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PLANO DE TRABALHO:
Estudo da Cor como Elemento de Identidade Cultural
na Arquitetura Latino-Americana
Relatório final apresentado à Coordenadoria de
Iniciação Científica e Integração Acadêmica da
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ – UFPR por
ocasião da conclusão das atividades de Iniciação
Científica – Edital 2012-2013.
NOME DO ORIENTADOR:
Prof. Dr. Antonio Manoel Nunes Castelnou, neto
Departamento de Arquitetura e Urbanismo
TÍTULO DO PROJETO:
Arquitetura e Contexto: A Cor como Elemento de Identidade Cultural
Latino-Americana
BANPESQ/THALES: 2012025990
CURITIBA
2013
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1 TÍTULO
2 RESUMO
3 OBJETIVOS
De modo geral, esta pesquisa tem como objetivo estudar de que forma o uso da cor pode
contribuir para a valorização da identidade cultural em uma obra contemporânea, especialmente
na América Latina, tendo como base os estudos do contextualismo arquitetônico. De modo
específico, pretende-se apontar exemplos que comprovam essa possibilidade, por meio da
seleção, descrição e análise de 03 (três) casos de edificações contemporâneas, onde seja
possível identificar características estético-formais que expressem a tradição, a cultura e a
identidade dos locais onde se inserem, preferencialmente em distintos países latino-americanos,
incluindo o Brasil. Por fim, objetiva-se concluir a pesquisa elencando aspectos e princípios
fundamentais para a aplicação das cores como elemento de conexão entre arquitetura e contexto.
2
4 INTRODUÇÃO
Para Castelnou (2010), a América latina pode ser entendida como uma vasta área de
absorção e fusão cultural ibérica, indígena e africana – ocorrida entre os séculos XVI e XVIII –,
que foi incrementada pelos fluxos migratórios europeus, no século XIX e XX. Isto originou
diferentes configurações culturais e variou de acordo com a sucessiva dependência aos sistemas
internacionais mercantis e industriais. As fontes culturais do mundo latino-americano nunca
chegaram a se fundir definitivamente em uma unidade completa e estável. Na verdade,
mesclaram-se em grau e forma variáveis, nas suas diversas regiões, segundo o tempo e a
situação geográfica (folclore, religião, etc.).
1
A designação “América Latina” teria sido usada pela primeira vez, segundo Faria (2013), por Napoleão III (1808-83) no século XIX, na
mesma época em que teria surgido a expressão de “Europa Latina” para designar os países europeus de língua derivada do latim
(neolatina). Outras fontes apontam para o engenheiro, político e economista liberal Michel Chevalier (1806-79), que teria usado o termo
em 1836. Contudo, sua utilização foi consolidada efetivamente com a criação da COMISSÃO ECONÔMICA PARA A AMÉRICA LATINA E O
CARIBE – CEPAL, em 1948, pelo CONSELHO ECONÔMICO E SOCIAL DAS NAÇÕES UNIDAS – ECOSOC, a partir de quando passou a ser
largamente utilizada para denominar os países latino-americanos, embora com algumas divergências.
3
autêntico e ligado à nossa realidade; a adoção de modelos universais (formais e tecnológicos) que
provocaram a negação do passado e a destruição de nossa paisagem (degradação urbana e
ambiental); o menosprezo das tecnologias ditas atrasadas, levando a um complexo de
inferioridade e de rejeição cultural, produzidos por modelos internacionais; o desprezo de valores
sociais e culturais, conduzindo à negação da cidade como obra comum e à uma arquitetura
caótica de especulação imobiliária; e a produção de uma cidade elitista e exclusivista, através da
negação da participação e do pluralismo (CASTELNOU, 2010).
Diante deste quadro, ainda conforme Castelnou (2010), é possível se definir como
transculturação o processo de miscigenação que vem ocorrendo entre as culturas local e
importada e que se baseia em estratégias de transferência, adaptação e transformação, as quais
variam conforme a criatividade e a diversidade de cada povo latino-americano, no decorrer de sua
história. Para Gutiérrez (1989), a arquitetura latino-americana é carente de teoria, mas não de
ideologia, que é a da sua dependência cultural. Ainda predominam as atitudes de importação de
modelos comparadas às de resgate de nossa cultura, mas se pode apontar caminhos como os
possíveis para a valorização de nossa arquitetura:
De qualquer forma, vale procurar apontar que relações podem surgir entre a arquitetura
latino-americana e seu contexto – seja em seu conceito mais abstrato (cultural) como concreto
(físico) –, o que se tornou objeto de estudo, principalmente, de arquitetos pós-modernos dos anos
1970 em diante, para os quais o elemento “cor” tornou-se um dos mais relevantes, sendo
(re)valorizando em vários trabalhos recentes em todos os países da América Latina.
