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Tal surgimento da ideia de bom gosto prestou-se não apenas à relação com
aquilo que se oferece ao paladar, mas também adquiriu relevância em referência às
demais artes, em um uso marcadamente metafórico. Evidenciava-se, assim, o já
referido fenômeno de estetização da comida (marca essencial da gastronomia, na
acepção tratada aqui, inclusive identificada a partir de então como também sendo
um tipo de arte).
Vale mencionar que o que Brillat Savarin afirma com relação ao prazer da
mesa (tipicamente humano, em oposição ao prazer do comer, este compartilhado
com outros animais) ilustra de forma interessante o modo como a necessidade
distintiva de boas maneiras é satisfeita na prática da comensalidade, sendo esta um
prato cheio para tanto: desde o refinamento do gosto até o contorno dos gestos etc.
Se a herança da civilidade vinda de outrora foi pano de fundo aos referidos
banquetes, é possível dizer que ali (e no que deles decorreu) também se forjaram
novos padrões de conduta. Afinal, a necessidade de adaptação do comportamento
social aos atributos da época: sociedade cada vez mais urbanizada, industrializada,
com uma burguesia em ascensão etc.
Não restrita à França, a noção de bom gosto que daí deriva, aliada aos novos
ditames de cortesia, civilidade e boas maneiras (que não se resumiam à gastronomia,
mas a incorporavam), seria exportada para outros territórios e contextos sociais,
ajudando a consolidar o poderio francês, seu capital simbólico e sua consequente
influência no contexto europeu e mundial de então.
Cabe concluir, por fim, que o que hoje entendemos como boas maneiras e
regras de etiqueta à mesa derivam basicamente de uma necessidade de distinção
social.