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Ainda, para este autor a cultura (tradições) possui um papel psicológico, onde
a análise dos símbolos e das ideologias, devem ser interpretados de maneira a
identificar o papel que estes desempenham na sociedade, sendo necessária a criação
de uma ciência social capaz de “compreender os processos de formulação simbólica”
(GEERTZ, 1989:178).
Entendendo os grupos sociais como algo complexo, composto por diversos
elementos, sendo um deles o cultural, tendo a tradição papel fundamental na
constituição da identidade coletiva, a qual pode, incluir ou excluir daquele meio os que
não se identificam com ela:
Escrivão Filho ( 2016, p. 46), afirma em sua obra que os direitos humanos
estão intimamente ligados a dignidade material dos cidadãos, e como tal, devem servir
com forma de rebeldia ao colonialismos e de oposição a privilégios à países centrais,
marginalizando os periferizados, pois, os Direitos Humanos devem ser vistos sob a
ótica de igualdade de armas, dando a todos o direito de se manifestar política e
socialmente, não podendo serem divididos em classes de importância.
Assim, podemos entender que não existe uma distinção entre os Direitos
Humanos, muito menos uma hierarquia entre eles, que justifique uma divisão, pois
estes são interdependentes.
Visto isso, sabemos que os Direitos Culturais são uma parte importante na
preservação e na sobrevivência de pequenos grupos sociais. A expressão cultural,
pode ser vista com uma manifestação social e política, visto que muitos grupos sociais
protestam contra o colonialismo a partir de suas expressões culturais.
A proteção dos Direitos Culturais, está intimamente ligada à sobrevivência
desses pequenos grupos sociais, ante a todo o contexto histórico e identitário que se
encontram por trás da manutenção destas práticas.
Segundo José Ricardo Fernandes (1995, p. 31) , direitos culturais são
“aqueles direitos que o indivíduo tem em relação à cultura da sociedade da qual faz
parte, que vão desde o direito à produção cultural, passando pelo direito de acesso à
cultura e até o direito à memória histórica”.
Ainda, segundo Janice Braga (2014, p.06) a cultura está por várias vezes
ligada à educação, nas manifestações artísticas, nos meios de comunicação em
massa, nas festas e cerimônias tradicionais, nas crenças de um povo, na comida, ou
até mesmo em seu idioma. Os Direitos Culturais podem ser identificados em diversas
formas de manifestação, bem como a sua importância para a formação de uma
sociedade, vez que estão presentes em diversas partes da nossa vida (2014, p. 05).
Os direitos culturais podem ser considerados como a base da sociedade,
pois, conforme expôs sua composição se dá pelos costumes e cultura local, fomentam
a convivência harmônica, a preservação da história de um povo, de uma nação ou
uma pátria.
Este elemento é uma importante característica do ser humano, da sua
dignidade, constrói o pensamento e forma cidadãos, sendo considerado um meio para
que o indivíduo construa seu pensamento crítico, com base em seus valores sociais,
e possa, portanto, gozar de seus direitos de uma forma ampla.
A preservação e o fomento dos direitos culturais vão muito além da
manutenção de pequenas tradições, este serve como formador de identidade,
consciência política, e elemento formador de identidade social.
A salvaguarda destes direitos no sentido de preservar pequenas tradições
populares torna-se importante não só para a manutenção da identidade social de
determinados grupos sociais, mas está intimamente ligado à sua condição como
sujeito de direito que, por meio de seu grupo, possa expressar e usufruir seus ideais
políticos, econômicos e civis.
As tradições são elementos que compõem a cultura de pequenos grupos
sociais, a sua repetição forma a identidade social destas comunidades, dando a ele o
sentimento de pertencimento a um grupo.
Em que pese algumas tradições serem inventadas ao longo do tempo, estas
não perdem seu caráter histórico, pois, estas ainda preservam a memória e a
identidade de determinado grupo social.
Nesse sentido, entendemos que as tradições fazem parte do patrimônio
cultural social e, por consequência, integram a cultura local, e por este motivo devem
ser protegidos.
A preservação destas diferenças culturais é de grande importância para
garantir a todos o direito à cultura, e a manifestação de seus demais direitos, visto que
estes não podem ser vistos de maneira dissociada.
