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EXAMES DIREITO

DA FAMÍLIA
11/12/2021
EXAME DE 14/01/2021
◦ 1. Ana e Beltrão comprometem-se, em 2019, numa festa de amigos a contrair
casamento no ano seguinte. Ana oferece um mês depois um relógio de ouro, que
fora do seu avô, a Beltrão, pois quer que ele receba uma prenda de noivado e sabe
que Beltrão não usa anéis.
◦ Seis meses mais tarde, Beltrão comunica pelo WhatsApp a Ana que resolveu
ingressar num convento, pois essa é, afinal, a sua verdadeira vocação; e mais
comunica que vendeu o relógio de ouro para ajudar os sem abrigo, não tendo
meios para entregar a Ana o valor desse objeto.
◦ Ana pretende receber o valor, a fim de ir a uma loja de antiguidades e adquirir um
relógio idêntico.
◦ Quid iuris? (4 val.)

11/12/2021
RESOLUÇÃO 1
◦ Trata-se de uma promessa de casamento (art 1591º e ss CC), sendo que o relógio de ouro foi oferecido por Ana
a Beltrão em virtude da promessa e na expectativa do casamento.
◦ A comunicação de Beltrão a dizer que já não pretende casar constitui uma retratação, devendo, nos termos do
art. 1592.º/1, restituir os donativos que Ana lhe fez em virtude da promessa e na expectativa do casamento, ou
seja, o relógio de ouro.
◦ Não sendo possível restituir-lhe o relógio, Beltrão deverá pagar a Ana o valor do mesmo.

Informações extra
◦ Esta também tem direito à indemnização presente no artigo 1594º CC (não envolve qualquer indemnização por
danos morais).
◦ Este direito de exigir a restituição da Ana caduca no prazo de um ano, contado da data do rompimento da
promessa (art. 1595º CC)

11/12/2021
EXAME DE 14/01/2021
◦ 2. Carlota e Daniel, respetivamente, de 18 e 15 anos de
idade, contraem casamento civil.
◦ Dois anos após o casamento, Carlota descobre que Daniel
tivera, antes do casamento, uma relação de namoro com
Evaldo, o que se afigura a Carlota incompatível com a
continuação da vida conjugal.
◦ Pode intentar alguma ação em ordem a invalidar o
casamento? (2 val)
11/12/2021
Resolução 2
◦ O casamento é o contrato celebrado entre duas pessoas que pretendem constituir família mediante uma plena
comunhão de vida (art. 1577º CC). Este pode ser civil ou católico (art. 1587º/1 CC) e tem de ser celebrado por quem
tiver capacidade matrimonial exigida por lei (art. 1596º CC). Nesta situação, parece ter existido um impedimento
matrimonial, pois este foi contraído não tendo um dos cônjuges idade núbil.
◦ O caso configura impedimento dirimente absoluto ao casamento (art.º 1601.º/a CC). Por este motivo, o casamento é
anulável (art.º 1631.º a), CC) por aqueles que a lei atribui essa legitimidade (art. 1639º CC).
◦ A lei indica o prazo dentro do qual o próprio menor (neste caso, Daniel) poderia intentar a ação e também os três anos
subsequentes à celebração do casamento para outras pessoas (art.º 1643.º, n.º 1, a), CC). Já o Ministério Público
poderia intentar a ação até à dissolução do casamento (n.º 2). Mas o mesmo casamento poderá ser convalidado pelo
cônjuge que não tinha idade núbil, nos termos do art.º 1633.º/1/a CC.
◦ Quanto a Carlota, o erro em que um dos cônjuges incorreu (sobre a vida amorosa passada do outro cônjuge) pode ser
qualificado como uma qualidade essencial, valendo como erro vício (tem de ser um erro desculpável- que parece ser
pois esta não tinha como saber isso sem que o Daniel lhe tivesse dito algo- e esse erro tem de ser essencial
objetivamente como subjetivamente- o que também parece ter acontecido), nos termos do art.1636.º CC.
◦ Desta forma, o casamento seria anulável (art. 1631.º b)), havendo necessidade de ação de anulação (art. 1632.º), a
intentar pelo cônjuge que foi vítima do erro – Carlota (art. 1641.º), no prazo previsto no art.1645.º.

11/12/2021
EXAME DE 14/01/2021
◦ 3. Fernando e Glória celebram antes do casamento civil o seguinte acordo:
a. Vigorará no nosso casamento o regime de comunhão de adquiridos. Caso nasça um filho
nosso, passará a vigorar o regime de separação de bens.
b. Caso nasçam filhos rapazes, as responsabilidades parentais ficam a cargo do Fernando, e no
caso de filhas raparigas ficam a cargo de Glória”.
Um ano após o casamento nasce a Teresinha. Após o nascimento, Fernando vende a Hélio
um terreno que herdou dos pais sem obter o consentimento prévio de Glória.
◦ a) O acordo entre Fernando e Glória é válido? (2 val.)
◦ b) Glória pretende que o contrato de venda do terreno seja declarado judicialmente
inválido. Pode fazê-lo? (2 val.)

