Este documento descreve a história inicial da Maçonaria em Portugal no século 18. A primeira Loja Maçónica em Lisboa foi fundada em 1727 por comerciantes britânicos, liderados pelo escocês William Dugood. Em 1735, esta Loja foi regularizada pela Grande Loja da Inglaterra. No entanto, em 1738 o Papa condenou a Maçonaria através de uma bula papal, levando à perseguição da ordem em Portugal.
Este documento descreve a história inicial da Maçonaria em Portugal no século 18. A primeira Loja Maçónica em Lisboa foi fundada em 1727 por comerciantes britânicos, liderados pelo escocês William Dugood. Em 1735, esta Loja foi regularizada pela Grande Loja da Inglaterra. No entanto, em 1738 o Papa condenou a Maçonaria através de uma bula papal, levando à perseguição da ordem em Portugal.
Este documento descreve a história inicial da Maçonaria em Portugal no século 18. A primeira Loja Maçónica em Lisboa foi fundada em 1727 por comerciantes britânicos, liderados pelo escocês William Dugood. Em 1735, esta Loja foi regularizada pela Grande Loja da Inglaterra. No entanto, em 1738 o Papa condenou a Maçonaria através de uma bula papal, levando à perseguição da ordem em Portugal.
A partir de 1721, a Maçonaria da Primeira Grande Loja expandiu-se, primeiro em Inglaterra, e imediatamente a seguir no Continente Europeu. Em Portugal, decorria o reinado de D. João V. A economia Portuguesa tinha recuperado, depois de quase 100 anos de dificuldades, devidas ao domínio Espanhol, à Revolução de 1640, e à subsequente guerra de independência. Após o Tratado de Methuen, a Inglaterra era o principal parceiro comercial do reino, e a maior parte do comércio de bens manufaturados estava nas mãos de comerciantes ingleses. Lisboa era uma cidade próspera, na qual vivia uma numerosa comunidade Britânica. A cidade não se encontrava muito distante de Inglaterra, pois com bom tempo 8 dias chegavam para fazer a viagem marítima. Para além destas relações comerciais, haviam muitas trocas culturais entre os dois reinos, que mantinham, também, uma Aliança militar contra Espanha. Devido à mesma, era frequente a presença de frotas Britânicas no Porto de Lisboa. As primeiras evidências da presença de uma Loja Maçónica, em Lisboa, remontam a 1727. É muito difícil estudar este período da História da Maçonaria Portuguesa, por manifesta falta de fontes primárias. A principal fonte disponível são os registos do Tribunal do Santo Ofício. De acordo com os mesmos, esta Loja seria composta por Britânicos, protestantes, sendo a Oficina alcunhada pelos Padres do Santo Ofício de “Loja dos Hereges Mercadores”. Um dos principais intervenientes na fundação da Loja foi William Dugood (1715-1767), Escocês, católico, joalheiro, Maçon, e espião. Dugood foi iniciado em Londres, na Loja “The Goose and Gridiron”, em 1725, constando também do Quadro da Loja “Three Tuns”. Foi admitido membro da Royal Society, em 1728, tendo tido por proponentes Desaguliers e Martin Folks. Desempenhou um papel ativo, nesta Instituição, com contribuições em experiências de Ótica, Eletricidade, e Magnetismo. Antes disso, cerca de 1720, tinha trabalhado em Roma, como secretário do Conde de Leicester. Dugood frequentava a Corte Jacobita, onde foi recomendado ao Conde de Mar, que o apresentou a Jaime III, descrevendo-o como “o melhor joalheiro da Europa”, tendo sido contratado pelo Pretendente. Recrutado como espião por Philip von Stosch, tornou-se seu informador. Dugood tornou-se suspeito de ser espião, em 1722, e foi preso sob o pretexto de ser herético. Stosch usou da sua influência para o libertar, e assegurou o seu regresso a Londres. Dugood estabeleceu-se em Londres, e provavelmente, em 1727, teve uma curta passagem por Lisboa, que não está completamente confirmada. Em 1731 regressou a Itália, para trabalhar para Doroteia Sofia de Neuburg, Regente do Ducado de Parma. Já identificado como espião, a pressão Jacobita levou a que tenha sido despedido. Em 1733, foi para Florença, juntando-se a von Stosch. Aí chegado, integrou a Loja fundada por este último. Preso devido a uma falsa acusação de roubo, foi novamente libertado por intervenção de von Stosch. Uma vez libertado, viajou para Roma, onde foi novamente preso. A sua libertação foi muito difícil de obter, pelo seu Embaixador, tendo sido embarcado num navio de guerra Britânico, o Dolphin, que viajava para Inglaterra, com escala em Portugal. Tendo desembarcado em Lisboa, Dugood utilizou cartas de recomendação de Doroteia Sofia de Neuburg (era irmã da Rainha), e a influência de Alexandre de Gusmão, um dos favoritos de D. João V, que ele tinha conhecido em Florença, para se apresentar na Corte Portuguesa. Trabalhou para D. João V, e seu filho D. José, tendo morrido em Portugal. Foi o membro mais importante da primeira Loja. A Loja existiu entre 1727 e 1735, reunindo na casa de pasto de William Rice, situada no Beco dos Açucares, na freguesia de S. Paulo. Os seus membros eram Ingleses e Escoceses, protestantes, na maior parte dos casos mercadores. São