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Comentários do filme 1492 – A conquista do paraíso (1992) e do texto Colombo hermeneuta

de Tzvetan Todorov

Com as leituras do filme dirigido por Ridley Scott e do texto extraído do livro A
conquista da América, de Tzvetan Todorov, podemos apreender traços da atitude do
colonizador diante do contato com os povos colonizados. No caso, essa apreensão tem como
ponto de partida os feitos de um personagem da história com papel fundamental no período
das grandes navegações, o navegador espanhol Cristovão Colombo.

O filme dirigido pelo Ridley Scott não foi propriamente um sucesso de bilheteria e foi,
para alguns críticos de cinema, um fracasso em vários aspectos. No entanto, tem o mérito de
ilustrar, com arte, as viagens de Cristovão Colombo rumo à descoberta da América.
Interpretado por Gerard Depardieu, Colombo é apresentado como um homem idealista,
religioso e com coragem para desafiar os controles da Igreja Católica e atravessar o mar
Atlântico, possuindo apenas de a convicção de que a terra é redonda e de que, se atravessasse
o oceano, encontraria a costa Ocidental da Asia.

Financiado pela Coroa espanhola (Rainha Isabel), Colombo conseguiu chegar até as
ilhas da América Central e parte da costa norte da América do sul, estabelecer contato pacífico
com os nativos, porém, sua falta de tato para lidar com as demandas dos nobres, o levou a
sofrer consequências graves. Após uma série de eventos desastrosos, tramas e traições,
assassinatos de colonos, massacres de nativos, ele acaba preso em 1501. Em 1502, seu filho
Fernando zarpou com ele no que seria a sua última viagem. Aportaram no Panamá e
descobriram um novo mar, o Oceano Pacífico. O Colombo apresentado pelo diretor é um
herói, um homem que estava além do seu tempo e que sofreu grandes injustiças por parte de
sociedade de sua época, mas que, por um resgate através de sua biografia escrita pelo filho
Fernando, teve garantido o seu lugar na história.

***

Quanto ao texto de Todorov, Cristovão Colombo dos relados das viagens revela um
homem fortemente religioso, também guiado por fortes convicções, mas ainda muito preso
aos paradigmas do pensamento medieval. Sua fé é cristã, mas também ele acredita em
ciclopes, sereias, amazonas e homens de caudas. E sua certeza é tão arraigada que ele
realmente “encontra” aquilo que acredita existir. A terra recém-descoberta é para ele o
Paraíso terrestre, aludido por Pierro d´Ailly em Imago Mundi. Vê sinais de riqueza e ouro em
toda parte. Mas ele se revela um melhor observador da natureza do que um observador dos
costumes humanos. Um exemplo é quando faz escala nas ilhas de Cabo Verde que na época
serviam aos portugueses como lugar de deportação para os leprosos do reino. Ele se interessa
mais em observar as tartarugas da ilha e se mostra um naturalista minucioso.

Quando se trata de compreender o outro, vemos que tem dificuldade de compreender


a linguagem dos nativos e até chega a cogitar que eles não possuem uma linguagem própria.
Nesse sentido, embora seja uma figura corajosa e que tomou decisões bastante ousadas pela
época, ainda estava preso ao paradigma de sua época com uma série de preconceitos e
incompreensão sobre a natureza do outro.
Não poderia deixar de considerar também que sua ambição (histórica ou mística) o
deixou cego para a realidade e o deixou cair em contradições, como o de um ímpeto de
dominação que leva um determinado grupo a subjugar outros, desprezando a humanidade do
outro. Mas como cobrar compreensão de um homem cujo período era de quase total
desconhecimento da diversidade humana? De todo modo, apesar das limitações e
contradições, suas conquistas tiveram impacto sobre o olhar do homem europeu sobre si
mesmo. O contato com povos diferentes viria a provocar verdadeira crise de identidade nos
povos colonizadores o que séculos depois se tornariam as bases do surgimento do projeto de
uma ciência do homem, a Antropologia.

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