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DIREITO PRIVADO INTERNACIONAL

CASOS PRÁTICOS1

Direito dos Conflitos: Parte Geral: casos práticos


- Caso 1 - Fraude à lei;
- Caso 2 - Qualificação;
- Caso 3 – Método conflitual ou de conexão;
- Caso 4 – Normas de conflito bilaterais e unilaterais;
- Caso 5 – Interpretação e concretização do elemento de conexão;
- Caso 6 – Remissão para os ordenamentos jurídicos complexos;
- Caso 7 – Devolução ou reenvio;
- Caso 8 – Reenvio;
- Caso 9 – As normas de aplicação imediata;
- Caso 10 – Interpretação e aplicação do Direito estrangeiro.
Direito dos Conflitos: Parte Especial: casos práticos
- Caso 11 – Lei pessoal das pessoas singulares;
- Caso 12 – Relações familiares e análogas;
- Caso 13 – Lei pessoal das pessoas singulares – residência habitual/rapto
- Caso 14 – Lei pessoal das pessoas coletivas e problemas conexos;
- Caso 15 – Obrigações contratuais de aplicação imediata;
- Caso 16– Responsabilidade civil extracontratual;
- Caso 17 – Responsabilidade civil extracontratual;
- Caso 18– Responsabilidade pré-contratual;
- Caso 19 – Enriquecimento sem causa,
- Caso 20 – Direitos reais;
- Caso 21– Sucessão mortis causa;
- Caso 22 – Competência internacional;
- Caso 23 – Direito de Reconhecimento;
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Outros casos.
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Os casos práticos foram maioritariamente retirados da obra de ALMEDA, João; PISSARRA, Nuno,
Direito Internacional Privado: casos práticos, Editora AAFDL, Lisboa, 2020.
Direito dos Conflitos: Parte Geral: casos práticos
Fraude à Lei
Caso 1
António, português, quer privar da legítima Bruno, seu filho, para deixar todos os seus bens a
Carla, sua segunda mulher. Com vista a obter este resultado, António adquire a nacionalidade do
Reino Unido e dispõe a favor de Carla, ao abrigo do Direito inglês, dos bens imóveis que se situam
em Portugal e que integram toda a sua herança.
Todavia, António continuou a viver em Portugal e a comportar-se como português.
Atendendo a que:
a) António faleceu a 30 de maio de 2015;
b) Os tribunais portugueses são internacionalmente competentes;
c) O Reino Unido não contém normas de Direito Internacional Privado ou de Direito
Interlocal unificados;
d) A lei inglesa remete para a lex rei sitae;
e) Os tribunais ingleses praticam a dupla devolução,
Determine qual a lei aplicável à situação em análise?

Qualificação
Caso 2
Em 2000, Américo, brasileiro, casou-se com Belmira, luso-brasileira nascida e residente em S.
Paulo. Desde 2000 a 2007, o casal e os filhos, Carlos e David, brasileiros, viveram sempre em S.
Paulo. A partir de janeiro de 2007, Américo passou a residir em Lisboa.
No princípio de 2010, Américo vendeu a Carlos, sem o consentimento de Belmira ou David, um
solar em Ponte de Lima de que era proprietário. O contrato de venda foi celebrado no Algarve,
onde Carlos se encontrava de férias, não tendo os contraentes escolhido a lei aplicável.
David entende que a venda é anulável, por não ter dado o seu consentimento. Considerando que:
I. À semelhança do que dispõe o art. 877.º do CC português, o art. 496.º do CC brasileiro,
incluindo o capítulo relativo à compra e venda, determina a anulabilidade da venda de
ascendente e descendente, salvo havendo consentimento expresso dos outros
descendentes e do cônjuge do alienante;
II. Em matéria de reenvio, o Direito de Conflitos brasileiro adota a tese de referência
material;
III. De harmonia com o Direito de Conflitos brasileiro, as relações entre pais e filhos estão
sujeitas à lei do domicílio comum dos pais e, na falta desta, à lei com a qual a vida familiar
apresente uma conexão mais estreita – que, no caso concreto, se considera situar no
Brasil.
a) Diga, justificadamente, se a venda de Américo a Carlos deve ser anulada?

