Você está na página 1de 63

A MAÇONARIA DO SÉCULO XVIII

NAS ILHAS BRITÂNICAS

Joaquim Grave dos Santos/2021


Em 1688, na sequência da “Gloriosa Revolução”,
Jaime II de Inglaterra (católico) é deposto, e a sua
filha Maria II e o marido Guilherme III (protestantes)
ascendem conjuntamente ao trono dos três Reinos.
A oposição a Jaime II tinha
determinado o aparecimento
de dois campos políticos
opostos, os Whigs e os Tories.
Através da aprovação do “Bill
of Rights” (1689), e do Act of
Settlement (1701) ficou
inviabilizada a existência de
uma Monarquia absolutista e
Católica.
Após a morte de Maria II e de Guilherme III,
sucedeu-lhes no trono Ana (protestante), irmã de
Maria II. O seu reinado decorreu entre 1702, e a
sua morte (1714).
Em 1707, Ana conseguiu unificar Inglaterra e
Escócia, no Reino da Grã Bretanha.
Durante o seu reinado, prevaleceram os Tories
no poder.
Jaime II, e depois o seu filho Jaime Eduardo
Stewart, exilados no Continente Europeu,
permaneceram uma ameaça, com o apoio de
França, Suécia, e Espanha.
Após a morte de Ana, em 1714, subiu ao trono
George I, de Hannover, parente masculino
protestante mais próximo.
Esta sucessão não foi sem contestação, porque
havia quem defendesse que os Stewarts não
podiam ser preteridos do seu direito divino ao
trono, apesar de serem católicos. Tal deu
origem a sublevações dos seus apoiantes
(Jacobitas), em 1715, 1719, e 1745.
Com a Dinastia de Hannover, os Whigs
ganharam preponderância no Parlamento,
mantendo-se no poder durante 30 anos. A
economia da Grã Bretanha evoluiu de agrária
para comercial.
Com a estabilização do Sistema de Monarquia
Constitucional, a Grã Bretanha passou a ser
governada por um Gabinete de Ministros
chefiados por um 1º Ministro.
O primeiro a desempenhar
estas funções, entre 1717 e
1721, foi James Conde de
Stanhope.
Seguiu-se Sir Robert Walpole,
um político Whig, membro da
Grande Loja de Inglaterra, no
cargo entre 1721 e 1742.
Jorge I não foi consensualmente aceite,
enquanto sucessor de Ana, não só pelo facto de
esta subida ao trono ser contrária ao direito
Divino, como também por haver
descontentamento Escocês relativamente à
União com Inglaterra.
Após a entrada de Jorge I em
Londres, o Conde de Mar
despoletou, em 1715, uma
sublevação Jacobita a favor da
causa do Principe Jaime
Eduardo Stewart, filho de
Jaime II, alcunhado pelos
Whigs de “Old Pretender”.
Com a derrota da sublevação Jacobita de
1715, e o exílio do Princípe Jaime Stewart
em Roma, a nova Monarquia sentia a
necessidade de pacificação da sociedade
civil.
Através do Indemnity Act, de 1717, foram
perdoados a maior parte dos participantes
na sublevação.
A Casa de Hannover tentava
estabilizar-se, oferecendo Liberdade
Constitucional, e Tolerância Religiosa,
muito embora a ameaça dos Stewarts
permanecesse ativa.
Outro aspeto que teve
importancia no aparecimento da
primeira Grande Loja, e na
construção da sua identidade,
foi a Diáspora Huguenote, em
fuga de França após a
revogação do Édito de Nantes.
Por volta de 1540, estabeleceu-se uma
comunidade Calvinista, em França.
Apesar da oposição da Igreja Católica, o
Calvinismo espalhou-se. Em 1559, 15
Igrejas organizaram um Sínodo, em
Paris, para fundarem uma Igreja
Reformada. Em 2 anos, esta agregou
2000 Igrejas.
Os confrontos intensificaram-se, e em Agosto de
1572, mais de 100.000 Huguenotes foram
chacinados, na sequência de um massacre iniciado
em Paris (massacre de S. Bartolomeu).
Com a coroação de Henrique de Navarra (nascido
protestante) como Henrique IV, foi promulgado o
Édito de Nantes, que protegia os Huguenotes.
Com o assassinato de Henrique IV, em 1610, e a
subida ao trono de Luís XIII, as perseguições aos
Huguenotes aumentaram. A última cidade
protestante, La Rochelle caiu, após um cerco no
qual a sua população se reduziu de 27.000 para
5.000, devido à fome e às doenças.
No Reinado seguinte (Luís XIV) a situação ainda
piorou.