conhecidos os nomes de 11 deles (Matthew, Scott, Ivens, Garden…). Em 1735, a Loja foi regularizada pela GL de Inglaterra, que incumbiu George Gordon, um dos colaboradores de Desaguliers, de a vir instalar. O sucesso desta iniciativa foi publicitado, tendo a Loja recebido o número 135, e posteriormente o 120. No “London Evening Post” de 1 junho 1736, foi noticiado: “They write from Lisbon, that by Authority of the Right Hon. The Earl of Weymouth, the then Grand Master of all Mason Lodges, Mr. George Gordon, Mathematician, has constituted a lodge of free and accepted Masons in that city; and that a great many merchants of the factory, and other people of distinction, have been received and regularly made Free Masons; that Lord George Graham, Lord Forrester, and a great many other gentlemen belonging to the English Fleet, being Brethren, were present at constituting the lodge; and ‘tis expected that in short time it will be one of the greatest abroad...”. Todavia, em 1736, já havia (desde 1733) outra Loja Maçónica a trabalhar em Lisboa, na mesma casa de pasto. Era composta por Escoceses, Irlandeses, dois Ingleses, e um Hungaro, Carlos Mardel. George Gordon esteve também envolvido na fundação desta Loja, que tinha mais ou menos 24 membros, a maioria dos quais católicos. Eram mercadores, militares, marinheiros, Frades Dominicanos, o estalajadeiro, dois médicos, um mestre de dança, e um cabeleireiro. A Loja intitulava-se “Casa Real dos Pedreiros Livres da Lusitânia”. Reuniam, ordinariamente, na primeira quarta-feira de cada mês, e extraordinariamente quando haviam recepções. As Sessões ordinárias decorriam à mesa, e tinham refeições em comum, com música, canto, e palestras científicas sobre Matemática, Medicina, e Arquitetura. James O’Kelly, Mestre de Dança, e Hugh O’Kelly, militar, foram os Mestres desta Loja. Em 1738, George Gordon recebeu, da Grande Loja dos Modernos, uma Patente para instalar regularmente esta Loja. Tal não chegou a acontecer, pois, em 28 de Abril de 1738, o Papa Clemente XII promulgou uma Bula (“In Eminenti Apostolus Specula”) condenando a Maçonaria. A promulgação da Bula deu origem a troca de correspondência entre o núncio em Lisboa, Carlo Orsini di Cavalieri, arcebispo de Tarso, e a Santa Sé, bem como entre o mesmo núncio e o Cardeal D. Nuno da Cunha e Ataíde, inquisidor-mor.
D. Nuno publicou um Edital, para ser lido e afixado em
todas as Igrejas do Reino, que constitui o primeiro momento de perseguição da Maçonaria, em Portugal. “...Fazemos saber a quantos o presente virem, ou dele por qualquer via tiverem notícia, que às nossas mãos chegou uma Constituição do Santíssimo Padre, o Papa Clemente XII (...) na qual Sua Santidade, movido do seu apostólico zelo, reprova e condena umas certas sociedades, ajuntamentos, coleções, agremiações, ou conventículos intitulados liberi muratori, ou francs-maçons, vulgo pedreiros-livres; (...) As quais sociedades e ajuntamentos se têm introduzido em muitas partes, por pessoas de qualquer religião, e seita, afetando certa espécie de bondade natural, e obrigando-se a um inviolável segredo, por juramento tomado na sagrada Bíblia, com cominação de graves penas, conforme as leis e estatutos particulares que têm...” “...E porque Sua Santidade declara na dita sua Constituição, que semelhantes sociedades e ajuntamentos são prejudiciais não só à República temporal, mas também à espiritual; e proíbe e manda a todos os fiéis cristãos de um e outro sexo que nenhum se atreva, com qualquer pretexto, ou disfarce ir às ditas sociedades, ajuntamentos, coleções, agregações, ou conventículos (...) antes totalmente se abstenham deles, sob pena de excomunhão contra os transgressores, da qual reserva a si, e à Sé Apostólica a absolvição, fora de artigo da morte. (...) E para que venha à notícia de todos: Mandamos, auctoritate apostolica, a todas as pessoas assim eclesiásticas, como seculares, isentas, e não isentas, em virtude da santa Obediência, sob pena de excomunhão maior, ipsofacto incurrenda, cuja absolvição a nós reservamos, que sabendo de algumas outras que se agregam as ditas sociedades (...) e das matérias que nelas se tratam, as …” “...denunciem ou mandem denunciar à Mesa do Santo Ofício do distrito em que estiverem dentro de trinta dias (...). E para que se não possa alegar ignorância: Mandamos, com a mesma pena de excomunhão maior a todos os abades, priores, reitores, curas, e prelados dos conventos destes reinos, e senhorios, a que for apresentado este nosso edital, o leiam, e publiquem, ou façam ler, e publicar em suas igrejas na estação, ou pregação de primeiro domingo, ou dia santo depois de lhe ser dado; e lido, e publicado será afixado nas portas principais das mesmas igrejas, donde não será tirado sem nossa licença…”. A Loja foi denunciada à Inquisição pelo Padre Charles O’Kelly. Alguns dos seus membros auto-denunciaram-se, tendo outros sido convocados pelo Tribunal. No Acordão, de 18 de Outubro 1738, concluiu-se que a Loja já se tinha dissolvido, e que: “...os seus membros entraram na sociedade por considerarem que nada havia em contradição com a religião e que não era outra coisa a dita congregação mais do que um modo de conciliar, e fomentar a sociedade humana, e de se juntarem uns aos outros nas matérias do seu interesse, e de suas honras…”. O processo ficou por aqui. Em 1741, uma nova Loja começou a trabalhar, em Lisboa, tendo existido até 1743. A Loja tinha 30 membros, a maioria dos quais Franceses, incluindo 12 mercadores, alguns dos quais joalheiros relacionados com a lapidação de diamantes. Havia, também, um guarda-livros, capitães de navios, um alfaiate, e um estalajadeiro. Conhecem-se as identidades de 25 dos seus membros. Para além dos Franceses, havia um Holandês, um Italiano, quatro Ingleses não identificados, e um Português, D. Manuel de Sousa, administrador dos morgados de Calhariz, Monfalim, Fonte do Anjo, e Santa Maria dos Olivais, familiar do Santo Ofício, e Capitão da Guarda Real Alemã. Morreu em 1758, em consequência de tortura, no âmbito do Processo dos Távoras. A figura central da Loja foi o seu Venerável, John Coustos, Inglês de origem Suiça. Joalheiro e lapidário de diamantes de profissão, foi iniciado nos anos 20, em Londres, na “Rainbow Coffee House”, tendo sido um dos fundadores da “Prince Eugene’s Head”. Espião do governo Britânico, deslocou-se a Paris, em 1736, tendo fundado a Loja “Coustos-Villeroy”. Em 1741, veio para Lisboa, pretensamente em trânsito para o Brasil, tendo de imediato fundado a sua Loja. Denunciado à Inquisição, foi preso em 1743, juntamente com Alexandre Jacques Mouton, e Jean Thomas Bruslé, sendo no mês seguinte preso Jean-Baptiste Richard. Lambert Boulanger apresentou-se voluntariamente ao Tribunal do Santo Ofício. O processo durou mais de um ano, no qual todos os acusados foram torturados, com excepção de Lambert Boulanger. Jean-Baptiste Richard e Lambert Boulanger foram libertados. Alexandre Jacques Mouton e Jean Thomas Bruslé foram condenados a penitências espirituais, e interditados de viver em Lisboa durante 5 anos. Coustos foi condenado a uma pena de quatro anos nas galeras, tendo sido libertado, por intervenção do Embaixador Britânico, regressando a Inglaterra. Em 1746, publicou o livro “The Sufferings of John Coustos for Free-Masonry”. Quando comparamos o relato de Coustos com o que consta do seu Processo, que se encontra nos Arquivos do Tribunal do Santo Ofício, constata-se que a sua versão é muito exagerada, tanto no que se refere aos procedimentos de tortura a que foi exposto, como à sua resistência em divulgar os “segredos” da Maçonaria. Com a subida ao Trono de D. José, e a ascenção do Marquês de Pombal, a situação da Maçonaria melhorou. Pombal tinha sido Diplomata em Londres, onde foi membro da Royal Society, e em Viena. Existem registos de ter visitado a Loja “Aux Trois Cannons”.
Vários aristocratas Portugueses, que
residiram no estrangeiro, e foram influenciados pelas ideias iluministas, poderão ter sido iniciados, neste período. A vinda do Conde de Lippe, para reorganizar o Exército Português (1762-1764 e 1767-1768) deu novo alento à Maçonaria. Não só era Maçon, como também o eram vários oficiais que trouxe consigo. Surgiram Lojas em localidades com guarnições militares, tais como Lisboa, Elvas, Olivença, e Valença.
Encontram-se informações em processos da Inquisição.
Há referência a uma Loja em Lisboa, que teve por Venerável Van Dalen, secretário do embaixador holandês, com reuniões em sua casa, numa fragata, e numa casa na R. da Estrela. A Loja teve 11 membros, todos estrangeiros, na maior parte militares. Em Coimbra, surgiu uma Loja com Portugueses, que envolveu o matemático José Anastácio da Cunha. Na Madeira, a Maçonaria também se desenvolveu, sendo contudo reprimida. Sociologicamente, esta Maçonaria Pombalina foi muito diferente da das primeiras Lojas, nas quais predominavam os comerciantes. Neste período acorreram às Lojas militares, aristocratas, e académicos. Com a morte de D. José, e a subida ao Trono de D. Maria I, deu-se a queda de Pombal (Viradeira). D. Maria era muito influenciada pelos setores mais conservadores da aristocracia, e da Igreja, pelo que se intensificaram as perseguições à Maçonaria. José Anastácio da Cunha foi preso pela Inquisição, retroativamente, em 1778, acusado de ter pertencido a uma Loja em Valença, muitos anos antes. O poeta Francisco Manuel do Nascimento (Filinto Elísio), e o botânico Avelar Brotero tiveram de se exilar, para não serem presos. Começou a caça “aos libertinos, aos heréticos, e aos pedreiros livres”. Apesar de tudo, em 1779, foi fundada por Maçons a Academia Real das Ciências. Foram seus principais impulsionadores o Abade Correia da Serra, e o Duque de Lafões. Com o advento da Revolução Francesa, as perseguições aumentaram ainda mais, sendo os anos de 1791, e de 1792, anos de violenta repressão, culminando com a publicação de um novo edital, por parte da Inquisição. O Santo Ofício, entre 1791 e 1807, moveu 34 processos contra Maçons.
