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21/12/2023, 13:00 Envio | Revista dos Tribunais

Citação eletrônica no Código de Processo Civil brasileiro

CITAÇÃO ELETRÔNICA NO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL BRASILEIRO


Electronic citation in the Brazilian Civil Procedure Code
Revista de Processo | vol. 325/2022 | p. 465 - 475 | Mar / 2022
DTR\2021\49478

Daniel Roberto Hertel


Mestre em Garantias Constitucionais pelas Faculdades Integradas de Vitória – FDV. Especialização em Direito Público
e em Direito Processual Civil pela Faculdade Cândido Mendes. Curso de aprofundamento em Direito Processual na
Universidade Pompeu Fabra, Espanha, promovido pelo Instituto Iberoamericano de Derecho Procesal e pela
Fundación Serra Domínguez. Acadêmico de Honra da Academia de Letras Jurídicas do Estado do Espírito Santo.
Professor Adjunto X de Direito Processual Civil da Universidade Vila Velha – UVV. Professor convidado de Direito
Processual Civil do curso de Pós-Graduação da Academia Brasileira de Direito Constitucional – ABDCONST (Curitiba/
PR). Professor da Escola Superior da Magistratura do Estado do Espírito Santo – ESMAGES. Professor convidado de
Direito Processual Civil do curso de Pós-Graduação da Faculdade de Direito de Vitória (FDV). Professor convidado de
Direito Processual Civil do curso de Pós-Graduação da Escola Superior de Advocacia do Espírito Santo – ESA/ES.
Assessor para Assuntos Jurídicos no Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo. danielhertel@terra.com.br
daniel@uvv.br

Área do Direito: Civil; Processual


Resumo: Trata da citação eletrônica no Código de Processo Civil. Aborda os diversos aspectos relativos à referida
modalidade de citação, inserida pelo Legislador da Lei 14.195/2021. Esclarece que a citação eletrônica passou a ser
adotada como modalidade preferencial, mencionando ainda as pessoas que podem ser citadas eletronicamente.
Também foram abordadas as ferramentas para citação eletrônica, bem como aspectos relacionados à validade da
citação eletrônica e da possibilidade de aplicação dos efeitos da revelia. Foram abordados os prazos processuais
relativos à citação eletrônica e a aplicação dela nos processos de conhecimento e de execução, assim como na fase
de cumprimento de sentença, quando a necessidade de citação do executado é exigida pelo Legislador.

Palavras-chave: Citação eletrônica – Código de Processo Civil – Reforma processual – Lei 14.195/2021
Abstract: Deals with electronic citation in the Code of Civil Procedure. It addresses the various aspects related to the
referred modality of citation, inserted by the Legislator of Law n. 14,195/2021. It clarifies that electronic citation is now
adopted as the preferred modality, also mentioning people who can be cited electronically. Tools for electronic citation
were also addressed, as well as aspects related to the validity of electronic citation and the possibility of applying the
effects of default. The procedural deadlines related to electronic citation and its application in the knowledge and
enforcement processes were addressed, as well as in the sentence fulfillment phase, when the need for citation of the
debtor is required by the Legislator.

Keywords: Electronic citation – Code of Civil Procedure – Procedural reform – Law 14,195/2021
Para citar este artigo: HERTEL, Daniel Roberto. Citação eletrônica no Código de Processo Civil brasileiro. Revista de
Processo. vol. 325. ano 47. p. 465-475. São Paulo: Ed. RT, março 2022. Disponível em: <http://
revistadostribunais.com.br/maf/app/document?stid=st-rql&marg=DTR-2021-49478>. Acesso em: DD.MM.AAAA.
Sumário:

1. Introdução - 2. Citação eletrônica como modalidade preferencial e confirmação ou não do recebimento dela - 3.
Pessoas que podem ser citadas de forma eletrônica e dever de informação dos endereços eletrônicos - 4.
Mecanismos e ferramentas para citação eletrônica - 5. Citação eletrônica válida, revelia e inexistência de nulidades
sem prejuízo - 6. Necessidade de regulamentação pelo Conselho Nacional de Justiça - 7. Prazos e citação eletrônica -
8. Aplicação nos processos de conhecimento, execução e cumprimento de sentença - 9. Considerações finais - 10.
Bibliografia