Milhares de Huguenotes foram


convertidos ao Catolicismo à força.
Generalizaram-se as “Dragonadas”,
sinónimo de violência, violação, e roubo
O Édito de Nantes foi revogado (1685).
A situação originou uma
diáspora Huguenote. Cerca de
um terço conseguiram emigrar
(250.000), sendo Inglaterra o
destino mais procurado
(50.000 a 80.000). Dez por
cento da população de Londres
era constituída pela
comunidade Huguenote.
Esta via com receio a
possibilidade do regresso de
um “Rei Papista” ao trono, pelo
que apoiou abertamente a
dinastia Hannover, e os Whigs.
O filósofo John Locke (1632-1704), fundador do
Empirismo, defendeu a Liberdade, a Tolerância
Religiosa, e a necessidade do Estado, e do
Contrato Social.
Sustentou serem Direitos Naturais do Ser
Humano, os Direitos à Vida, à Liberdade, e à
Propriedade.
Se os governos não cumprissem esses Direitos, entendia
por legítima a revolta dos povos.
Entendia, que a coerção da uniformidade religiosa levaria
a mais distúrbios sociais, do que permitir a diversidade.
Epistimologicamente, introduziu a Teoria da Tábua Rasa.
Na segunda metade do século XVII, a Ciência
começou a evoluir no sentido da necessidade de
comprovação experimental.
Começaram a aparecer círculos de estudiosos.
Robert Boyle (1627-1691),
Fisico, Quimico, e
Alquimista, referiu em
correspondencia de 1646,
e 1647, a existência do
“Invisible College”,
percursor da “Royal
Society of London for
Improving Natural
Knowledge”.
Neste virar de século, a figura cientifica
mais marcante, em Inglaterra, foi Isaac
Newton (1643-1727), cujas descobertas nos
domínios da Astronomia, da Física, e da
Matemática, irão revolucionar a então
designada de “Filosofia Natural”.
A Royal Society foi fundada em 1660,
tendo como primeiro Presidente Sir
Robert Moray.
Entre os seus fundadores contam-se
nomes tais como Elias Ashmole, Robert
Boyle, Sir Christopher Wren, John
Evelyn...

