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QUARTA-FEIRA, 4 DE MAIO DE 2011

o resumo do livro das viagens de gulliver


Primeira Viagem

Lemuel Gulliver era cirurgião em Londres. Diante do pouco movimento de pacientes em seu

consultório o Dr. Gulliver decide aceitar o convite do Capitão Willian Prichard que seguia com

seu navio rumo ao mar do Sul.

Na travessia para as índias Orientais uma violenta tempestade afunda o navio. Após muito

nadar Gulliver, guiado pelo vento e pela maré, chega à praia e, por estar muito cansado,

adormece.

Ao acordar tenta levantar-se e nota que seus braços e pernas estão amarrados. Ao ouvir um

ruído confuso verifica que se trata de minúsculas criaturas humanas (pigmeus) do país de

Liliput, que tentam atingi-lo com flechas. Por ordem do imperador de Liliput, Gulliver é

levado à capital para então decidirem o que fazer com ele, visto que sua permanência

naquele país traria muitos gastos em virtude do seu tamanho e sua morte causaria uma

peste na metrópole e se arrastaria por todo o reino por causa do mau cheiro.

Decidem que, por enquanto, todos os aldeões terão que colaborar com o seu sustento.

Fazem um inventário de seus pertences e ficam perplexos diante do tamanho dos objetos, os

quais desconheciam sua utilidade.

Logo, Gulliver, que era muito inteligente, começa a aprender a língua dos Liliputianos e aos

poucos conquista a confiança dos habitantes. Em pouco tempo passa a ser amado por muitos

e invejado por alguns como o Sr. Skyresk Bolgoham que tramava intrigas para afastá-lo do

reino.

Após vários pedidos o rei concede-lhe a liberdade, mediante algumas coisas que teria que

cumprir. Autoriza-o a conhecer a metrópole desde que não pise nas pessoas e nem danifique

as casas. “O homem montanha”, como era chamado, é ordenado pelo rei a lutar contra os

Blefuscu, povo que discordava dos Liliputianos quanto a forma de quebrar o ovo: se pela

ponta mais fina ou pela mais grossa. Gulliver vence a Batalha e recebe um título honorífico.

Al´m disso, também fica amigo do rei de Blefuscu.

Novamente seus serviços são solicitados. Desta vez ele é chamado para apagar um incêndio

nos aposentos da imperatriz. Gulliver apaga o fogo com jatos de sua urina, procedimento

ilegal naquele país. O rei de Liliput é pressionado a matá-lo aos poucos de fome. Avisado por

um amigo importante da corte, Gulliver foge para Blefuscu e lá é ajudado a retomar para

Inglaterra.
Segunda Viagem

Dois meses após ter chegado a sua terra Natal, Gulliver embarca novamente em sua

segunda viagem desta vez com destino a Surat.

Devido a uma tempestade, é levado acidentalmente a ilha de ” Broddingnog, habitada por

uma raça de gigantes. Assustado diante do tamanho dos gigantes teme ser engolido por

eles. No entanto, Grilbrig, um lavrador, leva-o até a sua casa e, com a intenção de obter
lucros e também para gabar-se, o exibe a todos o seu “achado”: um estranho animal que

fala e imita todos os seus atos.

Para proteger seu “patrimônio”, Grilbrig não permite que ninguém o toque, a não ser sua

filha Glumdalclitch, que cuidava de sua preservação e ensinava-lhe a língua nativa. Gulliver,

nessa viagem, passa a ser chamado de GILDRIG.

O lavrador após lucrar muito com suas exibições e suspeitando que o estranho animalzinho

estivesse muito doente decide vendê-lo a rainha, juntamente com sua filha, que era sua

pajem. A rainha ordena que se faça uma caixa que pudesse servir de dormitório e tudo foi

adaptado para que Gulliver se sentisse confortável. Gulliver se torna, aos poucos, companhia

indispensável da rainha. Isso desperta a fúria de outra criatura que também pertencia a ela:

um anão que constantemente atormentava Gulliver com suas maldades.

