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AO JUÍZO DA VARA CÍVEL DA COMARCA DE NOVO ACORDO/TO.

 Espécie ▪ Ação Anulatória de Casamento


 Requerente ▪ Maria Batista da Silva
 Requerido ▪ Rosalves Ferreira da Silva
 PEÇA ▪ PETIÇÃO INICIAL

MARIA BATISTA DA SILVA, brasileira, casada, do lar, portadora da Cédula de Identidade RG


n° 141.995, SSP/TO, inscrita no CPF sob o n° 975.588.261-87, residente e domiciliada na Avenida
Jesuíno Guedes, S/N, Qd. 58, Lt. 07, Aparecida do Rio Negro/TO, CEP.: 77.620-000, E-mail:
vonrone@hotmail.com, vem respeitosamente, perante Vossa Excelência, por meio de seu
Advogado legalmente constituído, em atendimento as diretrizes do art. 319 do CPC, com supedâneo
no art. 1.521, inc. VI c/c art. 1.548, inc. II do Código Civil, propor a presente

AÇÃO ANULATÓRIA DE CASAMENTO

em face de ROSALVES FERREIRA DA SILVA, brasileiro, casado, Aposentado, portador da


Cédula de Identidade RG n° 1.382.209, SSP/GO, inscrito no CPF sob o n° 300.629.691-53, residente
e domiciliado no Loteamento Balneário, LPT16036, CEP.: 77.493-000, Lagoa da Confusão, Estado do
Tocantins, Fone: (63) 99292-2527, pelos fatos e razões de direito a seguir aduzidas:

I. DO DIREITO À GRATUIDADE DA JUSTIÇA

A Autora não tem como arcar com custas provenientes da presente demanda, visto que não
possui emprego, e, portanto, não possuindo condições financeiras para arcar com as custas
processuais e honorários advocatícios, sem prejuízo do seu sustento e de sua família.

Neste trilhar, é inegável a sua aptidão a obter o benefício da gratuidade da justiça assegurado
no art. 98 do CPC, na Lei n° 1.060/50, e no artigo 5°, inciso LXXIV, da Constituição Federal.

Para tanto, faz juntada da DECLARAÇÃO de hipossuficiência financeira, encartada no Evento


1 [DECLPOBRE4].

II. DOS FATOS

Os cônjuges, ora litigantes, encontram-se casados desde o dia 17 de junho de 1.981, sob o
regime de comunhão parcial de bens, conforme se comprova pela certidão de casamento ora anexa
[ANEXOS PET INI5].

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Do enlace matrimonial resultaram [2] dois filhos - Donizete Batista da Silva e Moisés Batista
da Silva, todos maiores e capazes, conforme provam os documentos de identidade encartados em
anexo [ANEXOS PET INI6].

Registre-se que, a Autora veio a casar sem saber que o seu consorte já era casado.

Somente anos depois, a Requerente tomou conhecimento de que supostamente o Réu teria
outra esposa, e que, portanto, iria responder pelo crime de bigamia, porquanto já era casado
anteriormente com a pessoa de Maria dos Santos Gomes Silva.

Tomou conhecimento ainda que o Réu, para burlar o impedimento legal e se casar com a
Autora, teria feito novo registro de nascimento na cidade de Porto Nacional, inserindo dados novos,
adulterando o seu nome verdadeiro para ROSALVES TEIXEIRA DA SILVA, e, na posse dessa
documentação adulterada, promoveu os trâmites burocráticos e realizou o novo matrimônio com a
Autora, ainda estando casado com a pessoa de Maria dos Santos Gomes Silva.

E neste cenário, a Autora figurou como vítima na Ação Penal n° 5000162-95.2010.8.27.2728,


que tramitou na 1ª Escrivania Criminal desta Comarca.

Neste contexto, o Réu foi condenado pelo crime de bigamia, conforme Sentença já
transitada em julgado encartada em anexo [ANEXOS PET INI7].

Com efeito, após a descoberta destes acontecimentos, houve a separação de fato do casal.

Há, portanto, prova inconteste de fatos que conduzem à nulidade do casamento, à luz da
Legislação Substantiva Civil.

III. DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS DO PEDIDO

Sem sombra de dúvidas o quadro fático delineado nesta exordial, evidenciam afronta à
Legislação Substantiva Civil, fulminando de nulidade o casamento celebrado entre os litigantes.

