Você está na página 1de 10

Porque surgiu a primeira Grande Loja de Londres?

Quais os interesses não revelados que


detonaram iniciativa tão marcante? Nos anos que antecederam este “Landmark” na história da
Maçonaria mundial, a confraria na Inglaterra mostrava duas realidades distintas: os maçons
católicos, que faziam as suas reuniões em locais cedidos pela Igreja e os maçons não católicos
que se reuniam em locais públicos, como tavernas e hospedarias. As Lojas que reuniam maçons
cristãos obedeciam à ritualística simples organizada para as recepções aos candidatos e para as
trocas de grau. Eram lideradas pela pujante Loja de York. As lojas constituídas por maçons
judeus, muçulmanos e budistas e que se reuniam em tavernas, eram informais. As reuniões, em
ágapes, destinavam-se às trocas de ideias variadas e às relações sociais.

A concorrência entre os dois segmentos da Maçonaria britânica era acirrada, até com episódios
de violência contra o património. Historiadores não comprometidos com a versão oficial revelam
a campanha sistemática de maçons filiados à Grande Loja de Londres contra documentos de
qualquer espécie que informassem algo sobre a existência das Lojas católicas mais antigas. A
Grã-Bretanha, desde o Acto de Supremacia proclamado por Henrique VIII, em 1534, para
romper com Roma e estabelecer a Reforma religiosa, viu-se dividida entre catolicismo e
protestantismo. Este último ainda contribuiu com o puritanismo; movimento de confissão
calvinista que rejeitava tanto a Igreja Romana como a Igreja Anglicana. Em 1649, a Revolução
Puritana, sob a liderança de Oliver Cromwell, saiu-se vencedora contra a Monarquia.
Protagonizou a prisão e decapitação do Rei Carlos I e proclamou a República na Grã-Bretanha.
Com a morte de Cromwell, abriu-se um período de crise, que conduziu à restauração dos Stuart,
em 1660. Quando Jaime II pretendeu restabelecer o catolicismo, desprezando os interesses da
maioria protestante, eclodiu a Revolução Gloriosa, em 1688.

O Stuart foi facilmente vencido, refugiando-se na França de Luís XIV. A partir de 1714,
reinaram os Hannover, alemães, protestantes, pouco interessados na gestão do país e que, por
isso, favoreceram e reforçaram a importância dos “Whigs”, adeptos de uma Monarquia limitada
pelo Parlamento.

Os intelectuais e cientistas da Royal Society, dentre eles vários maçons, eram contra a influência
da Igreja porque essa pregava a ideia do criacionismo para explicar o surgimento do mundo. A
Igreja apoiava a sua posição nas teses dos filósofos antigos, nas Sagradas Escrituras e na
autoridade de fé e de santidade dos padres.

Os integrantes da Royal Society adoptaram o lema: Nullius in Verba (“nas palavras de


ninguém”), para mostrar que acreditam na verdade dos factos, obtida através da experiência
científica e não ditada pela palavra de alguma autoridade.
Combatiam também a Escolástica, que era uma linha dentro da filosofia medieval com
elementos notadamente cristãos. A Escolástica surgiu da necessidade de responder às exigências
de fé, ensinada pela Igreja, acrescentando ao universo do pensamento grego os temas:
Providência e Revelação Divina e Criação a partir do nada.

O ambiente político estava favorável para os maçons não cristãos prestigiarem a sua actividade,
substituindo as finalidades mundanas das suas reuniões nas tavernas por encontros com
formalidades específicas para uma sociedade que pretendia parecer cultural e filantrópica.

A este respeito escreve John J. Robinson, em “Nascidos do Sangue – Os Segredos Perdidos da


Maçonaria”:

“Enquanto a Maçonaria continental estava ocupada em tecer mais e mais padrões complexos de
rituais, a Maçonaria britânica original de três graus enfrentava os seus próprios problemas.
Como todo o conhecimento de qualquer propósito anterior desaparecera, a Maçonaria emergiu
como uma sociedade glutona e beberrona, com, talvez, uma sombria ênfase exagerada na
última. Todos os Maçons ingleses provavelmente lamentavam que o seu Irmão moralista,
William Hogarth, houvesse imortalizado o estado da Maçonaria londrina do século XVIII na sua
pintura intitulada A Noite, que retrata um Mestre Maçom bêbado, sendo carregado para casa
pelo Guarda da Loja, ambos com as insígnias maçónicas“.