O Direito à Cultura é parte integrante da formação do pensamento social,
compõe o cidadão como ser político. Devemos, portanto, buscar a proteção das
pequenas tradições como forma de manutenção da memória histórica desses povos
e preservar a sua diversidade.
Neste sentido, a melhor forma de se compreender a importância de um olhar
decolonial sobre a cultura e os direitos humanos é a partir da perspectiva multicultural,
na qual entende a sociedade como um organismo em formação, composto por grupos
diversos, formados em contextos sociais, religiosos, raciais diferentes, preservando e
respeitando suas desigualdades.
Compreender os direitos humanos sobre o aspecto multicultural e garantir que
cada grupo social seja respeitado em sua integralidade, sem a imposição ou a
hierarquização de culturas, pensamentos, raças e religião.
Como vimos, o ato de preparar alimentos é algo muito antigo, vem antes
mesmo da dominação do fogo. Em que pese ser essencial, o ato de se alimentar não
é democrático, uma vez que em nossa sociedade, ainda há falta do que se comer e,
por isso, o ato de se alimentar é algo relevante socialmente.
Assim, podemos ver a importância da alimentação e dos patrimônios
alimentares como fonte de estudo na história e, também, nos direitos humanos,
vejamos:
Sob este aspecto o Professor Carlos Roberto, nos diz que a alimentação e,
as cozinhas locais, são “produtos da miscigenação cultural, fazendo com que a
culinária revelem vestígios das trocas culturais.”(2005, p. 02), assim, podemos afirmar
que a alimentação é uma categoria histórica, capaz de ser fonte de estudo das
permanências e evoluções sociais. (2005, p.02)
E assim, como fonte histórica, muitas vezes as práticas alimentares não são
registradas formalmente de maneira escrita, facilitando assim a consulta do
pesquisador. Em sua maioria, as tradições alimentares são repassadas de geração
em geração, por isso, a história oral é a melhor forma pela qual se pode extrair
informações importantes, sentimentos. Por óbvio, este olhar sobre a história oral deve
ser tratada em conjunto com outras fontes, a fim de corroborar as informações tidas
pelos depoimentos.
Além disso, a metodologia de história oral nos traz uma amplitude de
possibilidades de estudos,vez que através de um depoimento podemos colher
inúmeras informações do objeto estudado, e para isso, precisamos delimitar o tema
estudado e o basear em um bom referencial teórico.
Assim, podemos conceituar história oral como uma metodologia “que busca,
pela construção de fontes e documentos, registrar, através de narrativas, induzidas e
estimuladas, testemunhos, versões e interpretações sobre a História e suas múltiplas
dimensões" (DELGADO, 2006, p. 15).
Ainda, Portelli nos diz que a fonte oral e a oralidade em si é um meio de
darmos aos que não são ouvidos um meio para que seus discursos tenham “acesso
à esfera pública, ao discurso público, e o modifiquem radicalmente”. (PORTELLI,
2010, p 3)
Neste sentido, afirma Thomson:
Mesmo quando existem fontes documentais produzidas e
preservadas por membros de comunidades migrantes, a evidência
oral pode atuar como um ‘corretivo poderoso’. Ela também pode
proporcionar uma afirmação positiva de identidade para o narrador,
para os membros de uma comunidade particular e para o mundo lá
fora. (s.d., p 344)
Não só isso, Halbswachs, também nos diz sobre a fonte oral “a lembrança
é em larga medida uma reconstrução do passado com a ajuda de dados emprestados
do presente” (2004, p.75).
Desta forma, podemos ver que o trabalho com história oral é de grande
importância para analisarmos e entendermos como a se construíram as tradições
alimentares de determinados grupos sociais e, a sua importância e relevância social
para eles, sendo, muitas vezes a única forma de se registrar a fala e as práticas tidas
como patrimônio imaterial.
Além disso, por sua orientação religiosa havia uma proibição ao casamento
com membros de outros grupos, ou ainda, se assim fosse feito, os filhos deste
casamento não poderiam ser integrantes da comunidade menonita. Tais posições
acabaram por gerar desconforto na sociedade e ainda uma pressão por parte do
Governo Prussiano, local este onde haviam se estabelecido por um longo período.
