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ANA CLARA VIEIRA ORMELEZ

MEIOS ATÍPICOS PARA A REALIZAÇÃO DE CITAÇÃO NO DIREITO PROCESSUAL


CIVIL: CITAÇÃO ELETRÔNICA POR APLICATIVO DE MENSAGEM

RIO DE JANEIRO
2021
ANA CLARA VIEIRA ORMELEZ

MEIOS ATÍPICOS PARA A REALIZAÇÃO DE CITAÇÃO NO DIREITO PROCESSUAL


CIVIL: CITAÇÃO ELETRÔNICA POR APLICATIVO DE MENSAGEM

Orientadora: Amanda Rodrigues


Coorientador: COORDENAÇÃO DO CURSO

RIO DE JANEIRO
2021
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

Trabalho aprovado em Rio de Janeiro, _____/_____/_______.

EXAMINADOR:

________________________________

RIO DE JANEIRO
2021
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO....................................................................................................................07
REQUISITOS PARA O INGRESSO DA PARTE RÉ AO PROCESSO - DA FORMA COMO
SE DÁ O ATO PROCESSUAL E SUA VALIDADE JURÍDICA..........................................08
A CITAÇÃO ELETRÔNICA E A UTILIZAÇÃO DE APLICATIVOS DE
MENSAGENS.....................................................................................................................10
CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................................13
REFERÊNCIAS ..................................................................................................................14
Resumo

O presente trabalho foi desenvolvido para a avaliação a fim de obter a titulação de


Especialista em Processo Civil pela Universidade Cândido Mendes. A presente pesquisa
foi realizada pelo método qualitativo, onde se buscou verificar a validade da citação
realizada por intermédio de aplicativos de mensagem, bem como se a sua realização é
concebida como uma inovação processual. Analisou-se no desenvolvimento desta
pesquisa a legislação vigente, Código de Processo Civil Lei nº 13.105/2015 e a resolução
do CNJ nº 234/2016 e o recente julgado do STJ, HC nº 641.877. O resultado obtido foi de
que a citação mediante aplicativo de mensagem é válida, desde que o oficial de justiça tome
os devidos cuidados para verificar a autenticidade da identidade do recebedor, bem como
que a realização por meio de WhatsApp não se trata de uma inovação processual, uma
que é previsto no Código de Processo Civil a utilização de comunicação de atos
processuais por meio eletrônico, e se trata de uma forma de efetivar a prestação da tutela
jurisdicional através dos aparatos tecnológicos disponíveis atualmente.
Palavras-chave: Citação. Aplicativo de mensagem. Validade. Requisitos. Inovação.

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Abstract

This article was developed for the evaluation in order to obtain the title of Specialist in Civil
Procedure by Universidade Cândido Mendes. This research was carried out using the
qualitative method, which sought to verify the validity of the citation made through message
applications, as well as whether its realization is conceived as a procedural innovation. The
current legislation, Code of Civil Procedure Law nº 13.105/2015 and the CNJ resolution nº
234/2016 and the recent judgment of the STJ, HC nº 641.877 were analyzed in the
development of this research. The result obtained was that the citation through a message
application is valid, as long as the bailiff takes due care to verify the authenticity of the
recipient's identity, and that the realization through WhatsApp is not a procedural innovation
, one that provides for in the Code of Civil Procedure the use of communication of procedural
acts by electronic means, and it is a way to effect the provision of jurisdictional protection
through the technological devices currently available.

Keywords: Summons.Messaging app. Validity. Requirements. Innovation.

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Introdução

O Direito Processual Civil é baseado pela formalidade dos seus atos. Desde a
propositura da demanda devemos observar regramentos como endereçamento,
organização dos fatos, citações legais, pedido e, em todo o procedimento, a fim de
respeitarmos a “marcha processual” para o regular desenvolvimento do processo.

Dentre tantos atos, a citação é o meio pelo qual o requerido é chamado a compor
o triângulo processual, sendo prescrito em lei a forma como este ato se dará. A citação
incorreta, ou a sua falta, acarreta nulidade processual, sendo a sua perfectibilização um
pressuposto de validade e de existência.

Contudo, com o advento da Lei nº 13.105 de 16 de março de 2015, priorizou-se


pela modernização dos atos e pela eficiência e efetividade do processo, possibilitando
inclusive às partes convencionarem a forma com que se dará o andamento da lide.