1. Introdução
A citação é ato por meio do qual são convocados o réu, o executado ou o interessado para integrar a relação jurídica
processual. Trata-se de um dos atos processuais de maior importância porque é por meio dela que é triangularizada a
relação jurídica que se desenvolverá no processo. A citação é pressuposto processual e viabiliza o exercício do
contraditório. O defeito ou a falta de citação, se o processo tramitou sem a participação do réu, pode acarretar efeitos
gravosos para a concessão da tutela jurisdicional.
É entendimento remansoso o de que a nulidade ou a ausência de citação, se o processo tramitou à revelia, gera o
vício processual de maior gravidade no sistema processual civil brasileiro, de natureza transrescisório, sendo
autorizada, inclusive, a propositura de ação declaratória autônoma (querela nullitatis insanabilis) para reconhecimento

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dele. A gravidade do vício decorre da violação do princípio do contraditório, devendo ser levado em consideração
também o risco de desperdício de atividade jurisdicional com a prática de atos processuais nulos1.
Na redação originária, o Código de Processo Civil de 2015 contemplou quatro modalidades de citações: a) pelo
correio; b) por Oficial de Justiça; c) pelo Escrivão ou Chefe de Secretaria; e d) por edital (art. 246), sendo a primeira
delas, ou seja, a citação pelo correio, estabelecida como a regra a ser adotada (art. 247). A citação por meio eletrônico
foi prevista no CPC de 2015 em sua redação originária, mas a pouca eficácia do dispositivo era evidente diante da
previsão de que tal modalidade de citação se daria “conforme regulado em lei” (art. 246, inc. V).
A Lei 14.195, de 26 de agosto de 2021 (LGL\2021\11633), promoveu várias alterações em nosso ordenamento jurídico
e, entre as diversas modificações, estabeleceu que a citação eletrônica é a modalidade preferencial a ser adotada no
processo civil brasileiro. As modificações são sobremaneira relevantes porque afetam ato processual diretamente
relacionado ao exercício do contraditório, tendo o Legislador procurado detalhar alguns aspectos da citação eletrônica.
Insta salientar que a Lei 14.195/2021 (LGL\2021\11633) é fruto da conversão da Medida Provisória 1.040, de 29 de
março de 2021 (LGL\2021\3992). A propósito disso, deve ser mencionado que não passou despercebido pela doutrina
de qualidade a inconstitucionalidade das modificações por violação do devido processo legislativo, sendo
argumentado que o projeto de conversão da medida provisória aborda matéria a ele estranha. O vício de
inconstitucionalidade transparece com maior nitidez quando é levado em consideração que a matéria nova versa
sobre Direito Processual Civil, que sabidamente não pode ser tratada por meio de medida provisória (art. 62, § 1º, inc.
I, b, da CF (LGL\1988\3))2.
A despeito da relevância da discussão sobre a inconstitucionalidade das modificações propostas pelo Legislador e das
teses levantadas, com as quais coaduno integralmente, o fato é que a Lei 14.195/2021 (LGL\2021\11633) já se
encontra em vigor e produzindo efeitos. Pretende-se, então, nesta oportunidade, abordar os diversos aspectos da
citação eletrônica, os quais foram delineados pelo Legislador da reforma realizada no Código de Processo Civil, e
suas possíveis polêmicas.
2. Citação eletrônica como modalidade preferencial e confirmação ou não do recebimento dela