11/12/2021
Resolução 3 a)
◦ Estamos perante uma convenção antenupcial (art. 1698 e ss CC). Esta tem de cumprir requisitos de forma e
de conteúdo.
◦ Requisitos de forma: Tem de existir capacidade para a realizar (art. 1708º CC); Esta tem de ser por
escritura pública (art. 1710º CC); E tem de ser registada (art. 1711º CC). Pressupõem-se que estejam
todos preenchidos.
◦ Requisitos de conteúdo tem de se analisar cláusula a cláusula.
◦ Cláusula a – Versa sobre matéria de regime de bens, que é uma matéria válida (art. 1698º CC). Nos termos do
art.1713.º/1, é válida a convenção sob condição, que seria o caso, pelo que a cláusula é válida. Não existindo
aqui uma violação do princípio da imutabilidade das convenções (art. 1714º/1 CC).
◦ Cláusula b – Versa sobre matéria de responsabilidades paternais, que não é uma matéria válida Nos termos do
art.1699/1/ b) a alteração dos direitos e deveres parentais não pode ser objeto de convenção antenupcial, pelo
que a cláusula é nula (art. 294º CC) e, por isso, considera-se como não escrita (art. 1618/2 CC) sendo reduzida
(art. 292º CC).

11/12/2021
Resolução 3 b)
◦ Nos termos da cláusula a da Convenção antenupcial, caso nascesse um filho, o
regime de bens passaria a ser o da separação de bens (art. 1735.º e ss), sendo que
cada um dos cônjuges conserva o domínio e fruição de todos os seus bens
presentes e futuros, podendo dispor deles livremente.
◦ Desta forma, sendo o terreno herdado por Fernando, trata-se de um bem próprio
(art 1722/1/ b) CC).
◦ Assim sendo, não é necessário o consentimento de Glória, nos termos do art.
1682.º-A/1 a), uma vez que entre eles vigora, desde do nascimento da filha, o
regime de separação de bens.
◦ Assim, o contrato de compra e venda do terreno entre o Fernando e o Hélio é
válido.

11/12/2021
EXAME DE 14/01/2021
◦ 4. Iva e João casam civilmente e sem convenção antenupcial.
◦ No início da pandemia, Iva resolve dedicar-se à vida doméstica,
rescindindo o seu contrato de trabalho, a fim de que João, que tem
uma empresa de entrega de alimentos ao domicílio, possa fazer
crescer o seu negócio, agora tão procurado.
◦ Mas, em dezembro de 2020, resolvem divorciar-se e Iva entende que
tem direito a ver “ressarcido o prejuízo que a sua decisão agora lhe
provoca em termos financeiros”. Quid iuris? (3 val.)

11/12/2021
Resolução 4
◦ Como eles casaram sem convenção antenupcial aplica-se entre eles o regime de comunhão de
adquiridos (regime supletivo)- art. 1721º e ss CC
◦ Em caso de divórcio (art. 1773 e ss CC) a partilha dos bens será feita de acordo com o artigo 1790º CC.
◦ Um dos deveres conjugais é o dever de contribuir para os encargos da vida familiar (art. 1676º CC) que
pressupõe que ambos devem contribuir para a vida familiar. A forma da Iva contribuir foi deixar de
trabalhar e dedicar-se à vida doméstica de forma a apoiar o João a desenvolver o seu negócio.
◦ O CC indica que o cônjuge que sobretudo se devotou à vida familiar, onerando a sua vida profissional,
beneficia de uma compensação, a intentar em caso de divórcio (art.º 1676.º, n.º 2, CC).
◦ O sentido jurídico atribuível à expressão «compensação» não é inequívoco e divide a doutrina. Não se
trata de um dever de indemnizar, mas não é de excluir o entendimento de que o critério de aferição do
montante seja norteado pelo instituto do enriquecimento sem causa. Esta compensação é só
patrimonial.