Era preciso encontrar uma solução para este comportamento. Os maçons ligados à Royal
Society, liderados por John Theophilus Desaguiliers, filósofo, assistente e divulgador de Isaac
Newton, idealizaram fundar uma associação de Lojas para planear e organizar melhor o
desempenho da Maçonaria não atrelada aos eventos da Igreja. Reuniram quatro Lojas de
tavernas e criaram a Grande Loja de Londres, em 1717.

A história da fundação da primeira Grande Loja no mundo mostra uma dupla motivação para o
evento: combater as Lojas que conservaram a influência dos temas católicos na sua ritualística e
ajudar a expandir o sionismo entre as elites. A emigração de judeus sefarditas (de origem
espanhola e portuguesa) e asquenazes (de origem alemã e polonesa), sobretudo oriundos da
Holanda e da Alemanha para a Grã-Bretanha, ganhou intensidade na segunda metade do século
XVII. A Grã-Bretanha proporcionou à sua minoria judia condições próximas do ideal para
cultivar os seus rituais religiosos. A regularização social dos judeus teve lugar em geral sem
obstáculos, ao longo de um período prolongado.

Oliver Cromwell deu permissão para o culto público a um pequeno grupo de sefarditas, em 1656,
e a licença manteve-se após a restauração da monarquia em 1660.A geografia e a história
colocaram a Grã-Bretanha de certo modo fora da Europa continental e a experiência judaica ali,
por sua vez, foi algo especial. Os judeus foram admitidos tardiamente, mas, quando o foram,
desfrutaram das liberdades básicas durante um tempo mais prolongado que em qualquer outro
país europeu. A composição heterogénea da sociedade britânica produziu crescente liberdade de
culto. Embora a vigência da Declaração de Direitos (1689) que, entre outras regulamentações,
restringiu a liberdade religiosa ao culto protestante, os preconceitos contra grupos religiosos
minoritários foram ténues.Apesar de ser uma das comunidades menos importantes e menores na
Grã-Bretanha, os judeus aproveitaram a generosa tolerância reinante e destacaram-se na política,
no comércio, nas artes e nas ciências, enfim, em todos os aspectos da vida nacional inglesa. A
posição dominante da Grã-Bretanha no mundo dotou os líderes judeus de um papel
preponderante internacional, como no desenvolvimento inicial do sionismo.E a Maçonaria fez
parte do processo sendo um dos meios de difusão do sionismo. Os primeiros rituais surgidos da
existência da Grande Loja de Londres elegeram o Templo de Jerusalém construído por Salomão,
o símbolo da obra perfeita. Serviu de referência na analogia com o trabalho da Maçonaria de
aprimoramento do carácter humano. O texto do ritual reproduziu passagens bíblicas dos hebreus
nas explanações aos maçons. A resistência ao retorno do catolicismo na Maçonaria e a
divulgação do sionismo conjugaram-se numa corrente que sufocou as Lojas cristãs
remanescentes. A influência dos judeus maçons com posições de destaque na marinha, no
comércio de armas e no mercado de negócios bancários levou o poderio político e institucional
da Maçonaria inglesa para além fronteiras da Grã-Bretanha. A estratégia de fazer constar que a
Grande Loja de Londres inaugurou uma nova Maçonaria, a especulativa, em substituição à
operativa, deu certo. O mundo maçónico acreditou. A eliminação dos documentos relativos às
actividades anteriores a 1717 deu veracidade à tese. A Maçonaria britânica tornou-se forte e
respeitada. Os maçons ingleses mantiveram-se suficientemente poderosos para ditarem ao
mundo, cem anos mais tarde, as oito regras para a regularidade das Lojas e dos maçons no
universo.

Thomas Jackson
HANOVERIANOS, JACOBITAS, PROTESTANTES E CATÓLICOS
O Caso Morgan provou ser o grande catalisador do movimento anti-maçonaria nos Estados
Unidos. Foi um ponto de viragem que desencadeou anos de animosidade que poderia ter
derrubado a fraternidade, mas não foi, como alguns pensam, o primeiro tiro na proa da
Maçonaria. Mesmo antes da criação da primeira Grande Loja, as sementes anti-maçónicas
começaram a germinar na Europa. Estas tiveram a sua origem principalmente em organismos
religiosos organizados que viam a Maçonaria como uma influência negativa, se não mesmo uma
ameaça. A Igreja opunha-se intensamente ao apoio da Maçonaria aos ideais seculares,
levantando preocupações de potencial subversão. Suspeitava também das práticas secretas e dos
juramentos da fraternidade, que considerava uma heresia. Finalmente, a Igreja via a presença
crescente da Maçonaria em círculos influentes como um desafio ao seu poder.

