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Qual é o objetivo das pessoas que casam?

Direito das Famílias – Profª Luciane de Freitas


 No Direito de Família vigora o
princípio em favor do
matrimônio (art. 1.547,
CC/02), visando a proteção do
 Direito Civil VI – Profª Luciane de Freitas
casamento, tendo em vista que a
decretação de nulidade pode
acarretar a dissolução de uma
entidade familiar, o que não se
coaduna com o sentido das
normas que visam amparar a
família.
Da inexistência ou invalidade do
Casamento
O regime geral das invalidades expresso na parte geral do
CC, arts. 166-184, apresenta-se de forma diferenciada nesse
ramo do direito, não podem ser aplicadas as regras comuns.

CF/88, art. 226. A Família é a base da sociedade e


tem proteção especial do Estado.

O casamento, enquanto negócio jurídico complexo


e sui generis, possui normas próprias
no que tange a sua invalidação.
Hipóteses: Casamento inexistente
Casamento nulo
Casamento anulável

I) Casamento Inexistente é aquele em que,


pela falta de pressuposto, não há formação da relação jurídica.

a) Ausência de consentimento: faltando a manifestação de


vontade, durante a realização do casamento, por parte de um
dos nubentes.
b) Ausência de celebração na forma da lei

Casamento celebrado por autoridade absolutamente


incompetente (autoridade religiosa ou juiz de paz).

A incompetência ratione materiae (como sucede


quando o presidente do ato não é juiz de casamentos
(art. 98, II, CF/1988), mas, por exemplo, autoridade com
outra espécie de competência, como delegado de polícia,
prefeito, defensor, promotor de justiça) fato que enseja a
inexistência do casamento.
 Nessas hipóteses, o ato não existe pela falta de pressupostos,
não tendo validade e eficácia, podendo ter apenas mera
aparência de negócio jurídico, ou seja a

Teoria do Casamento Aparente

Salvo na hipótese do art. 1554 do CC

Se a autoridade incompetente exercer publicamente o ato,


ocorrendo o seu posterior registro,
o casamento será válido, pois entende-se que o celebrante,
mesmo não tendo a competência atribuída para celebrar
o casamento, aparece aos olhos da sociedade como se
competente fosse, poderá o ato ser tido como válido.
** Casamento celebrado por autoridade
incompetente em razão do lugar é anulável,
Hipótese do art. 1.550, VI.

Tendo em vista o interesse da sociedade em proteger


casamentos contraídos de boa fé, ainda que celebrados por
autoridade incompetente, inclui o legislador o casamento
celebrado por autoridade incompetente como anulável,
sendo, portanto, passível de convalidação.

* Nesse caso é incompetência relativa em relação ao


local. Ex: juiz de paz que realiza casamento fora de sua
localidade de competência.
b) Casamento NULO

Prevista no Art. 1.548 do CC, a nulidade do Casamento


se dá por violação de Impedimentos matrimoniais.

Hipótese única que exige ação judicial para


decretação da nulidade
Art. 1.549 CC

Ação
Declaratória
de Nulidade
Art. 1.548. É nulo o casamento contraído:

I - Revogado expressamente pela Lei nº 13.146, de 2015.

II - por infringência de impedimento.

Art. 1.549. A decretação de nulidade de casamento,


pelos motivos previstos no artigo antecedente, pode ser
promovida mediante ação direta, por QUALQUER
INTERESSADO, ou pelo Ministério Público.

QUALQUER PESSOA
 O sistema de incapacidades deixou de ter um modelo
rígido, passando a ser mais maleável, pensado a partir das
circunstâncias do caso concreto e em prol da inclusão das
pessoas com deficiência, tutelando a sua dignidade e a sua
interação social.
(TARTUCE, 2020)

 Art. 1.550. É anulável o casamento:


[...]
§ 2o A pessoa com deficiência mental ou intelectual em idade
núbia poderá contrair matrimônio, expressando sua vontade
diretamente ou por meio de seu responsável ou
curador. (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015)
Casamento NULO

É aquele que viola os impedimentos - art. 1.521,


fere a ordem pública, incorre em vícios insanáveis e,
por consequência, não produz efeitos.

Art 1.549 - Legitimidade para ajuizar ação para


decretação da nulidade do casamento

Declaração de nulidade absoluta se houver


provocação
 do outro cônjuge, parentes
 qualquer interessado
 Ministério Público
Infração a impedimento expresso no art. 1.521,
I – Incesto
II- Bigamia
III- União com raízes no crime
Consequência: nulidade absoluta

Caso ocorra nestas situações, uma vez descoberto, o


casamento se reputará inválido, ou seja, a declaração de
nulidade proclama, retroativamente, jamais ter
existido casamento válido.