Método conflitual ou de conexão


Caso 3
Frederico é brasileiro, tem residência habitual em Portugal e quer casar. A lei brasileira impede o
casamento; a lei portuguesa permite-o.
No Brasil, a norma de conflitos pertinente manda aplicar a lei do domicílio (que, no caso concreto,
é a lei portuguesa).
Usando o método conflitual ou da conexão para a regulação de situações transnacionais:
a) Se Frederico se quiser casar em Portugal, pode fazê-lo?
b) Se Frederico se quiser casar no Brasil, pode fazê-lo?

Normas de conflito bilaterais e unilaterais


Caso 4
António, argelino, encontra-se em Portugal a trabalhar e comprou um computador topo de gama
num estabelecimento comercial localizado em Portugal. Quando viu que fez um mau negócio,
pediu a anulação do contrato com fundamento em que, de acordo com a lei argelina, a maioridade
é adquirida aos 23, tendo ele apenas 21.
Assiste razão a António?

Interpretação e concretização do elemento de conexão


Caso 5
António, português residente habitualmente em Portugal, intentou contra Bento, francês residente
habitualmente na França, ação judicial pedindo a condenação deste a reconhecer o direito de
propriedade que António teria adquirido, por usucapião, sobre uma valiosa joia. Só quando se
preparava para fazer a sentença é que o juiz se apercebeu de que não tinha sido alegado nem tinha
ficado provado nos autos o lugar em que a joia se situava.
Qual a lei aplicável à questão?

A remissão para os ordenamentos jurídicos complexos


Caso 6
Francisco, português residente habitualmente em Lisboa, é proprietário de um terreno situado no
Estado do Texas, nos Estados Unidos da América. Atualmente surgiu um litígio com Bob, cidadão
dos EUA, residente habitualmente no Texas, e proprietário de um terreno confinante com o de
Francisco. Bob alega que se constitui uma servidão de passagem no terreno propriedade de
Francisco em favor do seu terreno.
Determine, sabendo que nos EUA não existe nem Direito interlocal nem DIP unificados, qual a
lei competente para determinar se o terreno de Francisco está ou não onerado com uma servidão
de passagem?

Devolução ou reenvio
Caso 7
Aníbal, nacional brasileiro com residência habitual em Portugal, pretende contrair casamento em
Portugal com Bela.
Determine a capacidade para contrair casamento de Aníbal, considerando que:
a) Os órgãos aplicadores de Direito portugueses são internacionalmente competentes;
b) A norma de conflitos brasileira dispõe que a capacidade para contrair casamento é
regulada pela lei do domicílio do nubente;
c) O Direito material brasileiro considera Aníbal domiciliado em Portugal;
d) O artigo 16.º da Lei de introdução às normas do Direito brasileiro dispõe que “(quando,
nos termos (de normas de conflitos) dos artigos precedentes, se houver de aplicar a lei
estrangeira, ter-se-á em vista a disposição desta, sem considerar-se qualquer remissão por
ela feita a outra lei.”

Reenvio
Caso 8
Em 1990, Américo, brasileiro, casou-se com Belmira, luso-brasileira nascida e residente em S.
Paulo. Desde 1990 a 2007, o casal e os filhos, Carlos e David, brasileiros, viveram sempre em S.
Paulo. A partir de janeiro de 2007, Américo passou a residir em Lisboa.
No princípio de 2010, Américo vendeu a Carlos, sem o consentimento de Belmira ou David, um
solar em Ponte de Lima de que era proprietário. O contrato de venda foi celebrado no Algarve,
onde Carlos se encontrava de férias, não tendo os contraentes escolhido a lei aplicável.
David entende que a venda é anulável, por não ter dado o seu consentimento. Considerando que:
a) À semelhança do que dispõe o art. 877.º do CC português, o art. 496.º do CC brasileiro,
incluindo o capítulo relativo à compra e venda, determina a anulabilidade da venda de
ascendente e descendente, salvo havendo consentimento expresso dos outros
descendentes e do cônjuge do alienante;
b) Em matéria de reenvio, o Direito de Conflitos brasileiro adota a tese de referência
material;
c) De harmonia com o Direito de Conflitos brasileiro, as relações entre pais e filhos estão
sujeitas à lei do domicílio comum dos pais e, na falta desta, à lei com a qual a vida familiar
apresente uma conexão mais estreita – que, no caso concreto, se considera situar no
Brasil.