A primeira crítica conhecida foi lançada à Maçonaria por – à falta de um termo melhor – um
sindicato. Em 1383, John Wycliffe, conhecido por traduzir a Bíblia para inglês, disse sobre os
maçons,

“que eles conspiram juntos para que nenhum homem da sua Guilda receba menos por dia do
que eles fixam, que nenhum deles faça trabalho fixo que possa interferir com o ganho de outros
homens do ofício, que nenhum deles faça nada além de cortar pedra, embora ele dar lucro ao
seu mestre em vinte libras por um dia de trabalho colocando uma parede sem prejudicar a si
mesmo“. [1]
Isto quer dizer que os Maçons não trabalhariam por menos do que o seu salário declarado, nem
fariam trabalho que infringisse as competências e a capacidade de outros artesãos para ganharem
o seu salário.À medida que os maçons passaram de operativos a especulativos, as coisas
tornaram-se mais acesas. A Ordem abalou os fundamentos da religião, o que, na altura, equivale
a dizer que abalou a Igreja Católica. A Maçonaria, através das suas Charges, adoptou princípios
que eram estranhos aos ensinamentos da Igreja. O principal deles era a aceitação de todas as
religiões. A primeira secção das Constituições do Reverendo James Anderson, de 1723, torna-o
claro:

“…se [um maçom] compreender correctamente a Arte, nunca será um ateu estúpido nem um
libertino irreligioso. Mas embora nos tempos antigos os Maçons fossem obrigados em todos os
Países a serem da Religião desse País ou Nação, qualquer que ela fosse, no entanto é agora
considerado mais conveniente obrigá-los apenas àquela Religião em que todos os Homens
concordam, deixando as suas Opiniões particulares para si próprios; isto é, a serem Homens
bons e verdadeiros, ou Homens de Honra e Honestidade, por quaisquer Denominações ou
Persuasões que possam ser distinguidas; pelo que a Maçonaria se torna o Centro de União, e o
Meio de conciliar a verdadeira Amizade entre Pessoas que teriam permanecido perpetuamente
distantes“.
Não ajudou o facto de os maçons serem conhecidos por discutirem conceitos radicais baseados
no Iluminismo nas suas reuniões, tais como as ideias blasfemas de Copérnico e Galileu de que a
Terra orbitava o Sol – uma noção que era um anátema completo para tudo o que era bom e santo.