Não obstante, nos últimos anos buscou-se aprimorar o processo modernizando a


forma com que os atos processuais são praticados, contudo, tal situação se evidenciou em
decorrência da pandemia de COVID-19, trazendo ao direito e, em especial ao processo
civil, novas formas de se realizar a comunicação dos atos processuais.

No presente artigo buscou-se demonstrar os meios utilizados para realização de


citação processual em decorrência das restrições de circulação pela pandemia de COVID-
19, analisando os requisitos de validade da citação, identificando os critérios utilizados pelo
oficial de justiça, identificando por meio de decisões judiciais do TJ/PR a aplicabilidade de
meios alternativos para efetivação da citação.

O presente trabalho trata-se de uma pesquisa qualitativa, com fulcro a obtenção da


titulação de Especialista em Direito Processual Civil pela Universidade Candido Mendes,
na qual se utilizou o método de revisão bibliográfica para identificar se a citação por
aplicativos de mensagem são válidas e se tal forma pode ser considerada uma inovação
processual.

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REQUISITOS PARA O INGRESSO DA PARTE RÉ AO PROCESSO - DA FORMA COMO
SE DÁ O ATO PROCESSUAL E SUA VALIDADE JURÍDICA

Inicialmente, precisamos definir o que é citação e qual a sua importância


dentro do procedimento judicial. A citação é o momento no qual o requerido é chamado a
integrar o processo, completando, assim, o triângulo, autor-requerido-juiz.
Segundo Scaepinella Bueno, ela “é o pressuposto de existência do processo
(...) dando, adequadamente, preponderância ao princípio da efetividade sobre o da ampla
defesa” (. 2020, p. 275). Além disso, a citação, dentro do processo civil implica em diversos
efeitos, sendo eles a litispendência, tornará litigiosa a coisa, constitui a mora do devedor,
bem como interrompe a prescrição. (2020. p. 275)
Ela ainda é o momento em que o princípio da efetividade é posto em prática,
uma vez que oportuniza a parte contrária a sua participação no procedimento judicial para
apresentação de suas razões e, segundo Dinamarco, é considerada a “alma do processo”.
(2020, p. 236-237)
Neste sentido, o Código de Processo Civil dispõe em seu art. 246 a forma na
qual se dará a citação:

Art. 246. A citação será feita:


I - pelo correio;
II - por oficial de justiça;
III - pelo escrivão ou chefe de secretaria, se o citando comparecer em cartório;
IV - por edital;
V - por meio eletrônico, conforme regulado em lei.

Como vimos, o Código de Processo Civil determina que a citação poderá ser feita
via correio, em casos que lhe for permitido em lei, na pessoa do citando, ou, sendo pessoa
jurídica, na pessoa dos seus sócios ou representante legal.
A citação pela via postal não poderá ocorrer em alguns casos indicados nos incisos
do art. 247 do Código de Processo Civil, quais sejam, o citando for incapaz, se tratar de
pessoa de direito público, residir em local não atendido pela entrega de correspondência
domiciliar ou for requerido pelo autor uma forma diversa.
Ainda, também é indicado no Codex, em seu art. 248, a forma com a qual a citação
via postal deve ser observada, a fim de evitar a sua nulidade:

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Art. 248. Deferida a citação pelo correio, o escrivão ou o chefe de secretaria remeterá ao
citando cópias da petição inicial e do despacho do juiz e comunicará o prazo para
resposta, o endereço do juízo e o respectivo cartório.
§ 1º A carta será registrada para entrega ao citando, exigindo-lhe o carteiro, ao fazer a
entrega, que assine o recibo.
§ 2º Sendo o citando pessoa jurídica, será válida a entrega do mandado a pessoa com
poderes de gerência geral ou de administração ou, ainda, a funcionário responsável pelo
recebimento de correspondências.
§ 3º Da carta de citação no processo de conhecimento constarão os requisitos do art.
250 .
§ 4º Nos condomínios edilícios ou nos loteamentos com controle de acesso, será válida
a entrega do mandado a funcionário da portaria responsável pelo recebimento de
correspondência, que, entretanto, poderá recusar o recebimento, se declarar, por escrito,
sob as penas da lei, que o destinatário da correspondência está ausente.