É fato incontroverso que o Réu, quando casara com a Autora, já era casado civilmente com
uma outra mulher desde os idos de 1975.

No caso vertente, houve manifesta afronta a Legislação Substantiva Civil, no que tange aos
impedimentos do casamento, a teor do que prescreve o Artigo 1.521 do Código Civil, assim
reproduzido:
Art. 1521 - Não podem casar:
[ . . .]
VI - as pessoas casadas;

2
Assim, o artigo 1.521 do Código Civil prevê o impedimento ao casamento na hipótese ora
narrada.

Por sua vez, o artigo 1.548 do Código Civil, aponta que o casamento será nulo por infringência
de impedimento, in verbis:
Art. 1.548 - É nulo o casamento contraído:
[...]
II - por infringência de impedimento.

Maria Berenice Dias, expondo linhas acerca do tema de nulidade em face da bigamia, leciona
que:

“A validade do casamento está condicionada também à inexistência


de impedimentos. Diz a lei quem não pode casar (CC 1.521). As
vedações estão ligadas à interdição do incesto e à proibição à
bigamia, princípios norteadores da vida em sociedade. Quando é
contrariada a proibição legal, o casamento é nulo (CC 1548 II). A
desobediência a uma das proibições legais afeta a higidez do
casamento, torna-o nulo.” [DINIZ, Maria Berenice. Manual de
Direito das Famílias. 6ª Ed. São Paulo: RT, 2010. Pág. 276]

Nesta mesma ordem de raciocínio são as lições de Cristiano Chaves de Farias e Nelson
Rosenvald:

“Também não podem casar as pessoas já casadas, em face da


vedação da bigamia, acolhida pelo ordenamento brasileiro,
perfilhando-se à maioria das legislações ocidentais.

[...]

Lembre-se, in fine, a necessidade de proteger a boa-fé subjetiva


(falta de conhecimento do cônjuge que veio a casar sem saber que
o seu consorte já era casado. É o chamado casamento putativo (CC,
art. 1.561), permitindo-se ao juiz emprestar efeitos jurídicos
concretos a este matrimônio que, por força da violação de
impedimento, será reputado nulo.” (FARIAS, Cristiano Chaves de;
ROSENVALD, Nelson. Direito das Famílias. 2ª Ed. Rio de Janeiro:
Lumen Juris, 2010. Págs. 142-143)

3
Por este azo, temos que o ato jurídico em espécie é nulo de pleno de direito, já tendo
inclusive o Réu, respondido pelo crime de bigamia [Ação Penal n° 5000162-95.2010.8.27.2728].

Neste sentido, é pacífico o entendimento jurisprudencial, conforme julgados abaixo


reproduzidos:
CASAMENTO NULO. BIGAMIA DO MARIDO. SENTENCA
CONFIRMADA EM REEXAME. (Reexame Necessário Nº 584041727,
Terceira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Galeno
Vellinho de Lacerda, Julgado em 23/05/1985) (TJ-RS - REEX:
584041727 RS, Relator: Galeno Vellinho de Lacerda, Data de
Julgamento: 23/05/1985, Terceira Câmara Cível, Data de
Publicação: Diário da Justiça do dia)

REMESSA EX-OFFÍCIO. ANULAÇÃO DE CASAMENTO. BIGAMIA.


NULIDADE DO SEGUNDO CASAMENTO. REMESSA CONHECIDA E
IMPROVIDA. PEDIDO PROCEDENTE. SENTENÇA MANTIDA. 1. É nulo
o casamento que viola expressamente as regras contidas nos
artigos 183, VI c/c 207, ambos do Código Civil que dispõe que as
pessoas já casadas não podem contrair outro matrimônio. 2.
Remessa conhecida. Procedente o pedido nos termos da sentença,
que se mantém. (TJES - REO 048.98.024230-8; Quarta Câmara Cível;
Rel. Des. Frederico Guilherme Pimentel; Julg. 04/03/2002)
APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO ORDINÁRIA DE REINCLUSÃO DE
DEPENDENTE - SERVIDOR PÚBLICO FALECIDO - BIGAMIA -
SEGUNDO CASAMENTO DECLARADO NULO - PENSÃO POR MORTE
AO CÔNJUGE DE BOA-FÉ - IMPOSSIBILIDADE - RECURSO PROVIDO.
(TJ-MS - AC: 10814 MS 2003.010814-9, Relator: Des. Horácio
Vanderlei Nascimento Pithan, Data de Julgamento: 08/03/2005, 2ª
Turma Cível, Data de Publicação: 11/03/2005)
IV. PEDIDO DE TUTELA DE URGÊNCIA
Douto Julgador, conforme se depreende do Código de Processo Civil, especialmente da
dicção do artigo 294, as tutelas provisórias agora se dividem em tutelas de evidência e tutelas de
urgência.