Também as autoridades civis, lideradas pelo Intendente
Geral de Polícia, Pina Manique, mantiveram intensa repressão sobre as possíveis atividades maçónicas, num cenário internacional europeu muito complexo, de guerra generalizada. Em síntese, podemos concluir:
- A Maçonaria, durante o século XVIII, em Portugal, foi
essencialmente um fenómeno de estrangeiros, com muito pouca presença de Portugueses nas Lojas. - O número de Lojas foi muito reduzido (cerca de 20), na maior parte dos casos com vida muito efêmera (2-3 anos). - Este atraso, na implantação da Maçonaria em Portugal, deveu-se sobretudo à aplicação da Bula de Clemente XII, e subsequente ação do Tribunal do Santo Ofício, e aos paradigmas da Sociedade Portuguesa. A guerra com a França Revolucionária, em aliança com Espanha (Campanha do Roussilhão), e a subsequente tensão com Espanha e França (Guerra das Laranjas), ocasionaram a vinda para Portugal de contingentes Ingleses, que abriram novas Lojas militares. Também a vinda de emigrados Franceses (Duque de Montmorency-Luxembourg), em fuga da Revolução, vieram dar um novo “impulso” à Maçonaria Portuguesa, que se “afrancesou”, e progrediu. Começaram a surgir Lojas Portuguesas, a partir de 1797, funcionando uma a bordo da fragata Fénix. A Loja Regeneração chegou a ter 140 membros. Até 1801, surgiram mais 6 Lojas em Lisboa (União, Virtude, Fortaleza, Concórdia, Amizade, e Razão), congregando duas centenas de Obreiros. Todavia, a partida dos contingentes Ingleses (1800), e dos emigrantes Franceses (1802), veio reduzir a atividade maçónica. A Maçonaria Portuguesa começou, no entanto, a querer organizar a sua atividade numa Obediência. Em 1801 realizou-se uma reunião de Maçons no Palácio do General Gomes Freire, presidida pelo Padre José Joaquim de Carvalho e Oliveira, por ter o Grau de “Cavaleiro Escocês”, que juntamente com Hipólito José da Costa, e com o Prior dos Anjos José Ferrão de Mendonça e Sousa, se avistaram com D. Rodrigo de Sousa Coutinho, recebendo garantias de que a Maçonaria não seria perseguida.
Hipólito José da Costa Pereira de Furtado de Mendonça deslocou-se
a Londres, tendo recebido da GL dos Modernos (Duque de Sussex) uma Patente para instalar uma GL Portuguesa. Deslocou-se, depois, a Paris, onde contactou o Grande Oriente de França.No regresso a Portugal, foi preso no Limoeiro, tendo-lhe sido apreendidos os documentos que tinha consigo. Entregue pelas autoridades civis à Inquisição, Hipólito José da Costa permaneceu preso 3 anos nas prisões do Santo Ofício, no Rossio, tendo conseguido evadir-se, em 1805. Escondido no Alentejo, passou por Espanha, tendo conseguido chegar a Londres, onde se fixou. Hipólito José da Costa traduziu o “Récueil Précieux de la Maçonnerie Adonhiramite”, de Louis Guillemain de Saint Victor, tendo esta obra tido importância na prática ritual Portuguesa e Brasileira. A partir de Londres, publicou o “Correio Braziliense”, sendo considerado o pai da Imprensa Brazileira. Nos últimos anos do séc. XVIII, e nos primeiros do séc. XIX, tanto as Maçonarias Inglesa como Francesa tiveram muita influência em Portugal. O Duque de Sussex viveu em Lisboa entre 1801 e 1805, tendo posteriormente sido GM da GL dos Modernos, e da UGLE.
Também o Embaixador Francês, Duque de
Lannes, viria a ser um alto dignitário do Grande Oriente de França. Apesar de tudo, o Grande Oriente Lusitano terá sido fundado, em 1802. Nos primeiros meses de 1804, realizaram-se eleições para os seus dignitários. Foi eleito Grão Mestre o desembargador Sebastião José de Sampaio Melo e Castro, neto do Marquês de Pombal (Nome Simbólico Egas Moniz).
Foi eleito Grande Orador José
Liberato Freire de Carvalho. Em 25 de Abril de 1804, foi celebrado um Tratado de Amizade, entre o GOL e o GOdF. Ratificado em Portugal, nunca o foi em França. Existem evidencias do relacionamento do GOL com Lojas Francesas, nomeadamente com a Loja-Mãe do Rito Escocês Filosófico (Paris). Também a Loja “Les Chevaliers de la Croix”, de Paris, tinha relações com Portugal, e contou com vários membros Portugueses, no seu Quadro. Em 1806, o Grande Oriente Lusitano aprovou a sua primeira Constituição, claramente de influência Francesa. Nos termos deste Documento, o GOL era constituído pela Grande Dieta, e por mais sete dignitários por ela eleitos (Grão Mestre, Grande Administrador, 1º Vigilante, 2º Vigilante, Grande Orador, Grande Secretário, Grande Tesoureiro. O GOL federava Lojas, e Capítulos. Nas Lojas conferiam-se os Graus Simbólicos (Aprendiz, Companheiro, e Mestre). Nos Capítulos, os Graus Misteriosos, ou Ordens (Eleito Secreto, Grande Eleito Escocês, Cavaleiro do Oriente, Soberano Príncipe Rosa Cruz). Estava prevista a existência de Grande Lojas Provinciais. A situação de Portugal complicou-se, com a recusa de adesão ao Bloqueio Continental, imposto por Napoleão a Inglaterra. O reino foi invadido por um exército franco-espanhol, comandado pelo Marechal Junot. A família Real viajou para o Brasil, tendo ficado nomeada uma Regência, que não devia opor qualquer resistência à invasão. Uma delegação do GOL foi receber Junot, a Sacavém, juntamente com a Regência. Integrava os irmãos do Grão Mestre. Durante a ocupação, muitos pedidos de regularização, e de filiação, foram apresentados às Lojas Portuguesas, por Franceses. Junot pretendeu ser eleito Grão Mestre, o que não foi aceite pela Maçonaria Portuguesa. O GOL respondeu a Junot recusando as suas pretensões, porque: - Já existia um GM, pelo que o lugar não estava vago; - Tal dignidade devia ser ocupada por um Português; - Não era tempo de eleições; - Porque a Junot faltavam qualidades que o habilitassem ao exercício do cargo.
