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MAÇONARIA EM PORTUGAL

Joaquim Grave dos Santos / 2021


A partir de 1721, a Maçonaria da Primeira
Grande Loja expandiu-se, primeiro em
Inglaterra, e imediatamente a seguir no
Continente Europeu.
Em Portugal, decorria o reinado de D. João
V. A economia Portuguesa tinha
recuperado, depois de quase 100 anos de
dificuldades, devidas ao domínio Espanhol,
à Revolução de 1640, e à subsequente
guerra de independência.
Após o Tratado de Methuen, a Inglaterra era
o principal parceiro comercial do reino, e a
maior parte do comércio de bens
manufaturados estava nas mãos de
comerciantes ingleses.
Lisboa era uma cidade próspera, na
qual vivia uma numerosa comunidade
Britânica. A cidade não se encontrava
muito distante de Inglaterra, pois com
bom tempo 8 dias chegavam para
fazer a viagem marítima.
Para além destas relações
comerciais, haviam muitas trocas
culturais entre os dois reinos, que
mantinham, também, uma Aliança
militar contra Espanha. Devido à
mesma, era frequente a presença de
frotas Britânicas no Porto de Lisboa.
As primeiras evidências da presença de uma Loja
Maçónica, em Lisboa, remontam a 1727.
É muito difícil estudar este período da História da
Maçonaria Portuguesa, por manifesta falta de
fontes primárias.
A principal fonte disponível são os registos do
Tribunal do Santo Ofício. De acordo com os
mesmos, esta Loja seria composta por Britânicos,
protestantes, sendo a Oficina alcunhada pelos
Padres do Santo Ofício de “Loja dos Hereges
Mercadores”.
Um dos principais intervenientes na fundação da
Loja foi William Dugood (1715-1767), Escocês,
católico, joalheiro, Maçon, e espião.
Dugood foi iniciado em Londres, na Loja “The
Goose and Gridiron”, em 1725, constando
também do Quadro da Loja “Three Tuns”.
Foi admitido membro da Royal Society, em 1728,
tendo tido por proponentes Desaguliers e Martin
Folks. Desempenhou um papel ativo, nesta
Instituição, com contribuições em experiências de
Ótica, Eletricidade, e Magnetismo.
Antes disso, cerca de 1720, tinha trabalhado em
Roma, como secretário do Conde de Leicester.
Dugood frequentava a Corte Jacobita, onde foi recomendado ao
Conde de Mar, que o apresentou a Jaime III, descrevendo-o como “o
melhor joalheiro da Europa”, tendo sido contratado pelo Pretendente.
Recrutado como espião por Philip von Stosch, tornou-se seu
informador.
Dugood tornou-se suspeito de ser espião, em
1722, e foi preso sob o pretexto de ser herético.
Stosch usou da sua influência para o libertar, e
assegurou o seu regresso a Londres.
Dugood estabeleceu-se em Londres, e
provavelmente, em 1727, teve uma curta
passagem por Lisboa, que não está
completamente confirmada. Em 1731 regressou a
Itália, para trabalhar para Doroteia Sofia de
Neuburg, Regente do Ducado de Parma.
Já identificado como espião, a pressão Jacobita levou a que tenha
sido despedido. Em 1733, foi para Florença, juntando-se a von
Stosch. Aí chegado, integrou a Loja fundada por este último. Preso
devido a uma falsa acusação de roubo, foi novamente libertado por
intervenção de von Stosch.
Uma vez libertado, viajou para Roma, onde foi
novamente preso. A sua libertação foi muito difícil
de obter, pelo seu Embaixador, tendo sido
embarcado num navio de guerra Britânico, o
Dolphin, que viajava para Inglaterra, com escala
em Portugal.
Tendo desembarcado em Lisboa, Dugood utilizou
cartas de recomendação de Doroteia Sofia de
Neuburg (era irmã da Rainha), e a influência de
Alexandre de Gusmão, um dos favoritos de D.
João V, que ele tinha conhecido em Florença, para
se apresentar na Corte Portuguesa. Trabalhou
para D. João V, e seu filho D. José, tendo morrido
em Portugal. Foi o membro mais importante da
primeira Loja.
A Loja existiu entre 1727 e 1735, reunindo na
casa de pasto de William Rice, situada no
Beco dos Açucares, na freguesia de S. Paulo.
Os seus membros eram Ingleses e
Escoceses, protestantes, na maior parte dos
casos mercadores. São conhecidos os
nomes de 11 deles (Matthew, Scott, Ivens,
Garden…).
Em 1735, a Loja foi regularizada pela GL de
Inglaterra, que incumbiu George Gordon, um
dos colaboradores de Desaguliers, de a vir
instalar. O sucesso desta iniciativa foi
publicitado, tendo a Loja recebido o número
135, e posteriormente o 120.
No “London Evening Post” de 1 junho 1736, foi
noticiado:
“They write from Lisbon, that by Authority of the
Right Hon. The Earl of Weymouth, the then
Grand Master of all Mason Lodges, Mr. George
Gordon, Mathematician, has constituted a lodge
of free and accepted Masons in that city; and
that a great many merchants of the factory, and
other people of distinction, have been received
and regularly made Free Masons; that Lord
George Graham, Lord Forrester, and a great
many other gentlemen belonging to the English
Fleet, being Brethren, were present at
constituting the lodge; and ‘tis expected that in
short time it will be one of the greatest
abroad...”.
Todavia, em 1736, já havia (desde 1733) outra Loja
Maçónica a trabalhar em Lisboa, na mesma casa
de pasto. Era composta por Escoceses, Irlandeses,
dois Ingleses, e um Hungaro, Carlos Mardel.
George Gordon esteve também envolvido na
fundação desta Loja, que tinha mais ou menos 24
membros, a maioria dos quais católicos. Eram
mercadores, militares, marinheiros, Frades
Dominicanos, o estalajadeiro, dois médicos, um
mestre de dança, e um cabeleireiro.
A Loja intitulava-se “Casa Real dos Pedreiros Livres da Lusitânia”.
Reuniam, ordinariamente, na primeira quarta-feira de cada mês, e
extraordinariamente quando haviam recepções. As Sessões
ordinárias decorriam à mesa, e tinham refeições em comum, com
música, canto, e palestras científicas sobre Matemática, Medicina, e
Arquitetura.
James O’Kelly, Mestre de Dança, e Hugh
O’Kelly, militar, foram os Mestres desta
Loja.
Em 1738, George Gordon recebeu, da
Grande Loja dos Modernos, uma Patente
para instalar regularmente esta Loja. Tal
não chegou a acontecer, pois, em 28 de
Abril de 1738, o Papa Clemente XII
promulgou uma Bula (“In Eminenti
Apostolus Specula”) condenando a
Maçonaria.
A promulgação da Bula deu origem a troca de
correspondência entre o núncio em Lisboa, Carlo
Orsini di Cavalieri, arcebispo de Tarso, e a Santa Sé,
bem como entre o mesmo núncio e o Cardeal D.
Nuno da Cunha e Ataíde, inquisidor-mor.