O rei, em seus momentos de folga, passava horas conversando com Gulliver. Ele queria

saber tudo sobre sua terra de origem, pois queria conhecer tudo o que merecesse ser

imitado.

O pequeno contou detalhadamente sobre a constituição do parlamento inglês, os tribunais de

Justiça, o critério de escolha de um novo nobre. E o rei conclui que “a grande maioria dos

vossos semelhantes é representado pela mais perniciosa raça de pequenos e odiosos insetos,

que a natureza já permitiu rastejassem na superfície da terra”.

As dimensões exageradas das pessoas, das feridas, dos insetos, das imundices, etc. o

deixavam nauseado. Por isso, Gulliver começa a pensar numa maneira de retomar ao seu

país e sua libertação ocorre no dia em que acompanhou o rei e a rainha numa viagem à

costa do Sul do reino. Como sua pajem estava muito resfriada, Gulliver é levado por outro

pajem para ver o mar. Então, o menino se distrai e uma enorme águia arrasta-o em direção

a um rochedo. A ave deixa-o cair no mar e ele é encontrado por marinheiros da sua

“espécie”, ou seja, que tinham proporções semelhantes a sua. Gulliver então é deixado em

terra e ele retorna à sua casa.


Terceira Viagem

A convite do Capitão William Robson, Gulliver embarca para uma viagem às índias Orientais

como comandante de uma chalupa (Antigo navio à vela, cuja mastreação se compõe de

gurupés e dois mastros: o de vante de lugre, e o de ré inteiriço, que enverga pequena vela

latina quadrangular). Durante a viagem, é perseguido por dois navios de piratas que lhe

roubaram a chalupa e lhe dão canoa para que ele consiga chegar em terra.

Depois de algum tempo, Gulliver chega a uma ilha formada por penhascos. Depois ser

encontrado pelos habitantes, é levado ao palácio real por uma nave até a presença do Rei,

que não entendendo sua língua, ordena que lhe ensinem a língua nativa.

Gulliver então aprende que o nome da ilha era Laputa “Ilha Volante ou Flutuante” e graças a

sua inteligência em poucos dias adquiriu o conhecimento da língua. Os habitantes de Laputa

viviam numa nave e eram conhecedores da lógica (Matemática) e da harmonia (música), não
se interessando por nenhum outro ramo de conhecimento.

Gulliver pouco interessado nestas ciências pede permissão para visitar outra ilha e segue

para Balnibardi. Em Lagada, metrópole de Balnibardi, Gulliver visita a academia local em que

muitos cientistas tentavam aperfeiçoar seus projetos de remodelação de todas as artes,

ciências, línguas e ofícios.

Como esses projetos ainda não atingiram a perfeição, os habitantes estavam à mercê dos

cientistas, com isso as casas estavam desmoronando, o campo miseravelmente arruinado e

o povo sem roupa e sem comida. Menos o rei que se contentou em viver na maneira antiga,

preferiu o bem estar do quê o progresso geral. Gulliver propõe alguns melhoramentos nos

projetos os quais são aceitos e reconhecidos pelos cientistas.

Cansado de morrar nesse lugar, Gulliver pensa em retornar a Inglaterra, mas a falta de um

navio o faz visitar uma ilha chamada Glubboubdrib, que significa “Ilha dos feiticeiros ou

mágicos”. Nessa ilha o governador tem poderes chamar dentre os mortos que bem quisesse

e exigir-lhes os serviços por 24 horas (não mais). No começo Gulliver ficou assustado, mas

logo se familiarizou com o ambiente e aproveitou para chamar os espíritos de muitas

personalidades como Alexandre o Grande, César, Pompeu, Brito, Homero, Aristóteles,

Descartes, Gassendi, com a intenção de esclarecer algumas dúvidas sobre as histórias

antigas e modernas.

Depois de sua estada Glubboubdrib, segue viagem e tenta chegar ao Japão onde, de lá,

regressaria à Inglaterra. Durante a vigem passa por Luggag, onde foi recebido com muita

cordialidade. Fica sabendo da existência de uma raça chamada Struldbrugs (Imortais que

viviam naquele país) e deseja ser um deles, mas quando soube das desvantagens, logo se

arrepende e segue para o Japão e de lá embarca num navio com destino a Inglaterra.
Quarta Viagem

Cansado do ofício de médico de bordo, Gulliver aceita o convite para ser capitão do navio.

