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AO JUÍZO DA PRESIDÊNCIA DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO RIO

DE JANEIRO-RJ

MATILDE, nacionalidade, estado civil, profissão, identidade


nº..., CPF nº..., endereço eletrônico, domiciliada no Rio de Janeiro, residente
(endereço completo), vem por seu advogado, NOME COMPLETO, inscrito na
OAB/... sob o n.º ..., com escritório profissional na Rua ..., Bairro..., endereço
eletrônico..., onde recebe intimações, vem respeitosamente perante esse
Egrégio Tribunal, com fulcro no art. 5º, inciso LXVIII, da Constituição Federal
impetrar

HABEAS CORPUS PREVENTIVO COM PEDIDO DE LIMINAR

em razão do ato praticado pelo JUIZ DE DIREITO DA 10º VARA DE FAMÍLIA


DA COMARCA DA CAPITAL, pelos fatos e fundamentos a seguir aduzidos.

1) DOS FATOS

A paciente é domiciliada na cidade do Rio de Janeiro e está


sendo executada por seus filhos Jane e Gilson Pires, menores, com treze e seis
anos, respectivamente, representados por seu pai, Gildo, pelo rito do artigo 911
do CPC. Na execução de alimentos, que tramita perante o juízo da 10ª Vara de
Família da Capital, a paciente foi citada para pagar a quantia de R$ 5.000,00
(cinco mil reais), referente aos últimos cinco meses impagos dos alimentos
fixados por sentença pelo juízo da mesma Vara de Família. Ocorre que a
paciente está desempregada há 1 ano, fruto da grave situação econômica em
que passa o país, com isso não está conseguindo se inserir novamente no
mercado de trabalho e nem possui condições financeiras para quitar a dívida
alimentar. Diante da real impossibilidade da executada em adimplir a sua dívida,
o magistrado decretou a prisão da mesma, pelo prazo de sessenta dias.

2) DOS FUNDAMENTOS

A prisão civil por alimentos teve a seu germe na Convenção


Americana sobre Direitos Humanos (aprovada no Brasil pelo Decreto Legislativo
27, de 25.09.1992, e promulgada pelo Decreto 678, de 06 de novembro de 1992),
O Pacto de San José da Costa Rica, que em seu artigo seu artigo 7º, vedou a
prisão civil do depositário infiel, somente permitindo-a na hipótese de dívida
alimentar. A nascente Constitucional do dispositivo encontra-se no artigo 5º,
LXVII, da Carta Maior, que será concedido “habeas corpus” sempre que alguém
sofrer ou se achar ameaçado de sofrer violência ou coação em sua liberdade de
locomoção, por ilegalidade ou abuso de poder.
No caso em tela está claramente caracterizado o abuso de
poder e a necessidade imediata da tutela jurisdicional. É imperioso ressaltar que
a norma constitucional preceitua a prisão nos casos de inadimplemento
voluntário e inescusável. Além do mais, existe um excesso à execução, uma vez
que está sendo cobrada os últimos 5 meses, sendo imperioso ressaltar que a
execução em tela não caracteriza com a prisão do devedor. Conforme, ART. 528
do Código de Processo Civil:
No cumprimento de sentença que condene ao pagamento de
prestação alimentícia ou de decisão interlocutória que fixe
alimentos, o juiz, a requerimento do exequente, mandará intimar
o executado pessoalmente para, em 3 (três) dias, pagar o débito,
provar que o fez ou justificar a impossibilidade de efetuá-lo: (...) §
3º Se o executado não pagar ou se a justificativa apresentada não
for aceita, o juiz, além de mandar protestar o pronunciamento
judicial na forma do § 1º, decretar-lhe-á a prisão pelo prazo de 1
(um) a 3 (três) meses.

Diante do exposto fica evidenciado que a paciente se


encontra desempregada, não deixando de pagar por negligência. É importante
ressaltar que a mesma sempre adimpliu com o cumprimento da obrigação de
alimentar, não sendo devedora contumaz, portanto, não cabe no processo
epigrafado a decretação de prisão.

3) DA DOUTRINA

Habeas corpus é o remédio judicial que tem por finalidade


evitar ou fazer cessar a violência ou coação à liberdade de locomoção,
decorrente de ilegalidade ou abuso de poder. O intuito deste artigo é demonstrar
as espécies, formas e natureza do habeas corpus, sua história e sua evolução
constitucional e jurisprudencial. O instituto do habeas corpus tem sua origem
remota no Direito Romano, pelo qual todo cidadão podia reclamar a exibição do
homem livre detido ilegalmente.

A origem mais apontada por diversos autores é a Magna


Carta, que por opressão dos barões, foi outorgada pelo Rei João Sem Terra em
19 de junho de 1215, nos campos de Runnymed, na Inglaterra. Como aponta
Pinto Ferreira:

“O habeas corpus nasceu historicamente como uma necessidade de


contenção do poder e do arbítrio. Os países civilizados adotam-no como
regra, pois a ordem do habeas corpus significa, em essência uma
limitação às diversas formas de autoritarismo.”
Haverá possibilidade de concessão de medida de liminar,
para se evitar possível constrangimento à liberdade de locomoção irreparável.