D. Nuno publicou um Edital, para ser lido e afixado em


todas as Igrejas do Reino, que constitui o primeiro
momento de perseguição da Maçonaria, em Portugal.
“...Fazemos saber a quantos o presente virem, ou
dele por qualquer via tiverem notícia, que às nossas
mãos chegou uma Constituição do Santíssimo
Padre, o Papa Clemente XII (...) na qual Sua
Santidade, movido do seu apostólico zelo, reprova e
condena umas certas sociedades, ajuntamentos,
coleções, agremiações, ou conventículos intitulados
liberi muratori, ou francs-maçons, vulgo
pedreiros-livres; (...) As quais sociedades e
ajuntamentos se têm introduzido em muitas partes,
por pessoas de qualquer religião, e seita, afetando
certa espécie de bondade natural, e obrigando-se a
um inviolável segredo, por juramento tomado na
sagrada Bíblia, com cominação de graves penas,
conforme as leis e estatutos particulares que têm...”
“...E porque Sua Santidade declara na dita sua Constituição, que
semelhantes sociedades e ajuntamentos são prejudiciais não só à
República temporal, mas também à espiritual; e proíbe e manda a
todos os fiéis cristãos de um e outro sexo que nenhum se atreva,
com qualquer pretexto, ou disfarce ir às ditas sociedades,
ajuntamentos, coleções, agregações, ou conventículos (...) antes
totalmente se abstenham deles, sob pena de excomunhão contra os
transgressores, da qual reserva a si, e à Sé Apostólica a absolvição,
fora de artigo da morte.
(...) E para que venha à notícia de todos: Mandamos, auctoritate
apostolica, a todas as pessoas assim eclesiásticas, como seculares,
isentas, e não isentas, em virtude da santa Obediência, sob pena de
excomunhão maior, ipsofacto incurrenda, cuja absolvição a nós
reservamos, que sabendo de algumas outras que se agregam as ditas
sociedades (...) e das matérias que nelas se tratam, as …”
“...denunciem ou mandem denunciar à Mesa do Santo Ofício do
distrito em que estiverem dentro de trinta dias (...).
E para que se não possa alegar ignorância: Mandamos, com a
mesma pena de excomunhão maior a todos os abades, priores,
reitores, curas, e prelados dos conventos destes reinos, e senhorios,
a que for apresentado este nosso edital, o leiam, e publiquem, ou
façam ler, e publicar em suas igrejas na estação, ou pregação de
primeiro domingo, ou dia santo depois de lhe ser dado; e lido, e
publicado será afixado nas portas principais das mesmas igrejas,
donde não será tirado sem nossa licença…”.
A Loja foi denunciada à Inquisição pelo
Padre Charles O’Kelly. Alguns dos seus
membros auto-denunciaram-se, tendo
outros sido convocados pelo Tribunal.
No Acordão, de 18 de Outubro 1738,
concluiu-se que a Loja já se tinha dissolvido,
e que:
“...os seus membros entraram na sociedade
por considerarem que nada havia em
contradição com a religião e que não era outra
coisa a dita congregação mais do que um
modo de conciliar, e fomentar a sociedade
humana, e de se juntarem uns aos outros nas
matérias do seu interesse, e de suas
honras…”. O processo ficou por aqui.
Em 1741, uma nova Loja começou a trabalhar, em
Lisboa, tendo existido até 1743. A Loja tinha 30
membros, a maioria dos quais Franceses, incluindo
12 mercadores, alguns dos quais joalheiros
relacionados com a lapidação de diamantes. Havia,
também, um guarda-livros, capitães de navios, um
alfaiate, e um estalajadeiro. Conhecem-se as
identidades de 25 dos seus membros. Para além
dos Franceses, havia um Holandês, um Italiano,
quatro Ingleses não identificados, e um Português,
D. Manuel de Sousa, administrador dos morgados
de Calhariz, Monfalim, Fonte do Anjo, e Santa
Maria dos Olivais, familiar do Santo Ofício, e
Capitão da Guarda Real Alemã. Morreu em 1758,
em consequência de tortura, no âmbito do
Processo dos Távoras.
A figura central da Loja foi o seu Venerável, John Coustos, Inglês de
origem Suiça. Joalheiro e lapidário de diamantes de profissão, foi
iniciado nos anos 20, em Londres, na “Rainbow Coffee House”, tendo
sido um dos fundadores da “Prince Eugene’s Head”.
Espião do governo Britânico, deslocou-se a Paris, em 1736, tendo
fundado a Loja “Coustos-Villeroy”. Em 1741, veio para Lisboa,
pretensamente em trânsito para o Brasil, tendo de imediato fundado a
sua Loja.
Denunciado à Inquisição, foi preso em 1743, juntamente com
Alexandre Jacques Mouton, e Jean Thomas Bruslé, sendo no mês
seguinte preso Jean-Baptiste Richard. Lambert Boulanger
apresentou-se voluntariamente ao Tribunal do Santo Ofício. O
processo durou mais de um ano, no qual todos os acusados foram
torturados, com excepção de Lambert Boulanger.
Jean-Baptiste Richard e Lambert Boulanger
foram libertados.
Alexandre Jacques Mouton e Jean Thomas
Bruslé foram condenados a penitências
espirituais, e interditados de viver em Lisboa
durante 5 anos.
Coustos foi condenado a uma pena de
quatro anos nas galeras, tendo sido
libertado, por intervenção do Embaixador
Britânico, regressando a Inglaterra. Em
1746, publicou o livro “The Sufferings of
John Coustos for Free-Masonry”.
Quando comparamos o relato de Coustos
com o que consta do seu Processo, que se
encontra nos Arquivos do Tribunal do Santo
Ofício, constata-se que a sua versão é
muito exagerada, tanto no que se refere
aos procedimentos de tortura a que foi
exposto, como à sua resistência em
divulgar os “segredos” da Maçonaria.
Com a subida ao Trono de D. José, e a ascenção do
Marquês de Pombal, a situação da Maçonaria
melhorou.
Pombal tinha sido Diplomata em Londres, onde foi
membro da Royal Society, e em Viena. Existem
registos de ter visitado a Loja “Aux Trois Cannons”.