Em 1685, antes da formação da Grande Loja de Inglaterra, o Rei James II [2], um católico,
assumiu o trono. Naquela época, havia um atrito considerável entre católicos e protestantes no
país. Para aumentar a tensão, James era primo de Luís XIV, rei de França, e muitos em Inglaterra
estavam a ficar cada vez mais desconfiados dessa relação.
Para além das animosidades que se acumulavam por causa da religião e dos seus laços com a
França, James entrou em conflito com o Parlamento, acabando por dissolvê-lo numa tentativa de
formar um novo órgão que o apoiasse incondicionalmente [3]. A filha de James, Mary, de 26
anos, era protestante, o que constituiu um factor atenuante até 1688, quando teve um filho, James
Francis Edward Stuart (James III), que anunciou que seria educado como católico. O nascimento
deste filho alterou a linha de sucessão, com muitos a ficarem indignados com a perspectiva de
uma dinastia católica em Inglaterra. Muitos tinham igualmente a certeza de que a gravidez da
rainha tinha sido uma farsa (um mistério que nunca foi resolvido) [4].
Falava-se de revolução. Em 1688, um grupo de antigos apoiantes de Jaime II, liderado por John
Churchill (1650 -1722, 1.º Duque de Marlborough), escreveu ao príncipe holandês William de
Orange, prometendo o seu apoio se este invadisse Inglaterra. William, que por acaso também era
marido da filha de Jaime II, Mary, fê-lo. Após algumas escaramuças, James fugiu para junto do
seu primo em França com o bebé James III nos braços [5]. Com isto, William e Mary tornaram-
se governantes de Inglaterra. Surgiu um movimento político, os Jacobitas [6], que apoiava a
restauração de James no trono.
Um quarto de século mais tarde, George I tornou-se rei [7]. Era membro da Casa de Hanôver,
que tinha governado na Alemanha desde o início do século XVII. Assim, os Hanoverianos
estavam agora no poder em Inglaterra e opunham-se fortemente aos Jacobitas. Os Jacobitas viam
a Maçonaria como um meio importante para atingir o seu único objectivo… restaurar James ou
os seus sucessores católicos Stuart no trono [8]. As suas lojas eram principalmente católicas. As
Lojas Hanoverianas em Inglaterra eram principalmente protestantes, mas também admitiam
católicos e ateus, desde que aderissem ao ponto de vista Hanoveriano. Pensando que os
Hanoverianos estavam a infringir a Maçonaria Jacobita, o já adulto James Francis Edward Stuart,
um bom católico que ainda vivia em França, dirigiu-se ao Papa Clemente, pedindo-lhe que
proibisse a Maçonaria Hanoveriana. James III pensou que, uma vez que as lojas Jacobitas eram
maioritariamente católicas, o Papa acederia ao seu pedido sem condenar também a maçonaria
Jacobita. O Papa não viu as coisas dessa forma.
O Ministro-Chefe de Luís XV de França, o Cardeal André-Hercule de Fleury, que tinha estado a
investigar a Maçonaria como parte da Inquisição, queria que toda a Maçonaria fosse banida [9].
Clemente, suspeitando que o Rei sentia o mesmo e não querendo contrariar o monarca, deu
ouvidos a de Fleury e, em 1738, emitiu a primeira Bula Papal condenando a fraternidade, In
Eminenti Apostolatus Specula:
“Agora chegou aos Nossos ouvidos, e os mexericos comuns tornaram claro, que certas
Sociedades… chamadas na língua popular Liberi Muratori ou Francs Massons… estão a
espalhar-se por toda a parte e a crescer diariamente em força; e homens de qualquer religião
ou seita, satisfeitos com a aparência de probidade natural, estão unidos, de acordo com as suas
leis e os estatutos estabelecidos para eles, por um laço estrito e inquebrável que os obriga, tanto
por um juramento sobre a Bíblia Sagrada como por uma hoste de punições severas, a um
silêncio inviolável sobre tudo o que fazem em segredo juntos… Assim, estas Sociedades ou
Convenções acima mencionadas têm causado nas mentes dos fiéis a maior suspeita, e todos os
homens prudentes e rectos passaram o mesmo julgamento sobre elas como sendo depravadas e
pervertidas. Pois se eles não estivessem a fazer o mal, não teriam um ódio tão grande à luz…
Nós, portanto… determinamos e decretámos que estas mesmas Sociedades… de Liberi Muratori
ou Francs Massons… devem ser condenadas e proibidas, e pela Nossa presente Constituição,
válida para sempre, Nós condenamo-las e proibimo-las.
.

Além disso, desejamos e ordenamos que tanto os Bispos como os prelados, e outros ordenados
locais, bem como os inquisidores de heresia, investiguem e procedam contra os transgressores…
e devem persegui-los e puni-los com penas condignas como sendo os mais suspeitos de heresia“.
O Papa também refere na sua encíclica, a primeira de muitas que desde então foram emitidas
contra os maçons, que “vários países” já tinham ilegalizado e eliminado a Maçonaria.De certa
forma, poder-se-ia argumentar que não foi a Igreja Católica que desferiu este golpe seminal
contra a Maçonaria, mas sim as divergências entre duas facções da Ordem que a condenaram. De
qualquer modo, oficialmente formada como Grande Loja em 1717, apenas duas décadas mais
tarde a Igreja Católica, juntamente com vários países, tinha banido a fraternidade, deixando a
anti-maçonaria como um passageiro clandestino a bordo enquanto a Maçonaria navegava para o
novo mundo.