Em virtude da morte de diversos homens de seu navio, é obrigado a recrutar novos homens.

Logo depois, é traído por eles e deixado em um bote alto mar. Depois de vagar a deriva por

algum tempo, chega ao país dos Houyhnhnms, que era governado por cavalos, que

procediam como criaturas racionais. Gulliver pensou estou louco.

Os cavalos ficaram interessados em saber de que parte ele vinha e como aprendeu imitar os

Yahoos cruéis e desprezíveis animais irracionais daquele país, muito parecido fisicamente

com os homens.

Depois de aprender o idioma dos cavalos, Gulliver explica a eles porque foi parar naquele

lugar: Então ele conta como foi traído por criaturas de seu país. Isto gera grande confusão

entre os cavalos, pois eles não entendiam que pudesse haver falsidade ou mentira entre os

irracionais, como eram considerados, porque eles não conheciam o “duvidar’ e o não

“acreditar”.

Então o cavalo amo pede para que Gulliver descreva o país de onde viera. Gulliver fala-lhes
sobre a questão da acusação e defesa, da importação de produtos como comida e bebida

para satisfazer a ganância e a vaidade de muitos, das doenças físicas e psicológicas, de

como são escolhidos os primeiros ministros e os ministros de estado e sobre os motivos que

levam seu país guerrear.

Depois que ouvir atentamente o relato de Gulliver, o cavalo amo diz a Gulliver como era o

comportamento dos Yahoos. Segundo ele, os Yahoos e os homens descritos por Gulliver se

diferenciam apenas no vigor, na rapidez, no comprimento das garras, mas pela descrição

que fez dos costumes e dos atos, julgou existir idêntica semelhança na disposição dos

espíritos.

O cavalo amo relata também as virtudes dos Houyhnhnms uma delas é não ter amor

fraterno, eles amam a espécie toda, controlam a natalidade, quando se casam escolhem as

cores para não haver mistura de raças e as fêmeas recebem o mesmo tratamento dos

machos. Fala também da Assembléia que é feita de 4 em 4 anos para saber do estado e as

condições dos vários distritos; se precisam ou se sobram aveia, feno, vacas ou Yahoos.

Gulliver estava decidido a ficar neste país para sempre, mas foi realizada uma Assembléia

geral para saber se os Yahoos deviam ser exterminados da face terra. E o cavalo amo

aconselhou-o a ir embora em virtude de ele ter se tomado mais como um Houyhnhnms do

que como um animal irracional, um Yahoo.

Ajudado por um Alazão, Gulliver constrói uma canoa e se despede de todos com muita dor e

lágrimas. Depois, tenta morar em outra ilha, mas é expulso por seus nativos homens e

mulheres completamente nus.

Algum tempo depoism é encontrado por marinheiros que o levaram, mesmo contra

suavontade. O capitão do navio convenceu-o a voltar para sua terra. Ao chegar, sente

desprezo pela família, face à comparação com os Yahoos e por estar desabituado do contato

com este “animal”.


Contexto Histórico

Na época em que a obra foi escrita, o Reino Unido da Grã-Bretanha era formado pela

Inglaterra, País de Gales, Escócia e Irlanda.

Os Irlandeses não eram tratados como os demais integrantes, pois sua população era de

origem celta e sua religião era católica. Embora tivessem o direito de votar, por serem

católicos não podiam ter cargos públicos. A população vivia na mais sórdida miséria. Em

1666 foi vedada a exportação de gado para o reino e começou a criação de carneiro, sendo

que o comércio entre as duas ilhas caiu consideravelmente. Como se não bastasse, em

1699, uma outra lei decretada pela Inglaterra proibia a exportação para outros mercados do

mundo, tudo sob uma política escravizadora, fazendo com que milhares de fabricantes

abandonassem o país, enquanto a Coroa Inglesa devorava a Irlanda.