A Maçonaria criou o Conselho Conservador de Lisboa, em 1808, para
“...lutar contra a ocupação, defender a religião católica, restaurar a independência, e restituir o Trono ao seu legítimo príncipe…”. Mesmo assim, após a retirada de Junot, a Maçonaria, e a Academia das Ciências foram vistas como colaboracionistas. A partir de 1809, a Maçonaria foi novamente perseguida, enquanto decorreram as subsequentes invasões Francesas. Entre 10 e 13 de Setembro de 1810, em reação à tomada de Almeida por Massena, 48 Maçons foram arbitrariamente presos, e embarcados para a ilha Terceira, na fragata Amazonas. Por intercessão da Maçonaria Inglesa, alguns foram autorizados a emigrar para Inglaterra, entre os quais o Grão Mestre, Sebastião de Sampaio. Este episódio ficou conhecido por “Setembrizada”. A partir de 1812, com o fim da guerra, a Maçonaria renasceu. Em 1815, os deportados pela Setembrizada, e alguns exilados políticos, nomeadamente os antigos combatentes da Legião Portuguesa, regressaram a Portugal, entre eles o General Gomes Freire de Andrade. O mesmo foi eleito Grão Mestre do Grande Oriente Lusitano, em 1815, sendo instalado em 1816. O Rei permanecia no Brasil, sendo o governo de Portugal continental assegurado por um Conselho de Regência, e os exércitos comandados pelo Marechal Beresford. Após delação de três Maçons, o Marechal Beresford, na posse de elementos de uma conspiração para derrubar o governo, acionou o auditor do exército, para proceder à prisão dos implicados. O processo terá sido instigado por Miguel Pereira Forjaz, membro do Conselho de Regência, que pretendia implicar na conspiração todos os inconvenientes ao poder, bem como Maçons. Foram presos e processados, acusados de pertencerem a uma organização denominada Supremo Conselho Regenerador, que visava a substituição de D. João VI pelo Duque de Cadaval, 18 implicados. Foram envolvidos no processo: - Gomes Freire de Andrade, Tenente-General; - Joaquim José Pinto da Silva, Alferes; - José Campelo de Miranda; - José Ribeiro Pinto, Alferes; - Manuel Monteiro de Carvalho, Coronel de milícias reformado; - Francisco António de Sousa, Arquiteto; - Pedro Ricardo de Figueiró, Capitão; - José Francisco das Neves, Major; - Henrique José Garcia de Morais, ex Sargento; - António Cabral Calheiros Furtado e Lemos, ex Alferes; - Manuel de Jesus Monteiro, Capitão; - Manuel Inácio de Figueiredo; - Maximiano Dias Ribeiro; - António Pinto da Fonseca Neves, Segundo Tenente; - Frederico, Barão de Eben; - Veríssimo António Ferreira da Costa, ex Tenente Coronel; - Cristovão da Costa, Alferes; - Francisco Leite Sodré da Gama. No âmbito do processo, foram absolvidos 2 acusados, foram condenados 3 a penas de degredo em Angola ou em Moçambique, e o Barão de Eben, por ser estrangeiro, foi expulso do país. Todos os restantes acusados foram condenados à morte. Dos condenados à morte, e deportados, pelo menos 6 eram Maçons. Em 18 de Outubro de 1817, Gomes Freire foi enforcado junto ao Forte de S. Julião da Barra. Os restantes 11 condenados foram executados no Campo Santana (Campo dos Mártires da Pátria).