As ligações entre a primeira Grande Loja e a Royal Society foram


estreitas. Entre 1719 e 1741, 13 Grão Mestres em 22 foram membros
da Royal Society (FRS).
A divisa “Nullius in Verba” (na palavra de ninguém) expressa a
vontade dos seus membros em só acreditar no que for comprovado
pela experiência.
Em 1717-1721, temos assim:
Uma nova Dinastia, com necessidade de se consolidar numa
Monarquia Constitucional, assente na Tolerância Religiosa, na
promoção da Educação e da Ciência, e numa Democracia (limitada).
Uma ameaça externa presente, dos Pretendentes Stewarts, e das
Monarquias Absolutistas Católicas Continentais.
Uma comunidade Huguenote pró-establishment.
Um meio intelectual resultante do Iluminismo Científico Inglês.
A Maçonaria Especulativa, tal como a conhecemos, só poderia ter
nascido num contexto de relativa emancipação política, religiosa, e
social, o que se verificou, à época, em Inglaterra.
Diz-nos a Tradição Maçónica, e quase toda a
Historiografia existente até 2016, que a Maçonaria
Especulativa nasceu em Londres, numa reunião
havida na “The Goose and the Gridiron
Ale-House”, em 24 de Junho de 1717.
Na mesma, quatro Lojas teriam
fundado a primeira Obediência
Maçónica do Mundo, a Grande
Loja de Londres e Westminster.
A única fonte que temos que
suporta este evento fundacional
é a edição de 1738 das
Constituições de Anderson.
James Anderson (1679-1739) nasceu em
Aberdeen, Escócia, filho de um
vidraceiro, membro da Loja desta cidade.
Pastor da Igreja da Escócia, desde 1807,
terá vindo para Londres, onde oficiou nas
Igrejas Presbiterianas de Glass House
Street (até 1710), Swallow Street (até
1734), e Lisle Street (até à sua morte).
Tendo casado com uma viúva com
algumas posses, terá sido arruinado pela
South Sea Bubble (1720).
Em 1721, a Grande Loja encomendou-lhe a redação de uma História
da Maçonaria, integrada no Livro das Constituições. Foi editada em
1723, e publicada uma reformulação em 1738.
“...King George I entered London
most magnificently on 20 September
1714 and after the Rebellion was
over A.D. 1716 the few Lodges at
London finding themselves neglected
by Sir Christopher Wren, though fit to
cement under a Grand Master as the
Center of Union and Harmony, vz the
Lodges that met,
1 At the Goose and Gridiron
Ale-house in St Paul’s Church-Yard.
2 At the Crown Ale-house in Parker’s-Lane near Drury-Lane.
3 At the Apple-Tree Tavern in Charles-Street, Convent-Garden.
4 At the Rummer and Grapes Tavern in Channel-Row, Westminster.
They and some old Brothers met at the said Apple-Tree, and having
put into the Chair the oldest Master Mason (now the Master of a
Lodge) they constituted themselves a Grand Lodge pro Temporore in
Due Form, (...) resolved to hold the Annual Assembly and Feast, and
then to choose a Grand Master from among themselves till they
should have the Honour of a Noble Brother at their Head.
Accordingly
On St John Baptist’s Day, in the 3d Year of King George I AD 1717 the
Assembly and Feast of the Free and Accepted Masons was held at the
foresaid Goose and Gridiron Ale-house. Before Dinner, the oldest
Master Mason (now the Master of a Lodge) in the Chair, proposed a
List of proper Candidates and the Brethren by a Majority of Hands
elected Mr. Anthony Sayer Gentlemen, Grand Master of Masons…”
James Anderson refere ainda, que:

Em 24 Junho de 1718, foi eleito Grão Mestre George Payne Esquire.

Em 24 Junho de 1719, foi eleito Grão Mestre John Theophilus


Desaguliers.

Em 24 Junho de 1720, foi novamente eleito Grão Mestre George


Payne Esquire.

Em 24 Dezembro de 1720, o futuro Grão Mestre foi proposto à Grande


Loja pelo anterior. Tendo sido aceite, nomeou os Grandes Vigilantes e
o Adjunto (Deputy Grand Master).

Em 24 Junho de 1721, John Duque de Montagu foi Instalado Grão


Mestre, em Stanioners Hall, na presença de 12 Lojas e 150 Maçons.
Em 2016, o Professor Andrew Prescott,
e a Dra. Susan Sommers, através do
seu Trabalho “Searching for the Apple
Tree: What happened in 1716 ?”
puseram em causa o relato de James
Anderson, sustentando que o evento
fundador não teve lugar.

No passado, Henry Sadler (1887), e


Begemann (1909) já tinham apontado
algumas incongruências à versão de
James Anderson, sem que as suas
opiniões tenham sido consideradas pela
globalidade dos Historiadores.
Os principais argumentos apresentados por
Sommers/Prescott são:
- Falta de credibilidade das fontes de Anderson.
- Ausência de qualquer referência documental à
Grande Loja, entre 1717 e 1721.
- Inexistência da Apple-Tree Tavern em 1716, o
que inviabiliza o relato de James Anderson,
relativo à ocorrência da reunião preparatória à
constituição da Grande Loja, no ano seguinte.