Em 1694, o novo regime, do qual John Locke foi teórico “Ensaio sobre o Governo Civil

-1690″, foi confirmado pelo Ato do Estabelecimento, que assegurava a sucessão de


Guilherme III, à sua cunhada Rainha Ana. As idéias dos filósofos iluministas começam a ser

difundidas na Inglaterra e eram: Separação dos Três poderes, a liberdade de comércio e o

direito de propriedade; acreditavam na razão humana como a forma autêntica para a

compreensão da sociedade, sendo ela a fonte de todo o conhecimento.

Havia dois grupos políticos:

1- Tories é o nome do grupo que deu origem ao Partido Conservador.

2- Whigs formavam o grupo que originou o Partido Liberal.

Os Tories defendiam as prerrogativas do Rei e os privilégios da Igreja Anglicana e o suporte

dos Whigs vinha dos setores da aristocracia e comerciantes de Londres, estes advogando

uma política de maior tolerância com católicos e não-conformistas (presbiterianos).

PERSONAGENS
Primeira Viagem (A Liliput)

- Personagens Principais
 Sr. Limuel Gulliver – Morador de uma pequena propriedade em Nottinghamshire,
terceiro filho de uma família de Cinco. É enviado aos 14 anos para Emanuel College, em
Cambridge, onde permaneceu por três anos aplicados aos estudos de Medicina. Torna-se
aprendiz do Sr. James Bates. Aplica-se aos estudos da navegação e outras partes da
matemática, úteis a quem tenciona viajar.
 Golbasto Momaren Evlane Gurdilo Shefin Mully Ully Gue – Imperador de Liliput.
Monarca de todos os monarcas, mais alto do que os filhos dos homens, agradável como
a primavera, confortativo como o verão.
 Skyresh Bolgolam – Antagonista. Ministro e almirante do rei de Liliput; pessoa de
muita confiança do amo e grandemente versada em negócios, mas rabugento e áspero.
Sem motivos, torna-se inimigo mortal de Gulliver.
 Flimnap - Tesoureiro do rei (amigo de Gulliver), deixou de ser amigo mais tarde
devido à calúnias envolvendo sua esposa e Gulliver.
- Personagens Secundários
 Sr. Bates - Mestre, professor, eminente cirurgião de Londres.
 Srta. Mary Borton – Segunda filha do Sr. Edmund Burton (que era negociante de
meias em Newgate Street, que trouxe como dote 400 libras), esposa de Gulliver.
 William Prichard - Comandante do Antílope, navio em que Gulliver fez sua primeira
viagem significativa com destino às índias Orientais.
 Limtoc - o general.
 Lalcon – o camareiro.
 Balmuff – o grande juiz. Redigiu contra Gulliver uma acusação por traição e outros
crimes capitais.
Segunda Viagem (Broldingnag)

- Personagens Principais
 Gildrig – Como Gulliver foi chamado na terra dos gigantes.
 Glumdalclith ou Amazinha – Filha do Gigante, uma menina de nove anos. Esperta
para a idade, muito perita na agulha (boa costureira); Carinhosa, amiga e protetora
inseparável de Gulliver.
 Grilbrig – O Fazendeiro. Pai da Amazinha, homem ganancioso, ganhava dinheiro
com as apresentações de Gulliver. Quando Gulliver adoece, ele o vende para a rainha de
Broldingnag.
- Personagens Secundários
 Rainha – Se dedicava as coisas fúteis do reino, considerava Gulliver uma criatura
inteligente que servia para distraí-la.
 Rei -Possuía grande sabedoria, mantinha longas conversas com Gulliver a respeito
da Inglaterra.
 O Anão da corte -Era o menor adulto do país, com apenas 9 metros de altura,
proferia palavras irônicas a respeito do tamanho de Gulliver, invejava-o, pois havia
perdido, para ele, a preferência da corte.
Terceira Viagem (Laputa)

- Personagens Principais
 O Rei – Como o restante dos habitantes, dava importância ao estudo da matemática
e da música.
 Munodi – Pessoa de primeira categoria. Foi governador Lagado, capital de
Balnibardi, durante alguns anos.
 Os Batedores – Principal função era despertar tanto o Rei como os habitantes com
mascateiros a fim de trazê-los ao assunto atual.