No caso em presença pretende-se saber se o contrato de compra e venda de um imóvel celebrado


entre Américo e o seu filho Carlos, é válido materialmente. As partes não escolheram a lei
aplicável. Diga, justificadamente, se a venda de Américo e Carlos deve ser anulada.

As normas de aplicação imediata.


Caso 9
Andrew e Betty, britânicos nascidos em Londres, casados há 10 anos, vivem em Portugal há 5.
Recentemente, Andrew decidiu vender, sem o consentimento de Betty, a casa de morada de
família (situada em Portugal). Na ação intentada por Betty contra Andrew, este vem dizer que
vendeu a casa legitimamente, na medida em que se aplica o direito inglês, que se considera
competente para resolver a questão e não contém regra equivalente à do artigo 1682.º-A, n.º 2, do
CC português.
Quid Juris?

Interpretação e aplicação do Direito estrangeiro


Caso 10
Admita que, ao dirimir um litígio referente a uma situação privada internacional, o tribunal
português de 1ª instância determinou que o Direito material competente era o Direito francês e
que a norma de Direito material aplicável ao caso concreto era, no seu entender, inconstitucional
à face do disposto na Constituição da República Francesa.
Como deve o tribunal português atuar nesta situação?

Direito dos Conflitos: Parte Especial: casos práticos


Lei pessoal das pessoas singulares
Caso 11
Aníbal, espanhol com residência habitual na Rússia, quer vender um imóvel que lhe pertence a
Pierre, francês com residência habitual na França. Diga qual a lei que regula a questão de saber
se Aníbal tem capacidade para dispor do imóvel:
a) Se o imóvel estiver situado em Portugal;
b) Se o imóvel estiver situado na Rússia e aí vigorar uma norma de conflitos de onde se
extrai que a capacidade para dispor de imóveis é aferida pela lex rei sitae.
c) Se o imóvel estiver situado na Rússia e nesta vigorar uma norma de conflitos dispondo
que a capacidade para dispor de imóveis é aferida pela lei da residência habitual do
proprietário.

Relações familiares e análogas


Caso 12
António, português, quer privar da legítima Bruno, seu filho, para deixar todos os seus bens a
Carla, sua segunda mulher. Com vista a obter este resultado, António adquire a nacionalidade do
Reino Unido e dispõe a favor de Carla, ao abrigo do Direito inglês, dos bens imóveis que se situam
em Portugal e que integram toda a sua herança.
Todavia, António continuou a viver em Portugal e a comportar-se como português.
Atendendo a que:
I. António faleceu a 30 de maio de 2015;
II. Os tribunais portugueses são internacionalmente competentes;
III. O Reino Unido não contém normas de Direito Internacional Privado ou de Direito
Interlocal unificados;
IV. A lei inglesa remete para a lex rei sitae;
V. Os tribunais ingleses praticam a dupla devolução,
a) Determine qual a lei aplicável à situação em análise?

