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Texto:
Modernidade e tradição: da cozinha tradicional à cozinha fusion
A Cozinha Temática
Maria Eunice Maciel
UFRGS
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tese de doutorado de Mônica Chaves Abdala “As famílias vão ao self-service” e a
dissertação de mestrado de Janine Helfst Leicht Collaço “Restaurantes de comida
rápida, os fast-foods, em praças de alimentação de shopping centers:
ransformações no comer” onde ambas abordam as transformações no comer com
as refeições feitas fora de casa.
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programas de voltados para esta área não apenas aumentou mas voltou-se para
um público mais diversificado ocupando horários considerados “nobres” e
trazendo o que é considerado como “exótico”, “sofisticado” e “inovador”. Ocorreu
uma internacionalização das cozinhas não apenas com as receitas mas com as
histórias dos pratos, curiosidades, informações sobre os países ou regiões de
onde provém, entrevistas e muitas outras apresentações que transformaram
significativamente os antigos programas voltados para esta área.
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tendem a popularizar-se e a sessão de congelados dos supermercados cada vez
é maior com o surgimento de inúmeras marcas. Os congelados, opondo-se ao
fazer artesanal e metódico, são vistos também como uma espécie de fast-food
doméstico, havendo uma perda em termos gastronômicos.
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Observa-se também que, por parte dos que trabalham no campo da
alimentação (e mesmo mais além), há um certo desdém em relação à
gastronomia, tida como algo fútil, superficial, não tendo lugar nas discussões em
um país onde parte da população vive o problema da fome.
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O “temático” é uma denominação nova para o que se chamava de “típico” e
sobre ele cabe tecer algumas considerações. O típico é uma convenção. É
necessário que haja uma concordância em torno de algo para que ele se torne
típico ou seja, emblemático, capaz de representar todo um grupo. E para isso
intervém a idéia da existência de algo “autêntico” ou seja, “verdadeiro”, uma matriz
que indica que uma determinada comida representa, de fato, um determinado
lugar.
Paul Moreira (Moreira, 1989) mostra como, entre parisienses que buscam
cozinhas “exóticas”, o critério “autenticidade é dado ao restaurante pela imigração,
ou seja, o “nativo em diáspora” seria uma garantia de uma cozinha “original”.
Outro caso refere-se ao exótico. É claro que nada mais relacional do que o
“exótico”. Aqui, em geral, trata-se das cozinhas orientais (mas restaurante chinês é
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exótico?) com alguns acréscimos de algumas cozinhas africanas tal como a
marroquina por exemplo ou a créole que também entram nesta classificação.
Mas os restaurantes japoneses só são exóticos para aqueles que não são
de origem nipônica. Para estes, trata-se justamente do familiar e em um país onde
a imigração de diversas origens foi significativa, é interessante notar que há ao
mesmo tempo os consumidores “nativos” por herança familiar (descendentes que
têm estas comidas como hábito alimentar) e aqueles para quem esta é uma
cozinha a ser descoberta.
Mix
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A chamada a fusion cuisine, se caracteriza pelo emprego de vários
ingredientes de origens diversas na realização do mesmo prato. Surgida em New
York, espalhou-se por diversos lugares para horror de alguns. Em geral há uma
fusão entre elementos orientais e ocidentais embora nos EUA exista mesmo uma
“Nouvelle Texas – Mexique” mistura de nouvelle cuisine francesa com Tex – Mex
( Moreira, 1989)
Para alguns, o sushi com foie gras é aceitável, com cream – cheese, não.
Os argumentos são de que “foge da proposta original” ou então ‘foge muito do
conceito”. Isso leva a pensar sobre as transformações que um prato pode sofrer
sem que deixe de ter o seu significado original.
Uma feijoada brasileira seria aceitável feita com feijão branco? É provável
que não. No entanto, é freqüente que os chamados “pertences” da feijoada tais
como rabo, para ou pele de porco sejam substituídos sem que ela deixe de ser
considerada como tal. Até mesmo está surgindo a “feijoada light”, o que seria uma
contradição, porém, é vendida como tal. Enfim, há uma matriz de significados que
indicam que algo é ou não uma feijoada e um limite aceitável de transformação.
Mas onde está este limite e quem pode decidir?
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“aperitivos de pistache envoltos em casca de iogurte crocante” ou “sopa gelada de
ervilha servida em taças e guarnecida com minitorresmos quentes de pato”.
BIBLIOGRAFIA:
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ABDALA, Mônica Chaves. As famílias vão ao self-service. Tese de Doutorado,
USP, 2003.
AMON, Denise. O Espírito da Comida: uma perspectiva a partir da psicologia
social. Tese de Doutorado, PUCRGS, 2004.
COLLAÇO, Janine Helfst Leicht. Restaurantes de comida rápida, os fast-foods, em
praças de alimentação de shopping centers:transformações no comer.
Dissertação de Mestrado. USP 2003.
DOUGLAS, Mary e ISHERWOOD, Baron. O Mundo dos Bens. Rio de Janeiro,
Editora da UFRJ, 2004.
FISCHLER, Claude. “La cuisine selon Michelin”. Autrement Revue, série Mutations
nº108, septembre 1989.
GARABUAU – MOUSSAOUI, Isabelle. “L’exotique est-il quotidien? Dynamiques de
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Garabuau - Moussaoui, E. Palomares, D. Desjeux). Paris, L’Harmattan,
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www.gula.com.br
www.nippo.com.br
www.ibge.gov.br
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