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5 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Contudo, há um segundo modo de definir a América Latina3, ou seja, por meio da análise
do território não pelas delimitações geográficas e/ou políticas, mas culturais e históricas. Deste
modo, a América Latina compreenderia as Américas do Sul e Central, incluindo o México, mas
excetuando o território brasileiro. Isto se deve ao fato de que o Brasil teve uma história distinta dos
países que hoje são seus vizinhos, na América do Sul, principalmente pelo fato de ter sido uma
colônia predominantemente portuguesa e não espanhola. Analogamente, o México também gera
2
Composition of macro geographical (continental) regions, geographical sub-regions, and selected economic and other groupings.
Disponível em: < http://unstats.un.org/unsd/methods/m49/m49regin.htm>. Acesso em: 01.nov.2012.
3
Algumas fontes definem a “América Latina” como o nome que se dá aos países dos continentes americanos que foram colonizados
predominantemente por países latinos – denominação dada aos países europeus que surgiram após a queda do Império Romano do
Ocidente e que têm como idioma majoritário as línguas latinas (Espanha, Portugal, França, Romênia, etc.) – e onde a língua oficial
seria neolatina, como o espanhol, o português ou o francês. Tal definição excluiria da América Latina, além dos EUA e Canadá – onde
se fala o inglês predominantemente –, o Suriname e a Guiana, colonizados respectivamente pela Inglaterra e pela Holanda (países de
origem germânica), assim como os países, territórios ou possessões do Caribe onde o inglês ou o holandês são a língua oficial (Ilhas
Virgens, Antilhas holandesas, etc.) (FARIA, 2013).
5
polêmica quanto à sua classificação como país latino-americano, pois, mesmo sendo de
colonização hispânica, enquadra-se oficialmente como parte do território norte-americano, junto
com países de formação histórica completamente distinta como o Canadá e os Estados Unidos da
América – EUA (SUAPESQUISA, 2012; FARIA, 2013).
Para fins de melhor compreensão e estudo referentes ao tema pesquisado, adota-se aqui
a classificação segundo origens históricas e parâmetros culturais de cada região ou país, o que
inclui o México e exclui, por hora, o Brasil (Fig. 01).
Esta ilha é imensa e muito plana, de árvores verdíssimas e muitas águas, com
uma vasta lagoa no meio, sem nenhuma montanha e tão verde que dá prazer só
em olhá-la [...] E eu estava atento, me esforçando para saber se havia ouro, e vi
que alguns traziam um pedacinho pendurado num furo que têm no nariz e, por
sinais, consegui entender que indo para o sul ou contornando a ilha naquela
direção, encontraria um rei que tinha grandes taças disso e em vasta quantidade.
Creiam Vossas Majestades que estas terras são tão boas e férteis [...] E estes
índios são dóceis e bons para receber ordens e fazê-los trabalhar, semear e tudo
o mais que for preciso, e para construir povoados, e aprender a andar vestidos e
seguir nossos costumes (NEVES, 2002; p. 280).
Na realidade, Colombo havia chegado à atual ilha de San Salvador, localizada a leste do
arquipélago das Bahamas. Além dele, houve outros navegantes entre o fim do século XV e início
do século XVI, como o florentino Américo Vespúcio (1454-1512). Nessa época, a Europa passava
por um período de crise e transformações sociais e políticas. Verificava-se a transição, gradual e
irregular, do sistema feudal para o capitalismo. A prata começava a ser escassa e o continente
necessitava encontrar outra fonte do minério para cunhar as moedas. De acordo com Braik
(2013), outro fator gerador de crise foi o esgotamento das fontes de minérios, necessários para a
cunhagem de moedas, levando a constantes desvalorizações. As Grandes Navegações surgiram
nesse contexto como possibilidade de ampliação para mercado europeu. Além disso, a
religiosidade católica ardia mais que nunca no continente, devido à Reforma e às ações da Santa
4
O vínculo entre esses países da América do Sul vem desde o período colonial, pois já participaram de uma mesma administração
política. Além desse aspecto, as três nações possuem outra característica em comum: são banhadas pelos rios que formam a Bacia
Hidrográfica do Rio de La Plata. Com uma extensão territorial de pouco mais de 3.350.000 km2, a América Platina corresponde a 18%
do território sul-americano. O relevo é caracterizado tanto por planícies como planaltos; e os climas predominantes são o tropical ao
norte e o temperado ao sul. Somam-se aproximadamente 50 milhões de habitantes, sendo que na Argentina e no Uruguai, há uma
pre3dominância da etnia branca e de origem europeia. Tal fato se explica em virtude do intenso fluxo migratório de espanhóis e
italianos para esses dois países no final do século XIX e início do século XX. Já no Paraguai, predominam os mestiços e ameríndios
(CERQUEIRA E FRANCISCO, 2012).