Lei pessoal das pessoas singulares - Residência habitual


Caso 132
Narek nasceu a 31 de julho de 2012, na cidade de Yerevan, República da Arménia e é filho de
… e de ... Os pais da criança casaram em 16 de maio de 2014 encontrando-se, actualmente,
divorciados. Além de Narek, …. são pais de A…, nascido a 26.11.2015.
Por decisão de 16.04.2018, proferido pelo competente Tribunal do distrito de Arabik, na Arménia,
a residência do Narek e do A… foi fixada junto da mãe.
No dia 06.04.2018, quando a avó materna do Narek e do A… se encontrava a passear das

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Ac TRL, processo n.º 3654/18.8T8CSC.L1-6, relatora Ana Albarran Carvalho, 01/09/2020.
http://www.dgsi.pt/jtrl.nsf/33182fc732316039802565fa00497eec/d327d05dc119cbcd802584ef005d718d?
OpenDocument&Highlight=0,direito,internacional,privado
crianças, o pai, acompanhado de um amigo, abordou-a, tendo levado as crianças para um café,
onde se sentou com elas.
A avó materna senta-se, então, no mesmo café, mas noutra mesa.
Num momento de distração da avó materna, o pai pegou nas crianças e levou-as para direção
desconhecida. O amigo que acompanhava o pai comunicou à avó materna que o pai tinha levado
as crianças, mas que iria retornar. No dia seguinte, o motorista do pai entregou o A.. à mãe, tendo
Narek permanecido com o pai. A 07.04.2018 e sem autorização da mãe, o pai do Narek viajou
com o filho para a Federação Russa, da qual é nacional. Em 16.05.2018 e a requerimento do pai,
foi proferida por decisão por um Tribunal Russo, atribuindo a guarda do N… àquele, decisão esta
ainda não transitada em julgado.
No dia 01.10.2018, o Narek e o pai deram entrada na Unidade Hoteleira …, em Cascais.
O que fez sem nada dizer à mãe e contra a vontade desta.
Neste momento, o Narek encontra-se a viver com o pai na Rua …., em Cascais.
O Narek estuda no Colégio Europa, estabelecimento de ensino que frequenta sem a autorização
da mãe. Não é intenção do pai entregar o Narek à mãe, visto não concordar com a decisão do
Tribunal da Arménia. A mãe pretende que o Narek regresse à Arménia.
Quid júris?

Lei pessoal das pessoas coletivas e problemas conexos


Caso 14
Bruno, português, celebrou mediante troca de correspondência, um contrato de prestação de
serviço, que devia ser executado em Portugal, com a empresa AFS, S.A., que tem sede estatutária
e sede da administração na África do Sul.
A AFS, S.A., quando viu que fez um mau negócio, intenta ação nos tribunais portugueses pedindo
a anulação do contrato com fundamento em que, segundo a lei da sua sede da administração, a
sociedade só se vincula mediante a assinatura de dois administradores e o contrato está apenas
assinado por um dos três administradores da AFS, S.A.
Supondo que:
a) A lei material da África do Sul estabelece que as sociedades anónimas só se vinculam
mediante a assinatura de dois dos seus administradores;
b) As leis materiais portuguesas e brasileiras não têm idêntica limitação, admitindo que as
sociedades anónimas se vinculam mediante a assinatura de apenas um dos seus
administradores.
A sociedade tem razão?
Obrigações contratuais
Caso 15 - Obrigações Contratuais/normas de aplicação imediata
Em 15 de junho de 2016, Magaret, francesa, residente habitual em França, celebrou um contrato
com Álvaro, de nacionalidade portuguesa e residência habitual em Portugal.
Por via do contrato, Álvaro está obrigada a fazer um espetáculo de pirotecnia nos jardins da casa
de Magaret, em Sevilha, por ocasião do seu aniversário, em 15 de agosto de 2016. Margaret e
Álvaro acordaram que este contrato seria regido pela lei portuguesa.
Devido aos incêndios que se verificaram em Espanha no início de julho de 2016, foram proibidas
todas as atividades de pirotecnia entre 15 de julho e 15 de setembro desse mesmo ano. Por esta
razão, Álvaro viu-se forçado a cancelar o espetáculo acordado.
Margaret que estava muito empenhada na realização do espetáculo, intentou uma ação contra
Álvaro, nos tribunais portugueses, em que pede uma indeminização pelos danos decorrentes do
incumprimento.
Quid júris?

