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CASOS PRÁTICOS1
Outros casos.
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Os casos práticos foram maioritariamente retirados da obra de ALMEDA, João; PISSARRA, Nuno,
Direito Internacional Privado: casos práticos, Editora AAFDL, Lisboa, 2020.
Direito dos Conflitos: Parte Geral: casos práticos
Fraude à Lei
Caso 1
António, português, quer privar da legítima Bruno, seu filho, para deixar todos os seus bens a
Carla, sua segunda mulher. Com vista a obter este resultado, António adquire a nacionalidade do
Reino Unido e dispõe a favor de Carla, ao abrigo do Direito inglês, dos bens imóveis que se situam
em Portugal e que integram toda a sua herança.
Todavia, António continuou a viver em Portugal e a comportar-se como português.
Atendendo a que:
a) António faleceu a 30 de maio de 2015;
b) Os tribunais portugueses são internacionalmente competentes;
c) O Reino Unido não contém normas de Direito Internacional Privado ou de Direito
Interlocal unificados;
d) A lei inglesa remete para a lex rei sitae;
e) Os tribunais ingleses praticam a dupla devolução,
Determine qual a lei aplicável à situação em análise?
Qualificação
Caso 2
Em 2000, Américo, brasileiro, casou-se com Belmira, luso-brasileira nascida e residente em S.
Paulo. Desde 2000 a 2007, o casal e os filhos, Carlos e David, brasileiros, viveram sempre em S.
Paulo. A partir de janeiro de 2007, Américo passou a residir em Lisboa.
No princípio de 2010, Américo vendeu a Carlos, sem o consentimento de Belmira ou David, um
solar em Ponte de Lima de que era proprietário. O contrato de venda foi celebrado no Algarve,
onde Carlos se encontrava de férias, não tendo os contraentes escolhido a lei aplicável.
David entende que a venda é anulável, por não ter dado o seu consentimento. Considerando que:
I. À semelhança do que dispõe o art. 877.º do CC português, o art. 496.º do CC brasileiro,
incluindo o capítulo relativo à compra e venda, determina a anulabilidade da venda de
ascendente e descendente, salvo havendo consentimento expresso dos outros
descendentes e do cônjuge do alienante;
II. Em matéria de reenvio, o Direito de Conflitos brasileiro adota a tese de referência
material;
III. De harmonia com o Direito de Conflitos brasileiro, as relações entre pais e filhos estão
sujeitas à lei do domicílio comum dos pais e, na falta desta, à lei com a qual a vida familiar
apresente uma conexão mais estreita – que, no caso concreto, se considera situar no
Brasil.
a) Diga, justificadamente, se a venda de Américo a Carlos deve ser anulada?
Devolução ou reenvio
Caso 7
Aníbal, nacional brasileiro com residência habitual em Portugal, pretende contrair casamento em
Portugal com Bela.
Determine a capacidade para contrair casamento de Aníbal, considerando que:
a) Os órgãos aplicadores de Direito portugueses são internacionalmente competentes;
b) A norma de conflitos brasileira dispõe que a capacidade para contrair casamento é
regulada pela lei do domicílio do nubente;
c) O Direito material brasileiro considera Aníbal domiciliado em Portugal;
d) O artigo 16.º da Lei de introdução às normas do Direito brasileiro dispõe que “(quando,
nos termos (de normas de conflitos) dos artigos precedentes, se houver de aplicar a lei
estrangeira, ter-se-á em vista a disposição desta, sem considerar-se qualquer remissão por
ela feita a outra lei.”
Reenvio
Caso 8
Em 1990, Américo, brasileiro, casou-se com Belmira, luso-brasileira nascida e residente em S.
Paulo. Desde 1990 a 2007, o casal e os filhos, Carlos e David, brasileiros, viveram sempre em S.
Paulo. A partir de janeiro de 2007, Américo passou a residir em Lisboa.
No princípio de 2010, Américo vendeu a Carlos, sem o consentimento de Belmira ou David, um
solar em Ponte de Lima de que era proprietário. O contrato de venda foi celebrado no Algarve,
onde Carlos se encontrava de férias, não tendo os contraentes escolhido a lei aplicável.