Glubbdubdrib – (próxima cidade a ser visitada por Gulliver) Ilha dos feiticeiros ou mágicos.
 O Rei - Era mágico, invocava os espectros dos mortos para servi-lo durante 24
horas. Atencioso respondia para Gulliver todas as indagações feitas sobre sua cidade.

Luggnagg – (Terra dos Imortais)


 Características Gerais – Povo cortês e generoso, tratam polidamente os
estrangeiros.Nasciam muito raramente: Primeiro com uma mancha vermelha e circular
na testa (sinal de ser imortal). Essa marca aumentava e mudava de cor com o passar do
tempo que seria chamado Struldibrugs.
Quarta Viagem (País dos Houyhnhnms)
 Amo - Amigo de Gulliver. Cavalo com características humanas: dotado de fala, é ele
quem ensina a Gulliver as primeiras palavras da terra dos cavalos.
 Houyhnhnms – Cavalos falantes, dotados de raciocínio e atitudes humanas.
 Yahoos – Seres com características humanas com comportamento irracional.”…
Tinham a cabeça e o peito cobertos de pêlos grossos, crespos em alguns e lisos em
outros;… a pele, de uma coloração castanha de camursa…”
FOCO NARRATIVO

Ao escrever “As Viagens de Gulliver”, J. Swift, com seu estilo lúcido, direto, destituído de

efeitos literários adotou o método da cultura Livresca, próprio da época, ou seja, relatos de

viagens; isto para causar impacto nos seus leitores, com uma narrativa diferente das outras

dos outros escritores.

Percebe-se que o escritor J. Swift pinta-nos, qual um dramaturgo, o cenário em que alguns

acontecimentos vão transcorrer, sendo que este é idealizado, isto é, apenas como “pano de

fundo’, pois o drama não está dentro da personagem “Gulliver”, mas sim, no próprio

romancista. E estas forças interiores, ou melhor, a sua revolta contra a sociedade e sua vida,

é que motivaram o romance.

Do ponto de vista narrativo, é um processo linear introspectivo, não há conflitos, apenas

momentos de tensão, porque o discurso é como se fosse uma auto-análise do escritor

projetando-se em seu personagem por meio de aventuras. Como exemplo:


“Imagina tu mesmo, leitor cortês, quantas vezes desejei possuir então a língua de

Demóstenes ou de Cícero, para entoar louvores da minha querida terra natal, em estilo

condizente com os seus méritos e felicidade!’ (p.158 -Segunda Viagem).

E assim, como protagonista-narrador, ele deixa que a personagem fale por si e se desnuda

livremente perante o leitor.

Assim sendo, a sua intenção é atingir a um público, instruindo-o como se fosse “contra-

ideologia” e apresentando por meio do fantástico (os Houyhnhnms) uma sociedade ideal.

Explorou a fantasia como quis e pôde para desdenhar a realidade por ele vivida, sendo que

essa sua técnica provocou muitas perguntas, do tipo: “Que pretende o autor dizer com isso?

Como o romancista vê o mundo? Quem será o herói deste romance? E o anti-herói? Seria a

personagem-narrador?

TEMPO E ESPAÇO

Quanto às viagens, o “tempo” é cronológico, as datas são precisas, como se um marinheiro

estivesse navegando e para seu controle utilizasse uma bússola. Alguns exemplos serão

citados abaixo.

O “espaço”, na maioria das vezes, é aberto: mar, terra, ilha e, em alguns momentos, o

ambiente se fecha. O escritor alonga-se na descrição de alguns espaços, como o caso da ilha

Laputa.

Exemplos:

- Na parte oito da primeira viagem à Liliput (pigmeus), menciona:

”Estávamos então a 30 graus latitude Sul… ”

“Chegamos às Dunas no dia 13 de abril de 1702.”