O auge da mudança foi por volta de 1786 quando o governo Prussiano passou
a se preparar para os confrontos militares que estavam para acontecer (Revolução
Francesa e Guerras Napoleônicas). A pressão para a participação do corpo militar fez
com que os menonitas se afastassem mais, por sua oposição a militarização, e ainda
para que sofressem sanções pelo governo a fim de forçar a sua participação no
serviço militar.
Segundo Maske (1999, p. 73), a colônia de Witmarsum foi construída para ser
a capital do território menonita, concentrando nela a administração, escolas, hospitais,
a igreja e a sede da Cooperativa Witmarsum.
“A Colônia Witmarsum foi formada, dessa forma, a partir de um desejo de se reconstruir o que
os menonitas viveram no passado. Não o passado como um todo, mas um passado idealizado
que representava quem eles entendiam que eram ou queriam ser. Ou seja, a forma como os
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https://www.witmarsum.coop.br/a_cooperativa/historico.html, visualizado em 01/02/2021,
às 15h45.
menonitas se identificam e que ficou marcada na Colônia Witmarsum é baseada em parte na
forma como eles lembram o passado.” (2018, p. 46)
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A idéia da concentração das atividades da colônia para sua subsistência, mantendo-a
fechada para os que não pertenciam a comunidade menonita perdurou até meados de 1974,
quando foi necessário se adequar ao mercado e a legislação vigente, expandindo os negócios
da cooperativa além de Witmarsun.(HAMM, 2018. p. 55).
religiosidade, passando a seriedade daquele povo e baseado na memória que seus
fundadores tinham das colônias formadas na Rússia.
A Cooperativa foi fundada em 1952, e tinha como objetivo ser o ponto central
da comunidade e, ainda evitar que a sociedade se enfraquece como ocorreu nas
Colônias de Santa Catarina, representando o “modo de ser e viver menonitas de
acordo com a sua tradição” (op cit, KLASSEN, 1998, p. 110, in HAMM, 2018, p 54).
Tendo como premissa que todos aqueles que faziam parte da cooperativa deveriam
se comprometer com a colônia e com a comunidade, sendo importante para a
produção de consumo local (HAMM, 2018, p. 54).
Pelo fato do Brasil ter sido colonizado por portugueses e, para eles o consumo
de queijo era muito tímido, nós não tivemos desde a nossa formação a cultura de
produção de derivados do leite.
Não obstante a esse fato, não sabemos ao certo onde a produção de queijo
surgiu, sendo que no mundo, o seu consumo é amplamente praticado devido ao valor
nutricional do leite e de sua praticidade de conservação. (NETTO, 2014, p. 28). Com
o aprimoramento das técnicas agrícolas, e as suas práticas voltadas para o sustento
das famílias camponesas e, uma vez que o leite se trata de um produto altamente
perecível a sua transformação em queijo manteiga tornou-se o meio mais prático para
a sua conservação.
Conforme cita Braga, os séculos XV a XVIII são importantes no
desenvolvimento da produção queijeira no Brasil e tempo posterior, e após este
período a indicação de origem na produção de queijo passaram a ter relevância no
comércio do produto.(2019, p. 53)
O século XV foi de grande importância para o desenvolvimento da produção de
queijo, a partir deste momento é que se passou a sofisticar a sua manufatura,
deixando de ser um alimento de fácil conservação e valor nutritivo, para algo mais
saboroso. (BRAGA, 2019, p. 53)
Pela própria influência dos seus antepassados que vieram dos Países Baixos,
os menonitas sempre viveram em comunidade, e tal prática refletiu no modo com que
eles foram se estabelecendo ao longo do tempo e consequentemente em como se
fixaram no Brasil.
Ao longo dos anos, e ao perceberem que a Fazenda Cancela não seria um
local para a produção agrícola, devido ao solo e o clima local, os colonos optaram pela
produção pecuária, primeiramente na produção de queijo e, recentemente, na
produção de queijos.