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Inquisição. O pretexto de expansão do catolicismo também serviu de propulsão para as
descobertas e, mais tarde, conquistas no Novo Mundo. Nas terras encontradas por Colombo
habitavam povos extremamente diversos entre si e de cultura diametralmente oposta à europeia.
Havia sociedades mais primitivas, entretanto também existiam outras de maior complexidade em
sua organização política, social e administrativa, destacando-se as civilizações inca, maia e
asteca (NAVARRO, 2012).
Nessa América pré-colonial predominava uma sociedade de classes, com divisão social do
trabalho; e, em muitos casos, a figura do imperador era mesclada a uma entidade divina. A
agricultura era intensiva – no caso das sociedades sedentárias –, com técnicas avançadas de
irrigação (chinampas). Os conhecimentos sobre astronomia e métodos construtivos, entre outros,
eram avançados, sendo que os maias já haviam desenvolvido a escrita por desenhos (epigrafia),
além de um calendário próprio, desde 600 a.C.. Contudo, pouco se respeitou do que já existia e,
já a partir de 1493, iniciaram-se as expedições de conquista do Novo Mundo, a partir da fixação
da colônia de Natividade, por Cristóvão Colombo (Fig. 02).
Três anos depois de sua primeira viagem às supostas Índias, Colombo fundou a província
de São Domingos. O processo ocorreu de modo impositivo e violento. Com poucos cavalos, cães
treinados e infantes5, os índios foram facilmente dizimados. Conforme Galeano (2005), muitos
5
Há quem diga que é um mito a esquadra de Colombo ter sido composta por militares guerreiros. A maioria da tripulação compunha-se
de artesãos e pequenos empreendedores, pouco experientes em viagens náuticas e sem treinamento militar, que buscavam fama e
dinheiro (GOMES, 2005).
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foram enviados à metrópole espanhola como escravos e morreram rapidamente6. Mais tarde,
definiu-se que, antes de aniquilar o povo, devia-se ler um documento que os impunha a fé cristã –
mesmo que não os nativos entendessem a língua dos conquistadores (LOMBARDI e SILVA,
2012). A quem se opusesse, o discurso era o seguinte: “[…] entrarei poderosamente contra vós e
vos farei guerra por todas as partes e maneira que puder, vos sujeitarei ao jugo e obediência da
Igreja e de Sua Majestade, tomarei vossas mulheres e filhos e vos farei escravos, […] e farei
todos os males e danos que puder […]” (VIDART apud GALEANO, 2005; p. 29).
Séculos mais tarde aos maias, na época das conquistas europeias, quem dominava a
região eram os astecas ou mexicas. Tratava-se de um império em expansão quando o Hernán
Cortés (1485-1547) chegou à sua capital, Tenochitlán – atual Cidade do México –, em 15197.
6
As doenças trazidas pelos conquistadores foram outro fator que colaborou para a dizimação dos nativos, pois estes não tinham
anticorpos contra as bactérias e vírus trazidos pelos europeus. Grande parte da população morreu logo após o primeiro contato com os
espanhóis (NAVARRO, 2012).
