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Acadêmicos: Alessandra Moreira dos Santos, Carolina Rios, Cláudia Camila de Oliveira,
Izabelly Cristina Gomez, João Victor M. B. Torres, Juliana Gimenes Quinhonez, Marceli
Valençuela Canteiro, Pablo Vera de Maldonado, Wesley Dilan Rodrigues de Almeida.
CASO CONCRETO 1
CASO CONCRETO 2
Tenho 18 anos e minha namorada de quinze anos está grávida. Decidimos nos
casar, mas o cartório não aceitou realizar o casamento, apesar do consentimento dos pais
dela. Segundo informação do tabelião devemos esperar que ela alcance dezesseis anos
para somente depois realizar o casamento. Gostaria de saber o que posso fazer para
resolver este impasse, pois sei de outras pessoas que já se casaram com esta mesma idade.
O Código Civil não permite, em nenhuma hipótese, a união de pessoas menores de 16
anos. A idade núbil no direito brasileiro é de 16 anos, conforme o artigo 1.517 do Código Civil.
Ademais, a lei 13.811 de 2019 alterou o referido artigo 1520 do CC, fazendo significativas
mudanças:
Art.1520 (Antigo)- “Excepcionalmente, será permitido o casamento de quem ainda não
alcançou a idade núbil (art. 1.517), para evitar imposição ou cumprimento de pena criminal
ou em caso de gravidez”.
Art.1520 (Atual)- “Não será permitido, em qualquer caso, o casamento de quem não
atingiu a idade núbil, observado o disposto no art. 1.517 deste Código”.
No presente caso, é mencionado que antes isso acontecia, o que de fato é verdadeiro, no
entanto, com a mudança em 2019, tal ato passou a ser ilegal perante a Lei brasileira. Desta
forma, agiu com maestria o Tabelião ao negar o casamento entre os jovens, mesmo que eles
possuíssem autorização dos pais ou responsáveis.
Vale lembrar que antes da reforma, a gravidez poderia ser um atalho para o casamento,
fato este que passou a ser ilegal com a instituição da nova lei, que alterou o artigo 1520 do CC.
O sistema jurídico brasileiro sempre entendeu que o casamento é o melhor modelo para
o pleno desenvolvimento da criança e do adolescente. A interpretação majoritária era que a
plenitude do art. 227 da Constituição Federal no que toca ao cumprimento da gama de direitos
estatuídos no dispositivo, tinha na família matrimonial a sua mais plena visão. Aliás, o primeiro
ente obrigado ao pleno desenvolvimento da criança e do adolescente é a família e a família
matrimonial sempre foi uma das bases da sociedade (art. 226 e §§ 1º, 2º da CF). Essa foi a razão
da gravidez autorizar o casamento dos pretensos pais biológicos independentemente do critério
de idade, a fim de garantir o melhor desenvolvimento possível para crianças, adolescentes e
jovens. Porém, com a revogação do art. 1.520, não sendo mais permitido, em nenhuma hipótese,
o casamento do menor de 16 anos, passa o sistema jurídico a entender que o casamento não é
mais o melhor modelo para o primeiro desenvolvimento da criança.
Fica então superado o enunciado a seguir: “O Enunciado nº 329 da IV Jornada de Direito
Civil, dispõe: “a permissão para casamento fora da idade núbil merece interpretação orientada
pela dimensão substancial do princípio da igualdade jurídica, ética e moral entre o homem e a
mulher, evitando-se, sem prejuízo do respeito à diferença, tratamento discriminatório”. Por fim,
caso aconteça um casamento envolvendo menor de 16 anos, será anulável, nos termos do art.
1.550, I, do CC:
Art. 1.550. É anulável o casamento:
I - de quem não completou a idade mínima para casar;
A anulação do casamento dos menores de dezesseis anos poderá ser requerida:
I - pelo próprio cônjuge menor;
II - por seus representantes legais;
III - por seus ascendentes.