“Permaneci apenas 2 meses com minha família em Redriff… “

- Na parte oito da segunda viagem à Brobdingnag (gigantes):


“Numa jornada à costa Sul do reino… acompanha o rei e a rainha… num palácio aos

arredores de Flanflasmic… cidade a menos de dezoito milhas inglesas do litoral.”

“… no terceiro dia de Junho de 1706 …chegamos às Dunas .”

- Na parte três da terceira viagem, à Laputa (intelectuais), à Glubbldubdrib

(feiticeiros) e Luggnagg (imortais):

“A ilha Volante ou Flutuante é exatamente circulante; o seu diâmetro é de 7.837 jardas, ou

seja, quatro milhas e meia, … dez mil acres, com uma grossura de trezentas jardas.”

- Na parte onze da quarta viagem ao País dos Houyhnhnms (cavalos):

“… estivéssemos perto de 10 graus ao Sul do cabo da Boa Esperança ou cerca de 45 graus

de latitude Sul…”

“… No dia 5 de Setembro de 1715 fundeamos nas Dunas, cerca das nove da manhã e, às

três da tarde, cheguei em casa.”

QUANTO A INTRODUÇÃO DO LIVRO


O narrador utiliza-se de dois momentos “Carta do Capitão Gulliver a seu primo Sympson” e

“O Editor ao Leitor”, visando a introduzir a sua história. No primeiro, procede uma síntese do

passado, no tempo presente, através do qual dirige-se ao seu primo em forma de cobrança,

satiricamente e simultaneamente comenta sobre os detalhes acrescentados ou omitidos do

livro em questão.

Assim sendo, abordou à cerca da última viagem “Viagem ao País dos Houyhnhnms” e quanto

a sua linguagem de marinheiro.

Por outro lado, para passar a imagem que tudo aconteceu mesmo, acrescentou o segundo

caso, no qual a personagem (seu primo e editor) confirmou que foi dito na “carta” e

esclareceu que fez alguns cortes no romance, para adaptá-lo ” à capacidade geral dos

leitores, e se não o fizesse o volume seria pelo menos duas vezes maior”.

No primeiro capítulo com o pretérito perfeito, começa contando “Possuia meu pai …”, para

situar a narrativa.

QUANTO AO DESFECHO DO LIVRO

No capítulo XII, o narrador já em sua casa, no jardinzinho de Redriff, dirige-se ao leitor e

comenta “a duração de tempo” e o seu objetivo na narrativa: “contei-te a história fiel das

minhas viagens durante dezesseis anos e mais sete meses, na qual me preocupou menos o

ornamento que a verdade”, isto para, novamente, fortalecer a sua verdade para o receptor,

a respeito das viagens.

No desfecho da obra, o narrador ainda faz críticas irônicas: “que essa descrição não se refere

à nação britânica” e valoriza-se “Agrada-me assaz o não poder esta minha obra encontrar

censuras, pois que objeções podem fazer-se contra um escritor que tão somente refere

simples fatos?’!
Tema
O tema da obra “Viagens de Gulliver” são as viagens imaginárias feitas pelo personagem

princinpal: Sr. Limuel Gulliver. Essa obra, que têm a aparência de um “conto fantástico”, na

realidade é sátira mordaz às instituições sociais da época.


Assunto

Em as “Viagens de Gulliver” são narradas as várias viagens do Limuel Gulliver. Nelas,

Gulliver encontra povos e mundos estranhos, que na realidade são metáforas para os vícios

e o comportamento ridículo da humanidade.

Gulliver faz quatro viagens e, a cada nova expedição, é iniciada uma nova aventura: o

primeiro país “imaginário” a ser visitado é Lilliput, cujos habitantes medem menos de 15 cm.

Em seguida, Gulliver visita Brobdingnag, que é habitado por gigantes; Laputa, ilha voadora

habitada por sábios loucos; o país dos Houyhnhnms, cavalos que dominam os Yahoos,

antropóides degradados.