O art. 246 do CPC (LGL\2015\1656) estabelece que a citação será feita preferencialmente por meio eletrônico. Nessa
ordem de ideias, as demais modalidades de citações, como a pelo correio, por Oficial de Justiça, pelo Escrivão ou
Chefe de Secretaria ou por edital, somente serão empregadas caso a citação eletrônica seja frustrada. Isso ocorrerá,
de acordo com o disposto no art. 246, § 1º-A, do CPC (LGL\2015\1656), quando não houver, em até três dias úteis,
confirmação do recebimento da citação eletrônica.
A confirmação do recebimento da citação eletrônica perfectibiliza o ato processual, seguindo-se a partir de então o
procedimento adotado no processo, devendo ser adotadas as providências legais. No procedimento comum, por
exemplo, o réu será citado e intimado para comparecer na audiência de conciliação e de mediação, cuja disciplina
está prevista no art. 334 do CPC (LGL\2015\1656). Na execução para entrega de coisa certa fundada em título
extrajudicial, o devedor terá o prazo de quinze dias para satisfazer a obrigação, o que se encontra em harmonia com o
disposto no art. 806 do CPC (LGL\2015\1656).
Por outro lado, a ausência de confirmação do recebimento da citação eletrônica deve ser analisada com cautela pelo
Julgador. Isso porque a referida ausência não pode ser empregada de modo intencional e malicioso pelo réu como
forma de procrastinar o desenvolvimento do processo. Tal comportamento configura típica violação do princípio da
boa-fé objetiva3, valendo lembrar que o art. 5º do CPC (LGL\2015\1656) estabelece que “Aquele que de qualquer
forma participa do processo deve comportar-se de acordo com a boa-fé”.
Com o escopo de evitar abuso em relação à alegação de não recebimento da citação eletrônica, o § 1º-B do art. 246
do CPC (LGL\2015\1656) prevê que o réu citado por meio das demais modalidades citatórias deverá apresentar justa
causa para a ausência de confirmação do recebimento da citação eletrônica. Deve ser mencionado ainda que será
reputado como ato atentatório à dignidade da justiça a conduta daquele que deixar de confirmar no prazo legal, sem
justa causa, o recebimento da citação eletrônica, sendo passível de imposição de multa de até cinco por cento do
valor da causa (§ 1º-C do art. 246 do CPC (LGL\2015\1656)).
3. Pessoas que podem ser citadas de forma eletrônica e dever de informação dos endereços eletrônicos
Questão relevante diz respeito às pessoas que podem ser citadas de forma eletrônica. Parece-me que tanto as
pessoas jurídicas de direito público e privado, como as pessoas naturais, podem ser citadas eletronicamente4. Essa é
a interpretação que se coaduna com o objetivo do legislador da reforma, que incontestavelmente foi otimizar o
desenvolvimento da atividade processual, primando pelos princípios da celeridade e da economia processual5.
Deve ser destacado que o endereço para fins de citação eletrônica não será aquele indicado aleatoriamente pelo
autor da demanda, mas apenas aquele indicado pelo réu, evidentemente em outros processos judiciais ou constante
nos dados cadastrais dos bancos de dados do Poder Judiciário. O art. 246, caput, do CPC (LGL\2015\1656) é
expresso no sentido de que a citação será feita por meio eletrônico nos “endereços eletrônicos indicados pelo citando
no banco de dados do Poder Judiciário”. Isso evitará que endereços eletrônicos indicados sem maiores critérios pelo
autor da demanda sejam utilizados indevidamente6.