Responsabilidade civil extracontratual


Caso 16
Francisco, brasileiro, colecionador de arte moderna, era casado com Mariana, brasileira, e
residiam habitualmente em Faro. Em 2016, Mariana vendeu a quinta que detinha no Douto, sem
o conhecimento do marido, deixando-o indignado. Numa tentativa de reatar a relação familiar,
Mariana organiza um fim de semana em Londres para uma visita ao museu de arte moderna, Tate
Modern. Em Londres encontraram-se com uns amigos e foram visitar a exposição juntos. Durante
a visita, Francisco enfureceu-se e gritou com Mariana acusando-a de ser mentirosa e desleal.
Mariana, sentindo-se ofendida na sua honra, intenta no tribunal português uma ação contra
Francisco em que pede uma indemnização por danos resultantes desta ofensa, invocando a
aplicação da lei inglesa. Francisco contesta, dizendo que a lei aplicável será a portuguesa e alega
que as regras vigentes no ordenamento jurídico português que regulam a responsabilidade
extracontratual são normas de aplicação imediata.
Admitindo os elementos dados no texto e ainda que,
I. Os tribunais portugueses são internacionalmente competentes;
II. Todas as ordens jurídicas em presença consideram que Francisco e Mariana têm
residência habitual e domicílio em Portugal;
III. Em matéria de responsabilidade extracontratual, o Direito de conflitos brasileiro
determina a aplicação da lei do lugar da atuação geradora do dano; o Direito inglês, na
secção II do Private International Law determina, em caso de difamação, a aplicação da
lei do lugar da atuação;
IV. Nos termos de todos os ordenamentos em presença, aquele que lesar a honra de outrem,
causando-lhe danos, deve reparar os respetivos prejuízos morais e materiais;
V. Os tribunais brasileiros praticam referência material; os tribunais ingleses praticam, em
caso de difamação, a dupla devolução.

a) Responda, fundamentadamente, apreciando os argumentos invocados pelas partes e invocando


outros que considere relevantes, qual a lei aplicável para regular a pretensão de Mariana no que
respeita ao pedido de indemnização por ofensa à sua honra?

Responsabilidade civil extracontratual


Caso 17
Akim e Bella, ambos suíços e residem habitualmente em Milão.
Em 2016, o casal fez uma viagem de autocarro e alojamento em Lisboa, através da prestação de
serviços contratados com a agência de viagens Sol&Mar, com sede efetiva em Itália. No decurso
dessa viagem, já na chegada a Lisboa, o autocarro em que seguiam teve um acidente que se deveu
ao excesso de peso da bagagem que era transportada. Nesse acidente, Bella partiu uma perna e
teve de ser hospitalizada.
Em convalescença em Lisboa, Bella intenta uma ação contra a agência de viagens, em que pede
que esta seja condenada ao pagamento de indemnização relativa aos danos por si sofridos. Bella
invoca que, nos termos da lei portuguesa, o autocarro transportava excesso de peso.
A agência de viagens alega que nada deve pagar porque, de acordo com a lei italiana, o volume
de bagagem transportada estava dentro dos limites legais.
Admitindo que os tribunais portugueses são internacionalmente competentes, diga,
fundamentando devidamente a sua resposta, se a agência de viagens é responsável pelo
pagamento de indemnização relativa aos danos sofridos por Jacqueline?

Responsabilidade pré-contratual
Caso 18
Joseph, cidadão holandês com residência habitual em Lisboa, encontra-se em Londres. No dia 21
de maio de 2016, quando visitou a leiloeira Christie´s conheceu Bruno, cidadão francês, com
residência habitual em Londres.
No dia seguinte, Bruno convidou Joseph para sua casa e, enquanto lá estiveram, Joseph gostou
muito do quadro que Bruno tinha pendurado na sala. Bruno apercebeu-se de que Joseph acreditou
que o quadro tinha sido pintado por Monet e, apesar de saber que tal não correspondia à verdade,
uma vez que o quadro tinha sido pintado pelo seu afilhado, não divulgou esta informação e aceitou
iniciar negociações com Joseph para a venda do quadro.
Por força de compromissos vários de ambos, agendaram uma nova reunião para a semana
seguinte. Nessa altura, Joseph fez-se acompanhar de Carlos, um seu amigo que trabalha no
Metropolitan Museum of Art em Nova Iorque, tendo para o efeito custeado a viagem e o
alojamento deste em Londres.
Após uma breve análise do quadro, Carlos informa Joseph de que este não é um original de Monet
e que não havia qualquer hipótese de Bruno desconhecer tal facto. Joseph decide intentar ação em
Lisboa contra Bruno, pedindo que este seja condenado a pagar-lhe €10.000, o total das despesas
que suportou com a deslocação e o alojamento de Carlos.
a) Determine a lei aplicável.