 Art. 1563 - Efeitos da sentença que declarar a nulidade do


casamento retroagem à data da sua celebração (efeito ex
tunc), “sem prejudicar a aquisição de direitos, a título oneroso,
por terceiros de boa-fé.”
 Somente as pessoas previstas na lei é que podem arguir
a nulidade.

 De acordo com o art. 1.549, as ações de nulidade


podem ser promovidas por qualquer interessado ou
pelo MP, na qualidade de representante da sociedade

 Interpreta-se “qualquer pessoa/interessado”


como aquelas pessoas que que tenham algum
interesse jurídico, moral ou econômico,
é o caso do cônjuge, filhos, irmãos, ascendentes e
cunhados das partes, ou o cônjuge do primeiro casamento
no caso de bigamia, bem como o credor prejudicado.
Importante:

 Antes do casamento, até o momento da celebração,


qualquer pessoa capaz pode opor o impedimento, bem
como o oficial do registro e o juiz, tendo conhecimento de
algum impedimento, devem declará-lo de ofício, nos termos
do art. 1.522 CC.

 Após a celebração, somente os interessados e o MP


são legitimados a propor ação declaratória de nulidade
absoluta de casamento.
O juiz não pode decretar ex officio,
apenas mediante provas robustas.
c) Casamento ANULÁVEL

Em rol taxativo, das hipóteses de anulabilidade:

Art. 1.550. É anulável o casamento:

I - de quem não completou a idade mínima para casar;


II - do menor em idade núbil, quando não autorizado por seu
representante legal;
III - por vício da vontade, nos termos dos arts.1556 a 1.558;
IV - do incapaz de consentir ou manifestar, de modo
inequívoco, o consentimento;
V - realizado pelo mandatário, sem que ele ou o outro
contraente soubesse da revogação do mandato, e não
sobrevindo coabitação entre os cônjuges;
VI - por incompetência da autoridade celebrante.
§ 2o A pessoa com deficiência mental ou intelectual em
idade núbia poderá contrair matrimônio, expressando sua
vontade diretamente ou por meio de seu responsável ou
curador (Incluído pela Lei nº 13.146, de 2015).

Art. 1.551. Não se anulará, por motivo de idade, o


casamento de que resultou gravidez.

 Enquanto a declaração de nulidade é


IMPRESCRITÍVEL, a que visa à anulação do
casamento está sujeita a decadência, sendo em geral
breves os prazos para sua declaração em juízo.
 O casamento anulável produz todos os efeitos enquanto
não anulado por decisão judicial transitada em julgado.
Art. 1550. É ANULÁVEL o casamento:

II - do menor em idade núbil, quando não


autorizado por seu representante legal;

Nos termos do art. 1.555, a ação anulatória só pode ser


proposta em 180 dias:

 por iniciativa do incapaz, ao deixar de sê-lo;


 de seus representantes legais, desde que não tenham
assistido ao ato ou, por qualquer modo manifestado sua
aprovação;
 ou de seus herdeiros necessários,
Art. 1.555, § 1o . O prazo estabelecido neste artigo será
contado do dia em que cessou a incapacidade, no primeiro
caso; a partir do casamento, no segundo; e, no terceiro, da
morte do incapaz.
 Porém, se a pessoa que devia consentir tiver assistido ao
casamento, não poderá requer a anulação, pois a presença
tem o valor de um consentimento tácito (art. 1555, § 2º)

Como o vício é sanável, pode o casamento ser convalidado.

Importante: as hipóteses de anulação não contém proibição


do casamento, inclusive podendo ser convalidado perante o
decurso do tempo e inércia do interessado (LÔBO, 2019).
III - por vício da vontade, nos termos dos
arts. 1.556 a 1.558;
a) Erro essencial quanto à pessoa do outro cônjuge
(error in persona)

Art. 1.556. O casamento pode ser anulado por vício da


vontade, se houve por parte de um dos nubentes, ao
consentir, erro essencial quanto à pessoa do outro.

No casamento, o erro consiste em uma falsa


representação ou percepção da realidade, ou seja, a
pessoa mesmo se engana.
Hipóteses especificadas em rol taxativo no art. 1.557.
O Erro essencial quanto a pessoa, ensejador da anulação
do casamento, deve ser substancial e objetivo, não uma
mera decepção. Caracteriza-se mediante três requisitos:

 que o fato ou circunstância ignorada pelo cônjuge seja


anterior ao casamento;

 que a revelação do fato gerador da anulabilidade tenha


sido descoberto depois do casamento;

 que a vida conjugal seja insuportável.


Art. 1.557, I . o que diz respeito à sua identidade, sua honra e boa fama,
conhecimento ulterior que torne insuportável a vida em comum ao cônjuge
enganado.