Júlio Fabbrini Mirabete lembra que:

“Embora desconhecida na legislação referente ao habeas corpus, foi


introduzida nesse remédio jurídico, pela Jurisprudência, a figura da
‘liminar’, que visa atender casos em que a cassação da coação ilegal
exige pronta intervenção do judiciário”

Concluindo que:

“Como medida cautelar excepcional, a liminar em habeas corpus, exige


requisitos: o periculum in mora ou perigo na demora, quando há
probabilidade de dano irreparável e o fumus boni iuris ou fumaça do
bom direito, quando os elementos da impetração, indiquem a existência
de ilegalidade”

4) DA JURISPRUDÊNCIA

EMENTA: HABEAS CORPUS. PAGAMENTO DE DÉBITO


ALIMENTAR. PRISÃO CIVIL GENITOR. COMPROVANTE DE
DEPÓSITO. LIMINAR DEFERIDA. A pretensão do paciente, que admite
sua inadimplência, funda-se na incerteza do débito, diante dos
depósitos realizados, conforme documento às e-fls. 006 do Anexo 1 (fls.
6). A prisão do devedor de alimentos constitui meio coercitivo que
objetiva a subsistência da pessoa alimentada, ante a recusa do pai em
arcar com seu dever familiar. Aparente comprovação do pagamento do
débito a justificar o adimplemento da obrigação alimentar e, por
conseguinte, a não constranger o paciente a prisão. Concessão da
ordem.

EMENTA: HABEAS CORPUS PREVENTIVO. EXECUÇÃO DE


ALIMENTOS DEFINITIVOS. OBRIGAÇÃO A CARGO DO GENITOR.
DÉBITO ALIMENTAR QUE NÃO FOI PAGO EM SUA
INTEGRALIDADE, DESDE A SUA FIXAÇÃO POR SENTENÇA, EM
ABRIL/2017. EXECUTADO QUE VEM REALIZANDO DEPÓSITOS EM
VALOR (R$ 120,00) QUE NÃO CHEGA A 25% DO TOTAL DEVIDO
(ATUALMENTE R$ 522,50). DECRETAÇÃO DA PRISÃO CIVIL.
PROPOSITURA DE AÇÃO REVISIONAL QUE SE MOSTRA
DESINFLUENTE, POIS NÃO FOI CONCEDIDA A LIMINAR PARA
REDUÇÃO DO VALOR DA PENSÃO. INEXISTÊNCIA DE ABUSO OU
ILEGALIDADE, TANTO NO DECRETO PRISIONAL, QUANTO NO
PRAZO FIXADO (60 DIAS). ENTRETANTO, HÁ ASPECTO
ESPECÍFICO A SER CONSIDERADO, DURANTE O PERÍODO DE
PANDEMIA MUNDIAL, NO TOCANTE AO CUMPRIMENTO DA
MEDIDA COERCITIVA. SUSPENSÃO DO CUMPRIMENTO DA
ORDEM DE PRISÃO CIVIL ENQUANTO PERDURAR O PERÍODO DA
PANDEMIA CAUSADA PELA COVID-19. POSIÇÃO FIRMADA PELO
SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA (HC 580261/MG). ORDEM
CONCEDIDA PARA SUSPENDER O CUMPRIMENTO DA MEDIDA DE
COERÇÃO PESSOAL.

5) DA LIMINAR

É imperioso ressaltar que no caso em tela presentes os


pressupostos do fumus boni iuris, face a veracidade dos fatos narrados
anteriormente restando pacífico o entendimento jurisprudencial quanto a prisão
apenas por dívida dos 3 últimos meses, e a necessidade de haver
descumprimento voluntário. Presente também o periculum in mora, pois
presente a lesão ao direito à locomoção, face à decisão judicial ora guerreada,
restando imprescindível a concessão de liminar para sanar a ilegalidade que está
preste a acontecer com a paciente.

6) DOS PEDIDOS

Diante do exposto requer:

A) seja deferida a liminar para determinar ao juízo o


recolhimento, independentemente de cumprimento do
mandado de prisão, já expedido, ou, alternativamente, caso
já cumprido o mandado seja determinado a imediata coação;
B) A notificação da autoridade coatora, o excelentíssimo
senhor doutor juiz de direito da 10ª vara de família da
comarcada capital-RJ;
C) A concessão da ordem de habeas corpus preventivo com
a consequente expedição de salvo conduto;
D) A notificação da autoridade coatora, excelentíssimo
senhor doutor juiz de direito da 10ª vara de família da
comarcada capital-RJ;
E) A concessão do habeas corpus preventivo com a
consequente expedição de salvo conduto, para a paciente

Nesses termos,
Pede e aguarda deferimento.
Local e data.
ADVOGADO
OAB

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