Vários aristocratas Portugueses, que


residiram no estrangeiro, e foram
influenciados pelas ideias iluministas,
poderão ter sido iniciados, neste período.
A vinda do Conde de Lippe, para reorganizar o
Exército Português (1762-1764 e 1767-1768)
deu novo alento à Maçonaria. Não só era
Maçon, como também o eram vários oficiais
que trouxe consigo. Surgiram Lojas em
localidades com guarnições militares, tais
como Lisboa, Elvas, Olivença, e Valença.

Encontram-se informações em processos da Inquisição.


Há referência a uma Loja em Lisboa, que teve por
Venerável Van Dalen, secretário do embaixador
holandês, com reuniões em sua casa, numa fragata, e
numa casa na R. da Estrela. A Loja teve 11 membros,
todos estrangeiros, na maior parte militares.
Em Coimbra, surgiu uma Loja com Portugueses,
que envolveu o matemático José Anastácio da
Cunha. Na Madeira, a Maçonaria também se
desenvolveu, sendo contudo reprimida.
Sociologicamente, esta Maçonaria Pombalina foi
muito diferente da das primeiras Lojas, nas quais
predominavam os comerciantes. Neste período
acorreram às Lojas militares, aristocratas, e
académicos.
Com a morte de D. José, e a subida ao Trono de D. Maria I, deu-se a
queda de Pombal (Viradeira). D. Maria era muito influenciada pelos
setores mais conservadores da aristocracia, e da Igreja, pelo que se
intensificaram as perseguições à Maçonaria.
José Anastácio da Cunha foi preso pela Inquisição, retroativamente, em
1778, acusado de ter pertencido a uma Loja em Valença, muitos anos
antes.
O poeta Francisco Manuel do Nascimento (Filinto Elísio), e o botânico
Avelar Brotero tiveram de se exilar, para não serem presos. Começou a
caça “aos libertinos, aos heréticos, e aos pedreiros livres”.
Apesar de tudo, em 1779, foi fundada por Maçons a
Academia Real das Ciências.
Foram seus principais impulsionadores o Abade
Correia da Serra, e o Duque de Lafões.
Com o advento da Revolução Francesa, as
perseguições aumentaram ainda mais, sendo os
anos de 1791, e de 1792, anos de violenta
repressão, culminando com a publicação de um
novo edital, por parte da Inquisição. O Santo
Ofício, entre 1791 e 1807, moveu 34 processos
contra Maçons.

Também as autoridades civis, lideradas pelo Intendente


Geral de Polícia, Pina Manique, mantiveram intensa
repressão sobre as possíveis atividades maçónicas,
num cenário internacional europeu muito complexo, de
guerra generalizada.
Em síntese, podemos concluir:

- A Maçonaria, durante o século XVIII, em Portugal, foi


essencialmente um fenómeno de estrangeiros, com muito pouca
presença de Portugueses nas Lojas.
- O número de Lojas foi muito reduzido (cerca de 20), na maior
parte dos casos com vida muito efêmera (2-3 anos).
- Este atraso, na implantação da Maçonaria em Portugal, deveu-se
sobretudo à aplicação da Bula de Clemente XII, e subsequente
ação do Tribunal do Santo Ofício, e aos paradigmas da Sociedade
Portuguesa.
A guerra com a França Revolucionária, em aliança
com Espanha (Campanha do Roussilhão), e a
subsequente tensão com Espanha e França
(Guerra das Laranjas), ocasionaram a vinda para
Portugal de contingentes Ingleses, que abriram
novas Lojas militares.
Também a vinda de emigrados Franceses (Duque
de Montmorency-Luxembourg), em fuga da
Revolução, vieram dar um novo “impulso” à
Maçonaria Portuguesa, que se “afrancesou”, e
progrediu.
Começaram a surgir Lojas Portuguesas, a partir
de 1797, funcionando uma a bordo da fragata
Fénix. A Loja Regeneração chegou a ter 140
membros.
Até 1801, surgiram mais 6 Lojas em Lisboa (União, Virtude, Fortaleza,
Concórdia, Amizade, e Razão), congregando duas centenas de
Obreiros. Todavia, a partida dos contingentes Ingleses (1800), e dos
emigrantes Franceses (1802), veio reduzir a atividade maçónica.
A Maçonaria Portuguesa começou, no entanto, a querer organizar a
sua atividade numa Obediência.
Em 1801 realizou-se uma reunião de Maçons no
Palácio do General Gomes Freire, presidida pelo
Padre José Joaquim de Carvalho e Oliveira, por ter
o Grau de “Cavaleiro Escocês”, que juntamente com
Hipólito José da Costa, e com o Prior dos Anjos
José Ferrão de Mendonça e Sousa, se avistaram
com D. Rodrigo de Sousa Coutinho, recebendo
garantias de que a Maçonaria não seria perseguida.

Hipólito José da Costa Pereira de Furtado de Mendonça deslocou-se


a Londres, tendo recebido da GL dos Modernos (Duque de Sussex)
uma Patente para instalar uma GL Portuguesa. Deslocou-se, depois,
a Paris, onde contactou o Grande Oriente de França.No regresso a
Portugal, foi preso no Limoeiro, tendo-lhe sido apreendidos os
documentos que tinha consigo.
Entregue pelas autoridades civis à Inquisição,
Hipólito José da Costa permaneceu preso 3 anos
nas prisões do Santo Ofício, no Rossio, tendo
conseguido evadir-se, em 1805. Escondido no
Alentejo, passou por Espanha, tendo conseguido
chegar a Londres, onde se fixou.
Hipólito José da Costa traduziu o “Récueil
Précieux de la Maçonnerie Adonhiramite”, de
Louis Guillemain de Saint Victor, tendo esta
obra tido importância na prática ritual
Portuguesa e Brasileira.
A partir de Londres, publicou o “Correio
Braziliense”, sendo considerado o pai da
Imprensa Brazileira.
Nos últimos anos do séc. XVIII, e nos primeiros
do séc. XIX, tanto as Maçonarias Inglesa como
Francesa tiveram muita influência em Portugal.
O Duque de Sussex viveu em Lisboa entre 1801
e 1805, tendo posteriormente sido GM da GL dos
Modernos, e da UGLE.

Também o Embaixador Francês, Duque de


Lannes, viria a ser um alto dignitário do Grande
Oriente de França.
Apesar de tudo, o Grande Oriente Lusitano terá sido
fundado, em 1802. Nos primeiros meses de 1804,
realizaram-se eleições para os seus dignitários.
Foi eleito Grão Mestre o desembargador Sebastião
José de Sampaio Melo e Castro, neto do Marquês
de Pombal (Nome Simbólico Egas Moniz).

Foi eleito Grande Orador José


Liberato Freire de Carvalho.
Em 25 de Abril de 1804, foi celebrado
um Tratado de Amizade, entre o GOL e
o GOdF. Ratificado em Portugal, nunca
o foi em França.
Existem evidencias do relacionamento
do GOL com Lojas Francesas,
nomeadamente com a Loja-Mãe do
Rito Escocês Filosófico (Paris).
Também a Loja “Les Chevaliers
de la Croix”, de Paris, tinha
relações com Portugal, e
contou com vários membros
Portugueses, no seu Quadro.
Em 1806, o Grande Oriente Lusitano aprovou a
sua primeira Constituição, claramente de influência
Francesa.
Nos termos deste Documento, o GOL era
constituído pela Grande Dieta, e por mais sete
dignitários por ela eleitos (Grão Mestre, Grande
Administrador, 1º Vigilante, 2º Vigilante, Grande
Orador, Grande Secretário, Grande Tesoureiro.
O GOL federava Lojas, e Capítulos.
Nas Lojas conferiam-se os Graus Simbólicos (Aprendiz,
Companheiro, e Mestre). Nos Capítulos, os Graus Misteriosos, ou
Ordens (Eleito Secreto, Grande Eleito Escocês, Cavaleiro do Oriente,
Soberano Príncipe Rosa Cruz). Estava prevista a existência de
Grande Lojas Provinciais.
A situação de Portugal complicou-se, com a recusa
de adesão ao Bloqueio Continental, imposto por
Napoleão a Inglaterra. O reino foi invadido por um
exército franco-espanhol, comandado pelo Marechal
Junot. A família Real viajou para o Brasil, tendo ficado
nomeada uma Regência, que não devia opor
qualquer resistência à invasão.
Uma delegação do GOL foi receber Junot, a
Sacavém, juntamente com a Regência. Integrava os
irmãos do Grão Mestre. Durante a ocupação, muitos
pedidos de regularização, e de filiação, foram
apresentados às Lojas Portuguesas, por Franceses.
Junot pretendeu ser eleito Grão Mestre, o que não foi
aceite pela Maçonaria Portuguesa.
O GOL respondeu a Junot recusando as suas
pretensões, porque:
- Já existia um GM, pelo que o lugar não estava
vago;
- Tal dignidade devia ser ocupada por um
Português;
- Não era tempo de eleições;
- Porque a Junot faltavam qualidades que o
habilitassem ao exercício do cargo.