Tudo isso e muito mais fazem de “Viagens de Gulliver” uma viagem literária empolgante
Linguagem
Um dos maiores humanistas do seu tempo, numa época que se dava ênfase ao classicismo,

a consciência de Swift orientou seu método e seu estilo, surgindo uma prosa rigorosamente

clássica, de extraordinária eficácia na transmissão de seus valores e idéias.

Swift usa a técnica da ficção científica para descrever acontecimentos fantásticos com tal

riqueza de detalhes que lhes parecem perfeitamente verossímeis. Seu estilo é descritivo e

seus relatos resultam num humanismo de irresistível racionalidade inconformismo combativo

e inigualável capacidade de persuasão.

Ao escrever o “Diário a Stella”, expressava-se numa linguagem cifrada, composta de

combinações de letras e palavras, compreensíveis apenas para ele e sua Stella. É a chamada

“pequena linguagem”, que criou especialmente para comunicar-se com a amada. Swift

utilizou essa “pequena linguagem” em “Viagens de Gulliver” ao criar nomes de países,

pessoas, partidos políticos e localidades, além é claro da linguagem específica de cada país.

Alguns exemplos podem ser vistos a seguir:

Lilliput: Pode ser derivado do inglês e do latim.

- Little Put: Pequeno pensador (do latim, put = pensador).

- Little Place: Pequeno lugar.

Blefuscu: pode estar ligado a França e derivar do latim e do inglês.

- Bluff as you: cordial como você.

- Bref oscus: Pequeno asqueroso (do francês, breff: pequeno; e do latim, oscus: asqueroso,

vil)

Grildrig: As derivações possíveis são do inglês, do irlandês e do latim.

- Girl Thing: coisa de criança.

- Grileag: uma coisa pequena


- Grillus: Gafanhoto.

Glumdalclitch: Baseada no código usado no “Diário a Stella”, substituindo algumas letras,

temos:

-Grand Altrix: (do latim: ama, governanta: grande ama)

La Puta: Derivando do latim, temos: “país dos pensadores” (onde Swift, satiriza cientistas,

acadêmicos e intelectuais em geral).

- Derivando do espanhol: refere-se a um provérbio do dicionário de espanhol de Swift:

“Cuidado com a puta, que lhe deixa a bolsa vazia.” Swift faz alusão ao empobrecimento da

Irlanda pela Inglaterra (1/3 dos rendimentos da Irlanda na época, eram gastos na

Inglaterra).

Lagado: Pode ser decodificado como um anograma de Londres.

- Lonnod: London (Londres).

-Glubbdubdrib: Dub -Bul -Lin Dublin.


Houyhnhnms: Provavelmente pronunciado como Whinnims, sugerindo a palavra whinny

(relinchar).

Yahoos: Pode ser traduzido por duas exclamações de repugância: “YAH!” e “UGH!”

(derivações mais simples).

IDEOLOGIA

Em “Viagens de Gulliver”, Swift procura mostrar, através da sátira, a vida política e social da

Inglaterra no século XVII. Embora a intenção alegórica mais direta e pessoal esteja

relacionada com a política britânica, sua sátira visa especialmente à humanidade.

Torna-se evidente a valorização dos padrões civilizados da época: mentalidade burguesa que

se consolidaria logo mais no século XIX com o Romantismo.

O Humanismo Iluminista está evidente, desde o início, na ênfase dada por Swift à

cultura, ao saber. No entanto, o elemento mais valioso que se encontra em “Viagens de

Gulliver” é a visão da humanidade de vários pontos de vista:


 O primeiro é de um rei com superioridade física que vê a humanidade ridiculamente
pequena. Swift encontra aqui a possibilidade de exercer a implacável tirania de seu
espírito sobre os homens, mostrando sua própria superioridade;
 O segundo é o de um ser físico inferior que vê a humanidade grotescamente
grande. Tudo o que provocava repugnância ou rancor em Swift mostra-se aí de maneira
descomunal, como a sua irreprimível náusea pelo corpo humano, o que pode estar
relacionado ao fato de não ter se casado, conservando a distância todas as mulheres que
tentaram se aproximar dele;
 O terceiro é o ponto de vista do senso comum, segundo o qual a vasta maioria da
humanidade mostra-se louca e perversa. Satiriza os cientistas e filósofos dedicados às
altas pesquisas científicas, sem nenhuma preocupação com sua aplicação prática, o que
os leva a viverem como verdadeiros imbecis;
 O quarto ponto de vista é o de um animal racional que vê a raça humana inteira
como irracional e bestial. Mostra a enorme superioridade dos eqüinos em relação aos
homens.

