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Sandra Mara Dobjenski

EXCELENTÍSSIMO SENHOR JUIZ DE DIREITO DA… VARA CRIMINAL DA


COMARCA ARARUAMA/RIO DE JANEIRO.

Processo Criminal: _______

PATRICK, já qualificado nos autos, vem respeitosamente à presença de Vossa


Excelência através de seu procurador devidamente constituído (procuração anexo fl.
X), apresentar, dentro do prazo legal, com base no art. 396-A, do Código de
Processo Penal, oferecer pelas razões a seguir expostas:

RESPOSTA À ACUSAÇÃO,

I. DOS FATOS

Patrick, jovem de 18 anos, estava na varanda de sua casa quando vê o namorado


de sua sobrinha, agredindo-a de maneira violenta, em razão de ciúmes. Verificando
o risco que sua sobrinha corria com a agressão, Patrick gritou com Lauro, que não
parou de agredi-la. Patrick não tinha outra forma de intervir, porque estava com uma
perna enfaixada devido a um acidente de trânsito. Ao ver que as agressões não
cessavam, foi até o interior de sua residência e pegou uma arma de fogo, de uso
permitido, devidamente registrada. Com intenção de causar lesão corporal que
garantisse a debilidade permanente de membro de Lauro, apertou o gatilho para
efetuar disparo na direção de sua perna. Por circunstâncias alheias à vontade de
Sandra Mara Dobjenski

Patrick, a arma não funcionou, mas o barulho da arma de fogo causou temor em
Lauro, que empreendeu fuga e compareceu à Delegacia para narrar à conduta de
Patrick. Após meses de investigações, o inquérito foi concluído, e o Ministério
Público ofereceu denúncia, perante o juízo competente, em face de Patrick como
incurso nas sanções penais do Art. 129, § 1º, inciso III, c/c. o Art. 14, inciso II, ambos
do Código Penal.

II. DO DIREITO

Premilinarmente

Analisados os fatos, conclui-se, que deva ser reconhecida a nulidade do ato de


citação. O Código de Processo Penal, em seu Art. 362, prevê a chamada “citação
por hora certa”, que será admitida na hipótese de o réu estar se ocultando para não
ser citado, devendo tal informação ser devidamente certificada por oficial de justiça.
Ocorre que, no caso, não seria possível a citação por hora certa, já que não havia
nenhum indício concreto de que o acusado estaria se ocultando para não ser citado.
Simplesmente a residência de Patrick encontrava-se fechada porque ele estava
trabalhando em embarcação, sendo prematura a conclusão do oficial de justiça
apenas com base em um único comparecimento na residência daquele que
pretendia citar. Dessa forma, a citação foi inválida e certamente houve prejuízo ao
exercício do direito de defesa, tendo em vista que o advogado não conseguiu
conversar com o réu sobre os fatos antes de apresentar resposta à acusação.

III- DO MÉRITO

Analisados os fatos, conclui-se que o réu deve ser absolvido sumariamente, com
fundamento no art. 397, III, do Código de Processo Penal. Isso porque, em razão do
Sandra Mara Dobjenski

princípio da insignificância, a conduta é materialmente atípica, de maneira que o fato


narrado evidentemente não constitui crime. Portanto, o fato narrado não constitui
crime.

Ademais, ainda que se entenda pela tipicidade material, o denunciado deve ser
absolvido (Art. 397, I) que pressupõe que a existência manifesta de causa
excludente da ilicitude do fato; pois agiu amparado por causa de exclusão da
ilicitude – estado de necessidade, do art. 24 do Código Penal o qual considera como
o agente em estado de necessidade quem pratica o fato para salvar de perigo atual,
que não provocou por sua vontade, nem podia de outro modo evitar, direito próprio
ou alheio, cujo sacrifício, nas circunstâncias, não era razoável exigir-se.. Como a
agressão se deu para a sua sobrevivência e de terceiro ofendido, tratam-se de
hipótese de legítima defesa. Para tanto, A respeitável denúncia não merece
prosperar, pois a ré agiu em legítima defesa, onde não se poderia esperar
comportamento diverso, causa esta excludente de antijuricidade, conforme
prescreve os artigos 23, II, que dispõe que o agente cometeu o delito em legítima
defesa e 25 que compreende a legítima defesa quem, usando moderadamente dos
meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de
outrem, do Código Penal. Patrick agiu para proteger direito de terceiro (sua
sobrinha) e para repelir injusta agressão, já que Lauro estava agredindo Natália de
maneira relevante e exagerada em razão de ciúmes. Os meios utilizados foram
moderados e necessários, já que Patrick encontrava-se imobilizado na perna e no
braço, impedindo que entrasse em luta corporal sem utilizar outro meio que não à
arma de fogo. Ademais, Patrick não pretendia matar Lauro, mas apenas lesionar.
Ainda de acordo com o Art. 17 do Código Penal, não se pune a tentativa quando, por
ineficácia absoluta do meio ou por absoluta impropriedade do objeto, é impossível
consumar-se o delito. Trata-se de aplicação do instituto do crime impossível, onde
se valoriza mais a vertente objetiva em detrimento da subjetiva. No crime impossível,
o agente age com dolo na prática do crime e efetivamente este não se consuma por
circunstâncias alheias à sua vontade.
Sandra Mara Dobjenski

Todavia, a tentativa não é punida pelo fato de ser impossível a consumação, logo o
bem jurídico não seria colocado em risco suficiente para justificar a intervenção do
Direito Penal, visto que a arma era totalmente incapaz de efetuar disparos, conforme
consta do laudo pericial acostado, logo houve ineficácia absoluta do meio utilizado,
impedindo a punição da tentativa.

III. DOS PEDIDOS

Diante do exposto, requer a absolvição sumária do réu, com fundamento no art. 397,
inciso III, ou no art. 397, I, do Código de Processo Penal, em virtude da atipicidade
material pelo princípio da insignificância ou da exclusão da ilicitude pelo
reconhecimento do estado de necessidade, bem como se requer a nulidade da ação
com fulcro no Art. 570 CPP. Por derradeiro, caso os pedidos não sejam acolhidos,
pede a intimação das testemunhas ao final arroladas.

Nesses termos,

Pede deferimento.

Araruama, 09 de março de 2018.

Advogado,

OAB/Nº.

Rol de Testemunhas:

1. José, endereço…

2. Maria, endereço…

3. Natália, endereço…

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