7
Um ano antes da chegada de Cortés, outro espanhol havia sido afugentado pelos guerreiros indígenas: Hernandez Córdoba (?-1517),
que não havia conseguido dominar o povo da península de Yucatán. Da segunda vez, os nativos foram derrotados e alguns povos
aliaram-se ao conquistador. O então líder asteca Montezuma (c.1398-1469) acreditou que Cortés era o próprio Quetzacóatl, o deus
que cumpria sua promessa de retorno. Assim, cobriu o conquistador espanhol de regalias, recebendo-o em seu palácio e obedecendo
a suas ordens, inclusive aceitando ser batizado. Tentando compreender a religião católica de que falava Cortés, ao perceber que havia
o ritual da ingestão simbólica do corpo e sangue de uma divindade – a eucaristia católica –, Montezuma indignou-se, pois isto
contrariava o costume religioso asteca, segundo o qual quem se sacrificava por seus deuses eram os mortais. Foi então facilmente
aprisionado e utilizado no subjugo de seu próprio povo, que se revoltou contra seu próprio chefe. Apesar de ter recuado inicialmente,
9
Conhecimentos aprofundados sobre astronomia podiam ser verificados na disposição dos
templos, alinhados com astros; e, similarmente à sociedade clássica romana, era uma honra lutar
por sua nação: esse era o principal modo de ascensão social e a maior parte da população era
obrigada a prestar serviço militar. Em batalhas, assim como no império maia, acontecia a captura
de inimigos para escravatura. Outrossim, era comum a incorporação das terras conquistadas ao
território asteca, obrigando o pagamento de impostos e o serviço bélico ao império (MEDELLÍN e
HINZ, 2002).
Por sua vez, situados na região andina e cultuadores do deus Sol, os incas atingiram seu
ápice de desenvolvimento a partir do século XV, subjugando vilas vizinhas ao seu poder. Em
1438, ao sofrer ataques de seus inimigos, os chancas, começaram a haver brigas e
desentendimentos que enfraqueceram a união social no império. Quase 90 anos depois, os incas
foram assolados por uma grande praga: a varíola e o sarampo europeus que prenunciavam os
conquistadores. Francisco Pizarro (c.1471-1541) chegou ao domínio inca em 1526, sendo muito
bem recebido. Naquele momento, o império estendia-se por 3.000 km no sentido norte-sul e 800
km no sentido leste-oeste, falando-se neste território mais de 20 idiomas (DEARY, 2012).
Em um primeiro momento, Pizarro não atacou os nativos, pois preparava a sua volta em
1532. Desta vez, sequestrou em uma emboscada o imperador inca, Atahualpa (1497-1533),
exigindo grandes quantias em ouro como pagamento. Na realidade, Pizarro nunca teve a intenção
de libertar o imperador, que acabou morto8. Embora tenham ocorrido esforços para fazer ressurgir
o poder inca, isto não foi possível, que acabou sucumbido pelos espanhóis. Em 1600, a população
inca havia sido reduzida em cerca de 90%.
Uma característica a ser evidenciada na história da América latina foi a velocidade com
que as conquistas ocorreram: em poucos meses, foram facilmente dizimados milhares de nativos.
De acordo com Galeano (2005), há vários motivos para tanto, entre os quais: as doenças trazidas
nos navios, como varíola, tétano, tracoma, tifo, lepra e febre amarela, além das cáries e várias
doenças pulmonares, intestinais e venéreas; o emprego de cavalos, animais desconhecidos na
América, que alimentaram ainda mais a idealização divina referente aos espanhóis – os indígenas
acreditavam que um cavaleiro e seu cavalo eram um ser único; o poderio bélico muito mais
desenvolvido, já que os espanhóis detinham o conhecimento da pólvora e das espadas, enquanto
a maioria dos povos indígenas lutava com pedras e equipamentos de guerra feitos em madeira; e,
finalmente, a artimanha da traição, como aconteceu com Montezuma9.
Cortés voltou cerca de dois meses mais tarde; e o ataque final espanhol condenou à morte mais de 20.000 astecas. O território então
passou a se chamar Nova Espanha e foi centro de irradiação da conquista de outras terras (NEVES, 2002).
8
Atahualpa, sem mesmo saber o que era um livro, teria jogado no chão a Bíblia. Isso foi motivo de guerra para os espanhóis, que
acabaram acusando o imperador inca de heresia, poligamia e vários outros crimes, condenando-a à fogueira. Contudo, Atahualpa
decidiu aceitar o batismo cristão e sua pena foi reduzida para enforcamento (TURCI, 2012).
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Em geral, os impérios pré-colombianos não eram unidos politicamente e viviam em constante rivalidade. No império inca, por
exemplo, os espanhóis aproveitaram-se da desavença entre dois irmãos imperadores para desestruturar a população e torná-la mais
vulnerável. "Quando os espanhóis chegaram à América, encontraram várias tribos rivais, que não precisavam de mais que um
empurrãozinho para entrar em conflito" (RESTALL apud GOMES, 2005).