A Maçonaria criou o Conselho Conservador de Lisboa, em 1808, para


“...lutar contra a ocupação, defender a religião católica, restaurar a
independência, e restituir o Trono ao seu legítimo príncipe…”. Mesmo
assim, após a retirada de Junot, a Maçonaria, e a Academia das
Ciências foram vistas como colaboracionistas.
A partir de 1809, a Maçonaria foi novamente
perseguida, enquanto decorreram as subsequentes
invasões Francesas.
Entre 10 e 13 de Setembro de 1810, em reação à
tomada de Almeida por Massena, 48 Maçons foram
arbitrariamente presos, e embarcados para a ilha
Terceira, na fragata Amazonas. Por intercessão da
Maçonaria Inglesa, alguns foram autorizados a
emigrar para Inglaterra, entre os quais o Grão
Mestre, Sebastião de Sampaio.
Este episódio ficou conhecido por “Setembrizada”.
A partir de 1812, com o fim da guerra, a Maçonaria
renasceu.
Em 1815, os deportados pela Setembrizada, e
alguns exilados políticos, nomeadamente os
antigos combatentes da Legião Portuguesa,
regressaram a Portugal, entre eles o General
Gomes Freire de Andrade.
O mesmo foi eleito Grão Mestre do Grande
Oriente Lusitano, em 1815, sendo instalado em
1816.
O Rei permanecia no Brasil, sendo o governo
de Portugal continental assegurado por um
Conselho de Regência, e os exércitos
comandados pelo Marechal Beresford.
Após delação de três Maçons, o Marechal
Beresford, na posse de elementos de uma
conspiração para derrubar o governo, acionou o
auditor do exército, para proceder à prisão dos
implicados.
O processo terá sido instigado por Miguel Pereira
Forjaz, membro do Conselho de Regência, que
pretendia implicar na conspiração todos os
inconvenientes ao poder, bem como Maçons.
Foram presos e processados, acusados de
pertencerem a uma organização denominada
Supremo Conselho Regenerador, que visava a
substituição de D. João VI pelo Duque de Cadaval,
18 implicados.
Foram envolvidos no processo:
- Gomes Freire de Andrade, Tenente-General;
- Joaquim José Pinto da Silva, Alferes;
- José Campelo de Miranda;
- José Ribeiro Pinto, Alferes;
- Manuel Monteiro de Carvalho, Coronel de milícias reformado;
- Francisco António de Sousa, Arquiteto;
- Pedro Ricardo de Figueiró, Capitão;
- José Francisco das Neves, Major;
- Henrique José Garcia de Morais, ex Sargento;
- António Cabral Calheiros Furtado e Lemos, ex Alferes;
- Manuel de Jesus Monteiro, Capitão;
- Manuel Inácio de Figueiredo;
- Maximiano Dias Ribeiro;
- António Pinto da Fonseca Neves, Segundo Tenente;
- Frederico, Barão de Eben;
- Veríssimo António Ferreira da Costa, ex Tenente Coronel;
- Cristovão da Costa, Alferes;
- Francisco Leite Sodré da Gama.
No âmbito do processo, foram absolvidos 2 acusados, foram
condenados 3 a penas de degredo em Angola ou em Moçambique, e
o Barão de Eben, por ser estrangeiro, foi expulso do país.
Todos os restantes acusados foram condenados à morte.
Dos condenados à morte, e deportados, pelo menos 6 eram Maçons.
Em 18 de Outubro de 1817, Gomes
Freire foi enforcado junto ao Forte de
S. Julião da Barra. Os restantes 11
condenados foram executados no
Campo Santana (Campo dos
Mártires da Pátria).

O Grande Oriente Lusitano suspendeu os seus


Trabalhos.
Em consequência destes acontecimentos, e da
revolta de Pernambuco, D. João VI publicou um
Alvará proibindo a Maçonaria.
Pela primeira vez, no ordenamento jurídico
Português, foi publicada legislação que
formalmente condenava a Maçonaria.
Em 1820, deu-se a Revolução Liberal,
impulsionada por uma organização
secreta, o Sinédrio. Muito embora 13 dos
seus membros tenham vindo a ser
Maçons, e 2 até Grão Mestres do Grande
Oriente Lusitano, à data poucos o eram.
Tal era o caso de Manuel Fernandes
Tomás.
Todavia, dos 15 membros da Junta Provisional do
Governo Supremo do Reino, formada no Porto, 9
viriam a ser Maçons.
Da Junta Provisional conjunta, depois da revolta de 15
de Setembro, em Lisboa, dos 12 membros 8 viriam a
ser Maçons.
O GOL retomou a atividade, sendo eleito Grão
Mestre João da Cunha Sottomaior, em 1822.
Em 1821, tinha sido aprovada uma nova
Constituição, com uma arquitetura muito
semelhante à que veio a ter a Constituição
Liberal de 1822.
Neste período a Maçonaria desenvolveu-se, mas
muito desorganizadamente. Surgiram várias
Lojas, que não se filiaram no GOL, e o
envolvimento político dos Maçons foi muito
grande, sendo também assinalável a sua
intervenção em Associações Científicas, e
Literárias.
Em 1823, José da Silva Carvalho foi eleito Grão
Mestre do GOL.
Todavia, no mesmo ano, o Infante D. Miguel,
apoiado pela sua mãe, organizou um golpe
militar de sentido absolutista (Vilafrancada). Uma
das consequências deste reforço da
contra-revolução foi a publicação da Carta de Lei
de 20 de 20 de Junho de 1823, contra as
Sociedades Secretas.
Na sequência, deram-se novas perseguições e
deportações. José da Silva Carvalho teve de
emigrar. A propaganda anti-maçónica tornou-se
particularmente violenta, sendo impulsionada
pelos setores mais conservadores da Igreja
Católica.
Em 1824, D. Miguel tentou novo golpe militar,
que falhou. O mesmo, que teve o apoio do
Patriarca, Cardeal Carlos I, foi justificado pela
necessidade de proteger D. João VI de um
eventual complot da Maçonaria. Na
sequência, D. Miguel foi forçado ao exílio, em
Viena.
Foi publicado um novo édito contra a
Maçonaria, que no entanto suavizou as penas
previstas nos anteriores.
Com a morte de D. João VI, sucedeu-lhe seu
filho D. Pedro IV, à época já Imperador do
Brasil. D. Pedro foi Maçon, e a Maçonaria
esteve envolvida na Independência do Brasil.