11/12/2021
EXAME DE 14/01/2021
◦ 5. Laura e Afonso vivem durante ano e meio em comum, partilhando um apartamento e
mantendo relacionamento íntimo.
◦ Decorrido esse tempo, Afonso, informático, por força do seu contrato de trabalho, desloca-
se a Espanha, onde permanece durante sete meses, tempo necessário à implementação de
uma ferramenta tecnológica da sua empresa, mantendo a ligação com Laura através de
videochamadas e encontrando-se ambos por três vezes e durante quatro dias de cada uma
delas em Madrid.
◦ No regresso a Portugal, Afonso morre num acidente de viação.
◦ Laura afirma ter direito a pensão de sobrevivência e também a permanecer na casa onde
ambos viveram, em Lisboa, a qual era propriedade de Afonso, por um período de cinco
anos, apesar de ser proprietária de uma casa em Odivelas.
◦ Quid iuris? (5 valores)

11/12/2021
Resolução 5
◦ Em primeiro lugar, coloca-se a questão de saber se, tendo Laura e Afonso vivido ano e meio em comum, ao
que acresceram 7 meses de distância forçada por razões laborais de Afonso, podemos considerar que os 2
anos previstos no art.1.º/2 da Lei n.º7/2001 (LUF) estão cumpridos, tal como os restantes requisitos de aplicação
desta lei, e consequentemente se podemos aplicar-lhes o regime das medidas de proteção da união de facto.
◦ A LUF nada prevê quanto a ausências forçadas que impliquem a não residência comum, o que poderá consistir
numa lacuna. Desta forma, e tendo em conta que o próprio legislador utiliza a expressão “condições análogas
às dos cônjuges”, podemos proceder à integração da lacuna referida através da analogia legis (10.º/1 CC) do
art. 1673.º/2, que admite a existência de motivos ponderosos que impliquem a não residência comum dos
cônjuges. E, assim, conclui-se pela aplicação, à Laura e ao Afonso, da LUF. Nessa medida, Laura teria direito à
pensão de sobrevivência, nos termos do art.6.º/1, conjugado com o art.3.º/1 e), ambos da LUF.
◦ Porém, quanto à questão da casa de morada da família que, relativamente à qual, em regra, assiste ao membro
sobrevivo da UF o direito de permanecer na casa pelo prazo de 5 anos, nos termos do art.5.º/1, o facto de
Laura ser proprietária de uma casa em Odivelas leva a que tal direito não seja conferido a Laura, nos termos do
n.º 6 do mesmo artigo.

11/12/2021
Frequência 2019/2020

11/12/2021
Resolução I a)
◦ A e D são irmãos uterinos e tem uma relação de parentesco no segundo grau (art. 1578º CC).
◦ Existe aqui um impedimento dirimente relativo (art. 1602º/ c) CC). Legitimidade (art 1639º CC) Prazo (1643º
CC). Ato é anulável (art. 1631/ a CC).
◦ D é menor e casou sem autorização (art. 1612/1 CC), o que faz com que exista aqui um impedimento
impediente (art. 1604/ a CC) e por isso aplicar-se-ia a sanção do art. 1649º Contudo, esta falta de autorização
pode ser suprida pelo conservador, nos termos do art. 1612/2 CC, que foi o aconteceu.
◦ Pode se também colocar a hipótese de existir aqui um erro que vicia a vontade quando se fala de eles não
terem conhecimento de serem irmãos (art. 1636º CC). Caso se admita que existe efetivamente um erro
mencionar as posições da doutrina sobre este poder ou não ser considerado quando também existe um
impedimento (maioria da doutrina diz que sim e que se aplica as duas situações; mas ainda existe uma parte da
doutrina que considera que este erro não se revela quando ocorre um impedimento)
◦ Mencionar os artigos do processo preliminar (art. 1597 + 1610º e ss) e a sua finalidade.

11/12/2021
Frequência 2019/2020

11/12/2021
Resolução I b)
◦ X não sabia a idade real de Z quando estes se casaram porque Z lhe mentiu
e disse-lhe que tinha 18 anos, quando na realidade esta só tinha 16 anos.
◦ Esta aqui em causa um erro no vicio da vontade ( art. 1636º CC). Deve-se
discutir os requisitos para este ocorrer: o erro tem de ser desculpável
(parece que acontece); e tem de ser essencial (o facto de esta ter mentido
sobre a idade recai sobre as qualidades essenciais da pessoa, o que parece
que o requisito está cumprido).
◦ Segundo o artigo 1645º, a ação de anulação pode ser instaurada até 6
meses após a cessão do vício, ou seja, desde do momento em que X
descobriu o erro tem 6 meses para interpor a anulação do casamento