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Visando dar um panorama geral do fazer arquitetônico da região em estudo, além de uma
interpretação do sentido de sua evolução, Browne (1988) propõe dividir a arquitetura
contemporânea latino-americana em 03 (três) fases, de modo a facilitar o seu estudo e análise, a
saber: Primeiro (1930/45), Segundo (1945/70) e Terceiro Período (1970 em diante). Disto decorre
a construção do seguinte esquema da evolução da arquitetura contemporânea na América Latina,
no qual é possível identificar quatro linhas arquitetônicas principais, as quais estão baseadas,
conforme o autor, na tensão constante entre os espíritos de época e de lugar10:
Segunda Guerra Crises internacionais
Mundial e regionais
(1939/45) (1965/75)
O O O
1 . PERÍODO 2 . PERÍODO 3 . PERÍODO
(Sociedades tradicionais) (Décadas de desenvolvimento) (Época atual)
Espírito da época
ESTILO INTERNACIONAL
ARQUITETURA DO DESENVOLVIMENTO
(auge) (debilitada)
OUTRA ARQUITETURA
(marginal) (auge)
ARQUITETURA NEOVERNACULAR
Espírito do lugar
No final da década de 1920, de acordo com Browne (1988), a situação da América Latina
diferenciava-se em muito do ambiente de vanguarda europeu, já que sua arquitetura, de modo
geral, consistia em um ecletismo generalizado – marcado pela miscelânea entre revivalismos, Art
Nouveau e Art Déco –, no qual surgiu uma preocupação pelas raízes arquitetônicas, representada
pelo neocolonial ou neo-indigenismo em vários países, tais como o Estilo Neozteca (México) e o
Estilo Marajoara (Brasil). Entretanto, a discussão confundia forma e conteúdo, sem incorporar a
modernidade como tema e as obras, com ares cultos, folclóricos ou indigenistas, integravam-se à
confusão eclética. O panorama somente mudaria na década seguinte, quando se iniciou, segundo
o autor, o Primeiro Período da arquitetura contemporânea latino-americana.
De 1930 a 1945, a região foi marcada pelas linhas do Estilo Internacional – o resultado
estético da difusão do pensamento funcionalista que dominou toda a arquitetura comercial, a qual
foi adotando progressivamente uma imagem de alta tecnologia, em especial a parede-cortina –,
10
Segundo Browne (1988), a arquitetura latino-americana tem evoluído dentro de uma permanente tensão entre o espírito da época e
o espírito do lugar, ou seja, entre sua situação no tempo e no espaço. Em suma, o espírito da época corresponderia à sua situação
temporal, envolta pelo processo civilizatório, de caráter universal; e voltado ao desenvolvimento racional e objetivo. Já o espírito de
lugar corresponderia à sua situação espacial, resultado da dimensão cultural, de caráter particular; e baseada na sedimentação local e
histórica de cada país e sociedade.
11
que aconteceu em paralelo à prática neovernacular, ou seja, à arquitetura fora das cidades,
síntese dos conceitos contemporâneos e tipologias, materiais e tecnologias locais, a qual careceu
de projeção social. Ambos permaneceram como polos, mantendo-se e evoluindo-se deste modo.
Depois da Segunda Guerra Mundial (1939/45), ocorrem mudanças das condições internacionais e
regionais, quando os EUA tornaram-se uma grande potência e impuseram a tese do pan-
americanismo, passando a América Latina buscar sua entrada para o cenário internacional,
colocando-se como “atrasada” e “não destruída pela guerra”. A ênfase desenvolvimentista tornou-
se quase uma religião: o desenvolvimento e seus modelos alternativos converteram-se no tema
que permeava as sociedades nacionais, pois era visto como evolução linear e cosmopolita, cuja
experiência deveria ser vivida por todos e cujo motor seria o processo econômico e tecnológico,
dos quais derivaria o progresso social (BROWNE, 1988).