David entende que a venda é anulável, por não ter dado o seu consentimento. Considerando que:
a) À semelhança do que dispõe o art. 877.º do CC português, o art. 496.º do CC brasileiro,
incluindo o capítulo relativo à compra e venda, determina a anulabilidade da venda de
ascendente e descendente, salvo havendo consentimento expresso dos outros
descendentes e do cônjuge do alienante;
b) Em matéria de reenvio, o Direito de Conflitos brasileiro adota a tese de referência
material;
c) De harmonia com o Direito de Conflitos brasileiro, as relações entre pais e filhos estão
sujeitas à lei do domicílio comum dos pais e, na falta desta, à lei com a qual a vida familiar
apresente uma conexão mais estreita – que, no caso concreto, se considera situar no
Brasil.
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Ac TRL, processo n.º 3654/18.8T8CSC.L1-6, relatora Ana Albarran Carvalho, 01/09/2020.
http://www.dgsi.pt/jtrl.nsf/33182fc732316039802565fa00497eec/d327d05dc119cbcd802584ef005d718d?
OpenDocument&Highlight=0,direito,internacional,privado
crianças, o pai, acompanhado de um amigo, abordou-a, tendo levado as crianças para um café,
onde se sentou com elas.
A avó materna senta-se, então, no mesmo café, mas noutra mesa.
Num momento de distração da avó materna, o pai pegou nas crianças e levou-as para direção
desconhecida. O amigo que acompanhava o pai comunicou à avó materna que o pai tinha levado
as crianças, mas que iria retornar. No dia seguinte, o motorista do pai entregou o A.. à mãe, tendo
Narek permanecido com o pai. A 07.04.2018 e sem autorização da mãe, o pai do Narek viajou
com o filho para a Federação Russa, da qual é nacional. Em 16.05.2018 e a requerimento do pai,
foi proferida por decisão por um Tribunal Russo, atribuindo a guarda do N… àquele, decisão esta
ainda não transitada em julgado.
No dia 01.10.2018, o Narek e o pai deram entrada na Unidade Hoteleira …, em Cascais.
O que fez sem nada dizer à mãe e contra a vontade desta.
Neste momento, o Narek encontra-se a viver com o pai na Rua …., em Cascais.
O Narek estuda no Colégio Europa, estabelecimento de ensino que frequenta sem a autorização
da mãe. Não é intenção do pai entregar o Narek à mãe, visto não concordar com a decisão do
Tribunal da Arménia. A mãe pretende que o Narek regresse à Arménia.
Quid júris?
Responsabilidade pré-contratual
Caso 18
Joseph, cidadão holandês com residência habitual em Lisboa, encontra-se em Londres. No dia 21
de maio de 2016, quando visitou a leiloeira Christie´s conheceu Bruno, cidadão francês, com
residência habitual em Londres.
No dia seguinte, Bruno convidou Joseph para sua casa e, enquanto lá estiveram, Joseph gostou
muito do quadro que Bruno tinha pendurado na sala. Bruno apercebeu-se de que Joseph acreditou
que o quadro tinha sido pintado por Monet e, apesar de saber que tal não correspondia à verdade,
uma vez que o quadro tinha sido pintado pelo seu afilhado, não divulgou esta informação e aceitou
iniciar negociações com Joseph para a venda do quadro.
Por força de compromissos vários de ambos, agendaram uma nova reunião para a semana
seguinte. Nessa altura, Joseph fez-se acompanhar de Carlos, um seu amigo que trabalha no
Metropolitan Museum of Art em Nova Iorque, tendo para o efeito custeado a viagem e o
alojamento deste em Londres.
Após uma breve análise do quadro, Carlos informa Joseph de que este não é um original de Monet
e que não havia qualquer hipótese de Bruno desconhecer tal facto. Joseph decide intentar ação em
Lisboa contra Bruno, pedindo que este seja condenado a pagar-lhe €10.000, o total das despesas
que suportou com a deslocação e o alojamento de Carlos.
a) Determine a lei aplicável.