O Grande Oriente Lusitano suspendeu os seus
Trabalhos. Em consequência destes acontecimentos, e da revolta de Pernambuco, D. João VI publicou um Alvará proibindo a Maçonaria. Pela primeira vez, no ordenamento jurídico Português, foi publicada legislação que formalmente condenava a Maçonaria. Em 1820, deu-se a Revolução Liberal, impulsionada por uma organização secreta, o Sinédrio. Muito embora 13 dos seus membros tenham vindo a ser Maçons, e 2 até Grão Mestres do Grande Oriente Lusitano, à data poucos o eram. Tal era o caso de Manuel Fernandes Tomás. Todavia, dos 15 membros da Junta Provisional do Governo Supremo do Reino, formada no Porto, 9 viriam a ser Maçons. Da Junta Provisional conjunta, depois da revolta de 15 de Setembro, em Lisboa, dos 12 membros 8 viriam a ser Maçons. O GOL retomou a atividade, sendo eleito Grão Mestre João da Cunha Sottomaior, em 1822. Em 1821, tinha sido aprovada uma nova Constituição, com uma arquitetura muito semelhante à que veio a ter a Constituição Liberal de 1822. Neste período a Maçonaria desenvolveu-se, mas muito desorganizadamente. Surgiram várias Lojas, que não se filiaram no GOL, e o envolvimento político dos Maçons foi muito grande, sendo também assinalável a sua intervenção em Associações Científicas, e Literárias. Em 1823, José da Silva Carvalho foi eleito Grão Mestre do GOL. Todavia, no mesmo ano, o Infante D. Miguel, apoiado pela sua mãe, organizou um golpe militar de sentido absolutista (Vilafrancada). Uma das consequências deste reforço da contra-revolução foi a publicação da Carta de Lei de 20 de 20 de Junho de 1823, contra as Sociedades Secretas. Na sequência, deram-se novas perseguições e deportações. José da Silva Carvalho teve de emigrar. A propaganda anti-maçónica tornou-se particularmente violenta, sendo impulsionada pelos setores mais conservadores da Igreja Católica. Em 1824, D. Miguel tentou novo golpe militar, que falhou. O mesmo, que teve o apoio do Patriarca, Cardeal Carlos I, foi justificado pela necessidade de proteger D. João VI de um eventual complot da Maçonaria. Na sequência, D. Miguel foi forçado ao exílio, em Viena. Foi publicado um novo édito contra a Maçonaria, que no entanto suavizou as penas previstas nos anteriores. Com a morte de D. João VI, sucedeu-lhe seu filho D. Pedro IV, à época já Imperador do Brasil. D. Pedro foi Maçon, e a Maçonaria esteve envolvida na Independência do Brasil.
Todavia, após a Independência, D. Pedro ilegalizou a
Maçonaria, neste País. D. Pedro tentou encontrar uma solução de conciliação, mediante a imposição da Carta Constitucional, e da sua abdicação a favor da sua filha Maria II, sendo a regência, até à sua maioridade, assegurada pela Infanta Isabel Maria.
Todavia, a situação gerou forte instabilidade até
1828, que levou à aceitação do regresso de D. Miguel, com o compromisso de jurar a Carta Constitucional. D. Miguel não respeitou o compromisso, e auto-proclamou-se Rei absoluto, iniciando-se um período de intensas perseguições. O Miguelismo deu origem a uma guerra civil, e a emigração. Durante muito tempo as forças liberais estiveram reduzidas à ilha Terceira, tendo havido concentrações de refugiados políticos Portugueses, em Inglaterra, em França, e na Bélgica. Houve Lojas de Portugueses em Plymouth, tendo havido integração de refugiados em Lojas de Brest (“Les Amis de Sully”), e de Paris, para além de também ter havido uma Loja de Portugueses nesta cidade. Porém, divergências de alinhamento político entre os emigrantes, conduziram à fratura do Grande Oriente Lusitano, no exílio. Enquanto que o Grão Mestre José da Silva Carvalho se manteve alinhado com a fação do Duque de Palmela (mais conservadora), o Duque de Saldanha, lidér da facção mais progressista provocou uma cisão. Entre 1828 e 1831, instituiu-se Grão Mestre, em Paris, de uma nova Obediência também designada de Grande Oriente Lusitano. Depois do fim da guerra civil (1834), e da implantação definitiva do Regime Constitucional, a Maçonaria retomou grande influência na vida pública, mas manteve-se dividida, em função das facções políticas. Silva Carvalho manteve-se à frente do Grande Oriente Lusitano até 1839, sendo sucedido no Grão Mestrado por Manuel Gonçalves de Miranda, que veio a falecer em funções, em 1841. O Grande Oriente Lusitano de Saldanha, dividiu-se em Maçonaria do Norte, e Maçonaria do Sul. A Maçonaria do Norte teve por Grão Mestre Passos Manuel. Todas estas Obediências eram compostas por Lojas que trabalhavam no Rito Francês. Até 1841, as duas facções Maçónicas foram equilibradas em número, e politicamente opostas. A eleição de António da Costa Cabral para Grão Mestre do GOL, sucedendo a Manuel Gonçalves de Miranda, conduziu a um significativo aumento da Obediência, com intuitos políticos. Descontentes com a situação, José da Silva Carvalho e Rodrigo da Fonseca Magalhães, sairam do GOL para fundarem o Grande Oriente do Rito Escocês. Adotaram o Rito Escocês Antigo e Aceite, que tinha sido muito recentemente introduzido em Portugal. Um comerciante