Todavia, após a Independência, D. Pedro ilegalizou a


Maçonaria, neste País.
D. Pedro tentou encontrar uma solução de
conciliação, mediante a imposição da Carta
Constitucional, e da sua abdicação a favor da sua
filha Maria II, sendo a regência, até à sua
maioridade, assegurada pela Infanta Isabel Maria.

Todavia, a situação gerou forte instabilidade até


1828, que levou à aceitação do regresso de D.
Miguel, com o compromisso de jurar a Carta
Constitucional. D. Miguel não respeitou o
compromisso, e auto-proclamou-se Rei absoluto,
iniciando-se um período de intensas perseguições.
O Miguelismo deu origem a uma guerra civil,
e a emigração. Durante muito tempo as
forças liberais estiveram reduzidas à ilha
Terceira, tendo havido concentrações de
refugiados políticos Portugueses, em
Inglaterra, em França, e na Bélgica.
Houve Lojas de Portugueses em Plymouth,
tendo havido integração de refugiados em
Lojas de Brest (“Les Amis de Sully”), e de
Paris, para além de também ter havido uma
Loja de Portugueses nesta cidade.
Porém, divergências de alinhamento político
entre os emigrantes, conduziram à fratura do
Grande Oriente Lusitano, no exílio.
Enquanto que o Grão Mestre José da Silva Carvalho
se manteve alinhado com a fação do Duque de
Palmela (mais conservadora), o Duque de Saldanha,
lidér da facção mais progressista provocou uma cisão.
Entre 1828 e 1831, instituiu-se Grão Mestre, em Paris,
de uma nova Obediência também designada de
Grande Oriente Lusitano.
Depois do fim da guerra civil (1834), e da implantação
definitiva do Regime Constitucional, a Maçonaria
retomou grande influência na vida pública, mas
manteve-se dividida, em função das facções políticas.
Silva Carvalho manteve-se à frente do Grande
Oriente Lusitano até 1839, sendo sucedido no
Grão Mestrado por Manuel Gonçalves de
Miranda, que veio a falecer em funções, em
1841.
O Grande Oriente Lusitano de
Saldanha, dividiu-se em
Maçonaria do Norte, e
Maçonaria do Sul.
A Maçonaria do Norte teve por
Grão Mestre Passos Manuel.
Todas estas Obediências
eram compostas por Lojas
que trabalhavam no Rito
Francês.
Até 1841, as
duas facções
Maçónicas
foram
equilibradas em
número, e
politicamente
opostas.
A eleição de António da Costa Cabral para Grão
Mestre do GOL, sucedendo a Manuel Gonçalves
de Miranda, conduziu a um significativo aumento
da Obediência, com intuitos políticos.
Descontentes com a situação, José da Silva Carvalho e Rodrigo da
Fonseca Magalhães, sairam do GOL para fundarem o Grande Oriente
do Rito Escocês.
Adotaram o Rito Escocês Antigo e Aceite, que tinha sido muito
recentemente introduzido em Portugal.
Um comerciante de Gibraltar, John Coelho,
fundou, em 1839, uma Loja em Lisboa
denominada Regeneração, sob os auspícios da
GL da Irlanda. A mesma deu origem a outras três,
com o mesmo nome. Este conjunto veio a
constituir a GL Provincial de Portugal da GL da
Irlanda, que poderá ter introduzido o REAA no
nosso país.
Entre 1841 e 1843 fundaram-se dois
Supremos Conselhos do 33º Grau do
Rito Escocês Antigo e Aceite, o
primeiro impulsionado por Silva
Carvalho, e o segundo por Costa
Cabral. Ambos foram instalados com
Cartas-Patente Brasileiras.
Em 1857, também a Grande Loja
Provincial da Irlanda promoveu a
Instalação de um Supremo Conselho,
com Carta-Patente do Supremo
Conselho da Irlanda.
Um terceiro esforço para criar uma Maçonaria
renovada, alheia à política, e mais virada para o
Simbolismo, o Ritual, e a Filantropia surgiu por
iniciativa de Miguel António Dias, que fundou em
1859 o Grande Oriente da Maçonaria Eclética
Lusitana.
Esta Obediência trabalhava numa variante muito
simplificada do Rito Francês, denominada Rito
Eclético Lusitano, que ele criou, tendo durado até
1861.
O Grande Oriente Lusitano veio
a sofrer com as vicissitudes do
Cabralismo. Na sucessão de
António Bernardo da Costa