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O art. 246, § 1º, do CPC (LGL\2015\1656) contempla previsão no sentido de que as empresas públicas e privadas
deverão manter cadastro nos sistemas de processo em autos eletrônicos, para efeito de recebimento de citações e
intimações. No § 5º daquele mesmo artigo está previsto que as microempresas e as pequenas empresas, quando não
possuírem endereço eletrônico cadastrado no sistema integrado da Rede Nacional para a Simplificação do Registro e
da Legalização de Empresas e Negócios (Redesim), deverão observar a mesma regra prevista para as demais
empresas públicas e privadas. Por outras palavras, deverão manter cadastro no sistema de processo em autos
eletrônicos.
Demais, o art. 77, inc. VII, do CPC (LGL\2015\1656), inserido pela reforma, estabelece que é dever das partes, de
seus procuradores e de todos aqueles que de qualquer forma participem do processo informar e manter atualizados
seus dados cadastrais perante os órgãos do Poder Judiciário, para recebimento de citações e intimações. Note-se que
o preceito não faz nenhuma ressalva em relação à pessoa natural ou jurídica. De toda sorte, a inobservância de tal
dever de informar e manter atualizados dados cadastrais não configura ato atentatório à dignidade da justiça porque o
inciso VII do art. 77 não é mencionado nos §§ 1º e 2º do referido dispositivo.
4. Mecanismos e ferramentas para citação eletrônica
O legislador da reforma propiciada pela Lei 14.195/2021 (LGL\2021\11633) não explicitou quais mecanismos e quais
ferramentas poderão ser utilizadas para citação eletrônica. Relegou, ainda, o detalhamento da citação eletrônica à
regulamentação do Conselho Nacional de Justiça. A opção é acertada diante do constante e acelerado
desenvolvimento das tecnologias, das ferramentas de comunicação e das redes sociais.
Parece-me, contudo, que, diante de uma visão moderna e que prima pela efetividade do processo, a citação eletrônica
deverá ser admitida por meio de e-mail, Whatsapp7, SMS, redes sociais, entre outros mecanismos8. É claro que o uso
de redes sociais para fins de citação eletrônica deverá ser cauteloso, sem exposição do citando com mensagens
públicas que podem ser acessadas por diversas pessoas.
A propósito, a Resolução 354, de 19 de dezembro de 2020, do Conselho Nacional de Justiça, embora editada antes
reforma processual realizada pela Lei 11.495/2021, estabelece no art. 9º, parágrafo único, que aquele que requerer a
citação ou a intimação deverá fornecer “os dados necessários para comunicação eletrônica por aplicativos de
mensagens, redes sociais e correspondência eletrônica (e-mail), salvo impossibilidade de fazê-lo”.
5. Citação eletrônica válida, revelia e inexistência de nulidades sem prejuízo
A confirmação ou não do recebimento da citação eletrônica será de fundamental importância para o adequado
desenvolvimento do processo e a devida observância do contraditório. Nessa ordem de ideias, a decretação da revelia
e dos eventuais efeitos dela deverá ser adotada de modo extremamente cauteloso pelo Julgador, quando a citação for
realizada eletronicamente, sendo essencial, para tanto, a comprovação da confirmação de recebimento da citação.
Por outras palavras, a prova da confirmação do recebimento da citação eletrônica é de fundamental importância para
o adequado desfecho do processo, com possibilidade de decretação da revelia. Caso não haja tal comprovação, não
se poderá presumir que o réu recebeu a citação eletrônica, caso em que deverão ser adotadas as demais formas de
citações, como pelo correio, por mandado ou por edital, conforme expressamente prevê o art. 246, § 1º-A, do CPC
(LGL\2015\1656).
Nessa ordem de ideias, a citação por correio eletrônico não pode ser considerada nem real e nem ficta (por edital e
por hora certa)9. O art. 72, inc. II, do CPC (LGL\2015\1656) estabelece que “O juiz nomeará curador especial (...) ao
réu revel citado por edital ou com hora certa, enquanto não for constituído advogado”. Essa nomeação de curador
especial, contudo, não se aplica no caso de citação eletrônica porque em tal situação, caso não comprovado o
recebimento dela pelo réu, as demais modalidades citatórias deverão ser empregadas.
De outro vértice, o Julgador, ao apreciar a validade da citação eletrônica, também deverá se guiar pelo princípio de
que não há nulidade sem prejuízo (pas de nullité sans grief). Nessa ordem de ideias, se o réu foi citado
eletronicamente e não recebeu a contrafé, mas compareceu em juízo e se defendeu sem maiores dificuldades,
nenhuma nulidade deverá ser reconhecida10. Os princípios da instrumentalidade das formas e da primazia do
julgamento do mérito dão respaldo a essa conclusão.
6. Necessidade de regulamentação pelo Conselho Nacional de Justiça
A necessidade de regulamentação da citação eletrônica decorre expressamente do art. 246, parte final, do CPC
(LGL\2015\1656). Essa regulamentação deverá detalhar os diversos aspectos da citação eletrônica, mas não poderá,
por óbvio, transbordar dos limites definidos pelo legislador da reforma, sob pena de invasão de competência e
violação do disposto no art. 22, inc. I, da Constituição Federal.
Essa necessidade de regulamentação da citação eletrônica pelo Conselho Nacional de Justiça não obsta, contudo, no
meu modo de pensar, que tal modalidade citatória seja desde logo empregada. Havendo comprovação de endereço
eletrônico indicado pelo réu em processos judiciais, em bancos de dados do Poder Judiciário ou em outras fontes de
dados confiáveis, a citação eletrônica poderá ser adotada.
Por óbvio que, não havendo comprovação do recebimento da citação eletrônica, as demais modalidades citatórias
deverão ser empregadas. Uma vez ocorrida a triangularização da relação jurídica processual, o réu deverá declinar na