 Honra: diz respeito ao cônjuge em si, independe de sua repercussão ou


conhecimento de terceiros
 Boa fama: cuida da imagem que terceiros têm do cônjuge;

Exemplos mais comuns apontados pela doutrina: existência de


condenação penal, dupla identidade, o casamento celebrado com
transexual operado que não revelou sua situação anterior, com irmão
gêmeo de uma pessoa, com pessoa violenta, com pessoa adepta de
práticas sexuais não convencionais, desconhecimento de prostituição,
DSTs, etc.

Hoje não se admite as alegações de homo ou bissexualidade


(orientação sexual, liberdade de expressão e autodeterminação), vícios
em jogos, tóxicos e álcool, sendo entendidas como hipóteses que se
vinculam ao instituto do divórcio.
 II - a ignorância de crime, anterior ao casamento, que, por sua
natureza, torne insuportável a vida conjugal.

Nesse caso, o que importa é a repercussão social do crime,


portanto, independe do trânsito em julgado da sentença
criminal.
Envolve a noção de princípios éticos e morais
do cônjuge enganado.

Ex: casar-se com um grande traficante de drogas,


desconhecendo tal característica.
III - a ignorância, anterior ao casamento, de defeito físico irremediável que
não caracterize deficiência ou de moléstia grave e transmissível, por
contágio ou por herança, capaz de pôr em risco a saúde do outro cônjuge
ou de sua descendência.

 A doutrina traz como exemplos o hermafroditismo, deformações


genitais, ulcerações do pênis, ausência vaginal congênita, infantilismo,
entre outros.

 No caso de moléstia grave transmissível, considera-se a


possibilidade de contágio do cônjuge ou da prole.

 Atualmente, a infertilidade (impotência generandi ou concipiendi) e a


impotência coeundi (para o ato da vida sexual) não são entendidas
como hipóteses de erro essencial.
Nos casos de anulação por erro essencial sobre a pessoa,
o prazo para a propositura da ação é decadencial,
de 3 anos contados da data da celebração
Art.1560, III, CC
 Essa ação somente cabe ao cônjuge que incidiu em erro,
trata-se de uma ação personalíssima, de acordo com o
art. 1.559, CC.

 CONTUDO, a coabitação posterior, havendo ciência do


vício, convalida o casamento, pois o erro essencial quanto
à pessoa é hipótese de nulidade relativa.
 Art. 1.559. Somente o cônjuge que incidiu em erro, ou
sofreu coação, pode demandar a anulação do casamento;
mas a coabitação, havendo ciência do vício, valida o ato,
ressalvadas as hipóteses dos incisos III e IV do art. 1.557.

b) Caso de coação moral


 Art. 1.558. É anulável o casamento em virtude de coação,
quando o consentimento de um ou de ambos os cônjuges
houver sido captado mediante fundado temor de mal
considerável e iminente para a vida, a saúde e a
honra, sua ou de seus familiares.
 Vontade maculada por vício de consentimento, ninguém é
obrigado a casar, ainda que tenha prometido fazê-lo.

 É uma Ação personalíssima, só pode ser proposta


pelo cônjuge coagido (1559, CC).
Importante:

 Não se pode considerar coação um mero temor


reverencial aos pais ou familiares, bem como ameaças
feitas no passado.

 Entretanto, se esse temor for acompanhado de ameaças


ou violências, transforma-se em vício da vontade.

 Prazo para anulação é de 4 anos contados da


celebração (1560, IV).

 PORÉM, havendo posterior coabitação por tempo


razoável (1559, CC), convalida o ato.
Art. 1.550. É anulável o casamento:
IV - do incapaz de consentir ou manifestar, de modo
inequívoco, o consentimento.

 Incapacidade relativa por causa psicológica (CC, art. 4º),


pessoas com redução parcial quanto à vontade, caso dos
ébrios habituais, dos viciados em tóxicos (Vide Estatuto
da Pessoa com Deficiência).

 Art. 1.560, caput e inc. I - Prazo para propositura de ação


de anulação

180 dias contados da celebração


V - realizado pelo mandatário, sem que ele ou o
outro contraente soubesse da revogação do
mandato, e não sobrevindo coabitação entre os
cônjuges.

 Mesmo havendo a celebração a revogação terá efeitos e o


casamento poderá ser anulado.
 Prazo para propositura de ação de anulação é de 180 dias
contados do momento que chegou ao
conhecimento do mandante a realização do
casamento (1560, § 2º, CC). Ação personalíssima do
cônjuge que revogou a procuração, porém,

O casamento será convalidado caso ocorra


coabitação entre os cônjuges (1550,V).
VI- por incompetência da autoridade celebrante.
 Refere-se à incompetência relativa em relação ao local. Ex:
juiz de paz (pessoa investida de uma função pública) que
realiza casamento em localidade fora de sua competência.

