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A citação eletrônica na lei 14.195/21


Mano Fornaciari Alencar e Alexandre dos Santos Wider

É sabido e consabido que ninguém pode alegar desconhecimento da lei para deixar de
cumpri-la. Portanto, repita-se à exaustão, as pessoas jurídicas que não possuem o
cadastro regularizado junto ao Poder Judiciário ou ao sistema integrado da Redesim
devem regularizá-lo.
quarta-feira, 22 de setembro de 2021

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(Imagem: Arte Migalhas)

No último dia 27/8/21 foi publicada em Diário Oficial a lei 14.195/21, que dispõe sobre a
facilitação para abertura de empresas, a proteção de acionistas minoritários, a
facilitação do comércio exterior, o Sistema Integrado de Recuperação de Ativos, as
cobranças realizadas pelos conselhos profissionais, a profissão de tradutor e intérprete
público, a obtenção de eletricidade e a prescrição intercorrente no Código Civil, por
meio das quais anseia o legislador obter desburocratização e, por conseguinte,
aumentar a competitividade e modernizar o ambiente de negócios no país.

Dentre as várias modificações e inserções legislativas contempladas na referida lei,


encontram-se, no capítulo intitulado "da racionalização processual", relevantes
alterações no Código de Processo Civil, quais sejam: (i) dever das partes em manter
atualizados dados perante órgãos públicos para recebimento de citações e intimações
(art. 77, VII, CPC); (ii) estabelecimento de termo inicial de prazos processuais (art. 231, IX,
CPC); (iii) fixação de regras de citação (arts. 238, parágrafo único, 246, 247 e CPC); (iv)
criação de requisitos ao pedido de exibição de documentos ou coisa (art. 397, CPC); (iv)

alteração de regras de suspensão do processo de execução (art. 921, CPC) e (v)


revogação dos incisos I a V do art. 246, CPC (hipóteses de citação).

Diante da miríade de alterações processuais, nos cingiremos a abordar neste breve


texto as novas regras de citações em processos judiciais, inspiradas no desejo do
legislador em melhorar a posição do país no Relatório Doing Business do Banco
Mundial, por meio da implementação e utilização efetiva da citação eletrônica.

Entretanto, antes de adentrar no exame de cada uma dessas mudanças normativas, é


imperioso destacar que a lei 14.195/2021, ao nosso sentir, já nasce eivada de manifesta
inconstitucionalidade no que concerne a essas modificações trazidas sob a bandeira
de racionalização processual.

Isso porque a lei 14.195/21 decorre do Projeto de lei de Conversão 15, de 2021 que
visava a conversão em lei da Medida Provisória 1.040/21, adotada pelo Presidente da
República.

Haveria, portanto, inconstitucionalidade formal, seja pela ausência de urgência para


tratar das referidas matérias processuais, seja justamente porque é vedada, na forma
do art. 62, § 1º, I, "b", da Constituição Federal, a edição de medida provisória sobre
matéria relativa a direito processual civil, como corretamente alertado pelo Senador
IRAJÁ (PSD/TO) no Parecer 160, de 2021-PLEN/SF de sua autoria.

No entanto, até que tal matéria encontre, oportunamente, análise e julgamento pelo
Supremo Tribunal Federal, e, uma vez que tais alterações têm aplicação imediata, com
produção de efeitos desde sua publicação, no momento somente nos cabe analisar
tais alterações nas regras de citação e aguardar o posicionamento do nosso Colendo
STF.

Antes da publicação da lei 14.195/21 a citação acontecia, de modo geral, através dos
correios. Conforme a nova redação do artigo 247 do Código de Processo Civil, as
citações deverão ser realizadas, em regra, pelo correio ou por meio eletrônico.

Em uma leitura inicial, a colocação do vocábulo "ou" poderia levar o intérprete a


entender tratar-se de uma faculdade absoluta, uma opção da parte ou do magistrado
em utilizar o meio eletrônico ou os correios para realizar a citação. Mas, em nossa
opinião, não o é.

Isso porque o artigo imediatamente antecedente, qual seja, o art. 246 do Código de
Processo Civil, também sofreu alterações que deixam inconteste a intenção do
legislador em priorizar, como regra da citação, o meio eletrônico. Com efeito, o referido
dispositivo reza que a citação será feita preferencialmente por meio eletrônico, no
prazo de até 2 (dois) dias úteis, contado da decisão que a determinar, por meio dos
endereços eletrônicos indicados pelo citando no banco de dados do Poder Judiciário.
Analisando esses dois dispositivos em conjunto, resta cristalina a intenção do
legislador de empregar maior velocidade e efetividade ao ato citatório, seja eliminando
as dificuldades relacionadas à localização do endereço físico atualizado do citando,
seja ao estipular o prazo máximo de 2 (dois) dias úteis para a prática do ato.