Declarações de William Stukely (1687-1765) FRS, FSA, que situam o


início da Maçonaria Especulativa em 1721.
Na entrada do seu Diário relativa a 6 Jan 1721, William Stukely refere:
“...I was made Free Mason, at the Salutation Tav. Tavistock Street with
Mr. Collins, Capt. Rowe who made the famous diving engine. (...) I
was the first person to be made a freemason in London for many
years. We had great difficulty to find members enough to perform the
ceremony. Immeadiately after that it took a run, and ran it self thro’ the
folly of its members…” .
Depois de 1750, noutro relato da sua vida, menciona:
“...His curiosity led him to be initiated into the mysterys of Masonry,
suspecting it to be the remains of the mysterys of the antients, when
with difficulty as number sufficient was to be found in all London. After
this it became a public fashion not only spread over Brittain & Ireland,
but all Europe…”.
Do que não restam dúvidas é que John Duque de
Montagu (1690-1749) foi instalado Grão Mestre
da primeira Grande Loja, em Stationers Hall, em
24 de Junho de 1721, sendo o primeiro Nobre a
ocupar este cargo.
William Stukely participou neste evento, tendo
deixado uma descrição do mesmo, bem mais
detalhada do que a de Anderson. A imprensa
também o noticiou.

Nos Arquivos da Loja Antiquity, nº 2 (descendente da Goose and


Gridiron) encontra-se também uma descrição deste acontecimento,
bastante conforme com a de Stukely, com base nas quais
Sommers/Prescott sustentam que este foi o verdadeiro Ato
Fundacional da Grande Loja.
No documento da Loja Antiquity, descrevendo-se a reunião como “A
General Assembly of a Greate Number of Free Masons”, declara-se
que o Duque de Montagu foi instalado Grão Mestre dos Maçons, e
que jurou sobre a Bíblia:

“...to Observe and keep inviolate in all tyme Coming the Franchises
and Liberties of the free Masons of England and all the records of
Antient tyme in the custody of the Old Lodge of St Paul in London (...)
firmly held and bound never to connive at any Encroachment on the
Landmarks of the old Lodges in England or suffer the same to be done
by his successors who shall also be bound by oath to the same…”.
Por sua vez, as antigas Lojas concordaram em entregar os seus
previlégios ao cuidado de um novo Corpo, que era a Grande Loja:

“...This day the Free Masons of London in the Name of themselves


and the rest of their Brethren of England vested their separate and
distinct rights and powers of congregating in Chapter & C. in the
present old Lodges in London in trust and the same was this day
Publickly Recognised and Notified to their Brethren in Grand Lodge
assembled…”.
Nesta nova Teoria Sommers/Prescott, como é
que se “encaixa” Anthony Sayer (1672-1741),
referido por Anderson como tendo sido o 1º Grão
Mestre, eleito em 1717 ?

- Anthony Sayer é omitido em 1723, e referido


em 1738.
- Pediu assistência à Grande Loja em 1724,
1730, e 1741.
- Foi repreendido pela Grande Loja em 1730.
- Oriundo da Loja pretensamente descendente da Apple-Tree (Old
Kings Arms Lodge), existe um historial de membros desta Oficina
pedirem subsídios à Grande Loja, alegando falsos cargos e
antiguidades.
Em 2018, a Quatuor Coronati Lodge (Loja de Investigação da UGLE)
organizou um debate sobre o tema, em Freemasons Hall, intitulado
“1717 and ALL THAT”.

Andrew Prescott e Susan Sommers defenderam 1721, John Hammil e


Richard Berman continuam a sustentar 1717.
Mais relevante do
que discutirmos se
foi em 1717 ou em
1721 que foi
fundada a primeira
Grande Loja,
importa entender
as razões da sua
enorme expansão.

Em 1725 - mais de
60 Lojas.