Cabral, os seus dois irmãos
disputaram o Grão Mestrado.
Tendo sido eleito José da Silva
Cabral, João Rebelo Cabral
contestou a eleição.
Um terceiro grupo, liderado por
Moura Coutinho, pôs-se à
margem, e alterou o nome da
Obediência para Grande
Oriente de Portugal.
A seguir à guerra civil de 1846-1847, a
Maçonaria do Norte quase desapareceu. O que
restou juntou-se à Maçonaria do Sul, dando
origem à Confederação Maçónica Portuguesa.
Esta Obediência teve duas cisões, de vida
breve, que se denominaram Federação
Maçónica Portuguesa, e a Confederação
Maçónica Progressista de Portugal.
O Duque de Loulé foi quem ocupou mais tempo
o Grão Mestrado da Confederação Maçónica
Portuguesa.
Era Grão Mestre da Confederação Maçónica
José Estevão Coelho de Magalhães, quando se
deu a Expulsão das Irmãs da Caridade de S.
Vicente de Paulo (Francesas).
Por iniciativa de José Estevão foi fundado o
Asylo de S. João, destinado a receber as
crianças a cargo das Irmãs da Caridade. Esta
Instituição (hoje Internato de S. João) ainda
existe, tendo chegado a acolher 80 crianças.
Nesta época a Maçonaria começou a ter uma
intervenção social relevante, tendo participado
na fundação de Para-Maçónicas viradas para
a educação popular.
Em 1859, a Loja Tolerância foi irradiada do Grande
Oriente de Portugal. Esta Oficina conseguiu
agregar outras, dando origem a uma Obediência
denominada Grande Oriente Lusitano, que veio a
eleger como Grão Mestre D. Francisco Inácio de
Paula Noronha, Conde de Paraty.
Na década de 60, esta Obediência teve um
crescimento assinalável, e começaram a haver
iniciativas no sentido de se proceder à reunificação
da Família Maçónica Portuguesa.
Em 1865 era Grão Mestre da Confederação
Maçónica Mendes Leal, e começaram a ser
acordadas bases para a reunificação (Grande
Oriente Lusitano / Confederação Maçónica
Portuguesa / Grande Oriente de Portugal). O
processo, todavia abortou.
No ano seguinte, a Confederação Maçónica e o
Grande Oriente de Portugal fundiram-se, dando
origem ao Grande Oriente Português, que tinha por
Grão Mestre Mendes Leal.
Em 1869, o Grande Oriente Português fundiu-se
com o Grande Oriente Lusitano, dando origem ao
Grande Oriente Lusitano Unido.
O Grande Oriente Lusitano Unido elegeu como
Grão Mestre o Conde de Paraty, ficando Mendes
Leal com o título de Grão Mestre de Honra.
A Maçonaria Portuguesa ganhou um
reconhecimento internacional que não tinha tido,
até aí.
Em 1889, foi adquirido o Palácio
Maçónico, que foi inaugurado no
ano seguinte, após conclusão das
obras de adaptação do edifício.
Até ao fim do século XIX, o GOLU
não parou de crescer, tendo
integrado Lojas em Espanha,
Roménia, e Bulgária.
Em 1880, foi introduzido no GOLU o Ritual
de Emulação, rebatizado de “Rito Simbólico
Regular”. Tal sucedeu por intermédio da Loja
União Independente (Lisboa), que
anteriormente trabalhava no REAA.
No ano seguinte surgiram várias Lojas a trabalhar neste
Ritual.
Em 1882, o GOLU contava com 59 Lojas, das quais 29
praticavam o REAA, 22 o Rito Francês, 7 o “Rito
Simbólico Regular”, e 1 o Rito de Adopção. Estas Lojas
do Ritual Emulação protagonizaram uma cisão, saindo
para formar a Grande Loja dos Maçons Antigos Livres e
Aceites de Portugal (José Dias Ferreira).
A partir de 1900, a tendência Republicana foi
ganhando peso, no GOLU. Sebastião Magalhães
Lima, jornalista, advogado, e político Repúblicano
foi eleito Grão Mestre em 1908.
As ideias Positivistas e o Livre Pensamento
começaram a ter, também, muitos adeptos entre
os membros do GOLU, sendo a laicisação e a
educação da Sociedade preocupações dominantes
das Lojas
As Lojas, e os Maçons criaram numerosas
Para-Maçónicas orientadas para a Educação Laica,
a alfabetização de crianças e adultos, e a instrução
popular. As mesmas conduziram à fundação de
escolas, e academias de estudos livres
(universidades populares).