de Gibraltar, John Coelho, fundou, em 1839, uma Loja em Lisboa denominada Regeneração, sob os auspícios da GL da Irlanda. A mesma deu origem a outras três, com o mesmo nome. Este conjunto veio a constituir a GL Provincial de Portugal da GL da Irlanda, que poderá ter introduzido o REAA no nosso país. Entre 1841 e 1843 fundaram-se dois Supremos Conselhos do 33º Grau do Rito Escocês Antigo e Aceite, o primeiro impulsionado por Silva Carvalho, e o segundo por Costa Cabral. Ambos foram instalados com Cartas-Patente Brasileiras. Em 1857, também a Grande Loja Provincial da Irlanda promoveu a Instalação de um Supremo Conselho, com Carta-Patente do Supremo Conselho da Irlanda. Um terceiro esforço para criar uma Maçonaria renovada, alheia à política, e mais virada para o Simbolismo, o Ritual, e a Filantropia surgiu por iniciativa de Miguel António Dias, que fundou em 1859 o Grande Oriente da Maçonaria Eclética Lusitana. Esta Obediência trabalhava numa variante muito simplificada do Rito Francês, denominada Rito Eclético Lusitano, que ele criou, tendo durado até 1861. O Grande Oriente Lusitano veio a sofrer com as vicissitudes do Cabralismo. Na sucessão de António Bernardo da Costa Cabral, os seus dois irmãos disputaram o Grão Mestrado. Tendo sido eleito José da Silva Cabral, João Rebelo Cabral contestou a eleição. Um terceiro grupo, liderado por Moura Coutinho, pôs-se à margem, e alterou o nome da Obediência para Grande Oriente de Portugal. A seguir à guerra civil de 1846-1847, a Maçonaria do Norte quase desapareceu. O que restou juntou-se à Maçonaria do Sul, dando origem à Confederação Maçónica Portuguesa. Esta Obediência teve duas cisões, de vida breve, que se denominaram Federação Maçónica Portuguesa, e a Confederação Maçónica Progressista de Portugal. O Duque de Loulé foi quem ocupou mais tempo o Grão Mestrado da Confederação Maçónica Portuguesa. Era Grão Mestre da Confederação Maçónica José Estevão Coelho de Magalhães, quando se deu a Expulsão das Irmãs da Caridade de S. Vicente de Paulo (Francesas). Por iniciativa de José Estevão foi fundado o Asylo de S. João, destinado a receber as crianças a cargo das Irmãs da Caridade. Esta Instituição (hoje Internato de S. João) ainda existe, tendo chegado a acolher 80 crianças. Nesta época a Maçonaria começou a ter uma intervenção social relevante, tendo participado na fundação de Para-Maçónicas viradas para a educação popular. Em 1859, a Loja Tolerância foi irradiada do Grande Oriente de Portugal. Esta Oficina conseguiu agregar outras, dando origem a uma Obediência denominada Grande Oriente Lusitano, que veio a eleger como Grão Mestre D. Francisco Inácio de Paula Noronha, Conde de Paraty. Na década de 60, esta Obediência teve um crescimento assinalável, e começaram a haver iniciativas no sentido de se proceder à reunificação da Família Maçónica Portuguesa. Em 1865 era Grão Mestre da Confederação Maçónica Mendes Leal, e começaram a ser acordadas bases para a reunificação (Grande Oriente Lusitano / Confederação Maçónica Portuguesa / Grande Oriente de Portugal). O processo, todavia abortou. No ano seguinte, a Confederação Maçónica e o Grande Oriente de Portugal fundiram-se, dando origem ao Grande Oriente Português, que tinha por Grão Mestre Mendes Leal. Em 1869, o Grande Oriente Português fundiu-se com o Grande Oriente Lusitano, dando origem ao Grande Oriente Lusitano Unido. O Grande Oriente Lusitano Unido elegeu como Grão Mestre o Conde de Paraty, ficando Mendes Leal com o título de Grão Mestre de Honra. A Maçonaria Portuguesa ganhou um reconhecimento internacional que não tinha tido, até aí. Em 1889, foi adquirido o Palácio Maçónico, que foi inaugurado no ano seguinte, após conclusão das obras de adaptação do edifício. Até ao fim do século XIX, o GOLU não parou de crescer, tendo integrado Lojas em Espanha, Roménia, e Bulgária. Em 1880, foi introduzido no GOLU o Ritual de Emulação, rebatizado de “Rito Simbólico Regular”. Tal sucedeu por intermédio da Loja União Independente (Lisboa), que anteriormente trabalhava no REAA. No ano seguinte surgiram várias Lojas a trabalhar neste Ritual. Em 1882, o GOLU contava com 59 Lojas, das quais 29 praticavam o REAA, 22 o Rito Francês, 7 o “Rito Simbólico Regular”, e 1 o Rito de Adopção. Estas Lojas do Ritual Emulação protagonizaram uma cisão, saindo para formar a Grande Loja dos Maçons Antigos Livres e Aceites de Portugal (José Dias Ferreira). A partir de 1900, a tendência Republicana foi ganhando peso, no GOLU. Sebastião Magalhães Lima, jornalista, advogado, e político Repúblicano foi eleito Grão Mestre em 1908. As ideias Positivistas e o Livre Pensamento começaram a ter, também, muitos adeptos entre os membros do GOLU, sendo a laicisação e a educação da Sociedade preocupações dominantes das Lojas As Lojas, e os Maçons criaram numerosas Para-Maçónicas orientadas para a Educação Laica, a alfabetização de crianças e adultos, e a instrução popular. As mesmas conduziram à fundação de escolas, e academias de estudos livres (universidades populares).