Quanto ao referido banco de dados do Poder Judiciário, é de se lembrar que a partir da


vigência da Resolução 234/2016 do Conselho Nacional de Justiça, foi implementada a

Plataforma de Comunicações Processuais (Domicílio Eletrônico), na qual a União, os


Estados, o DF, os Municípios, entidades da administração indireta, bem como
empresas públicas e privadas, exceto as microempresas e empresas de pequeno
porte, mantêm cadastro em cumprimento ao disposto no art. 246, §1º, do Código de
Processo Civil e ao art. 8º, §1º e 2º da referida Resolução do CNJ.

A lei 14.194/21 procurou dar maior efetividade a essa norma, por meio da inclusão do
inciso VII ao artigo 77 do Código de Processo Civil, estendendo a obrigatoriedade, que
já era prevista na antiga redação do § 1º do art. 246 do Código de Processo Civil, da
manutenção de dados cadastrais atualizados como um dever também às partes, seus
procuradores e de todos aqueles que, de qualquer forma, participem do processo.

O inciso VII adicionado ao artigo 77 e a nova redação do § 1º do art. 246 do Código de


Processo Civil trazem a novidade de impor o dever de manter seus dados devidamente
atualizados a todas a pessoas jurídicas de direito público ou privado, não figurando
mais como exceção a esse comando legal as microempresas e as empresas de
pequeno porte.

Parece-nos que tais dispositivos importam em afastamento ao direito


constitucionalmente estabelecido de tratamento jurídico diferenciado às
microempresas e às empresas de pequeno porte sob a justificativa do legislador no
sentido de que tais empresas já estão sujeitas ao ônus de manter um endereço
eletrônico disponível e atualizado para fins de cumprimento das obrigações fiscais, o
Domicílio Tributário Eletrônico - DTE, sendo certo que a implementação da citação
eletrônica para as MPEs se dará a partir da utilização, pelo Poder Judiciário, dos dados
cadastrais constante da Rede Nacional para Simplificação de Empresas - Redesim.

Portanto, as pessoas jurídicas que não possuem o cadastro regularizado junto ao Poder
Judiciário ou ao sistema integrado da Redesim devem estar atentas a esta inovação
legislativa e adotar as providências necessárias para a regularização! E isto sob pena
de sua omissão ser objeto de sanção - outra inovação trazida pela lei 14.194/21.

Isso porque foram acrescidos vários parágrafos ao art. 246 do Código de Processo Civil,
estabelecendo diversas regras processuais referentes à citação eletrônica, a saber: se
a pessoa jurídica não confirmar o recebimento da citação eletrônica em até 3 dias uteis
do seu recebimento, as citações ocorrerão da seguinte forma: (I) - pelo correio; (II) - por
oficial de justiça; (III) - pelo escrivão ou chefe de secretaria, se o citando comparecer
em cartório; (IV) - por edital (§ 1º A, artigo 246), sendo certo que, acontecendo de modo
diverso da citação por meio eletrônico, a pessoa jurídica citada deverá, na primeira
oportunidade que se manifestar nos autos, apresentar justa causa para a ausência de
confirmação do recebimento da citação enviada eletronicamente (artigo 246 § 1º B).

E o mais grave: deixar de confirmar o recebimento da citação por meio eletrônico, sem
justa causa, passa a ser considerado ato atentatório à dignidade da justiça, passível de
justa causa, passa a se co s de ado ato ate tató o à d g dade da just ça, pass el de
aplicação de multa de até 5% (cinco por cento) do valor da causa (artigo 246 § 1º C).

Esse arcabouço normativo acerca da obrigatoriedade de atualização constante dos


dados, não permite imaginar que não ter o cadastro regularizado e atualizado por
simplesmente desconhecer a legislação poderia, em alguma hipótese, ser considerada
justa causa justificar a ausência de confirmação do recebimento da citação eletrônica.
É sabido e consabido que ninguém pode alegar desconhecimento da lei para deixar

de cumpri-la. Portanto, repita-se à exaustão, as pessoas jurídicas que não possuem o


cadastro regularizado junto ao Poder Judiciário ou ao sistema integrado da Redesim
devem regularizá-lo.

Por fim, há que se noticiar outra importante inovação processual trazida pela lei
14.195/21, qual seja, a modificação havida quanto ao termo inicial do prazo processual
para a resposta, na forma do inciso IX acrescentado ao artigo 231 do Código de
Processo Civil, de modo que se a citação eletrônica for regularmente confirmada se
considerará o dia do começo do prazo, o quinto dia útil seguinte à confirmação do
recebimento da citação realizada por meio eletrônico. De modo que este também é
um aspecto que merece a especial atenção de todas as empresas.
Atualizado em: 22/9/2021 07:38

Mano Fornaciari Alencar


Sócio do escritório Siqueira Castro - Advogados

Alexandre dos Santos Wider


Sócio do escritório Siqueira Castro - Advogados.

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ISSN 1983-392X

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