Em 1730 - mais de
100 Lojas.
George Payne (1685-1757) foi um funcionário da
Administração Britânica (Secretary e Head
Secretary of Tax Office) e Magistrado no Tribunal
de Westminster. Politicamente, foi um Whig.
De acordo com Anderson terá sido Grão Mestre
em 1718, e 1720.
Acredita-se que seja o autor dos “Regulations”
incluídos nas Constituições de Anderson de
1723.
A ele se deve o grande recrutamento entre a
Magistratura, que a Grande Loja registou.
John Theophilus Desaguliers (1683-1744)
foi a figura mais marcante da primeira
Grande Loja.
Nasceu em Aytré/La Rochelle, filho de um
Pastor Huguenote, tendo a família tido de
deixar França, devido às perseguições.
O Pai oficiou na Igreja Huguenote de
Swallow Street, Londres, fundando depois
a Escola Francesa de Islington.
Desaguliers estudou, no Christ Church
College, em Oxford, Teologia e Filosofia
Natural. Tratou-se de um dos primeiros
cursos no qual se ensinava a Filosofia
Natural de Newton.
Em 1713, já ordenado e casado, regressou
a Londres.
Desaguliers ganhou fama de conferencista,
através de aulas e conferências de divulgação
da Ciência, dadas em Coffee Houses e
Tabernas. Interessou-se, também, pela
aplicação prática da Física, fazendo trabalhos
de Engenharia.
Tendo sido apresentado a Isaac Newton e ao
Duque de Chandos, foi admitido na Royal
Society, na qual viria a ser Curador e
Demonstrador.
Tendo traduzido o “Tratado para a Construção
de Chaminés”, de Nicolas Gauger, foi
convidado a estudar o ambiente do
Parlamento, e do Palácio do Duque de
Chandos, de quem se tornou Capelão.
Desaguliers foi autor de vários Tratados de Filosofia Natural (Física)
tendo sido consultor na resolução de alguns grandes
empreendimentos de Engenharia, tais como o abastecimento de água
a Edimburgo. Foi, ainda, empresário de fogo de artifício.
Segundo James Anderson, Desaguliers terá sido
Grão Mestre da primeira Grande Loja, em 1719,
sendo depois várias vezes Deputy Grand Master,
de Grão Mestres Nobres.
Terá sido, juntamente com Martin Folks, um dos
principais meios de penetração da Grande Loja na
Royal Society, e junto dos Nobres.
Desaguliers, politicamente, era um
Whig pro-establishment, inserindo-se
na linha Latitudinarista da Church of
England, defensora da Tolerância
Religiosa.
Terá sido ele quem redigiu os
“Charges” das Constituições de
Anderson, de 1723, tendo tido um
papel importante em outros dois eixos
estruturantes da Grande Loja: o Ritual,
e o Banco da Caridade.
Assegurou a ligação à Comunidade
Huguenote, a Charles Delafaye,
impulsionando a expansão da
Maçonaria no Continente Europeu.
A Grande Loja de Londres e Westminster, mais
tarde denominada de Grande Loja de Inglaterra,
teve muitos membros em comum com outros
tipos de Associações, para além da Royal
Society, nomeadamente:

- O Royal College of Physicians


- The Society of Apothecaries
- The Society of Antiquaries
- The Spalding Society

Os militares também foram uma profissão muito


representada nas Lojas.
Numa altura de profunda
transformação do Espaço Público,
com o advento de numerosos tipos
de Clubes Masculinos, a Maçonaria
oferecia uma forma de sociabilidade
aceitável, tanto moralmente, como
intelectualmente, e politicamente.
Daí a razão do seu enorme
sucesso, enquanto filha natural do
Iluminismo Cientifico Inglês.
Para além de reivindicar um caráter
tradicional, a Grande Loja assentou
em três eixos fundamentais: o
Regulamento, o Ritual, e o Banco
de Caridade.
As “Charges” constantes
das Constituições de
Anderson de 1723
consagram três princípios
importantes:
- Tolerância Religiosa.
- Subordinação à
Suprema Magistratura.
- Meritocracia na escolha
dos Dignitários.
A aprovação das
Constituições de Anderson
não foi fácil, tendo surgido
uma alternativa, em 1722
(Constituições de Roberts).
I. Concerning God and Religion (Tolerância Religiosa)