Por iniciativa do próprio Conselho da Ordem,
impulsionada a partir de 1898, foi fundado o “Vintém das Escolas”, associação destinada a promover a fundação de escolas laicas. A mesma foi dinamizada pelas Respeitáveis Lojas Elias Garcia, e Liberdade (Lisboa). Destacam-se, igualmente, a Academia de Instrução Liberal (1892), e a Liga Nacional de Instrução (1907). As Respeitáveis Lojas José Estevão e A Sementeira fundaram a Sociedade Promotora das Creches, que em 1905 se converteu em Sociedade Promotora das Escolas. A mesma fundou a Escola Oficina nº 1, em Lisboa, destinada a ministrar educação a crianças das classes populares. Com o contributo de vários professores ligados ao movimento libertário Português, nomeadamente do pedagogo Adolfo Lima, a Escola Oficina nº1 constituiu a mais inovadora experiência pedagógica realizada em Portugal, baseada no conceito da “Escola Nova”, de Francisco Ferrer y Guardia. O modelo pedagógico implementado introduziu conceitos tais como co-educação, auto-avaliação, participação dos alunos na gestão da escola, ensino académico conjugado com ensino profissional, tudo isto desenvolvido num espaço de ensino centrado no aluno. Também a luta pela implementação do registo civil foi uma das bandeiras da Maçonaria, nesta sua ação em prol da laicisação da Sociedade Civil. A Associação Propagadora da Lei do Registo Civil teve, também, envolvimento Maçónico. Em 5 de Outubro de 1910 foi instaurada a República, com envolvimento de Maçons nos acontecimentos revolucionários. Em junho tinha sido constituída uma Comissão Maçónica de Resistência, composta por José de Castro (GM Adjunto), Miguel Bombarda, Cândido dos Reis, Francisco Grandela, José Cordeiro Junior, José Simões Raposo, Manuel Martins Cardoso, António Maria da Silva, e Machado Santos, que se articulou com o Diretório do PRP, na preparação da queda da Monarquia. Após o triunfo da revolução, houve uma grande abertura da Maçonaria, e uma identificação com o Regime Repúblicano. No funeral de Miguel Bombarda e Cândido dos Reis, várias Lojas estiveram presentes.
O GOLU cresceu muito substancialmente, em
numero de Lojas, e em Obreiros. Entre 1910 e 1913 ganhou mais de 1000 novos membros. O Governo Provisório contou com 3 ministros Maçons: Afonso Costa, Bernardino Machado e António José de Almeida. Afonso Costa fez aprovar as leis do Registo Civil, do divórcio, da família, materializando a separação da Igreja e do Estado. Diz a tradição, que algumas destas leis foram previamente discutidas na sua Loja (Respeitável Loja O Futuro). Em 1914, o GOLU sofreu a maior cisão da sua História. Por discordância relativamente ao texto da nova Constituição da Obediência, a maior parte das Lojas do REAA, a quase totalidade do Supremo Conselho do 33º Grau, e o seu Soberano Grande Comendador Ferreira de Castro saíram do GOLU, fundando o Grémio Luso Escocês. A cisão durou até 1926. Durante as ditaduras de Pimenta de Castro, e de Sidónio Pais, a Maçonaria foi severamente atacada. Vários Maçons foram presos ou deportados. Os efetivos tanto do GOLU, como do Grémio Luso Escocês começaram a decaír. Na sequência de uma tentativa falhada de assassinato de Sidónio Pais, a população, na noite de 8 para 9 de dezembro de 1918, assaltou e vandalizou o Palácio Maçónico. Por todo o País, instalações Maçónicas foram vandalizadas. Todavia, foi a partir de 1926, com os sucessivos golpes militares que levaram ao advento do Estado Novo, que a situação da Maçonaria se agravou. Em dezembro de 1928 faleceu Magalhães Lima, tendo o seu funeral reunido 20 mil pessoas.
Para o substituir foi eleito António José de Almeida,
tendo, no entanto, também falecido antes de poder ter sido instalado. Em 16 de Abril de 1929, o Palácio Maçónico foi cercado pela Polícia, tendo sido presos todos os presentes, com excepção dos que eram militares. Na sequência, o Palácio ficou encerrado para a atividade das Lojas. Em Junho do mesmo ano, o Conselho da Ordem decretou a triangulação das Lojas. Norton de Matos foi eleito Grão Mestre em 1930, num clima já muito adverso à Maçonaria. Em 1935 foi aprovada a Lei Cabral, que ilegalizou a Maçonaria. O Palácio Maçónico foi confiscado, e entregue à Legião Portuguesa. Em consequência desta legislação, todos os funcionários públicos passaram a ter de subscrever uma declaração de não pertença a “associações secretas”.
Norton de Matos apresentou a sua
demissão do GOLU. Entre 1935 e 1974, a Maçonaria esteve, novamente, ilegalizada em Portugal. À data da sua ilegalização, o GOLU contava ainda com 85 Lojas e 69 Triângulos. Durante todo o período da clandestinidade, após a demissão de Norton de Matos, o GOLU foi dirigido por Luís Gonçalves Rebordão. A pouco e pouco, as Lojas foram desaparecendo. Apenas duas Instituições de caráter filantrópico subsistiram, o Asylo de S. João e a Escola Oficina. A pouca atividade Maçónica decorreu em casas particulares, nas instalações da Escola Oficina e do Asilo de S. João, ou em refeições realizadas em espaços públicos. A pouco e pouco, os sobreviventes foram envelhecendo... Durante o Estado Novo, vários Maçons estiveram envolvidos em atividades, e organizações contra o regime, tendo sido perseguidos por isso. Em 1974, apenas existiam em funcionamento (possível), as Respeitáveis Lojas Sympathia e União, Liberdade, e José Estevão, em Lisboa, e A Revolta, em Coimbra, que totalizavam à volta de 100 Obreiros. O 25 de Abril veio dar nova vida à Maçonaria Portuguesa, impondo a revogação da Lei Cabral. O GOLU reanimou a sua atividade, recuperando a sua designação original, Grande Oriente Lusitano. O Palácio Maçónico foi devolvido pelo Estado ao Grande Oriente Lusitano, albergando hoje a sede da Obediência, o Museu Maçónico Português, e a atividade de cerca de 50 Lojas. A UNIÃO FAZ A FORÇA