Por fim, estaríamos vivendo, ainda na opinião de Browne (1988), um Terceiro Período
da arquitetura contemporânea latino-americana, iniciado na década de 1970, onde as quatro
linhas citadas estariam prosseguindo seu curso, embora tenha ocorrido um abandono de um
11
Nessa fase, o futuro e a mudança tornaram-se valores em si mesmos: os Estados latino-americanos propuseram-se a substituir as
importações e impulsionar a industrialização; e os arquitetos fazem uma aliança com essa ideia de modernização, passando a criar
obras representativas ou de bem-estar social, as quais simbolizassem o progresso almejado pelo governo, verdadeiro príncipe
moderno. Seus principais representantes foram: Oscar Niemeyer (1907-2012), no Brasil; Felix Candela (1910-97), no México; Carlos
Raúl Villanueva (1900-75), na Venezuela; e Emilio Duhart (1917-2006), no Chile (BROWNE, 1988).
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modelo universal de desenvolvimento, voltando-se mais para uma pluralidade de alternativas que
respondam à especificidade de cada povo. Contudo, ainda permaneceria a tensão entre as
influências estrangeiras e as condições próprias, sendo que alguns arquitetos seguem ambas
linhas, outras obras aparecem mistas. A dicotomia inicial entre “espírito da época” e “espírito do
lugar” parece, enfim, caminhar para uma síntese.
6 MATERIAIS E METODOS
Aqui, fez-se os estudos de caso, que estão apresentados no capítulo sobre resultados e
discussão. Procurou-se trabalhar de forma sintética e objetiva, abordando características
funcionais, técnicas e estéticas mais relevantes, ilustrando-se com imagens.
7 RESULTADOS E DISCUSSÃO
04 05
06 07
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A cultura mexicana está intrínseca ao uso da cor em toda a casa. O uso de grandes esculturas
coloridas em formato de esfera (Fig. 11) rememoram as típicas pulquerías (lojas de bebidas alcoólicas); e
Barragán faz uso destas no jardim seco do pátio da residência. Além disso, as cores vibrantes das vestes
mexicanas tradicionais aparecem, tais como: o amarelo do corredor, o azul das paredes da piscina e o
vermelho da coluna são evidências disso (STREET-PORTER, 1989). A relação com a obra de Chucho
Reyes é facilmente percebida ao compararmos a arquitetura de Barragán com o trabalho do pintor (Fig. 12).
16
Esta residência consiste no segundo projeto para um mesmo cliente, o qual já havia contratado o
escritório de Legorreta para que fizesse uma casa de fim de semana nas montanhas, que buscasse o
máximo contato com a natureza. Desta vez, entretanto, trata-se de uma casa urbana, voltada a si mesma,
enclausurando-se do caos urbano e enfatizando o próprio interior (LEGORRETA+LEGORRETA, 2013).
Vista da rua, o uso da cor vermelha é massivo na fachada, aliviado apenas pelo menor volume branco (Fig.
13). Como discípulo de Barragán, Ricardo Legorreta também se inspirava na arquitetura regional e tradições
populares, assim como nas ideias do arquiteto norte-americano Louis Kahn (1901-74) e do também
mexicano José Villagrán García (1901-82), com quem trabalhou por 12 anos.
13
O contato de Ricardo Legorreta – e igualmente
seu filho e sucessor, Victor Legorreta (1965-) – com a
cultura mexicana, seja ela relacionada aos templos astecas,
o legado colonial espanhol ou as cores quentes e fortes da
própria arquitetura vernacular, é facilmente identificado em
muitas de suas obras; o que não poderia ser diferente nesta
casa de 15 pátios. Basicamente, a residência é um estudo
sobre interior e exterior: cada pátio consiste em uma
atmosfera diferente, permitindo variados estilos de vida,
como uma extensão da área da casa; um local para
descanso e reflexão (Figs. 14 a 17). O uso de espelhos
d'água que escorrem de um pátio para outro cria o som
calmante de quem quer fugir do barulho da cidade grande.
14,15
17 16
17
Todos os quartos oferecem vistas para os diferentes pátios e terraços que compõem o conjunto (Fig.
18). O projeto de interiores, assim como a seleção de materiais, transmite o espírito mexicano,
simultaneamente urbano e contemporâneo. O uso de cores fortes e vibrantes, como o vermelho e o rosa,
também é marcante e toda a residência (Fig. 19), principalmente na definição de cada pátio. O renomado
artista mexicano Francisco Toledo (1940-) usou plantas desérticas vermelhas e verdes, típicas do solo de
Oaxacan, na ambientação do pátio de refeições (Fig. 20). Segundo ele, em livre tradução: “tivemos a
chance de projetar os mínimos detalhes e, graças a bons artesãos mexicanos, muitos desenhos únicos
foram possíveis [...] Pintura e escultura formaram a base do desenho e obras de arte foram integradas ao
próprio projeto” (RISPA, 1996; p. 195).