A Mason is oblig’d by his Tenure, to obey the moral law; and if he


rightly understands the Art, he will never be a stupid Atheist nor an
irreligious Libertine. But though in ancient Times Masons were
charg’d in every Country to be of the Religion of that Country or
Nation, whatever it was, yet ‘ tis now thought more expedient only
to oblige them to that Religion in which all Men agree, leaving their
particular Opinions to themselves; that is, to be good Men and
true, or Men of Honour and Honesty, by whatever Denominations
or Persuasions they may be distinguish’d; Whereby Masonry
becomes the Center of Union, and the Means of conciliating true
Friendship among Persons that must have remain’d at a perpetual
Distance.
II. Of the Civil Magistrate Supreme and Subordinate (Subordinação à
Suprema Magistratura)

A Mason is a peaceable Subject to the Civil Powers, wherever he


resides or works, and is never to be concern’d in Plots an
Conspiracies against the Peace and Welfare of the Nation, nor to
behave himself undutifully to inferior Magistrates; for as Masonry
hath been always injured by War, Bloodshed, and Confusion, so
ancient Kings and Princes have been much dispos’d to encourage
the Craftsmen, because of their Peaceableness and Loyalty,
whereby they practically anwer’d the Cavils of their Adversaries,
and promoted the Honour of the Fraternity, who ever flourish’d in
Time of Peace. So that if a Brother should be a Rebel against the
State he is not to be countenanced in his Rebellion, however he
may be pitied as any unhappy Man;
And, if convicted of no other Crime though the Loyal Brotherhood
must and ought to disown hi Rebellion, and give no Umbrage or
Ground of political Jealousy to the Government for the time being,
they cannot expel him from the Lodge, and his Relation to it remains
indefeasible.
IV. Of Masters, Wardens, Follows, and Apprentices (Meritocracia)

All preferment among Masons is grounded upon real Worth and


personal Merit only; that so the Lords may be well served, the
Brethren not put to Shame, nor the Royal Craft despis’d:
Therefore no Master or Warden is chosen by Seniority, but for his
Merit (...)
Compromisso do Mestre

- I agree to be a good man and true, and strictly to obey the moral
law.
- I agree to be a perceable subject and cheerfully to conform to the
laws of the country in which I reside.
- I promise not to be concerned in plots and conspiracies against
government but patiently to submit to the decisions of the supreme
legislature.
- I agree to pay a proper respect to the civil magistrate, to work
diligently, live creditably and act honourably by all men.
Em matéria Ritual, a Grande Loja adoptou a Tradição Escocesa da
Palavra do Maçon (Masons Word), bem como o sistema bi-gradual
utilizado nas Lojas Operativas deste País.

No inicio da década de 20
apareceram as primeiras
exposições dos Rituais
(Catecismos), nomeadamente na
imprensa, como foi o caso das
divulgações do “Post Boy”, e do
“Flying Post”.
Entre 1721 e 1730 as práticas Rituais das
Lojas da Grande Loja de Inglaterra
foram-se consolidando.

A este processo não foi alheio


Desaguliers, conforme é referido neste
Manuscrito (“Dialogues between Simon
and Philippe”), anterior a 1730, no qual o
esquema à esquerda é legendado:

“This Lodge is the new Lodge under the


Desaguliers regulation”.
Em 1730, foi publicada uma divulgação de
caráter anti-Maçónico, denominada “Massonry
Dissected”, cujo autor foi Samuel Prichard.

A mesma revelou os Catecismos de um


sistema já trigradual, que integrava os Graus
de Entered Apprentice (Aprendiz), Fellow Craft
(Companheiro), e Master (Mestre).