(Continua…)
Steven L. Harrison, 33°, FMLR – Antigo Venerável Mestre da Loja Liberty nº 31, Liberty,
Missouri e Membro e Antigo Venerável Mestre da Loja Missouri Lodge of Research. Joseph
Missouri Valley do Rito Escocês, corpos do Rito de York de Liberty e Santuário de
Moila. Emeritus Contributor do blog Midnight Freemasons, bem como de várias outras
publicações maçónicas. Nascido em Indiana, tem um mestrado da Universidade de Indiana e está
reformado de uma carreira de 35 anos em tecnologias de informação. É autor de dezenas de
artigos em revistas e de três livros: Freemasonry Crosses the Mississippi, Freemasons – Tales
From the Craft e Freemasons at Oak Island.

1717 e tudo aquilo...por Andrew Prescott e Susan Mitchell Sommers


https://bibliot3ca.com/1717-e-tudo-aquilo/
Em 1964, a Professora Regius de História Moderna, Vivian Galbraith, publicou Uma
introdução ao o estudo da história.[1]Um capítulo era intitulado ‘Pesquisa Histórica em
Ação’ econsistia em um estudo de caso. O exemplo que Galbraith escolheu foi o reinado
do rei Alfredo, o Grande e, em particular, a biografia de Alfredo por um monge chamado
Asser, do qual depende muito de nosso conhecimento sobre o rei. Galbraith revisou a
história do texto de Asser e argumentou que era uma falsificação, compilada em Exeter
no século XI. As críticas da professora Galbraith causaram uma tempestade no mundo
dos estudos anglo-saxões. Outro distinto historiador, desta vez em Cambridge, rebateu
com evidências de que a biografia de Alfred era genuína.[2] O consenso agora é que o
Asser é genuíno, mas as reverberações da intervenção de Galbraith ainda são evidentes –
em 1995, outro grande estudo apareceu que novamente argumentou que Asser era uma
falsificação.[3]
É assim que a pesquisa histórica progride – não pelo simples acúmulo de materiais,
mas sim pelo questionamento cruzado e reavaliação de nossas fontes, e
continuamente olhando para elas de diferentes ângulos. As fontes históricas são
objetos complexos e não revelam todos os seus segredos à primeira leitura. Quando
olhamos para elas de maneiras diferentes, eles contam histórias diferentes e podemos ver
nuances que perdemos antes.[4] À medida que novas fontes são encontradas, nossas
fontes existentes começam a se encaixar em padrões diferentes.

Os historiadores revisam e reconsideram constantemente suas fontes, e é isso que


faremos hoje neste simpósio. Muito do que discutiremos não gira em torno de novas
descobertas factuais, mas sim do reexame de fontes que eram familiares há muito tempo.
É por isso que nossas discussões hoje não resultarão em nossa confirmação se a Grande
Loja foi fundada em 1717 ou 1721. Quaisquer que sejam nossas conclusões hoje, novos
materiais surgirão no futuro, mostrando nossas fontes existentes sob uma luz diferente.
Ficaríamos muito desapontados se voltássemos para o quatrocentésimo aniversário da
Grande Loja e descobríssemos que a pesquisa que empreendemos recentemente ainda era
atual. Dentro de cem anos, esperamos ter chegado a conclusões completamente diferentes
sobre o início da história da Grande Loja. A história só tem valor se continuar a
questionar e sugerir novas perspectivas e novos ângulos.
Por essas razões, esperamos que você saia deste artigo não com a visão de que uma opção
ou outra foi confirmada, mas sim vá embora com perguntas sobre nosso entendimento da
Grande Loja inicial que você então tentará e investigará nas fontes primárias e explorará
sozinho(a).

Poucas coisas que vamos apresentar são novas. Henry Sadler já em 1887 nos lembrava
que “não devemos considerar infalíveis os historiadores oficiais, mesmo quando
encontramos o prefixo distintivo Reverendo, junto aos seus nomes”.[5] Sadler declarou
que algo mais confiável do que a declaração simples de Anderson era necessário para
convencê-lo de que as quatro lojas que se diz terem formado a Grande Loja eram as
únicas lojas em Londres naquela época.[6] Mais de cem anos atrás, tanto Gould quanto
Robbins apontavam como partes da história de Anderson dos primeiros anos da Grande
Loja são contraditadas por relatos de jornais contemporâneos.[7] Em 1909, Begemann
disse que a história de 1717 ‘dá muito claramente a impressão de imaginação luxuosa de
Anderson’ e declarou que ‘pessoalmente não consegui evitar a conclusão de que toda a
história da eleição do primeiro Grão-Mestre é um mito inventado por Anderson ‘,
[8] propondo que a história de Anderson da formação da Grande Loja deveria ser
desconsiderada. É lamentável que a relutância da Loja Quatuor Coronati em promover o
trabalho de um estudioso alemão durante a Primeira Guerra Mundial tenha feito com que
as críticas de Begemann a Anderson não fossem mais amplamente conhecidas.