Enriquecimento sem causa


Caso 19
Carlos, cidadão português com residência habitual em Portugal, enquanto estava de lua de mel, e
como forma de minimizar os respetivos custos, decidiu instalar-se no dia 20 de janeiro de 2017,
sem autorização, num luxuoso apartamento de férias sito em Langkawi (Malásia), que sabia não
estar ocupado.
O apartamento pertencia a Warren, cidadão dos EUA, residente no Texas, que veio a saber, 3
meses depois, da “ocupação” efetuada por Carlos, intentando a competente ação judicial em
tribunais portugueses.
Qual é o direito material que o juiz português deve aplicar a esta situação?

Direitos reais
Caso 20
A Sociedade A, com sede na Itália e cuja administração reúne habitualmente nesse país, vendeu
uma máquina industrial à Sociedade B, com sede estatutária e principal e efetiva em Portugal. No
contrato, celebrado em 1 de janeiro de 2020, na cidade de Roma, estipularam-se as seguintes
cláusulas:
a) Entrega imediata do bem, na Itália, ao comprador;
b) “o comprador procederá ao pagamento do preço acordado, de 100.000€”;
c) “a falta de pagamento de uma ou mais prestações concede ao vendedor o direito de
resolver o contrato e fazer suas as prestações concede ao vendedor o direito de resolver o
contrato e fazer as prestações pagas”;
d) “a propriedade da máquina industrial só se transfere para o comprador após o integral
cumprimento da obrigação de pagamento do preço”;
A Sociedade B transportou a máquina industrial de Itália para Lisboa. Em 10 de agosto de 2020,
a Sociedade B vendeu, em Portugal, à Sociedade C, com sede estatutária e principal em Lisboa,
a referida máquina industrial pelo preço de 105.000€. A Sociedade C procedeu ao pagamento
integral do preço e a Sociedade B entregou, naquela data, a máquina industrial à Sociedade C.
Até à mesma data, a Sociedade B cumpriu integralmente todas as obrigações contratuais
derivadas do contrato celebrado com a Sociedade A. Todavia, depois da celebração do contrato
com a Sociedade C, deixou de proceder ao pagamento das prestações restantes, tendo mesmo
comunicado à Sociedade A a intenção de não cumprir o contrato.
Perante o incumprimento da Sociedade B, a Sociedade A intentou ação em tribunal cível da
comarca de Lisboa, pedindo a resolução do contrato e o reconhecimento do direito a fazer suas as
duas prestações pagas, ação que foi julgada procedente.
A Sociedade A pretende agora intentar ação de reivindicação em Tribunal português contra a
Sociedade C.
Diga se a mesma poderá ser procedente tendo em consideração que:
a) No Direito italiano, o contrato de compra e venda é real quanto aos efeitos;
b) Nos termos do artigo 1525.º do Código Civil italiano, impõe-se, para efeitos de
oponibilidade da cláusula de reserva de propriedade s terceiros, o registo da mesma,
quando o preço dos bens vendidos ultrapasse 15,49€, registo esse que não foi efetuado
no caso;
c) O direito material português regula a cláusula de reserva de propriedade no artigo 409.º
do Código Civil.