Direitos reais
Caso 20
A Sociedade A, com sede na Itália e cuja administração reúne habitualmente nesse país, vendeu
uma máquina industrial à Sociedade B, com sede estatutária e principal e efetiva em Portugal. No
contrato, celebrado em 1 de janeiro de 2020, na cidade de Roma, estipularam-se as seguintes
cláusulas:
a) Entrega imediata do bem, na Itália, ao comprador;
b) “o comprador procederá ao pagamento do preço acordado, de 100.000€”;
c) “a falta de pagamento de uma ou mais prestações concede ao vendedor o direito de
resolver o contrato e fazer suas as prestações concede ao vendedor o direito de resolver o
contrato e fazer as prestações pagas”;
d) “a propriedade da máquina industrial só se transfere para o comprador após o integral
cumprimento da obrigação de pagamento do preço”;
A Sociedade B transportou a máquina industrial de Itália para Lisboa. Em 10 de agosto de 2020,
a Sociedade B vendeu, em Portugal, à Sociedade C, com sede estatutária e principal em Lisboa,
a referida máquina industrial pelo preço de 105.000€. A Sociedade C procedeu ao pagamento
integral do preço e a Sociedade B entregou, naquela data, a máquina industrial à Sociedade C.
Até à mesma data, a Sociedade B cumpriu integralmente todas as obrigações contratuais
derivadas do contrato celebrado com a Sociedade A. Todavia, depois da celebração do contrato
com a Sociedade C, deixou de proceder ao pagamento das prestações restantes, tendo mesmo
comunicado à Sociedade A a intenção de não cumprir o contrato.
Perante o incumprimento da Sociedade B, a Sociedade A intentou ação em tribunal cível da
comarca de Lisboa, pedindo a resolução do contrato e o reconhecimento do direito a fazer suas as
duas prestações pagas, ação que foi julgada procedente.
A Sociedade A pretende agora intentar ação de reivindicação em Tribunal português contra a
Sociedade C.
Diga se a mesma poderá ser procedente tendo em consideração que:
a) No Direito italiano, o contrato de compra e venda é real quanto aos efeitos;
b) Nos termos do artigo 1525.º do Código Civil italiano, impõe-se, para efeitos de
oponibilidade da cláusula de reserva de propriedade s terceiros, o registo da mesma,
quando o preço dos bens vendidos ultrapasse 15,49€, registo esse que não foi efetuado
no caso;
c) O direito material português regula a cláusula de reserva de propriedade no artigo 409.º
do Código Civil.
Alberto, mexicano domiciliado em Madrid, intenta hoje ação contra Berta, brasileira domiciliada
em Braga, pedindo a condenação desta no cumprimento do contrato de compra e venda por ambos
celebrado, sendo certo que ficou convencionado que Berta deveria ter entregado o bem no
domicílio de Alberto.
Determine se os tribunais portugueses são internacionalmente competentes.
Direito de Reconhecimento
Caso 23 (Regulamento Bruxelas I bis e CPC e Regulamento Bruxelas II bis)
Abel, com domicílio em Lisboa, quando acabou o curso de informática, foi contratado pela
sucursal portuguesa da empresa Betterflix, que tem sede principal na Califórnia.
No âmbito desse contrato, Abel prestava o seu trabalho na Índia, coordenando uma equipa de
programadores.
A Betterflix cessou o contrato de Abel. Este pergunta-lhe se pode intentar ação contra a Betterflix
junto dos tribunais portugueses, vidando a declaração da ilicitude do despedimento.
Outros casos.
Caso I
BestArtist, sociedade com sede na China, colocou à venda, na sua página de Internet
www.bestartist.co.uk, uma coleção de livros sobre arte tradicional chinesa.
Armand, suíço, professor de Direito, com residência habitual em Cascais desde 1998, há muito
procurava adquirir livros.