A inegável crueldade que transparece da linguagem satírica escolhida por Swift, mais do que

atacar a Inglaterra da época, denunciava as misérias morais da humanidade.

Em 1725, o autor escreveu a seu amigo Alexander Pope, afirmando que, com “Viagens de

Gulliver” pretendia agredir o mundo, não diverti-lo. Estava coligindo dados para desmascarar

o falso conceito do homem como animal: “O homem é capaz de ser racional, porém não se

esforça; ao contrário, parece comprazer-se no cultivo dos instintos e nada de bom constrói.

Odeio esse animal chamado homem, embora ame com todo coração a Pedro ou a João”.

Além de desmascarar a humanidade e demolir seus falsos valores (seu objetivo

principal), Swift visava ainda ridicularizar a moda dos livros de viagem, que na

época, se transformaram numa obsessão da burguesia.

Outro aspecto importante refere-se a episódios simbólicos como no episódio do

incêndio do palácio real, ou noutro, do início da narrativa, em que a multidão contempla

alvoroçada a corrente de urina do homem montanha descendo terra afora como a caudal de
um imenso rio; depara a psicanálise uma das manifestações do infantilismo sexual de Swift,

em sua desenvolta forma de agressividade. Outro episódio em que os soldados, quando

passavam sob as pernas de Gulliver, reparavam espontaneamente para o enorme volume de

seus órgãos genitais, é interpretado pela psicanálise como uma fantasia compensatória,

proveniente do medo da impotência que teria dominado Swift, impedindo-o de realização

integral como homem.


Muitos outros aspectos relativos à sátira que foi aplicada na época podem ser
observados.

Um exemplo é a ironia de Swift sobre a intolerância humana, com base em convicções de

importância discutível, como no caso dos partidos políticos, Tramecksan e Slamecksan de

Liliput, em que não é difícil surpreender uma alusão aos partidos Ingleses dos Whigs e

Tories. As divergências entre os Intransigentes partidários distinguiram-se pela adoção, uns

de saltos altos e outros de saltos baixos (Lilliput).

Outro exemplo é o de Luggnagg onde viviam os “struldbrugs”, os imortais, que alerta para

as misérias gerais da vida humana. Swift convertera a palpitação pela vida imortal num

espetáculo horrível e ultrajante para a espécie: “cada homem deseja uma longa vida, mas

nenhum homem quer ser velho” ( Thoughts on .Various Subjects, Prose, de Swift).

Pode-se, ainda, citar o comentário de George Orwell que viu a comunidade de

Houyhnhnms como um estado totalitário, com os Yahoos desempenhando o papel de Judeus

na Alemanha nazista. A organização social e política dos “Houyhnhnms” se baseava numa

espécie de sistema de casta racial, pois não existia o vocabulário “opinião” em sua linguagem

e nem havia entre os indivíduos nenhum sinal de diferença de sentimentos.

As quatro viagens formam uma série em que a visão vai se tornando cada vez mais escura:

representam estágios da desilusão de Gulliver, que vai se tornando tão obcecado pelas faltas
genéricas da humanidade que não consegue mais apreciar as virtudes dos indivíduos. Como

Gulliver movimenta-se através dessas visões do mundo, seu próprio caráter e atitudes

mudam. E é Swift quem levanta a questão: de que maneira um ser inteligente e

sensível reage ao crescente conhecimento da natureza humana?

A reação óbvia é tornar-se um misantropo (desacreditando do homem), cada vez mais

obcecado pelo que há de errado com as pessoas. E o que Gulliver fez. Swift por outro lado,

reage de maneira diferente, pois estava preparado para ser mais tolerante porque não

esperava que as pessoas fossem racionais.

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