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primeira oportunidade em que se manifestar nos autos os motivos pelos quais não recebeu ou não fez a leitura da
citação eletrônica.
Saliente-se que a Resolução 354, de 19 de novembro de 2020, do Conselho Nacional de Justiça (LGL\2020\15586)
dispõe sobre “o cumprimento digital de ato processual e de ordem judicial e dá outras providências”. Tal instrumento
normativo secundário é anterior à reforma realizada pela Lei 14.195/2021 (LGL\2021\11633), mas poderá ser utilizado
de modo subsidiário, no que for compatível com as modificações legislativas, até que nova regulamentação seja
editada pelo CNJ.
O art. 9º, parágrafo único, da Resolução 354/2020 (LGL\2020\15586) prevê que
“Aquele que requerer a citação ou intimação deverá fornecer, além dos dados de qualificação, os dados necessários
para comunicação eletrônica por aplicativos de mensagens, redes sociais e correspondência eletrônica (e-mail), salvo
impossibilidade de fazê-lo”.
Essa indicação dos dados pelo autor deverá ser lastreada em indicação prévia do réu, em outro processo ou em
bancos de dados do Poder Judiciário.
O art. 10, inc. I e II, da mencionada Resolução estabelece que o cumprimento da citação e da intimação por meio
eletrônico será documentado por: a) “comprovante do envio e do recebimento da comunicação processual, com os
respectivos dia e hora de ocorrência”; ou b) “certidão detalhada de como o destinatário foi identificado e tomou
conhecimento do teor da comunicação”. Também é esclarecido no § 1º daquele artigo que “O cumprimento das
citações e das intimações por meio eletrônico poderá ser realizado pela secretaria do juízo ou pelos oficiais de
justiça”.
7. Prazos e citação eletrônica
Na contagem dos prazos em dias, contam-se apenas os úteis (art. 219 do CPC (LGL\2015\1656)). Contam-se os
prazos excluindo o dia do começo e incluindo o dia do final (art. 224 do CPC (LGL\2015\1656)). A citação eletrônica
deverá ser determinada pelo Julgador no prazo de até dois dias úteis (art. 246 do CPC (LGL\2015\1656)), mas tal
prazo é impróprio11, não havendo nenhuma nulidade processual caso inobservado.
O réu terá o prazo de três dias úteis para confirmar o recebimento da citação eletrônica (art. 246, § 1º-A, do CPC
(LGL\2015\1656)). Assim, recebida a citação eletrônica em uma segunda-feira, por exemplo, o réu deverá confirmar o
seu recebimento dela até a quinta-feira. Caso não confirmado o recebimento, não haverá revelia, devendo o réu ser
citado pelas demais modalidades citatórias, caso em que terá o dever de explicar o porquê da não confirmação do
recebimento, sujeitando-se à multa de até cinco por cento do valor da causa, se sua explicação não for acolhida pelo
Juiz.
E se o réu confirmar o recebimento da citação eletrônica em data posterior aos três dias úteis mencionados pelo
legislador o art. 246, § 1º-A, do CPC (LGL\2015\1656)? Tal confirmação deverá ser desconsiderada, sendo reputada
ineficaz, porque não observado o prazo de três dias úteis automaticamente deverá ser determinada a realização da
citação pelas demais modalidades citatórias.
O art. 231, inc. IX, do CPC (LGL\2015\1656) estabelece como dia do começo do prazo, salvo disposição em contrário,
“o quinto dia útil seguinte à confirmação, na forma prevista na mensagem de citação, do recebimento da citação
realizada por meio eletrônico”. Assim, na citação eletrônica o dia do começo será o quinto dia útil após o dia em que
foi confirmado o recebimento dela. Se o réu confirmou o recebimento da citação eletrônica na quinta-feira, por
exemplo, o dia do começo será quinta-feira seguinte.
8. Aplicação nos processos de conhecimento, execução e cumprimento de sentença
A citação eletrônica poderá ser utilizada nos processos de conhecimento e de execução. A previsão dela está na Parte
Geral do Código de Processo Civil, não havendo vedação na sua utilização também no processo de execução,
conforme se extrai do disposto no art. 247 daquele Código.
Também é possível o emprego da citação eletrônica no cumprimento de sentença. Isso ocorrerá quando houver
necessidade de citação do réu do cumprimento de sentença, o que deverá ser feito nos casos de execução de
sentença penal condenatória transitada em julgado, sentença arbitral, sentença estrangeira homologada pelo Superior