Sucessão mortis causa


Caso 21
António, que nasceu em Londres e tem dupla nacionalidade (francesa e inglesa), veio viver a sua
reforma para o Algarve. Desde 2010 que vive em Albufeira, tendo anteriormente vivido em Paris,
Em 2011, adotou plenamente bernardo, cidadão português com residência habitual em Portugal.
António faleceu, em 20 de agosto de 2017, com bens imóveis em Portugal. Deixou declaração na
forma de disposição por morte em que estabeleceu que a sua sucessão deveria ser aplicado o
direito material inglês.
Diga qual é a lei aplicável à sucessão de António?
Competência internacional
Caso 22 (Regulamento Bruxelas I bis e CPC): competência em matéria de seguros, de contratos
celebrados com consumidores e de contratos de trabalho)

Alberto, mexicano domiciliado em Madrid, intenta hoje ação contra Berta, brasileira domiciliada
em Braga, pedindo a condenação desta no cumprimento do contrato de compra e venda por ambos
celebrado, sendo certo que ficou convencionado que Berta deveria ter entregado o bem no
domicílio de Alberto.
Determine se os tribunais portugueses são internacionalmente competentes.

Direito de Reconhecimento
Caso 23 (Regulamento Bruxelas I bis e CPC e Regulamento Bruxelas II bis)

Abel, com domicílio em Lisboa, quando acabou o curso de informática, foi contratado pela
sucursal portuguesa da empresa Betterflix, que tem sede principal na Califórnia.
No âmbito desse contrato, Abel prestava o seu trabalho na Índia, coordenando uma equipa de
programadores.
A Betterflix cessou o contrato de Abel. Este pergunta-lhe se pode intentar ação contra a Betterflix
junto dos tribunais portugueses, vidando a declaração da ilicitude do despedimento.

Outros casos.

Caso I
BestArtist, sociedade com sede na China, colocou à venda, na sua página de Internet
www.bestartist.co.uk, uma coleção de livros sobre arte tradicional chinesa.
Armand, suíço, professor de Direito, com residência habitual em Cascais desde 1998, há muito
procurava adquirir livros.
Em finais de 2015, ao encontrar a página enquanto navegava na Internet no seu computador,
Armand adquire de imediato toda a coleção através da página da Internet, pagando imediatamente
o preço de € 1000,00.
As partes estipularam que a lei aplicável ao contrato seria a chinesa.
Após 12 dias da receção da coleção, Armand comunica à sociedade BestaArtist a intenção de
devolver os livros e de recuperar o preço.
Como a sociedade BestArtist se recusou a devolver o preço, Armand intenta em Portugal uma
ação na qual pede a declaração de validade da referida resolução do contrato, pois de acordo com
o artigo 10.º, n.º 1 alínea b) do DL n.º 24/2014, de 14 de fevereiro, o “consumidor tem o direito
de resolver o contrato sem incorrer em quaisquer custos (…) e sem necessidade de indicar o
motivo no prazo de 14 dias a contar (…) [d]o dia em que o consumidor ou um terceiro, com
exceção do transportador, indicado pelo consumidor adquira a posse física dos bens, no caso dos
contratos de compra e venda”.
A sociedade BestArtist contesta, invocando que, de acordo com a lei chinesa, escolhida pelas
partes, Armand dispunha de um prazo de 10 dias, a contar da receção da coleção, para resolver o
contrato.
Analise a procedência do pedido de Armand.

Caso II
Suponha que Abel, português, se deslocou, em gozo de férias, aos EUA. Quando circulava na
estrada 66 foi abarroado por um camião conduzido por Ben, americano e com domicílio em
Miami. Regressado a Portugal, Abel começou a sentir fortes dores na coluna e na cabeça. Quando
foi ao hospital foi-lhe diagnosticado um traumatismo craniano e uma fratura nas costelas,
decorrente do acidente que teve lugar nos EUA. Abel pretende agora propor uma ação contra
Ben para pedir uma indemnização pelos danos sofridos.
Diga se a ação pode ser proposta em Portugal.
Em caso afirmativo, qual o tribunal concretamente competente?