11/12/2021
Frequência 2019/2020

11/12/2021
Resolução II
◦ Estamos perante uma convenção antenupcial (art. 1698 e ss CC). Esta tem de cumprir requisitos de forma e de
conteúdo.
◦ Requisitos de forma: Tem de existir capacidade para a realizar (art. 1708º CC); Esta tem de ser por escritura
pública (art. 1710º CC), o que acontece; E tem de ser registada (art. 1711º CC). Pressupõem-se que estejam
todos preenchidos.
◦ Requisitos de conteúdo tem de se analisar cláusula a cláusula.
◦ Cláusula 1- Versa sobre matéria de regime de bens, que é uma matéria válida. Partes parecem querem um
regime atípico com base na comunhão geral de bens. Dizer que há bens que não podem ser comunicáveis (art.
1733º CC). Existem doações que nunca vão ser bem comum, sejam estas antes ou depois do casamento (1733/
a e b CC). Esta cláusula é parcialmente inválida (art. 294º CC) sendo reduzida (art. 292º CC).
◦ Cláusula 2 – Versa sobre matéria de responsabilidades paternais, que não é uma matéria válida Nos termos do
art.1699/1/ b) a alteração dos direitos e deveres parentais não pode ser objeto de convenção antenupcial, pelo que a
cláusula é nula (art. 294º CC) e, por isso, considera-se como não escrita (art. 1618/2 CC) sendo reduzida (art. 292º CC).

11/12/2021
Frequência 2019/2020

11/12/2021
Resolução III
◦ Casam sem convenção antenupcial de bens e por isso é lhes aplicado o regime de bens supletivo, o regime da
comunhão de adquiridos (art. 1717 + 1721º e ss CC).
◦ Os bens que M herda da mãe são bens próprios (art. 1722/1/b CC) e quando ele usa estes para comprar o
apartamento em Benavente está a realizar uma sub-rogação de bens (art. 1723º CC). Neste caso, esta a fazer
uma troca entre os bens doados e a casa (art. 1723/a CC). Isto faz com que o apartamento seja um bem próprio
do M.
◦ A administração de bens próprio cabe ao M (art. 1678/1º CC).
◦ Em relação à alienação temos de ter atenção que isto é um bem imóvel e por isso temos de ir às regras do
1682-A.
◦ Como estes se regem pela comunhão de adquiridos, segundo o artigo 1682-A/1/a CC, M só pode vender o
apartamento com o consentimento do N, mesmo sendo este um bem próprio, isto porque os frutos presumem
se comuns e é necessário assim o consentimento do outro cônjuge.
◦ Da falta deste consentimento resulta uma anulabilidade do contrato de compra e venda (art. 1687/1 CC).

11/12/2021
Frequência 2019/2020

11/12/2021
Resolução IV
◦ Caso de divórcio litigioso (art. 1779 e ss do CC).
◦ O fundamento do divórcio seria a violação de um dever conjugal (art. 1781/d CC). O divórcio produz os seus efeitos
logo após a sentença (1788º CC)
◦ Existe aqui uma violação do dever de fidelidade (art. 1672º CC). Este dever é imperativo e negativo (pois proíbe a
realização de certos atos). Tendo em conta que há uma violação, falar sobre o possível direito de O a ser indemnizada
pelo art. 1792º CC.
◦ A questão que se coloca é se esta indemnização deve ser pedida só ao B ou pode ser pedida tanto ao B como ao C. A
doutrina diverge: O professor Jorge Duarte Pinheiro diz que os deveres conjugais têm efeitos erga omnes e que por
isso em caso de violação destes a indemnização poderá ser pedida tanto a B como a C. Já o professor Daniel Morais e
Pampola Cortê-Real discorda dizendo que esta indemnização só poderia ser pedida em casos graves (como a
violação doméstica) e que os deveres conjugais são deveres sus genus, e por isso o Estado não se deve impor o que
faz com que se afaste a indemnização nestas situações menos graves. e mesmo assim nunca poderia ser pedida contra
terceiros.
-Existe outra posição que é da professora Sofia Casemiro que diz que é sempre possível existir uma reparação de danos
perante o cônjuge, mas que parece ser mais difícil que isso aconteça perante terceiros.

11/12/2021
Resolução IV: Continuação
◦ Outra questão que se coloca é o valor que P exige de O por ter abdicado da sua vida profissional em
detrimento da vida doméstica. P exige assim uma compensação pela a sua contribuição nos encargos da vida
familiar (art. 1676º/2 CC)
◦ Esta compensação só pode ser exigida em caso de partilha por divórcio (art. 1676/3 CC), que é o caso. O
sentido jurídico atribuível à expressão «compensação» não é inequívoco e divide a doutrina. Não se trata
de um dever de indemnizar, mas não é de excluir o entendimento de que o critério de aferição do
montante seja norteado pelo instituto do enriquecimento sem causa. Esta compensação é só
patrimonial.
◦ Questionar se o motivo de ter abdicado da vida profissional para ficar em casa durante as manhãs é
efetivamente uma renuncia de forma excessiva aos seus interesses em favor da vida em comum.
◦ Questionar se o valor 5000 euros não seria um valor excessivo.

11/12/2021

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