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No caso da tutela de urgência, esta será concedida sempre que houver concomitantemente
a probabilidade do direito vindicado e o perigo de dano em razão da demora. In verbis:

Art. 300. A tutela de urgência será concedida quando houver


elementos que evidenciarem a probabilidade do direito e o perigo
de dano ou risco resultado útil do processo.

In casu, resta claramente demonstrada a probabilidade do direito, haja vista que o Réu já foi
condenado pelo crime de bigamia, a teor do que consta nos autos da Ação Penal n° 5000162-
95.2010.8.27.2728, com trânsito em julgado, cuja sentença segue encartada em anexo [ANEXOS
PET INI7 citado].

Já no que toca ao periculum in mora, evidenciado, igualmente, está, eis que a Autora almeja
casar-se novamente o mais breve possível, porém, devido ao casamento nulo em estudo, encontra-se
impedida de realizar.

Neste contexto, a demora trará maiores sequelas à Autora, não bastasse pelo descobrimento de um
segundo casamento do Réu, mas pela impossibilidade de contrair novas núpcias em razão desta absurda
situação. Trata-se, pois, de uma dupla penalidade à mesma.

Por estas razões, atendidos os pressupostos da tutela de urgência, requer, desde já, a
concessão da tutela de urgência, nos termos do artigo 300 do CPC, de maneira inaudita altera pars,
declarando desde logo, a nulidade do casamento celebrado entre os ora litigantes, por infração aos ditames
do art. 1.521, inc. VI c/c art. 1.548, inc. II, ambos do Código Civil, expedindo-se, para tanto, o competente
mandado para averbar-se no assento de casamento junto ao Cartório de Registro Civil das Pessoas Naturais
de Novo Acordo/TO.

V. DOS PEDIDOS E REQUERIMENTOS

Na esteira dos fatos, fundamentos e provas colacionadas no corpo desta peça, REQUER a
Vossa Excelência:

a) Que seja deferido o pedido de JUSTIÇA GRATUITA, uma vez que


a Autora é pobre na forma da Lei, não podendo arcar com as
custas processuais sem o prejuízo do seu sustento, em
conformidade com a Lei Federal nº 1.060/50, art. 98 do Código
de Processo Civil e artigo 5°, inciso LXXIV, da Constituição
Federal;
b) Que seja deferida a TUTELA DE URGÊNCIA, inaudita altera
parte, declarando a nulidade do casamento celebrado entre os

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ora litigantes, por infração aos ditames do art. 1.521, inc. VI c/c
art. 1.548, inc. II, ambos do Código Civil, expedindo-se, para
tanto, o competente mandado para averbar-se no assento de
casamento junto ao Cartório de Registro Civil das Pessoas
Naturais de Novo Acordo/TO, com a ressalva de que o nome do
Réu, que consta na Certidão de Casamento é ROSALVES
TEIXEIRA DA SILVA, todavia o seu verdadeiro nome é ROSALVES
FERREIRA DA SILVA;
c) A citação do Requerido, por carta postal, para apresentar
contestação, sob pena de confissão e revelia;
d) Que seja a presente demanda julgada TOTALMENTE
PROCEDENTE, para manter a tutela de urgência que declarou a
nulidade do casamento celebrado entre os ora litigantes;
e) Requer, por fim, a condenação do Requerido ao pagamento de
eventuais custas, despesas processuais e honorários
advocatícios no importe de 20%.

Protesta, e desde já requer, corroborar o alegado por todos os meios de prova admitidos em
direito, sobretudo pela via documental, testemunhal e pericial, tudo com o fito de melhor elucidar
à Vossa Excelência os fatos esposados.

Outrossim, o Advogado do signatário declara autênticas todas as cópias digitalizadas dos


documentos que acompanham esta peça.

Dá-se à causa, o valor de [R$ 1.100,00] um mil e cem reais.

Nestes termos,

Pede e espera DEFERIMENTO, por ser medida da sempre presente JUSTIÇA.

Palmas/TO, na data do protocolo.

VALDINEI PINTO DA SILVA


OAB/TO N° 6.780

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