Tribunal de Justiça ou decisão interlocutória estrangeira, após a concessão do exequatur à carta rogatória pelo
Superior Tribunal de Justiça (art. 515, § 1º, do CPC (LGL\2015\1656)).
9. Considerações finais
A citação por meio eletrônico já era prevista no CPC de 2015 em sua redação originária, mas a pouca eficácia do
dispositivo era evidente diante da previsão de que tal modalidade de citação se daria “conforme regulado em lei”. A Lei
14.195/2021 (LGL\2021\11633) reformou o CPC (LGL\2015\1656), dando melhores contornos à citação eletrônica,
tornando-a modalidade preferencial a ser adotada.
A iniciativa legislativa procura modernizar o Código de Processo Civil às tendências tecnológicas. O acerto ou não do
legislador somente poderá ser aferido ao longo do tempo, com a experiência forense do dia a dia, sem desconsiderar
ainda o grave problema levantado pela doutrina sobre a inconstitucionalidade da Lei 14.195/2021 (LGL\2021\11633).
Tal problema poderá culminar em instabilidade do sistema processual.
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A necessidade de maiores estudos sobre a citação eletrônica é evidente. O aperfeiçoamento do ato citatório, com
adequação dele às novas ferramentas tecnológicas de comunicações, é medida que se impõe, mas isso não pode ser
realizado de forma afoita, com desprezo do contraditório, notadamente se levado em consideração que a citação é um
dos atos mais importantes do processo.
À doutrina, à jurisprudência e ao Conselho Nacional de Justiça caberá, então, o aperfeiçoamento da citação
eletrônica, de modo que os princípios da celeridade, da economia processual, da efetividade e do contraditório sejam
devidamente preservados e equacionados. O processo civil moderno jamais deve se afastar da evolução tecnológica,
mas as garantias e princípios constitucionais processuais deverão ser sempre balizadores das modificações
legislativas.
10. Bibliografia
ARRUDA ALVIM WAMBIER, Teresa et al. Breves comentários ao novo Código de Processo Civil. São Paulo: Ed. RT,
2015.
CÂMARA, Alexandre Freitas. O novo processo civil brasileiro. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2016.
DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de direito processual civil.
Salvador: JusPodivm, 2015. v. 2.
DINAMARCO, Cândido Rangel. Instituições de direito processual civil. São Paulo: Malheiros, 2004.
GONÇALVES, Marcus Vinicius Rios. Direito processual civil esquematizado. São Paulo: Saraiva, 2016.
HERTEL, Daniel Roberto. Cumprimento da sentença pecuniária. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2011.
HERTEL, Daniel Roberto. Sistematización de la tutela provisional en el Derecho Procesal Civil Brasileño. Revista
Iberoamericana de Derecho Procesal, v. 2, p. 371-384, 2020.
HERTEL, Daniel Roberto. Técnica procesal para el cumplimiento provisional de decisiones judiciales en el derecho
procesal civil brasileño. Vox Juris, v. 39, p. 101-109, 2021.
HERTEL, Daniel Roberto. Técnica processual e tutela jurisdicional: a instrumentalidade substancial das formas. Porto
Alegre: Sérgio Antônio Fabris Editor, 2006.
MARCACINI, Augusto Rosa Tavares; PEREIRA, José Luiz Parra. Uma breve reflexão sobre a citação e a intimação na
era digital: incertezas e consequências. Revista de Processo, São Paulo, v. 270, p. 85-104, ago. 2017.
MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz. MITIDIERO, Daniel. Novo curso de processo civil: tutela dos
direitos mediante procedimento comum. São Paulo: Ed. RT, 2015.
MEDINA, José Miguel Garcia. Novo Código de Processo Civil comentado. 3. ed. São Paulo: Ed. RT, 2015.
NEVES, Aline Regina das; CAMBI, Eduardo. Processo e tecnologia: do processo eletrônico ao plenário virtual. Revista
dos Tribunais, São Paulo, v. 986, p. 87-110, dez. 2017.
NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de direito processual civil. 8. ed. Salvador: JusPodivm, 2016.
ROCHA, Henrique de Moraes Fleury da. Garantias Fundamentais do processo brasileiro sob a ótica da informatização
judicial. Revista Iberoamericana de Derecho Procesal, v. 5, 2017.
SICA, Heitor Vitor Mendonça. Problemas atuais do processo civil eletrônico e projeto de novo CPC (LGL\2015\1656).
Revista dos Tribunais, São Paulo, v. 1, p. 69-83, jul.-ago. 2013.