 Os cônjuges são os únicos legitimados para propor a ação,


pois são eles os interessados Prazo para propositura da ação
é decadencial de 2 anos, contados da celebração (1560, II).

 Caso a autoridade, mesmo não possuindo poderes para a


celebração, aparece aos olhos da comunidade como se
competente fosse, poderá o ato ser tido como válido.

Art. 1.554. Subsiste o casamento celebrado por aquele que, sem


possuir a competência exigida na lei, exercer publicamente as
funções de juiz de casamentos e, nessa qualidade, tiver registrado
o ato no Registro Civil.
Revisando as Invalidades:
CASAMENTO NULO CASAMENTO ANULÁVEL

Fundamenta-se em razões de ordem Fundamenta-se em razões de ordem


pública. privada.

Pode ser declarado pelo juiz, a Só poderá ser invocada a causa de


requerimento do MP, ou de qualquer anulabilidade por aquele a que
interessado, inclusive os próprios aproveita, não podendo ser
noivos. reconhecida de ofício.

Não é suscetível de confirmação. É suscetível de confirmação.

Não convalesce pelo passar do tempo. Submete-se a prazos decadenciais.

Reconhecido através de ação Reconhecido através de ação


declaratória. desconstitutiva/constitutiva negativa.

Ação imprescritível. Ação sujeita a prazo decadencial.


Importante lembrar:

 No caso do celebrante não ser autoridade competente em


razão da matéria, ou seja, não for juiz de casamento, mas
um promotor de justiça, prefeito, delegado de polícia....

O casamento não é anulável, mas inexistente, por se tratar


de incompetência absoluta;

 Contudo, na hipótese prevista no art. 1554, que considera


subsistente o casamento celebrado por pessoa que mesmo
não tendo competência, exerce publicamente as funções de
juiz de casamento, recai na hipótese da teoria da
aparência.
Características das anulabilidades matrimoniais:

 O casamento existe e gera efeitos até que sobrevenha


declaração de invalidação;

 Somente a pessoa juridicamente interessada poderá


promover a anulação do casamento;

 Admite ratificação;

 A Ação anulatória está submetida aos prazos previstos no


art. 1.560, CC;

 O juiz não pode conhecer de ofício a anulabilidade, nem o


MP pode suscitá-la, por não envolver interesse público.
Casamento Putativo (arts. 1.561, 1.564)

O casamento nulo ou anulável pode gerar efeitos em relação


à pessoa que o celebrou de boa-fé e aos filhos.

 Expressão latina putare: crer, imaginar

 Portanto, o casamento putativo existe na imaginação do


contraente de boa-fé, a exemplo de duas pessoas que
contraem matrimônio sem conhecer determinado
impedimento, como quem casa sem saber do grau ou da
existência de parentesco, talvez por terem sido criados
separados, sem que um tivesse notícia da existência do
outro.
Art. 1.561. Embora anulável ou mesmo nulo, se contraído
de boa-fé por ambos os cônjuges, o casamento, em relação
a estes como aos filhos, produz todos os efeitos até o dia
da sentença anulatória.
§ 1o Se um dos cônjuges estava de boa-fé ao celebrar o
casamento, os seus efeitos civis só a ele e aos filhos
aproveitarão.
§ 2o Se ambos os cônjuges estavam de má-fé ao celebrar o
casamento, os seus efeitos civis só aos filhos aproveitarão.

Caso ambos os cônjuges estejam de boa-fé, entende-se


que estiveram casados pelo período compreendido entre
o casamento e o trânsito em julgado da sentença. O
casamento produz todos os efeitos até o trânsito em
julgado da sentença anulatória.
 Consequências para o cônjuge de má-fé:

Art. 1.564. Quando o casamento for anulado por culpa de


um dos cônjuges, este incorrerá:
I - na perda de todas as vantagens havidas do cônjuge
inocente;
II - na obrigação de cumprir as promessas que lhe fez no
contrato antenupcial.

Polêmica discussão da culpa que já foi banida das questões


atinentes ao casamento, entretanto, parte da doutrina
entende que permanecerá em seu âmbito próprio: o das
hipóteses de anulabilidade do casamento, eis que o cônjuge
de má-fé não pode obter vantagens quanto à partilha de
bens (LÔBO, 2017).
(Re)lembrando:

Os arts. 1.521 e 1.523 dispõe sobre os

Impedimentos e

Causas suspensivas do casamento.

Art. 1.723. § 1º A união estável não se constituirá se


ocorrerem os impedimentos do art. 1.521; não se
aplicando a incidência do inciso VI no caso de a pessoa
casada se achar separada de fato ou judicialmente.

§ 2º. As causas suspensivas do art. 1.523 não impedirão a


caracterização da união estável.

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