Witmasum, com cerca de 33 mil habitantes, aproximadamente 2 mil pessoas
trabalham na pecuária com a produção de leite. A colônia chega a produzir 80 mil litros
de leite, sendo da produção extraído uma tonelada de leite ao dia3.
A opção pela produção de queijos veio de a de encontro a uma necessidade
dos cooperados que viram a diminuição do interesses dos jovem que vivem na colônia
na produção de leite e a saída destes da comunidade e, no ano de 2000 iniciou-se o
projeto de produção de leite na comunidade4.
Atualmente a comunidade produz uma gama de queijos com certificação de
procedência, sendo eles o colonial e os tipo minas, ricota, brie, camembert,
appenzeller, emmental, raclette e a mistura para fondue5. Segundo informações da
própria Cooperativa, os queijos são produzidos por meio de uma coleta rápida do leite,
em uma altitude de 1000 metros acima do nível do mar, com controle de pastagem e
de rebanho, caracterizado pela exclusividade de vacas da raça holandesa e pardo
suíco.
Recentemente a comunidade de Witmarsum recebeu a certificação de
indicação geográfica de procedência pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial
- INPI, para tanto, foi necessário criar um manual rigoroso sobre o modo como o pasto,
o gado, e o leite deve ser envasado e armazenado, para sempre produzir queijos de
qualidade.
A seleção dos produtores para fornecimento de leite para que seja feita a
produção de queijo na cooperativa é extremamente rigorosa, sendo exigido dos
produtores o controle de doenças como brucelose e aftosa, a análise dos
equipamentos, controles sanitários, manutenção e produção animal e demais normas
sanitárias.
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In, ttps://www.gazetadopovo.com.br/viver-bem/turismo/conheca-witmarsum-terra-do-leite-e-queijo-
em-palmeira-no-parana/
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https://www.gazetadopovo.com.br/viver-bem/turismo/conheca-witmarsum-terra-do-
leite-e-queijo-em-palmeira-no-parana/
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https://www.witmarsum.coop.br/produtos/queijos/queijo.html
Além da produção, também é controlado a forma com que os cooperados
fazem o armazenamento e limpeza dos tanques de refrigeração de leite. Todo este
modo de fazer, desde o manejo do animal até o tratamento do leite para a produção
de queijo fazem parte do saber fazer preservado e tido como tradicional pela
comunidade, e transformam o e traduzem a imagem de seriedade e carinho que a
comunidade de Witmarsum tem pelo produto produzido.
A este método podemos denominar de Terroir, ou seja, a produção de
determinado produto e a sua qualidade é determinada por padrões específicos de
produção em determinados locais.
Sobre este aspecto e a complexidade de produção, os queijos artesanais
devem ser vistos muito além do que a transformação da coalhada do leite, eles
representam todo o histórico dos que o produzem, desde a passagem das tradições
pelas gerações, as memórias trazidas na sua produção e até mesmo pelo
reconhecimento de outras comunidades sobre a história e o que é produzido.
1.1
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
CARNEIRO, Maria Luiza Tucci. O anti-semitismo na era Varga: fantasmas da lima geração
(1930-1945). São Paulo: Brasiliense, 1988.
CUCHE, Denys. A noção de cultura nas ciências sociais. Bauru, Edusc, 2012.
GEERTZ, Clifford. A interpretação das culturas. Ed. atual. Rio de Janeiro: LTC,
c1989.
MACIEL, MARIA EUNICE. Uma Cozinha à brasileira. In: Estudos Históricos, Rio
de Janeiro, nº 33, janeiro-junho de 2004, p. 25-39
MONTANARI, Massimo.Comida como cultura. 2ª Ed. São Paulo: Editora Senac São
Paulo, 2013
PINKSY, Carla Bessanezi. Fontes Históricas. E3ª Ed. São Paulo: Contexto, 2011.
ORTIZ, Renato (org). Bourdiu – Sociologia. São Paulo: Ática, vol 39. P. 82-121
ZUIN, L.F.S; ZUIN, P.B. Produção de alimentos tradicionais – extensão rural.
Aparecida: Ideias e letras, 2008.
https://www.witmarsum.coop.br/a_cooperativa/historico.html, visualizado em
01/02/2021, às 15h45.