1 O Superior Tribunal de Justiça já assentou que “A citação é indispensável à garantia do contraditório e da ampla
defesa, sendo o vício de nulidade de citação o defeito processual mais grave no sistema processual civil brasileiro.
Esta Corte tem entendimento consolidado no sentido de que o defeito ou inexistência da citação opera-se no plano da
existência da sentença. Caracteriza-se como vício transrescisório que pode ser suscitado a qualquer tempo, inclusive
após escoado o prazo para o ajuizamento da ação rescisória, mediante simples petição, por meio de ação declaratória
de nulidade (querela nullitatis) ou impugnação ao cumprimento de sentença (art. 525, § 1º, I, do CPC/2015)” (REsp
1.930.225/SP, rel. Ministra Nancy Andrighi, 3ª T., j. 08.06.2021, DJe 15.06.2021).

2 A advertência é dos professores Paulo Henrique dos Santos Lucon e Cassio Scarpinella Bueno, respectivamente,
Presidente e Vice-Presidente do Instituto Brasileiro de Direito Processual Civil (IBDP), o qual contribui sobremaneira
para a ciência processual não só no Brasil, como no exterior. Disponível em: [http://direitoprocessual.org.br/
manifestacao-do-ibdp-sobre-a-lei-n-14195-de-26-de-agosto-de-2021.html].