Nesta altura, numa Sessão, a maior parte do


Trabalho fazia-se à mesa, limitando-se as
partes Rituais à leitura dos Catecismos, e às
Recepções. A Maçonaria era, acima de tudo,
uma forma de sociabilidade.
O Sistema Simbólico que se consolidou,
na Primeira Grande Loja apresentava
os seguintes elementos essenciais:
- O Mestre da Loja, no Oriente.
- Dois Vigilantes no Ocidente.
- Três velas em Esquadro, que
simbolizavam as Três Grandes
Luzes da Loja (Sol, Lua, Mestre da
Loja).
- Um Quadro de Loja, ao centro.
Dado que a GL veio a ser conhecida por
Grande Loja dos Modernos, este é o
Sistema Moderno. Todos os Ritos
Maçónicos que dele relevam
designam-se de Ritos Modernos.
E a Escócia ?
Em 1721, Desaguliers deslocou-se a
Edimburgo, no âmbito da sua consultoria
relativa ao abastecimento de água da cidade.
Visitou a Loja Mary’s Chapel e, na sequência,
propôs à Loja a admissão de vários notáveis de
Edimburgo.

Outras lojas admitiram massivamente Maçons


Aceites, e surgiram Lojas que nasceram já
como Especulativas.
A Maçonaria Especulativa Escocesa nasceu,
assim, de um verdadeiro processo de
Transição.
A Grande Loja da Escócia foi fundada em 30 de
Novembro de 1736, agregando mais de 100 Lojas.

O seu primeiro Grão Mestre foi


William St Clair of Rosslyn
(1700-1778).
As origens da Maçonaria Irlandesa são
pouco conhecidas. Há vestigios da existência
de uma Loja Maçónica em Dublin, em 1688,
no Trinity College.

Não se conhece o ano de fundação da


Grande Loja da Irlanda, convencionando-se o
ano de 1725 para a sua origem. O mais
antigo Grão Mestre conhecido foi Richard
Parsons, Conde de Ross (1702-1741).

Em 1738 foram publicadas as “General


Regulations”, de John Pennel, baseadas nas
Constituições de 1723, de James Anderson.
A Grande Loja da Irlanda teve uma Grande Loja
Provincial em Portugal, de 1840 a 1872, cujo
Grão Mestre Provincial foi Frederico Guilherme
da Silva Pereira.
A Obediência integrou 4 Lojas, um Capítulo, e
um Supremo Conselho do Rito Escocês Antigo
e Aceite.
Em 1872, o pouco que restava da
Obediência foi integrado no
Grande Oriente Lusitano Unido,
numa única Loja, que recebeu o
título distintivo de Regeneração
Irlandesa.
Entre 1737 e 1740, assistiu-se a um
declínio da Grande Loja de Inglaterra,
devido a tensões políticas, e a
questões internas.