CASO CONCRETO 3
Quando eu tinha 18 anos minha mãe se casou com João, então com 50 anos. Por
dois anos foram casados e felizes, mas minha mãe acabou morrendo em 2006 em virtude
de um câncer de mama tardiamente descoberto e que lhe retirou a vida em pouquíssimos
meses. Eu tinha um relacionamento muito bom com João e, após superarmos a morte
prematura da minha mãe acabamos descobrindo que tínhamos muita coisa em comum.
Resultado, começamos a namorar em 2008 e, em 2009 resolvemos casar. Fizemos todo o
procedimento de habilitação para o casamento e, naquele mesmo ano, casamo-nos. Neste
mês, no entanto, fomos surpreendidos por uma ação de anulação do casamento proposta
pelo Ministério Público que afirma que a lei proíbe o nosso casamento em virtude do
parentesco. Amo João e depois de tantos anos juntos não posso acreditar que nosso
casamento esteja sendo questionado. O Ministério Público tem legitimidade para propor
essa ação? Depois de tanto tempo já casados este pedido não estaria prescrito? Nunca tive
nenhum um vínculo de parentesco com João, como esse fato pode estar sendo alegado?
As relações de parentesco são os vínculos decorrentes da consanguinidade e da
afinidade que ligam as pessoas a determinado grupo familiar. Cônjuges e companheiros não
são parentes, apesar de integrarem a família e manterem vínculo de afinidade com os parentes
do par. Os vínculos de afinidade surgem, quando do casamento e da união estável, com os
parentes do cônjuge ou do companheiro (CC 1.595).
Como as estruturas familiares dispõem de diversas origens, vários são os critérios
utilizados para classificar as relações de parentesco, a depender da identificação que se queira
estabelecer entre duas pessoas. O parentesco decorre das relações conjugais, de
companheirismo e de filiação: maternal ou paternal. Pode ser natural, biológico, civil, adotivo,
por afinidade, em linha reta ou colateral.
Neste sentido explica Maria Berenice Dias “A identificação da linha de parentesco é o
que permite distinguir parentes em linha reta dos parentes em linha colateral. Em linha reta
são aqueles que descendem uns dos outros e leva em consideração a relação de ascendência e
descendência entre os parentes. O parentesco em linha colateral funda-se na ancestralidade
comum, sem relação de ascendência ou descendência. O parentesco em linha reta é infinito,
nos limites que a natureza impõe à sobrevivência dos seres humanos {...} Por mais afastadas
que estejam as gerações, serão sempre parentes entre si as pessoas que descendem umas das
outras {...}Vínculos de parentesco igualmente se estabelecem quando, entre duas pessoas,
existe um ancestral comum, fazendo surgir entre ambas uma relação de parentesco na linha
colateral.
No que concerne ao vínculo pela afinidade, tem se origem na lei e se constitui do
casamento ou da união estável e vincula o cônjuge e o companheiro aos parentes do outro. A
afinidade associava-se apenas ao casamento, mas, com a constitucionalização da união estável,
a lei estendeu-lhe os vínculos de afinidade (CC 1.595) “ Cada cônjuge ou companheiro é aliado
aos parentes do outro pelo vínculo da afinidade.”
O vínculo também se dá com relação aos filhos de um dos cônjuges ou companheiros.
Assim, o filho de um passa a ser filho por afinidade do outro. Na ausência de melhor nome,
costumam-se chamar de padrasto ou madrasta e enteado os parentes afins de primeiro grau em
linha reta.
Todas as distinções e classificações feitas de modo minucioso pela lei dispõem de
enorme importância. A identificação dos vínculos de parentesco tem reflexos nos impedimentos
matrimoniais, diante da proibição de incesto.
No caso acima narrado, tem se configurado de fato a relação de parentesco por afinidade
entre o padrasto e a enteada, que após a morte da cônjuge passaram a constituir um
relacionamento amoroso, vindo a concretizar a união por meio do casamento.