As implicações das descobertas desses eruditos maçônicos pioneiros geralmente não


foram acompanhadas e merecem mais discussão. A maior parte das novas informações
que apresentaremos, que não estavam disponíveis para esses estudiosos anteriores, estão
relacionadas à vida de James Anderson. Essas informações extras sobre as circunstâncias
pessoais de Anderson nos fornecem novas perspectivas sobre as fontes da primeira
Grande Loja e nos mostra como as novas descobertas e a reavaliação das fontes
existentes estão profundamente interligadas.

II.Não vamos recapitular em detalhes a história de 1717 e tudo aquilo. Todos vocês já
ouviram muitas vezes no ano passado como quatro lojas de Londres se reuniram na
Apple Tree Tavern em Covent Garden em 1716 e reviveram as comunicações trimestrais
dos oficiais da loja e a assembleia e festa anual. Em 24 de junho de 1717, somos
informados, a Assembleia e Festa dos Maçons Livres e Aceitos foi realizada na cervejaria
Goose and Gridiron perto da Catedral de São Paulo, quando Antony Sayer foi escolhido
como Grão-Mestre e Joseph Elliot e Jacob Lamball como Grandes Vigilantes.

Esta história não é mencionada na primeira edição do Livro das Constituições compilado
por James Anderson, um ministro presbiteriano escocês em Londres, publicado em 1723.
[9]
Ela aparece pela primeira vez na nova edição do Livro das Constituições concluído por
Anderson em 1738, quase 21 anos após os eventos que pretende descrever.[10] Mesmo
assim, é claro, Anderson não afirmou que a Grande Loja foi fundada em 1717. Anderson
alegava que a maçonaria remontava a Adão. Ele declara que os primeiros quatro Grandes
Oficiais foram Noé e seus três filhos. O primeiro Grão-Mestre que ele nomeia é Joshuah,
o filho de Abraão. De acordo com Anderson, o Grão-Mestre Moses tinha Joshuah como
seu Adjunto e Aholiah e Bezaleel como seus Grandes Vigilantes.[11] De acordo com a
lista dos Grão-Mestres da Maçonaria da Inglaterra inserida por Anderson
nas Constituições de 1738 seguindo as instruções da Grande Loja, o primeiro Grande
Mestre dos Maçons na Inglaterra foi Santo Agostinho de Canterbury.[12] Para Anderson,
1717 não foi a fundação da Grande Loja, e a nomeação de Antony Sayer como Grão-
Mestre foi meramente um meio de reviver a Grande Loja depois que ela caiu no marasmo
no final da vida de Sir Christopher Wren.
A Maçonaria foi um tema quente para jornalistas e escritores desde o momento em que o
Duque de Montagu se tornou Grão-Mestre em junho de 1721. É muito surpreendente que
em todas as reportagens e panfletos sobre a Maçonaria publicados na Inglaterra entre
1721 e 1738 não haja menção à história de 1717 ou da Ganso e Gridiron. É só com
Anderson, escrevendo 21 anos depois sobre eventos em que ele não esteve presente, que
temos o primeiro relato de 1717 e tudo aquilo.
A única evidência que aparentemente apoia a história de Anderson também data da
década de 1730, muito depois do evento. Há uma lista de Grandes Oficiais anexada ao
primeiro livro de atas da Grande Loja, que começa com Sayer como Grande Mestre e
Lamball e Elliot como Vigilantes e dá a mesma sucessão de Grandes Oficiais que
Anderson.[13] Na verdade, como veremos, essa lista pode ter sido uma das fontes usadas
por Anderson. A lista foi compilada por William Reid, que foi nomeado Grande
Secretário em 1727.[14] A caligrafia e a cor da tinta mostram que a lista foi inserida por
Reid no livro de atas em algum momento depois de 1731 e possivelmente em 1734.
Outras referências a Sayer e outros primeiros Grandes Mestres são posteriores. Por
exemplo, uma carta nos arquivos da Royal Society mandada pelo duque de Richmond a
Martin Folkes sobre a gravura de retratos de grão-mestres referindo-se a Sayer, Payne e
Desaguliers como grão-mestres não tem data. A data de quaisquer gravuras não pode ser
estabelecida com firmeza, mas parece ser provavelmente da década de 1730.[15] As
primeiras referências nas atas da Grande Loja a Desaguliers e George Payne como Grão-
mestres são em novembro de 1728, enquanto a primeira menção de Sayer como Grão-
Mestre é em 1730.[16] E assim por diante – os elementos da história de 1717 só
aparecem surpreendentemente atrasados.