3 A doutrina afirma que “Os deveres de proceder com lealdade e com boa-fé, presentes em diversos artigos do Código
de Processo Civil, prestam-se a evitar os exageros no exercício da ampla defesa, prevendo condutas que violam a
boa-fé e a lealdade processual e indicando quais são as sanções correspondentes” (NEVES, Daniel Amorim
Assumpção. Manual de direito processual civil. 8. ed. Salvador: JusPodivm, 2016. p. 147).
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4 Já foi mencionado que “O emprego de meios tecnológicos, gradativamente desenvolvidos, é ponto comum entre
todas as áreas do conhecimento, inclusive à Ciência Jurídica e ao Processo. Paulatinamente, o uso de ferramentas
tecnológicas, que se valem de pesquisa e conexão de dados, passou a ser adotado, conferindo-se amplos benefícios
às relações processuais” (NEVES, Aline Regina das; CAMBI, Eduardo. Processo e tecnologia: do processo eletrônico
ao plenário virtual. Revista dos Tribunais, São Paulo, v. 986, p. 87-110, dez. 2017).

5 Advertência relevante é no sentido de que “As novidades oriundas da informatização judicial, no entanto, ao mesmo
tempo que transformam a dinâmica contenciosa, criam novos problemas a serem enfrentados. Um (dos principais)
deles consiste no fenômeno da exclusão digital” (ROCHA, Henrique de Moraes Fleury da. Garantias Fundamentais do
processo brasileiro sob a ótica da informatização judicial. Revista Iberoamericana de Derecho Procesal, v. 5, p. 85-
127, 2017).

6 A doutrina de qualidade já havia esclarecido que “No tocante à citação eletrônica, a exigência de prévio
cadastramento reduz a utilidade da ferramenta, que só teria condições de funcionar para os litigantes ‘contumazes’ (e
o art. 6.º cuidou de mencionar expressamente o mais notório deles: a Fazenda Pública). A pessoa física ou jurídica
que jamais litigou e nunca se cadastrou no portal virtual do tribunal, por óbvio não poderia ser citada eletronicamente”
(SICA, Heitor Vitor Mendonça. Problemas atuais do processo civil eletrônico e projeto de novo CPC. Revista dos
Tribunais, São Paulo, v. 1, p. 69-83, jul-ago. 2013).

7 O Superior Tribunal de Justiça já assentou o entendimento de que “é possível imaginar-se a utilização do Whatsapp
para fins de citação na esfera penal, com base no princípio pas nullité sans grief. De todo modo, para tanto, imperiosa
a adoção de todos os cuidados possíveis para se comprovar a autenticidade não apenas do número telefônico com
que o oficial de justiça realiza a conversa, mas também a identidade do destinatário das mensagens” (AgRg no RHC
141.245/DF, rel. Min. Ribeiro Dantas, 5ª T., j. 13.04.2021, DJe 16.04.2021).

8 Esclarece a doutrina que “Seja qual for o método empregado para a realização das citações e intimações, deve-se
atender, sempre, a certos requisitos de forma, sem os quais o ato resultará, inevitavelmente, invalidado; isto não
implica afirmar que a forma se sobrepõe ao conteúdo; mas é indiscutível a exigência daquela, principalmente para que
se evite a ocorrência de descompassos prejudiciais aos interesses das partes em litígio” (MARCACINI, Augusto Rosa
Tavares; PEREIRA, José Luiz Parra. Uma breve reflexão sobre a citação e a intimação na era digital: incertezas e
consequências. Revista de Processo, v. 270, p. 85-104, ago. 2017).

9 O Superior Tribunal de Justiça já assentou o entendimento de que “Nas citações fictas (com hora certa ou por edital)
não há a certeza de que o réu tenha, de fato, tomado ciência de que está sendo chamado a juízo para defender-se.
Trata-se de uma presunção legal, criada para compatibilizar a obrigatoriedade do ato citatório, enquanto garantia do
contraditório e da ampla defesa, com a efetividade da tutela jurisdicional, que ficaria prejudicada se, frustrada a
citação real, o processo fosse paralisado sine die” (REsp 1.009.293/SP, rel. Min. Nancy Andrighi, 3ª T., j. 06.04.2010,
DJe 22.04.2010).

10 O Superior Tribunal de Justiça “firmou a jurisprudência consoante a qual o comparecimento espontâneo da parte
supre a ausência de citação, afastando a nulidade processual quando não comprovado efetivo prejuízo” (AgInt nos
EDcl no REsp 1.721.690/SE, rel. Min. Herman Benjamin, 2ª T., j 23.02.2021, DJe 09.04.2021).

11 A doutrina esclarece que “Prazos impróprios são aqueles cujo decurso não acarreta a perda da possibilidade de
praticar o ato (como, por exemplo, o prazo de cinco dias de que o juiz dispõe para proferir despachos, nos termos do
art. 226, I, sendo válido o despacho proferido após esse prazo)” (CÂMARA, Alexandre Freitas. O novo processo civil
brasileiro. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2016. p. 137-138).

https://www.revistadostribunais.com.br/maf/app/delivery/document 6/6

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