Não obstante, como vimos a citação também pode ser feita via oficial de justiça
quando requerido pela parte autora, ou ainda no insucesso pela via postal, ao qual também
deverá obedecer às regras também estabelecidas no Código, inclusive para a realização
de citação por hora certa.
Poderá ainda a parte se valer da citação por edital quando as demais tentativas
foram frustradas. Esta somente poderá ser levada à mão em último caso, uma vez que a
sua utilização de forma dolosa acarretará multa a parte que a requereu.
Ainda, o Código de Processo Civil dispõe sobre a possibilidade da utilização da
citação por meio eletrônico conforme regulamentação legal. Tal meio é uma forma pela qual
o legislador encontrou de modernizar os atos processuais e os adequar a nossa realidade.
A utilização dos meios digitais se encontra em vários atos processuais do Código
de Processo Civil, não somente na citação e estão em plena aplicabilidade, principalmente
pelo fato de que a maioria dos processos judiciais estão tramitando pela via virtual.
Acerca disso, o CNJ se posicionou a respeito da utilização de meios digitais por
meio da Resolução nº 234/2016, disciplinando sobre a obrigatoriedade do cadastro nos
sistemas dos Tribunais de entes da União, Estados, Distrito Federal, Municípios, Entidades
da Administração Indireta, Empresas Públicas e Privadas, exceto para micro e pequenas
empresas e, ainda, para o Ministério Público e Defensoria Pública, como forma de facilitar
e agilizar a comunicação entre as partes.
Através destas medidas o Código de Processo Civil busca potencializar os
princípios basilares da instrumentalidade e da eficiência jurisdicional, o que traz um grande
avanço na prática dos atos processuais, buscando a maior agilidade na entrega da tutela
jurisdicional.

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A CITAÇÃO ELETRÔNICA E A UTILIZAÇÃO DE APLICATIVOS DE MENSAGENS

Com o advento do processo digital os atos processuais passaram lentamente a ser


praticados no meio eletrônico. Contudo, tal situação mudou após o mundo ser acometido
pela pandemia de COVID-19, onde os fóruns acabaram sendo fechados e a restrição de
circulação de pessoas era medida imperiosa.
Desde 2017 o CNJ permitiu a utilização de aplicativos de mensagens como meio a
se realizar intimações judiciais, o que, segundo Eliane Silva seriam um meio de garantir um
acesso mais eficaz e ágil no Juizados Especiais.
Ocorre que tal aplicação, de início, restou conflituosa, uma vez que havia
divergência na sua utilização e não existia uma padronização da sua prática, o que ensejou
na discussão judicial da validade da citação realizada via WhatsApp.
Humberto Theodoro Júnior afirma em seu livro que:

Quando os Órgãos do Poder Judiciário tiverem implantado sistema adequado para


viabilizar os atos processuais por meios eletrônicos, as citações poderão realizar-se
por seu intermédio, nos processos civis, inclusive perante a Fazenda Pública (Lei
11.419/2006, art. 6º).
A validade do ato citatório eletrônico, no entanto, dependerá de duas exigências
legais:
(a) ser feita sob as formas e cautelas traçadas pelo art. 5º para as intimações; e
(b) a íntegra dos autos deve ficar acessível ao citando (art. 6º).28
Não são quaisquer citandos que poderão receber a citação eletrônica, mas apenas
aqueles que anteriormente já se achem cadastrados no Poder Judiciário para esse
tipo de comunicação processual. E de maneira alguma o uso da informática pode
comprometer a defesa do citado. É obrigatório que, além da mensagem eletrônica,
todos os elementos dos autos estejam realmente ao alcance do exame do citado.
(2020, p. 563)(grifo meu)

Conforme se depreende do trecho acima, a Lei nº 11.419/2006 dispõe sobre os


processos eletrônicos, contudo, em nada dispõe sobre a realização de citações por meio
eletrônico, apenas a intimação das partes que estão devidamente cadastradas nos
sistemas dos Tribunais.
Em que pese não haver na Lei nenhuma previsão quanto a forma na qual a citação
deva se dar, esta deve respeitar, especificamente, o acesso do citando aos autos, a fim de
que ele tome o efetivo conhecimento daquilo pelo qual está lhe sendo imputado.
Nesta mesma senda, o art. 193 do Código de Processo Civil dispõe que os atos
processuais podem ser praticados pela via digital, desde que respeitando a forma da
disposta em Lei, vejamos:

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Art. 193. Os atos processuais podem ser total ou parcialmente digitais, de forma a
permitir que sejam produzidos, comunicados, armazenados e validados por meio
eletrônico, na forma da lei.

