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N° INSCRIÇÃO: 20230008770
FLORIANÓPOLIS
2023
1. RESUMO
2. INTRODUÇÃO
1O conceito de patriarcado supremacista branco capitalista imperialista busca explicar como esses sistemas
interligados trabalham juntos para defender e manter as culturas de dominação, de forma a conectar as
diferentes pessoas brancas e dividir as pessoas pretas (HOOKS, 2022).
contribuições e costumes da população negra em relação às formas de uso e ocupação da
própria moradia, por meio de diversas estratégias, seja na própria produção e reprodução do
(re)conhecimento2 ou no desinteresse estatal da época em registrar, fiscalizar e preservar as
habitações negras (LEMOS, 1976). Ressalta-se a necessidade do estudo proposto justamente
para preencher partes das lacunas na historiografia da arquitetura e das práticas habitacionais
brasileiras, dando visibilidade e valorizando a cultura negra na construção do espaço da
cozinha e visando contrapor o argumento que defende que o âmago da cozinha
contemporânea no Brasil foi eurocentralizado. Entretanto, ressalta-se que não cabe, no limite
desse projeto, debater a construção dessa estrutura, mas apenas apresentá-la e questioná-la,
buscando contribuir para a valorização e a inclusão da cultura negra na historiografia da
cozinha e promover uma visão mais abrangente e diversa da evolução e do significado desse
espaço.
2O “conhecimento” é vinculado a um ato cognitivo não público, já o “reconhecimento”, por sua vez, é um ato
expressivo e implica a atribuição de um valor social à outra pessoa (VITORIO, 2017).
3A cozinha de Frankfurt foi concebida em 1926 pelos arquitetos Ernst May e Margarete Schütte-Lihotzky para o
programa de planejamento municipal "Nova Frankfurt" na Alemanha. Este modelo de cozinha baseou-se no
sistema de organização industrial Taylorismo e é considerado como o protótipo da cozinha embutida moderna:
tão prática e compacta como uma estação de trabalho industrial.
recente alteração nas diretrizes espaciais da cozinha, a gourmetização, possui ressonância na
apropriação de valor da cultura negra em sua forma de uso e ocupação no espaço da cozinha,
pois o que antes era considerado um espaço desprezado, rejeitado e estritamente de serviço
pelas estruturas de dominação, passa, agora, por um processo de mercantilização e
valorização sustentado pelo mercado imobiliário e pela mídia. Esse novo plano disseminado
transformou a cozinha de um local de serviço à um espaço de convivência, de uso profissional
e de interação social (DE OLIVEIRA, 2018).
Refletindo sobre a própria experiência, remeto-me à minha infância. Cresci em uma família
inter-racial, filho de pai preto neto de alforriados e de uma mãe branca neta de italianos. A
partir dessa miscigenação pude vivenciar a diferença evidente na função social da cozinha
para essas duas culturas. Se, para o meu pai, a cozinha era o coração da casa, o local onde ele
recebia seus convidados e desfrutava de momentos particulares de lazer e descanso, para a
minha mãe era apenas o local de preparo e consumo das refeições, sem qualquer outro
propósito além do trabalho e do uso prático; seus momentos de lazer e socialização
aconteciam exclusivamente em outros lugares. Sendo assim, como e por que a gourmetização,
uma diretriz construtiva dominante de uma sociedade patriarcal capitalista supremacista
imperialista branca (HOOKS, 2022), pode se assemelhar tanto ao modo de uso e ocupação
desse espaço por uma pessoa preta?
Dessa forma, indaga-se a saber o porquê dessas mudanças, tendo em vista um espaço que,
anteriormente, era considerado "sujo", "malcheiroso" e associado à "negrinha serviçal"
(LEMOS, 1976) se tornou um símbolo de status e poder (FARIAS, 2018). A discussão
apropriada dessa questão envolve uma análise crítica das estruturas de poder da sociedade que
moldaram as representações culturais e históricas da cozinha. Essa análise levará em
consideração os aspectos históricos, sociais e culturais que influenciaram a transformação da
cozinha ao longo do tempo, envolvendo o estudo das mudanças nas práticas de organização
espacial da cozinha e nas representações culturais associadas a ela.
Esta pesquisa pretende também coletar dados autoetnográficos, registrando minhas vivências,
memórias e reflexões relacionadas à cozinha, fazendo uso de narrativas escritas, diários,
fotografias, vídeos ou qualquer outra forma de documentação que capte minhas experiências
pessoais e observações. Posteriormente, propõe-se uma análise e a interpretação dos dados
que envolvam a identificação de temas recorrentes, as conexões entre experiências individuais
e sociais, e a exploração das influências culturais e históricas presentes nas vivências da
cozinha.
Entende-se que será necessário estar atento à reflexividade e à autoconsciência para que seja
mantida uma postura analítica lúcida do posicionamento e das influências pessoais, assim
como a realização de autoavaliações contínuas para verificar se elas podem afetar a
interpretação dos dados e os resultados alcançados.
5. RESULTADOS ESPERADOS
7. BIBLIOGRAFIA
LESSA, M. A. Ouro Preto do meu tempo. 2. ed. São Paulo: IBRASA, 1981.