do mesmo sexo.
Desta forma, a união estável homoafetiva também gera separação com
partilha de bens. Por fim, vimos que houve uma evolução muito importante referente
à partilha de bens nesta modalidade de entidade familiar (união estável). Tal
evolução proporciona a proteção dos companheiros, nos casos de dissolução da
união estável, equiparando-os aos civilmente casados pelo regime de comunhão
parcial de bens, no caso de não haver prévia estipulação em contrato escrito sobre
outra forma de partilha.

22 RECONCILIAÇÃO

Em qualquer um dos casos de separação, a lei permite que as partes se


reconciliem e retornem ao estado de casadas, com todos os deveres e direitos
decorrentes. Isso se dá porque a sociedade tem o interesse em que a situação
decorrente da separação judicial possa desaparecer. A reconciliação em nada
prejudicará o direito de terceiros, adquirido antes e durante o estado de separado,
seja qual for o regime de bens.

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Para tanto, por meio de um advogado, as partes, em conjunto,
podem requerer judicialmente o restabelecimento do vínculo do casamento.

23 DIVÓRCIO

Assumiu o divórcio um papel de grande importância no universo do direito de


família, uma vez que libertou os casais que já não possuíam mais o afeto marital de
um vínculo matrimonial indesejável, possibilitando um novo casamento. O direito de
casar e o de não permanecer casado deve ser respeitado tanto no plano material
quanto no processual, libertando as partes de uma exigência indevida.
O divórcio pode ser direto, quando o casal já está separado de fato há pelo
menos dois anos; ou pode ser divórcio conversão, quando o casal primeiro faz a
separação e depois de um ano requer a conversão desta em divórcio.
Para o divórcio ser homologado, se o casal tiver patrimônio,
necessariamente os bens devem ser divididos, a menos que já tenham sido
divididos quando foi feita a separação judicial. Da mesma forma que a separação, o
divórcio pode ser consensual ou litigioso e por procedimento extrajudicial ou judicial.

23.1 DIVÓRCIO DIRETO

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Após dois anos da separação de fato do casal, é possível requerer
diretamente o divórcio, em vez de proceder primeiro à separação e, posteriormente,
pedir o divórcio.

O procedimento é semelhante ao da separação, podendo ser extrajudicial ou


judicial, conforme veremos a seguir.

23.2 DIVÓRCIO CONVERSÃO

Após um ano da separação extrajudicial ou judicial, as partes podem


requerer a conversão da separação em divórcio, também de maneira extrajudicial ou
judicial, conforme esclarecido a seguir.

23.3 DIVÓRCIO CONSENSUAL

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O divórcio consensual ocorre quando as duas partes manifestam a vontade
de se divorciarem. O procedimento, no caso de divórcio consensual, pode ser
extrajudicial ou judicial.

23.3.1 Procedimento Extrajudicial

Se as partes estiverem de acordo, basta que compareçam acompanhadas


de um advogado que pode ser o mesmo para as duas, em um Tabelionato de Notas
e façam uma escritura pública de divórcio. Caso as partes tenham feito a separação
judicial ou extrajudicial há mais de um ano, será elaborada uma escritura de
conversão de separação em divórcio.
Os documentos necessários são: RG, CPF, certidão de casamento
atualizada e escritura de separação.

Se as partes estiverem separadas de fato há mais de dois anos, será feita


uma escritura de divórcio direto. Nesse caso, além do RG, CPF e certidão de
casamento atualizada, também serão necessários os seguintes documentos:
certidão de nascimento ou casamento dos filhos, se os interessados tiverem filhos;

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relação de bens a partilhar e pelo menos uma testemunha que não seja parente e
conheça as duas partes, bem como saiba há quanto tempo elas estão separadas.

Feita a escritura, o próximo passo é averbá-la no Cartório de Registro Civil


para que conste o divórcio no verso da certidão de casamento, e também no
Registro de Imóveis, quando bens imóveis forem partilhados.

23.3.2 Procedimento Judicial

As partes devem procurar um advogado, que pode ser o mesmo, para


ajuizar ação de conversão de separação em divórcio ou de divórcio direto, conforme
o caso. A documentação necessária é a mesma exigida para o procedimento
extrajudicial.

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Homologado o divórcio, o juiz emitirá um ofício que deverá ser levado ao
Cartório de Registro Civil onde foi celebrado o casamento, para que seja averbado o
divórcio no verso da certidão de casamento.

Caso bens imóveis tenham sido partilhados, a averbação também deverá


ser feita no Cartório de Registro de Imóveis.

23.4 DIVÓRCIO LITIGIOSO

Ocorre quando apenas uma das partes quer o divórcio ou quando as duas
querem, mas não concordam com as condições do divórcio.

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Neste caso, a parte interessada deve procurar um advogado para instruir
ação de conversão de separação em divórcio ou divórcio direto, conforme o caso.

O procedimento é igual ao da separação judicial litigiosa: a parte interessada


ajuizará ação de divórcio, comprovando que é separada judicialmente ou
extrajudicialmente há mais de um ano ou que é separada de fato há mais de dois
anos.

A outra parte será citada para se defender e informar ao juiz a sua versão
dos fatos. O juiz tentará a reconciliação e o acordo e, não sendo possível,
determinará o divórcio e os seus termos depois de ouvido o Ministério Público.

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Homologado o divórcio, o juiz emitirá um ofício que deverá ser levado ao
Cartório de Registro Civil onde foi celebrado o casamento, para que seja averbado o
divórcio no verso da certidão de casamento.

Caso bens imóveis tenham sido partilhados, a averbação também deverá


ser feita no Cartório de Registro de Imóveis.