Desta forma, poderíamos entender pela possibilidade da prática de atos citatórios


pelo meio virtual, contudo, deveria haver disposição legal prescrevendo seus limites e as
formas que deveriam ser obedecidas para o correto cumprimento do ato.
Como já vimos, a citação é um ato importante na formação do processo judicial,
uma vez que chama o citando a integrar o processo e, consequentemente, tomar
conhecimento do que lhe está sendo imputado e, apresentar em juízo suas razões para o
convencimento do Juízo.
Segundo o Conselho Nacional de Justiça no relatório Justiça em Números do ano
de 2020, cerca de 90% tramitam no meio eletrônico, nas justiças estaduais o percentual é
de 88,3%, o que demonstra um grande avanço na implantação do mundo digital no poder
judiciário (2020, p. 112).
Os tribunais passaram a adaptar-se ao trabalho telepresencial, ajustando a pauta
de audiência para a sua conversão ao meio eletrônico, protocolo de documento e até
mesmo o atendimento via balcão virtual.
Não era de se esperar que, pelas restrições de circulação e pelo risco de se praticar
alguns atos processuais como a citação, passassem a ser realizados virtualmente, contudo,
a sua realização é rodeada de questionamentos quanto a validade da prática do ato.
Os oficiais de justiça estão praticando os atos citatórios por meio de aplicativos de
mensagem como WhatsApp, informando assim que a parte deverá comparecer em juízo,
ou a uma audiência, contudo como se poderá validar o recebimento de citação e se certificar
quanto a efetividade do ato?
Tal dúvida cinge-se no fato de que, uma vez que não há previsão legal ou
regulamentação para que a citação se realize mediante aplicativos de mensagem e sem
prévia autorização ou cadastro da parte, quais seriam as formas para que este ato seja
realizado sem que haja nulidades processuais e eventuais prejuízos ao citando e ao
processo?
É sabido que o Oficial de Justiça é tomado pela fé pública na prática de seus atos,
em recente decisão o Superior Tribunal de Justiça ao julgar o Habeas Corpus de nº 641877,
decidiu sobre os critérios de validade da citação por WhatsApp nos processos penais.

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Em que pese a decisão não se tratar sobre o Direito Processual Civil de forma
direta, podemos a utilizar com base para a sua aplicação na esfera cível, uma vez que não
há regulamentação sobre a sua forma.
Ainda, como bem disse o Ministro Ribeiro Dantas, não se pode ignorar o fato que
vivemos em um mundo mais tecnológico, e pouco a pouco precisaremos nos adaptar ao
surgimento de novas tecnologias para auxiliar o regular andamento do processo, contudo,
devemos prezar pela segurança jurídica dos atos processuais.
Para tanto, fora estabelecido no julgado que, para que a citação seja válida ela
deverá ser praticada mediante a verificação da autenticidade da parte. A prova quanto a
autenticidade da parte deve ser incontestável, podendo o oficial requerer a apresentação
de um documento de identificação com foto, a assinatura de um documento no local, o que
podemos extrair do trecho do voto:

Excluir peremptória e abstratamente a possibilidade de utilização do Whatsapp para fins


da prática de atos de comunicação processuais penais, como a citação e a intimação,
não se revelaria uma postura comedida. Não se trata de autorizar a confecção de normas
processuais por tribunais, mas sim o reconhecimento, em abstrato, de situações que,
com os devidos cuidados, afastariam, ao menos, a princípio, possíveis prejuízos
ensejadores de futuras anulações. Isso porque a tecnologia em questão permite a troca
de arquivos de texto e de imagens, o que possibilita ao oficial de justiça, com quase igual
precisão da verificação pessoal, aferir a autenticidade do número telefônico, bem como
da identidade do destinatário para o qual as mensagens são enviadas.(HC Nº 641.877,
5º Turma, Rel. Min. Ribeiro Danta, julgado em: 09 de março de 2021)

Podemos perceber que, apesar de o Direito Processual Civil ser cheio de


formalismos, ele não está imune a atualizações. O legislador quando propôs as mudanças
para o que chamamos de Novo Código de Processo Civil, buscou trazer maior efetividade
e modernidade na prestação jurisdicional e, mesmo que não haja previsão legal sobre o
modo em que podemos adaptar a nossa realidade a tecnologias que surgem diariamente
e, devemos lançar mão de suas facilidades para buscar a efetivação da tutela jurisdicional.
Mesmo com a intenção inovadora do legislador, alguns juízes ainda estão
reticentes na aplicação da realização de atos por meio de aplicativos de mensagens, sob
alegação de não haver expressa previsão legal no Código de Processo Civil, devendo a
parte se valer da citação editalícia em caso de não encontrar a parte, o que se verifica no
julgado do Tribunal de Justiça de Goiás:

AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE EXECUÇÃO. CITAÇÃO POR WHATSAPP.