Em finais de 2015, ao encontrar a página enquanto navegava na Internet no seu computador,
Armand adquire de imediato toda a coleção através da página da Internet, pagando imediatamente
o preço de € 1000,00.
As partes estipularam que a lei aplicável ao contrato seria a chinesa.
Após 12 dias da receção da coleção, Armand comunica à sociedade BestaArtist a intenção de
devolver os livros e de recuperar o preço.
Como a sociedade BestArtist se recusou a devolver o preço, Armand intenta em Portugal uma
ação na qual pede a declaração de validade da referida resolução do contrato, pois de acordo com
o artigo 10.º, n.º 1 alínea b) do DL n.º 24/2014, de 14 de fevereiro, o “consumidor tem o direito
de resolver o contrato sem incorrer em quaisquer custos (…) e sem necessidade de indicar o
motivo no prazo de 14 dias a contar (…) [d]o dia em que o consumidor ou um terceiro, com
exceção do transportador, indicado pelo consumidor adquira a posse física dos bens, no caso dos
contratos de compra e venda”.
A sociedade BestArtist contesta, invocando que, de acordo com a lei chinesa, escolhida pelas
partes, Armand dispunha de um prazo de 10 dias, a contar da receção da coleção, para resolver o
contrato.
Analise a procedência do pedido de Armand.
Caso II
Suponha que Abel, português, se deslocou, em gozo de férias, aos EUA. Quando circulava na
estrada 66 foi abarroado por um camião conduzido por Ben, americano e com domicílio em
Miami. Regressado a Portugal, Abel começou a sentir fortes dores na coluna e na cabeça. Quando
foi ao hospital foi-lhe diagnosticado um traumatismo craniano e uma fratura nas costelas,
decorrente do acidente que teve lugar nos EUA. Abel pretende agora propor uma ação contra
Ben para pedir uma indemnização pelos danos sofridos.
Diga se a ação pode ser proposta em Portugal.
Em caso afirmativo, qual o tribunal concretamente competente?
Caso III
Em 30 de janeiro de 2013, ABM, sociedade comercial com sede no Texas (EUA), vendeu à
BoaBase, sociedade comercial com sede em Portugal, 10 computadores.
O contrato foi celebrado em Portugal e os computadores foram entregues em Portugal.
No contrato, as partes incluíram as seguintes clausulas: “É aplicável ao contrato a lei brasileira”.
Qual a lei aplicável ao contrato, admitindo que a questão é colocada perante os tribunais
portugueses?
Sub-hipóteses (as sub-hipoteses são totalmente independentes entre si, exceto se expressamente
disserem o contrário). Na pendência da ação, a IBM e a BoaBase decidem submeter o contrato à
lei francesa. Podem fazê-lo?
Se todos os elementos do contrato estivessem apenas em contacto com Portugal, a ABM e a
BoaBase podiam escolher a lei francesa como lei reguladora da substância do contrato?
a) E se as partes não escolhessem a lei aplicável. Qual é a lei reguladora do contrato?
b) E se nos termos do contrato celebrado, a ABM se obrigava a entregar à BoaBase,
para gozo temporário desta, 10 computadores, bem como a prestar serviços de
manutenção in site dos referidos computadores, mediante o pagamento de uma
quantia mensal pela Boa Base. Os computadores e os serviços de manutenção
deviam ser entregues e prestados em Portugal. As partes não escolheram a lei
aplicável. Qual é a lei reguladora do contrato?
c) E ainda, se nos termos do contrato celebrado, a IBM se obrigasse a entregar os 10
computadores à BoaBase e a BoaBase obrigava-se, em troca, a entregar à ABM
20 smartphones. Os computadores e os smartphones foram entregues em Espanha.
As partes não escolheram a lei aplicável. Qual é a lei reguladora do contrato?
Regulamentos
Regulamento (CE) n.° 864/2007 do Parlamento Europeu e do Conselho, de 11 de Julho de 2007,
relativo à lei aplicável às obrigações extracontratuais (Roma II)
https://eur-lex.europa.eu/legal-content/PT/TXT/PDF/?uri=CELEX:32007R0864&from=PT