Caso III
Em 30 de janeiro de 2013, ABM, sociedade comercial com sede no Texas (EUA), vendeu à
BoaBase, sociedade comercial com sede em Portugal, 10 computadores.
O contrato foi celebrado em Portugal e os computadores foram entregues em Portugal.
No contrato, as partes incluíram as seguintes clausulas: “É aplicável ao contrato a lei brasileira”.
Qual a lei aplicável ao contrato, admitindo que a questão é colocada perante os tribunais
portugueses?
Sub-hipóteses (as sub-hipoteses são totalmente independentes entre si, exceto se expressamente
disserem o contrário). Na pendência da ação, a IBM e a BoaBase decidem submeter o contrato à
lei francesa. Podem fazê-lo?
Se todos os elementos do contrato estivessem apenas em contacto com Portugal, a ABM e a
BoaBase podiam escolher a lei francesa como lei reguladora da substância do contrato?
a) E se as partes não escolhessem a lei aplicável. Qual é a lei reguladora do contrato?
b) E se nos termos do contrato celebrado, a ABM se obrigava a entregar à BoaBase,
para gozo temporário desta, 10 computadores, bem como a prestar serviços de
manutenção in site dos referidos computadores, mediante o pagamento de uma
quantia mensal pela Boa Base. Os computadores e os serviços de manutenção
deviam ser entregues e prestados em Portugal. As partes não escolheram a lei
aplicável. Qual é a lei reguladora do contrato?
c) E ainda, se nos termos do contrato celebrado, a IBM se obrigasse a entregar os 10
computadores à BoaBase e a BoaBase obrigava-se, em troca, a entregar à ABM
20 smartphones. Os computadores e os smartphones foram entregues em Espanha.
As partes não escolheram a lei aplicável. Qual é a lei reguladora do contrato?

Instrumentos jurídicos mais relevantes:

A Convenção da Haia de 19 de Outubro de 1996, relativa à Competência, à Lei Aplicável, ao


Reconhecimento, à Execução e à Cooperação em Matéria de Responsabilidade Parental e
Medidas de Protecção das Crianças, entrou em vigor, para Portugal, no dia 1 de Agosto de 2011.

Regulamentos
Regulamento (CE) n.° 864/2007 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 11 de Julho de 2007,
relativo à lei aplicável às obrigações extracontratuais (Roma II)
https://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/PDF/?uri=CELEX:32007R0864&from=PT

Regulamento (CE) n.º 593/2008 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 17 de Junho de 2008,


sobre a lei aplicável às obrigações contratuais (Roma I)
https://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/PDF/?uri=CELEX:32008R0593&from=PT

Regulamento (UE) n. º 650/2012 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 4 de julho de 2012,


relativo à competência, à lei aplicável, ao reconhecimento e execução das decisões, e à
aceitação e execução dos atos autênticos em matéria de sucessões e à criação de um Certificado
Sucessório Europeu.
https://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/PDF/?uri=CELEX:32012R0650&from=PT

Regulamento (UE) 2016/1103 do Conselho, de 24 de junho de 2016, que implementa a


cooperação reforçada no domínio da competência, da lei aplicável, do reconhecimento e da
execução de decisões em matéria de regimes matrimoniais
https://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/PDF/?uri=CELEX:32016R1103&from=PT

Regulamento (UE) 2016/1104 do Conselho, de 24 de junho de 2016, que implementa a


cooperação reforçada no domínio da competência, da lei aplicável, do reconhecimento e da
execução de decisões em matéria de efeitos patrimoniais das parcerias registadas
https://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/?uri=CELEX:32016R1104
Lei da Nacionalidade, lei n.º 37/81, de 03 de outubro, atualizada pela Lei Orgânica n.º
2/20202, de 10 de novembro.
https://www.pgdlisboa.pt/leis/lei_mostra_articulado.php?nid=614&tabela=leis

Constituição da República Portuguesa.


Código Civil; Código Comercial; Código das Sociedades Comerciais; Cláusulas
Contratuais Gerais, Decreto-Lei n.º 446/85, de 25 de outubro.

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