INVALIDADE. INCERTEZA DA COMUNICAÇÃO. NECESSIDADE DE REPETIÇÃO DO
ATO. 1. A citação informal por aplicativo whatsapp não encontra respaldo no CPC
12
nem na Lei 11.419/2006, mormente quanto inexiste certeza de que o destinatário
da mensagem eletrônica, efetivamente, é o próprio executado. 2. Existindo a
possibilidade de realização de outros meios ordinários de citação, tais como a
citação por hora certa ou editalícia, afigura-se escorreita a decisão que tornou sem
efeito o ato realizado. AGRAVO DE INSTRUMENTO CONHECIDO E DESPROVIDO.
(TJ-GO - AI: 01453273020218090000 GOIÂNIA, Relator: Des(a). Aureliano Albuquerque
Amorim, Data de Julgamento: 12/04/2021, 2ª Câmara Cível, Data de Publicação: DJ de
12/04/2021) (grifo meu)

Entretanto, alguns Tribunais estão editando portarias regulamentando a realização


de comunicação de atos processuais por meio de aplicativos de mensagens e virtualmente,
em razão das restrições causadas pela pandemia de COVID-19, como é o caso do Tribunal
de Justiça do Estado do Paraná que editou a portaria nº 3605/2020 do Conselho de
Supervisão dos Juizados Especiais, autorizando a utilização do meio virtual para a
realização de audiências de conciliação, com fito a agilidade e a efetividade do poder
judiciário.

Contudo, mesmo com a edição de portarias regulamentando a utilização dos


aplicativos de mensagem para a comunicação dos atos processuais, os juízes tem se
valido desta modalidade em casos excepcionais e, deixando evidente que, para que o ato
seja considerado válido, o oficial de justiça deve garantir a autenticidade do recebedor e a
ciência inequívoca sobre o teor do ato ali praticado, pois, de outro modo, este poderá ser
invalidado.

Considerações Finais

Como vimos, a citação é um ato muito importante para o início da marcha


processual, e por sua relevância no procedimento, devemos nos ater às suas formalidades
a fim de evitar nulidades processuais a serem alegadas em sede recursal.
O Código de Processo Civil prevê a utilização de meios eletrônicos para a
comunicação de atos processuais, mediante cadastro e autorização da parte em seus
sistemas, mas em nada regula sobre a utilização de outros meios ou até mesmo de
aplicativos sem o devido cadastro da parte.
Ocorre que, devido às restrições de circulação pela pandemia de COVID-19 houve
uma aceleração adaptação dos atos processuais por meio eletrônico, passamos a realizar
audiências virtuais, atendimentos entre outros atos, inclusive os de citação.

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Há certa desconfiança quanto as inovações, pois nos tiram da zona de conforto,
mas não podemos evitar que elas façam parte de nossa rotina.
Por óbvio, não podemos renunciar às formalidades dos ritos processuais, e que
para a realização dos atos devemos nos certificar quanto à real ciência da parte quanto a
efetivação do ato, a fim de evitar nulidades.
Deve-se sempre prezar pela efetividade da prestação jurisdicional e priorizar o
devido cumprimento dos princípios do direito processual civil, resguardando a boa-fé dos
atos processuais com fito a evitar teratologia.
A utilização de aplicativos de mensagem como o WhatsApp, não pode ser tida como
uma inovação processual, mas sim procedimental, vez que se trata de uma atualização
necessária ao sistema judiciário, a fim de que haja maior eficiência da prestação
jurisdicional conforme desejo do legislador ao criar a Lei nº 13.105 de 2015.
Entretanto, a sua aplicação ainda tem sido temerária pelo judiciário, uma vez que
por não haver disposição específica no Código de Processo Civil sobre sua aplicação, os
juízes dependem da edição de portarias e resoluções pelos tribunais para a sua validação,
sob receio de gerar invalidades processuais.
A decisão proferida pelo STJ poderá ser utilizada como base para a aplicação
analógica no processo civil, pois elencou critérios a serem respeitados para a realização do
ato, garantindo a sua validade, o que em muitos casos facilitará o correto deslinde do feito
e evitará eventuais ocultações por parte do réu, e garantirá a efetividade na execução do
processo.

Referências

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