Entretanto, dissolvido o casamento ou a união estável, o vínculo de afinidade não se
dissolve integralmente, permanece com relação aos parentes em linha reta. Nem a morte solve
o vínculo de afinidade. Ou seja, não existe “ex-sogro”, “ex-sogra” ou “ex-enteado”. Persistindo
o vínculo de parentesco, permanece o impedimento matrimonial entre eles, conforme prevê o
rol do art. 1.521 do Código Civil, in verbis:
Art. 1.521. Não podem casar:
I - os ascendentes com os descendentes, seja o parentesco natural ou civil;
II - os afins em linha reta;
III - o adotante com quem foi cônjuge do adotado e o adotado com quem o foi do
adotante;
IV - os irmãos, unilaterais ou bilaterais, e demais colaterais, até o terceiro grau
inclusive;
V - o adotado com o filho do adotante;
VI - as pessoas casadas;
VII - o cônjuge sobrevivente com o condenado por homicídio ou tentativa de homicídio
contra o seu consorte.
[...]
Dessa forma, é considerado nulo o casamento contraído por infringência de
impedimento, como dispõe o art. 1.548, inciso II, do Código Civil.
Ademais, o Ministério Público ou qualquer interessado, possui legitimidade para ajuizar
ação de nulidade de casamento de afins em linha reta, conforme o art. 1.549 do Código Civil
“A decretação de nulidade de casamento, pelos motivos previstos no artigo antecedente, pode
ser promovida mediante ação direta, por qualquer interessado, ou pelo Ministério Público”,
podendo ser oposto a qualquer momento.
Sobre o tema, trago os ensinamentos de Maria Berenice Dias:
Diz a lei (CC 1.521): não podem casar. Quem, ainda assim, desobedece
à vedação legal e casa, afronta preceito de ordem pública, e o
casamento é nulo. Realizado o matrimônio com infração a impedimento
que possa ameaçar diretamente a estrutura da sociedade, é a própria
sociedade que reage violentamente, fulminando de nulidade o
casamento. Afinal, o que é nulo repugna ao ordenamento jurídico e
deve ser extirpado da vida jurídica. O vício que inquina o ato nulo é
por demais grave (Manual dos direitos das famílias. 8. ed. São Paulo:
RT, 2001, p. 277).
Nesse sentido é o entendimento do egrégio Tribunal de Justiça de Minas Gerais:
APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO DE FAMÍLIA. DECLARATÓRIA
DE NULIDADE DE CASAMENTO. PADRASTO E ENTEADA.
PARENTES POR AFINIDADE. CASAMENTO.
IMPOSSIBILIDADE. ART. 1.521, INCISO II, DO CÓDIGO CIVIL.
NULIDADE. SENTENÇA MANTIDA. - O parentesco por afinidade
em linha reta não se rompe com o desfazimento do matrimônio, sendo
nulo o casamento contraído por padrasto e enteada, nos termos do art.
1521, inciso II cumulado com o art. 1.548, ambos do Código
Civil. (TJMG - Apelação Cível 1.0518.10.025538-0/001, Relator(a):
Des.(a) Washington Ferreira , 7ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em
27/03/2012, publicação da súmula em 13/04/2012).
CASO CONCRETO 4
II- do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu representante legal;
III - por vício da vontade, nos termos dos arts. 1.556 a 1.558;
V- realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro contraente soubesse da revogação
do mandato, e não sobrevindo coabitação entre os cônjuges;
I- o que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa fama, sendo esse erro tal que o
seu conhecimento ulterior torne insuportável a vida em comum ao cônjuge enganado;
Art. 1.560. O prazo para ser intentada a ação de anulação do casamento, a contar da
data da celebração, é de:
Nesse sentido decidiu o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul, que manteve a
sentença e deu provimento unânime a apelação:
CASO CONCRETO 5
CASO CONCRETO 6
BRASIL. Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm. Acesso em: 18 de
agosto de 2022.
DIAS, Maria Berenice. Manual de Direito das Famílias. 14.ed. rev. ampl. e atual. Salvador.
Editora JusPodivm, 2021. Acesso em: 18 de agosto de 2022.