24 O DIVÓRCIO DE ACORDO COM A EMENDA CONSTITUCIONAL Nº 66/2010

Como vimos, anteriormente, antes da Emenda Constitucional 66\2010, a lei


civil adotava o modelo da dupla etapa, ou seja, a pessoa precisava, primeiramente,
separar-se judicialmente para, então, obtidos os requisitos à época exigidos, pode
obter o divórcio.
A lei do divórcio possibilitava a conversão da separação judicial em divórcio,
quando decorrido o prazo de um ano e desde que as partes tivessem cumprido as
obrigações assumidas, por ocasião da separação judicial. Posteriormente, foi
afastada a necessidade de cumprimento das obrigações assumidas por ocasião da
separação judicial, porém o prazo de um ano para a conversão da separação em
divórcio foi mantida.
No entanto, tendo a Emenda Constitucional 66\2010, admitido a concessão
do divórcio a qualquer tempo, o prazo ânuo do art. 1580 do CC não se torna mais
necessário para a obtenção do divórcio.
A grande questão, hoje, mormente com a promulgação dessa emenda, é
estabelecer se há necessidade de se manter esse instituto,pois, tendo em vista as
sensíveis mudanças na sociedade questiona-se a validade da separação/divórcio.
Entendemos que com a supressão do sistema da dupla etapa, por força do advento

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da EC 66\2010, não se torna mais imprescindível nenhuma separação anterior, nem
prazo nenhum para que se obtenha o divórcio.
Mas como não houve qualquer alusão à separação na redação dada ao art.
226 da CF, pela a EC 66 de 2010, abre-se a polêmica sobre a abolição dela no
sistema jurídico brasileiro. Não há dúvida de que a separação, em qualquer de suas
modalidades, inclusive a separação de corpos, não serve mais como fase
intermediária obrigatória para o divórcio. Assim, é de ressaltar que na atualidade,
não se fala mais em divórcio direto ou indireto (conversão), mas simplesmente em
divórcio, uma vez que não mais existe prazo a ser observado para sua concessão.

25 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Chegamos ao fim do último módulo do curso de Direito de Família e até aqui


estudamos:

O conceito de família, seu processo de ampliação e sua importância para


o Direito de Família.
O conceito de casamento, suas principais características, quem está apto
a casar, as modalidades de casamento, o procedimento para a realização do
casamento civil, as custas, os casamentos de brasileiros realizados no exterior e os
de estrangeiros realizados no Brasil e os efeitos civis do casamento religioso.
O conceito de parentesco, os tipos de parentesco e as regras que os
definem, a adoção e seu procedimento legal, o parentesco socioafetivo, a filiação, a
presunção de paternidade, o reconhecimento dos filhos e a contestação da
paternidade e da maternidade.
As causas de término da sociedade conjugal: falecimento de um dos
cônjuges, nulidade ou anulação do casamento, separação e divórcio.

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Agora que você já estudou todos os módulos, aprofunde seu conhecimento
revisando cada um deles e fazendo as associações dos temas tratados. Outra
sugestão é ficar atento às notícias sobre o Direito de Família e visitar semanalmente
os sites dos Tribunais de Justiça brasileiros, assim como os do Superior Tribunal de
Justiça e do Supremo Tribunal Federal, para acompanhar os informes e
jurisprudências sobre este assunto.

----------- FIM DO MÓDULO IV ----------

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CARVALHO, Henrique Rabello. Resolução mostra desigualdade jurídica com


homossexual. Revista Consultor Jurídico, São Paulo, Disponível em:
<http://www.conjur.com>. Acesso em: 10 jul. 2014.

DIAS, Maria Berenice. União homoafetiva, o preconceito e a justiça. 5. ed.


Revista dos Tribunais, 2011.

DEUS, Enézio de. Decisões Judiciais Inéditas Viabilizam Adoções por Casais
Homossexuais no Brasil. IBDFAM, Belo Horizonte, 17 nov. 2006. Disponível em:
<http://http://www.ibdfam.org.br/?artigos&artigo=231>. Acesso em: 17 jun. 2009.

DINIZ, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. 23. ed. São Paulo: Saraiva,
2008, v. 5.

DINIZ, Maria Aparecida Silva Matias. Adoção por pares homoafetivos. Uma
tendência da nova família brasileira. Jus Navigandi, Teresina, ano 13, n. 1985, 7
dez. 2008. Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=12059>.
Acesso em: 17 jun. 2009.

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil Brasileiro - Direito de Família. 11. ed.
São Paulo: Saraiva, 2014.

LISBOA, Roberto Senise. Manual de Direito Civil – Direito de família e Sucessões.


v. 5, 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2013.

MALUF, Carlos Aberto Dabus; MALUF, Adriana Caldas do Rego Freitas Dabus.
Curso de Direito de Família. São Paulo: Saraiva, 2013.

PEREIRA, Caio Mario da Silva. Instituições de Direito Civil. 16. ed. São Paulo:
Saraiva, 2006, v. 5.

RODRIGUES, Silvio. Direito Civil. 28. ed. São Paulo: Saraiva, 2008, v. 6.

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VECCHIATTI, Paulo Roberto Lotti. Manual da Homoafetividade: da possibilidade
jurídica do casamento civil, da união estável e da adoção por casais homoafetivos.
2. ed. rev. atual. Rio de Janeiro: Forense, 2013.

VENOSA, Silvio de Salvo. Direito Civil. 8. ed. São Paulo: Saraiva, 2008, v.6.

Sites Consultados:

IBDFAM – Instituto Brasileiro de Direito de Família.

SENADO FEDERAL. Disponível em: <http://www.senado.gov.br/>. Acesso em: 09


jul. 2014.

----------- FIM DO CURSO! ----------

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