No entanto, não precisamos acreditar na palavra de Anderson. Temos duas evidências


que apresentam um quadro muito diferente de Anderson. Essas fontes são
contemporâneas aos eventos que descrevem, não escritas muitos anos depois por um
homem que nem estava lá. Esses documentos não são novas descobertas; ambos foram
publicados no século XIX. Achamos que eles merecem mais crédito do que receberam
então.

Em primeiro lugar, estão os papéis do médico, antiquário e filósofo natural William


Stukeley. Stukeley foi um dos fundadores da Sociedade de Antiquários e é famoso por
suas investigações arqueológicas de Avebury e Stonehenge. Ele registra em seu diário
que, em 6 de janeiro de 1721, foi iniciado maçom na Taberna Salutation em Covent
Garden.[17] Stukeley afirma que foi a primeira pessoa a se tornar maçom em Londres por
muitos anos e que foi difícil encontrar membros suficientes para realizar a cerimônia.
[18] A afirmação de Stukeley de que era difícil encontrar maçons suficientes para realizar
uma iniciação no início de 1721 é impossível de conciliar com a narrativa de Anderson,
que afirma que nessa época ‘nobres também foram feitos irmãos, e mais novas Lojas
foram constituídas’.[19] A Salutation estava a apenas algumas centenas de metros da
Apple Tree e é surpreendente que houvesse dificuldade em encontrar maçons se uma
Loja realmente estivesse se reunindo lá.

A precisão de muitos dos relatos de Stukeley é aparente em outros lugares em seus


papéis, onde ele dá um relato da instalação do duque de Montagu que é mais
circunstancial e detalhada do que o de Anderson e é apoiada por outras fontes. A
descrição de Stukeley de sua iniciação é conhecida há muitos anos, e o contraste entre
Stukeley e Anderson sempre foi um quebra-cabeça. No entanto, uma segunda fonte apoia
o relato de Stukeley e sugere uma solução para o quebra-cabeça, ou seja, que a Grande
Loja foi estabelecida não em 1717, mas na instalação do Duque de Montagu como Grão-
Mestre no Stationers’ Hall em 24 de junho de 1721.

Esta fonte é um livro de rascunho nos arquivos da Loja de Antiguidade nº 2. Somos


muito gratos ao Venerável Mestre e irmãos da Loja de Antiguidade pela permissão para
consultar este volume. Muitos dos registros desta loja foram destruídos ou danificados
em 1778 durante a disputa com a Grande Loja, quando partidários de William Preston
confiscaram a propriedade da loja. O Livro E é um livro de rascunho que contém a carta
comercial de Charles Stokes, um papeleiro que era membro da Loja, mostrando que o
livro foi doado à Loja por volta de 1720. O livro permaneceu praticamente sem uso até a
década de 1750, quando foi usado para redigir contas e atas da loja.

No entanto, no início do livro há uma ata que descreve a instalação do Duque de


Montagu como Grão-Mestre e uma lista dos membros da loja datada de 18 de setembro
de 1721 com acréscimos até 1726. Reg Hewitt e outros presumiram que a ata e a lista
foram copiados para o livro na década de 1760,[20] e, portanto, não eram confiáveis, mas
isso está errado. A comparação da ata no Livro E com outros manuscritos mostra que a
escrita data da década de 1720.

Isso é confirmado pela lista de membros, que começa na mesma letra da ata, mas é então
continuada pelas assinaturas de novos membros da loja, mostrando que é contemporânea.
Esta ata foi escrita em 1721, ou não muito depois, e é o relato contemporâneo mais antigo
de uma reunião associada à Grande Loja.
A ata no Livro E descreve a reunião no Stationers’ Hall em 24 de junho de 1721 como

Você também pode gostar