Por iniciativa do próprio Conselho da Ordem,


impulsionada a partir de 1898, foi fundado o “Vintém
das Escolas”, associação destinada a promover a
fundação de escolas laicas. A mesma foi dinamizada
pelas Respeitáveis Lojas Elias Garcia, e Liberdade
(Lisboa).
Destacam-se, igualmente, a Academia de Instrução
Liberal (1892), e a Liga Nacional de Instrução (1907).
As Respeitáveis Lojas José Estevão e A
Sementeira fundaram a Sociedade
Promotora das Creches, que em 1905 se
converteu em Sociedade Promotora das
Escolas. A mesma fundou a Escola Oficina
nº 1, em Lisboa, destinada a ministrar
educação a crianças das classes populares.
Com o contributo de vários professores
ligados ao movimento libertário Português,
nomeadamente do pedagogo Adolfo Lima, a
Escola Oficina nº1 constituiu a mais
inovadora experiência pedagógica realizada
em Portugal, baseada no conceito da
“Escola Nova”, de Francisco Ferrer y
Guardia.
O modelo pedagógico implementado
introduziu conceitos tais como
co-educação, auto-avaliação,
participação dos alunos na gestão da
escola, ensino académico conjugado
com ensino profissional, tudo isto
desenvolvido num espaço de ensino
centrado no aluno.
Também a luta pela implementação
do registo civil foi uma das
bandeiras da Maçonaria, nesta sua
ação em prol da laicisação da
Sociedade Civil.
A Associação Propagadora da Lei
do Registo Civil teve, também,
envolvimento Maçónico.
Em 5 de Outubro de 1910 foi instaurada
a República, com envolvimento de
Maçons nos acontecimentos
revolucionários.
Em junho tinha sido constituída uma
Comissão Maçónica de Resistência,
composta por José de Castro (GM
Adjunto), Miguel Bombarda, Cândido
dos Reis, Francisco Grandela, José
Cordeiro Junior, José Simões Raposo,
Manuel Martins Cardoso, António Maria
da Silva, e Machado Santos, que se
articulou com o Diretório do PRP, na
preparação da queda da Monarquia.
Após o triunfo da revolução, houve uma
grande abertura da Maçonaria, e uma
identificação com o Regime Repúblicano.
No funeral de Miguel Bombarda e Cândido
dos Reis, várias Lojas estiveram presentes.

O GOLU cresceu muito substancialmente, em


numero de Lojas, e em Obreiros. Entre 1910 e 1913
ganhou mais de 1000 novos membros.
O Governo Provisório contou com 3 ministros
Maçons: Afonso Costa, Bernardino Machado e
António José de Almeida.
Afonso Costa fez aprovar as leis do Registo Civil,
do divórcio, da família, materializando a separação
da Igreja e do Estado.
Diz a tradição, que algumas destas leis foram
previamente discutidas na sua Loja (Respeitável
Loja O Futuro).
Em 1914, o GOLU sofreu a maior cisão da sua
História. Por discordância relativamente ao texto
da nova Constituição da Obediência, a maior parte
das Lojas do REAA, a quase totalidade do
Supremo Conselho do 33º Grau, e o seu Soberano
Grande Comendador Ferreira de Castro saíram do
GOLU, fundando o Grémio Luso Escocês. A cisão
durou até 1926.
Durante as ditaduras de Pimenta de Castro, e de
Sidónio Pais, a Maçonaria foi severamente atacada.
Vários Maçons foram presos ou deportados.
Os efetivos tanto do GOLU, como do Grémio Luso
Escocês começaram a decaír.
Na sequência de uma tentativa falhada
de assassinato de Sidónio Pais, a
população, na noite de 8 para 9 de
dezembro de 1918, assaltou e
vandalizou o Palácio Maçónico. Por todo
o País, instalações Maçónicas foram
vandalizadas.
Todavia, foi a partir de 1926, com os
sucessivos golpes militares que
levaram ao advento do Estado Novo,
que a situação da Maçonaria se
agravou.
Em dezembro de 1928 faleceu
Magalhães Lima, tendo o seu funeral
reunido 20 mil pessoas.

Para o substituir foi eleito António José de Almeida,


tendo, no entanto, também falecido antes de poder ter
sido instalado.
Em 16 de Abril de 1929, o Palácio Maçónico
foi cercado pela Polícia, tendo sido presos
todos os presentes, com excepção dos que
eram militares. Na sequência, o Palácio
ficou encerrado para a atividade das Lojas.
Em Junho do mesmo ano, o Conselho da
Ordem decretou a triangulação das Lojas.
Norton de Matos foi eleito Grão Mestre em
1930, num clima já muito adverso à
Maçonaria.
Em 1935 foi aprovada a Lei Cabral, que ilegalizou a
Maçonaria. O Palácio Maçónico foi confiscado, e
entregue à Legião Portuguesa. Em consequência
desta legislação, todos os funcionários públicos
passaram a ter de subscrever uma declaração de
não pertença a “associações secretas”.

Norton de Matos apresentou a sua


demissão do GOLU. Entre 1935 e
1974, a Maçonaria esteve,
novamente, ilegalizada em Portugal.
À data da sua ilegalização, o GOLU contava ainda
com 85 Lojas e 69 Triângulos.
Durante todo o período da clandestinidade, após a
demissão de Norton de Matos, o GOLU foi dirigido por
Luís Gonçalves Rebordão.
A pouco e pouco, as Lojas foram desaparecendo.
Apenas duas Instituições de caráter filantrópico
subsistiram, o Asylo de S. João e a Escola Oficina.
A pouca atividade Maçónica decorreu em casas
particulares, nas instalações da Escola Oficina e
do Asilo de S. João, ou em refeições realizadas
em espaços públicos. A pouco e pouco, os
sobreviventes foram envelhecendo...
Durante o Estado Novo,
vários Maçons estiveram
envolvidos em atividades, e
organizações contra o
regime, tendo sido
perseguidos por isso.
Em 1974, apenas existiam em
funcionamento (possível), as Respeitáveis
Lojas Sympathia e União, Liberdade, e
José Estevão, em Lisboa, e A Revolta, em
Coimbra, que totalizavam à volta de 100
Obreiros.
O 25 de Abril veio dar nova vida à
Maçonaria Portuguesa, impondo a
revogação da Lei Cabral.
O GOLU reanimou a sua atividade,
recuperando a sua designação original,
Grande Oriente Lusitano.
O Palácio Maçónico
foi devolvido pelo
Estado ao Grande
Oriente Lusitano,
albergando hoje a
sede da Obediência,
o Museu Maçónico
Português, e a
atividade de cerca de
50 Lojas.
A UNIÃO FAZ A FORÇA

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