A década de 40 foi um período de


grande emigração irlandesa para
Londres. Alguns destes emigrantes, a
maior parte dos quais católicos, e de
classe social inferior, viram recusada a
sua entrada na Grande Loja, o que
levou ao aparecimento de Lojas
independentes, predominantemente
constituídas por irlandeses.
Em 1751, 6 Lojas “irlandesas” reuniram-se
na Taberna Turks Head, em Greek Street
Soho, e constituíram um Grande Comité,
para a fundação de uma nova Grande Loja.
Em 1753, a mesma autodenominou-se “Most
Ancient and Honorable Society of Free and
Accepted Masons”, vindo mais tarde a
chamar-se “Grand Lodge of England
according to the Old Institutions”, ficando
conhecida como “Grande Loja dos Antigos”,
e passando a designar depreciativamente a
primeira Grande Loja de “Grande Loja dos
Modernos”.
Depois de dois Grão Mestres de classe social
mais modesta (Robert Turner/1753 e Edward
Vaughan/1754) os Antigos também passaram, em
1756, a ter Grão Mestres Nobres, sendo o
primeiro deles o Conde de Blessigton, antigo Grão
Mestre da Grande Loja da Irlanda.
Em poucos anos, a matriz irlandesa desapareceu.
Dos 173 fundadores, mais de 100 voltaram à
Irlanda, ou foram expulsos por falta de
pagamento, nos três anos seguintes.
Ao fim de poucos anos, sociologicamente, as duas Grandes Lojas
eram muito semelhantes.
A Obediência foi crescendo progressivamente, chegando a ter 260
Lojas em 1813.
Muito do sucesso da Grande Loja dos
Antigos deveu-se a Lawrence Dermott
(1720-1791), pintor de edifícios e depois
comerciante de vinhos.
Nascido em Dublin, foi iniciado na Irlanda,
tendo sido Mestre da Loja nº 26, e
ascendido ao Arco Real.
Tendo emigrado para Londres em 1748,
foi aceite numa Loja dos Modernos, tendo
passado para a Grande Loja dos Antigos
em 1752. Foi Secretário, e Deputy Grand
Master desta Obediência.
Destacou-se pelas suas qualidades de
organização, e de combate ideológico.
Também os Antigos tiveram as suas
Constituições, redigidas por
Lawrence Dermott, e denominadas
de “Ahiman Rezon” (A pray to a
Brother).
Trata-se de um documento mais
conciso do que as Constituições de
Anderson, praticamente sem parte
Histórica, e de caráter mais Teísta.
Inclui uma Oração para Maçons
Judeus.
Tendo edições de 1756, 1764, e
1778, a partir da 2ª edição passou a
integrar violentos ataques aos
Modernos.
Os Antigos criticavam os Modernos,
acusando-os de terem abandonado as
Tradições da Antiga Maçonaria, no que
concerne à prática Ritual. Os aspetos
apontados eram os seguintes:
- Os Modernos teriam abandonado a
prática de Orações em Loja.
- Os Modernos teriam abandonado a
leitura dos Catecismos.
- Os Modernos teriam negligenciado as
Festas de S. João.
- Os Modernos teriam eliminado os Diáconos.
- Os Modernos não praticariam a Cerimónia Secreta de Instalação
do Mestre da Loja, nem o Arco Real.
O Sistema Simbólico que se consolidou,
na Grande Loja dos Antigos, apresentava
os seguintes elementos essenciais:
- O Mestre da Loja no Oriente.
- O Senior Warden no Ocidente.
- O Junior Warden no Meio-Dia.
- Três velas que simbolizam as
pequenas Luzes (Sol, Lua, Mestre da
Loja).
- Um Altar ao centro, onde repousam
as Grandes Luzes da Maçonaria
(Esquadro, Compasso, Livro da Lei
Sagrada).
Todos os Ritos Maçónicos que relevam
deste Sistema, dizem-se Antigos.
Moderno Antigo
Aquando da promulgação do “Unlawful Societies
Act”, de 1799, a Maçonaria não foi incluída na
ilegalização das Sociedades Secretas devido a uma
ação conjunta dos Grão Mestres das duas Grandes
Lojas.
A Grande Loja dos Modernos
instituiu a “Promulgation Lodge”,
que trabalhou entre 1809 e 1811,
destinada a estudar as diferenças
dos Rituais.
Em 1813 eram Grão Mestres os
Duques de Sussex (Modernos), e
de Kent (Antigos). Tudo convergiu
para a unificação.
Em 27 de Dezembro de 1813, em
Freemasons Hall, celebrou-se o Ato de
União entre as duas Grandes Lojas, que
originou a Grande Loja Unida de
Inglaterra.

O Duque de Sussex foi o primeiro Grão


Mestre desta Obediência, a partir daí
auto-denominada “Grande Loja Mãe do
Mundo”.

O seu modelo foi exportado para todo o


Império Britânico, e para as Obediências
dos restantes Países, reconhecidas pela
UGLE.
No princípio do século XVIII, surgiu em Inglaterra uma forma de
Maçonaria Especulativa, que se consolidou num modelo coerente,
após o Ato de União.

Neste conceito, nascido dos Iluminismos (não radicais) Inglês e


Escocês, a Maçonaria assume-se como “...Um sistema de moral
velado por Símbolos e Alegorias…”, que procura ser o Centro de
União dos Homens que de outra forma permaneceriam separados.

Desde a sua fundação, a Solidariedade é um pilar importante da


Maçonaria Anglo-Saxónica.

Conjuntamente com a Monarquia, e com a Church of England, foi um


dos Grandes Eixos do Império Britânico.
Rudyard Kipling (1865-1936)

“The Mother Lodge”

Você também pode gostar