18 19 20
Basicamente, conforme León (2013), a obra de Legorreta+Legorreta constrói-se a partir de volumes
geométricos claramente definidos e de grande simplicidade e expressão. O emprego desses volumes
permite criar formas puras e atemporais. Tais volumes formam tanto a estrutura da construção como seus
elementos secundários, podendo sua escala ser intimista ou não. Esses elementos têm inspiração
contextual e cultural, conferindo ao seu trabalho uma identidade única.
23 24 25
8 CONCLUSÕES
Com base na pesquisa realizada, pode-se concluir que o contextualismo permite à
arquitetura um diálogo com o ambiente em que a obra se insere, podendo este ser compreendido
tanto em termos abstratos – como tradição, usos e costumes – como concretos – incluindo cores,
texturas e materiais. Esta postura constituiu no avanço da arquitetura moderna em direção da
apropriação da história. Nos estudos de caso, percebeu-se, nas duas primeiras casas analisadas,
-se um predomínio de valores culturais relativos a agenciamentos espaciais (especialmente, em
pátios) e tratamento cromático, remetendo ao folclore mexicano, o que caracteriza o chamado
contextualismo cultural. Já o terceiro caso apropria-se mais de materiais e tecnologias de bases
vernaculares, estas estreitamente vinculadas ao ambiente socioeconômico paraguaio, o que
apontaria para o denominado contextualismo físico (regionalismo).
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Hoje é bastante difundida e valorizada a ideia de uso de materiais sem revestimentos –
iniciada defendida pelo brutalismo entre as décadas de 1950 e 1970; e atualmente fundamentada
nas questões de sustentabilidade, alardeadas a partir dos anos 1980 e 1990 –, o que confere às
edificações uma estética própria e singular, muitas vezes ligada ao material típico de determinada
região, o que ficou bastante evidente no terceiro caso abordado. Já a argamassa grosseira e
colorida de Barragán ou Legorreta alude ao espírito festivo e tradicional do povo mexicano,
fazendo referência ao artesanato local.
Conclui-se que a cor, seja trabalhada em seu matiz primário, resultante de pintura, seja
oriunda do material empregado como matéria-prima – e, portanto, em aspecto natural e rude –
constitui-se em um forte elemento de identidade cultural, o qual pode ser explorando quando se
pretende fortalecer traços locais e/ou regionais, especialmente no ambiente latino-americano.
Contrapondo-se a uma tendência generalista global, que acaba resultando em obras
arquitetônicas “neo-universalistas”, pode-se encontrar no uso adequado e consciente da cor um
caminho para reforçar elementos nacionais e valores tradicionais de uma sociedade em xeque.
9 REFERÊNCIAS
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xv>. Acesso em: 06.mar.2013.
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25.out.2012.
CASTELNOU, A. M. Arquitetura & cidade contemporânea. Curitiba: Apostila, UNIVERSIDADE FEDERAL DO
PARANÁ – UFPR, 2010.
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CENTRO UNIVERSITÁRIO FILADÉLFIA – Unifil, v. 1, n. 31, 2000. P. 63-74.
CERQUEIRA E FRANCISCO, W. América Platina. Disponível em:
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Este trabalho de iniciação científica cumpriu o cronograma inicial, permitindo atingir os objetivos
estabelecidos, não ocorrendo atrasos e imprevistos. Seu desenvolvimento junto ao professor-orientador
permitiu a complementação e publicação de material didático do curso de arquitetura e urbanismo da
UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ – UFPR, a apostila “Arquitetura e Sustentabilidade”, a ser aplicada
tanto no ensino de graduação, na área de Teoria e História da Arquitetura e Urbanismo, assim como no
curso de pós-graduação stricto sensu (mestrado) em Construção Civil, subárea de Qualidade do
Ambiente Construído, ofertado pelo DCC-UFPR.
12 APRECIAÇÃO DO ORIENTADOR
APERFEIÇOAMENTO MESTRADO
OUTROS: ___________________________________________________________
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13 DATA E ASSINATURAS
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Acadêmica Ingrid de Castro Schmaedecke
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